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Mulheres na Luta: A mobilização política das Uniões Femininas no pós- Guerra.

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Academic year: 2021

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Mulheres na Luta: A mobilização política das Uniões Femininas no

pós-Guerra.

Manuella Thereza Cabral Pessanha*1

Introdução

O presente trabalho está relacionado ao projeto de pesquisa desenvolvido pelo Departamento de Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e ao Laboratório de Estudos Urbanos e Socioambientais (LEUS), orientado pelo professor Rafael Soares Gonçalves. Tem como propósito apresentar o modo como as Uniões Femininas atuaram no pós-guerra (1945-47).

A presença das Uniões Femininas em bairros e favelas do Rio de Janeiro impactou a mobilização política nesses espaços, salientando as principais reinvindicações das mulheres que ali moravam. Após a 2ª guerra mundial, com o período da redemocratização, o movimento feminino se expandiu em todo o Brasil, sendo este no âmbito social e político, atuando através de associações femininas.

A favela tinha como estigma ser um local anti-higiênico, um problema de saúde pública, de ordem urbana, estética e de assistência social. Com isso, houve tentativas de combater esses espaços em prol da ordem urbana, social e higiênica. As remoções, de cunho higienista, eram vistas como medidas eficazes para a solução do problema de saúde pública e urbana, além de satisfazer a vontade da elite de suprimir as favelas. As favelas não foram inicialmente removidas devido ao fato de não haver políticas públicas, que respondessem ao déficit de moradia. Da mesma forma, os movimentos de resistência dos favelados se organizaram pela permanência em seus locais de moradia.

A presente pesquisa teve como objetivo a possibilidade de estudar os movimentos de mobilização pelo direito à cidade. Através do estudo histórico, é possível identificar uma forte

1 Acadêmica de Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Pesquisadora de Iniciação

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presença e impacto do Partido Comunista Brasileiro nas favelas no período de 1945-64, sobretudo nos anos pós-guerra influenciando assim, as ações das Uniões Femininas.

A escolha do tema se faz importante na medida em que nos auxilia a identificar e compreender as formas em as Uniões Femininas atuaram nos bairros e favelas do Rio de Janeiro, modificando a dinâmica social nesses locais através da luta por direitos. Procuramos, ainda, perceber os impactos da atuação do Partido Comunista Brasileiro na vida social dos moradores das favelas do Rio de Janeiro e sua ligação com as Uniões Femininas. Reconhecer a importância da atuação femininas e comunista nas lutas nos convida a identificar e compreender as diferentes mobilizações e manifestações sociais pela garantia de direitos.

Nesse contexto, realizamos, além do levantamento bibliográfico, um levantamento, no Fundo de Divisão de Polícia Política e Social do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, do material referente às Uniões Femininas atuantes. Além de uma pesquisa na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional em diferentes jornais dos anos de 1947.

O PCB no pós –guerra

Após o término da Segunda Guerra Mundial e com o processo de democratização pós-Estado Novo, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) saiu, por um breve período, da ilegalidade (1945-1947) e ganhou forte visibilidade na vida política.

Segundo Pandolfi (1995, p.62)

“a luta antifascista tirou os comunistas do isolamento. Tanto na França, como na Itália, o partido comunista tornou-se no imediato pós-guerra, o agrupamento mais forte junto à classe trabalhadora. Em diversos outros países da Europa, à exceção da Alemanha Ocidental e da Espanha, os comunistas aumentaram em muito o seu contingente votos.”

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formalmente democrático, permitindo, assim, a atuação de partidos e de organizações da sociedade civil. Essas ações colaboraram para aproximar Vargas com os trabalhadores urbanos.

Com a redemocratização e a proposta de uma união nacional e uma aliança com os que resistiam ao nazi-facismo, o Partido Comunista Brasileiro solicita a contribuição dos sindicatos, para que as reivindicações trabalhistas e as greves fossem evitadas para evitar choques. O PCB se torna paulatinamente um partido nacional de massas, conquistando plena legalidade e chegando a marca de 200 mil filiados em 1947.

Nas eleições de 1945, o partido constituiu uma significativa bancada parlamentar, elegendo 14 Deputados Federais pelo Distrito Federal, sendo o 4º partido mais votado no país. Luís Carlos Prestes, o então Secretário-Geral do partido, foi eleito Senador, sendo, aliás, o mais votado do país. Após a promulgação da nova Constituição, ocorrida em setembro de 1946, os comunistas se lançaram na campanha eleitoral para os governos e constituintes estaduais, eleições que ocorreram em janeiro de 1947. Elegeram vários deputados, tendo obtido quase um terço da Câmara do Distrito Federal. A significativa conquista eleitoral alcançada pelo Partido Comunista Brasileiro aumentou o medo pela influência comunista no país.

As favelas e o Partido Comunista Brasileiro

A aproximação do Partido Comunista Brasileiro com as favelas pode ser “atribuído à sua capacidade de organizar e mobilizar para além dos discursos e orientações da cúpula.” (NEGRO, SILVA, 2003, p. 55)

“Os comunistas revelaram grande agilidade na organização de dezenas de Comitês Populares e Democráticos, que se envolviam em problemas dos bairros e discutiam temas como habitação, custos dos gêneros de primeira necessidade, instrução e saúde pública, lazer, etc.”(NEGRO, SILVA, 2003, p. 55)

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fortalecer a tão almejada unidade operária, defendida historicamente pelos comunistas.” (Pinheiro: 2007, pg 57).

Além da criação do Movimento Unificador dos Trabalhadores (MUT), o PCB criou a Tribuna Popular, advindo do projeto que pretendia levar informação, cultura, esporte, entre outros assuntos à população, além de ser um periódico que apregoava e estimulava a expansão do movimento associativo de bairro no Rio de Janeiro. “É possível identificar um projeto de educação política das massas pela cultura, no qual o Partido atuaria como um elemento de mobilização e organização do proletariado” (GONÇALVES, AMOROSO: 2011).

Na Tribuna Popular, havia seções específicas, tais como “O povo se diverte” e “O samba na cidade”, incentivando a educação através da cultura, bem como a sessão chamada “A vida dos comitês populares”, onde era apregoado as iniciativas dos inúmeros Comitês Democráticos Populares espalhados pela Capital Federal e outras cidades do país. O jornal era muito mais do que um agitador coletivo, e sim, um organizador coletivo.

Os Comitês Populares Democráticos tiveram uma significante importância na vida social, política e sindical do Rio de Janeiro. Eram órgãos de fortalecimento do PCB, que procurou se aproximar com as lutas dos bairros, incentivando a participação popular em diversas questões, inclusive com a formação de associações de moradores. Os CPD’s surgem como ferramenta de organização da classe trabalhadora, sob a liderança do PCB, que atuava na luta pela apoderação dos direitos sociais, civis e políticos dos trabalhadores e outros setores populares. Os Sub-comitês foram implantados nas favelas, como o sub-comitê do Morro do Turano. Por meio dos CPD’s, o PCB tentou se credenciar como força de peso no interior do cenário político.

Além da aproximação com a classe operária, o PCB atingiu os intelectuais. “A presença dos intelectuais no Partido atingiu o seu auge entre os anos 1945-1947, período em que o PCB se fortalece devido a fatores externos.” (GUIMARÃES, 2009, p. 94)

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de criação artística ou científica. Aqui se aponta para o futuro. (GUIMARÃES, 2009 apud AMADO, 1946),

O Partido Comunista Brasileiro tinha a ideia de proporcionar aos moradores das favelas melhorias como: implementação de escolas, bicas d’agua, pontos de luz e policiamento. Para isso, eram elaboradas discussões e debates entre candidatos e o povo.

Os vereadores do Partido Comunista Brasileiro não só discutiam e debatiam sobre as possíveis melhorias com os moradores, mas levavam esses debates à câmara, tornando-os representantes legítimos dos favelados.

Apesar da cassação do PCB em 1947, o Partido continua a sua atuação ilegalmente “através de Comissões de Ajuda de Bairros ou de Comitês pela Paz e contra a Guerra da Coréia, braços legais do partido, que mantiveram acessa a influência comunista em algumas favelas da cidade.” (GONÇALVES, AMOROSO: 2012, pg 6). Por outro lado, foi criada, em 1954, pelo advogado Magarinos Torres, a União dos Trabalhadores Favelados, que tinha como objetivo relacionar o favelado ao universo do trabalho, procurando captar recursos e dar continuidade à mobilização dos moradores por melhores condições de moradia e emprego. Com a influência de Magarinos Torres, jurista próximo ao Partido Comunista, a UTF lutou pela defesa dos moradores contra processos de reintegração de posse, reivindicou a melhoria das favelas, assim como lutou contra a violência policial e mesmo pela regularização fundiária dessas áreas.

As Uniões Femininas

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, período chamado de redemocratização, o movimento feminino teve uma ascensão em todo o Brasil, sendo este no âmbito social e político, atuando através de associações femininas, atuando através das associações femininas.

Segundo Tabak (1987, p.5), “as associações femininas tem servido em geral, como importante forma de organização de mulheres e através de sua atuação contribuem para elevar o nível de conscientização e participação política de grandes contingentes femininos”.

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compostas por mulheres que não exerciam uma atividade profissional dentre do mercado de trabalho, fora do lar. Ambos os tipos de associações exerciam uma grade influencia política tendo condições favoráveis de participação democrática.

“E essa tem sido uma outra área de atuação das associações femininas: divulgar entre as mulheres a legislação que lhes diz respeito, fazê-las conhecer os seus direitos já assegurados, orientá-las no sentido de exigir o cumprimento e a aplicação de conquistas já adquiridas, no campo do emprego, da educação, da proteção da maternidade e da infância, do exercício da função pública.”(TABAK, 2002. p.21)

No geral, a luta dessas associações se concentravam na

“luta contra as discriminações por razões de sexo, por igual salário para trabalho igual, por acesso qualquer cargo ou função, por igual oportunidade de promoção na carreira e de educação em todos os níveis, etc – também se constitui numa ação politica bastante abrangente, pois é capaz de mobilizar grandes contingentes femininos, independentemente das categorias profissionais, de credos políticos ou religiosos.” (TABAK 1987, p.10)

No ano de 1946 surgia a União Feminina do Distrito Federal (quando o Rio de Janeiro ainda era a capital do país) que já significava um passo à frente na coordenação da atividade desenvolvida por inúmeras uniões de bairro que se formavam por todo o município e que combatiam de toda forma a carestia de vida e a falta de produtos de primeira necessidade e se manifestavam em favor da preservação da paz mundial. “Essas uniões locais surgiram em nada menos de 30 bairros (a 1ª a ser criada foi a da Tijuca) e se espalhavam desde Botafogo e Copacabana até Irajá e Parada de Lucas, e Bangu. Em muitas favelas cariocas formaram-se também as uniões femininas.” (TABAK, 1987 p.13)

Com isso, essas mulheres na luta contra a carestia de vida, por uma vida melhor para as crianças, em defesa da paz mundial, pela igualdade de direitos para a mulher em todos os terrenos, além de manifestações contra o despejo de favelas e em favor da urbanização dos morros cariocas.

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estudavam soluções dos problemas de transporte, habitação, alimentação, com o objetivo de lutar por justas reinvindicações.

“Uma das atividades mais expressivas da atuação das organizações femininas consiste na denuncia das diferentes formas de discriminação que a mulher ainda sofre, em muitos setores da vida nacional.” (TABAK, 2002 p.21) Alguns objetivos eram alcançados e com isso, dependendo da vitória, o que era conseguido, era distribuído entre as associadas, como a banha e o leite.

Além das ações supracitadas, as Uniões Femininas realizavam festas para crianças com objetivo de divertir e entreter as mesmas. Promoviam cursos de costura, pois um grande número das associadas eram donas de casa ou domésticas. Quando uma união feminina estava para ser inaugurada, a população do bairro era convidada pelo jornal O Momento Feminino e pela coluna Movimento Feminino no jornal Tribuna Popular.

O jornal “O Momento Feminino” vinculava as informações sobre as legislações, a mobilização feminina e suas reinvindicações. Entretanto, como um meio de comunicação e entretenimento, o jornal publicava convites de reuniões, convites para festas, tardes dançantes, inaugurações, almoços com vereadoras, entre outros.

Segundo Tabak, 1987 (p.19)

“Momento Feminino nasceu a 24 de junho de 1947, no Rio de Janeiro e durante quase dez anos de existência (com períodos de maior ou menor regularidade na sua publicação) defendeu sempre os direitos da mulher da infância e a paz mundial. Foi um órgão de imprensa que atingiu boa penetração nacional, pois chegou a ter representantes em 16 Estados, sendo vendido em barros de grande concentração popular, em Favela, em locais de trabalho onde era elevada a proporção de mulheres etc. No Rio, chegou a ser vendido com certa regularidade em 20 favelas.”

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Considerações Finais

Mesmo diante de toda a dificuldade de recomeçar o processo de mobilização política, devido aos períodos de relativa liberdade democrática, as organizações femininas exerceram um grande poder de intimidação e mobilização social e política.

As Uniões Femininas lutaram pressionando o Estado capitalista e com isso conseguiram obter uma melhora nas suas condições de trabalho e de vida. Essas ações tem influência até hoje.

Podemos concluir que a luta das mulheres por direitos iguais e melhores condições de vida continua, e esse é um processo continuado o que leva a resultados concretos atendendo às reinvindicações.

Referências Bibliográficas

ALVES, Iracélli Da Cruz. O PCB convida as mulheres à luta pela democracia: Representações Femininas Representações Femininas em O Momento (1945-1947)

AMADO, Jorge. Homens e Coisas do Partido Comunista, 1946.

ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. A contradita. Polícia política e comunismo no Brasil 1945-1964. Entrevistas com Cecil Borer, Hércules Corrêa, José de Moraes e Nilson Venâncio. Rio de Janeiro, 2005.

BITTENCOURT, Danielle Lopes. O morro é do povo”: memórias e experiências de mobilização em favelas cariocas. Dissertação de Mestrado em História. Niterói: PPGH/UFF, 2012.

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GONÇALVES, Rafael Soares; AMOROSO, Mauro. A centralidade da UTF na reconstrução da memória dos movimentos associativos de moradores nas Favelas cariocas, 2012.

GUIMARÃES, Valéria Lima. O PCB cai no samba: os comunistas e a cultura popular (1945-1950). Rio de Janeiro: Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, 2009.

NEGRO, Antonio Luigi; SILVA, Fernando Teixeira da. Trabalhadores, sindicatos e política (1945-1964). In: FERREIRA, Jorge; DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. (org.). O Brasil republicano. O tempo da experiência democrática: Da democratização de 1945 ao golpe civil-militar de 1964. 1 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, v. 3, p.155-194.

OLIVEIRA, Luís Eduardo. A Tribuna Popular e a orientação do PCB para o movimento sindical do Rio de Janeiro nos primeiros anos da experiência democrática brasileira (1945-1946)

PANDOLFI, Dulce Chaves. Camaradas e companheiros: memórias e história do PCB / Dulce Pandolfi – Rio de Janeiro: Relume-Damará: Fundação Roberto Marinho

PINHEIRO, Marcos César de Oliveira. O PCB e os Comitês Populares Democráticos na cidade do Rio de Janeiro (1945-1947). Dissertação de Mestrado em História. Rio de Janeiro: UFRJ, 2007.

TABAK, F. & Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Núcleo de Estudos sobre a Mulher 1987, Mulher e democracia no Brasil, PUC, Rio de Janeiro.

TABAK, F. Mulheres públicas: participação política e poder. 2002.

VALLA, Victor Vincent. Educação, participação, urbanização: uma contribuição à análise histórica das propostas institucionais para as favelas do Rio de Janeiro, 1941-1980. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro , v. 1, n. 3, p. 282-296, Sept. 1985 .

Referências

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