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Validação de um Instrumento de Letramento Estatístico

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Academic year: 2021

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Validação de um Instrumento de Letramento Estatístico

Cátia Cândida de Almeida

1. Introdução

Hoje em dia somos confrontados sistematicamente com informações veiculadas pela comunicação social, sobre leituras e interpretação de dados nos jornais, resultados de pesquisas, interpretação de tabelas e gráficos, para entender os indicadores de preços, taxas de desemprego, comparação de qualidade de custos de bens e serviços, etc. Para que as pessoas sejam capazes de compreender, assimilar a informação transmitida e pensar criticamente sobre estas informações, pressupõe que saibam utilizar o conhecimento adquirido nas escolas como instrumento de desenvolvimento profissional e social.

No entanto, nem sempre o conhecimento adquirido na escola torna-se mobilizado de maneira que possa ser compreendido como alfabetismo funcional.

Segundo Soares (2004), o alfabetismo não se limita pura e simplesmente à posse individual de habilidades e conhecimentos; implica também, em um conjunto de práticas sociais associadas com a leitura e escrita, efetivamente exercidas pelas pessoas em um contexto social específico. A expressão compreendida por alfabetismo funcional é caracterizada em função das habilidades e conhecimentos considerados necessários para que o indivíduo funcione adequadamente em um determinado contexto social.

Nos últimos anos as questões sobre o alfabetismo funcional e o letramento tem sido considerada de grande relevância por estudiosos do mundo inteiro. Com as mudanças sociais e o surgimento de novas demandas de leitura e escrita, o termo letramento vem se tornando de uso corrente no Brasil, “[...] quanto à mudança na maneira de considerar o significado do acesso à leitura e à escrita em nosso país – da mera aquisição da “tecnologia” do ler e do escrever à inserção nas práticas sociais de leitura e escrita, de que resultou o aparecimento do termo letramento ao lado do termo alfabetização.” (SOARES, 2006, p.21).

Enquanto algumas atividades requerem aplicação de habilidades relacionadas com o letramento, outras atividades também requerem aplicação de habilidades matemáticas e estatísticas integradas com o letramento.

Neste sentido, este trabalho tem como o objetivo principal validar um instrumento de

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2. Problema e Justificativa

No Brasil, até a década de 1940, o formulário do Censo definia um indivíduo como sendo analfabeto ou alfabetizado, se ele soubesse assinar o nome. Após este período, o formulário do Censo passou a perguntar se o indivíduo sabe ler e escrever um bilhete simples. Nota-se que a idéia do critério para definir que um indivíduo é alfabetizado ou analfabeto, pode indicar uma preocupação com uso social da escrita em diferentes contextos históricos.

A preocupação com o uso social e a apropriação da leitura e escrita tem despertado para o fenômeno do letramento.

Os termos alfabetismo e letramento apresentam diferenças nas suas concepções. São fenômenos que possuem suas particularidades e estão inter-relacionados.

A definição do letramento é um fenômeno complexo em torno de uma definição única. As definições usadas podem levar em consideração a dimensão individual (referente a diversidade das habilidades individuais) e a dimensão social (ligados as práticas sociais da leitura e a escrita que envolvem os indivíduos a um contexto social).

Segundo Soares (2006), a palavra letramento foi criada a partir da tradução literal do inglês literacy (letra – do latim littera e o sufixo mento – denota o resultado de uma ação). Pelo fato de não existir este termo nos dicionários da língua portuguesa no Brasil, este estudo adota o termo letramento.

O termo letramento, aqui adotado, “[...] é o resultado da ação de ensinar ou de aprender a ler e escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita”. (SOARES, 2006, p.18).

Nos países desenvolvidos, o termo letramento vem sendo usado há algum tempo, no qual em vez de avaliar o nível de alfabetização da população, onde quase todas as pessoas concluem os estudos escolares obrigatórios, como o Ensino Fundamental no Brasil, vem sendo realizada avaliação do nível de letramento.

No Brasil, as questões referentes ao letramento ainda são recentes quando comparadas com as dos países desenvolvidos, embora, existem pesquisas realizadas no âmbito acadêmico, segundo Soares (2006, p.57) ressalta que “[...] há já algumas poucas pesquisas que procuram avaliar o nível de letramento de jovens e adultos; a tendência tem sido considerar como alfabetizado (o termo mais adequado seria letrado).”

Em seguimento do conceito do letramento adotado, referente às práticas sociais e suas relações com a leitura e a escrita, se faz necessário investigar o nível de letramento estatístico.

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Alguns conceitos estatísticos podem permitir que um indivíduo desenvolva a capacidade crítica da leitura do mundo a sua volta. Quando uma pessoa está envolvida em tarefas, atividades, demandas da vida diária, demandas de trabalho, em diversos contextos sociais, ela fazendo o uso do letramento estatístico.

Alguns pesquisadores apontam a necessidade de avaliar o uso do letramento estatístico contemplado na própria definição de letramento.

O letramento estatístico é definido como sendo “[...] habilidade para compreender e avaliar criticamente resultados estatísticos que permeiam nossas vidas diárias junto à habilidade para reconhecer a contribuição que o pensamento estatístico pode trazer para as decisões públicas e privadas, profissionais e pessoais.” (WALLMAN, 1993, p.1)

Gal (2002) define o letramento estatístico pensando em uma pessoa adulta que vive numa sociedade industrializada, e pode ser entendido como:

a) competência da pessoa para interpretar e avaliar criticamente a informação estatística, os argumentos relacionados aos dados ou aos fenômenos estocásticos, que podem se apresentar em qualquer contexto e, quando relevante, b) competência da pessoa para discutir ou comunicar suas reações para tais informações estatísticas, tais como seus entendimentos do significado da informação, suas opiniões sobre as implicações desta informação ou suas considerações acerca da aceitação das conclusões fornecidas(GAL,2002, p. 2-3).

O indivíduo letrado estatisticamente consegue entender fenômenos e tendências de relevância social e pessoal tais como as taxas de criminalidade, o crescimento populacional, a produção industrial, o aproveitamento educacional, etc. (Gal, 2002).

Para que o cidadão seja considerado uma pessoa letrada estatisticamente e que possa cumprir o que dele se espera numa sociedade de números e quantidades, segundo Gal (2002), é necessário considerar alguns requisitos: a) perceber a necessidade de trabalhar com dados( compreendendo que os dados não são unicamente números, mas números inseridos num determinado contexto), conhecendo sua proveniência e a forma de os produzir; b) estar familiarizado com os termos e idéias básicas de Estatísticas Descritivas; c) estar familiarizado com os termos e idéias básicas relacionadas às apresentações gráficas e tabulares; d) compreender noções básicas de probabilidade; e) entender o mecanismo do processo inferencial, ao tomar decisões estatísticas.

Um cidadão como conseqüência ter-se apropriado da leitura e escrita, fazendo o uso em diversos contextos sociais, é capaz de enfrentar de maneira eficaz situações que envolvem

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a compreensão e resolução de problemas, tomada de decisões, que surgem na vida e na atividade profissional. Para Rumsey (2002) as principais competências básicas em estatísticas envolvem um conjunto de requisitos, tais como: a) conhecimentos de dados; b) entendimento sobre a terminologia e conceitos básicos de estatísticas; c) compreensão do básico sobre coleta de dados e geração de estatísticas descritivas; d) habilidades básicas de interpretação (habilidade para descrever o que os resultados significam no contexto do problema); e) habilidades básicas de comunicação (ser capaz de explanar os resultados para outras pessoas).

Watson (2003) explica que somente após a introdução dos conteúdos estatísticos na disciplina de Matemática na Austrália, por volta de 1990, foi possível dar início ao processo de letramento estatístico. Watson e Callingham (2003) preocupadas com o nível de letramento estatístico que estaria sendo propiciado pelas escolas australianas desenvolveram um instrumento para avaliá-lo. Esse instrumento é composto de 80 itens (questões), que abrangem conceitos e procedimentos ligados ao letramento estatístico. As idéias inseridas neste instrumento abordam conceitos de medidas de tendência central e variação, aleatoriedade, amostragem, gráficos e tabelas. O instrumento foi validado com 3.000 estudantes da escola básica na Austrália.

A metodologia utilizada pelas autoras para validar o instrumento foi análise de RASCH, que associou os conceitos e procedimentos ligados ao letramento estatístico, sugerindo uma seqüência hierárquica, com seis níveis: idiossincrático, informal, inconsistente, consistente e não-crítico, crítico e matematicamente crítico.

Para avaliar a efetividade de um instrumento é necessário avaliar sua fidedignidade e validade. Segundo Contandriopoulos et al. (1994), denomina-se de construto, toda construção teórica relacionada aos fenômenos ligados à cognição e afeto do ser humano. Tendo como característica principal a impossibilidade de sua observação direta, podendo ser inferida pelo comportamento do indivíduo.

O letramento estatístico são construtos e as varáveis são cada item da escala. Para Contandriopoulos et al. (1994), a confiabilidade de um instrumento de medida é a capacidade em reproduzir um resultado de forma consistente no tempo e no espaço, ou com observadores diferentes quando for utilizado corretamente. Segundo esses autores, existem três abordagens para avaliar a confiabilidade de um instrumento que são a estabilidade (comparação dos resultados em diferentes momentos), a equivalência(resultados equivalentes quando medidos

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por vários observadores simultaneamente) e a homogeneidade (quando o instrumento é composto por vários itens, estes têm comportamento homogêneo).

A validade de um instrumento depende do contexto (social, cultural, lingüístico). Existem três tipos de validade: a de conteúdo, a prática e de construção. A validade de conteúdo consiste em julgar em que medida os diversos itens que compõem o instrumento representam de forma adequada o que se quer medir. A validade prática se refere à capacidade de medir algo relacionado com um critério de interesse ou um comportamento. A validade de construção trata a relação entre os conceitos teóricos e sua operacionalização. Uma outra forma de validação de construção é a de traço, que é utilizada quando necessita medir construções e de correlacionar os resultados obtidos por dois ou mais instrumentos.

Recentemente, algumas pesquisas sobre avaliação educacional, têm abordado o uso de uma técnica de análise estatística conhecida como TRI (Teoria de Resposta ao Item) que é uma técnica de análise estatística multivariada, usada no processo de desenvolvimento de instrumentos de medida de avaliação de componentes cognitivos, afetivos, motivacionais, desempenhos de uma atividade, baseado no comportamento de indivíduos em situações específicas.

A TRI pode contribuir para que a avaliação de instrumentos atinja uma dimensão de análise, com obtenção de resultados que possam orientar os caminhos das pesquisas sobre desempenhos dos indivíduos relacionados com a realização de certas tarefas.

A aplicação do TRI pode ajudar na validação empírica dos itens, na determinação dos níveis de letramento e na discriminação dos itens.

Os educadores estatísticos não pretendem criar especialistas em estatística, mas sim desenvolver pessoas capazes de compreender os processos elementares e análise de dados, que tenham consciência de um fenômeno aleatório e que possam compreender modelos simples da realidade. A avaliação dos níveis de letramento estatístico ajudará levantar algumas hipóteses relacionadas à compreensão e entendimento sobre os conceitos estatísticos que o indivíduo pode ter adquirido no contexto escolar, nas demandas profissionais ou com a vivência de práticas sociais.

3. Objetivos

3.1. Objetivo Geral

O objetivo proposto neste projeto de pesquisa será validar o instrumento de avaliação de letramento estatístico desenvolvido por Watson e Callingham (2003).

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3.2. Objetivos Específicos

ü Traduzir o instrumento de letramento estatístico; ü Fazer a retrotradução do instrumento;

ü Validar a escala;

ü Verificar a fidedignidade da escala;

ü Comparar níveis de letramento estatístico por gênero, curso de graduação, área de conhecimento, região do Brasil;

4. Metodologia

Para desenvolver esta proposta de pesquisa será aplicado um questionário com alunos universitários que cursam o primeiro ano. A quantidade de participantes da pesquisa será definida através de um planejamento amostral.

Os procedimentos que serão usados para a realização da pesquisa, seguirão alguns passos:

ü Submeter o projeto de pesquisa ao comitê de Ética da Uniban;

ü Solicitar uma autorização formal para as autoras Watson e Callingham para tradução e aplicação do instrumento de letramento no Brasil (Autorização verbal já foi concedida em Julho de 2008 no JOINT ICMI/IASE);

ü Traduzir os itens do instrumento e depois realizar uma retrotradução; ü Solicitar autorização das instituições de ensino superior e dos participantes;

ü Aplicar os questionários de maneira coletiva em sala de aula. Nas universidades de outros estados, iremos buscar um auxílio junto a pesquisadores de educação estatística.

Os materiais utilizados serão: instrumento de letramento estatístico desenvolvido pelas pesquisadoras Watson e Callingham(2003) e traduzido pela autora deste trabalho, e um questionário para obtenção de dados demográficos dos participantes.

5. Cronograma

O cronograma inicialmente definido com a orientadora para realização deste projeto de pesquisa está apresentado a seguir:

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Jan. Fev. Mar. Abr. Ma Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. Revisão bibliográfica: aprofundamento das leituras para a revisão de

literatura e a fundamentação teórica do tema de pesquisa. Delimitação do problema e da metodologia

Tradução, retrotradução do instrumento.

Aplicação dos instrumentos de pesquisa e coleta de dados.

Realização de estudos teóricos que subsidiem a análise dos dados.

Tratamento e Análise dos dados coletados

Nova revisão bibliográfica e demais providências para atendimento às sugestões da banca de qualificação.

Análise dos resultados e estabelecimento das conclusões

Redação final da dissertação e depósito dos volumes da dissertação

Defesa 2008

2009

2010

Descrição das Atividades a serem realizadas 1º SEMESTRE 2º SEMESTRE

6. Referências

CONTANDRIOUPOULOS, A., CHAMPAGNE, F., POTVIN, L., DENIS, J., & BOYLE, P. Saber preparar uma pesquisa: definição, estrutura e funcionamento. São Paulo: Hucitec, 1994.

GAL, I. Adult’s Statistical literacy: Meanings, Components, Responsabilities. International Statistical Review, n. 70, 2002.

RUMSEY, D. Statistical Literacy as a Goal for Introductory Statistics Courses. Journal of Statistics Education. v.10, n.3, 2002.

SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. 2ª ed., Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2006.

__________. Alfabetização e letramento. 2ª ed., Belo Horizonte: Editora Contexto, 2004. WALLMAN, K.K.Enhancing Statistical Literacy: Enriching our Society. Journal of the American Statistical Association, v. 88, n. 421, p. 1-8, 1991.

WATSON, Jane. Statistical Literacy at the School Level: What should students now and do? In: Proceedings of the 54° Bulletin of the International Statistical Institute, 2003, Berlim. Berlim: ISI, p. 1-4, 2003.

WATSON, Jane; CALLINGHAM, Rosemary. Statistical Literacy: a complex hierarchical construct. Statistical Education Reasearch Journal, v. 2, n. 2, p. 3-46, 2003. disponível em http://fehps.une.edu.au/serj. Acesso em 2008.

Referências

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