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A Aritmética do Ensino Primário nos Grupos Escolares do Paraná - ( )

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Academic year: 2021

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CLARAS, Antonio Flavio1 flavio.claras@uol.com.br Doutorando em Educação PUCPR PINTO, Neuza Bertoni2

neuzard@uol.com.br

O objeto de estudo desta pesquisa tem como eixo norteador a Aritmética ensinada nos Grupos Escolares no Estado do Paraná durante a Primeira República. O período de investigação está delimitado entre 1903, ano em que foi inaugurado o Grupo Escolar Dr. Xavier da Silva, o primeiro a ser construído nestes moldes no estado do Paraná, sendo seu limite o ano de 1931, ano da Reforma Francisco Campos, a qual implicou mudanças importantes para o ensino da Matemática Escolar no Brasil, em especial para o ensino secundário. No Paraná, este período foi bastante profícuo no que tange à elaboração de leis para regular a educação. Neste resumo, o objetivo é apresentar aspectos identificados em relatórios dos secretários de governo do período delimitado, bem como, em estudos já realizados no Paraná sobre a escola primária no período denominado Primeira República, no que se refere a Aritmética.

Esta modalidade de estruturação física das escolas, os grupos escolares, teve início no estado de São Paulo, a partir da década de 1890 (COSTA, 2010) e contribuiu, de modo relevante, para mudanças no modo como era organizado os primeiros anos de escolarização. Foi determinante para que o ensino primário passasse a ser organizado em quatro séries.

Dada a peculiaridade dessa composição, este novo modelo de escola tornou-se referência para as mudanças no arranjo escolar no campo da educação primária para os demais estados brasileiros, dentre estes, o estado do Paraná.

Para a elite pensante, a quem interessava a manutenção do status quo, o modelo de sociedade que existia (agrária) só precisava de alguns poucos cidadãos escolarizados para atender a necessidade de preenchimento de alguns espaços dos aparelhos do Estado, para

1 Aluno do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação PUCPR.

2 Professora Titular do Programa de Mestrado e Doutorado em Educação PUCPR.

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fazer com que a “máquina” estatal funcionasse minimamente. Pois a formação da elite, que conduziria os destinos das unidades federadas e do país, poderia ser realizada na Europa.

Com o advento da República essas ideias começaram a ser modificadas. O Brasil precisava se modernizar, se desenvolver para acompanhar as tendências dos países desenvolvidos no mundo sendo imperiosa a necessidade do redirecionamento das suas diretrizes.

Nesta época, no Paraná, a base da economia centrava-se na extração da folha da erva mate e na exploração da madeira. Tudo feito basicamente com a força dos braços.

Quando nos remetemos ao cenário paranaense, neste período, constata-se que havia uma situação de muita precariedade. Em todas as áreas cuja competência de cuidado e desenvolvimento cabia ao poder público era mais ou menos a mesma coisa: os problemas eram inúmeros e havia necessidades de toda ordem, assim como as dificuldades para soluciona-los (KUNHAVALIK, 2004).

Neste cenário, a educação era compreendida como uma instituição secundária. Assim como o governo federal, o estado paranaense também não tinha obrigações efetivas com sua implementação e manutenção, apesar de já existirem leis que tratassem em alguma medida da responsabilidade do governo provincial com a instrução pública desde o ultimo quarto do século XIX, como por exemplo, as questões relacionadas à gratuidade e qualidade da educação pública, o provimento de professores e de escolas para atender a demanda de alunos.

Cabe ressaltar que no período da emancipação política, em meados do século XIX, o Paraná contava com pouco mais de sessenta mil habitantes, concentrados principalmente nas cidades de Paranaguá e Curitiba, para um território de aproximadamente duzentos mil quilômetros quadrados. A prioridade era primeiramente povoar o território, em especial o interior do estado, e as demais questões ficaram em segundo plano, incluindo-se a Educação (PARANÁ, 1853).

Com o final da escravidão negra e a chegada do contingente de imigrantes vindos principalmente dos continentes asiático e europeu, o Brasil começou a se redefinir nos campos da política, da economia, social e educacional. O governo paranaense, seguindo a tendência da União, aderiu aos programas de incentivos para a vinda de imigrantes estrangeiros. A chegada destes imigrantes provocou um aumento significativo do contingente de pessoas no interior do estado, acentuando ainda mais as necessidades de

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melhorar a infraestrutura, entre as quais a construção, de novas escolas e da formação de uma quantidade maior de novos professores para atender o aumento dessa demanda.

Esse aumento demográfico, no que se refere a questão educacional, parece ter implicado em mudanças importantes. Ajustes inclusive no modelo de gestão do sistema educacional, cujo principal símbolo foram as construções dos grupos escolares na primeira década do século XX.

Conforme Fiorentini (1995), particularmente no ensino primário, neste período a Matemática era ensinada subdividindo seus campos. Os conteúdos de Álgebra, Aritmética, Geometria e Trigonometria eram trabalhados separadamente, constituindo-se, portanto, matérias distintas dentro do programa de ensino. Porém, dadas as suas particularidades de complementação, a partir da reformulação feita pela Congregação do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, em 1928, (que era a principal referência para todas as inovações no campo da educação) a mudança foi incorporada à Reforma Francisco Campos, em 1931. A modificação consistiu em agrupar essas matérias citadas acima que até então eram ensinados separadamente em uma só disciplina passando a ser denominada Matemática.

De acordo com Oliveira (2011), nesta época empregava-se a “[...] palavra “matéria” em lugar da palavra “disciplina”, esta última, modernamente, empregada para referir os conteúdos de ensino. Assim, identificavam-se como matéria os estudos de Português, Aritmética, Ciências Físicas e Naturais, entre outros que, na atualidade, são reconhecidos como disciplina” (OLIVEIRA, 2011, p. 29).

De acordo com a autora,

[...] a palavra “aritmética” era empregada para o ensino de conhecimentos numéricos básicos que envolviam quatro operações, regra de três, números decimais, sistema de pesos e medidas e outros aprendizados de cálculo. A expressão “matemática”, por sua vez, era também empregada, mas para os estudos mais complexos que envolvessem equações e conhecimentos similares. A geometria, compondo o elenco dos conteúdos, não estava inserida nos estudos aritméticos ou matemáticos, pois pertencia a outra esfera de conhecimento das ciências exatas, embora dependente dos conhecimentos aritméticos para sua compreensão, como ocorria com o ensino de desenho linear e nivelamento” (OLIVEIRA, 2011, p. 29)

Neste contexto, observa-se que apesar das incertezas de toda ordem que pairavam sobre as esferas e estruturas do estado do Paraná, sobressaem-se das fontes evidências da importância e do espaço que a Aritmética ocupava no programa do ensino primário. Neste

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cenário observa-se nos documentos investigados, que há indícios de que esta matéria funcionava como uma ferramenta para preparar os alunos das classes trabalhadores para tarefas do cotidiano, para atividades operacionais, e não como uma linguagem para preparação intelectual.

A Aritmética trabalhada como linguagem, bem como as demais áreas da matemática (Álgebra, Geometria e Trigonometria), que serviria para formar os filhos da elite, incumbidos gerir a “maquina” do estado, como já afirmado, poderiam ser estudados e aprendidos na Europa.

Deste modo, a partir de uma fundamentação teórica com base em pesquisadores que investigam a História da Educação Matemática no Brasil, a partir dos instrumentos da História Cultural, como Wagner Valente (2010) que pesquisa esta História desde o nosso início como nação, buscando reconstituir as práticas escolares do ensino da Matemática; Também o pesquisador francês Roger Chartier (1990) que investiga os elementos que determinam como os personagens de uma época se apropriam de determinadas práticas e ideias de seu tempo e a maneira como estas práticas se refletem nas gerações seguintes; Dominique Julia (2001) que corrobora com seus estudos relacionadas a cultura escolar. Alinhando aos estudos dos autores referidos anteriormente com André Chervel (1990) que pesquisa como se organizam as disciplinas escolares ao longo da história e Michel De Certeau (1982) que contribui com seus estudos sobre a escrita da história, entre outros autores, este projeto está propondo como questão principal investigar: Quais as singularidades do ensino da Aritmética a partir da instauração dos Grupos Escolares no Paraná em 1903 até a Reforma Francisco Campos em 1931?

O estudo propõe-se a analisar o contexto político, econômico, social e cultural do período delimitado, onde estas ocorrências incidiram, identificando motivações e consequências, rupturas e permanências levadas a efeito na escola primária do Paraná.

Os elementos imperativos da História Cultural permitem ao investigador constatar que as práticas humanas estão em constante movimento, se modificando, se ajustando continuamente às necessidades da sociedade. A cultura, em si, é um elemento que constitui e se constitui neste meio, que por sua vez também se modifica ou se ajusta, dada a maneira como uma determinada sociedade é ou está organizada, e que é produzida e novamente apropriada pelos seus integrantes.

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Essa dinâmica implica num ciclo constante e ininterrupto de produção, reprodução e apropriação destes conhecimentos, destes modos de fazer, que podem até ser traduzidos como novos dados aos seus ajustes e modificações, pois invariavelmente se transformarão em uma forma própria de fazer desta sociedade, que por suas peculiaridades a caracterizará como sua cultura.

Assim, é possível afirmar que a História Cultural apresenta instrumentos que possibilitam uma investigação concisa destas particularidades. Instrumentos que permitem compreender como esses acontecimentos se deram no interior da instituição escolar. Além da disponibilização de ferramentas que auxiliam na compreensão das mudanças que ocorreram em cada época; das divergências de interesses entre as classes e ideias que dominaram, foram dominadas em cada período da história, ou simplesmente se complementaram denotando as permanências e rupturas das suas práticas, bem como compreender os motivos, as ideias ou ideologias, que conduziram aos fatos ocorridos.

No que se refere aos resultados preliminares, nos documentos consultados é possível constatar alguns elementos importantes sobre o Ensino da Escola Primária. No que diz respeito a Aritmética é possível inferir que tratava-se de uma matéria relevante para o Ensino daquela época, dado o espaço que ela ocupava nos Programas de Ensino, conforme verificado nos documentos.

Quanto a criação dos Grupos Escolares, os relatos encontrados nos documentos pesquisados evidenciam o elevado grau de importância dada a este novo modelo de estrutura. As fontes investigadas denotam que esta forma representou o ápice da modernidade no que se referia a inovação daquele período para os prédios escolares. Dada a sua suntuosidade, a nova composição parece ter representado um momento de preocupação mais com a mudança organizacional ou de estrutura, do que com a qualidade do ensino ministrado, apesar dos discursos textualizarem a preocupação com a necessidade da melhoria na qualidade do ensino. É possível também perceber, a partir das falas contidas nos documentos oficiais, a manifestação constante expressada pelos gestores da Instrução Publica com questões relacionando as modernas estruturas, com a melhoria da qualidade do ensino e da profissionalização docente.

Os Relatórios de Governo trazem indicativos consistentes de possíveis mudanças nos encaminhamentos dados aos programas de ensino, no que se refere a Aritmética. Tais mudanças sinalizam para a preocupação com o ensino mais rigoroso de Aritmética quando

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comparada ao ministrado nas Casas Escolares e Escolas Isoladas. Essa modalidade de escola consistia em escolas primárias disponibilizadas na época, pelo estado, cuja principal função era escolarizar a população que habitava o interior do estado.

Referências

CERTEAU, Michel. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. CHARTIER, R.A história cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Difel, 1990. CHERVEL, André. A história das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria & Educação, Porto Alegre, 176-229, 1990.

COSTA, D. A. A aritmética escolar no ensino primário brasileiro: 1890 – 1946. 2010. 279f. Tese (Doutorado em Educação). – Programa de Pós-Graduação em Educação PUCSP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2010.

FIORENTINI, Dario. Alguns modos de ver e conceber o ensino de Matemática no Brasil. Revista Zetetikê, Campinas, ano 3, n. 4 p. 1-35, 1995.

JULIA, D. A Cultura Escolar como Objeto Histórico. Revista Brasileira de História da Educação. Campinas, n. 1, jan/jun, 9-38, 2001.

KUNHAVALIK, José Pedro; OLIVEIRA, Ricardo Costa de; SALLES, Jefferson de Oliveira. A construção do Paraná moderno: políticos e política no governo do Paraná de 1930 a 1980.Curitiba: SETI, 2004.

OLIVEIRA, Maria Cecília M. O ensino da aritmética nas escolas primárias do Paraná na primeira república. Revista Zetetikê, Campinas, ano 21, n. 36 p. 27 – 49, 2011.

PARANÁ. Relatório do Presidente da Província do Paraná Curytiba, 1853.

VALENTE, Wagner R.A Matemática na formação do professor no ensino primário em São Paulo (1875 – 1930). 2010. 121 p. Tese (Livre docência em Educação Matemática) – Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2010.

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