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A OPRESSÃO SOFRIDA PELAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL À LUZ DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO

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Academic year: 2021

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A OPRESSÃO SOFRIDA PELAS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

SEXUAL À LUZ DO CÓDIGO PENAL BRASILEIRO

FRANCISCO RAFAEL LOPES PEREIRA1

MARIA HORTÊNCIA RODRIGUES SOUSA LUIZA SUIARA ALBANO MONTEZUMA

Resumo: o presente artigo trata sobre o fato de que apesar de em tempos atuais as mulheres terem, mesmo

depois de grandes esforços, conseguido conquistar direitos que antes não existiam, e que a partir daí passaram a ser “equiparadas” aos homens. Observando o contexto histórico da criação de nosso código penal iremos perceber que temos vigente um código antigo, o que não surpreende. Além disso, o código reflete um grande machismo no sistema penal, já que se trata de algo criado durante o século XX, época marcada principalmente por uma sociedade patriarcal. O enfoque será dado principalmente à maneira que as mulheres e meninas ao serem vítimas de estupro são tratadas pelo sistema penal, somando, é claro, a toda desonra de gênero que essas vítimas sofrem após consumado o ato, mostrando uma perspectiva que existe mesmo após criada a Lei Maria da Penha.

Palavras-chave: Código penal. Machismo. Mulher. Opressão. Violência sexual.

INTRODUÇÃO

É desde os tempos bíblicos que sabemos que as mulheres, esses seres sempre considerados como o “sexo frágil”, têm seus direitos básicos como liberdade, igualdade e direito à vida, muitas vezes violados. A mulher das sociedades antigas era vista como o reflexo de seus maridos, sendo essa relacionada apenas à procriação e a responsável pelos afazeres domésticos, na Idade Média a mulher era a total responsável apenas pela geração e criação de seus filhos e obediência total ao marido, nada lhe era permitido.

Já na Idade Moderna com os movimentos sociais, as queimas de sutiãs em praças públicas reivindicando seus direitos, as mulheres passaram a serem vistas como seres menos excluídos, começando assim a nascer a sua independência, contudo foi nesse mesmo contexto histórico que vimos esposas serem queimadas junto aos corpos de seus falecidos maridos, e aquelas que tivessem sido vítimas de violência sexual, eram incentivadas a cometerem suicídio, para deste modo preservar a imagem da família, mesmo que o ato tivesse sido cometido por um membro da família, somente a mulher vítima deveria ser punida, enquanto o agressor nada sofria.

Contudo, se partirmos para a premissa de que nosso atual código penal vigente,

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data do século passado, ocasião em que como mencionado acima trata-se de um contexto no qual o homem era visto como aquele que ditava ordens, logo perceberemos que existirá nele todo um enraizamento do preconceito machista, já que estamos falando de algo que provavelmente foi escrito por outros homens em uma sociedade marcada pelo sistema patriarcal.

A autora Eleonora Zicari Costa de Brito, em seu livro Justiça e gênero: uma história da Justiça de menores em Brasília (1960-1990), trata sobre a questão daquelas meninas e mulheres que são violentadas sexualmente, o que ela propõe é que não se deve ser usado como justificativa aquele velho termo de que “o comportamento da mulher poderá ser a causa dela ser uma vítima de estupro”, porque um dos erros ao se analisar casos de violência sexual é quando se parte da premissa “consentimento” pois é deste ponto que se parte o machismo.

METODOLOGIA

Quanto ao método, trata-se de uma pesquisa bibliográfica de estudo analítico, juntamente com materiais de obras de autores referidos na bibliografia que irão auxiliar da maneira mais adequada ao tema proposto. A abordagem se dará de maneira qualitativa, pois busca-se verificar o comportamento e acontecimentos sociais levando em consideração a temática do machismo presente no sistema penal brasileiro, em como isso atinge as mulheres de forma opressora.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O MACHISMO ARRAIGADO NO SISTEMA SOCIAL

Não seria errado pensar que o motivo da existência de tudo isso pode partir da própria maneira como os pais educam seus filhos, já que existem sim muitas famílias que ao educarem seus filhos sempre tendem a tornar como ensinamento o lado machista, mostrando desde cedo que o homem é que deve ser o ser superior, aquele que dita ordens, e as filhas como mulheres devem comportarem-se como frágeis e submissas às atitudes de seus futuros maridos, sendo muitas vezes julgadas pelo simples fato de serem mulheres, partindo daí, temos um problema que só se tornara o caos ao longo prazo, todavia, já

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sendo tarde demais para ser corrigido quando percebido. O MACHISMO PERPETUADO PELO SISTEMA PENAL

É fácil pensar que pelo fato de que em nosso código penal venha taxado como crime em seu artigo 213, àquele que venha a mediante violência ou grave ameaça obrigar um sujeito a ter ou praticar conjunções carnais, e a partir disso pronto, caso encerrado, não se trata de algo tão simples assim. Devemos perceber que se trata de algo muito mais complexo, pois estamos lidando com um código que não é novo, em uma sociedade que constantemente se encontra em mutação. Deve ser levado em consideração de que a época em que o mesmo foi criado era de tempos em que a liberdade feminina e as questões de gênero não era tão discutido e presente no meio social quanto hoje.

O grande erro está em partir da análise de casos de violência sexual levando em consideração a conduta da vítima, e não a do agressor, tornando como algo banal para alguns casos, pode se citar como exemplo o caso de que uma mãe, tradicionalmente conhecida como aquela que cuida de seus filhos, trabalha, cuida de sua casa, enfim, um dia a mesma infelizmente vem a ser vítima de violência sexual, para esse caso, percebe-se que será o tipo de que a vítima além de ter sofrido todo o constrangimento, será ainda mais vitimada pela sociedade por se tratar de alguém que não seria “o normal” de se acontecer. Contudo se partirmos para a análise dos casos em que aquelas mulheres que vivem da prostituição, e são por ventura vítimas de violência sexual, nesse caso é perceptível que a sociedade como maioria levará aquela velha perspectiva de banalizar esse caso, visto que o comportamento da vítima é que será levado em maior consideração, já que estamos falando de alguém que não é encaixado como uma “mulher de família” termo bastante presente em uma sociedade machista e patriarcal.

É a partir disso que percebemos o quanto temos tão enraizado a opressão sexual que estas mulheres sofrem, no primeiro caso, uma mãe traumatizada pela vitimização sofrida além de ter sido violentada sexualmente, e no outro, uma mulher “culpada” pela sociedade de que o fato de ter sido violentada está ligado ao seu comportamento perante o meio social.

Em 1996, o Ministro Marco Aurélio de Mello, inocentou um adulto acusado de estupro por manter relações sexuais com uma garota de 12 anos. Ele entendeu

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de hoje, não há crianças, mas moças de 12 anos”, justificou. (RODRIGUES, 2017).

É lamentável observar acontecimentos como este, no qual o aludido Ministro ainda completa dizendo que houve “erro de tipo” já que o rapaz que praticou o ato afirma ter achado que a menina possuía 16 anos ao invés dos seus 12 anos. Revoltante perceber que a vítima é que se torna a culpada, esse é apenas um dos inúmeros casos que muitas sofrem diariamente, meninas, mulheres, que são culpadas por não irem atrás do sistema judiciário por terem sido vítimas, e que no final das contas podem muito bem se tornarem rés, por puro machismo daqueles que analisam o caso à perspectiva patriarcal.

Outro ponto importante de se mencionar são os casos de estupro no âmbito doméstico, que muitas vezes a vítima se encontra em uma situação de invasão contra sua vontade, mas não sabe que se caracteriza ali um crime. É sabido que uma mulher terá seu direito de decidir o que fazer com seu próprio corpo mesmo após casada, jamais a vontade de seu marido deve se sobrepor às suas.

a mulher não perde o direito de dispor de seu corpo, ou seja, o direito de se negar ao ato, desde que tal negativa não se revista de caráter mesquinho. Assim, sempre que a mulher não consentir na conjunção carnal e o marido a obrigar ao ato, com violência ou grave ameaça, em princípio caracterizar-se-á o crime de estupro, desde que ela tenha justa causa para a negativa. (JESUS, Damásio de

apud STRECK, Lênio Luiz, mar. 2000, p. 43 apud BRITO, 2007).

A lei vem coadunar o que já afirmamos anteriormente, sendo relevante destacar que muitos dos casos de violência sexual doméstica ficam impunes devido à falta de prestação de queixa da vítima, seja essa não comunicação de crime pelo desconhecimento da vítima sobre a lei que a protege ou seja pelo medo de perder o marido, destruir sua família e sofrer retaliações da sociedade em razão de sua conduta.

CONCLUSÃO

À luz do atual código penal e da sociedade percebemos que as vítimas de violência sexual se encontram a mercê da própria sorte. A princípio é inegável que o código penal se encontra desatualizado e descontextualizado com a sociedade vigente, e a sociedade se exime de qualquer responsabilidade quanto aos casos de violência sexual, pondo a culpa na mulher e no modo como essa leva sua vida. Nesse interim, é necessário a reformulação das leis que visam a punição de tal crime e que haja uma maior efetivação destas pela

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sociedade. O objetivo não é só recriar leis mais sim descontruir a ideia de que a sociedade é feita pelos homens e para os homens, buscando um real patamar de igualdade entre homens e mulheres. A vítima de violência social não pode ser oprimida ou tratada como culpada, esta deve ser protegida pela justiça e a sociedade.

REFERÊNCIAS

BEAUVOIR, Simone. O segundo sexo. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1970. 309 p.

BARATTA, Alessandro. Criminologia crítica e crítica do direito penal. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2002. 129 p.

BRITO, Eleonora Zicari Costa de. Justiça e Gênero – Uma história da Justiça de menores em Brasília (1960-1990). Brasília: UnB, 2007.

RODRIGUES, Joelma; MENDONÇA, Patrícia. A menina, o encanador e o ministro. Disponível em

http://culturadoestupro.blogspot.com.br/2013/04/a-menina-o-encanador-e-o-ministro-marco.html. Acesso

em 09 de maio 2017.

STRECK, Lênio Luiz. Mulher pode recusar sexo; mas a negativa não pode ser mesquinha. Disponível

em

http://www.conjur.com.br/2016-jun-02/senso-incomum-mulher-recusar-sexo-negativa-nao-mesquinhasic. Acesso em 10 de maio 2017.

“O machismo presente no código penal como veículo da perpetuação da opressão sexual na sociedade em relação a mulheres menores de idade”. Disponível em http://docplayer.com.br/33990064-O-machismo- presente-no-codigo-penal-como-veiculo-da-perpetuacao-da-opressao-sexual-na-sociedade-em-relacao-a-mulheres-menores-de-idade.html. Acesso em 10 de maio 2017.

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