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Processo 369/17.8GBPVL.G2 Data do documento 22 de março de 2021 Relator Paulo Serafim

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE GUIMARÃES | PENAL

Acórdão

DESCRITORES

Depoimento indirecto assistente > Valoração > Comparticipação de arguidos > Omissão de fundamentação > Nulidade de acórdão

SUMÁRIO

I - O art. 129º do CPP impõe, para a eficácia deste meio de prova, a necessidade de uma confirmação do depoimento indireto, com a consequente audição da pessoa a quem se ouviu dizer (salvo as situações excecionais acauteladas na parte final do nº1). Subjacente a este normativo legal vislumbra-se a ideia legislativa de encontrar um ponto de equilíbrio entre o princípio da descoberta da verdade material e outros princípios processuais penais como o da imediação e da contraditoriedade na produção da prova.

II – Não é abrangido pelo específico e excecional campo de aplicação da norma do art. 129º do CPP o caso de depoimento indireto de um assistente sobre o que ouviu dizer a outra pessoa, o qual não pode, em circunstância alguma, valer como meio de prova.

III - No depoimento indireto, o que está em causa não é o que a testemunha (depoente) percecionou por si, diretamente, mas antes o que lhe foi transmitido por quem (outra testemunha) percecionou os factos que constituem objeto do processo.

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um dos assistentes ter “reconhecido”, através das fotos que constavam dos respetivos perfis de facebook, os dois arguidos como tendo sido quem os agrediu, naquilo que é de considerar uma perceção direta de cada um deles; outrossim, valorou a identificação que os assistentes fizeram dos arguidos em audiência de julgamento, como autores das ajuizadas agressões. Relativamente ao indivíduo que acedeu aos preditos perfis de facebook e os disponibilizou aos assistentes, por via de uma testemunha, e, bem assim, à testemunha (que depôs), nada os assistentes “ouviram dizer”, muito menos que eles tivessem visto os arguidos a agredi-los, identificando-os como autores dos factos objeto de discussão nos autos. Em conformidade, não foi valorado pelo Tribunal a quo depoimento indireto, de ouvir dizer.

V – É exigível que o arguido, lendo a decisão condenatória, possa saber, univocamente, qual foi para o julgador a sua forma de comparticipação nos factos perpetrados que justificaram a sua condenação, o que in casu não sucede. Tanto mais que, no caso vertente, a qualificativa vertida na al. h), do nº2, do art. 132º do Código Penal, ex vi do art. 145º, nº2 do mesmo diploma legal, na parte em que prevê a prática do facto “juntamente com, pelo menos, mais duas pessoas” exige para o seu preenchimento uma atuação em coautoria, a qual não é, em momento algum, expressamente afirmada na decisão recorrida [embora se pudesse eventualmente extrair da factualidade provada].

VI - Verifica-se a arguida nulidade do acórdão recorrido por omissão de fundamentação atinente à forma de comparticipação de cada um dos arguidos nos factos ajuizados dados como provados, sendo certo que tal invalidade apresenta-se como indubitável ao nível da motivação de direito [e consequente dispositivo], urgindo que seja suprida pelo Tribunal que proferiu a decisão em causa – cf. art. 379º, nº1, al. a), do CPP, com referência ao art. 374º, nº2, do mesmo Código.

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TEXTO INTEGRAL

Acordam, em conferência, os Juízes desta Secção Penal do Tribunal da Relação de Guimarães:

I – RELATÓRIO:

▪ No âmbito do Processo Comum (Tribunal Coletivo) nº 369/17.8GBPVL, do

Tribunal Judicial da Comarca de Braga - Juízo Central Criminal de Guimarães – Juiz 4, por acórdão proferido e depositado no dia 11.03.2020 (fls. 711 a 736 - referência 167651041; e fls. 739 - referência 167651092, respetivamente), foi decidido:

“Pelo exposto, os Juízes que compõem este Tribunal Coletivo julgam provados os factos constantes na decisão de pronúncia e, em consequência, decidem:

Quanto à instância criminal:

A) Condenar o arguido L. F. pela prática, em 19 de Agosto de 2017, contra o ofendido L. M., de um crime de ofensa à integridade física qualificada, previsto e punido pelos artigos 143.º, n.º 1, 145.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, e 132.º, n.º 2, alíneas e) e h), todos do Código Penal, na pena de 12 (doze) meses de prisão. B) Condenar o arguido L. F. pela prática, em 19 de Agosto de 2017, contra o ofendido H. J., de um crime de ofensa à integridade física qualificada, previsto e punido pelos artigos 143.º, n.º 1, 145.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, e 132.º, n.º 2, alíneas e) e h), todos do Código Penal, na pena de 2 (dois) anos de prisão.

C) Condenar o arguido L. F. pela prática, em 19 de Agosto de 2017, contra o ofendido E. C., de um crime de ofensa à integridade física qualificada, previsto e

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punido pelos artigos 143.º, n.º 1, 145.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, e 132.º, n.º 2, alíneas e) e h), todos do Código Penal, na pena de 14 (catorze) meses de prisão. D) Em cúmulo jurídico, nos termos do artigo 77.º, n.ºs 1, 2 e 3 do Código Penal, condenar o arguido L. F. na pena única de 2 (dois) anos e 8 (oito) meses de prisão.

E) Suspender, pelo período de 2 (dois) anos 8 (oito) meses, a execução da pena de prisão aplicada nos termos da alínea que antecede, ao abrigo do disposto nos artigos 50.º, n.ºs 1 e 5, 51.º, 53.º e 54.º, todos do Código Penal, e artigo 494.º do Código de Processo Penal, subordinada ao cumprimento pelo arguido das seguintes condições cumulativas:

1. – cumprimento de um regime de prova assente num plano de reinserção social (que deve conter os objetivos de ressocialização a atingir pelo condenado, as atividades que este deve desenvolver, com eventual frequência de ação de formação de prevenção de violência, o respetivo faseamento e as medidas de apoio e vigilância a adotar pelos serviços de reinserção social) a elaborar pela DGRSP e a ser homologado pelo Tribunal (com especial incidência para a consciencialização dos deveres do arguido perante a lei, e seja motivador do arguido a manter-se afastado da prática do mesmo tipo de crime ou de outros), executado com vigilância e apoio, durante o tempo de duração da suspensão, pelos serviços de reinserção social; e

2. – proceder ao pagamento, até final do primeiro ano da suspensão, da quantia de 700 € (setecentos euros) à Associação de Paralisia Cerebral ... (Rua N. …, NIB: ..., Telef.: ... / ..., Fax: ...; E-mail: geral@....pt), comprovando nos autos esse pagamento naquele período; e

3. – proceder ao pagamento, até final do segundo ano da suspensão, da quantia de 700 € (setecentos euros) à Sociedade Protetora dos Animais ... (Rua … União das freguesias de …; Telem. ...; geral....@gmail.com), comprovando nos autos esse pagamento naquele período.

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ofendido L. M., de um crime de ofensa à integridade física qualificada, previsto e punido pelos artigos 143.º, n.º 1, 145.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, e 132.º, n.º 2, alíneas e) e h), todos do Código Penal, na pena de 12 (doze) meses de prisão. G) Condenar o arguido J. T. pela prática, em 19 de Agosto de 2017, contra o ofendido H. J., de um crime de ofensa à integridade física qualificada, previsto e punido pelos artigos 143.º, n.º 1, 145.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, e 132.º, n.º 2, alíneas e) e h), todos do Código Penal, na pena de 20 (vinte) meses de prisão. H) Condenar o arguido J. T. pela prática, em 19 de Agosto de 2017, contra o ofendido E. C., de um crime de ofensa à integridade física qualificada, previsto e punido pelos artigos 143.º, n.º 1, 145.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, e 132.º, n.º 2, alíneas e) e h), todos do Código Penal, na pena de 14 (catorze) meses de prisão. I) Em cúmulo jurídico, nos termos do artigo 77.º, n.ºs 1, 2 e 3 do Código Penal, condenar o arguido J. T. na pena única de 2 (dois) anos e 2 (dois) meses de prisão.

J) Suspender, pelo período de 2 (dois) anos e 2 (dois) meses, a execução da pena de prisão aplicada nos termos da alínea que antecede, ao abrigo do disposto nos artigos 50.º, n.ºs 1 e 5, 51.º, 53.º e 54.º, todos do Código Penal, e artigo 494.º do Código de Processo Penal, subordinada ao cumprimento pelo arguido das seguintes condições cumulativas:

1. – cumprimento de um regime de prova assente num plano de reinserção social (que deve conter os objetivos de ressocialização a atingir pelo condenado, as atividades que este deve desenvolver, com eventual frequência de ação de formação de prevenção de violência, o respetivo faseamento e as medidas de apoio e vigilância a adotar pelos serviços de reinserção social) a elaborar pela DGRSP e a ser homologado pelo Tribunal (com especial incidência para a consciencialização dos deveres do arguido perante a lei, e seja motivador do arguido a manter-se afastado da prática do mesmo tipo de crime ou de outros), executado com vigilância e apoio, durante o tempo de duração da suspensão, pelos serviços de reinserção social; e

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2. – proceder ao pagamento, até final do primeiro ano da suspensão, da quantia de 700 € (setecentos euros) à Associação de Paralisia Cerebral ... (Rua …, NIB: ..., Telef.: ... / ..., Fax: ...; E-mail: geral@....pt), comprovando nos autos esse pagamento naquele período; e

3. – proceder ao pagamento, até final do segundo ano da suspensão, da quantia

de 700 € (setecentos euros) à Sociedade Protetora dos Animais ... (Rua …. União das freguesias de …; Telem. ...; geral....@gmail.com), comprovando nos autos esse pagamento naquele período.

K) Condenar cada arguido no pagamento das custas do processo criminal, fixando-se a taxa de justiça em 4 UC (quatro unidades de conta) a pagar por cada um dos arguidos, nos termos do artigo 374.º, n.º 4 do Código de Processo Penal e artigo 8.º, n.º 9 do Regulamento das Custas Processuais e tabela III anexa ao mesmo.

L) Declarar cessada, após trânsito, qualquer medida de coação imposta aos arguidos, à exceção do termo de identidade e residência que só se extinguirá com a extinção da pena (artigo 214.º, n.º 1, al. e), do Código de Processo Penal).

Quanto à instância cível conexa:

A) Relativamente ao pedido de indemnização civil deduzido pelo demandante “Hospital ... – ..., Sociedade Gestora do Estabelecimento, S.A.” contra o demandado L. F.:

B)

1. - Julgar procedente o pedido e, em consequência, condenar o demandado no

pagamento da quantia de 112,07 € (cento e doze euros e sete cêntimos) a título de indemnização por danos patrimoniais;

2. - Não condenar o demandado no pagamento das custas desse pedido de

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Código de Processo Civil ex vi artigo 523.º do Código de Processo Penal e artigo 4.º, n.º 1, al. n), do Regulamento das Custas Processuais.

C) Relativamente ao pedido de indemnização civil deduzido pelo demandante L.

M. contra os demandados L. F. e J. T.:

1. – Julgar parcialmente procedente o pedido e, em consequência, condenar os

demandados no pagamento da quantia total de 2.000 € (dois mil euros) a título de indemnização por danos não patrimoniais, acrescida do pagamento de juros de mora, à taxa legal (ou seja, à taxa anual de 4 %, vide artigo 559.º, n.º 1, do Código Civil, e Portaria n.º 291/2003, de 08/04) calculados a partir da data do acórdão e até integral pagamento, nos termos do acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 4/2002, de 9 de Maio de 2002, do Supremo Tribunal de Justiça, proferido na Revista Ampliada n.º 1508/01 (publicado no Diário da República, I Série-A, de 27/06/2002, págs. 5057 a 5070).

2. - Condenar demandante e demandados no pagamento das custas desse

pedido de indemnização civil de acordo com o respetivo decaimento, pois o seu valor é superior a 20 UCs – cfr. artigo 527.º do Código de Processo Civil ex vi artigo 523.º do Código de Processo Penal e artigo 4.º, n.º 1, al. n), a contrario, do Regulamento das Custas Processuais.

D ) Relativamente ao pedido de indemnização civil deduzido pelo demandante

H. J. contra os demandados L. F. e J. T.:

1. - Julgar parcialmente procedente o pedido de indemnização por danos não

patrimoniais e, em consequência, condenar os demandados no pagamento da quantia total de 4.000 € (quatro mil euros), acrescida do pagamento de juros de mora, à taxa legal (ou seja, à taxa anual de 4 %, vide artigo 559.º, n.º 1, do Código Civil, e Portaria n.º 291/2003, de 08/04) calculados a partir da data do acórdão e até integral pagamento, nos termos do citado acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 4/2002, de 9 de Maio de 2002, do Supremo Tribunal de Justiça.

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consequência, condenar os demandados no pagamento da quantia de 300 € (trezentos euros), acrescida do pagamento de juros de mora, à taxa legal (ou seja, à taxa anual de 4 %, vide artigo 559.º, n.º 1, do Código Civil, e Portaria n.º 291/2003, de 08/04), calculados a partir da data em que foram notificados (ou seja, da data da interpelação ao devedor) para contestar o pedido de indemnização civil e até integral pagamento (cfr. artigos 805.º e 806.º do Código Civil).

3. - Absolver os demandados do demais peticionado.

4. - Condenar demandante e demandados no pagamento das custas desse

pedido de indemnização civil de acordo com o respetivo decaimento, pois o seu valor é superior a 20 UCs – cfr. artigo 527.º do Código de Processo Civil ex vi artigo 523.º do Código de Processo Penal e artigo 4.º, n.º 1, al. n), a contrario, do Regulamento das Custas Processuais.

E) Relativamente ao pedido de indemnização civil deduzido pelo demandante E.

C. contra os demandados L. F. e J. T.:

1. - Julgar parcialmente procedente o pedido de indemnização por danos não

patrimoniais e, em consequência, condenar os demandados no pagamento da quantia total de 3.000 € (três mil euros), acrescida do pagamento de juros de mora, à taxa legal (ou seja, à taxa anual de 4 %, vide artigo 559.º, n.º 1, do Código Civil, e Portaria n.º 291/2003, de 08/04) calculados a partir da data do acórdão e até integral pagamento, nos termos do citado acórdão de Uniformização de Jurisprudência n.º 4/2002, de 9 de Maio de 2002, do Supremo Tribunal de Justiça.

2. - absolver os demandados do demais peticionado.

3. - Condenar demandante e demandados no pagamento das custas desse

pedido de indemnização civil de acordo com o respetivo decaimento, pois o seu valor é superior a 20 UCs – cfr. artigo 527.º do Código de Processo Civil ex vi artigo 523.º do Código de Processo Penal e artigo 4.º, n.º 1, al. n), a contrario, do Regulamento das Custas Processuais.

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*

Notifique e deposite (artigo 372.º, n.º 5 do Código de Processo Penal).

*

Após trânsito em julgado deste acórdão:

a) remeta os competentes boletins à Direção de Serviços de Identificação Criminal - vide artigo 6.º, n.º 1, al. a) da Lei n.º 37/2015, de 5 de Maio;

b) solicite à DGRSP a elaboração de plano de reinserção social no prazo de 20 (vinte) dias, ouvido o respetivo condenado, com o âmbito supra referido, para tal remetendo cópia do acórdão e demais pertinentes elementos constantes no processo (artigos 53.º e 54.º do Código Penal e artigo 494.º do Código de Processo Penal);

c) após junção pela DGRSP do peticionado relatório, com cópia do mesmo, dê conhecimento ao Ministério Público e ao respetivo arguido para, querendo, sobre o mesmo se pronunciar, no prazo de 5 (cinco) dias, sendo certo que ao silêncio se dará o valor de aceitação – cfr. artigo 54.º, n.º 2 do Código Penal; d) a DGRSP deverá acompanhar e fiscalizar o cumprimento pelos arguidos condenados das condições supra fixadas, podendo fazer várias inspeções surpresa (caso julgue necessário) para controlo presencial, informando o Tribunal acerca dessas inspeções (caso ocorram) e de eventuais vicissitudes que eventualmente aconteçam no decurso do período da suspensão da execução da pena de prisão em que os arguidos foram condenados – cfr. artigos 51.º, n.º 4, 52.º, n.º 4 e 53.º, n.º 2, todos do Código Penal.”

▪ Inconformado com a decisão condenatória, dela veio o arguido L. F.

interpor recurso, que, após dedução da motivação, culmina com as seguintes conclusões e petitório (fls. 753 a 822):

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“I. Tem legitimidade para apresentação de recurso o Arguido que viu ser proferida decisão condenatória que o condena pela prática de 3 (três) crimes de ofensa à integridade física qualificada, previsto e punido pelos artigos 143º, n.º 1, 145º,n.º 1, alínea a) e n.º 2, e 132º, n.º 2, alíneas e) e h), todos do Código Penal, na pena única de 2 (dois) anos e 8 (oito) meses de prisão, nos termos do artigo 77º , n.º 1, 2 e 3 do Código Penal, suspensa na sua execução e subordinada ao cumprimento de condições cumulativas, ao abrigo do disposto nos artigos 50º,n.º 1 e 5, 51º, 53º e 54º todos do Código Penal e artigo 494º do Código Processo Penal.

II. Ao ser condenado em pedido de indemnização civil tem, também, legitimidade para apresentação de recurso o Arguido que se vê condenado na liquidação de uma indemnização aos Assistentes, existindo, nesta ótica, alçada e sucumbência para tal.

III. A decisão condenatória proferida contende com os princípios estruturais do direito substantivo e adjetivo penal português.

IV. É inconstitucional o acórdão proferido pelo Tribunal a quo que se concretiza numa ponderação vaga, subjectiva e imprecisa, no que à imputabilidade dos factos respeita Arguido Recorrente.

V. Ao ser ignorado e violado o princípio da presunção de inocência, sendo o Arguido considerado culpado ab initio desvirtua-se, completamente, o teor do texto constitucional.

VI. Ao ignorar-se os ditames e princípios basilares quanto à prova, existe uma violação da interpretação do direito.

VII. Ao não ser considerado o elemento subjetivo do crime, nem respeitado os mínimos dos princípios e requisitos da identificação do Arguido, não pode ser assumida uma autoria imediata.

VIII. O acórdão proferido pela Primeira Instância que condene o Arguido sem qualquer juízo de ponderação e prognose acerca de qual a autoria que se lhe

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aplica, padece de invalidades e nulidades.

IX. As declarações dos Assistentes e da testemunha E. P. não podem ser suficientes para o tribunal condenar o Recorrente pela prática de algum crime de ofensa à integridade física qualificada.

X. As declarações prestadas pelo Arguido em sede de audiência de discussão e julgamento deviam ter sido valoradas e não descredibilizadas sem qualquer fundamentação.

XI. O Tribunal não pode justificar a sua decisão com base na atitude física e no tom de voz do Arguido, pelo que estes juízos de prognose são reprováveis, sendo que, o que escreveu, é contrário ao que se passou, aliás, em sede de Audiência de Discussão e Julgamento.

XII. Ao existir dúvida fundada deve prevalecer o p. in dubio pro reo.

XIII. A resolução criminógena a que o Recorrente foi condenado, inexistindo fixação do objecto, não existindo actos de execução, leva a que a decisão proferida devesse ser de absolvição.

XIV. O acórdão proferido viola o p. da culpa e viola, em concreto, o artigo 32.º da CRP, sendo por isso ferido de inconstitucionalidade.

XV. O Tribunal a quo valorou meios de prova que nos termos do artigo 129º, nº 1 do Código de Processo Penal não podiam ser valorados, o que consiste numa violação de proibição de prova que deve seguir o mesmo regime de outros meios de prova proibidos (cfr. artigos 125º e 126º, nº 1 do mesmo diploma legal).

XVI. Ao aceitar a identificação dos Arguidos baseada na lógica do “ouvi dizer”, numa fotografia do Facebook que foi enviada por uma pessoa que não foi ouvida perante o Tribunal e nem assistiu às agressões, esta prova deveria ser considerada nula.

XVII. O depoimento de uma testemunha que indica que um terceiro terá identificado o Arguido pelo Facebook “L. F.” carateriza-se como sendo depoimento indireto.

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XVIII. Só seria válida uma identificação nesses moldes se, esse terceiro, fosse ouvido perante o Tribunal e demonstrasse qual o perfil que encontrou, dado que é um sem número de buscas de perfis de redes sociais designados por L. F.. XIX. Ao omitir a existência de prova nula que valorou, o acórdão proferido fica inquinado por nulidade.

XX. O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem vem produzindo jurisprudência no sentido de que a valoração de depoimentos indirectos como único meio de prova para alcançar a condenação viola o disposto no artigo 6º, nº 1 da Convenção Europeia dos Direitos do Homem, na dimensão em que exige que o processo seja equitativo e 6º, nº 3, alínea d), que exige que o arguido possa interrogar as testemunhas de acusação, o que no seu entender só se alcançará com o interrogatório da testemunha de que se ouviu dizer.

XXI. A fundamentação do acórdão encontra-se viciada pelo uso de prova nula, tal vício estende-se a toda a decisão por aplicação do disposto no artigo 122º, nº 1 do Código de Processo Penal e nos termos do nº 2 do mesmo artigo, implica que deva ser proferida nova decisão expurgada da consideração como meios de prova da parte indireta dos referidos depoimentos.

XXII. É nulo o acórdão que não fundamente o teor da condenação e que não examine criticamente a prova.

XXIII. Os acórdãos têm que ver respeitado um dever de fundamentação nos termos do artigo 379.º n.º1 alínea a), 374.º n.º2 e 122.º, ambos do CPP, sob pena de nulidade.

XXIV. Ao não fundamentar a decisão, por se basear o Tribunal na convicção formada apenas nas declarações dos Assistentes e da Testemunha E. P., deverá ser julgado nulo porque tal não pode ser suficiente a uma condenação.

XXV. O Acórdão proferido pelo Tribunal a quo é, não mais, do que um espelhar da vontade íntima do julgador e não da que resulta da ponderação da prova existente e efetiva no processo.

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XXVII. Existindo nulidade das decisões condenatórias, e no caso em apreço, deverá ser ordenada a repetição do acórdão nos termos do artigo 122.º do CPP, sem prejuízo de outros efeitos da declaração da nulidade que se entendam convenientes.

XXVIII. A identificação do Arguido, conforme consta nestes autos padece de fundamentação, além de que, a prova da autoria do mesmo na prática de qualquer ilícito é inexistente nos presentes autos.

XXIX. O Tribunal a quo, em momento algum, fundamentou o acórdão condenatório no que a este especial facto diz respeito, violando, assim, o disposto no artigo 205.º da Constituição da República Portuguesa.

XXX. Os meios de prova que sustentaram a decisão condenatória proferida pelo Tribunal a quo são totalmente insuficientes para a cabal identificação do aqui Arguido e, consequentemente, prova de qualquer autoria (ou coautoria) da prática dos crimes em causa.

XXXI. A prova do Facebook, por depoimento indirecto, não produzida em julgamento, é nula.

XXXII. Ao não conhecer da nulidade, o Tribunal a quo omitiu a pronúncia num dos elementos mais estruturantes de qualquer decisão: a prova.

XXXIII. A decisão proferida pelo Tribunal a quo é nula nos termos dos artigos 374.º do Código de Processo Penal porquanto nem sequer fala do elemento subjetivo do crime e não especifica se o Arguido é, e qual a fundamentação, condenado em autoria, co-autoria, cumplicidade ou o que for.

XXXIV. Quando se verifica erro notório na apreciação da prova, por contradição insanável, impõem-se uma repetição do julgamento.

XXXV. Não se encontra nos autos qualquer prática de ofensa à integridade física qualificada, sendo que, aliás, no libelo de factos existem uma série de contradições insanáveis e insuficiência de prova.

XXXVI. No que respeita ao facto dado como provado com o n.º 1.2, atendendo à prova produzida, não se concretiza que os dados relativos à identificação da

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viatura “escura” e à identificação dos agressores, nem o n.º de indivíduos presentes na contenda, impossibilitando que este facto seja dado como provado, dada as puras evidências, devendo constar no libelo probatório como não provado.

XXXVII. O facto n.º 1.3 pretende referir que a contenda se iniciou devido a conflitos entre adeptos de diferentes cores clubísticas, vindo-se a provar que nenhum dos Arguidos fazem parte de nenhuma claque, uma contradição com a apresentação da queixa, o que gera estranheza na fidedignidade de como a identificação dos Arguidos foi efetuada, não existindo prova para ser dado como provado.

XXXVIII. Analisando a prova, o facto n.º 1.4 foi incorretamente valorado, tendo em conta que a identificação dos Arguidos foi realizada por depoimento indirecto, inquinando todas as diligências futuras, retirando-lhe autonomia probatória.

XXXIX. O reconhecimento foi feito através da rede social Facebook, por interveniente que não consta no processo, o que determina a nulidade desse meio de prova e inquina a demais provas produzidas, devendo este facto ser dado como não provado.

XL. O facto n.º 1.6 deverá ser dado como não provado, porque nenhum dos Assistentes L. M. e H. J., nem tão pouco, qualquer outra testemunha, conseguiu confirmar quem arremessou a pedra.

XLI. O Assistente E. C. veio confirmar, na 3ª e última audiência de discussão e julgamento, após ter sido alterada a ordem de produção de prova e ouvidos todos os intervenientes processuais, que tinha sido o aqui Recorrente a arremessar a pedra, o que não pode ser valorado, tendo em conta que esta versão dos factos apenas surge por conhecimento privilegiado dos outros testemunhos, existindo prova viciada, impossibilitando que este facto seja dado como provado, dada as puras evidências, devendo constar no libelo probatório como não provado.

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XLII. Quanto ao facto n.º 1.7, foi incorretamente valorado, tendo em conta que a identificação dos Arguidos foi realizada por depoimento indirecto, inquinando todas as diligências futuras, retirando-lhe autonomia probatória, já que sem o reconhecimento presencial, não passaria de mero indício.

XLIII. Analisada a produção de prova, e tendo em conta todos os depoimentos prestados em audiência de discussão e julgamento, o facto n.º 1.8, não pode ser valorado, tendo em conta que a identificação do aqui Recorrente foi realizada por depoimento indirecto, tendo sido alvo de uma reprovável e incorreta identificação e reconhecimento.

XLIV. Em face do exposto deverá ser dado como não provado que “o arguido L. F. voltou a arremessar uma pedra ao Assistente H. J., que lhe acertou na cabeça, tudo enquanto se encontrava já inconsciente no chão.”

XLV. O facto n.º 1.12 não pode ser dado como provado tendo em conta que a identificação do Arguido foi realizada por depoimento indirecto, tornando toda a prova nula.

XLVI. Observados todos os depoimentos, não podem ser dados como provados os factos n.º 1.14, o facto n.º 1.15 e o facto n.º 1.16 por terem sido incorrectamente valorados, já que o reconhecimento dos Arguidos foi efetuado com base em fotografias da rede social Facebook, sem qualquer suporte probatório, sem junção dessas mesmas fotografias, o que lhe retira qualquer autonomia probatória, inquinando todas as diligências e depoimentos futuros. XLVII. Com todo o devido respeito, o facto n.º 1.17 pretende incutir que os aqui Arguidos iniciaram a contenda por motivos clubísticos e por fazerem parte da claque “X”, vindo-se a provar que nenhum destes fazem parte de qualquer estrutura de apoio clubístico, invalidando a tese do Tribunal a quo, que reitera que a contenda se iniciou por estes motivos.

XLVIII. O Recorrente não é afeto a nenhuma claque, nem simpatizante de nenhum clube de futebol, nem tal foi dado como provado, como aliás soçobra das declarações do julgador prestadas em leitura do acórdão.

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XLIX. Com todo o devido respeito este facto n.º 1.18 deveria ser dado como não provado, isto porque nenhuma das testemunhas, presentes nesta altura, viu este facto. Para além disso, o facto de o Assistente E. C. ter vindo, na última sessão de julgamento, pormenorizar todos os factos e ocorrências das agressões, não pode ser tomado em consideração, pelo conhecimento que este tinha das declarações que já tinham sido prestadas anteriormente por todos os intervenientes processuais.

L. No mesmo sentido, o facto n.º 1.19 não pode ser valorado, tendo em conta que não ficou provada a superioridade numérica dos Arguidos perante os Assistentes, até porque estão a ser julgados apenas 2 (dois) e os Assistentes eram 3 (três), um deles, exercendo a profissão de militar da GNR, treinado e preparado para qualquer reação e autodefesa.

LI. Com o devido respeito, o facto n.º 1.20 e 1.21 não podem ser valorados, tendo em conta que a identificação dos Arguidos foi realizada por depoimento indirecto, inquinando todas as diligências futuras, retirando-lhe autonomia probatória, devendo ser dados como não provados.

LII. O facto n.º 1.22, mais uma vez, atribuí as responsabilidades do arremesso da pedra ao aqui Recorrente, encontrando-se incorretamente valorado, não existindo prova que sustente a identificação e autoria das agressões ao Recorrente. O Assistente E. C., estando numa posição favorável, foi o último a depor, tentou alterar a prova produzida e a verdade dos factos, ou por outras palavras, tentou “tapar o sol com a peneira”, não podendo este facto ser dado como provado.

LIII. Deixemos aqui a nota que apesar do Assistente L. ser militar da GNR de profissão, a questão que é objeto de discussão jurídico-criminal surge de uma questão da vida pessoal, e não da sua vida profissional, ocorrido num momento de puro lazer, pelo que o ponto de facto n.º 1.25 deve ser dado como não provado, nem tão pouco valorado.

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provado, reproduzindo-se todo o exposto, em nenhum momento, ficava provado que o Assistente L. pensou que o Assistente H. J. estaria morto, não se vislumbrando qualquer sentimento de impotência, nem desespero, até porque foi este Assistente que se dirigiu, em primeira instância, aos Agressores, pelo que o facto deve ser dado como não provado.

LV. O ponto de facto n.º 1.31 tem o mesmo conteúdo e alcance que o ponto de facto n.º 1.27, pelo que as razões aduzidas pela sua não valoração e, consequente, não provação, são exatamente as mesmas.

LVI. No que respeita ao facto n.º 1.32, o facto n. 1.33 e o facto n. 1.34, o Assistente L. M., na semana seguinte, já se encontrava a laborar no destacamento territorial de Albufeira, tal como referiu no seu depoimento, não se vislumbrando qualquer alteração no seu comportamento ou hábitos diários, até porque a contenda ocorreu na Póvoa do Lanhoso e a probabilidade de encontrar alguns dos agressores era diminuta, pelo que deverão ser dados como não provados.

LVII. No mesmo sentido, o facto n.º 1.35 não pode ser valorado, até porque foi o Assistente L. que, em primeira instância, se dirigiu aos Agressores, não se vislumbrando qualquer sentimento de impotência e desespero, até porque dada sua atividade profissional, este Assistente está treinado e preparado para qualquer reação e autodefesa.

LVIII. De ressalvar que o facto n.º 1.37 é uma repetição na íntegra do ponto de facto n.º 1.6, pelo que as razões aduzidas são exatamente as mesmas, reproduzidas na íntegra: “porque nenhum dos Assistentes L. M. e H. J., nem tão pouco, qualquer outra testemunha, conseguiu confirmar quem arremessou a pedra. O Assistente E. C. veio confirmar, na 3ª e última audiência de discussão e julgamento, após ter sido alterada a ordem de produção de prova e ouvidos todos os intervenientes processuais, que tinha sido o aqui Recorrente a arremessar a pedra, o que não pode ser valorado, tendo em conta que esta versão dos factos apenas surge por conhecimento privilegiado dos outros

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testemunhos, existindo prova viciada, impossibilitando que este facto seja dado como provado, dada as puras evidências”, devendo constar no libelo probatório como não provado.

LIX. O ponto de facto n.º 1.38 é uma repetição na íntegra do ponto de facto n.º 1.7, pelo que as razões aduzidas são exactamente as mesmas, reproduzidas na íntegra: “foi incorretamente valorado, tendo em conta que a identificação dos Arguidos foi realizada por depoimento indirecto, inquinando todas as diligências futuras, retirando-lhe autonomia probatória, já que sem o reconhecimento presencial, não passaria de mero indício”, devendo ser dado como não provado. LX. O ponto de facto n.º 1.39 é uma repetição na íntegra do ponto de facto n.º 1.8, pelo que as razões aduzidas são exatamente as mesmas, reproduzidas na íntegra:

“Analisada a produção de prova, e tendo em conta todos os depoimentos prestados em audiência de discussão e julgamento, não pode ser valorado, tendo em conta que a identificação do aqui Recorrente foi realizada por depoimento indirecto, tendo sido alvo de uma reprovável e incorreta identificação e reconhecimento. Em face do exposto deverá ser dado como não provado que “o arguido L. F. voltou a arremessar uma pedra ao Assistente H. J., que lhe acertou na cabeça, tudo enquanto se encontrava já inconsciente no chão”, devendo ser dado como não provado.

LXI. Por último, no que respeita à matéria de facto, os pontos de facto n.º 1.43, 1.45 e 1.46, não existe meios probatórios que comprovem que o Assistente H. J. tinha um vínculo laboral com o gabinete de contabilidade dos pais, que auferia alguma remuneração desse trabalho e que já teria férias programadas, pois não foi junta nenhuma prova documental aos autos que corroborassem estes factos, pelo que deverão ser dados como não provados.

LXII. Com todo o devido respeito, uma condenação em autoria imediata de três crimes de ofensa à integridade física qualificada p. e p. pelos artigos 143.º n.º 1, 145.º n.º 1 alínea a) e n.º2 e 132.º n.º2 alíneas e) e h) do C.P. não poderia

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estar mais desfasada da contextualização fáctica do aqui Recorrente.

LXIII. O Tribunal a quo, salvo devido respeito, não preencheu devidamente os elementos objetivo e subjetivo do tipo legal de crime em apreço.

LXIV. Ora, desde logo, quanto à alínea h) do artigo 132º do Código Penal nunca tal poderia ser aplicado, porquanto os Arguidos aqui nos autos serão, eventualmente, dois.

LXV. A dita agravação pelo artigo 132.º n.º 2 e alínea e) não poderia ser verificada porque o dito motivo “torpe”, na ótica do julgador, seria a alegada pertença dos Arguidos a uma claque da X, o que não é dado como provado e não pode justificar, sem mais, uma qualificação desta natureza.

LXVI. Mal andou o Tribunal a quo a interpretar os artigos 143.º n.º 1, 145.º n.º1 alínea a) e n.º2 e 132.º n.º 2 alíneas e) e h) do C.P., devendo o Arguido ser absolvido nos termos legais.

Caso assim não se entenda, e sem prescindir, o que apenas se equaciona por mera cautela de patrocínio, com todo o devido respeito,

LXVII. Jamais o Arguido Recorrente poderá ser condenado por três crimes. Conforme se dispõe, claramente, no n.º 2 do artigo 30.º do C.P. o que está em causa é sempre a proteção do mesmo bem jurídico, executada por forma alegadamente e essencialmente homogénea, pelo que, de facto, o crime a existir, foi só um.

LXVIII. Portanto, a provada factualidade não permite estabelecer que houve três resoluções criminosas.

LXIX. Nessa medida, sempre deverá o Arguido Recorrente ser absolvido de pelo menos dois crimes dos que vem a ser condenado, porquanto a aplicação legal é a do artigo 30.º do C.P., tendo o Tribunal a quo realizado uma indevida interpretação do direito.

LXX. No caso de o entendimento ser de que, ainda assim, o que jamais se concebe, existirá prova do preenchimento do tipo subjetivo e objetivo da ofensa à integridade física simples, o Recorrente, a ser condenado, deverá ser,

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somente, por este tipo de crime p. no artigo 143.º n.º 1 do C.P., com uma pena sempre suspensa na sua execução.

LXXI. Não existe prova suficiente para condenar o Arguido devendo, de facto, ter-se aplicado, à luz do entendimento sufragado, já, jurisprudencialmente e mesmo pelo Supremo Tribunal de Justiça, o in dubio pro reo, corolário da presunção de inocência, p. no artigo 13.º e 32.º da Constituição da República Portuguesa.

LXXII. No mesmo sentido, não existe qualquer preenchimento dos pressupostos da responsabilidade civil extracontratual. Desde logo, inexistindo crime, não há facto ilícito.

LXXIII. O Pedido de Indemnização Cível deverá ser sempre improcedente porque de nada vale alegar, sem prova. Caso assim não se entenda, e sem prescindir, o que apenas se equaciona por mera cautela de patrocínio, com todo o devido respeito,

LXXIV. O Pedido de Indemnização Cível arbitrado é exagerado e reputa-se desproporcional, revelando-se excessivo o montante fixado pelo Tribunal a quo, pelo que, a ser arbitrada qualquer indemnização, deverá a mesma ser fixado em montante bem inferior.

LXXV. Na verdade, o montante peticionado é manifestamente exagerado, especialmente se tivermos em conta que não se provou que as agressões físicas fossem frequentes ou recentes, para além de a situação pessoal e económica do Recorrente não ser particularmente favorável, devendo ser sempre reduzido.

LXXVI. Face ao exposto, não pode aceitar-se o quantum indemnizatório porque se afigura manifestamente injusto e desajustado às possibilidades económicas do recorrente, conforme foi dado como provado no douto Acórdão.

LXXVII. Com o Acórdão proferido violaram-se as seguintes normas jurídicas 483.º do Código Civil, 13.º, 29.º, 32.º da Constituição da República Portuguesa, 40.º, 42.º, 50.º, 52.º, 73.º, 71.º, 143.º, n.º 1, 145.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, e

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132.º, n.º 2, alíneas e) e h), todos do Código Penal 120.º, 122.º, 127.º, 340.º, 379.º n.º1 alínea c), 410.º, 426.º do Código de Processo Penal.

iii - DO PEDIDO TERMOS EM QUE E NOS DEMAIS DE DIREITO SE REQUER MUITO RESPEITOSAMENTE A V/ EXA. QUE ADMITA O PRESENTE RECURSO DE APELAÇÃO E, EM CONSEQUÊNCIA, O TRIBUNAL AD QUEM o julgue totalmente procedente e, consequentemente, por via do presente recurso:

(a) ser o Acórdão condenatório revogado pelos fundamentos aqui motivados e alegados;

(b) Ser ordenada a repetição do julgamento e da prova;

Caso assim não se entenda,

(c) Deverá o Recorrente ser absolvido dos crimes em que veio a ser condenado, bem como do pedido de indemnização civil.

Caso assim não se entenda, o que não se concede e apenas concebe por mera cautela,

(d) Deverá ser reduzido o número de crimes em função do artigo 30.º do C.P. de três crimes para um.

(e) Deverá ser alterada a qualificação jurídica do crime, sempre aplicada a suspensão da pena na sua execução.

(f) Deverá o pedido de indemnização cível ser julgado improcedente por não provado.”

▪ Inconformado com a decisão condenatória, dela veio o arguido J. T.

interpor recurso, que, após dedução da motivação, culmina com as seguintes conclusões e petitório (fls. 824 a 849):

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“1. O recorrente não se conformar-se com o subscrito no douto acórdão a quo, que o condenou pela prática de 3 (três) crimes de ofensa à integridade física qualificada, previstos e punidos pelos artigos 143.º, n.º 1, 145.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, e 132.º, n.º 1 e 2, alíneas e) e h), todos do Código Penal.

2. O Tribunal a quo deu como provado – essencialmente com base nas declarações dos assistentes L. M., H. J. e E. C., conjugadas com os depoimentos das testemunhas de “acusação” R. G. e E. P. – que o arguido J. T. é um dos autores da prática dos factos ilícito que constam da douta instrução. 3. A decisão de que se recorre enferma de erro judiciário.

4. Dos autos, não resulta provado que as testemunhas R. G. e E. P. , demonstrassem que conheciam, conheceram ou reconheceram o arguido J. T. ou que o mesmo tivesse participado na prática dos atos ilícitos.

5. A decisão de que ora se recorre baseia-se em depoimentos de testemunhas, valorados pelo Tribunal a quo, que, em momento algum, corroboram as declarações dos assistentes e que, erradamente, levaram ao apuramento dos factos que constam do elenco dos factos provados, concretamente, quanto à identidade do arguido J. T. com sendo um dos autores da prática dos factos ilícitos.

6. A verdade é que o arguido J. T. não praticou os crimes por que foi condenado. 7. Em momento algum, resulta provado que o arguido J. T. esteve presente no local da ocorrencia dos factos ilicitos ou que tenha participado na prática nos mesmos.

8. As concretas provas que impõem decisão diversa da recorrida, resultam do teor das declarações dos assistentes L. M., H. J. e E. C., quer porque, não lograram identificar minimamente o arguido/recorrente através da sua descrição física ou fisionómica, bem como, a identificação e o reconhecimento que os assistentes fazem do arguido/recorrente assenta na prévia visualização de fotos publicadas no perfil do facebook, obtidas não se sabe como nem por quem:

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9. resulta, ainda, do teor dos depoimentos das duas testemunhas de “acusação” R. G. e E. P. , que não corroboram as declarações dos assistentes, no que concerne à identificação do arguido J. T. , (dando-se aqui por reproduzidas por razões de economia processual as transcrições que constam da motivação do recurso), concretamente:

a) Declarações do assistente L. M., prestado em audiencia de julgamento no dia 23/01/2020, gravado através do sistema integrado de gravação digital disponível na aplicação informática em uso no Tribunal, com início pelas às 10h36m41s e termo às 11h31m26s, como consta da respetiva acta, nas seguintes passagens aos minutos 07:33.30 ao 08:47.07, 09:17.90 ao 10:26.97, 15:01.60 ao 15:32.90 e 36:01.60 ao 40:04.06.

b) Declarações do assistente H. J., prestado em audiencia de julgamento no dia 23/01/2020, gravado através do sistema integrado de gravação digital disponivel na aplicação informática em uso no Tribunal, com início às 11h32m08s e termo às 12h23m59s, como consta da respetiva acta, nas seguintes passagens aos minutos 17:18.30 ao 18:25.25, 20:41.78 ao 21:19.65, 22:37.10 ao 24:05.23 e 46:57.10 ao 51:30.90.

c) Declarações do assistente E. C., prestado em audiencia de julgamento no dia 26/03/2020, gravado através do sistema integrado de gravação digital disponível na aplicação informática em uso no tribunal, com início às 10h03m06s e termo às 10h45me48s, como consta da respetiva acta, nas seguintes passagens aos minutos 08:32.45 ao 09:15.24, 14:37.65 ao 14:25.04, 21:57.50 ao 22:46.04 e38:51.55 ao. 40:05.72.

d) Depoimento da testemunha de acusação R. G., prestado em audiencia de julgamento no dia 23/02/2020, gravado através do sistema integrado de gravação digital disponível na aplicação informática em uso no Tribunal, com início às 15h33m68s e termo às 15h45m35s, como consta da respetiva acta, nas seguintes passagens aos minutos 03:14.35 ao 03:37.75, 04:09.01 ao 04:30.97, 04:54.10 ao 05:16.75, 05:44.43 ao 06:01.26, 12:35.14 ao 14:04.72,

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13:57.60 ao 14:16.65 e 20:11.35 ao 21:18.84.

e) Depoimento da testemunha de acusação E. P. , prestado em audiencia de julgamento no dia 23/02/2020, gravado através do sistema integrado de gravação digital disponível na aplicação informatica em uso no Tribunal, com início às 15h55m13s e termo às 16h11m56s, como consta da respetiva acta, nas seguintes passagens aos minutos 02:20.80 ao 07:47.07 e 14:08.35 ao 14:44.22.

Resulta, ainda, dos seguintes documentos:

f) Perfil e fotos do facebook do arguido J. T. de fls. dos autos

g) Teor dos autos de denúncia e de inquirição de testemunhas de fls. dos autos h) Teor do despacho de arquivamento do Inquérito de fls. dos autos

10. O douto acordão enferma de erro na apreciação e valoração da prova produzida, pois, as testemunhas de “acusação” R. G. e E. P. , em momento algum, afirmam que o arguido/recorrente esteve no local da ocorrência dos factos e que o mesmo seja um dos seis elementos que compunha o grupo de agressores.

11. O Tribunal recorrido não estava autorizado a dar como provado que o arguido/recorrente é um dos autores da prática dos factos da pronúncia, tal como decidiu, com fundamento nas declarações dos assistentes conjugadas com os depoimentos das testemunhas R. G. e E. P..

12. Consequentemente, o Tribunal a quo não devia ter concluído, como concluiu, deveria antes ter decidido, conforme se impunha, pela absolvição do arguido, ora recorrente, da prática dos crimes da douta pronúncia.

13. A decisão recorrida é, nestes termos, censurável pelo arbítrio relativamente ao princípio da livre apreciação da prova (cfr. Artigo 127.º do CPP).

14. Consequentemente, a valoração das declarações dos assistentes conjugadas com os depoimentos das identificadas testemunhas R. G. e E. P., prestadas em sede de audiência de julgamento, deveria o Tribunal a quo, sem

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prova cabal e objetiva, dar como não provado a factualidade supra impugnada, da douta decisão.

15. Considera o arguido/recorrente incorretamente julgados (artigo 412, n.º 3 do CPP), a factualidade descrita na matéria de facto provada, nos pontos 1.2, 1.3, 1.4, 1.5, 1.7, 1.9, 1.13, 1.14, 1.15, 1.16, 1.17, 1.18, 1.9, 1.20, 1.21, 1.38, 1.61, da douta decisão (que se dá aqui integralmente reproduzida por mera economia processual).

16. Nem mesmo, se permite concluir dar como provados os factos da pronúncia com base, exclusivamente, nas declarações dos assistentes, desacompanhados de outros elementos de prova que as sustentem.

17. Os depoimentos dos asistentes são merecedores de sérias reservas quanto à sua fiabilidade e credibilidade como prova da identidade e reconhecimento do arguido/recorrente.

18. Os assistentes não lograram demonstar que tivessem identificado as caraeristicas físicas ou da fisionomia do arguido/recorrente aquando da ocorrência dos factos ilicitos.

19. A identificação do arguido J. T., surge por referência ao perfil e fotos do facebook, sugeridas pelo “relações públicas” da discoteca, desconhecendo-se quem seja o autor da pesquisa e os critérios tidos em conta para aceder ao perfil do facebook.

20. As circunstâncias que envolveram a identificação e reconhecimento do arguido J. T., justificava fundadas dúvidas sobre a autenticidade, segurança, sugestividade, coerência e espontaneidade das declarações dos assistentes. 21. Tanto mais que, relativamente ao arguido/recorrente, o Ministério Público tinha determinado “o arquivamento dos autos, por carência de elementos identificativos do autor dos factos denunciados, nos termos do disposto no afrt.º 277.º, n.º 2 do CPP.”.

22. E o mesmo, nem sequer foi sujeito à prova por reconhecimento nos termos previstos no artigo 147.º do Código de Processo Penal.

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23. Face às declarações dos assistentes, desacompanhadas de outros meios de prova que as sustentem e as circunstâncias em que se baseou a identificação e reconhecimento do arguido/recorrente, deveria o Tribunal a quo, tê-las valorado convenientemente, na esteira do princípio constitucional da presunção de inocência do arguido e do princípio in dúbio pro reo.

24. Ao decidir como decidiu o tribunal a quo, violou o princípio da livre apreciação da prova, previsto no artigo 127.º do CPP e o princípio da presunção de inocência (cfr. Artigo 32.º, n.º 2, da Constituição), enquanto princípio provatório traduzido na ideia do in dubio pro reo.

25. Pugna-se, em consequência pela absolvição do arguido J. T. da prática dos crimes de ofensa à integridade física qualificada, sob pena da violação do princípio da livre apreciação da prova (cfr. artigo 127.º do CPP), do princípio da presunção da inocência do arguido (cfr. artigo 32.º, n.º 2 da CRP, enquanto principio probatório consagrado no in dubio pro reu.

DA MEDIDA DA PENA:

26. O Tribunal a quo condenou o recorrente na prática de 3 (três) crimes de ofensa à integridade física qualificada, previstos e punidos pelos artigos 143.º, n.º 1, 145.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, e 132.º, n.º 1 e 2, alíneas e) e h), todos do Código Penal, em cúmlo juridico, na pena única de (2) dois anos e (2) dois meses de prisão, suspensa por igual periodo.

27. Uma vez que a pena aplicada extravasa a culpa imputada ao recorrente, deve ser fixada uma pena menos gravosa, atento os critérios estabelecidos no artigo 71º do Código Penal, concretamente, a circunstância previstas na alínea a) do n.º 2 “O grau de ilicitude do facto, o modo de execução deste e a gravidade das suas consequências...”

28. Resulta provado que as agressões sofridas pelos assistentes foram provocadas por um grupo de seis (6) elementos.

(27)

que, exclusivamente, provocaram as agressões nos assistentes.

30. O Tribunal a quo não valorou na justa medida todos os aspectos indispensáveis a uma justa e adequada punição.

31. O recorrente entende que a decisão não poderia ter dado lugar a condenação tão grave como deu, quer relativamente às medidas das penas parcelares aplicadas, bem como, à medida da pena cumulativa de dois anos e dois meses de prisão, suspensa por igual periodo.

32. Adequado seria o Tribunal a quo aplicar uma pena comulativa não superior a (1) um ano e (4) quatro meses, suspensa por igual periodo.

33. O recorrente não deverá ser subordinada ao cumprimento de um plano de reinserção social, tal como decidido pelo Tribunal a quo, pois, o recorrente é uma pessoa que está perfeita e integralmente inserido na sociedade, dispõe de um enquadramento familiar adequado junto da companheira e da filha, está empregado por conta de outrem, pelo que, é manifestamente excessivo e desajustado sujeitar a supensão da execução da pena ao cumprimento de um regime de prova assente num plano de reinserção social.

34. A escolha da pena infligida ao arguido/recorrente, de dois anos e dois meses se afigura excessiva, bem como, é desadequada e desproporcional, perante as necessidades de prevenção especial, o cumprimento de um plano de reinserção social, deve, pois, ser alterada em conformidade.

35. O Tribunal violou assim os critérios contidos nas disposições conjugadas dos art. 40º, 70º, 71º, todos do Código Penal.

36. Pugna-se pela redução da pena única pedindo que seja fixada em medida não superior a (1) um ano e (4) quatro meses de prisão, suspensa por igual período, não sujeita ao cumprimento de um plano de reinserção social.

DO PEDIDO DE INDEMNIZAÇÃO CÍVEL:

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condenou os arguidos a pagarem ao assistente L. M. a quantia de € 2.000,00, ao H. J. a quantia de € 4.000,00 e ao E. C. a quantia de 3.000,00, a título de danos não patrimoniais.

38. São manifestamente exagerados os valores atribuídos a título de danos não patrimoniais sofridos pelos assistentes, valores que devem ser substancialmente reduzidos.

39. Resulta dos autos que, as lesões sofridas pelos assistentes foram perpetradas por um grupo de seis (6) indivíduos.

40. Não é admissível imputar, exclusivamente, aos dois (2) arguidos a responsabilidade total pelo ressarcimento dos danos sofridos pelos assistentes. 41. O recorrente tem poucos recursos económicos, pois, trabalha por conta de outrem, recebendo um salário mensal de € 814,00, com o qual contribui para as despesas do dia-a-dia, renda de casa e sustento da sua filha de cerca de três anos de idade.

42. Uma decisão que fixasse uma indemnização por danos não patrimoniais em montante de € 1.000,00 ao L. M., € 1.500,00 ao H. J. e € 1.000,00 ao E. C., seria conforme o Princípio de Equidade.

43. A douta Sentença deverá ser revogada na parte em que fixa os montantes de € 2.000,00, € 4.000,00 e € 3.000,00, a título de danos não patrimoniais, devendo ser estes montantes fixado nos termos supra indicados.

Termos em que, e nos demais de direito que Vossas excelências doutamente suprirão, deverá ser revogada a decisão de que agora se recorre, absolvendo-se o arguido/recorrente J. T., fazendo-se a costumada JUSTIÇA!”

▪ Na primeira instância, o Exmo. Procurador da República, notificado do despacho de admissão dos recursos apresentados pelos arguidos, nos termos e para os efeitos do artigo 413.º, n.º 1 do CPP, apresentou douta resposta em que sustentou, para cada um dos recorrentes, a manutenção da sentença recorrida,

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com a improcedência do respetivo recurso (fls. 857 a 872).

Para tanto, formulou as seguintes conclusões (transcrição):

“1 – Pelo acórdão proferido nos presentes autos em 11 de março de 2020 foi

decidido condenar: - o arguido L. F. pela prática de três crimes de ofensa à integridade física qualificada, previsto e punido pelos artigos 143.º, n.º 1, 145.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, e 132.º, n.º 2, alíneas e) e h), todos do Código Penal, nas penas parcelares de 12 (doze) meses de prisão, de 2 (dois) anos de prisão e de 14 (catorze) meses de prisão e em cúmulo jurídico na pena única de 2 (dois) anos e 8 (oito) meses de prisão suspensa na sua execução por igual período subordinada ao cumprimento de condições;

- o arguido J. T. pela prática de três crimes de ofensa à integridade física qualificada, previsto e punido pelos artigos 143.º, n.º 1, 145.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, e 132.º, n.º 2, alíneas e) e h), todos do Código Penal, nas penas parcelares de 12 (doze) meses de prisão, de 20 (vinte) meses de prisão e de 14 (catorze) meses de prisão e em cúmulo jurídico na pena única de 2 (dois) anos e 2 (dois) meses de prisão suspensa na sua execução por igual período subordinada ao cumprimento de condições.

2 – Inconformados com a respetiva condenação, cada um dos arguidos veio recorrer –alegando em síntese:

A – o arguido L. F. que no acórdão se verifica uma “ponderação vaga, subjectiva e imprecisa, no que à imputabilidade do factos”, tendo o tribunal a quo “ignorado e violado o princípio da presunção de inocência, sendo o Arguido considerado culpado ab initio”, ignorando “os ditames e princípios basilares quanto à prova”; que “As declarações dos Assistentes e da testemunha E. P. não podem ser suficientes para o tribunal condenar o Recorrente pela prática de algum crime de ofensa à integridade física qualificada” onde ao invés “As declarações prestadas pelo Arguido (…) deviam ter sido valoradas e não descredibilizadas sem qualquer fundamentação” pelo que “Ao existir dúvida

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fundada deve prevalecer o p. in dubio pro reo” e “inexistindo fixação do objecto, não existindo actos de execução, leva a que a decisão proferida devesse ser de absolvição”; que “O Tribunal a quo valorou meios de prova que nos termos do artigo 129º, nº 1 do Código de Processo Penal (…) Ao aceitar a identificação dos Arguidos baseada na lógica do “ouvi dizer”, numa fotografia do Facebook que foi enviada por uma pessoa que não foi ouvida perante o Tribunal e nem assistiu às agressões”, constituindo “depoimento indireto” e por isso “A fundamentação do acórdão encontra-se viciada pelo uso de prova nula”; que “A decisão proferida pelo Tribunal a quo é nula nos termos dos artigos 374.º do Código de Processo Penal porquanto nem sequer fala do elemento subjetivo do crime e não especifica se o Arguido é, e qual a fundamentação, condenado em autoria, co-autoria, cumplicidade ou o que for” e que existe “erro notório na apreciação da prova, por contradição insanável”; que o tribunal errou na qualificação jurídica dos factos pois não estão preenchidos “devidamente os elementos objetivo e subjetivo do tipo legal de crime em apreço”, seja “quanto à alínea h) do artigo 132º do Código Penal nunca tal poderia ser aplicado, porquanto os Arguidos aqui nos autos serão, eventualmente, dois” e a “dita agravação pelo artigo 132.º n.º 2 e alínea e) não poderia ser verificada porque o dito motivo “torpe”, na ótica do julgador, seria a alegada pertença dos Arguidos a uma claque da X, o que não é dado como provado e não pode justificar, sem mais, uma qualificação desta natureza” em razão da qual “Mal andou o Tribunal a quo a interpretar os artigos 143.º n.º 1, 145.º n.º1 alínea a) e n.º2 e 132.º n.º 2 alíneas e) e h) do C.P.”; que o recorrente não “poderá ser condenado por três crimes” pois que “Conforme se dispõe, claramente, no n.º 2 do artigo 30.º do C.P. o que está em causa é sempre a proteção do mesmo bem jurídico, executada por forma alegadamente e essencialmente homogénea, pelo que, de facto, o crime a existir, foi só um” e onde a “provada factualidade não permite estabelecer que houve três resoluções criminosas” e a ser condenado “deverá ser, somente, por este tipo

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de crime p. no artigo 143.º n.º 1 do C.P.” – conclusões LXVII a LXXI

B - o arguido J. T. defende que “A decisão de que se recorre enferma de erro judiciário (…) na apreciação e valoração da prova produzida” pois que “não resulta provado que as testemunhas R. G. e E. P., demonstrassem que conheciam, conheceram ou reconheceram o arguido J. T. ou que o mesmo tivesse participado na prática dos atos ilícitos” e por isso a decisão “baseia-se em depoimentos de testemunhas, valorados pelo Tribunal a quo, que, em momento algum, corroboram as declarações dos assistentes e que, erradamente, levaram ao apuramento dos factos que constam do elenco dos factos provados, concretamente, quanto à identidade do arguido J. T. com sendo um dos autores da prática dos factos ilícitos”; que “As concretas provas que impõem decisão diversa da recorrida, resultam do teor das declarações dos assistentes L. M., H. J. e E. C., quer porque, não lograram identificar minimamente o arguido/recorrente através da sua descrição física ou fisionómica, bem como, a identificação e o reconhecimento que os assistentes fazem do arguido/recorrente assenta na prévia visualização de fotos publicadas no perfil do facebook, obtidas não se sabe como nem por quem” e onde as “duas testemunhas de “acusação” R. G. e E. P., que não corroboram as declarações dos assistentes, no que concerne à identificação do arguido J. T.” e assim foram incorretamente julgados a “factualidade descrita na matéria de facto provada, nos pontos 1.2, 1.3, 1.4, 1.5, 1.7, 1.9, 1.13, 1.14, 1.15, 1.16, 1.17, 1.18, 1.9, 1.20, 1.21, 1.38, 1.61, da douta decisão” e onde “Os depoimentos dos assistentes são merecedores de sérias reservas quanto à sua fiabilidade e credibilidade como prova da identidade e reconhecimento do arguido/recorrente (…) não lograram demonstrar que tivessem identificado as características físicas ou da fisionomia do arguido/recorrente aquando da ocorrência dos factos ilícitos (…) e onde “As circunstâncias que envolveram a identificação e reconhecimento do arguido J. T., justificava fundadas dúvidas sobre a autenticidade, segurança, sugestividade, coerência e espontaneidade

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das declarações dos assistentes ”e por isso “Face às declarações dos assistentes, desacompanhadas de outros meios de prova que as sustentem e as circunstâncias em que se baseou a identificação e reconhecimento do arguido/recorrente, deveria o Tribunal a quo, tê-las valorado convenientemente, na esteira do princípio constitucional da presunção de inocência do arguido e do princípio in dúbio pro reo”; e que, em caso de condenação, “a pena única de (2) dois anos e (2) dois meses de prisão, suspensa por igual período (…) extravasa a culpa imputada ao recorrente”, é “excessiva, bem como, é desadequada e desproporcional, perante as necessidades de prevenção especial”, pelo que deveria ser aplicada “uma pena cumulativa não superior a (1) um ano e (4) quatro meses, suspensa por igual período” e que “não deverá ser subordinada ao cumprimento de um plano de reinserção social”;

3 - Salvo o devido respeito pela opinião contrária, cremos que não assiste qualquer razão aos recorrentes no invocar das questões suscitadas por cada um deles nas respetivas motivações bastando para o efeito atentar-se às doutas motivações recursórias e ao modo como os mesmos colocam em crise a fundamentação do tribunal a quo, na contraposição ao todo que surge explicitado no douto acórdão proferido nos autos;

4 – O que os recorrentes fazem é o recorrente trabalho de pretender colocar em causa o exame crítico da prova realizado pelo tribunal, contrapondo o seu ponto de vista, valorizando uns elementos de prova e desvalorizando outros em contramão ao tribunal mas ainda assim sem qualquer concreto e específico dado objetivo mas apenas alicerçado na própria convicção dos recorrentes diversa daquela afirmada pelo julgador ou no entendimento sobre validade de provas;

5 - Ao ler-se a motivação da matéria de facto plasmada no douto acórdão a propósito da factualidade dada como provada o alegado pelos recorrentes, tal como se apresenta, não passa de afirmação sem qualquer base de sustentação, pois que logo se depara o quanto cuidadoso e pormenorizado os Mm.ºs Juizes a

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quo explicitam os motivos de facto que fundamentaram a decisão e o exame crítico das provas que serviram para formar a convicção do Tribunal para aquela matéria de facto dada como provada;

6 - E naquilo que intercede com duas versões distintas dos factos – os arguidos que negam terem sido os agressores e os ofendidos a afirmar que foram estes dois arguidos e outros que os agrediram – o próprio tribunal esmiúça num conjunto de uma clareza meridiana não se vislumbrando qualquer falta de indicação da motivação dos juízos sobre a matéria de facto, ficando por aí a saber cada um dos recorrentes em que é que o tribunal fundou a sua convicção, e tanto assim o é tal é a forma como os mesmos atacam o julgamento daquela matéria de facto.

7 - Podendo não concordar-se daquela apreciação, como é o caso dos recorrentes tal não resulta de qualquer violação normativa dos artigos 374.º, n.º2 e 379.º, n.º1, alínea a) do Código de Processo Penal sendo possível afirmar sem quaisquer rebuços que o exame crítico efetuado nos autos a propósito daqueles factos é o bastante e o suficiente para se poder afirmar “que a decisão recorrida assentou na prova produzida e não é fruto de qualquer discricionariedade, arbitrariedade ou de leitura caprichosa da prova por parte do julgador.”;

8 – E tal como o próprio recorrente L. F. reconhece e surge explicitado ao longo da motivação do tribunal a quo a questão das fotografias e do perfil no facebook (fontes abertas) é num momento embrionário do processo, no início da investigação e onde logo no primeiro momento imediato como depois em sede de julgamento e perante as pessoas dos arguidos nas diversas sessões de julgamento cada um dos ofendidos foram unânimes ao “reconhecê-los”, identificando-os como dois dos autores da agressão que foram alvo e explicitando a concreta razão de ciência para os identificar distinto daquilo que ocorreu com a pessoa dos restantes agressores, não estando em causa assim qualquer “depoimento indireto” mas inequivocamente depoimento direto por

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parte de cada um explicitando a razão de ciência da identificação dos arguidos e a valorar e a apreciar pelo tribunal nos moldes que é feito relativamente à demais prova testemunhal;

9 – Para além da decisão sobre a matéria de facto assentar exclusivamente em provas válidas, produzidas em audiência, o Tribunal a quo considerou provados os factos relevantes relativos aos recorrentes para além de qualquer dúvida razoável sobre qualquer deles, sem dúvidas em fixar a ocorrência dos factos tal como se encontram descritos.

10 - Não decorre do acórdão a existência ou confronto do julgador com qualquer dúvida insanável sobre aqueles factos ou outros, motivo pelo qual não houve nem há dúvida para ser valorada a favor dos ora recorrentes, não tendo aqui aplicação o princípio in dubio pro reo e não tendo, em consequência, sido violado o princípio constitucional estruturante do processo penal, que é a presunção de inocência.

11 - Percorrendo a decisão recorrida e mais concretamente a fundamentação da matéria de facto dela não resulta a mínima sombra que tivesse ficado instalada no espírito dos julgadores qualquer incerteza quanto a qualquer dos factos que na decisão se consideraram como provados, assim como não resulta que o tribunal a quo tenha valorado contra os ora recorrentes qualquer estado de dúvida sobre a existência dos factos, tendo o tribunal sido categórico na afirmação positiva da sua convicção sobre a materialidade dada como provada. 12 – De igual modo, no que envolve o alegado vício do erro notório a que alude o artigo 410.º, n.º2, alínea c) do Código de Processo Penal, lendo e relendo a argumentação aduzida pelo recorrente L. F. a este respeito, constata-se linearmente que o mesmo vislumbra o alegado vício na divergência que tem relativamente à apreciação da prova que foi levada a cabo pelo tribunal a quo, designadamente na convicção que o tribunal formou, colocando o recorrente toda a ênfase naquilo que o próprio disse e foi corroborado pelo outro co-arguido ou pelas testemunhas apresentadas pela defesa como alibis na

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consideração que “As declarações dos Assistentes e da testemunha E. P. não podem ser suficientes para o tribunal condenar o Recorrente” onde ao invés “As declarações prestadas pelo Arguido (…) deviam ter sido valoradas e não descredibilizadas sem qualquer fundamentação”.

13 - Face ao todo alegado pelo recorrente e no necessário cotejo com a fundamentação exposta pelo tribunal a quo resulta a conclusão segura que o mesmo (como o outro co-arguido) não concorda com o modo como o tribunal alicerçou a sua convicção sobre aqueles os factos dados como provados naquilo que determinou a matéria de facto dada como provada e naquilo que constituiu a forma muito cuidadosa e cautelosa como a jurisprudência dos nossos tribunais superiores se tem pronunciado a propósito de tal tema;

14 - Contudo, tal interpretação realizada pelos recorrentes (diversa da realizada pelo tribunal) não envolve qualquer violação dos critérios legais sobre apreciação da prova pois que lendo-se a motivação expressa pelo tribunal a quo, esta afigura-se-nos suficiente para habilitar a concluir que, para além de que as provas a que o tribunal recorreu serem todas permitidas por lei, o julgador seguiu um processo lógico e racional na formação da sua convicção, dela não resulta uma decisão ilógica, arbitrária, contraditória ou claramente violadora das regras da experiência comum na apreciação da prova.

15 - Imbricada com a apreciação da prova que realizam os recorrentes invocam

erro de julgamento naquilo que consideram ser o concatenar das declarações dos próprios, das testemunhas indicadas pela acusação e das testemunhas apresentadas pela defesa, na desvalorização que realizam dos depoimentos dos próprios ofendidos e das testemunhas apresentadas pela acusação e na valoração que realizam da sua negação dos factos.

16 - Ao fim e ao cabo o que os recorrentes fazem é o pretender fazer valer a sua versão dos factos (de que nada tiveram a ver com as agressões de que foram alvo os ofendidos), não colocando em causa o que consta vertido na fundamentação de facto do acórdão ora em crise a propósito do conteúdo de

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