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Índice. 1 O autor e a obra A tipologia da narrativa O tempo histórico e o tempo da narrativa... 12

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Academic year: 2021

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CRES-M C © I dei as de L er

1 O autor e a obra

... 5

1.1.

Informações biobibliográficas

... 5

1.2.

O Nobel português

... 7

1.3.

Fragmentos da crítica do romance saramaguiano

e da atribuição do Nobel a um português

... 7

2 A tipologia da narrativa

... 9

3 O tempo histórico e o tempo da narrativa

... 12

4 O título e as linhas da ação

... 17

5 Síntese das sequências narrativas

... 19

6 Caracterização das personagens e a relação entre elas:

os universos do poder e do contrapoder

... 31

7 A visão crítica

... 35

7.1.

O espaço físico

... 35

7.2.

O espaço social

... 37

7.3.

A voz do narrador: intenção interventiva

... 42

8 A dimensão simbólica do romance

... 44

9 A linguagem e o estilo

... 46

9.1.

Intertextualidade

... 46

9.2.

Pontuação, recursos expressivos e reprodução

do discurso no discurso

... 47

10 A subversão no romance

... 49

11 Alargamento cultural

... 50

12 Preparação para exame

... 51

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O tempo histórico

e o tempo da narrativa

O tempo histórico diz respeito à época histórica na qual se enquadram os acontecimentos e a ação. O tempo da narrativa, por seu turno, diz respeito à ordem pela qual os acontecimentos são narrados, podendo este não corres-ponder à ordem pela qual aconteceram, sendo que o autor pode recorrer a analepses e prolepses.

A ação do romance desenrola-se entre 1711 e 1739, período de tempo re-constituído através de referentes temporais associados a acontecimentos his-tóricos, tal como indicam as duas balizas temporais, inseridas no início e no fim do romance, respetivamente:

“D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mu-lher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria” [p. 9] – o casamento real foi em 1708;

“Entre os mil cheiros fétidos da cidade, a aragem noturna trouxe-lhe o da carne queimada. Havia multidão em S. Domingos […], é um que fazia comé-dias de bonifrates e se chamava António José da Silva” [p. 399]– alusão ao auto de fé em que foi queimado o referido escritor, em 1739.

O tempo histórico do romance corresponde, então, às primeiras décadas do século XVIII, época marcada por assinaláveis contrastes resultantes da coe-xistência paradoxal de práticas retrógradas e medievalizantes, por parte da corte e do povo, e de um esforço de modernização e abertura ao espírito ilumi-nista da Europa, do qual é principal representante o rei D. João V.

Memorial do Convento, enquanto romance histórico, espelha essa reali-dade, denunciando assimetrias, absurdos, paradoxos que caracterizam a so-ciedade portuguesa do início de setecentos.

3

Estaremos perante um romance histórico? Sim, pela minuciosa infor-mação que organiza. Mas ninguém se entrega assim tão apaixonadamente a um passado se não estiver possuído de uma enorme gana, talvez de des-forço, talvez de resgate. Sente-se que a época de D. João V dói, por qual-quer fundo motivo, a José Saramago. […] como se algo transbordasse de um memorial tão denso de uma geração de há mais de dois séculos e meio, e ainda hoje não haja suficiente capacidade para conter esse excesso.

Óscar Lopes, in Os Sinais e os Sentidos,

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Memorial do Convento, de acordo com as palavras de Óscar Lopes, revela, também, uma relação muito próxima e marcadamente afetiva entre o autor (homem do século XX) e a época que retrata (início do século XVIII). Nas palavras do crítico literário, é como se Saramago tivesse uma missão a cumprir: exorcizar a dor que, “por qualquer fundo mo tivo”, a época de D. João V lhe provoca. Tempo histórico do romance

Aspetos históricos Evidências em Memorial do Convento

Dissipação do ouro do Brasil por parte

de D. João V

– Megalomania do monarca traduzida em:

• vida faustosa na corte;

• procissões ricamente engalanadas;

• construção do convento de Mafra em função de caprichos pessoais;

• construção da casa de Pegões, do palácio de Vendas Novas e outras estruturas de suporte aos cortejos nupciais;

• distribuição de arcas de moedas pelo povo que se encontrava na rua;

• pompa excessiva do cortejo de Elvas;

• construção de uma casa no meio da ponte de pedra sobre o rio Caia, ricamente decorada.

Miséria do povo

– A fome, a doença e o medo em Lisboa e Mafra; – A exploração e o abandono do povo, de que Baltasar é o

paradigma, enquanto vítima da guerra. Falta de visão

e de gestão empreendedora

– Lisboa como entreposto comercial do ouro e das pedras preciosas do Brasil e das especiarias do Oriente, não retirando os justos dividendos.

Importação de modas, artistas

e materiais estrangeiros

– Contratação do alemão Ludwig como arquiteto de Mafra e de Domenico Scarlatti como professor particular de música da infanta Maria Bárbara;

– Importação de mármores, de estátuas de santos, de sinos e carrilhões, de candeeiros, de castiçais, de cálices e custódias de prata, vindos de Roma, Veneza, Milão, França, Holanda, para a construção e decoração do convento; – Importação de madeiras dos países nórdicos e de

pranchas de angelim (madeira) do Brasil para as estruturas de apoio à construção.

Fuga de intelectuais e cientistas notáveis

para a Europa

– Os estudos científicos de Padre Bartolomeu na Holanda; – Fuga de Padre Bartolomeu para Espanha (Toledo), por

causa da Inquisição. Interesse pelas

inovações culturais e científicas oriundas da Europa

– O apreço do rei pela música, pelos livros;

– A proteção mecenática do projeto de construção da Passarola.

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A linguagem

e o estilo

Saramago sempre assumiu a noção de que “há uma aprendizagem da crita literária”. Deste modo, a sua escrita resulta de um longo processo de es-tudo e de aprendizagem da língua, processo que implica muita leitura, muito trabalho metódico, muito conhecimento dos cânones da literatura portuguesa, muita consciência da responsabilidade cultural e cívica do escritor. A narrativa saramaguiana foi, progressivamente, assumindo grande relevância literária, tanto pela qualidade, como pelo inédito do uso da palavra (inédito que passa inevitavelmente pela alteração do normatismo da expressão gráfica e da pon-tuação, mas respeitando a sintaxe própria de uma qualquer outra narrativa), bem como por uma apropriação criativa de grandes textos literários.

9.1.

Intertextualidade

São vários os momentos de intertextualidade no romance, ou seja, momen-tos em que o narrador, ultrapassando as barreiras do tempo, se apropria de ou-tros textos literários, muitas vezes com intencionalidade irónica. Assim, esta intertextualidade com outras obras e outros autores ocorre, principalmente, com as referências a:

Pessoa e Mensagem – pp. 249, 311;

Camões e Os Lusíadas – pp. 142, 219-220, 325;

Padre António Vieira e o Sermão de Santo António aos Peixes – p. 181. O narrador evidencia, igualmente, conhecimento de histórias da tradição e do imaginário popular (como a história do vulto do homem na lua) e recorre ao património da literatura de tradição oral, nomeadamente provérbios e ditos populares:

“ainda agora a procissão vai na praça”;

“o cântaro está à espera da fonte”;

“quem parte e reparte […] para alguma coisa aproveitaria a arte”;

“a pobre não emprestes, a rico não devas, a frade não prometas”;

“pelo dedo se conhece o gigante”;

“o hábito não faz o monge”;

“de noite todos os gatos são pardos”;

“é como estar na engorda antes do matadouro”;

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“chegou-se-lhe o fogo ao rabo”;

“nem sempre galinha, nem sempre sardinha”;

“quem de gosto carrega não cansa”.

9.2.

Pontuação, recursos expressivos e reprodução

do discurso no discurso

No que diz respeito à pontuação, aos recursos expressivos e à reprodução do discurso no discurso, as principais características da escrita saramaguiana são as que se listam abaixo.

• Pontuação

– no discurso direto é abolido o uso do travessão e dos dois pontos e são substituídos pela vírgula o ponto de interrogação e outros sinais de pontua-ção, marcando-se o início de cada fala apenas pelo uso da maiúscula inicial; a vírgula como o mais recorrente e importante sinal de pontuação: separa as várias falas das personagens, conferindo-lhes certo ritmo (aceleração) e marca momentos de enumeração exaustiva [pp. 251-252];

• Recursos expressivos e apropriação criativa da linguagem

– o uso da anáfora – “Seiscentos homens agarrados desesperadamente aos doze calabres que tinham sido fixados na traseira da plataforma, seiscen-tos homens que sentiam, com o tempo e o esforço, ir-se-lhes aos poucos a tesura dos músculos, seiscentos homens que eram seiscentos medos de ser […]” [p. 283];

– o uso da comparação – “Quase tão grande como Deus é a basílica de S. Pedro de Roma que el-rei está a levantar” [p. 10];

– o uso da enumeração de cariz popular – “ele é os ourives do ouro e da prata, ele é os fundidores dos sinos, ele é os escultores de estátuas e relevos, ele é os tecelões, ele é as rendeiras e bordadeiras […]” [pp. 251-252];

– o jogo de expressões antinómicas – “entre o nariz rubicundo e o outro héc-tico, entre a nádega dançarina e a escorrida, entre a pança repleta e a bar-riga agarrada às costas” [pp. 29-30];

– a apropriação/interpretação subjetiva do discurso evangélico – “Pater nos-ter que non estis in coelis” [p. 171];

– as invetivas e as interpelações diretas ao leitor, criando um estilo próximo da oratória barroca e uma maior cumplicidade entre narrador e leitor – “quem cuida ele que nós somos, alguns ignorantes” [p. 143];

– o uso da ironia – “se há de o marinheiro levar um tiro fora da barra, de um corsário francês, melhor é que lho deem aqui, morto ou ferido sempre está na sua terra” [p. 86]; “todo o mundo puxa com entusiasmo, homens e bois, 9 A linguagem e o estilo

Referências

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