RELATORIO RETROSPECTIVO SOBRE
HEMOCULTURAS
(Período de Maio a Julho/2007)
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1- Introdução
A CCI tem demonstrado alguma preocupação relativamente aos custos económicos das medidas que procura sugerir ao Conselho de Administração, para que se possa proceder à respectiva implementação.
O Controle de Infecção, não deve ser considerado uma despesa, antes um investimento. As medidas que vão sendo propostas, apesar de inicialmente poderem representar um acréscimo de despesas para a Instituição, tem sistematicamente, como objectivo final, uma rentabilização de meios e poupança de recursos.
Por estes motivos, esta Comissão revelou alguma surpresa quando foi informada pela responsável do Laboratório de Microbiologia, Dr.ª Mariana Viana, que havia sido detectada uma percentagem anormalmente elevada de hemoculturas contaminadas, após a aprovação da Norma para Colheita de Hemoculturas.
Decidiu-se assim proceder a um levantamento retrospectivo dos pedidos de hemoculturas solicitadas na Instituição, relativa aos meses de Maio, Junho e Julho de 2007.
2- Métodos
Procedeu-se ao levantamento de todos os resultados de hemoculturas emitidos pelo Laboratório de Microbiologia do Hospital de São Gonçalo – EPE, nos meses de Maio a Julho de 2007.
Construiu-se uma folha em Excel segundo os seguintes critérios: - Serviço requisitante
- Resultado da Hemocultura (positiva, negativa, contaminada) - Número de isolados
- Organismo(s) isolados
Procurou-se conhecer o percurso realizado pelas hemoculturas no Laboratório de Microbiologia e determinar os consumíveis utilizados.
Os valores utilizados para cálculos de despesas são os constantes da Portaria 567/2006 de 12 de Junho, podendo ser consultados na respectiva Tabela de preços.
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3- Resultados
Foram solicitadas 701 hemoculturas, no período de estudo considerado.
Destas, 104 foram consideradas como contaminadas e 52 deram saída do laboratório como positivas (Gráfico 1).
GRAFICO 1
Numero de Hemoculturas
104
52
545
nº contaminadas positivas negativas
A distribuição de colheitas por Serviço pode ser observada no Gráfico 2
GRAFICO 2
Nº de colheitas por serviço
25 299 16 56 305 701 0 100 200 300 400 500 600 700 800
No Gráfico 3 pode observar-se a relação, por Serviço, de Hemoculturas consideradas positivas em relação à percentagem de contaminadas. GRAFICO 3 4% 16% 16% 10% 13% 19% 4% 2% 16% 5% 0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00%
Cir Med Ort Ped Urg
Serviços
Percentagem de hemoculturas positivas versus contaminadas
Isolamentos % Positivos
Isolamentos % Contaminadas
Como se pode observar o Serviço de Cirurgia apresenta os melhores resultados, uma vez que a maioria das hemoculturas colhidas neste Serviço são positivas. Os restantes serviços apresentam uma elevada percentagem de contaminadas, em relação à taxa de positivas, o que poderá significar alguma quebra de assépsia na técnica de colheita.
No entanto, deve sublinhar-se o pequeno número de colheitas realizadas nos Serviços de Cirurgia, Ortopedia e Pediatria, quando comparadas com os Serviços de Medicina e de Urgência.
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4- Custos económicos
Conforme já referido, optamos pelos valores constantes da Portaria 567/2006 de 12 de Junho para se proceder aos custos económicos do problema em consideração.
O motivo que justifica esta opção tem a ver com o facto de estes valores serem calculados considerando os custos directos em material bem como uma ponderação para os custos indirectos relacionados com a colheita.
Os valores considerados para o processamento de uma Hemocultura contaminada e negativa foram respectivamente de 34,00 € e de 12,90 €. Uma hemocultura positiva implica um custo total de 47,50€.
Calcularam-se os custos por Serviço para o período considerado de três meses e procedeu-se a uma projecção para o ano, que se mostram de seguida. GRAFICO 4 136 € 6.664 € 272 € 272 € 6.800 € 14.144 € 0,00 € 2.000,00 € 4.000,00 € 6.000,00 € 8.000,00 € 10.000,00 € 12.000,00 € 14.000,00 € 16.000,00 €
Cirurgia Medicina Ortopedia Pediatria Urgência Total Custos Projectados
Tabela 1 – Custos por Serviços projectados a 1 ano por hemoculturas contaminadas
Serviço Custos Projectados
Cirurgia 136,00 € Medicina 6.664,00 € Ortopedia 272,00 € Pediatria 272,00 € Urgência 6.800,00 € Total 14.144,00 €
Como se pode observar, os custos projectados apresentam impacto económico, que a CCI considera como significativo para o Orçamento da Instituição.
A projecção económica para as hemoculturas negativas é a seguinte.
Tabela 2 – Projecção de custos das Hemoculturas negativas
Custo Unitário das HC
Negativas Custo Real a 3 Meses Projecção a 1 ano
Hemoculturas negativas 7.030,50 € 28.122,00 €
Tabela 3 – Projecção de custos totais com Hemoculturas contaminadas e negativas
Custos Reais (3 Meses) Projecção a 1 ano
Custos Finais 10.566,50 € 42.266,00 €
Conforme se pode verificar a projecção anual de custos com hemoculturas negativas e contaminadas ascende a mais de 42.000€.
Destes resultados pode inferir-se o custo para uma hemocultura positiva, entrando em consideração com a razão entre o dispêndio total com este exame auxiliar e a quantidade de positivos (Tabela 4) Tabela 4 – Custo real por Hemocultura positiva
Custos Preço total
Preço
unitário Número de HC Custos 3 meses Custos 1 ano Custo das Hemoculturas
Negativas 12,90 € 545 7.030,50 € 28.122,00 €
Custo das Hemoculturas
Contaminadas 34,00 € 104 3.536,00 € 14.144,00 €
Custo das Hemoculturas
Positivas 47,50 € 52 2.470,00 € 9.880,00 €
701 13.036,50 € 52.146,00 € Custo para HC positiva 250,70 €
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5- Conclusões
A literatura consultada relativamente a este assunto é unânime na referência ao facto de as hemoculturas serem exames provavelmente solicitados em demasia.
Os resultados negativos raramente alteram o tratamento dos doentes internados. Em contextos de tratamento com antibióticos de largo espectro de acção, resultados de hemoculturas positivos para agentes etiológicos considerados patógeneos, desencadeiam alterações terapêuticas em apenas 21% a 50% dos casos.
É unanimemente referida a necessidade imperiosa de criação de protocolos mais apropriados para solicitação de hemoculturas, sendo sugerida a criação de Normas.
Apenas num artigo se encontrou referida a taxa de verdadeiros positivos em hemoculturas, que se cifrou em 9.3%.
No entanto este valor pode sofrer oscilações em função da doença infecciosa primária, nomeadamente, neurológica, respiratória, urinária e intra-abdominal.
Na nossa Instituição, deve ser realçado que a taxa de hemoculturas positivas é de 7,42%, contra 77,7% de culturas negativas.
Parece-nos que estas taxas estão desproporcionadas, o que poderá significar que este exame é demasiadamente solicitado, aliás conforme é referido na literatura consultada.
Realçam-se os resultados do Serviço de Cirurgia que apresenta a menor taxa de contaminação de toda a Instituição.
Pela negativa surgem os Serviços de Urgência e de Medicina. Se no primeiro, atendendo à especificidade de cuidados inerentes e por ser uma zona mais contaminada, estes valores poderiam ser esperados, tal não sucede no Serviço de Medicina, pelo que consideramos os valores apresentados por este como muito negativos.
A diminuição de custos que se poderá pretender com estes exames passa por duas vertentes:
a) Melhor ponderação aquando da solicitação do exame por parte do pessoal clínico
b) Maior cumprimento da Norma de Colheita de Hemoculturas por parte do pessoal de Enfermagem, de modo a diminuir, a valores que possam ser considerados residuais, a taxa de Hemoculturas contaminadas.
A CCI considera importante o conhecimento deste Relatório por parte dos profissionais do Hospital de modo a iniciar-se uma sensibilização do mesmo para este problema, pelo que se solicita autorização para publicitar o mesmo pelos responsáveis dos Serviços, bem como na Intra e Internet, na página do Hospital de São Gonçalo – EPE.
Por outro lado entende-se como fundamental o início de acções de formação em serviço, a serem ministradas preferencialmente pelos Elos de Ligação da CCI, no sentido de melhorar a qualidade da colheita.
Esta última medida poderá ter um impacto significativo na redução de custos a curto prazo que se pretende obter.