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IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA DO BENEFICIAMENTO DO UMBU PARA OS MUNICÍPIOS DE CANUDOS, UAUÁ E CURAÇÁ.

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Academic year: 2021

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IMPORTÂNCIA SÓCIO-ECONÔMICA DO BENEFICIAMENTO DO

UMBU PARA OS MUNICÍPIOS DE CANUDOS, UAUÁ E CURAÇÁ.

Elisabete de Oliveira Costa Santos

Ângelo custódio Neri de Oliveira

Avenida das Nações, 04 – Bairro Castelo Branco 48.900-000 Juazeiro – BA

E-mail: irpaa@irpaa.org.br

RESUMO

O umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) é uma planta nativa da região Nordeste do Brasil, especificamente do semi-árido e constitui no período das safras, na principal atividade econômica de muitas comunidades rurais de vários municípios da região Norte da Bahia.

A maior parte do umbu colhido na região Norte da Bahia é vendido “in natura” nas feiras livres e para as agroindústrias de polpa a preços que não rende muito para asfamílias, ficando o lucro para os intermediários e indústrias.

O trabalho com o beneficiamento do umbu está sendo desenvolvido principalmente, nos municípios de Canudos, Uauá e Curaçá, atingindo um total de 45 comunidades. Tendo como finalidade: melhorar a alimentação, proporcionar uma nova opção de renda às famílias das comunidades rurais desta região; valorizar os produtos regionais, despertar para a preservação dos umbuzeiros, incentivar para a organização das comunidades e eliminar os atravessadores .

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INTRODUÇÃO

O umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) é uma planta nativa da região Semi-Árida do Nordeste brasileiro, tem preferência por regiões que chove entre 400 e 800 milímetros por ano, por isso nos oferece grande possibilidade de cultivá-lo, até em grande escala. Adapta-se bem ao calor, aos solos fracos, ao regime de chuvas irregulares e produz muito bem mesmo em anos com pouca chuva. Possui grande produção de frutos com alto valor comercial, podendo ser uma planta frutífera de muita importância econômica para o Nordeste.

O umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) apresenta uma maneira inteligente de viver e lidar com a irregularidade das chuvas da região Semi-árida, ele fecha os estomatos durante as horas mais quentes do dia e solta todas as folhas no período de estiagem, assim perde pouquíssima água por transpiração. Durante o período de estiagem vive da água e dos alimentos (substâncias nutritivas) que armazenou em suas “batatas”, durante a época chuvosa. Mas quando as chuvas se aproximam ele reveste rapidamente de flores e logo em seguida aparece também as folhas. Os frutos começam a aparecer logo nas primeiras chuvas.

Enquanto as pessoas lutam para produzir a qualquer custo o milho, o feijão, as fruteiras irrigadas. A natureza nos oferece por outro lado frutas como o umbu que todos os anos produz, independente da irregularidade da chuva e sem precisar ser irrigado. Assim alimentam as pessoas e os animais sem nenhum custo. Mas com toda essa importância do umbuzeiro (Spondias

tuberosa Arr. Cam.) ainda não é dado o devido valor no sentido da preservação e do

aproveitamento da produção.

IMPORTÂNCIA SOCIAL E ECONÔMICA

Os primeiros moradores do sertão - os índios, utilizavam suas “batatas” para curar doenças e alimentar-se dos saborosos frutos. As “batatas” muitas vezes são utilizadas pelos vaqueiros do sertão para matar a sede nas suas jornadas na caatinga. Estas possuem propriedades medicinais, muito usadas na medicina caseira para o tratamento de diarréias e no controle de verminose. È rica em sais minerais e vitaminas, principalmente em vitamina C.

As “batatas” são usadas em várias regiões para a fabricação de doces. Embora é preciso lembrar que a colheita dessas “batatas” sem controle pode diminuir a resistência da planta à seca ou mesmo causar a sua morte.

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Em muitas regiões, no período da colheita, o umbu tem se tornado na principal atividade econômica, chegando a produzir entre 28 e 32 mil frutos por pé, algo em torno de 350 quilos safra/ano. Os umbus são colhidos e vendidos em feiras livres e para as agroindústrias de beneficiamento de polpas. Na verdade o umbu tem oferecido uma grande oportunidade para as famílias do sertão, no sentido de ter uma renda garantida todos os anos no período da safra, além de oferecer alimento de excelente qualidade para a população do campo e da cidade, já que o umbu é vendido em muitas cidades do Nordeste na forma ‘in natura” e através de polpa. O umbuzeiro também dá aos sertanejos/as uma grande lição de convivência com o clima quente-seco, já que todos os anos ou chova ou faça sol o umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) produz saborosos frutos que alimentam animais nativos, animais domésticos, os seres humanos e constitui numa fonte de renda considerável para essa população. Devido essa versatilidade que o escritor Euclides da Cunha chamou o umbuzeiro de “Árvore Sagrada do Sertão”.

Estima-se que os negócios com umbu giram em torno de 6 milhões de reais por ano na colheita, beneficiamento e comercialização do fruto. Na região de Juazeiro, há uma expectativa em relação ao crescimento na economia das famílias que vem trabalhando o beneficiamento do umbu, já os produtos adquirem maior valor comercial, oferecendo às famílias uma renda maior. Ha possibilidade de vender estes produtos às prefeituras para serem utilizados como merenda escolar e também para os supermercados.

O objetivo desse trabalho é oferecer às famílias da região semi-árida uma possibilidade de renda, independente das variações climáticas, já que o umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) produz todos os anos; valorizar as plantas nativas da região, inclusive com a idéia de tornar o umbuzeiro uma cultura para o semi-árido; despertar nas pessoas a necessidade de preservação das plantas nativas com a agregação de valores aos produtos.

METODOLOGIA

O trabalho está sendo desenvolvido desde o ano de 2000, principalmente, em três municípios da região norte da Bahia: Curaçá, Uauá e Canudos. Atualmente está sendo trabalhado com 45 comunidades. As comunidades estão organizando grupos com mulheres, homens e jovens para produzir doce, geléia, polpa e suco. Depois serem comercializados para prefeituras, em feiras e supermercados. Também está sendo trabalhado a idéia de organizar e ampliar a comercialização.

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As famílias foram capacitadas através de cursos realizados nas próprias comunidades, encontros realizados a nível regional e visitas a grupos com mais experiências. Também nas comunidades existem os multiplicadores e multiplicadoras, esses são grupos de pessoas que repassam esses conhecimentos entre outras comunidades. Desta forma as famílias planejam e desenvolveram atividades práticas, em conjunto, para beneficiar e comercializar a produção.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Há muito tempo que a atividade de vender umbu “in natura” em feiras livres e nas rodovias é uma prática de grande parte da população de muitos municípios do Semi-Árido. Para muitas pessoas esta era a única forma de comercializar esse valioso produto. A partir de 2000 iniciou nos três municípios supra citados, o trabalho de agregação de valores, através do beneficiamento do umbu.

O primeiro curso aconteceu no ano de 2000 para um grupo de mulheres do município de Uauá. Neste curso além das informações sobre a Convivência com o Semi-Árido, também foram feitas práticas sobre o beneficiamento do umbu. A partir desse curso começou nas comunidades um grande movimento pelo aproveitamento do umbu como fonte de renda, como melhoria da alimentação e preservação da planta. O beneficiamento do umbu já faz parte do trabalho do dia-a-dia das famílias na época da safra.

No início da safra 2001, havia apenas 25 comunidades envolvidas. Hoje são em torno de 45 comunidades nos municípios de Curaçá, Uauá e Canudos, mais algumas comunidades no município de Casa Nova, que estão se organizando para trabalhar o beneficiamento do umbu, nesta safra de 2001/2002.

Todo esse trabalho está sendo positivo no sentido de valorizar a cultura do semi-árido, ao invés das tradicionais festas do milho e da primavera pode promover a festa do umbu. Também tem sido de fundamental importância o trabalho de valorização do umbu a partir das escolas, onde se estuda sobre a planta, os frutos, o beneficiamento, o consumo e a utilização na merenda escolar.

Apesar da importância sócio-econômica e para o ecossistema da caatinga, o umbuzeiro (Spondias tuberosa Arr. Cam.) vem sofrendo uma diminuição a cada dia em função do desmatamento e queimadas praticados pelos agricultores e coletores de mel silvestre.

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Para estimular a preservação e a reposição dos umbuzeiros, o Irpaa vem incentivando as comunidades para fazer plantios na caatinga, nas roças e nos fundos de pasto, por ser uma cultura adaptada e apropriada para o sertão. Para esse trabalho contamos com a colaboração da Embrapa Semi-árido que tem nos fornecido mudas.

Para onde vai o umbu produzido no nordeste

A maior parte da produção perde embaixo dos pés, uma parte a criação come, outra é consumida pelas pessoas, uma outra é vendido “in-natura” e apenas uma pequena parte é beneficiado.

Caminho da comercialização do umbu “in-natura”:

Produtor ► Atravessador I ▼ Atravessador II ▼ Despolpador ▼ Distribuidora ▼ Supermercado ▼ Consumidor ◄ Lanchonete

Obs: Um saco de umbu com 60 kg que é vendido pelo “produtor” por R$ 5,00. Volta ao consumidor custando R$ 1,00 um copo de suco – preço médio. Com o beneficiamento é possível eliminar os agentes intermediários, podendo fazer a comercialização direta:

Produtor ► Consumidor.

O beneficiamento do umbu como fonte de renda

Com o beneficiamento é possível garantir um melhor preço na comercialização do produto; facilitar e ampliar a comercialização; reduzir a perda da produção; incentivar para melhorar a produção; despertar para a necessidade de preservação e cultivo de plantas regionais; como forma de organização das comunidades e proporcionar momentos para a capacitação dos trabalhadores e trabalhadoras.

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Beneficiamento

A maior importância do umbu está ainda numa “face oculta”, isto é, no beneficiamento. E uma vez explorada de forma mais organizada implicará na melhoria da renda das pessoas que vivem no meio rural onde o umbu produz em abundância.

Há muito tempo às pesquisas mostram o grande potencial econômico do umbuzeiro. O problema ainda é que a maioria da população nunca teve acesso a elas, por isso é ainda pouco aproveitado.

O beneficiamento do umbu sempre tem ocorrido no meio rural, porém de uma forma bem rudimentar. As pessoas utilizam as “batatas” para a fabricação de doces e a fruta para a fabricação de vinagres, marmeladas, doces e a tradicional umbuzada. Uma proposta de beneficiamento do umbu deve ser levada para as comunidades rurais de maneira que melhore a forma de trabalhar com o umbu. O beneficiamento precisa ser trabalhado de forma planejada, com vista ao lançamento dos produtos no mercado local e nacional.

O que está sendo feito com o umbu

Na região ainda é restrita a variedade de produtos processados a partir do umbu. Ficando concentrada na produção de suco extraído com uma máquina (extrator de suco), umbu em calda, geléia e polpa para o fabrico de doce.

O que se pode fazer com o umbu

Segundo pesquisas, do fruto do umbuzeiro pode ser obtidos 48 subprodutos, entre eles: a umbuzada, suco, sorvetes, doce, geléia, passas, umbu em calda, marmelada, cachaça, umbuzeitona, picles e outros. A maioria destes produtos ainda não faz parte da prática dos produtores/as que trabalham o beneficiamento.

Fabricação de suco a vapor

A fabricação de sucos a vapor é uma técnica ainda pouco conhecida na região Semi-Árida, mas se bem utilizada pode ajudar as pessoas a agregar valor às frutas. Essa técnica veio para facilitar o trabalho principalmente das pessoas que moram na zona rural onde não possuem energia elétrica e que não dispõem de estruturas para armazenamento das frutas por um período maior. A máquina ou “extrator de sucos”, pode ser utilizado para extrair o suco de várias frutas,

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entre elas: umbu, manga, acerola, uva, banana, caju, etc, as quais passam por um processo de cozimento e o suco é extraído com as mesmas características da fruta. Esse suco se trabalhado obedecendo algumas práticas de higiene, pode ser naturalmente guardado em garrafas de vidro e armazenado em temperatura ambiente por um longo período.

À medida que o suco é extraído deve ser logo engarrafado em recipientes de vidro esterilizados e fechados com tampas metálicas, em máquina própria para fechamento. Em seguida são colocados em posição invertida (de boca para baixo) até esfriar totalmente. Esse procedimento é quem assegura a conservação do produto à temperatura ambiente, sem riscos de deterioração durante o período de armazenamento.

A polpa que sobra na panela, depois de extrair todo o suco, é utilizada para fabricação de doce.

Comercialização

Conforme planejada a comercialização da produção será feita, principalmente, para as prefeituras dos municípios vizinhos para utilização na merenda das escolas municipais, estaduais, creches e hospitais. A comercialização também acontecerá nas feiras livres dos municípios, em alguns supermercados locais, nas próprias comunidades, em eventos (tendo como objetivo também de divulgar o produto) e em pontos estratégicos das grandes cidades: São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro.

Tabela 1:

agregação de valores

Rendimento de 01 saco de umbu de 60 quilos

PRODUTO PREÇO UNITÁRIO –R$ TOTAL – R$

40 garrafas de suco de umbu, 500ml cada 1,50 60,00

50 potes de doce, 250 gr cada 2,00 100,00

Total bruto 160,00

INGRED./MATERIAIS COMPRADOS

2,5 kg de açúcar 0,70 1,75

40 garrafas vazias de 500 ml com tampa 0,26 10,40

50 potes de plástico de 250 gr com tampa 0,18 9,00

90 rótulos 0,05 4,50

Total despesas 25,65

TOTAL LÍQUIDO 134,35

Obs: as pessoas da zona rural vendiam os umbus em sacos para as fábricas de polpa em Feira de Santana e Sergipe: 01 saco de umbu com 60 quilos era vendido a R$5,00 - preço médio.

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Conforme tabela1, o mesmo saco de umbu, se beneficiado, rende ao produtor/a R$ 134,35 (cento trinta e quatro e trinta e cinco centavos).

CONCLUSÃO

Hoje se percebe que através do beneficiamento as famílias conseguem ter uma renda satisfatória com a produção de umbu, são estimuladas a preservar e fazer plantio do umbuzeiro como uma fruteira adaptada às condições edafoclimática do Semi-Árido, é priorizada a produção comunitária e há um incentivo para a organização em torno da produção.

Nos municípios onde as famílias vem trabalhando com o umbu, estas conseguem uma fonte de renda segura, pois o umbuzeiro produz todos os anos, independente da quantidade de chuva. Com isso há maior possibilidade da família permanecer no campo, pois tem uma renda fixa, justamente numa época em que a roça não produziu ainda. A satisfação das famílias que vem trabalhando, demonstra o sucesso desta atividade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANJOS, José Barbosa. Extrator de suco a vapor – Comunicado técnico da Embrapa

Semi-árido nº 85, dez./99, pág. 1-3. Petrolina – PE

CAMPOS, Clarismar de Oliveira. Industrilização caseira do umbu – Uma perspectiva para o

semi-árido. Salvador: Epaba, 1988.

MENDES, Benedito Vasconcelos. Plantas e animais para o Nordeste. Rio de Janeiro: Globo, 1987.

MENDES, Benedito Vasconcelos. “Desenvolver o semi-árido, dando prioridade ao social e

ao ecológico” – Umbuzeiro importante fruteira do semi-árido. Coleção Mossoroense,

série C – volume DLXIV, 1990.

SEAGRI. Cultura do umbuzeiro. Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária. Governo do Estado da Bahia.

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