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26/04/2021

Número: 0014750-70.2020.8.17.2810

Classe: AÇÃO POPULAR

Órgão julgador: 1ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Jaboatão dos Guararapes Última distribuição : 14/07/2020

Valor da causa: R$ 1.000,00 Assuntos: Anulação

Segredo de justiça? NÃO Justiça gratuita? SIM

Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM Tribunal de Justiça de Pernambuco PJe - Processo Judicial Eletrônico

Partes Procurador/Terceiro vinculado

arnaldo delmondes oliveira (AUTOR) arnaldo delmondes oliveira (ADVOGADO) MUNICIPIO DE JABOATAO DOS GUARARAPES (REU)

ANDERSON FERREIRA RODRIGUES (REU) ZELMA DE FATIMA CHAVES PESSOA (REU)

2º Promotor de Justiça Civel de Jaboatão dos Guararapes (TERCEIRO INTERESSADO) Documentos Id. Data da Assinatura Documento Tipo 71464 422

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA 1ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE JABOATÃO DOS GUARARAPES

Ação Popular n° 00014750-70.2020.8.17.2810 Autor: ARNALDO DELMONDES OLIVEIRA Réu: ANDERSON FERREIRA RODRIGUES

ANDERSON FERREIRA RODRIGUES, brasileiro, casado, Prefeito

Constitucional do Município de Jaboatão dos Guararapes/PE, inscrito no CPF sob o nº 825.011.734-49, portador da cédula de identidade nº 4018154 – SSP/PE, residente e domiciliado à Avenida Bernardo Vieira de Melo, n° 900, apartamento 401, Piedade, Jaboatão dos Guararapes/PE - CEP 54400-000, por meio de seus advogados regularmente constituídos conforme procuração anexa, vem, com fulcro no art. 7°, IV, da Lei 4.717/1965 (Lei da Ação Popular) e nas disposições do CPC, apresentar

CONTESTAÇÃO

Nos autos da Ação Popular em epígrafe, ajuizada por ARNALDO DELMONDES

OLIVEIRA, pelas razões de fato e de direito a seguir aduzidas.

I - DA SÍNTESE DOS FATOS

Trata-se de Ação Popular ajuizada por ARNALDO DELMONDES OLIVEIRA em face do MUNICÍPIO DE JABOATÃO DOS GUARARAPES, de ANDERSON FERREIRA RODRIGUES (Prefeito do Município de Jaboatão dos Guararapes) e de ZELMA DE FÁTIMA CHAVES PESSOA (Secretária de Saúde) ao argumento de que houve contratação e execução irregular de contrato de gestão na área da saúde, o que teria ocasionado danos ao erário.

O autor aduz que o Município de Jaboatão dos Guararapes celebrou contrato de Gestão em Saúde com o INSTITUTO HUMANIZE DE ASSISTÊNCIA E

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RESPONSABILIDADE SOCIA, a fim de que fosse instalado e gerido o Centro De Triagem e Tratamento Do Coronavirus - CTTC, instalado na Estada da Batalha, cuja vigência deveria ser de 04/05/2020 até 04/11/2020.

Nesse passo, afirmou que, no ato da assinatura do contrato de gestão, houve pagamento de uma parcela correspondente a R$ 3.956.817,14 e que, posteriormente, houve o pagamento de mais duas parcelas, nos meses de junho e julho de 2020, que somadas representam o importe total de R$ 11.870.451,42.

De outra banda, aduz que o gestor municipal não consignou os valores liquidados, referente ao referido contrato de gestão, no portal da transparência, o que ensejaria dúvida acerca da regularidade dos atos praticados pelo prefeito e pela gestão municipal.

Em seguida, afirma o autor que o INSTITUTO HUMANIZE não possui sede no endereço por ele apontado, uma vez que, em suas palavras, “não há nenhuma indicação clara da sede” no endereço informado, o que demonstraria que o endereço é fictício.

Além disso, afirma que no dia 06 de maio de 2020 o Poder Executivo municipal publicou o Decreto 54/2020, no qual qualificou o Instituto Humanize como Organização Social, enquanto no dia 04 de maio de 2020 o contrato de gestão já estava assinado e a despesa liquidada.

Aduziu ainda que o contrato em apreço deveria ter duração de 06 (seis) meses, entretanto somente funcionou por 03 (três) meses e que o CTTC deveria ter disponibilizado 131 leitos, nos termos previstos no contrato, sendo que teria disponibilizado, de fato, apenas 45 eleitos.

Por fim, alegou que tais fatos foram apurados pelo MPCO em Pernambuco, junto ao TCE-PE.

Ao final, requereu a concessão de medida liminar, inaudita altera pars, que haja o afastamento cautelar do prefeito e secretaria de saúde, até que a instrução do presente feito, bem como a determinação para que a administração municipal suspenda qualquer pagamento a organização social (OS) - INSTITUTO HUMANIZE DE ASSISTENCIA E REPONSABILIDE SOCIAL.

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No mérito, requereu a declaração de nulidade do contrato celebrado com a OS e a apuração dos supostos danos causados ao erário público, bem com a declaração de eventual improbidade administrativa praticadas pelo prefeito ANDERSON FERREIRA RODRIGUES e por ZELMA DE FATIMA CHAVES PESSOA.

É o que basta relatar.

II – PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA DO PREFEITO

De início, cabe esclarecer que o Sr. ANDERSON FERREIRA, Prefeito do Município de Jaboatão dos Guararapes, não é parte legítima para estar no polo passiva dessa ação.

Isso porque, conforme será mais bem esclarecido, os fatos tratam de supostas irregularidades em contrato de gestão firmado pela Secretaria de Saúde e o Instituto

Humanize.

Decerto, a Secretária de Saúde, Sra. Zelma, possui competência e autonomia para promover, firmar e executar os contratos relacionados à sua pasta, tanto que o

instrumento de contrato foi ASSINADO pela Secretária e pelo Instituto contratado.

Não há nenhuma relação de causalidade entre as condutas do Prefeito e o contrato ora questionado, uma vez que não participou dos atos de contratação, já que existe servidor competente para gerir a questão, qual seja a secretária de saúde.

O Sr. Anderson Ferreira foi incluído no polo passivo tão somente por ser Prefeito, numa verdadeira tentativa de imputá-lo responsabilidades de modo objetivo. Mais que isto, o prefeito foi incluído no polo passivo por questões meramente políticas, sem qualquer fundamento processual que possa vinculá-lo ao presente feito.

Nos termos do art. 65 da LO do Município Compete ao Prefeito exercer, com

o auxílio dos Secretários Municipais, a direção superior da Administração do Município.

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De outra banda, o art. 69 da LO dispõe que compete aos Secretários

Municipais exercer a orientação, coordenação e supervisão dos órgãos e entidades da administração municipal, na área de sua competência; bem como expedir

instruções para a execução das leis, decretos e regulamentos.

Assim, é bastante ampla a esfera de atribuições, competências e responsabilidades dos secretários municipais, devendo estes responderem pelos atos que praticarem no desempenho da sua função de exercer, juntamente com o Prefeito, a direção superior da Administração do Município.

Por tudo isso, o Sr. ANDERSON FERREIRA merece ser excluído do polo passivo da ação, sendo, ao menos em relação a ele, o feito extinto sem o julgamento do mérito.

III - DO MÉRITO

• Da regularidade da contratação do Instituto Humanize.

Nos termos do art. 196 da Constituição Federal, a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Também por força do texto Constitucional, as ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único. Nesse passo, com base na Lei 8080/1990, que dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes, pode-se afirmar que compete ao Município a execução das ações de saúde relacionadas à Atenção Básica de saúde.

Tendo vista tais considerações, é certo que, no âmbito da pandemia causada pela COVD-19 (coronavirus), a Secretaria de Saúde, juntamente com os demais gestores e em parceria com o Governo Estadual e Federal, necessitou prover

serviços de saúde em caráter de urgência, em curtíssimo espaço de tempo, a fim

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É de conhecimento público e notório a existência de um receio, em âmbito nacional, diga-se de passagem, da ocorrência de um verdadeiro colapso na rede

pública saúde, causada pela superlotação e consequente falta de leitos hospitalares para suprir a urgência causada pela pandemia.

Diante desse contexto, o Ministério Público do Estado de Pernambuco recomendou (Recomendação PGJ nº 018/2020, já anexada aos autos pelo Município) que os Municípios colaborassem com o processo de implantação de novos leitos, em esforço conjunto com o Estado de Pernambuco, para enfrentamento do Covid.

Assim, a fim de atender ao pedido de MPE, do Governo do Estado e à demanda de saúde pública gerada, o Município do Jaboatão dos Guararapes estruturou, em curto espaço de tempo, hospital de campanha.

Nesse passo, o Município editou a Portaria nº 02/2020, de 08/04/2020, que cria o Comitê Intersetorial para execução do CTTC, que determinou que os processos para aquisição de bens e serviços sejam submetidos à Controladoria Geral do Município, com o apoio da Procuradoria Geral para dirimir pontos de aspectos legais do processo.

Art. 4º Os processos de aquisição de bens e serviços, inclusive de engenharia, e insumos destinados ao funcionamento do CTTC, simplificados, devem ser composto pelos elementos relacionados no art. 4º-E da Lei 13.979/2020, no que couber, e deverá ser numerado página a página.

§ 1º. Os processos devem ser submetidos à Controladoria Geral do Município para análise e verificação do cumprimento do que estabelece o art. 4º e seguintes da Lei 13.979/2020, no prazo máximo de 48 (quarenta e oito) horas.

§ 2º. A Controladoria Geral do Município solicitará / poderá solicitar apoio da Procuradoria Geral do Município para dirimir pontos de aspecto legal do processo.

§ 3º. A Procuradoria Geral do Município, quando acionada, emitirá pronunciamento no prazo máximo de 24 (vinte e quatro) horas. (Destacamos)

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conjuntamente com a controladoria e sempre amparado por opinião técnico-jurídica da Procuradoria Municipal.

Nada obstante, convêm esclarecer que a gravíssima crise em saúde pública exigiu acentuada produção técnica e jurídica, com exiguidade de prazo, sem descuidar da legalidade, da publicidade e da segurança jurídica, tudo num contexto de isolamento social e inexperiência no tocante aos detalhes da atenção à saúde de alta complexidade.

Na medida do possível paro o momento pandêmico, a atuação do Município no combate ao coronavirus respeitou a legalidade e a transparência, sendo acompanhado pelo Tribunal de Contas.

Assim, após os levantamentos técnicos necessários, a Procuradoria do Município emitiu o Parecer nº 021/2020-PGM, em 20/04/2020, no qual restou consignada a possibilidade de contratação de Organização Social para “gerenciamento, operacionalização e execução das ações e serviços de saúde necessários para enfrentamento da emergência em saúde pública de importância internacional do centro de Triagem e Tratamento da COVID-19 (CTTC)”.

De outra banda, no dia 27/04/2020, foi expedido o Parecer nº 025/2020-JT/PGM, em 28/04/2020 da Procuradoria do Município, após consulta realizada pela Secretaria Municipal de Saúde, por meio do Ofício nº 1011/2020 – GAB/SMS, no qual solicita apreciação da possibilidade de qualificação do Instituto Humanize de Assistência e Responsabilidade Social – IHARS – como organização social, na forma do art. 12 e art. 13, da Lei Municipal 633/2011 e observados os requisitos da Lei Federal 9.637/98, a fim de exercer a Gestão do Centro de Triagem e Tratamento do Corona Vírus - CTTC.

No parecer jurídico, restou estabelecido que, comprovando-se que a prestação dos serviços da entidade privada qualificada como organização social se destinará ao enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavirus, conforme dispõe a Lei 13.979/2020, poderá ser dispensada a realização de chamamento público, destacada em arrazoado fundamentado (motivação) da Secretaria competente.

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Em conclusão, restou consignado que a excepcionalidade da situação emergencial de importância internacional para enfrentamento ao coronavirus (COVID-19), reconhecida por meio de Portaria Presidencial 188/2020, bem como, considerando a subsistência da vigência da norma do §2º, da Lei Municipal 633/2011, segundo interpretação sistemática do art. 2º da LINDB, entende esta procuradoria que a Secretaria Municipal de saúde detém competência para proceder a apreciação e instrução emergencial do processo de qualificação do Instituto Humanize de Assistência e Responsabilidade Social – IHARS, , na forma do art. 20 da Lei Federal 9.637/98, certificando se o requerimento de qualificação vem acompanhado dos documentos legais que atendeu o cumprimento dos requisitos do art. 13 da Lei Municipal 633/2011.”

Desta feita, resta demonstrado que os gestores municipais sempre atuaram pautados nas orientações da Procuradoria Municipal.

Também na fase de elaboração do contrato, houve a devida atuação a Procuradoria do Município, de modo que o Contrato nº 041/2020 – SMS foi analisado pelo setor jurídico municipal.

Desta feita, pode-se concluir que o Defendente, bem como todos os gestores municipais, sempre atuou amparado nas avaliações técnicas e jurídicas, sempre no intuito de melhor atender ao interesse público e a legislação de regência.

• Da qualificação do Instituto Humanize com Organização Social (OS) De mais a mais, é preciso esclarecer que, no dia 06/05/2020, foi publicado o Decreto nº 54, que qualificou o Instituto Humanize como Organização Social e teve a produção de efeitos a partir de 30 de abril de 2020, como expresso em seu art. 4º:

Art. 4º O presente Decreto entrará em vigor na data de sua publicação retroagindo seus efeitos ao dia 30 de abril de 2020.

Constata-se que a qualificação como Organização Social retroativo ao dia 30/04/2020, deixou o Instituto Humanize apto para pactuar contrato de gestão em 04/05/2020.

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Assim, o Instituo Humanize já estava qualificado como Organização Social desde o dia 30/04/2020, quando houve a formalização do processo de qualificação junto ao Gabinete do Prefeito, de modo que apenas a publicação ocorreu no dia 06/05/2020.

No caso, o Instituto Humanize estava qualificado como organização social desde o dia 30/04/2020. Assim, assinado o contrato no dia 04/05/2020 (quando a Prefeitura já tinha ciência da efetivação da qualificação), não há que se falar em irregularidade.

• Da regularidade dos pagamentos efetuados.

Demais disso, cabe esclarecer que todos os pagamentos foram feitos na forma prevista contratualmente e com base nas orientações fornecidas pelo TCE, inclusive com a supervisão deste.

De pórtico, esclareça-se que foi gerado um empenho global inicial no valor de R$ 11.870.154,42. Desse total, apenas foram efetivamente pagos pela Secretaria de Saúde ao Instituto Humanize o valor de R$ 4.892.872,72, tendo em vista os critérios de proporcionalidade fixados pelo Município em atenção às recomendações do TCE.

Além disso, o Instituto Humanize, por meio do Ofício 126/2020, declarou que promoveu a devolução de R$ 1.190.126,71, referente ao saldo em conta corrente, após a realização de todos os pagamentos programados. Além disso, informou que ainda possuía o valor de R$ 97.711,81 em conta, cujo objetivo era quitar obrigações decorrentes de homologação de dissídios da categoria.

Assim, considerando o valor efetivamente pago pela Secretaria de Saúde e a devolução de saldo pelo Instituto Humanize, O VALOR EFETIVAMENTE

DESPENDIDO para a execução dos serviços foi de R$ 3.702.746,01. (ver

comprovantes de pagamentos já anexados pelo Município).

Alerte-se que o valor estampado na nota de empenho relaciona-se, apenas, ao valor reservado, e não corresponde ao efetivamente pago.

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Sobre a alegada falta de transparência, não assiste razão ao autor, pois todas as informações sobre a execução de despesas relacionadas ao enfrentamento da pandemia de repercussão mundial foram e estão disponíveis no Portal da Transparência

do Município de Jaboatão dos Guararapes:

https://portaldatransparencia.jaboatao.pe.gov.br/gestao-de-contratos/ .

• Encerramento do contrato e auditoria do TCE

Existe uma auditoria em curso no TCE que tem por objetivo a adoção do critério da proporcionalidade no pagamento da OS, tendo em vista que houve frustração na ocupação dos leitos totais oferecidos (131). Assim, o valor do serviço foi pago após a verificação da real ocupação de leitos, e não com base no número total de leitos disponibilizados.

Assim, embora o hospital de Campanha tenha oferecido/disponibilizado o total de 131 leitos, não houve ocupação integral. Por isso, o Município de Jaboatão vem trabalhando juntamente com o TCE, a fim de garantir o adequado pagamento do serviço prestado Instituto Humanize, dentro dos critérios objetivos de proporcionalidade fixados.

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Diante desses fatos (não utilização do total de leitos), o Município acatou o alerta do Tribunal de Contas para adotar a proporcionalidade no pagamento, como também verificou que seria o momento de encerrar as atividades do hospital de campanha, já que a rede de saúde do Município já conseguiria atender a demanda existente, não sendo necessário seguir com o funcionamento do Hospital de Campanha até o prazo inicialmente fixado no contrato.

Desta feita, foi realizado o Primeiro Termo Aditivo ao Contrato nº 041/2020 – SMS, no qual restou expressamente consignada a previsão de pagamento em

valor proporcional com os custos dos leitos efetivamente ocupados.

Por tudo isso, pode-se concluir que o hospital de campanha foi fechado devido à redução nos casos de internamento, de modo que em atenção aos interesses públicos, o caminho mais adequado seria a rede de saúde do município abarcar a demanda residual dos casos de COVID-19. Além disso, os pagamentos foram feitos de modo proporcional, não existindo nenhum tipo de prejuízo ou danos ao erário.

Assim, não há nenhum tipo de irregularidade nos pagamentos, que vêm sendo realizados com o acompanhamento do TCE.

IV - AUSÊNCIA DE PROVAS

Cabe ressaltar que a parte autora não colacionou aos autos os elementos mínimos e indispensáveis para provar as alegações formuladas na exordial.

É cediço que, por ser fato constitutivo do direito do autor, recai sobre este o ônus da prova, conforme inteligência do artigo 373, I, do CPC1.

Da mesma forma, em consonância com o mesmo diploma legal, em seu artigo 434, abaixo citado, à parte autora cabe o ônus de juntar as provas necessárias, no momento da propositura da inicial, e, sendo tais documentos indispensáveis, o Colendo Superior Tribunal de Justiça considera precluso o direito do autor de produzir prova documental (STJ, 5ª Turma, AgRg no REsp 1049607/SP, Rel. Min. Honildo Amaral de Mello Castro (Des. Convocado do TJAP), DJe 29/11/2010; STJ, 2ª Turma, REsp 4004.002/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, j. 03/09/2002), pois pressuposto da ação, desde

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a interpretação dos antecessores arts. 333 e 396 do Código de Processo Civil/1973, reproduzidos atualmente nos arts. 373 e 434 do atual CPC/2015.

Art. 434. Compete à parte instruir a petição inicial ou a contestação com os documentos destinados a provar-lhe as alegações.

O eminente processualista Fredie Didier Júnior2, em complemento,

preleciona:

Compete, em regra, a cada uma das partes o ônus de fornecer os elementos de prova das alegações de fato que fizer. A parte que alega deve buscar os meios necessários para convencer o juiz da veracidade do fato deduzido como base da sua pretensão/exceção, afinal é a maior interessada no seu reconhecimento e acolhimento. (...) Assim, ao autor cabe o ônus da prova do fato constitutivo do seu direito e ao réu a prova do fato extintivo, impeditivo ou modificativo deste mesmo direito (art. 333).

Conforme visto, no caso em apreço apenas constam os seguintes documentos, anexados aos autos pelo autor:

• Termo de referência para a contratação de entidade sem fins lucrativos, qualificada ou que pretendesse se qualificar como Organização Social, objetivando o gerenciamento, operacionalização e execução de ações e serviços de saúde necessários ao enfrentamento da pandemia causada pelo coronavirus. • Contrato de Gestão n° 41/2020, firmado pelo Município de Jaboatão dos Guararapes, representado pela Secretária de Saúde, com o Instituto Humanize; • Notícias jornalísticas;

• Contrato de gestão do Município do Recife com o Instituto Humanize (que em nada se relaciona com a presente demanda);

• Termo aditivo ao contrato n° 56/2018 (que também não possui nenhuma relação com a presente demanda).

2 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de Direito Processual Civil: direito probatório, decisão judicial,

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Ora, excelência, apenas em verificar a lista de documentos apresentados, resta demonstrado que nenhum deles é apto a comprovar qualquer tipo de irregularidade apontada pelo autor da ação.

Assim, tendo em vista que não se desincumbiu do seu ônus probatório, não há outro caminho senão a improcedência da ação.

V - IMPOSSIBILIDADE DE TRATAR DE ATOS DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA EM SEDE DE AÇÃO POPULAR.

A teor do art. 5°, LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência.

Entretanto, a ação popular não oportuniza ao cidadão a veicular pretensões visando a repreensão e a sanção pela prática de atos de improbidade administrativa, com disciplina na Lei 8429/1992.

Assim, não merece guarida o pedido de que seja declarada a eventual improbidade administrativa praticadas pelo prefeito, já que a ação popular não é intrumento próprio para tal fim.

VI – DO PEDIDO LIMINAR

A tutela antecipada pleiteada tem previsão legal na Lei 8.429/92, em seu artigo 20, parágrafo único, abaixo transcrito:

"Art. 20. A perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos só se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória. Parágrafo único. A autoridade judicial ou

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administrativa competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer

necessária à instrução processual".

A Lei 8.429/1999 é clara ao estabelecer que a perda da função pública e a suspensão dos direitos políticos SOMENTE se efetivam com o trânsito em julgado da sentença condenatória. Ou, a autoridade judicial ou administrativa competente somente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se for fundamental à

instrução processual.

Nesse sentido o STJ:

PREFEITO. AFASTAMENTO. INSTRUÇÃO PROCESSUAL.

Se não há prova incontroversa de que o prefeito esteja embaraçando a instrução processual da ação de improbidade administrativa, não há que se cogitar no seu afastamento do cargo em pleno exercício do mandato, quanto mais no caso em que não há prova de que a instrução já se tenha iniciado. MC 3.181-GO, Rel. Min. José Delgado, julgado em 21/11/2000.

Em momento algum, o autor trouxe aos autos prova de que no presente momento o Prefeito está, sob qualquer forma, interferindo ou prejudicando o andamento da instrução do processo ou a arrecadação de provas.

Meras alegações ou suposições do autor, sem qualquer evidência probatória, não podem justificar o afastamento do Chefe do Poder Executivo do seu cargo. Tal conduta viola o Estado Democrático de Direito, a legalidade, a credibilidade das instituições e a soberania popular.

Reitera-se o entendimento do STJ no sentido de que o afastamento de prefeito do cargo deve respeitar o princípio da contemporaneidade, exigindo, para o seu deferimento, fundamentação lastreada em dados objetivos e concretos

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que demonstrem o perigo atual que a permanência no cargo pode acarretar para o município, o que não ocorreu no caso concreto (HC 331986 / PB).

No mesmo sentido temos os seguintes julgados do STJ:

“SUSPENSÃO DE LIMINAR. PREFEITO.

IMPROB IDADE ADM INIS TRATIVA.

AFASTAMENTO C AUTELAR. DEC IS ÃO QUE NÃO SE PRENDE AO AR T. 20, PARÁGR AFO ÚNICO, DA LEI 8.429/92. ILEGALIDADE. GR AVE LESÃO À OR DEM P ÚBLICA INSTITUC IONAL. 1. A C onsti tui ção Federal , quando trat a de independênci a e harm oni a, sustent a o deli cado equilíbrio ent re os Poderes da R epúbli ca. 2. Est e equilíbrio não excl ui compl et ament e a possibili dade de que um dos Poderes int erfira no outro. Há, ent retanto, previsão express a - em Lei ou na Constit ui ção - dos casos em que ess a int ervenção é legít ima. 3. Em se trat ando de i mprobidade admi nist rativa, só há uma hipótese t olerável d e intervenção do Poder Judi ci ári o nos dem ais Poderes para afast ar agentes políti cos: Art. 20, parágrafo úni co, da Lei 8.429/ 92. 4. Val e di zer: a gravidad e

dos ilí ci tos imputad os ao agen te políti co e mesmo a exi stên cia d e rob ustos indí ci os contra el e não autori zam o afastamento cautelar, exatamen te porqu e não é essa a previsão l egal. 5. A decis ão que

det ermina o afastam ent o caut elar do agente pol íti co por fundam ent o disti nto daquel e previsto no Art . 20, parágrafo úni co, da Lei 8.429/ 92, revel a i ndevi da inter ferênci a do P oder Judi ciári o em outro Poder, rompendo o deli cado equilí brio i nstitucional tutel ado pela Consti tuição. 6. S urge, então, grave lesão à ordem públi ca inst itucional , reparável por meio dos pedidos de suspensão de deci s ão judi ci al (Arts. 4º da L ei 4.348/64, 12, § 1º, da Lei 7.347/ 85, 25, caput, da Lei 8.038/90 e 4º da Lei 8.437/92). 7. Para qu e seja lí cito e legí timo o afas tam ento

cau tel ar com b ase n o Art. 20, p arágrafo único, da Lei 8.429/ 92, não bastam simples ilações , con jecturas ou p resunções . Cabe ao jui z indi car, com precisão e baseado em provas, de q ue forma - direta ou indi reta - a in stru ção processu al foi tumultuad a p elo agente polí ti co qu e se pretend e afastar.” (AgRg na SLS. 857/RJ, Rel. Ministro

HUMB ERTO GOMES DE B ARROS , CORTE

ESPEC IAL, j ulgado em 29/05/2008, DJe 01/07/2008, REPDJ e 14/08/2008) (com dest aques )

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No m esm o sentido: AgR g na SLS .867/CE, R el. Minist ro AR I P ARGENDLER , C ORTE ESPEC IAL, julgado em 05/ 11/ 2008, DJe 24/ 11/ 2008; R Esp 889.461/P I, Rel . Mi nistro GILSON DIP P, QUINTA TURM A, jul gado em 12/ 12/2006, DJ 05/ 02/2007; e REsp 568.563/P I, R el. Mi nist ro HAMILTON CARVALHIDO, SEXTA TURM A, j ul gado em 27/04/2004, DJ 17/05/2004, dent re out ros.

Assim, não há subsunção dos fatos narrados na inicial ao comando normativo do art. 20 da Lei de Improbidade, de modo que não merece ser acatado o pedido de afastamento do Prefeito.

Não bastasse isso, não existe no caso em apreço o fumus boni juris e periculum in mora necessário para a concessão do provimento judicial acautelatório.

Não existe o fumus boni júris, tendo em vista toda a argumentação trazida nessa peça de defesa. De outra banda, não existe perigo da demora, tendo em vista que o contrato já foi encerrado e todos os pagamentos foram feitos com o acompanhamento do TCE.

Além disso, cabe destacar que houve a perda do objeto do pedido liminar visa suspensão de pagamentos à OS, fato esse que já ocorreu em função do encerramento das atividades do CTTC.

Reitere-se que os pagamentos realizados apenas remuneraram a contratada pelos serviços efetivamente prestados, conforme determinado pelo TCE.

Desta feita, todos os pedidos liminares merecem ser rejeitados.

IV - DO PEDIDO

Por tudo isso, o Defendente requer que:

a) Seja excluído do polo passivo da presente ação, tendo em vista que é parte ilegítima, já que não participou dos atos de contratação do Instituto Humanize; b) Caso seja superada a preliminar de ilegitimidade passiva, requer que sejam rejeitados os pedidos liminares e, no mérito, seja julgada totalmente improcedente a presente Ação Popular.

Nestes termos, Pede e espera deferimento.

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EDUARDO L. PORTO DE BARROS

OAB/PE 23.468

JULIO TIAGO DE C. RODRIGUES

OAB/PE 23.610

RAQUEL DE M. F. GOUVEIA

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