• Nenhum resultado encontrado

Exposição do Apocalipse Caps. 1-7 LEANDRO LIMA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Exposição do Apocalipse Caps. 1-7 LEANDRO LIMA"

Copied!
25
0
0

Texto

(1)

Exposição do Apocalipse

Caps. 1-7

(2)

© Leandro Lima Projeto Gráfico Vanessa Sousa Editora Agathos Revisão Carlos Henrique

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

Lima, Leandro Antonio de, 1975-Exposição do Apocalipse (Caps. 1-7) São Paulo : Agathos, 2015.

v.1.

n lui i lio ra a

ISBN: 978-85-99704-18-9

1. TEOLOGIA. 2. EXPOSIÇÃO BÍBLICA. 3. APOCALIPSE - TEOLOGIA - CURSOS. 4. BÍBLIA - ESTUDO E ENSINO. 5. BÍBLIA - COMENTÁRIOS. 6. FÉ 7. RELIGIÃO. i.Título.

2015

Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610 de 19/02/1998.

Agathos Editora (011) 5521-4495

(3)

Exposição do Apocalipse

Caps. 1-7

LEANDRO LIMA

1ª Edição 2015

(4)
(5)

SUMÁRIO 5

SUMÁRIO

Caps. 1-7

PARTE 1: AS SETE IGREJAS (AP. 1.1-3.22) 1 APOCALIPSE: AUTOR, DATA E LITERATURA 9 2 COMO INTERPRETAR O APOCALIPSE 17

3 AS PALAVRAS DO DEUS TRINO PARA SUA IGREJA 26 4 JOÃO E OS SETE CANDEEIROS DE OURO 34

5 CRISTO NO MEIO DOS SETE CANDEEIROS 40 6 AS SETE IGREJAS: ÉFESO 47

7 AS SETE IGREJAS: ESMIRNA E PÉRGAMO 54 8 AS SETE IGREJAS: TIATIRA E SARDES 59 9 AS SETE IGREJAS: FILADÉLFIA E LAODICEIA 68

PARTE 2: OS SETE SELOS (AP. 4.1-8.1)

10 A VISÃO CELESTE DA GLÓRIA DO DEUS CRIADOR 79 11 O LIVRO E O CORDEIRO 87

12 A COROAÇÃO DE CRISTO NOS CÉUS 93 13 O PRIMEIRO SELO E O CAVALEIRO BRANCO 100 14 OS CAVALOS VERMELHO, PRETO E AMARELO 106

15 O ESTADO DOS MORTOS E O JULGAMENTO DOS ÍMPIOS 112 16 DUAS MULTIDÕES, UM SÓ POVO 120

(6)
(7)

SUMÁRIO 7

PARTE 1: AS SETE IGREJAS

(8)
(9)

APOCALIPSE: AUTOR, DATA E LITERATURA 9

INTRODUÇÃO

Apocalipse, na mente das pessoas, está asso-ciado a imagens de catástrofes e destruição. Na mídia, na televisão, no cinema, quando se mostra alguma grande tragédia ou quando se faz menção a algum conflito nuclear, se evo-cam conceitos apocalípticos, como a guerra do Armagedom, por exemplo, causando a sensação de destruição em massa.

A maioria das pessoas tem um certo medo com relação ao Apocalipse. Até mesmo cris-tãos, por vezes, olham desconfiados para o li-vro. Muitos não o leem, porque não se sentem bem lendo este livro. Há muitos pregadores que nunca pregaram no livro do Apocalipse, não só porque o acham difícil de interpretar, mas também porque o acham estranho. Uma pergunta quase sempre feita é: Por que Deus escolheu esse estilo literário para revelar justa-mente a última parte da Bíblia?

O Apocalipse é um livro singular. Quando deixamos de estudá-lo estamos perdendo

algo muito importante, afinal de contas, ele faz parte do Novo Testamento, sendo o últi-mo livro do cânon. Ele contém uma revelação de grande importância que Deus quis que seu povo tomasse conhecimento. Por isso, ao contrário de medo, receio ou algo desse gêne-ro, devemos aprender a nos alegrar com esse livro, a admirar seu estilo literário, e a louvar e glorificar a Deus por ter revelado essa parte das Escrituras. Mas o único modo de conse-guir isso é estudando o livro com profundida-de, entendendo seu gênero literário. Isso fará com que admiremos mais essa parte da Reve-lação divina.

O livro começa com uma palavra: Revelação de Jesus Cristo. Na língua grega, o idioma ori-ginal utilizado pelo autor, aqui está a palavra Apocalipse (Ἀποκάλυψις). Por isso o livro ganhou este nome. Mas o que significa Apo-calipse? É o que está traduzido no português: revelação. Literalmente, a palavra tem o senti-do de “tirar o véu”, revelar aquilo que está en-coberto. Então, ao contrário de significar algo misterioso ou oculto, o Apocalipse é o que já

APOCALIPSE: AUTOR, DATA E LITERATURA

Apocalipse 1.1-3

(10)

foi revelado. É uma revelação de Jesus Cristo (genitivo subjetivo). Ou seja, o livro contém a revelação que o próprio Cristo deseja dar aos homens. Ao mesmo tempo, é o próprio Cristo o conteúdo dessa revelação (genitivo objetivo).

Por sua vez, coerentemente com o que o próprio João registrou a respeito de Jesus no seu Evangelho, a fonte última da revelação é “Deus, o Pai de Jesus Cristo” (Jo 7.16), o qual deu essa revelação ao Senhor Jesus. Então o Senhor passou essa revelação ao anjo, o anjo passou a João, João a escreveu, e por isso che-gou até nós.

Alguns estudos têm demonstrado que o con-ceito da palavra “revelação” utilizada por João tem sua base em Daniel 2 (BEALE, 1999, p. 50ss, 181ss), quando Nabucodonosor teve o sonho e chamou os encantadores para que o revelassem. Porém, Nabucodonosor quis algo incomum. Ele desejou que tanto o sonho quanto seu significado fossem esclarecidos pelos adivinhadores. Somente Daniel conse-guiu isso: “Então, foi revelado o mistério a Da-niel numa visão de noite” (Dn 2.19). Portanto, Daniel viu tanto os símbolos que faziam parte do sonho de Nabucodonosor, quanto o signi-ficado deles. Esta é uma boa definição para o que é o Apocalipse: Através da visão espiritu-al, João viu os símbolos pictóricos através de uma visão e recebeu a interpretação deles. I. AUTOR E DATA DA ESCRITA

A tradição cristã tem entendido que o João que escreveu o livro foi o próprio Apóstolo, o filho de Zebedeu e irmão de Tiago. Deve ser lem-brado que o autor se identificou como João, cujo nome, sem qualquer outra qualificação, aponta para o Apóstolo João, autor do Quarto

Evangelho e das três Epístolas Joaninas, segun-do a tradição cristã ortosegun-doxa. Embora muitos estudiosos rejeitem esta ideia (FORD, 1975; CHARLES, 1920), há evidências suficientes para manter a opinião tradicional da Igreja de que o Apóstolo João escreveu o Apocalipse. A principal evidência externa a favor da au-toria joanina é o testemunho praticamente unânime dos pais da igreja. Dentre eles, dois merecem destaque. O primeiro é de Justino Mártir, que escreveu em aproximadamente 135 d.C.:

“Houve um certo homem conosco, cujo nome era João, um dos apóstolos de Cristo, que profetizou, por revelação que lhe foi feita, que aqueles que creram em nosso Cristo po-deriam habitar mil anos em Jerusalém” (1885, LXXXI, p. 239-240)1 .

Como aponta Kistemaker (2004, P. 34), entre o final da vida de João, estimado em 98 d.C., e o pronunciamento de Justino, se passaram menos de 40 anos, o que significa que teste-munhas oculares poderiam confirmar a vera-cidade da informação.

O segundo testemunho é o de Irineu, que foi discípulo de Policarpo. Escrevendo sobre o número da besta, ele disse:

“E este número sendo encontrado em todas as mais aprovadas e antigas cópias [do Apoca-lipse], e aqueles homens que viram João face a face deram seus testemunhos” (1985, XXX, 1, p. 558).

Irineu, que também viveu no início do segun-do século, conheceu, provavelmente, Policar-po e Papias, que, Policar-por sua vez, conheceram João

1 Justino, como vários

dos primeiros pais da igreja, sustentava uma visão literalista do Apocalipse, por isso interpretava que o milênio de Ap 20 era literal. Posteriormente, outros teólogos como Vitorino, Ticônnio e, prin-cipalmente, Agostinho, começaram a interpretar o livro espiritualmente, ou seja, como símbolos que descreviam uma realidade espiritual. Para esses, o milênio não seria um período literal de mil anos.

(11)

APOCALIPSE: AUTOR, DATA E LITERATURA 11

“face a face”. Eles testemunharam que João, o Apóstolo, era o autor do Apocalipse.

A evidência interna, além da identificação ex-plícita do autor que se denomina João, vem das semelhanças do Apocalipse com os ou-tros escritos atribuídos ao Apóstolo (Evange-lho e Cartas). Há, todavia, diferenças gramati-cais entre os referidos escritos. O Apocalipse tem um estilo gramatical mais “pobre” do que o do Evangelho e o das cartas. Isso poderia ser explicado pelo fato de que, em Patmos, João não teria ajuda de um secretário para redigir o texto.

A época da escrita é importante para o en-tendimento da obra. A data mais provável é o final do reinado de Domiciano (81-96 d.C.). Irineu afirma explicitamente que o livro havia sido revelado nessa época: “Pois que foi visto não muito tempo atrás, mas quase em nossos dias, no final do reino de Domiciano” (1895, XXX, 3, p. 560).

Domiciano foi o primeiro imperador roma-no a reivindicar para si todos os direitos divi-nos. A adoração ao Imperador se tornou uma questão difícil para o Cristianismo, uma vez que esta se opõe ao primeiro mandamento. A religião tornou-se, assim, oficialmente inimiga do Estado (POHL, 2001, p. 23). Esse acabou sendo o maior teste para o Cristianismo no fi-nal do primeiro século.

Portanto, João estava bastante envelhecido quando teve a visão e escreveu o livro. João, entre os apóstolos, foi quem viveu mais tem-po. Havia até mesmo uma lenda de que ele não morreria. Isso está registrado no final de seu Evangelho (Jo 20.20-24). Muitos pensa-vam que ele nunca morreria, pois ele estava bem idoso - perto dos 100 anos de idade, o

que, sem dúvida, era algo singular para o pri-meiro século, quando a expectativa de vida era de 38 a 45 anos.

II. O ESTILO APOCALÍPTICO

Toda a Bíblia é revelação inspirada por Deus. Mas o Apocalipse é uma revelação especial dentro desta revelação, porque ele tem cará-ter e peculiaridade exclusivos, que não serão achados facilmente em outros livros da Bíblia. Pelo menos não em livros completos do An-tigo Testamento. Há porções apocalípticas (que usam o mesmo estilo) em livros como Isaías, Ezequiel, Zacarias e especialmente em Daniel. O livro de Daniel é considerado o Apocalipse do AT. Mas ele não é inteiramen-te apocalíptico, porque inteiramen-tem uma grande parinteiramen-te histórica, onde são narrados os períodos de Daniel e seus amigos na corte da Babilônia. A segunda parte do livro, quando Daniel recebe visões do céu e do futuro, e através de anjos recebe interpretação dos eventos e os registra, é, tecnicamente falando, apocalíptica.

Há porções assim também no Novo Tes-tamento. Por exemplo, em Mateus 24, no chamado sermão profético, quando Cristo começou a falar a respeito da destruição de Jerusalém e do fim do mundo. Nos textos si-nópticos de Marcos e Lucas há repetições pa-recidas com essa de Mateus 24.

Também há algumas porções escatológicas nas cartas. Por exemplo, as duas cartas aos tes-salonicenses e o capítulo 15 de 1 Coríntios. Há grandes porções escatológicas nesses tex-tos porque falam do futuro e usam linguagem figurada para descrever como será a ressurrei-ção, a segunda vinda de Jesus, além de quem será, como será e quando aparecerá o anticris-to.

(12)

O que há de especial no estilo apocalíptico é a linguagem misteriosa cheia de figuras, sím-bolos, números, cores, visões espetaculares, anjos, demônios, cidades gloriosas, batalhas, julgamentos etc. Um estilo que não foi escrito para ser lido como se descrevesse episódios literais. Esses símbolos, figuras e descrições fantásticas querem transmitir uma mensagem. Na maioria das vezes é uma mensagem sim-ples para quem tem “o código” ou “a senha” da leitura. Porém, quem desconhece o código vai se deixar levar pelas imagens fantasiosas crian-do interpretações ainda mais fantasiosas, qua-se qua-sempre perdendo o significado pretendido pelo autor.

No 1º século quando o Apocalipse foi escri-to, ele não era o único livro com esse estilo de linguagem. Há dezenas de livros chamados “apocalípticos”, escritos desde o 2º século a.C. até o 2º século d.C. Em um intervalo de mais de 300 anos esse estilo de literatura floresceu. Muitos deles utilizavam-se de nomes de gran-des personalidagran-des do passado a fim de lhes conceder autoridade. Por isso são chamados de pseudepígrafos (escritos falsos). Há vários livros judaicos atribuídos a Enoque, Abraão, Esdras, Baruque, Isaías, Moisés, etc. Evidente-mente, não podiam ter sido escritos por esses profetas, pois foram escritos muito depois da morte deles.

Porém, muitos desses escritos eram famosos e circularam pela Palestina e também pelo mun-do greco-romano daqueles dias. Depois que o Apocalipse de João foi escrito, surgiram mui-tos outros “apocalipses” cristãos atribuídos a Pedro, Paulo, Tomé e Nicodemos. Nenhum desses autores escreveu livros assim. O único “apocalipse” considerado canônico é o atribu-ído a João.

Entre os principais “apocalipses” antigos po-demos citar (D. S. RUSSELL, 1964, p. 37-39): • I Enoque 1-36 , 37-71, 72-82, 83-90 , 91-108 (164 a.C.).

• O Livro dos Jubileus (c. 150 a.C.).

• Os Oráculos Sibilinos, Livro III (c. 150 a.C.). • O Testamento dos Doze Patriarcas (segunda metade do século 2 a.C.).

• Os Salmos de Salomão (c. 48 a.C.). • A Assunção de Moisés (6-30 d.C). • O Martírio de Isaías (Judeu ou cristão?). • A Vida de Adão e Eva ou o Apocalipse de Moisés (c. 70 d.C.).

• O Apocalipse de Abraão 9-32 (c. 70-100 d.C.).

• O Testamento de Abraão (primeiro século d.C.).

• II Enoque ou O Livro dos Segredos de Eno-que (primeiro século d.C.).

• Os Oráculos Sibilinos, Livro IV (c. 80 d.C.). • II Esdras (=4 Ezra) 3-14 (c. 90 d.C.). • II Baruque ou O Apocalipse de Baruque (depois de 90 d.C.).

• III Baruque (segundo século d.C.).

• Os Oráculos Sibilinos, Livro V (segundo sé-culo d.C.).

(13)

APOCALIPSE: AUTOR, DATA E LITERATURA 13

2 Ou seja, aqueles que se

enquadram na chamada literatura apocalíptica, cujo nome se deu a partir do Livro do Apocalipse.

3 Uma das diferenças

básicas entre a profecia e os apocalipses está justamente no gênero. Como diz Rowley, “Os oráculos [proféticos] são apresentados usualmen-te em forma poética; os apocalípticos, em prosa, com ocasionais trechos poéticos” (1980b, p. 14). Mas a diferença maior é justamente o conteúdo e a forma como este é apresentado.

III. O PORQUÊ DOS APOCALIPSES

A literatura apocalíptica situa-se como o últi-mo estágio no conceito judaico a respeito de Deus no período bíblico. Os livros chamados de “apocalípticos”2 são um desenvolvimento do profetismo, ou talvez, poderíamos dizer, uma consumação3. O melhor modo de de-finir a literatura apocalíptica é dizer que ela mescla elementos tanto do profetismo quanto da sabedoria. É profetismo porque tenta ver o futuro e a vontade de Deus de forma mística tanto quanto os profetas; é sabedoria porque demonstra paixão pelo conhecimento, que somente pode ser alcançado por aqueles que são iluminados por Deus; vai além de ambos, porque a resposta final para a razão das coisas não está no tempo presente, mas num futuro, no escaton.

Segundo Paul Hanson, no fundo de todo mo-vimento apocalíptico há um “colapso de uma cosmovisão que estava em ordem e que de-finia para um povo os valores e as ordens do universo, colapso este que então o lança no caos da anomia e da falta de sentido” (1983, p. 36). O exílio, de fato, foi um colapso. Por isso ele é o grande pano de fundo do surgimento da literatura apocalíptica.

O exílio babilônico foi uma catástrofe nacio-nal sem precedentes que nunca foi completa-mente revertida. A volta dos exilados após o decreto de Ciro não significou uma verdadeira recuperação do orgulho nacional. Os judeus foram autorizados a retornar para a Judeia no período do Império Persa, que substituiu o Império Babilônico, responsável pela captura do reino dos judeus em 586 a.C. Posterior-mente, Ciro permitiu aos judeus voltar à terra prometida para reconstruir o templo, em 538 a.C. Segundo o texto bíblico, Ester, uma judia,

se tornou rainha da Pérsia (470 a.C.). Esdras (456 a.C.) e Neemias (443 a.C.) voltaram ao país e instituíram reconstrução.

O Império Persa foi derrubado por Alexandre Magno (335-323 a.C.), que passou a gover-nar grande parte do mundo. Alexandre con-quistou a terra de Israel, e pouca coisa mudou nesse período no sentido político. Alexandre morreu jovem e não deixou sucessor. Basi-camente, o gigantesco Império Grego ficou divido em dois: ao sul, com os Ptolomeus do Egito, e ao norte, com os Selêucidas da Síria. Os judeus ficaram primeiramente sob o domí-nio do Egito (323-204 a.C.) e posteriormente foram subjugados por Antíoco, o Grande, da Síria (204-166 a.C.). Este segundo período foi bem mais difícil do que o primeiro, pois com a ascensão de Antíoco Epifânio ao trono da Sí-ria, iniciou-se uma das mais sombrias épocas da história judaica. O novo rei, em seu desejo de helenizar os judeus, desestimulou os velhos costumes e as práticas religiosas nacionais. Aos poucos a situação entre os judeus e Antí-oco foi se tornando insustentável, até que, para mostrar seu desprezo pela religião judaica e impor a helenização sobre o território, o rei en-trou no Santo dos Santos do Templo de Israel, sacrificou uma porca sobre o altar e espargiu o sangue sobre o edifício. Os sacrifícios e os cultos foram proibidos e o templo passou a ser de Zeus (ROWLEY, 1980b, p. 47-48). É neste período que apareceram os livros que foram reconhecidos como “apocalípticos”. Surgiram para “preencher um vácuo”, explicando os mo-tivos do domínio do mal e apontando para uma futura intervenção de Deus que salvaria os oprimidos (DOUGLAS, 1995, p. 89-90). Mounce diz que “o maior objetivo dos apoca-lipses foi explicar porque o justo sofre e por-que o reino de Deus demora” (1997, p. 03).

(14)

A mudança de perspectiva é notada quando se considera que:

“Para os profetas, os grandes impérios mun-diais eram instrumento nas mãos de Deus, para executar sua vontade em benefício do seu povo fiel, controlados por Deus, cuja von-tade domina toda a história. Para os autores de apocalipses, os grandes impérios mundiais são adversários de Deus, tenazmente resistin-do a sua vontade, que não triunfaria por meio deles, mas com sua aniquilação” (ROWLEY, 1980b, p. 38).

Assim, os apocalipses (livros com semelhan-ças com o Apocalipse de João), ou a literatura apocalíptica, desenvolvem o conceito dos ver-dadeiros adversários de Deus. Há forças espi-rituais malignas agindo no mundo. Mais uma vez, o exílio babilônico foi fundamental para isso. A partir do exílio, a pessoa de Satanás co-meçou a ganhar destaque. Não há nenhuma referência a Satanás na Bíblia Hebraica antes do exílio4 . A partir daí, o inimigo de Deus é revelado como a razão invisível para todo o sofrimento do povo de Deus.

Os apocalipses tentam demonstrar que existe uma realidade oculta por trás da realidade fí-sica. Essa realidade oculta é o que dá sentido para a realidade física. Assim, o profeta que teve a visão apocalíptica é alguém que aden-trou a esse mundo invisível e, através de um anjo mediador, recebeu a revelação de misté-rios (ver Ap 4). Ao ver o mundo invisível, ele percebe quem são os verdadeiros inimigos do povo, mas também percebe que o curso inteiro da história do mundo já foi predeter-minado por Deus, e todos os acontecimentos estão seguindo este cronograma que parece incompreensível a princípio, mas que no fi-nal demonstrará toda a sua harmonia (ver Ap

5-7). Segundo Gunneweg, uma característica marcante dos apocalipses é que:

“A história terrena transcorre segundo uma se-quência sólida subdividida em períodos, que tem de ser obedecida. Tudo somente acon-tece quando o tempo previsto por Deus está cumprido” (2005, p. 337).

Diante da terrível situação aparentemente insolúvel do tempo presente, os profetas apo-calípticos lançam-se totalmente na noção da soberania de Deus, e tentam consolar o povo dizendo que, apesar de tudo o que está acon-tecendo, Deus ainda está no controle, condu-zindo a história para o cumprimento de seus secretos e misteriosos propósitos. Ao mesmo tempo, desafiam o povo a permanecer fiel a Deus, pois, sem isso, não desfrutará da liber-tação futura.

IV. A SINGULARIDADE DO APOCALIPSE DE JOÃO

Há várias semelhanças entre o Apocalipse e a literatura apocalíptica. Richard Bauckham (1993, p. 09-12), por sua vez, assinala algumas diferenças relevantes para a nossa análise: o Apocalipse de João é mais prolixo no uso de imagens, e tem menos informações e/ou in-terpretações de visões decorrentes dos seres angelicais, em comparação aos outros textos da literatura apocalíptica. João insere, em seu texto, narrativas proféticas bem menores do que a de outros textos apocalípticos. O livro de João é bem mais coeso do que os demais apocalipses. Além disso, cria um mundo de imagens que adquirem significados diversos que podem ser evocados a qualquer momento ao longo de sua narrativa. A unidade e a conti-nuidade das imagens fazem do Apocalipse de João um livro distinto. Os outros apocalipses

4 Exceto no livro de Jó, o

qual conta uma história anterior, mas que prova-velmente foi registrada por volta do século V.

(15)

APOCALIPSE: AUTOR, DATA E LITERATURA 15

5 Com isso não se

preten-de dizer que o Apocalipse não contém informações importantes para outras épocas.

são pseudepígrafos, ou seja, foram escritos in-vocando a autoridade de alguém do passado, enquanto o Apocalipse de João fala das coisas do presente e não apenas de eventos futuros. Uma importante diferença entre o Apocalipse de João e os outros Apocalipses é o caráter de otimismo da obra. Os textos da apocalíptica judaica são essencialmente pessimistas e só veem a redenção em termos de uma era vin-doura. João, apesar de antever a era vindoura como o momento final de libertação, vê a His-tória como o desenrolar do soberano propó-sito redentor de Deus, ou seja, descreve Deus agindo no presente, transformando as reali-dades, dirigindo os eventos para a realização final de seus propósitos. O recorrente tema da necessidade de evangelização ao longo do livro aponta para isso. Logo, a Igreja deve não só confiar, mas também se purificar no tempo presente, e servir a Deus, pregando a mensa-gem salvadora ao mundo. Deus é o Senhor da Igreja, do futuro e da História, e usa a Igreja para transformar o presente.

Se, como já foi visto, o pano de fundo de Apo-calipse 1 é Daniel 2, então, o caráter otimista da obra se destaca ainda mais, pois no sonho de Nabucodonosor se previu tanto a grandeza dos reinos do mundo quanto a destruição de-les através do tempo messiânico (a pedra que destruiu a estátua no tempo dos pés de barro). Assim, por mais poderosa que a estátua ainda parecia nos dias de Roma, o fato é que o golpe decisivo para a destruição dela já havia acon-tecido, na vida, morte e ressurreição de Jesus. CONCLUSÃO

O maior problema com a interpretação do Apocalipse é que muitos se aproximam dele desejosos em descobrir acontecimentos que

poderiam ocorrer no futuro. Entretanto, como ressalta Marshall (2004, p. 548), o propósito do livro não é satisfazer a curiosidade sobre o curso de eventos futuros, e sim preparar e encorajar um grupo de igrejas a enfrentar as dificuldades que testariam a fé até o seu limite máximo5. Portanto, em consonância com o restante da Bíblia, o Apocalipse traz um con-teúdo teológico e moral. O grande concon-teúdo do Apocalipse é “a revelação de Jesus Cristo”.

(16)
(17)

COMO INTERPRETAR O APOCALISPE 17

INTRODUÇÃO

As pessoas hoje não conseguem entender o Apocalipse, em grande medida porque não estão habilitadas a ler o estilo de literatura ca-racterístico deste livro. Quando finalmente conseguem compreender alguns aspectos bá-sicos da literatura apocalíptica, e especialmen-te, alguns aspectos básicos do Apocalipse de João, então, a mensagem do livro se torna mais fácil e exata.

O que é o Apocalipse? É uma revelação espe-cial de Jesus. Mas o livro tem características e peculiaridades que precisam ser consideradas. Caso contrário, será muito difícil compreen-der o sentido e o significado da obra.

É importante notar que o próprio Apocalipse se autodefine como uma profecia. O Apóstolo João o chama de uma profecia atestada. João foi testemunha ocular de um tipo especial de revelação de Deus. Ele recebeu essa visão. No capítulo quatro, diz que subiu ao céu “em espírito” (Ap 4.1-2), ou seja, todos os

aconte-cimentos presenciados por João têm esse ca-ráter “espiritual”. Deus se autorrevelou a João através de símbolos que transmitem verdades espirituais. João contemplou as visões celestes (e terrenas) e as registrou no livro.

I. PASSADO, PRESENTE OU FUTURO? A questão mais importante nesse começo de estudo do livro é entender se primordialmen-te o Apocalipse fala do futuro, do passado ou do presente. Qual é a principal perspectiva do livro do Apocalipse? Que acontecimentos ele revela?

Grande parte das pessoas pensa que o Apoca-lipse revela principalmente o futuro. Muitos vão até o livro tentando compreender a “agen-da do amanhã”. De fato, as primeiras palavras do livro parecem corroborar para isso: “Reve-lação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em bre-ve debre-vem acontecer”. Ou seja, o Apocalipse foi escrito para revelar o futuro. Mas qual futuro? Ou melhor, o futuro de quem? Apesar da

ten-COMO INTERPRETAR O APOCALIPSE

Apocalipse 1.1-3

(18)

tação de responder que trata-se do “nosso fu-turo”, ou “do futuro da humanidade”, é preciso considerar que, primordialmente, era “o futuro dos leitores originais de João”, ou seja, os cren-tes daquelas sete igrejas que são mencionadas no livro. O futuro escatológico, aquele que diz respeito ao fim do mundo e à consumação de todas as coisas, apesar de importante e ge-nericamente descrito no Apocalipse, não é o conteúdo principal da mensagem do livro. O futuro daqueles primeiros leitores que viviam nas sete cidades mencionadas no livro era o objetivo da profecia. Descrever suas lutas, seus sofrimentos, mas também sua vitória em Cris-to, foi a razão primeira da grande revelação do Apocalipse.

E antes mesmo de falar de seu futuro, o livro fala de seu passado. O Apocalipse constrói toda a fundamentação doutrinária do Cristia-nismo que já aconteceu, pois sem esse “passa-do”, não há “futuro”. Por isso, o conteúdo cen-tral do Apocalipse é a cruz de Cristo, pois ela liga os céus à terra, o futuro ao passado. Mas o livro vai além disso. Cada cristão, em cada época da história, pode se identificar com as descrições feitas no livro. Além de des-crever o futuro “breve” dos primeiros leitores, João descreveu também o futuro “último”, aquele que se consumará na segunda vinda de Jesus. Somente naquele futuro “último”, os leitores de João (do primeiro século e de todos os séculos) encontram a definitiva esperança. Ou seja, não entenderemos o Apocalipse se não conseguirmos entender o mundo dos cristãos do final do primeiro século. Precisa-mos figuradamente “calçar as botas deles e afivelar os cintos como eles”, e encarar a socie-dade com a qual eles estavam acostumados, com todos os desafios e enganos que eles

pre-cisavam enfrentar a cada dia que saíam de suas casas. Somente após entender o livro a partir dessa perspectiva estaremos habilitados a en-tender qual mensagem o livro tem para nós hoje ou para o futuro que ainda não aconte-ceu.

É preciso fazer o esforço, portanto, de reviver os anos 95-96 d.C., quando o livro foi escrito. Como se vivêssemos nas cidades romanas da Ásia no final do primeiro século, precisamos compreender que Jesus Cristo nasceu na Ju-deia a noventa e tantos anos atrás, que morreu e ressuscitou entre 60 e 70 anos atrás. Ele pro-meteu retornar, mas até agora isso não acon-teceu. Desde então, a igreja cresceu em todas as direções do império. Vários imperadores reinaram e foram depostos durante esse perío-do. Houve muitos momentos de perseguição aos cristãos e outros de relativa tranquilidade. Mas, no momento, muitos dos irmãos estão sendo presos, perderam bens, outros foram reduzidos à condição de escravos, outros joga-dos às feras e outros julgajoga-dos e condenajoga-dos à morte diante dos tribunais romanos. A perse-guição voltou a ser intensificada com Domi-ciano, a partir da exigência de que o impera-dor fosse aimpera-dorado como deus. Os cristãos que resistiam estavam pagando um preço muito alto. Diante disso, surgiam algumas pergun-tas: Onde está a esperança para esses irmãos? Está no futuro? Que futuro os aguarda? Serão livrados da tribulação e da morte? Não. Terão que morrer. Enfrentarão os monstros. Por isso, prioritariamente, a esperança está no passado. Nos eventos que compõem e fundamentam o Evangelho. Neles, aqueles cristãos podem encontrar a esperança. O mundo pode tirar tudo deles, mas não pode lhes roubar o Evan-gelho. Por isso, os eventos são centrais e estão sempre sendo lembrados durante o livro. Por-tanto, o Apocalipse, mais do que tudo, fala do

(19)

COMO INTERPRETAR O APOCALISPE 19

passado; resgata, revela e traz o passado; revela o significado profundo daqueles eventos rela-cionados ao nascimento, a vida, morte, ressur-reição e ascensão de Jesus. E, a partir deles, o futuro daqueles crentes e dos crentes de todos os tempos é construído.

Se isso não ficar claro para nós, leitores de hoje, correremos o risco de nos perder em um labirinto de interpretações. O Apocalipse fala essencialmente do que Deus já fez, já realizou e já operou. Demonstra que os feitos de Deus realizados são a base e fundamento sobre o qual ele vai construir o futuro. O futuro não está solto, não é uma mera previsão ou proba-bilidade, mas algo certo e garantido, porque é construído sobre o fundamento do passado. II. A IMPORTÂNCIA DOS DETALHES O verso 3 diz: Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nelas escritas, pois o tempo está próximo.

O texto grego diz “Bem-aventurados são:

aquele que lê e aqueles que ouvem” (Μακάριος

ὁ ἀναγινώσκων καὶ οἱ ἀκούοντες). Ou seja, o leitor está no singular. Provavelmente, seja a descrição da metodologia como o livro era recepcionado e seu conteúdo compartilhado nas igrejas que o leram pela primeira vez. Uma pessoa ia à frente da igreja (pastor) e lia o livro para que as demais ouvissem.

O livro foi escrito provavelmente em papiro, e de algum modo foi contrabandeado de Pat-mos, onde João estava como prisioneiro. Pro-vavelmente, a primeira igreja a receber o livro foi Éfeso, a principal cidade da Ásia menor, onde João foi pastor no passado.

As pessoas daqueles dias eram mais treinadas a prestar atenção na leitura de um texto. E, cer-tamente, ao ouvirem, já no começo do livro, que havia uma bem-aventurança para o leitor e para os ouvintes, compreendiam que ali es-tava um texto para se prestar muita atenção. O simples fato de ter sido escrito pelo último dos Apóstolos, prisioneiro do império, era motivo para desejar ansiosamente conhecer as coisas que ele havia escrito. Talvez, eles esperassem uma carta como as que Paulo escreveu para eles muito tempo antes, ou um texto parecido com o Evangelho de João, o qual eles certa-mente conheciam. Mas quando começaram a ouvir, perceberam que se tratava de algo mui-to diferente, porém não menos inspirativo. Se eles prestassem muita atenção, veriam coi-sas extraordinárias. Se fizessem muito silêncio e seus ouvidos estivessem atentos a cada pa-lavra, eles entenderiam que o livro não é fan-tástico apenas por causa das suas imagens e símbolos, mas também pelos detalhes impres-sionantes de seu estilo literário.

O Apocalipse é um texto literário muito bem construído, com detalhes e recursos estilísti-cos impressionantes que reforçam seu sentido. Estudar a arte literária do Apocalipse, portan-to, ajuda a entender melhor o seu conteúdo teológico e/ou moral, além de causar ainda mais admiração pelo livro.

Por exemplo, eles ouviriam pela primeira vez João dizer “bem-aventurados” já no começo do livro para o leitor e para os ouvintes. Du-rante o livro inteiro, eles poderiam perceber que João repetiria o termo “bem-aventurados” mais seis vezes, num total de sete. Somente o leitor e os ouvintes atentos perceberiam isso. João usa muitos números no Apocalipse, mas

(20)

certamente o número sete é o principal. É o numero que representa Deus, a perfeição, as coisas celestes. Ele usa o número de maneira explícita e implícita. Explicitamente ele é cita-do 54 vezes em 30 versículos. Os principais são: sete igrejas, sete selos, sete trombetas e sete taças. Mas, além disso, há um impressio-nante uso implícito do número sete no livro. Como já mencionamos, há sete bem-aventu-ranças.

Vejamos todas elas:

• Bem-aventurados aqueles que lêem e aque-les que ouvem as palavras da profecia e guar-dam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo. (Ap 1.3)

• Então, ouvi uma voz do céu, dizendo: Escre-ve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham. (Ap 14.13) • Eis que venho como vem o ladrão. Bem--aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua vergonha. (Ap 16.15)

• Então, me falou o anjo: Escreve: Bem-aven-turados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E acrescentou: São estas as verdadeiras palavras de Deus. (Ap 19.9) • Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo con-trário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos. (Ap 20.6) • Eis que venho sem demora. Bem-aventura-do aquele que guarda as palavras da profecia

deste livro. (Ap 22.7)

• Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas. (Ap 22.14)

Se o leitor estivesse atento, ele contaria e ou-viria sete bem-aventuranças. E por que não seis, por que não oito? Porque há um padrão em torno do número sete nesse livro. Mais uma vez, se lembrarmos que o livro era para ser lido diante de uma congregação atenta, acostumada a esse tipo de procedimento, que sabia da importância dos detalhes desse tipo de literatura, as repetições causariam impres-sões profundas nos ouvintes. É importante notar que a maioria das “bem-aventuranças” diz respeito ao testemunho da fé diante de um mundo hostil. São bem-aventurados aqueles que creem e que foram redimidos por Cristo e sustentam até a morte esse testemunho diante dos homens.

Mais um exemplo pode ser útil. Existem sete referências à volta, à vinda iminente de Cristo: • Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João, (Ap 1.11)

• Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a es-pada da minha boca. (Ap 2.16)

• Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. (Ap 3.11) • Disse-me ainda: Estas palavras são fiéis e verdadeiras. O Senhor, o Deus dos espíritos

(21)

COMO INTERPRETAR O APOCALISPE 21

dos profetas, enviou seu anjo para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer. (Ap 22.6)

• Eis que venho sem demora. Bem-aventura-do aquele que guarda as palavras da profecia deste livro. (Ap 22.7)

• E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras. (Ap 22.12)

• Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus! (Ap 22.20)

E, novamente, por que sete? Ele quer trans-mitir uma mensagem com essas informações. Considerando que os cristãos do final do pri-meiro século aguardavam ansiosamente o re-torno de Cristo, que parecia demorado diante do sofrimento ao qual eram submetidos, ou-vir sete vezes que ele ou-virá “em breve” e “sem de-mora” certamente reforçava essa expectativa e esperança. É igualmente interessante notar que essas alusões sobre o retorno iminente de Cristo aparecem nos capítulos iniciais e finais do livro. Três no início e quatro acumuladas no fim. Assim, o livro começa e termina com a repetida asseveração de que Cristo não vai demorar. E, junto com essa notícia, aparece, em várias das declarações, uma exortação para “permanecer firme”, para guardar as palavras do livro, o que resultará em recompensa. É evidente que Cristo não retornou no pri-meiro século. Então, como isso poderia ser aplicado àqueles cristãos? Talvez, num sen-tido, a volta de Cristo também acontece quando o cristão parte desse mundo para se encontrar com ele. A morte dos crentes ocupa um destaque central no livro. Várias vezes ele

menciona o estado de bem-aventurança dos que morreram na fé. Porém, além disso, deve ser lembrado que a expectativa do retorno de Cristo é uma das características da verdadei-ra fé. O cristão não faz contas, não tenta adi-vinhar o dia do retorno, mas espera isso para qualquer momento, sem jamais descrer dessa possibilidade, pois o próprio Cristo disse que viria como “ladrão na noite” (1Ts 5.2). Do mesmo modo, há sete referências à Palavra de Deus.

• O qual atestou a palavra de Deus e o teste-munho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu. (Ap 1.2)

• Eu, João, irmão vosso e companheiro na tri-bulação, no reino e na perseverança, em Jesus, achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus. (Ap 1.9)

• Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. (Ap 6.9)

• Porque em seu coração incutiu Deus que re-alizem o seu pensamento, o executem à uma e deem à besta o reino que possuem, até que se cumpram as palavras de Deus. (Ap 17.17) • Então, me falou o anjo: Escreve: Bem-aven-turados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E acrescentou: São estas as verdadeiras palavras de Deus. (Ap 19.9. ) • Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus; (Ap 19.13)

(22)

• Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, (Ap 20.4)

Tudo isso seria muita coincidência se fosse aleatório. Mas é intencional. As marcas e usos dessas expressões reforçam a ideia de que, de fato, ele foi inspirado por Deus. As sete alusões à Palavra de Deus apontam para duas dire-ções: da veracidade da “palavra” que é atesta-da por Deus, e atesta-da necessiatesta-dade de os homens testemunharem-na perante um mundo hostil. Há sete referências no livro ao Deus Todo Po-deroso:

• Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo--Poderoso. (Ap 1.8)

• E os quatro seres viventes, tendo cada um de-les, respectivamente, seis asas, estão cheios de olhos, ao redor e por dentro; não têm descan-so, nem de dia nem de noite, proclamando: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo--Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir. (Ap 4.8)

• Dizendo: Graças te damos, Senhor Deus, Todo-Poderoso, que és e que eras, porque as-sumiste o teu grande poder e passaste a reinar. (Ap 11.:17)

• E entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Gran-des e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! (Ap 15.3)

• Ouvi do altar que se dizia: Certamente, ó Senhor Deus, Todo-Poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos. (Ap 16.7)

• Então, ouvi uma como voz de numerosa multidão, como de muitas águas e como de fortes trovões, dizendo: Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso. (Ap 19.6)

• Nela, não vi santuário, porque o seu santu-ário é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro. (Ap 21.22)

Diante do poderio romano e da fragilidade da igreja perante seus algozes, o poder de Deus parece sem eficácia. Porém, o livro mostra que o “todo-poderoso” continua agindo, mesmo que isso, por vezes, seja imperceptível.

É preciso concluir que essas repetições foram usadas intencionalmente. Sete referências à vinda iminente de Cristo, sete referências à bem-aventurança dos que permanecem fiéis mesmo diante do sofrimento injusto, sete re-ferências à veracidade da Palavra de Deus e sete ao caráter “todo-poderoso” do divino. O que tudo isso transmite? Numa palavra: espe-rança.

O número sete ainda é usado de maneira mais implícita no livro. Kistemaker (2004, p. 15) nota que há dois cânticos de louvor entoados pelas hostes celestiais e há um padrão de sete na composição dos cânticos: “Proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabe-doria, e força, e honra, e glória, e louvor” (Ap 5.12). Em Apocalipse 7.12, outra vez: “Dizen-do: Amém! O louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças, e a honra, e o poder, e a força sejam ao nosso Deus, pelos séculos dos

(23)

COMO INTERPRETAR O APOCALISPE 23

séculos. Amém!”. Tanto o Cordeiro, quanto o próprio Deus são exaltados com cânticos que atribuem sete expressões similares de adora-ção. A igualdade do Pai e do Filho, a perfeição de sua glória e louvor são sugeridas por esse padrão.

Essas marcas não podem ser vistas numa leitu-ra superficial, mas são percebidas quando se lê, se ouve e se estuda atentamente o livro. E há muitos outros números no livro, todos cheios de simbolismos, os quais, à medida que são considerados, revelam a grandiosidade dessa visão e o seu significado, como veremos ao longo desses estudos.

Ainda sobre o número sete, a importância au-menta, pois ele divide o livro em sete partes. E aqui está outro detalhe interessante, pois se alguém não vê e compreende essas sete divi-sões do livro, vai ter dificuldades de entender a estrutura da mensagem da obra. A causa da maior parte dos erros de interpretação do Apocalipse é considerá-lo como uma história que vai do capítulo 1 ao capítulo 22 de forma cronológica ou linear.

Ele foi escrito em sete seções paralelas. Como sabemos disso? Porque há marcas claras disso. Não só pela abundância do numero sete con-forme vimos, mas porque temos marcas claras dessa divisão sétupla. Vejamos:

Sete seções Paralelas

1. Cristo e os sete candeeiros (Ap 1-3) 2. O cordeiro e os sete selos (Ap 4-7) 3. As sete trombetas (Ap 8-11)

4. O dragão e as sete vozes (Ap 12-14) 5. As sete taças (Ap 15-16)

6. As visões de julgamento (Ap 17-19) 7. As últimas visões da consumação (Ap 20-22)

Que isso significa? Que essas seções não são contínuas, mas circulares. João vai contar a mesma historia sete vezes, nas sete seções. As-sim, se alguém ler cronologicamente, como uma sequência do 1 ao 22, verá muita coisa repetida como se fosse continuação. Parece que o mundo acabará meia dúzia de vezes, que Jesus voltará quatro vezes, que haverá três ressurreições dos crentes, que acontecerão vá-rias batalhas finais, quando, na verdade, todos esses eventos são únicos. A história é contada sete vezes.

O livro era para ser lido e ouvido nas igrejas. Repetir a história é um modo de fixar o mate-rial e o assunto na mente do ouvinte.

Qual história é contada sete vezes? A história que envolve os acontecimentos relativos aos crentes do primeiro século, desde a primeira vinda de Jesus, e em prospecção os aconteci-mentos que se sucederão genericamente no mundo até a segunda vinda de Cristo. Num resumo: toda a história da salvação envolven-do a primeira e a segunda vinda de Jesus. A história é contada sete vezes, mas cada vez tem um novo ângulo e progressão. Não é uma mera repetição; antes, é uma repetição extre-mamente criativa. É como se estivéssemos vendo um filme que se repete através de câ-meras diferentes, mostrando aspectos diferen-tes, ao mesmo tempo em que a história vai se

(24)

completando. Contando tantas vezes a mes-ma história, é como se a cada vez novas peças fossem colocadas no grande quebra-cabeça. Assim, a história vai ganhando corpo, consis-tência. Então, somente quando é contada pela sétima vez e todas as peças são colocadas, a história fica completa.

III. A RELAÇÃO COM O ANTIGO TESTA-MENTO

Além dos aspectos literários expostos acima, há mais um ponto crucial para se entender o Apocalipse: sua relação com o Antigo Tes-tamento. Em todos os capítulos, em todas as cenas descritas, João sempre está, de alguma maneira, fazendo menção ao Antigo Testa-mento. E isso não apenas através de citações de passagens veterotestamentárias, mas por meio da utilização de imagens, símbolos e temas. A teologia do Apocalipse é construída nessa relação direta com a teologia do Antigo Testamento, que passa também pelos evange-lhos e cartas apostólicas.

Entre os livros do AT que mais “aparecem” em Apocalipse, podemos citar Gênesis, Isaías, Ezequiel, Daniel e Zacarias. O livro de Gêne-sis é o pano de fundo de várias passagens do livro, e Daniel aparece quase que no livro intei-ro. O autor do Apocalipse se utiliza de diver-sas figuras do livro de Daniel, porém, não faz nenhuma citação direta do livro. Se o autor do Apocalipse foi um prisioneiro em Patmos (Ap 1.9), por certo, ele não dispunha de uma Bí-blia Hebraica. Entretanto, possuía um extensi-vo conhecimento do Antigo Testamento, pois fez 644 citações indiretas da Bíblia Hebraica (Segundo o texto grego UBS - FEKKES, 1994, p. 62)6 . Daniel é, sem dúvida, um dos mais ci-tados. A partir desse livro, João construiu sua visão dos inimigos escatológicos do povo de

Deus. Entretanto, João não copiou as cenas descritas em Daniel ou nos outros livros. Ele se apropriou delas, transformou-as, elevou-as a fim de revelar a grande mensagem divina da Redenção7.

CONCLUSÃO

Portanto, os dois aspectos fundamentais que nos ajudam a entender “o código” do Apoca-lipse são: o uso dos recursos literários e sua relação com o Antigo Testamento. Mantendo isso em mente, será mais fácil compreender o livro através da leitura dele.

A vitória de Jesus não está apenas no futuro, mas no passado. Ele já venceu, por isso nós, a Igreja, somos mais que vencedores. Não im-porta o que teremos que enfrentar: as perse-guições, as leis impostas, a violência. Não im-porta o que acontecer. Firmados na vitória de Cristo lá atrás, somos e sempre seremos mais que vencedores. Essa é a grande mensagem desse livro.

6 Não há concordância

entre os estudiosos do número de citações feitas por João do Antigo Testamento. De 250 até 700 são catalogadas. (FEKKES, 1994, p. 62). Isso, sem dúvida, se deve ao fato de não haver citações diretas. Assim, cada autor tem sua pró-pria metodologia para considerar uma citação. Mas, de qualquer modo, todos concordam que o número de alusões é muito elevado.

7 Dizemos que a

revela-ção divina é progressiva, ou seja, Deus não se revelou completamente de uma única vez, antes, foi se revelando mais e melhor ao longo da história bíblica, até se revelar plenamente na pessoa de Cristo. Assim, o Apocalipse, como consumação da revelação bíblica, amplia e leva à perfeição muitas das profecias do Antigo Testamento.

(25)

COMO INTERPRETAR O APOCALISPE 25

Referências

Documentos relacionados

PRESSURE poderá validar a aplicação da garantia. 7) São excludentes da garantia componentes que se desgastam naturalmente com o uso regular e que são influenciados pela insta- lação

10 Isso aconteceu para que todos se ajoelhem quando ouvirem o nome de Jesus, tanto aqueles que estão no céu, como aqueles que estão na terra ou mesmo debaixo da terra, 11 e para

Não se pode sequer invocar constrangimentos financeiros decorrentes do controlo de despesa pública, tão insignificante é em sede de Orçamento Geral do Estado, a despesa com o

A teoria coerentista, seguindo os críticos do correspondentismo, entende que não pode haver uma relação entre elementos – lingüísticos ou mentais – depositários da verdade

manutenção da ordem pública”, e elencou, no seu §1º, dentre as profissões que merecem especial proteção, os trabalhadores vigilantes que trabalham em unidades

primeira ação foi entregar uma carta convite à Chefia do Núcleo Regional de Maringá/PR, que autorizou a realização do estudo e o contato inicial com as escolas

Senhor Deus, criador do céu e da terra, que deu seu filho Jesus Cristo para nos salvar, peço pela igreja e pelos teus servos que trabalham na obra de evangelização, peço que tu,

Agora, vemos aqui na Escritura, em Apocalipse, que para este tempo final Deus, Jesus Cristo, enviará Seu Anjo Mensageiro para dar testemunho de todas estas coisas que em breve