SACHÊ Nota do Autor XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXXX XXXXX beber cada chá como se fosse um poema.
SUMÁRIO
Chá de Flor-de-Laranjeira | 07
Chá Branco | 08
Chá Verde | 09
Chá de Hortelã | 10
Chá de Maçã | 12
Chá de Boldo | 13
Chá de Camomila | 14
Chá de Cidreira | 15
Chá de Gengibre | 17
Chá de Alecrim | 18
Chá de Tangerina | 19
Chá de Capim-Limão | 20
Chá de Jasmim | 22
Chá de Erva-Doce | 23
Chá de Alfazema | 24
Chá de Canela | 25
chá de flor-de-laranjeira
agarro pelas costasessa falta toda de ruas sem saída para o choro preso
dentro do mar da gente que de tanta vida
carregamos quase um oceano lá nas lonjuras devotas
que nos desmoronam no amor que se esvai
na perda que não se explica
no chegar e partir dos aeroportos é tanto mar pra inundar
segunda terça quarta-feira que as roupas brincam de nadar sob o corpo.
chá branco
esse desmoronar dentro de caminhos rasos é um rolar e virar na cama
esperando o sono que tarda
que nem se importa com os olhos que abriram cedo pra mais um dia onde os mínimos afazeres
se vestem de pesadas tarefas
e ainda resta um conceito para a ilusão onde os ombros não permitem abrigo e querem por força ignorar a dor
a metáfora de hoje é
um mar que nunca vestiu azul.
chá verde
o nascer o pôr do sol
são recorrentes nas lentes fotográficas e as emoções tão corriqueiras que cabem em latinhas de biscoito
a luz já se anuncia tão pálida na água
se banha timidamente sem grandes flashes nos olhos observar a cacofonia da paisagem
é trazer para si o que não percorre interiores as antenas de telefone de rádio
estão armadas para capturarem o que escapou de dentro da vida que só cuida do intervalo entre a praticidade e o exato
um copo d’água sob a mesa uma chuva nos sapatos
uma dose de chá verde clicados na sua imensidão
no seu nascer no seu pôr de sol
haveriam de ser enaltecidos por suas funções que vão além de copo para ocupar-se de água chuva para molhar sapatos
e doses homeopáticas de chá verde ainda resta a liberdade fotográfica
que é uma parente próxima da liberdade poética.
chá de hortelã
beber a esperança em goles brevespara tratar de um mal onde o amor
não confirma presença.
chá de maçã
um gosto amargo na boca amargando o amor que chega
na saliva se mistura com os líquidos da caixa d'água do corpo
onde sentimentos gasosos escapam pelos dedos e
alcançam onde não havia mais nada de eterno fazendo pose pros
torpedos em abreviaturas emotions
pra sessão de filme comédia romântica pras algazarras e colisões
de mãos de cartas entre nós tomando chá de maçã
um gosto amargo na boca evaporando o amor
se desfaz antes mesmo de virar nuvem.
chá de boldo
: úmidas palavras para um poema quase seco sugado pela dureza de uma casa mal iluminada onde nenhum tipo de notícia chega e nem se pode colher jabuticabas que murcham de esperas um poema sem paciência para flores muitas flores na sua superfície
casinhas e arranjos de porta um pirata de fazer mesura um cemitério sem almas
um poema atravessando a sala saltitando de amargura.
chá de camomila
não tenho asas o suficiente para manter o equilíbriodentro dessas insustentáveis esperas quero uma válvula de escape
pegar a estrada e ouvindo no rádio rootless tree
eu vou com meus olhos fechados sem medo de bater numa árvore e
enchendo meus pulmões de aventura quero declamar com toda minha erupção um céu noturno
um vaso de flores um muro que seja
eu vou com minhas folhas de outono cobrindo o quintal da alma
mas, também eu vou
com a esperança abotoada
de quem joga pedras para cima e colhe uma explosão de
fogos de artificio.
chá de cidreira
queríamos pôr o sol fervendo nas gotículas de uma
chuva sem vergonha um chá laranja
preparado pelos fiapos de uma tarde indecisa cheia de chove não chove borrada de paisagem
através do vidro de
um carro em movimento de câmera lenta
onde avistamos árvores encharcadas telhados alimentando goteiras
as ruas exalando o cheio úmido da poeira uma cidade inteira
mergulhada de sol e chuva.
chá de gengibre
de um lado carregotoda fortuna de ter conhecido o amor
além do abismo da felicidade onde misturo caravelas
com mapa-múndi
para esbarrar nos teus olhos agasalhados de dias iguais vulneráveis de saudade. por outro lado carrego um coração partido cartas devolvidas sem extravios sem infiltrações
e restos de confetes nos cabelos.
chá de alecrim
Iuma casa de janelas vermelhas só enxerga a paixão
II
o sol queimando uma árvore de laranja em pleno fim de tarde é um não querer partir
III
no rio de janeiro tem um poeta tem um poeta no rio de janeiro escrevendo o mar...
chá de tangerina
o pote de açúcaré uma atlântida perdida no universo da cozinha a fila de formigas
avança subindo ligeiramente pra dentro do pote
pontilhismo preto no branco na xícara o chá de tangerina hoje teremos chá adoçado por grãos de cana
e formigas pretas.
chá de capim-limão
...é a rotina de uma chuvaque vem em migalhas de fios de água
onde o guarda-chuva é desnecessário
uma quinta-feira que nem cabe
dentro desse silêncio tão espaçoso
onde não consigo
fechar os olhos e perder a imagem de um avião
aterrissando na distância do azul queria os olhos de crianças aqui batendo firme nessa sensação de alma fora do corpo
onde as flores enterro
antes mesmo que murchem vou acreditando que isso é uma tristeza que o tempo põe no meio da gente.
chá de jasmim
daqui pra frentemeu amor vai se ferrar sozinho comer sossegado
como manda a boa etiqueta de quem precisa parar com seus punhados de melodramas
vou servir meu amor
com essa escassez de boca vermelha
e deixar prosseguir com meus domingos onde não caibo
onde não sei respirar onde o ar é um cimento
endurecido de más intenções
vou pôr meu amor na mala do carro de castigo no escuro
em pleno trânsito de são paulo.
chá de erva-doce
a menina recorta as asas dos passarinhos das revistas velhas sobre aves
cola no palito de picolé e
brinca de fazer revoada na varanda vou concluindo
que a solidão é algo que a gente desinventa...
chá de alfazema
desenho um peixena folha de carta envelhecida sem vestígio de mar
sem rio para ser pescado gosto de esboços
que resumem a nítida forma de ser só onde tudo se confunde
onde tudo supõe fuga onde tudo é longe
outro dia talvez eu desenhe um mar ou um rio
este será meu juramento.
chá de canela
a trivialidade no preparo do chá um ritual sem atrasos
de água sachê açúcar chaleira
distração de folhas amarelas no diálogo janela emoldurada
de gato pulando pra fora a cumplicidade de xícaras caladas em seus silêncios
entardecendo de velhos hábitos o chá servido
a palavra derramando bebericamos o tempo.
sou nortista, nasci em macapá (AP) em fevereiro de 1988, formado em letras. escrevo sobre as bobagens da vida, da natureza e do mundo. já escrevi alguns livros sobre palavras perfumadas, nenhum livro publicado de forma impressa, todos os livros publicados em PDF, afeto, lugares secretos e diálogos de peixes.
fui da amazônia ao sertão. já plantei árvore. me apaixonei e namoro os poemas de manoel de barros e adélia prado. acredito que a vida só é possível se a poesia se fizer presente em palavras, fala e abraços que se demoram.