EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA X.A VARA CÍVEL DA COMARCA DE SÃO GONÇALO.
Ref. Processo: zxzxzxzx
Autora: Carlos Renato Jordão da Silva. Réu: xzxzxzxzx.
Oscar L. de Lima e Cirne Neto, médico, Perito
deste juízo cumprindo o R. despacho de Fls. 71, vem a presença de V. Excia. manifestar-se sobre as críticas ao laudo pericial.
Assiste razão ao Autor quando levanta dúvidas sobre o período de incapacidade total e temporária sofrida pelo Autor.
Houve infelizmente um erro material na transcrição de período de incapacidade, que deve ser interpretado como sendo de seis dias, assim inicia-se na data do acidente, terminando seis dias após.
Ou seja, no grau percentual de 100% em caráter
temporário no período compreendido entre 27 de novembro de 1999 e dois de dezembro de 1999.
Quanto ao problema da 2.a vértebra cervical, assiste igualmente parcial razão ao Autor, uma vez que somos forçados a reconhecer, que a frase que empregamos, em sua construção deixa dúvidas que poderiam levar V. Excia. a equivocar-se quando de sua interpretação.
2. Deslocamento permanente das superfícies que compõem uma articulação e que, assim, perdem suas relações anatômicas normais. Pode originar-se de traumatismo, malformação (luxação congênita) ou de lesões outras, como artrites que incidam sobre articulação (luxação patológica ou espontânea). – Aurélio séc. XXI.
Assim, este deslocamento para ser rotulado como uma luxação, deve ser permanente e portanto, na imensa
maioria das vezes requer manobras intervencionistas (chamadas
de redução), ou quando estas falham, há de ser necessário uma
operação.
Uma luxação vertebral, significa que uma vértebra deslizou por cima uma da outra. Esta situação, se no pescoço, pode transformar-se em uma verdadeira emergência.
Se a luxação está estabilizada, requer quase sempre a instalação de um aparelho de tração cervical, fixo por pinos a tábua óssea do crânio; se a lesão for instável, requer operação de emergência em face da possibilidade de lesão medular e tetraplegia.
Se houve um deslizamento com retorno imediato a posição anterior, dizemos que houve uma sub-luxação.
Continuamos advogando a tese de que não podia haver uma luxação vertebral.
Vejamos a figura número 1 que estamos inserindo abaixo. Esta é exatamente a 2.A Vértebra Cervical, para qual chamamos a atenção. Apófise odontóide Articulação onde se apóia a 1a vértebra Canal medular
Assim, note V. Excia a tuberosidade que esta vértebra possui e que, por ser semelhante a um dente, foi chamada de apófise odontoióide.
Chamamos a atenção de V. Excia para a 1.A vértebra cervical também chamada de Atlas, em semelhança ao gigante mitológico que sustentava o globo terrestre.
Note portanto neste momento, V. Excia, como as duas vértebras interagem em articulação. Assim a segunda vértebra “penetra” no interior da primeira vértebra de modo que a articulação esteja limitada em uma flexão para frente.
Melhor entendida na foto abaixo.
Suporte vertebral articulação com o crânio 1A Vértebra Sobre ela se apóia a cabeça. 2A vértebra sobre ela se apóia a 1A Vértebra Apófise odontóide.
Como V. Excia pode perfeitamente perceber, qualquer movimento maior da 2.A Vértebra, implicará em esmagamento da medula por fratura da apófise odontóide exatamente na transição entre o bulbo e a medula chamada oblonga.
Neste sítio, qualquer traumatismo medular é quase sempre fatal. Naqueles raros casos em que não houver morte haverá no mínimo tetraplegia, ou seja, paralisia dos quatro membros com anestesia.
Vejamos bem a figura abaixo:
Boca Osso
occipital Primeira
vértebra Primeira vértebra
Segunda
vértebra odontóide.Apófise
Canal Medular.
Como se pode notar a apófise odontóide quase que aponta para a medula, e qualquer movimento implicaria em dano, medular, nesta área exatamente estão situados os nervos cardio-aceleradores e pulmonares.
A contusão medular neste local é no mais das vezes acompanhada de parada cardio-respiratória imediata.
Um fator acessório, que dá suporte a esta tese é o fato de que exatamente nesta área há um “alargamento” medular , ou seja, o canal medular é mais estreito.
Como se pode perceber perfeitamente, é virtualmente impossível que se faça uma luxação da 2ª Vértebra Cervical, sem que haja grave lesão medular.
Chama a atenção no entanto o fato, a descrição “...
dor na região cervical e parestesia (dormência) diminuição de força no MSD (membro superior direito)...”; ora isto sugere compressão de raiz
nervosa cervical, tais raízes, emergem da coluna vertebral a partir da 5.A vértebra, como podemos perfeitamente perceber na figura abaixo. Chamamos a atenção para o fato de que as três últimas raízes são responsáveis pela inervação do antebraço.
Mesmo assim, se tivesse havido uma luxação vertebral ainda que mínima a compressão da raiz nervosa causaria dor, dormência e perda de força. Tais dados não foram detectados no exame físico.
De qualquer modo a repercussão clínica desta afecção, jamais permitiria que o Autor ficasse tanto tempo sem procurar assistência médica ainda que fosse no serviço de pronto socorro pois a dor necessitaria de alívio.
Finalizando, foi o próprio Autor quem informou que tem dores eventuais, já retornou ao serviço e não mais procurou assistência médica, o que é incompatível com uma luxação vertebral cervical a qualquer nível.
Como a clínica do paciente parece ter sido frustra e de pequena duração, entendemos que possa ter havido uma projeção da cabeça para frente (fenômeno de chicote) durante o trauma, que provocou uma sub-luxação, talvez da 5ª vértebra cervical e compressão transitória das raízes do plexo braquial.
Optamos pela 5.A vértebra vez que esta, escrita à mão pode ter sido erroneamente interpretada como se fosse “2.A”. No entanto qualquer vértebra a partir desta vértebra (6A, 7A, Ou 1A torácica) poderia ter originado os fenômenos descritos pelo Pronto Socorro e que hoje não são mais detectáveis.
Este fenômeno compressivo, por ter sido temporário e momentâneo, não deixou qualquer seqüela tardia.
Assim sendo passamos a responder aos quesitos apresentados às fls. 70.
a) um novo RX não traria melhores condições de avaliar o estado atual do Autor e possíveis seqüelas que sejam presentes ou futuras ?
R: No nosso entendimento na completa ausência de seqüelas não;
aliás exames de imagens são complementares pra reforçar um diagnóstico;
b) uma vez vértebra cervical luxada sempre vértebra cervical luxada ?
c) Atualmente o Autor tem ou não tem uma vértebra cervical luxada?
R: No nosso entendimento não;
d) O fato de uma vértebra cervical luxada não apresentar seqüelas no presente, indica, com segurança, que estas não poderão ocorrer no futuro ?
R: Sim;
e) Uma vértebra cervical luxada pode causar a morte a longo prazo?
R: Não;
f) Qual foi o período de incapacidade total do Autor?
R: No grau percentual de 100% em caráter temporário no período
compreendido entre 27 de novembro de 1999 e dois de dezembro de 1999;
g) Como variou o percentual da incapacidade total e o retorno à capacidade?
R: A perícia médica, judicial ou administrativa, não avalia
variações de capacidade. Considera-se inicialmente, um período no qual o Autor está incapacitado totalmente para o trabalho; esta incapacidade, na imensa maioria dos casos, é temporária e o seu período, quando inexistem outras provas, é estimado por arbitramento. Cessada a incapacidade total (temporária) inicia-se o período incapacidade permanente, se houver, a contar do dia seguinte da cessação da incapacidade total.
No caso do Autor, não houve incapacidade permanente estando este, no nosso entendimento, perfeitamente recuperado.
h) A capacidade é hoje de 100%? R :Sim;