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Cultura e Identidades

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Academic year: 2021

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" " Introdução

Introdução

Sanjeev é engenheiro e alto funcionário de

Sanjeev é engenheiro e alto funcionário de uma empresa americana. Twinkle éuma empresa americana. Twinkle é mestranda do curso de Letras de Stanford. Ambos são indianos, embora tenham mestranda do curso de Letras de Stanford. Ambos são indianos, embora tenham  passado a maior parte

 passado a maior parte de suas vidas nos Estados Unidos. Conheceram-se por meio de suas vidas nos Estados Unidos. Conheceram-se por meio dede um arranjo de seus pais, durante uma festa na Índia. Em pouco mais de quatro meses um arranjo de seus pais, durante uma festa na Índia. Em pouco mais de quatro meses estavam casados e agora tinham se mudado para o estado de Connecticut. Em plena estavam casados e agora tinham se mudado para o estado de Connecticut. Em plena mudança, Twinkle começa a achar imagens cristãs pela casa, como um Cristo de mudança, Twinkle começa a achar imagens cristãs pela casa, como um Cristo de  porcelana branca, guardado num

 porcelana branca, guardado num armário em armário em cima do cima do fogão. Aos fogão. Aos poucos, ela passa poucos, ela passa aa colecioná-las, para o desagrado e a irritabilidade de Sanjeev, que não entende como colecioná-las, para o desagrado e a irritabilidade de Sanjeev, que não entende como sua mulher, sendo hindu como ele, poderia querer mantê-las na decoração da casa. sua mulher, sendo hindu como ele, poderia querer mantê-las na decoração da casa. Quando todos os achados parecem ter sido desvelados e a casa finalmente está Quando todos os achados parecem ter sido desvelados e a casa finalmente está arrumada, o casal oferece um jantar

arrumada, o casal oferece um jantar para os amigos de Sanjeev.para os amigos de Sanjeev.

Estes são, resumidamente, o cenário, as personagens e a trama do conto “Esta Estes são, resumidamente, o cenário, as personagens e a trama do conto “Esta casa abençoada” do livro

casa abençoada” do livro  Intérprete  Intérprete de de malesmales, publicado em 1999 e ganhador do, publicado em 1999 e ganhador do Prêmio Pulitzer de 2000, da escritora Jhumpa Lahiri. Reunião de nove contos, a obra Prêmio Pulitzer de 2000, da escritora Jhumpa Lahiri. Reunião de nove contos, a obra trata do encontro entre Oriente e Ocidente a partir das vivências cotidianas de trata do encontro entre Oriente e Ocidente a partir das vivências cotidianas de indianos radicados em Boston e de americanos de origem indiana. As memórias da indianos radicados em Boston e de americanos de origem indiana. As memórias da terra natal, os espantos e a falta de habilidade com um mundo diferente e, sobretudo, terra natal, os espantos e a falta de habilidade com um mundo diferente e, sobretudo, as experiências de tradução cultural compõem o tópos do

as experiências de tradução cultural compõem o tópos do livro.livro.

As personagens criadas nos nove contos são verdadeiras intérpretes de As personagens criadas nos nove contos são verdadeiras intérpretes de símbolos e significados entrepostos em condições de liminaridade, isto é, em símbolos e significados entrepostos em condições de liminaridade, isto é, em entre-lugares onde o borramento contumaz de identidades desliza continuamente em lugares onde o borramento contumaz de identidades desliza continuamente em

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situações de estranhamento, etnocentrismo e choque cultural. Aliás, estas situações situações de estranhamento, etnocentrismo e choque cultural. Aliás, estas situações  podem

 podem ser ser também também a a experiência experiência da da própria própria Jhumpa, Jhumpa, filha filha de de indianos, indianos, nascida nascida emem Londres e crescida em Rhode Island (EUA).

Londres e crescida em Rhode Island (EUA).

O livro como um todo ressoa a fala pós-colonial de personagens não apenas O livro como um todo ressoa a fala pós-colonial de personagens não apenas em posições confortáveis, com vistos,

em posições confortáveis, com vistos,  green  green cardscards ou naturalizadas, mas tambémou naturalizadas, mas também aquelas marcadas pela migração de indivíduos fugidos do subdesenvolvimento e aquelas marcadas pela migração de indivíduos fugidos do subdesenvolvimento e atraídos pela possibilidade de ascensão, ainda que numa condição subalterna e num atraídos pela possibilidade de ascensão, ainda que numa condição subalterna e num  país

 país estrangeiro. estrangeiro. EmEm Intérprete  Intérprete de de malesmales, a autora retrata literariamente o processo, a autora retrata literariamente o processo que Homi Bhabha (2003) chama de “DissemiNação”, isto é, a experiência da diáspora que Homi Bhabha (2003) chama de “DissemiNação”, isto é, a experiência da diáspora que funda o duplo, o cindido, o híbrido, o autômato e que nos impõe revisar os que funda o duplo, o cindido, o híbrido, o autômato e que nos impõe revisar os conceitos de cultura e identidade em perspectivas mais performativas ao invés da conceitos de cultura e identidade em perspectivas mais performativas ao invés da fixidez essenc

fixidez essencializada e enrijecializada e enrijecida que a pida que a própria idéia de rópria idéia de conceito sugeconceito sugere. re. MinhaMinha  proposta neste artigo é utilizar o

 proposta neste artigo é utilizar o conto “Esta casa abençoadaconto “Esta casa abençoada” como suporte para uma” como suporte para uma reflexão sobre cultura e identidade, discutindo, a partir da trama proposta por Jhumpa reflexão sobre cultura e identidade, discutindo, a partir da trama proposta por Jhumpa Lahiri, o que está em jogo na construção e utilização destes conceitos desde uma Lahiri, o que está em jogo na construção e utilização destes conceitos desde uma  perspectiva antrop

 perspectiva antropológica.ológica. 1. O contexto no texto 1. O contexto no texto

Uma frase localizada praticamente na abertura do texto propõe o

Uma frase localizada praticamente na abertura do texto propõe o seu contexto:seu contexto: “Será que os moradores eram cristãos fundamentalistas?” (LAHIRI, 2001, p.157). A “Será que os moradores eram cristãos fundamentalistas?” (LAHIRI, 2001, p.157). A  pergunta

 pergunta de de Twinkle Twinkle diante diante do do espanto espanto por por achar achar artigos artigos religiosos religiosos nos nos recantos recantos dede  praticamente

 praticamente toda toda a a casa casa brinca brinca de de borrar borrar as as fronteiras fronteiras culturais culturais entre entre Ocidente Ocidente ee Oriente. Pois, para nós ocidentais, os fundamentalistas são sempre os Outros, de Oriente. Pois, para nós ocidentais, os fundamentalistas são sempre os Outros, de religiões cujos símbolos, ritos e dogmas sequer nos interessamos por conhecer, mas religiões cujos símbolos, ritos e dogmas sequer nos interessamos por conhecer, mas de pronto acusamos. Inverter os termos devolvendo reflexivamente a pergunta, isto é, de pronto acusamos. Inverter os termos devolvendo reflexivamente a pergunta, isto é, colocar o cristianismo na pauta do radicalismo, parece ser a estratégia acionada por colocar o cristianismo na pauta do radicalismo, parece ser a estratégia acionada por Lahiri para impactar o leitor logo de início. De alguma maneira, o que a autora faz é Lahiri para impactar o leitor logo de início. De alguma maneira, o que a autora faz é demarcar uma linha divisória entre dois mundos – o indiano e o americano –, mas demarcar uma linha divisória entre dois mundos – o indiano e o americano –, mas uma linha que será esfumaçada ao longo do

uma linha que será esfumaçada ao longo do texto.texto.

Se pensamos com Dumont (1997) sobre esta linha, no caso, uma linha Se pensamos com Dumont (1997) sobre esta linha, no caso, uma linha

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(9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ (9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ %&&, !@@;FG>H>F8

%&&, !@@;FG>H>F8 ideologias

ideologias22 sociológicas quando sociológicas quando da da compreensão da compreensão da relação relação sociedade/indsociedade/indivíduo.ivíduo. Partindo de uma alteridade radical como a organização social das castas indianas, Partindo de uma alteridade radical como a organização social das castas indianas, Dumont sugere que há sociedades em que o indivíduo está englobado Dumont sugere que há sociedades em que o indivíduo está englobado hierarquicamente pelo todo, caso da Índia e de sociedades tradicionais; e sociedades hierarquicamente pelo todo, caso da Índia e de sociedades tradicionais; e sociedades em que o indivíduo, ao revés, engloba o todo, como uma espécie de encarnação da em que o indivíduo, ao revés, engloba o todo, como uma espécie de encarnação da  própria humanidade

 própria humanidade, caso das s, caso das sociedades ocociedades ocidentais modernaidentais modernas.s.

A proposição maussiana (MAUSS, 2003) de que jamais houve indivíduos que A proposição maussiana (MAUSS, 2003) de que jamais houve indivíduos que não tenham tido noção e sentido de sua própria individualidade espiritual e corporal não tenham tido noção e sentido de sua própria individualidade espiritual e corporal continua extremamente válida, porém acrescida da idéia de que o indivíduo, como continua extremamente válida, porém acrescida da idéia de que o indivíduo, como valor, e sua exacerbação presente no individualismo, como ideologia, é uma valor, e sua exacerbação presente no individualismo, como ideologia, é uma construção moderna da cultura ocidental. Neste sentido, enquanto na organização construção moderna da cultura ocidental. Neste sentido, enquanto na organização indiana em castas o indivíduo está

indiana em castas o indivíduo está refletido na hierarquia social, no refletido na hierarquia social, no Ocidente modernoOcidente moderno ele excede à sociedade e está acima

ele excede à sociedade e está acima dela através de agenciações amplas conferidas pordela através de agenciações amplas conferidas por concepções tais como liberdade e igualdade. O indivíduo, portanto, está acima da concepções tais como liberdade e igualdade. O indivíduo, portanto, está acima da  própria sociedade, ainda que apercepçõe

 própria sociedade, ainda que apercepções sociológicas, a exemplo da língua, continues sociológicas, a exemplo da língua, continue o

o “adestrando”“adestrando”..

Assim, dentro de uma

Assim, dentro de uma perspectiva dumontiana, “Esta casa abençoada” encenperspectiva dumontiana, “Esta casa abençoada” encena,a, inicialmente, uma distinção identitária das personagens em relação ao contexto inicialmente, uma distinção identitária das personagens em relação ao contexto cultural no qual vivem – o universo individualista americano. A primeira questão que cultural no qual vivem – o universo individualista americano. A primeira questão que está em jogo no conto é o conflito vivido pelas personagens em relação aos objetos está em jogo no conto é o conflito vivido pelas personagens em relação aos objetos cristãos encontrados ao longo da arrumação da casa. Como símbolos de parte da cristãos encontrados ao longo da arrumação da casa. Como símbolos de parte da cultura ocidental, eles se tornam os marcadores da alteridade. Por isso, quando a cultura ocidental, eles se tornam os marcadores da alteridade. Por isso, quando a  primeira estátua

 primeira estátua de Cristo de Cristo é achada é achada por Twinkle, por Twinkle, Sanjeev observa “[...] Sanjeev observa “[...] e pelo e pelo menosmenos  jogue

 jogue fora fora esta esta estatueta estatueta idiota idiota [...] [...] Não, Não, não não somos somos cristãos. cristãos. Somos Somos bons bons hindus”.hindus”.33 Para Sanjeev, a imagem não fazia qualquer sentido, não lhe dizia nada para além da Para Sanjeev, a imagem não fazia qualquer sentido, não lhe dizia nada para além da tomada de consciência de sua própria condição de estrangeiro nos Estados Unidos. tomada de consciência de sua própria condição de estrangeiro nos Estados Unidos.

É apropriado evocar aqui o que diz Geertz (1989) a respeito dos símbolos. É apropriado evocar aqui o que diz Geertz (1989) a respeito dos símbolos. Eles fazem parte de um sistema de significados públicos próprios a uma determinada Eles fazem parte de um sistema de significados públicos próprios a uma determinada

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cultura. Interpretá-los significa buscar o contexto a que estão referidos, perscrutando cultura. Interpretá-los significa buscar o contexto a que estão referidos, perscrutando uma coerência mínima entre

uma coerência mínima entre suas conexões.suas conexões.

Como sistemas entrelaçados de signos interpretáveis (o que eu chamaria símbolos, Como sistemas entrelaçados de signos interpretáveis (o que eu chamaria símbolos, ignorando as utilizações provinciais), a cultura não é um poder, algo ao qual podem ignorando as utilizações provinciais), a cultura não é um poder, algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os acontecimentos sociais, os comportamentos, as ser atribuídos casualmente os acontecimentos sociais, os comportamentos, as instituições ou os processos; ela é um contexto, algo dentro do qual eles podem ser instituições ou os processos; ela é um contexto, algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligível – isto é, descritos com densidade (GEERTZ, 1989, p. descritos de forma inteligível – isto é, descritos com densidade (GEERTZ, 1989, p. 24).

24).

Sanjeev entende que aqueles objetos são símbolos de um sistema cultural com Sanjeev entende que aqueles objetos são símbolos de um sistema cultural com significados próprios. E sabe perfeitamente que se trata de um sistema diferente do significados próprios. E sabe perfeitamente que se trata de um sistema diferente do seu. Ele, portanto, não consegue transitar dentro daquele contexto, não consegue seu. Ele, portanto, não consegue transitar dentro daquele contexto, não consegue interpretar aqueles símbolos e, por fim, acaba por desprezá-los como se quisesse interpretar aqueles símbolos e, por fim, acaba por desprezá-los como se quisesse  preservar o seu próprio sistema, vale dizer, o seu contexto natal hindu. Por

 preservar o seu próprio sistema, vale dizer, o seu contexto natal hindu. Por isso, todasisso, todas aquelas imagens achadas são para o personagem um “zoológico bíblico”, e é aquelas imagens achadas são para o personagem um “zoológico bíblico”, e é significativo que sejam um “zoológico” porque assim Sanjeev aproxima o significativo que sejam um “zoológico” porque assim Sanjeev aproxima o cristianismo da natureza, retirando-lhe da cultura.

cristianismo da natureza, retirando-lhe da cultura.

Intrigava-o o fato de que cada um deles à sua maneira era inteiramente ridículo. Sem Intrigava-o o fato de que cada um deles à sua maneira era inteiramente ridículo. Sem dúvida, faltava-lhes a aura do sagrado. Intrigava-o também constatar que Twinkle, dúvida, faltava-lhes a aura do sagrado. Intrigava-o também constatar que Twinkle, uma pessoa de bom gosto, estava encantada com eles. Aqueles objetos tinham algum uma pessoa de bom gosto, estava encantada com eles. Aqueles objetos tinham algum significado para ela, mas não para ele. Pelo contrário, irritavam-no. “A gente devia significado para ela, mas não para ele. Pelo contrário, irritavam-no. “A gente devia ligar para o agente imobiliário. Para dizer que largaram todas essas porcarias aqui. ligar para o agente imobiliário. Para dizer que largaram todas essas porcarias aqui. Pedir para ele levar tudo embora” (LAHIRI, 2001, p. 158).

Pedir para ele levar tudo embora” (LAHIRI, 2001, p. 158).

Ora, a linha divisória entre duas culturas está nitidamente traçada no conto Ora, a linha divisória entre duas culturas está nitidamente traçada no conto através das impressões das personagens em relação aos achados cristãos. Assim, através das impressões das personagens em relação aos achados cristãos. Assim, como que para adensar essa fronteira, Lahiri propõe um conflito entre Sanjeev e como que para adensar essa fronteira, Lahiri propõe um conflito entre Sanjeev e Twinkle. Enquanto ele despreza as imagens encontradas na casa, ela aos poucos as Twinkle. Enquanto ele despreza as imagens encontradas na casa, ela aos poucos as incorpora, tornando-as, inclusive, parte da mobília. Origina-se daí o desacordo do incorpora, tornando-as, inclusive, parte da mobília. Origina-se daí o desacordo do casal a partir do qual a autora revela a personalidade de cada um.

casal a partir do qual a autora revela a personalidade de cada um.

Aqui se pode pensar na ideia de Leach (1983) de que o comportamento Aqui se pode pensar na ideia de Leach (1983) de que o comportamento simbólico não só ‘diz’ alguma coisa, como também desperta emoções e, simbólico não só ‘diz’ alguma coisa, como também desperta emoções e, consequentemente, ‘faz’ alguma coisa. Pois na medida em que os objetos são consequentemente, ‘faz’ alguma coisa. Pois na medida em que os objetos são

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(9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ (9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ %&&, !@@;FG>H>F8

%&&, !@@;FG>H>F8 em Leach porque esta situação encaixa-se em certa medida na distinção que ele faz em Leach porque esta situação encaixa-se em certa medida na distinção que ele faz entre o simbolismo público e o privado.

entre o simbolismo público e o privado.

A essência do comportamento simbólico público é que ele é um meio de A essência do comportamento simbólico público é que ele é um meio de comunicação; o ator e a sua platéia compartilham de uma linguagem comum, uma comunicação; o ator e a sua platéia compartilham de uma linguagem comum, uma linguagem simbólica. Eles devem compartilhar de um conjunto comum de linguagem simbólica. Eles devem compartilhar de um conjunto comum de convenções em relação ao

convenções em relação ao significado dos diferentes elementos na linguagem, pois designificado dos diferentes elementos na linguagem, pois de outra forma haveria uma quebra na comunicação. Falando de modo geral, isto é o que outra forma haveria uma quebra na comunicação. Falando de modo geral, isto é o que entendemos por Cultura. Quando as pessoas pertencem a uma mesma Cultura, elas entendemos por Cultura. Quando as pessoas pertencem a uma mesma Cultura, elas compartilham entre si diversos sistemas de comunicação compreendidos compartilham entre si diversos sistemas de comunicação compreendidos mutuamente. Cada membro de uma tal Cultura atribuirá o mesmo significado a mutuamente. Cada membro de uma tal Cultura atribuirá o mesmo significado a qualquer item particular de

qualquer item particular de ‘ritual’ culturalmente definido.‘ritual’ culturalmente definido.

A qualidade característica do simbolismo privado é, ao contrário, seu poder A qualidade característica do simbolismo privado é, ao contrário, seu poder  psicológic

 psicológico o de de despertadespertar r emoções emoções e e alterar alterar o o estado estado do do indivíduo. indivíduo. A A emoção emoção éé despertada não por qualquer apelo às faculdades racionais, mas por algum tipo de despertada não por qualquer apelo às faculdades racionais, mas por algum tipo de ação deflagradora nos elementos subconscientes da personalidade humana. A ação deflagradora nos elementos subconscientes da personalidade humana. A extensão em que nossas próprias emoções privadas, em tais circunstâncias, são extensão em que nossas próprias emoções privadas, em tais circunstâncias, são também experimentadas por outros é algo que somente podemos supor (LEACH, também experimentadas por outros é algo que somente podemos supor (LEACH, 1983, p. 141).

1983, p. 141).

 Neste

 Neste sentido, sentido, as as personagens personagens partilham partilham do do mesmo mesmo sistema sistema de de significados,significados, isto é, de uma mesma cultura. Por isso, hipoteticamente, diante do simbolismo isto é, de uma mesma cultura. Por isso, hipoteticamente, diante do simbolismo  público das imagens cristãs, po

 público das imagens cristãs, poderiam reagir de modo semelhante, isto é, despderiam reagir de modo semelhante, isto é, desprezar osrezar os objetos como portadores de significados para si. É o que Sanjeev faz, mas não objetos como portadores de significados para si. É o que Sanjeev faz, mas não Twinkle. Para ela, os objetos dizem alguma coisa. Parece, então, que a lei leachiana Twinkle. Para ela, os objetos dizem alguma coisa. Parece, então, que a lei leachiana da apreensão pública de significados comuns para indivíduos de uma mesma cultura da apreensão pública de significados comuns para indivíduos de uma mesma cultura não opera aqui e que pensar num simbolismo privado, como ele mesmo propõe, não opera aqui e que pensar num simbolismo privado, como ele mesmo propõe, esclarece melhor a atit

esclarece melhor a atitude das personagens de “Esta ude das personagens de “Esta casa abençoada”.casa abençoada”. Se a intenção de Lahiri em

Se a intenção de Lahiri em Intérprete  Intérprete de de malesmales  é retratar em seus contos o  é retratar em seus contos o universo de indivíduos em condições de liminaridade, isto é, em condições sociais universo de indivíduos em condições de liminaridade, isto é, em condições sociais fronteiriças, nada mais apropriado que pensar as noções de cultura e identidade de um fronteiriças, nada mais apropriado que pensar as noções de cultura e identidade de um  ponto de vista antropológico, que contemple menos a fixidez cultural e i

 ponto de vista antropológico, que contemple menos a fixidez cultural e identitária dasdentitária das  personagens

 personagens e e aponte aponte mais mais para para a a idéia idéia de de mobilidade, mobilidade, deslizamento deslizamento ou ou mesmomesmo hibridez de suas experiências. Considerar que o Outro é sempre o distante e o hibridez de suas experiências. Considerar que o Outro é sempre o distante e o

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complexificar um pouco mais, pensar em indivíduos em trânsito, como no caso das complexificar um pouco mais, pensar em indivíduos em trânsito, como no caso das  personagens do

 personagens do conto conto aqui aqui trazido, trazido, significa significa romper romper com com qualquer qualquer assimilação assimilação maismais rígida do que possa ser entendido pela própria ideia de sociedade e do que lhe é rígida do que possa ser entendido pela própria ideia de sociedade e do que lhe é convencionalme

convencionalmente nte atribuídoatribuído a prioria prioricomo as noções de cultura e como as noções de cultura e identidade.identidade. Acredito, portanto, que a autora faz, num

Acredito, portanto, que a autora faz, num primeiro momento, contextualizar asprimeiro momento, contextualizar as  personagens

 personagens desde desde uma uma perspectiva perspectiva cultural cultural e e identitária, identitária, isto isto é, é, demarcademarca minimamente a condição de indianos radicados nos Estados Unidos. Essa fronteira minimamente a condição de indianos radicados nos Estados Unidos. Essa fronteira fica evidente na pergunta fundadora de Twinkle sobra a possibilidade de um fica evidente na pergunta fundadora de Twinkle sobra a possibilidade de um fundamentalismo cristão e, a seguir, com a intolerância de Sanjeev com relação às fundamentalismo cristão e, a seguir, com a intolerância de Sanjeev com relação às imagens cristãs encontradas. Mas é com o conflito do casal que Lahiri começa a imagens cristãs encontradas. Mas é com o conflito do casal que Lahiri começa a esfumaçar esta fronteira e dizer da liminaridade das personagens que se vêem na esfumaçar esta fronteira e dizer da liminaridade das personagens que se vêem na contingência de se tornar “intérpretes de males”.

contingência de se tornar “intérpretes de males”. 2. Borramentos e traduções

2. Borramentos e traduções

 No conto, como em tod

 No conto, como em todo o livro, Lahiri manipula perfeitao o livro, Lahiri manipula perfeitamente o borramentomente o borramento que representa a tradução cultural de diferentes mundos. Na figura de Sanjeev, esse que representa a tradução cultural de diferentes mundos. Na figura de Sanjeev, esse deslizamento aparece de modo indelével. Ele tem um bom emprego e uma idade deslizamento aparece de modo indelével. Ele tem um bom emprego e uma idade razoável. Sua mãe, então, o pressiona para que se case e lhe envia fotos de possíveis razoável. Sua mãe, então, o pressiona para que se case e lhe envia fotos de possíveis noivas indianas. Depois arranja um encontro com Twinkle. Mas a

noivas indianas. Depois arranja um encontro com Twinkle. Mas a idéia do casamento,idéia do casamento, no entanto, parece prescindir a de amor. Aliás, Sanjeev se sente desconfortável no entanto, parece prescindir a de amor. Aliás, Sanjeev se sente desconfortável quando Twinkle o pergunta se ele

quando Twinkle o pergunta se ele a ama:a ama:

Sanjeev não sabia se a amava. Respondera que sim quando ela lhe fez a

Sanjeev não sabia se a amava. Respondera que sim quando ela lhe fez a pergunta pelapergunta pela  primeira

 primeira vez, vez, uma uma tarde tarde em em Palo Palo Alto; Alto; estavam estavam sentados sentados lado lado a a lado lado num num cinemacinema escuro e quase vazio. Antes de começar o filme, um dos favoritos dela, uma fita escuro e quase vazio. Antes de começar o filme, um dos favoritos dela, uma fita falada em Alemão que ele achou muitíssimo deprimente, ela encostara a ponta de seu falada em Alemão que ele achou muitíssimo deprimente, ela encostara a ponta de seu nariz no dele, roçando em seu rosto os cílios cobertos de rímel. Naquela tarde, ele nariz no dele, roçando em seu rosto os cílios cobertos de rímel. Naquela tarde, ele respondeu que sim, que a amava, e ela ficou empolgada, e lhe pôs na boca uma respondeu que sim, que a amava, e ela ficou empolgada, e lhe pôs na boca uma  pipoca,

 pipoca, deixando deixando o o dedo dedo por por um um instante instante entre entre seus seus lábios lábios como como se se fosse fosse umauma recompensa por ele ter dado a resposta correta. Embora Twinkle não o tivesse dito, recompensa por ele ter dado a resposta correta. Embora Twinkle não o tivesse dito, Sanjeev presumia que também ela o amava, mas agora não tinha mais tanta certeza. Sanjeev presumia que também ela o amava, mas agora não tinha mais tanta certeza.  Na

 Na verdadeverdade, , Sanjeev Sanjeev não não sabia sabia o o que que era era o o amor, amor, só só sabia sabia o o que que o o amor amor não não eraera (LAHIRI, 2001, p. 168)

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!"#$%&'( *+,'#-.+"/,#( 0 1+&&%2 3%&'4"%( 5 6%'#"('7"(86%'#"('7"(8

(9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ (9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ %&&, !@@;FG>H>F8

%&&, !@@;FG>H>F8 melhor, algo que o personagem não compreende completamente. Por isso receber

melhor, algo que o personagem não compreende completamente. Por isso receber fotos de possíveis nubentes não significava um absurdo. Casar-se seria uma decisão fotos de possíveis nubentes não significava um absurdo. Casar-se seria uma decisão  prescritiva.

 prescritiva.

“Você tem no banco dinheiro bastante para sustentar três famílias”, dizia-lhe a mãe “Você tem no banco dinheiro bastante para sustentar três famílias”, dizia-lhe a mãe toda vez que conversavam pelo telefone, no início de cada mês. “Você precisa de toda vez que conversavam pelo telefone, no início de cada mês. “Você precisa de uma esposa, para cuidar dela e amar”. Agora ele tinha uma esposa, uma mulher uma esposa, para cuidar dela e amar”. Agora ele tinha uma esposa, uma mulher  bonita,

 bonita, de de uma uma casta casta bem bem alta, alta, e e que que em em breve breve teria teria mestradomestrado. . Como Como não não amá-la?amá-la? (Idem, Op. Cit., p. 169).

(Idem, Op. Cit., p. 169).

 Note-se a

 Note-se a importância dada à importância dada à casta de casta de Twinkle, o Twinkle, o que sugere que que sugere que a hierarquiaa hierarquia como valor operou na escolha de

como valor operou na escolha de Sanjeev. Mas como que para hibridizar Sanjeev. Mas como que para hibridizar um pouco asum pouco as valorações das personagens, a autora põe em relevo outros elementos como o valorações das personagens, a autora põe em relevo outros elementos como o mestrado de Twinkle e o cargo de vice-presidente da empresa que Sanjeev estava por mestrado de Twinkle e o cargo de vice-presidente da empresa que Sanjeev estava por conquistar, isto é, elementos característicos da sociedade individualista moderna conquistar, isto é, elementos característicos da sociedade individualista moderna  porque

 porque sugerem sugerem uma uma mobilidade mobilidade social social que que independe independe do do nascimento, nascimento, isto isto é, é, dada tradição. Através destas interseções de diferentes valores esfumaçam-se as linhas tradição. Através destas interseções de diferentes valores esfumaçam-se as linhas culturais e identitárias demarcadas por Lahiri no primeiro instante do texto.

culturais e identitárias demarcadas por Lahiri no primeiro instante do texto.

É interessante notar como a autora constrói um universo de hibridez cultural É interessante notar como a autora constrói um universo de hibridez cultural ao redor das personagens, sua personalidade, experiência e sua relação. Sanjeev não ao redor das personagens, sua personalidade, experiência e sua relação. Sanjeev não conhece o amor e se casa (

conhece o amor e se casa (porque já é tempo) com porque já é tempo) com uma mulher de casta bem alta, uma mulher de casta bem alta, masmas também valoriza os atributos individuais de Twinkle, como o mestrado e o gosto em também valoriza os atributos individuais de Twinkle, como o mestrado e o gosto em comum que têm em relação à música e aos romances literários. Twinkle parece ser comum que têm em relação à música e aos romances literários. Twinkle parece ser uma mulher moderna, no sentido individualista do termo. Estuda, bebe, fuma, já havia uma mulher moderna, no sentido individualista do termo. Estuda, bebe, fuma, já havia

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um papel totalizante na formação destas mesmas identidades, no sentido de não dar um papel totalizante na formação destas mesmas identidades, no sentido de não dar conta do performativo que sempre extrapola, isto

conta do performativo que sempre extrapola, isto é,é,

“[...] as fronteiras da nação se deparam constantemente com uma temporalidade “[...] as fronteiras da nação se deparam constantemente com uma temporalidade dupla: o processo de identidade constituído pela sedimentação histórica (o dupla: o processo de identidade constituído pela sedimentação histórica (o  pedagóg

 pedagógico) ico) e e a a perda perda da da identidadidentidade e no no processo processo de de significaçsignificação ão de de identificaidentificaçãoção cultural (o performativo) (BHABHA,

cultural (o performativo) (BHABHA, 2003:216).2003:216).

Assim, é preciso pensar cultura e identidade em constantes deslizamentos, Assim, é preciso pensar cultura e identidade em constantes deslizamentos, independente da experiência da diáspora. A narrativa da nação não pode suprir com independente da experiência da diáspora. A narrativa da nação não pode suprir com todos os artifícios àquelas noções, sob pena de se criar uma glosa impermeável dos todos os artifícios àquelas noções, sob pena de se criar uma glosa impermeável dos dois conceitos. Mais uma vez recorro a

dois conceitos. Mais uma vez recorro a Bhabha para esclarecer esta asserção.Bhabha para esclarecer esta asserção.

 No lug

 No lugar da ar da polaridadpolaridade de e de uma uma nação nação prefiguraprefigurativa ativa autogeradutogeradora “ora “em si em si mesma” mesma” e dee de outras nações extrínsecas, o performativo introduz a

outras nações extrínsecas, o performativo introduz a temporalidade do entre-lugar. Atemporalidade do entre-lugar. A fronteira que assinala a individualidade da nação interrompe o tempo autogerador da fronteira que assinala a individualidade da nação interrompe o tempo autogerador da  produçã

 produção o nacional nacional e e desestabilizdesestabiliza a o o significadsignificado o do do povo povo como como homogênhomogêneo. eo. OO  problema

 problema não não é sé simplesmenimplesmente a te a “individua“individualidade” lidade” da da nação nação em em oposição oposição à aà alteridadelteridade de outras nações. Estamos diante da nação dividida no interior dela própria, de outras nações. Estamos diante da nação dividida no interior dela própria, articulando a heterogeneidade de sua população. A nação barrada Ela/Própria articulando a heterogeneidade de sua população. A nação barrada Ela/Própria [It/Self], alienada de sua eterna autogeração, torna-se um espaço liminar de [It/Self], alienada de sua eterna autogeração, torna-se um espaço liminar de significação, que é marcado internamente pelos discursos de minorias, pelas histórias significação, que é marcado internamente pelos discursos de minorias, pelas histórias heterogêneas de povos em disputa, por autoridades antagônicas e por locais tensos de heterogêneas de povos em disputa, por autoridades antagônicas e por locais tensos de diferença cultural (Idem, Op.

diferença cultural (Idem, Op. Cit., 2003, pags 209-210).Cit., 2003, pags 209-210).

Em “Esta casa abençoada”, esta liminaridade está demarcada não dentro de Em “Esta casa abençoada”, esta liminaridade está demarcada não dentro de um contexto específico, que poderia ser o da Índia ou o dos Estados Unidos, mas um contexto específico, que poderia ser o da Índia ou o dos Estados Unidos, mas exatamente no trânsito, pela migração e pelas contingências das (in)traduções exatamente no trânsito, pela migração e pelas contingências das (in)traduções realizadas pelas personagens, sobretudo no conflito do casal quanto ao que fazer com realizadas pelas personagens, sobretudo no conflito do casal quanto ao que fazer com as imagens cristãs encontradas. Neste sentido, o exercício de tradução cultural de as imagens cristãs encontradas. Neste sentido, o exercício de tradução cultural de Twinkle é impressionante. Ela parece deliciar-se com a “caça aos tesouros” e a cada Twinkle é impressionante. Ela parece deliciar-se com a “caça aos tesouros” e a cada

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(9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ (9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ %&&, !@@;FG>H>F8

%&&, !@@;FG>H>F8  para

 para as as pessoas pessoas que que moravam moravam aqui. aqui. Seria, Seria, sei sei lá, lá, uma uma espécie espécie de de sacrilégsacrilégio” io” (Idem,(Idem, Op. Cit., 2001, pags

Op. Cit., 2001, pags 157-158).157-158).

Mas o ponto culminante desta interiorização dos símbolos cristãos por Mas o ponto culminante desta interiorização dos símbolos cristãos por Twinkle ocorre quando ela, ao varrer o jardim, encontra “[...] uma Virgem de gesso Twinkle ocorre quando ela, ao varrer o jardim, encontra “[...] uma Virgem de gesso que chegava à altura da cintura deles, com um capuz pintado de azul recobrindo-lhe a que chegava à altura da cintura deles, com um capuz pintado de azul recobrindo-lhe a cabeça, à maneira das noivas indianas”.

cabeça, à maneira das noivas indianas”.44 Sanjeev intenciona levar a imagem para o Sanjeev intenciona levar a imagem para o depósito de lixo, mas Twinkle entra em desespero e chora, até conseguir entrar num depósito de lixo, mas Twinkle entra em desespero e chora, até conseguir entrar num acordo com o marido

acordo com o marido de modo que a Virde modo que a Virgem permanecesse na casa. Ela, portanto, criagem permanecesse na casa. Ela, portanto, cria um simbolismo privado em

um simbolismo privado em relação aos objetos cristãos achados, simbolismo este nãorelação aos objetos cristãos achados, simbolismo este não  partilhado por Sanjeev. Diz ela: “Vamos enc

 partilhado por Sanjeev. Diz ela: “Vamos encarar a realidade. Esta casa é abençarar a realidade. Esta casa é abençoada”.oada”.55 Jogar aqueles objetos fora poderia “dar azar”. É a

Jogar aqueles objetos fora poderia “dar azar”. É a partir desse trânsito performático dapartir desse trânsito performático da  personagem

 personagem de de Twinkle Twinkle e e da da aparente aparente intransigência intransigência de de Sanjeev Sanjeev que que desejo desejo pensarpensar como a Antropologia pode iluminar as

como a Antropologia pode iluminar as noções de cultura e identidade.noções de cultura e identidade.

Se é verdade que a narrativa pedagógica da nação não dá conta da construção Se é verdade que a narrativa pedagógica da nação não dá conta da construção da identidade pelos deslizamentos do performático, tal como entendo a proposição de da identidade pelos deslizamentos do performático, tal como entendo a proposição de Bhabha, acredito que essa narrativa enquanto tal é também uma ficção e que falar do Bhabha, acredito que essa narrativa enquanto tal é também uma ficção e que falar do Outro ou de outra cultura não é mais que realizar um experimento com a nossa Outro ou de outra cultura não é mais que realizar um experimento com a nossa  própria

 própria cultura, cultura, nos nos termos termos sugeridos sugeridos por por Wagner Wagner (1981). (1981). Neste Neste sentido, sentido, quandoquando utilizamos a idéia de nação para evocar as noções de cultura e identidade, mesmo utilizamos a idéia de nação para evocar as noções de cultura e identidade, mesmo sabendo que essa convocação é num sentido crítico

sabendo que essa convocação é num sentido crítico que quer extrapolar o que quer extrapolar o pedagógico,pedagógico, como faz Bhabha, nada mais fazemos que pensar o Outro em nossos próprios termos, como faz Bhabha, nada mais fazemos que pensar o Outro em nossos próprios termos, fabricando esse Outro a partir

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whole cultural and conceptual scheme but of part of it. We invent them as analogues whole cultural and conceptual scheme but of part of it. We invent them as analogues of Culture (as “rules”, “norms”, “grammars”, “technologies”), the conscious, of Culture (as “rules”, “norms”, “grammars”, “technologies”), the conscious, collective, “artificial” part of our world, in relation to a single, universal, natural collective, “artificial” part of our world, in relation to a single, universal, natural “reality”. Thus they do not contrast with our culture, or offer counter-examples to it, “reality”. Thus they do not contrast with our culture, or offer counter-examples to it, as a total

as a total system of conceptualization, but rather invite comparison as “other ways” system of conceptualization, but rather invite comparison as “other ways” ofof dealing, with our own reality. We incorporate them within our reality, and so dealing, with our own reality. We incorporate them within our reality, and so incorporate their ways of life within our own self-invention. What we can perceived incorporate their ways of life within our own self-invention. What we can perceived of the realities they have learned to invent and live in is relegated to the of the realities they have learned to invent and live in is relegated to the “supernatural” or dismissed as “merely symbolic (WAGNER, 1981, p. 142).

“supernatural” or dismissed as “merely symbolic (WAGNER, 1981, p. 142).

Assim, em que medida podemos falar de intérpretes como são as personagens Assim, em que medida podemos falar de intérpretes como são as personagens de Twinkle e Sanjeev? Pois quando se

de Twinkle e Sanjeev? Pois quando se fala de identidade e cultura fala de identidade e cultura e, no caso de “Estae, no caso de “Esta casa abençoada”, quando se pensa em indivíduos traduzidos exatamente porque casa abençoada”, quando se pensa em indivíduos traduzidos exatamente porque “pertencem” a uma cultura, têm uma determinada identidade, mas “vivem” ou “pertencem” a uma cultura, têm uma determinada identidade, mas “vivem” ou “operam” em outra, em outro contexto, está-se referindo a uma ficção de “operam” em outra, em outro contexto, está-se referindo a uma ficção de “pertencimento”, a uma ficção de “nação”, uma ficção do “contexto indiano” e do “pertencimento”, a uma ficção de “nação”, uma ficção do “contexto indiano” e do “contexto americano” e uma outra ficção que nos conduz à idéia do intérprete, como “contexto americano” e uma outra ficção que nos conduz à idéia do intérprete, como se estas categorias existissem

se estas categorias existissem a prioria priori, antecipadas ao próprio texto. Isso significa que, antecipadas ao próprio texto. Isso significa que o conto de Lahiri faz sentido apenas porque conta com a invenção de mundos o conto de Lahiri faz sentido apenas porque conta com a invenção de mundos distintos como Oriente e Ocidente, com a fabricação do Eu e do Outro que (acredito) distintos como Oriente e Ocidente, com a fabricação do Eu e do Outro que (acredito) se dá nos termos

se dá nos termos da experiência da própria autora.da experiência da própria autora.  Neste sentido, penso

 Neste sentido, penso que o que o texto conta texto conta com uma com uma invenção icônica de invenção icônica de mundosmundos distintos dentro dos quais, ou melhor, no trânsito entre os quais, as personagens distintos dentro dos quais, ou melhor, no trânsito entre os quais, as personagens manejam suas experiências. E o recurso do

manejam suas experiências. E o recurso do conflito vivido pelo casal é conflito vivido pelo casal é o que expressao que expressa essa invenção. Entretanto, o que considero estar em jogo no conto é se se deve mesmo essa invenção. Entretanto, o que considero estar em jogo no conto é se se deve mesmo acreditar nestes mundos distintos e nessa idéia de tradução que a condição liminar da acreditar nestes mundos distintos e nessa idéia de tradução que a condição liminar da migração sugere em termos culturais e identitários. Pois se os símbolos, no caso, os migração sugere em termos culturais e identitários. Pois se os símbolos, no caso, os achados cristãos, obtêm sentido apenas a partir

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!"#$%&'( *+,'#-.+"/,#( 0 1+&&%2 3%&'4"%( 5 6%'#"('7"(86%'#"('7"(8

(9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ (9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ %&&, !@@;FG>H>F8

%&&, !@@;FG>H>F8 frito, fofocar e discutir política” (LAHIRI, 2001, p.165), embora fossem pessoas que frito, fofocar e discutir política” (LAHIRI, 2001, p.165), embora fossem pessoas que ele mal conhecia e tivessem pouco em comum. Mas talvez exatamente pela presença ele mal conhecia e tivessem pouco em comum. Mas talvez exatamente pela presença desses seus conterrâneos, Sanjeev se sente desconfortável com a mobília de imagens desses seus conterrâneos, Sanjeev se sente desconfortável com a mobília de imagens cristãs que Twinkle tinha alocado no

cristãs que Twinkle tinha alocado no console sobre a lareira.console sobre a lareira.

Sanjeev pretendia perguntar-lhe se podia tirar o zoológico bíblico do console, mesmo Sanjeev pretendia perguntar-lhe se podia tirar o zoológico bíblico do console, mesmo que fosse só para a festa, mas ela saiu quando ele estava no banho. Só voltou três que fosse só para a festa, mas ela saiu quando ele estava no banho. Só voltou três horas depois, de modo que foi Sanjeev quem fez

horas depois, de modo que foi Sanjeev quem fez o resto da limpeza. Às cinco e o resto da limpeza. Às cinco e trintatrinta toda a casa brilhava; velas perfumadas, que Twinkle comprara em Hartford, toda a casa brilhava; velas perfumadas, que Twinkle comprara em Hartford, iluminavam a coleção sobre o console, e finos bastões de incenso estavam espetados iluminavam a coleção sobre o console, e finos bastões de incenso estavam espetados nos vasos de plantas. Cada vez que passava pela lareira Sanjeev fazia uma careta, nos vasos de plantas. Cada vez que passava pela lareira Sanjeev fazia uma careta, horrorizado de pensar nas reações de seus convidados ao verem os santos de horrorizado de pensar nas reações de seus convidados ao verem os santos de cerâmica, o saleiro e a pimenteira em forma de Maria e José (Idem, Op. Cit., pags. cerâmica, o saleiro e a pimenteira em forma de Maria e José (Idem, Op. Cit., pags. 171-172).

171-172).

A festa tem início. Os convidados chegam muito bem arrumados e com A festa tem início. Os convidados chegam muito bem arrumados e com  presentes para

 presentes para o casal. o casal. Sanjeev preparou Sanjeev preparou um jantar um jantar com muita com muita fartura defartura de samosas samosas nono molho de

molho de chutneychutney e champanhe. Está feliz por  e champanhe. Está feliz por saber que todos estão ali para prestigiá-saber que todos estão ali para prestigiá-lo, “[...] pois os convidados não eram familiares, e sim pessoas que o conheciam lo, “[...] pois os convidados não eram familiares, e sim pessoas que o conheciam superficialmente e, num certo sentido, nada lhe deviam”.

superficialmente e, num certo sentido, nada lhe deviam”.66 Tudo corre perfeitamente Tudo corre perfeitamente  bem,

 bem, apesar dele apesar dele ter ter que que explicar pela explicar pela “enésima vez “enésima vez que não que não era era cristão”, a cristão”, a despeitodespeito da decoração religiosa da casa. Mas eis que Twinkle decide contar aos convidados da decoração religiosa da casa. Mas eis que Twinkle decide contar aos convidados que a casa guarda “tesouros” escondidos e que arrumá-la é “[...] uma aventura diária. que a casa guarda “tesouros” escondidos e que arrumá-la é “[...] uma aventura diária. É muito divertido. Só Deus sabe o que vamos encontrar – é, só Deus, mesmo!”.

É muito divertido. Só Deus sabe o que vamos encontrar – é, só Deus, mesmo!”.77 O comentário da anfitriã desperta curiosidades em todos e, imediatamente, O comentário da anfitriã desperta curiosidades em todos e, imediatamente,

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Um por um os convidados foram desaparecendo, os homens ajudando as mulheres a Um por um os convidados foram desaparecendo, os homens ajudando as mulheres a colocar os pés calçados em sapatos de salto alto nos degraus estreitos da escada, as colocar os pés calçados em sapatos de salto alto nos degraus estreitos da escada, as mulheres indianas prendendo a ponta solta dos sáris caros na cintura. Os homens mulheres indianas prendendo a ponta solta dos sáris caros na cintura. Os homens foram depois, e logo todos haviam sumido, até só restar Sanjeev no alto da escada em foram depois, e logo todos haviam sumido, até só restar Sanjeev no alto da escada em espiral (Idem, Op. Cit., p.175).

espiral (Idem, Op. Cit., p.175).

Desagradado e decepcionado, Sanjeev tem vontade de fechar a escada do Desagradado e decepcionado, Sanjeev tem vontade de fechar a escada do sótão trancando a todos, enquanto pegaria todo “zoológico bíblico” e levaria para o sótão trancando a todos, enquanto pegaria todo “zoológico bíblico” e levaria para o depósito de lixo. Aqui, Lahiri tenta resgatar um pouco a idéia de limite, de fronteira depósito de lixo. Aqui, Lahiri tenta resgatar um pouco a idéia de limite, de fronteira cultural e identitária, reforçando o fato de Sanjeev ter desprezo pelas imagens. E ao cultural e identitária, reforçando o fato de Sanjeev ter desprezo pelas imagens. E ao fazer isso, a autora reforça o próprio conflito do casal, sugerindo sua desunião. Ele fazer isso, a autora reforça o próprio conflito do casal, sugerindo sua desunião. Ele está só. Ela com

está só. Ela com os convidados. Ele não consegue transitar. Ela traduz.os convidados. Ele não consegue transitar. Ela traduz.

Podia jogar num saco de lixo todo o zoológico bíblico de Twinkle, pegar o carro e Podia jogar num saco de lixo todo o zoológico bíblico de Twinkle, pegar o carro e largar tudo no depósito de lixo, e arrancar o pôster de Jesus chorando, e dar umas largar tudo no depósito de lixo, e arrancar o pôster de Jesus chorando, e dar umas marteladas na Virgem Maria também. Então voltaria para casa vazia; em uma hora marteladas na Virgem Maria também. Então voltaria para casa vazia; em uma hora recolheria todos os copos e pratos, depois se

recolheria todos os copos e pratos, depois se serviria mais uma dose de serviria mais uma dose de gim e comeriagim e comeria um prato de arroz requentado, ouvindo seu novo CD de Bach e lendo o folheto para um prato de arroz requentado, ouvindo seu novo CD de Bach e lendo o folheto para compreender a

compreender a música direito (Idem, Op. música direito (Idem, Op. Cit., pags.176-177).Cit., pags.176-177).

Assim, o conto nos encaminha ao debate acerca da ideia de cultura e de Assim, o conto nos encaminha ao debate acerca da ideia de cultura e de identidade através do jogo conflituoso que vivem as personagens, sua relação e o identidade através do jogo conflituoso que vivem as personagens, sua relação e o desenrolar da trama. O confronto Oriente

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(9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ (9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ %&&, !@@;FG>H>F8

%&&, !@@;FG>H>F8 identidade deve justificar seu título apresentando caminhos pra esses ‘intérpretes de identidade deve justificar seu título apresentando caminhos pra esses ‘intérpretes de males’. Como terminará o j

males’. Como terminará o jantar nesta ‘casa abençoada’?antar nesta ‘casa abençoada’?

Twinkle grita por Sanjeev enquanto desce as escadas do sótão junto com os Twinkle grita por Sanjeev enquanto desce as escadas do sótão junto com os convidados. Quer que ele veja o que

convidados. Quer que ele veja o que encontrou e que a ajude a encontrou e que a ajude a segurar.segurar.

Agora Sanjeev viu que os braços dela estavam segurando o objeto: um busto de Agora Sanjeev viu que os braços dela estavam segurando o objeto: um busto de Cristo de prata maciça, a cabeça três vezes maior que a dele. O nariz era adunco e Cristo de prata maciça, a cabeça três vezes maior que a dele. O nariz era adunco e nobre; o magnífico cabelo crespo caía sobre a clavícula pronunciada; a testa larga nobre; o magnífico cabelo crespo caía sobre a clavícula pronunciada; a testa larga refletia em miniatura as paredes, portas e abajures a seu redor. O rosto exibia uma refletia em miniatura as paredes, portas e abajures a seu redor. O rosto exibia uma expressão confiante, como se estivesse convicto da devoção de seus seguidores; os expressão confiante, como se estivesse convicto da devoção de seus seguidores; os lábios inflexíveis eram sensuais e cheios. [...] Enquanto Twinkle descia a escada lábios inflexíveis eram sensuais e cheios. [...] Enquanto Twinkle descia a escada Sanjeev a amparava com as mãos em sua cintura, e assim que ela terminou a descida Sanjeev a amparava com as mãos em sua cintura, e assim que ela terminou a descida ele tirou-lhe das mãos o busto. Pesava bem uns doze quilos (Idem, Op. Cit., pags. ele tirou-lhe das mãos o busto. Pesava bem uns doze quilos (Idem, Op. Cit., pags. 177-178).

177-178).

Frente a frente, enquanto os convidados retornavam à sala, Twinkle pergunta a Frente a frente, enquanto os convidados retornavam à sala, Twinkle pergunta a Sanjeev se ele ficaria muito

Sanjeev se ele ficaria muito chateado se ela colocasse o busto em exibição no chateado se ela colocasse o busto em exibição no consoleconsole e prometeu que, passado o jantar, ela o removeria para o seu escritório dela.

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é sempre performática. Por isso, embora Lahiri trace f

é sempre performática. Por isso, embora Lahiri trace fronteiras, ela em todo o texto ronteiras, ela em todo o texto asas  borra, sendo co

 borra, sendo coerente com sua erente com sua proposta ficcional dproposta ficcional de representar trânsitos e representar trânsitos e traduções.e traduções. Como todo bom texto literário, o final

Como todo bom texto literário, o final deve ser deixado ao leitor que decida. Édeve ser deixado ao leitor que decida. É nesta ‘estética da recepção’ que os sentidos são inventados, a despeito da nesta ‘estética da recepção’ que os sentidos são inventados, a despeito da intencionalidade do autor. Assim, quero registrar aqui uma interpretação possível, intencionalidade do autor. Assim, quero registrar aqui uma interpretação possível, guiada por este olhar antropológico que desejei emprestar ao conto. Mas antes de guiada por este olhar antropológico que desejei emprestar ao conto. Mas antes de concluir gostaria de pensar uma questão.

concluir gostaria de pensar uma questão.

Considerei anteriormente que Sanjeev e Twinkle eram as personagens de Considerei anteriormente que Sanjeev e Twinkle eram as personagens de “Esta casa abençoada”. Mas, inspirada em Latour (2005), incluo também como “Esta casa abençoada”. Mas, inspirada em Latour (2005), incluo também como  personagens os objetos religiosos encontrados na casa e, mesmo, a própria casa. Pois,  personagens os objetos religiosos encontrados na casa e, mesmo, a própria casa. Pois, como imaginar toda a trama sem incluir também como atores o ‘descanso com a como imaginar toda a trama sem incluir também como atores o ‘descanso com a imagem de Jesus’, ‘o saleiro e a pimenteira em forma de Maria e José’, a ‘Virgem do imagem de Jesus’, ‘o saleiro e a pimenteira em forma de Maria e José’, a ‘Virgem do  jardim’, o ‘busto de pra

 jardim’, o ‘busto de prata’, enfim, todo ‘zoológta’, enfim, todo ‘zoológico bíblico’? Explico-meico bíblico’? Explico-me.. Em

Em Reassembling the social  Reassembling the social , uma das propostas de Latour, ao resgatar a teoria, uma das propostas de Latour, ao resgatar a teoria de Gabriel Tarde, é de que o social como contexto inclui também o que não é social de Gabriel Tarde, é de que o social como contexto inclui também o que não é social em princípio dentro de uma perspectiva da Sociologia do Social. Por isso, ele – o em princípio dentro de uma perspectiva da Sociologia do Social. Por isso, ele – o social –, não é um domínio específico ou especial que inclui uma porção de coisas social –, não é um domínio específico ou especial que inclui uma porção de coisas  particulares,

 particulares, mas mas um um movimento movimento peculiar peculiar de de re-associações re-associações e e remontagens. remontagens. NesteNeste sentido, não existe sociedade como algo anterior, mas o coletivo que é produzido sentido, não existe sociedade como algo anterior, mas o coletivo que é produzido

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(9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ (9: ;< 9= > ? @AB;< C:DE@ %&&, !@@;FG>H>F8

%&&, !@@;FG>H>F8 evidencia o busto de prata de Cristo para deixar que o leitor decida se as personagens evidencia o busto de prata de Cristo para deixar que o leitor decida se as personagens humanas foram ou não capazes de resolver o

humanas foram ou não capazes de resolver o conflito.conflito.

Volto, então, à minha leitura. E vejo duas possibilidades interpretativas. A Volto, então, à minha leitura. E vejo duas possibilidades interpretativas. A  primeira seria a da

 primeira seria a da resignação de Sanjeev. Ele aceita as imagens cristãs na mobília resignação de Sanjeev. Ele aceita as imagens cristãs na mobília dada casa não exatamente por ter conseguido atribuir sentido a elas, mas como tolerância, casa não exatamente por ter conseguido atribuir sentido a elas, mas como tolerância, como uma espécie de ‘prova de amor’ em relação à Twinkle. Há um trecho onde essa como uma espécie de ‘prova de amor’ em relação à Twinkle. Há um trecho onde essa interpretação parece bem apropriada, quando ele está com o busto na mão, ainda em interpretação parece bem apropriada, quando ele está com o busto na mão, ainda em frente à descida da escada, e

frente à descida da escada, e fita a esposa admirando-a:fita a esposa admirando-a:

Sanjeev olhou para as pétalas de rosa amassadas no cabelo dela, a gargantilha de Sanjeev olhou para as pétalas de rosa amassadas no cabelo dela, a gargantilha de  pérolas

 pérolas e e safira safira em em seu seu pescoço, pescoço, as as unhas unhas dos dos pés pés pintadas pintadas com com esmalte esmalte vermelhovermelho reluzente. Concluiu que essas eram algumas das coisas que faziam com que Pabral a reluzente. Concluiu que essas eram algumas das coisas que faziam com que Pabral a  julgasse

 julgasse um pum pedaço. edaço. Sua Sua cabeça cabeça doía doía por por causa causa do do gim, segim, seus brus braços aços doíam doíam por por causacausa do peso da

do peso da estátua (LAHIRI, 2001, pags. 178-179).estátua (LAHIRI, 2001, pags. 178-179).

 Neste

 Neste momento, momento, não não há há tradução. tradução. Sanjeev Sanjeev não não teria teria re-significado re-significado nada. nada. AA fronteira cultural e identitária estaria mantida, pelo menos para a personagem dele: fronteira cultural e identitária estaria mantida, pelo menos para a personagem dele: um hindu num ambiente estrangeiro, desconfortável com signos que não são os seus. um hindu num ambiente estrangeiro, desconfortável com signos que não são os seus.

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surpresa, tais qualidades só o faziam detestá-la ainda mais. Acima de tudo, ele a surpresa, tais qualidades só o faziam detestá-la ainda mais. Acima de tudo, ele a detestava porque sabia que Twinkle a

detestava porque sabia que Twinkle a amava (Idem, Op. Cit., p.178).amava (Idem, Op. Cit., p.178).

Ora, a tradução está aí, na idéia do valor material do busto. No lugar de uma Ora, a tradução está aí, na idéia do valor material do busto. No lugar de uma tradução movida por uma espécie de altruísmo, de disposição para o Outro, de tradução movida por uma espécie de altruísmo, de disposição para o Outro, de  benevolência, Sanjeev

 benevolência, Sanjeev se se prende prende às às qualidades da qualidades da peça, peça, sua sua dignidade, dignidade, solenidade esolenidade e  beleza. Não é

 beleza. Não é a sacralidade cristã do a sacralidade cristã do busto que o busto que o faz admirá-lo e faz admirá-lo e admiti-lo como seu,admiti-lo como seu, mas seu valor estético e econômico. Do mesmo modo, não foi inicialmente o caráter mas seu valor estético e econômico. Do mesmo modo, não foi inicialmente o caráter de sagrado que atraiu Twinkle em relação à estátua de porcelana, mas a possibilidade de sagrado que atraiu Twinkle em relação à estátua de porcelana, mas a possibilidade dela valer alguma coisa.

dela valer alguma coisa.

Essa parece ser a grande jogada do texto e sua maior ironia. Pois a idéia aqui é Essa parece ser a grande jogada do texto e sua maior ironia. Pois a idéia aqui é a de escapar das contingências da migração e do que a diáspora sempre nos remete, a de escapar das contingências da migração e do que a diáspora sempre nos remete, como uma experiência sofrida, um tempo de imitação de gestos alheios, de decorar como uma experiência sofrida, um tempo de imitação de gestos alheios, de decorar  palavras novas e

 palavras novas e saber dizê-las nasaber dizê-las nas situações corretass situações corretas, do intraduzível de d, do intraduzível de determinadaseterminadas expressões. A ironia aqui é a motivação da tradução: ver num outro sistema o valor expressões. A ironia aqui é a motivação da tradução: ver num outro sistema o valor não precisamente cultural, mas material.

não precisamente cultural, mas material.

Como ficam, então, dentro deste segundo sentido que atribuo ao final do Como ficam, então, dentro deste segundo sentido que atribuo ao final do conto, a ques

conto, a questão da cultura e tão da cultura e da identidade dda identidade diante da traduçãoiante da tradução? ? Penso que Penso que LahiriLahiri consegue borrar ainda mais a fronteira cultural e identitária estabelecida inicialmente consegue borrar ainda mais a fronteira cultural e identitária estabelecida inicialmente no texto pela idéia do valor do busto de prata de Cristo, pois coloca as personagens no texto pela idéia do valor do busto de prata de Cristo, pois coloca as personagens

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Referências

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