ILUSTRÍSSIMA SENHORA PREGOEIRA DO SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO – ADMINISTRAÇÃO NACIONAL
PREGÃO SESC/AN Nº 20D/0030 – PG
Recorrente: PRO SEG SERVIÇOS DE SEGURANÇA LTDA. Recorrida: HAWK SEGURANÇA E VIGILÂNCIA LTDA.
PRO SEG SERVIÇOS DE SEGURANÇA LTDA., pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº. 31.242.852/0001-19, com sede à Rua Almirante Baltazar, nº. 37, São Cristóvão, CEP 20941-150, Rio de Janeiro/RJ, vem, tempestivamente, perante este Ilustrado Órgão, por intermédio de seu representante legal que ao final subscreve, apresentar RECURSO ADMINISTRATIVO contra a decisão que declarou a empresa HAWK SEGURANÇA E VIGILÂNCIA LTDA., habilitada e vencedora nos Lotes 02 e 03, no presente procedimento licitatório, por meio das razões de fato e de direito que serão a seguir trazidas.
1. DOS FATOS
Com a Publicação do SESC, por intermédio de seu Pregoeiro e equipe de apoio, o edital do PREGÃO SESC/AN Nº 20D/0030 – PG, cujo objeto é a escolha da proposta mais vantajosa para “Contratação de empresa especializada em SERVIÇO TERCEIRIZADO CONTINUADO DE VIGILÂNCIA PATRIMONIAL PRESENCIAL, ARMADA E DESARMADA, VIGILÂNCIA FEMININA/RECEPCIONISTA E SUPERVISÃO, para ser realizado no Serviço Social do Comercio- Sesc/AN e Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - Senac/AN - CSS, Administração Nacional do Senac - Jardim Botânico, Centro Cultural Sesc Paraty - CCSP e Escola Sesc de Ensino Médio – ESEM, situados na Av. Ayrton Senna, 5555 – Jacarepaguá/RJ, Rua Nascimento Bittencourt, 38 – Jardim Botânico/RJ, Paraty/RJ e Avenida Ayrton Senna, 5.677 – Barra da Tijuca – Rio de janeiro/RJ, respectivamente, conforme condições, quantidades e exigências estabelecidas no instrumento convocatório e respectivos anexos, adendos e esclarecimentos.
Neste sentido, após as fases de apresentação das propostas comerciais e de lances, a empresa “HAWK” foi chamada a apresentar sua proposta adequada ao valor final ofertado e documentos de habilitação. Após a análise da documentação enviada pela empresa HAWK, a mesma foi declarada vencedora lotes 02 e 03 do presente certame.
Diante das memórias de cálculos e documentações que nos foram disponibilizados através ao Serviço de Informação ao Cidadão do Departamento Nacional do Sesc, através do site:
http://transparencia.dn.sesc.com.br/e-sic, verificou-se que a recorrida, de forma manifestamente indevida, uma vez demonstrada a memória de cálculo apresentada, cometeram erros graves que descumprem o determinado pelo instrumento convocatório, anexos, adendos e esclarecimentos prestados, inclusive o que prevê/determina a CCT da categoria quanto a remuneração dos profissionais e apresentação de documentos obrigatórios.
Senão, vejamos.
A. Ao analisarmos a documentação que nos foram disponibilizadas, constatamos que a falta dos seguintes documentos habilitatórios exigidos junto ao instrumento convocatório (Edital) abaixo expostos:
- A empresa “HALK”, NÃO apresentou o exigido na letra a) do subitem 4.2 – QUALIFICAÇÃO TÉCNICA do Edital. “...Autorização para funcionamento, em nome do licitante, emitido pelo
Ministério da Justiça e revisão desta, com validade na data da apresentação...” (Grifo nosso)
A empresa “HAWK”, não apresentou a Autorização de Funcionamento, exigida em conjunto com a revisão dela.
- Quanto a letra “c” do subitem 4.2, que solicita Declaração de Pessoa Jurídica, de direito público ou privado, que ateste a qualidade técnico-operacional de serviço de vigilância patrimonial compatível em quantidade, com aceitação mínima de 50 % dos postos objeto desta licitação. Verificamos que:
1) Apresenta atestados de Capacidade técnica, nos quais não constam descritos o efetivo/quantidade de vigilantes empregados, (Espaço Hall e Pvax) em desacordo com o solicitado pelo Edital, impossibilitando a análise da parte final do subitem citado, pela Comissão Permanente de Licitação.
2) Apresenta contrato de prestação de serviços de vigilância à pessoa física, (Claudio Maurício Cavalcanti Loureiro) documento em total desacordo com o Edital e subitem, a uma, pelo Edital, não solicitar Contratos e sim Declarações de Prestação de Serviços e a duas, pelo Edital, solicitar prestação de serviços de vigilância à Pessoa Jurídica e não à Pessoa Física.
Portanto, os atestados de capacidade técnica não atendem ao solicitado pelo Edital e subitem citado.
B. Ao analisarmos as memórias de cálculos que nos forma disponibilizadas, constatamos os seguintes erros/divergências que invalidam as memórias de cálculos apresentadas, abaixo apontadas:
OBS: É importante destacar que a empresa não apresentou a planilha em conformidade com o modelo apresentado junto ao edital.
B.1) Quanto a Remuneração:
B.1.1) Em nenhuma das planilhas que nos foram disponibilizadas, consta o custo previsto e legal do aprovisionamento das custas com o Descanso Semanal Remunerado (DSR) incidente sobre o Adicional de Hora Noturna.
B.1.2) Considerando que o cálculo do adicional noturno, corresponde ao valor do salário acrescido do adicional de periculosidade, dividido por 220h e multiplicado 20% conforme prevê o Parágrafo Sétimo – do Adicional Noturno, da Cláusula Quadragésima Quarta – Jornada de Trabalho, você obtém o valor da “Hora Noturna”; Considerando que a hora do trabalho noturno será computada como de 52 (cinqüenta e dois) minutos e 30 (trinta) segundos; e ainda que considera-se noturno, o trabalho executado entre as 22 (vinte e duas) horas de um dia e as 5 (cinco) horas do dia seguinte.
Entendemos que o valor não está correto, pois ao fim da jornada diária computa-se 7 horas (22hs às 05hs) e mais 01 hora noturna adicional, sendo o mínimo de dias (noites) trabalhados de 15 dias, chegaríamos à quantidade de 120 horas noturnas por plantão noturno (12x36h). Ou seja, o valor da hora noturno que é de R$ 1,71 multiplicado pela mínimo de horas noturnas por plantão 12x36h (120horas), resultaria em R$ 205,76.
Face ao exposto apontamos o erro no cálculo do adicional noturno.
B.2) Quanto ao Submódulo 2.1 - 13º (décimo terceiro) Salário, Férias e Adicional de Férias B.2.1) A empresa HAWK errou em apresentar o percentual de 1,00% na letra c) Seguro de Acidente de Trabalho (Cálculo do valor % do RAT x FAP) do submódulo acima referenciado. O Seguro de Acidente do Trabalho – SAT é uma das contribuições previdenciárias incidentes sobre a folha de pagamento das empresas. Ao longo dos anos a nomenclatura foi modificada para “Grau de Incidência de Incapacidade Laborativa Decorrentes de Riscos Ambientais do Trabalho” (GILRAT), embora as duas nomenclaturas sejam utilizadas atualmente.
Na ocorrência de acidentes do trabalho e doenças ocupacionais, o acidentado ou seus dependentes têm direito às prestações e serviços previstos na legislação previdenciária.
Trata-se de um seguro pago pela empresa mediante uma contribuição adicional, o qual se destina a cobrir eventuais acidentes de trabalho.
O SAT/GILRAT, portanto, tem o objetivo de financiar os benefícios concedidos pelo INSS em razão do grau de incidência da incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho. A alíquota do SAT é definida pelo CNAE (Classificação Nacional de Atividades Econômica) em uma tabela de acordo com a atividade econômica desenvolvida pela empresa.
É de suma importância indicar o correto CNAE ao iniciar ou alterar uma empresa, uma vez que com o código de atividade incorreto implicará em uma série de obrigações desnecessárias, como impostos maiores, bitributações e obrigações acessórias.
Essa alíquota incide sobre o total da remuneração paga pela empresa aos segurados empregados e trabalhadores avulsos, conforme o grau de risco de acidente do trabalho relativo à atividade preponderante, podendo ser:
Grau 1 - Atividade preponderante cujo risco de acidente do trabalho seja considerado leve - 1 % Grau 2 - Atividade preponderante cujo risco de acidente do trabalho seja considerado médio -2 % Grau 3 - Atividade preponderante cujo risco de acidente do trabalho seja considerado grave - 3 %
Considerando que:
- O RAT em razão do Anexo I - Classificação Nacional de Atividades Econômicas e Grau de Risco de Acidente do Trabalho Associado, as ATIVIDADES DE VIGILÂNCIA, SEGURANÇA E INVESTIGAÇÃO, possuem o Grau preponderante máximo (3):
80.1 Atividades de vigilância, segurança privada e transporte de valores 80.11-1 Atividades de vigilância e segurança privada – Grau 3
80.12-9 Atividades de transporte de valores – Grau 3
Entendemos que mesmo tendo o menor multiplicador FAP (0,5000) ele não chegaria ao percentual de 1,00% e sim a 1,50%. Face ao exposto apontamos mais um erro desta licitante.
B.3) Quanto ao Submódulo 2.3:
B.3.1) A empresa não considerou o aprovisionamento mensal dos custos com o Programa de Qualificação, neste caso a reciclagem profissional obrigatório ao profissional manter o exercício de sua atividade e ainda conforme previsto junto da CCT da Categoria (Número de Registro no MTE: RJ000369/2019), este custo cabe a empresa sem qualquer participação do colaborador.
2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
2.1. DOS VÍCIOS NA PROPOSTA DA HAWK SEGURANÇA E VIGILÂNCIA LTDA. DA QUEBRA DA ISONOMIA DO CERTAME.
DA INEXEQUIBILIDADE DA PROPOSTA EM RAZÃO DOS ERROS APONTADOS.
Inicialmente, é importante destacarmos os problemas contidos na proposta da “HAWK”, como se pode ver do presente processo administrativo, verificou-se:
1. A não apresentação de documento de habilitação obrigatório, exigido no instrumento convocatório; (não presente na documentação disponibilizada pela comissão)
2. A cotação incorreta do valor referente aos aprovisionamentos do adicional noturno
(devidamente demonstradas na memória de cálculo apresentada por ela);
3. A falta de previsão dos valores referentes ao Descanso Semanal Remunerado derivados do adicional noturno (devidamente demonstradas na memória de cálculo apresentada
por ela) e
4. O percentual incorreto do RAT/FAP (devidamente demonstradas na memória de cálculo
apresentada por ela).
É importante destacar que a falta de qualquer documento de habilitação, resulta na Inabilitação da licitante, e a falta e o erro na cotação das rubricas são inadmissíveis.
Isso porque não só o erro ou falta das cotações que foram apresentadas, a coloca em posição diferenciada das demais empresas e gera a quebra da isonomia do certame, como também torna a sua proposta manifestamente inexequível.
Como se sabe, todos os procedimentos licitatórios devem ser pautados na isonomia. Isto é, a todos os concorrentes devem ser garantidas as mesmas condições de participação e disputa, de forma que ninguém parta de condições mais ou menos favoráveis que os demais concorrentes.
Isso ocorre com o objetivo de observar a íntegra das disposições legais e constitucionais pertinentes. In verbis, diz a Constituição Federal:
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
[...]
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
Entretanto, concessa venia, este princípio foi completamente desrespeitado no presente caso. É que, Douto Pregoeiro, realizou a aceitação da memória de cálculo da “HAWK”.
Ademais, a manutenção da decisão ora vergastada está, data maxima venia, revestida de ilegalidade. É que, pelo Princípio da Legalidade, os valores não poderiam ter sido olvidados no momento de auferir a exequibilidade da proposta apresentada.
Destaque-se que, para a Administração Pública, o princípio da legalidade não é a mera observância à legislação, mas sim uma verdadeira submissão aos ditames legais. É o que ensina Odete Medauar:
Para a Administração, o princípio da legalidade traduzia-se em submissão à lei. No conjunto dos poderes do Estado traduzia a relação entre poder legislativo e poder executivo, com a supremacia do primeiro; no âmbito das atuações exprimia a relação entre lei e ato administrativo, com a supremacia da primeira [...]
(MEDAUAR, Odete. O direito administrativo em evolução. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1992; grifamos)
Sobre o assunto, é imprescindível trazer à lume os ensinamentos de José Afonso da Silva:
[...] a palavra lei, para a realização plena do princípio da legalidade, se aplica, em rigor técnico, à lei formal, isto é, ao ato legislativo emanado dos órgãos de representação popular e elaborado de conformidade com o processo legislativo previsto na Constituição (arts. 59 a 69). Há, porém, casos em que a referência à lei na Constituição, quer para satisfazer tão-só as exigências do princípio da legalidade, quer para atender hipóteses de reserva (infra), não exclui a possibilidade de que a matéria seja regulada por um “ato equiparado”, e ato equiparado à lei formal [...]
(SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 32ª ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2009; grifamos)
Para Celso Antônio Bandeira de Mello, a Administração está vinculada não somente à lei em sentido estrito, mas também a eventuais normas que possam existir, decorrentes da lei, produzidas pela própria Administração para regulamentar seus comportamentos posteriores. Segundo o entendimento do doutrinador:
[...] a expressão “legalidade” deve, pois, ser entendida como ‘conformidade à lei e, sucessivamente, às subsequentes normas que, com base nela, a Administração expeça para regular mais estritamente sua própria discrição’, adquirindo então um sentido mais extenso [...]
(MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 20ª ed. São Paulo: Editora Malheiros, 2006)
Ou seja, a Administração deve observar não só a legislação stricto sensu, mas também as normas emitidas para regular o próprio poder discricionário da Administração. Assim, no presente caso, deve a Administração atentar com o que é disposto expressamente tanto na legislação vigente, como também nas Instruções Normativas, Portarias e demais atos normativos do Ministério do Planejamento. Saliente-se que, fazendo em contrário, a Administração Pública incorrerá em descumprimento ao que é determinado pelo princípio constitucionalmente protegido da legalidade.
Diante disso, evidencia-se que a proposta ora combatida deve ser desclassificada, tendo em vista os erros apontados e principalmente ao atendimento ao exigido junto ao instrumento convocatório e seus respectivos anexos e adendos. Além do mais, a proposta, nos termos elaborados, vai de total encontro aos termos do instrumento convocatório.
Nestes termos, Pede deferimento.
Rio de Janeiro, 25 de novembro de 2020.