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ST06 Comportamento, opinião pública e cultura política

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ST06 Comportamento, opinião pública e cultura política

Democracia, cultura política e etnia: relações entre acesso a serviços públicos e comportamento político dos brasileiros

Daiana Lopes Dias1

1 Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de Pelotas – UFPel/PPGCPol. E-mail:

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Resumo: O presente trabalho tem por objetivo comparar a relação entre o acesso a serviços públicos e a cultura política de brancos, indígenas e negros no Brasil. As informações foram obtidas no banco de dados da CorporaciónLatinobarómetro para o ano de 2011. Para atingir o objetivo serão realizados cruzamentos da variável de declaração étnica do entrevistado com variáveis sobre a sustentação da democracia, como o apoio e a satisfação com o regime e as variáveis de percepção de acesso aos serviços públicos. O problema de pesquisa é: Qual é o efeito do acesso a serviços públicos no comportamento político dos principais grupos étnicos-raciais do Brasil? Parte-se da hipótese de que: os grupos étnicos, com maior percepção de dificuldade de acesso a serviços tendem a apresentar menores taxas de apoio a democracia enquanto que os grupos com maior percepção de acesso teriam maiores taxas de apoio a democracia.

Palavras-chave: cultura política; democracia; etnia-raça, serviços públicos.

Introdução

O tema acerca da questão racial é pouco abordado na Ciência Política, isso também ocorre nos estudos sobre sub-representação racial. Essa ocorrência se dá pelo fato dos documentos pesquisados não possuírem as declarações étnicas-raciais dos cidadãos brasileiros, o que auxiliaria na realização de estudos futuros. Além disso, a politização da desigualdade racial é uma forma de análise ainda incipiente, ou seja, embrionária (CAMPOS e MACHADO, 2015).

O mesmo ocorre no que se refere ao comportamento político dos diferentes grupos étnicos-raciais. De modo geral, os trabalhos científicos analisam o comportamento dos brasileiros sem levar em consideração suas diferenças étnicas-raciais e, por conseguinte, as possíveis diferenças comportamentais.

Os poucos trabalhos realizados nessa perspectiva abordam apenas dois grupos étnicos-raciais, brancos e negros, deixando de fora os indígenas. Além disso, se detêm apenas nas diferenças de comportamento eleitoral (SOUZA, 1971; BUENO, 2010; GUIMARÃES, 2001).

Outro fator que pode ter contribuído para essa situação literária é o mito da democracia racial, pois tal ideologia produziu a imagem de que a sociedade brasileira convive de modo igualitário e harmonioso com os diferentes grupos étnicos-raciais aqui residentes. Além disso, passa a mensagem de que no Brasil não há preconceito ou manifestações de preconceito explícito, pois existiria uma atmosfera de tolerância racial (SOUZA, 1971; GUIMARÃES, 2001).

Em virtude da relevância desse tema e vislumbrando contribuir para a literatura especializada este estudo tem por objetivo comparar a relação de

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acesso a serviços públicos e a Cultura Política entre brancos, indígenas e negros no Brasil.

Ponderando a presente desigualdade social entre brancos, indígenas e negros na sociedade brasileira resultante da desigualdade racial, e considerando que brancos se encontram classificados entre os melhores índices do IDH ao inverso dos indígenas e negros (SANTOS, 2009) esse trabalho é orientado pela seguinte questão: Qual é o efeito do acesso a serviços públicos no comportamento político dos principais grupos étnicos-raciais do Brasil?

Este estudo utiliza informações obtidas no banco de dados da Corporación Latinobarómetro, correspondente à amostragem probabilística de 2011, a partir dos 1.204 entrevistados no Brasil pelo IBOPE.

De posse da amostragem probabilística foram selecionadas as questões indicativas das variáveis de sustentação da democracia – apoio e satisfação – e as questões referentes às variáveis de acesso a serviços públicos – educação, segurança e trabalho – e ainda a variável da declaração étnica-racial do entrevistado.

O método de pesquisa empregado nesse estudo é estatístico, apoiado em uma análise de cruzamento; com o teste do qui-quadrado, tendo em vista que para testar os resultados e solucionar o problema de pesquisa foram realizados os cruzamentos das varáveis de declaração étnica-racial de cada entrevistado. Inicialmente estima-se uma análise descritiva.

Foram considerados para a análise apenas os grupos étnicos-raciais declarados “brancos”, “indígenas” e “mulatos e negros”, conforme o IBGE. Optou-se por juntar os percentuais de mulatos e negros, pois pertencem a mesmo grupo afrodescendente. Quanto aos declarados “asiáticos”, “outras raças”, “não sabem” e “não respondem”, foram excluídos da análise por não atenderem aos objetivos da pesquisa, além de apresentarem um percentual muito pequeno de entrevistados que se enquadravam nessas categorias, podendo comprometer a análise.

O paper está estruturado da seguinte forma: primeiramente apresenta-se uma breve discussão acerca do conceito de Cultura Política seguido do conceito de democracia. Em seguida, faz-se uma breve ilustração da formação étnica do Brasil e apresenta-se os resultados.

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1. Cultura Política

A Cultura Política é o conjunto de crenças, normas, valores e sentimentos políticos que orientam o comportamento de um indivíduo e/ou grupos de certa sociedade para um determinado posicionamento político. Fazem referência às orientações políticas, às atitudes com o sistema político, com suas partes e com seu papel nesse sistema político (ALMOND e VERBA, 1963). Esse conceito constitui-se a partir das obras de Almond e Verba, The Civic Culture: political attitudes in democracy in five nations (1963) e The Civic Culture Revisited (1989). Almond e Verba (1963, 1989) que trouxeram para análise da política, elementos subjetivos e uma técnica de análise comparada com método estatístico e interdisciplinar, além de estudos empíricos. A Cultura Política de uma sociedade, referenciada por eles, está relacionada ao sistema político internalizado nas suas cognições, sentimentos e avaliações da população.

Os estudos de Almond e Verba (1963) não apresentaram apenas uma nova forma de verificação através de métodos estatísticos sistemáticos, mas foram também pioneiros em um trabalho interdisciplinar, pois a construção do conceito de Cultura Política desses autores foi embasada em diferentes áreas como a história, a filosofia, a sociologia, a antropologia, a psiquiatria e a psicologia social (ALMOND e VERBA, 1963). Trouxeram para o estudo proposição de valores, sentimentos, crenças, as quais consideravam relevantes para o estudo dos fenômenos democráticos no que tange o comportamento político dos cidadãos.

Segundo Ribeiro (2011, p. 27)

os autores pretendem afirmar que instituições como o sufrágio universal e partidos políticos não são suficientes, ainda que sejam indispensáveis. Para além deste nível objetivo, seria necessária também a existência de uma cultura política congruente com esse arranjo institucional.

Nesse sentido Almond e Verba (1963) queriam examinar a coesão entre os valores, sentimentos e crenças e as instituições, ou seja, averiguar até que ponto o comportamento político dos indivíduos se acordava com o sistema político.

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A cultura política também tem sido foco de estudos no Brasil. Entre os autores que defendem esses enfoques incluímos José Álvaro Moises e Marcello Baquero.

Segundo José Álvaro Moises (2008, p.16), a “cultura política”

[...] refere-se a uma variedade de atitudes, crenças e valores políticos – como orgulho nacional, respeito pela lei, participação e interesse por política, tolerância, confiança interpessoal e institucional – que afeta o envolvimento das pessoas com a vida pública.

Moisés (2008), Baquero e Prá (2007), seguem uma linha que discorda do determinismo cultural, no qual a estabilização democrática seria dependente da cultura política. Esses apoiam uma influência recíproca em que a cultura política pode alterar a estrutura institucional, enquanto que a atuação das instituições pode transformar a cultura política. Ou seja, as duas abordagens aludem efeitos no comportamento dos cidadãos e na maneira desses se relacionarem com o regime democrático.

Dessa forma, Baquero e Prá (2007, p.19) definem cultura política como:

[...] o conjunto de crenças e valores que os cidadãos incorporam ao longo do tempo, e sua capacidade de adaptar esses comportamentos numa perspectiva racional (não racional) para alcançar determinados objetivos ou aprender a sobreviver politicamente em condições materiais adversas.

Assim sendo, pondera-se nesse estudo que o comportamento político equivale à Cultura Política, pois esta é percebida como “uma articulação de padrões de comportamentos apreendidos socialmente através de processos de transmissão de tradições e idéias” (BENEDICT apud KUSCHINIR e CARNEIRO, 1999, p. 228). Além disso, a Cultura Política está ligada ao contexto histórico, tendo em vista que o mesmo pode influir na Cultura Política de um cidadão além de estar relacionado com o processo de socialização de cada indivíduo. Baquero e Prá (2007) consideram pertinente avaliar o desenvolvimento histórico de cada

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sociedade para, assim, vislumbrar de que forma os fatores históricos influem ou na manutenção do sistema democrático ou na sua transformação.

Tendo em vista que esse estudo se propõem a analisar o comportamento político dos brasileiros segundo a sua declaração étnico-racial e conjecturando que haja uma relação no acesso aos serviços públicos dos grupos étnicos-raciais brasileiros analisados e o apoio e satisfação com a democracia, trazemos também para o debate o conceito de democracia entendendo que contribuirá para o trabalho.

2. Democracia

Para compreender o comportamento político dos brasileiros e, sendo o Brasil um país democrático, é preciso entender o conceito de democracia. O Brasil é um país jovem no que tange ao sistema democrático, pois, desde que se tornou República, em 1889, passou por diversas fases (democratização, ditadura e redemocratização) e a última transição ocorreu após a ditadura de 1964, que terminou em 1985 (MOISÉS, 2008).

Detemo-nos então no conceito de democracia entendido como uma forma de governo em que a soberania é exercida pelo povo, conceito compreendido como “o governo do povo, para o povo, pelo povo”. Esse conceito, segundo Sartori (apud CASTRO e BAQUERO, 1996) é polissêmico e por esse motivo instiga o debate. De modo geral o conceito de democracia está ligado à soberania popular e à legitimidade de eleições para a escolha do representante, do governo. Nesse sentido que há abordagens consideradas minimalista e procedimentais.

Minimalista no caso de Schumpeter que para conceituar o regime democrático construiu o modelo elitista, na sua obra “Capitalismo, Socialismo e Democracia” (1961) a partir da analogia entre campo político democrático e o campo econômico. Compreende que “o método democrático é um sistema institucional, para a tomada de decisões políticas, no qual o indivíduo adquire o poder de decidir uma luta competitiva pelo voto do eleitor” (SCHUMPETER, 1961, p. 328).

Schumpeter (1961) constrói um modelo elitista, baseado no governo parlamentar da Inglaterra, em que ele ressalta o papel do líder no governo

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democrático. Para que o método seja mais realista e satisfatório, seria preciso superar o ideal de vontade geral. O processo se daria, basicamente, pela luta competitiva, a concorrência definirá a democracia e a livre concorrência pelos votos dos eleitores. O método eleitoral nada mais é que o mecanismo para obter a liderança. No entanto, no método democrático todos são livres para concorrerem à liderança. “O princípio da democracia determina que as rédeas do governo devem ser entregues àqueles que contam com o maior apoio que outros indivíduos ou grupos concorrentes” (SCHUMPETER, 1961, p. 332). Nesse sentido, a função do eleitorado é formar o governo e poder dissolvê-lo. No que tange à vontade do povo limita-se à vontade da maioria.

Para complementar a definição de Schumpeter, seu seguidor Roberth Dahl (1997) teórico pluralista realizou um trabalho que os críticos consideram procedimentalista, trazendo para a definição de democracia perspectivas que foram negligenciadas por Schumpeter, como o debate acerca do sufrágio universal. No entanto, segundo Carole Pateman (1992) ele não defende o máximo de participação popular para exercer o “controle”, visto que a maioria da população seria desinteressada em participar da política. Poucas pessoas aproveitariam essas oportunidades, então, uma elite ocuparia esse espaço de tomar as decisões. A competição eleitoral selecionaria as lideranças através do voto para representarem a população. Embora seja perceptível o aumento da participação da população no processo de decisão política, na teoria da democracia de Dahl, a regra é a mesma de Schumpeter, pois, o método democrático se resume ao processo eleitoral da mesma forma que a participação dos cidadãos de uma sociedade na política (PATEMAN, 1992).

Robert Dahl (1997), afirma que a democracia configura uma sucessiva capacidade do governo em responder adequadamente as prioridades de seus cidadãos, ajuizados como politicamente semelhantes. Para que isso ocorra, todos os cidadãos têm oportunidade plena de formular preferências, expressar suas preferências a outros cidadãos e ao governo, através da ação individual coletiva e ter suas preferências, igualmente, consideradas pelo governo sem discriminação, independente do conteúdo. No entanto, só essas condições não seriam suficientes para chegar a um número grande de pessoas (DAHL, 1997).

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A partir desse marco geral da literatura acerca da definição da democracia Moisés (1995, p.370) argumenta que se construiu uma conformidade literal de que a democracia,

se define pelo princípio da cidadania, ou seja, pela ideia de que os “cidadãos”, como membros da comunidade política, são iguais entre si e devem ser reconhecidos e tratados como tais; além das garantias civis e políticas fundamentais implicadas por essa definição, e destinadas a assegurar a liberdade e autonomia plena do indivíduo em face do Estado, isso implica também em articular as dimensões de “contestação” e de “participação”.

No entanto tais preceitos necessitariam abranger as seguintes regras: 1) a participação de todos os indivíduos adultos da comunidade política em todos os níveis do processo de formação do governo; 2) garantia da vontade da maioria por meio de eleições periódicas e regulares, para decisões da comunidade política e para a escolha de representantes, governo; 3) segurança de acesso a todos, (indivíduos, grupos, organizações) aos organismos que abrangem deliberações importantes para a comunidade política; 4) amparo do princípio de liberdade a partir da garantia de que as minorias não serão perseguidas e que possam virar maioria; 5) admitir a legitimidade de conflitos de interesses e identidades como econômicos, sociais, políticos, culturais, religiosos, raça, sexo e meio ambiente, admitindo também o direito a associar-se e organizar-se para defender seus ideais e 6) garantia do principio da separação dos poderes e a sujeição das esferas a mecanismos de controles públicos (MOISÉS, 1995).

Embora haja um consenso de que a definição da democracia seja composta pelos critérios citados acima, Moisés (1995) afirma que existe uma deficiência no que tange o funcionamento das instituições democráticas quanto a sua articulação com os padrões de intercâmbio político, atitudes e comportamentos. É preciso incorporar a dimensão relativa à tradição e cultura política, afim de incluir na definição de democracia a presença de valores e padrões políticos-culturais.

A democracia não se limita à institucionalização de liberdades civis e políticas como o direito ao voto e a livre expressão, tão pouco o público deve ser visto como um expectador passivo do processo. O coração da democracia está conexo no fato dela vislumbrar o poder do povo ao invés de conjeturar as escolhas

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constitucionais de uma elite erudita, a liberdade civil e política deve ser definida pelo espaço de escolha no qual as pessoas dispõem para moldar sua vida de acordo com seus próprios valores. Uma democracia deve ser efetiva, ou seja, precisa ser regida por governantes que prestem serviços aos cidadãos e que assegurem seus direitos, combatendo corrupção, privilégios, nepotismo e clientelismo (INGLEHART e WELZEL, 2009).

3. Classificação racial e fragmento histórico da formação étnica do Brasil

Para entender a questão racial no Brasil é preciso primeiramente abranger a gênese dessa temática e dessa forma buscar a origem dessas determinações e classificações, ou seja, averiguar a partir de que momento tais terminologias passaram a ser utilizada e em que sentido.

Como é possível verificar a partir da obra de Aníbal Quijano (2005) a ideia de raça surgiu com a colonização. Com a conquista da América, essa foi desenvolvida e aplicada a favor do colonizador para legitimar sua superioridade, direito de conquista e domínio. O autor expõe que antes do início da colonização das Américas por Cristovão Colombo não existia na Europa um conceito específico para as raças humanas, no entanto, conforme a colonização foi se consolidando, colonizadores percebendo a disparidade entre as suas culturas logo passaram a chamá-los de bárbaros.

Assim com a colonização da América surgiram as classificações raciais, os termos índio, negro, mestiço e o próprio conceito de branco e europeu. Pois Quijano (2005) assinala que a palavra europeu tinha referência geográfica, determinava o local onde determinada pessoa morava, com a popularização da divisão racial o termo passou a designar uma “raça”, nesse caso “raça mais evoluída”. Para Quijano (2005), com essa caracterização globalizou-se uma nova estrutura de controle de trabalho, pois, definiu-se qual raça era apta para determinada tarefa. Em virtude disso, os índios e negros libertos não tinham direito a trabalhos assalariados e bem remunerados, como ocorrera com os imigrantes que, por serem brancos, portanto considerados mais capazes, eram privilegiados com trabalho pago. Com essa nova estrutura de remuneração de trabalho, gerou-se uma nova estrutura social, visto que as raças não remuneradas

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tiveram negado seu acesso aos bens de consumo e, por conseguinte, uma série de direitos, como moradia, educação, saúde e participação política através do voto. Isso ocasionou uma desigualdade econômica e social entre as raças que persiste no Brasil, até a contemporaneidade e que reflete no comportamento político do cidadão brasileiro indígena e afro-brasileiro em contrapartida ao cidadão branco.

Assim estimando que o presente paper aborda a probabilidade de diferença de comportamento político entre três grupos étnicos-raciais brasileiros (brancos, indígenas e negros) a partir da experiência dos mesmos com as instituições políticas brasileiras– nesse paper abrangidas como definidoras de serviços públicos – exporemos uma concisa apresentação de como se construíram os grupos étnicos-raciais brasileiros. Da mesma maneira, vamos apresentar algumas teorias acerca da classificação racial, tendo em vista que essa classificação representou um adiamento do acesso a alguns serviços públicos por parte de alguns grupos étnicos-raciais e, por conseguinte, atrasou (ou negativou) a experiência dos mesmos com as instituições.

De acordo co Ribeiro (1995) a matriz étnica-racial brasileira tem sua formação em três grupos étnicos/racial-cultural. Os indígenas, grupo nativo do Brasil, os negros, trazidos da África para a utilização do seu trabalho de maneira escrava, e os europeus – portugueses e outros – vindos para colonizar e ocupar o território.

Os índios são os habitantes nativos do Brasil e, em virtude da ocupação portuguesa nas terras brasileiras, tiveram que realizar, forçadamente, trabalho escravo e servil na mineração e na agricultura, além de muitos grupos terem sido dizimados por doenças para as quais não tinham imunidade. (FAUSTO, 1996; RIBEIRO, 1995).

Com o tráfico os portugueses passaram a inserir os africanos no trabalho, em terras brasileiras, uma vez que as teorias eurocêntricas justificavam a utilização dos africanos no trabalho escravo. Os negros, ao chegarem ao país, perderam todo o contato com sua terra natal, tendo que adotar a língua portuguesa e a religião católica, do mesmo modo que os índios (FAUSTO, 1996). Entretanto a história nos mostra que ao longo do tempo outros grupos étnicos-racias migraram para o Brasil como italianos, alemães, poloneses,

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japoneses, entre outros, que hoje fazem parte da formação do povo brasileiro. No entanto, neste paper optou-se por trabalhar apenas com três grupos - brancos, indígenas e negros, que são os que, segundo literatura, formaram a população brasileira (RIBEIRO, 1995).

Nos séculos XIX e XX, a sociedade brasileira passou por um significativo crescimento populacional decorrente do aceleramento urbano o que resultou em uma maior concentração de renda, dessa forma “a desigualdade jogou à margem da sociedade a maioria dos brasileiros, sobretudo a população negra” (SANTOS, 2009, p. 16). Assim, podemos vislumbrar como o acesso dos negros a bens e serviços foi dificultado, visto que nesse momento histórico: “No topo da pirâmide social ficaram os brancos letrados, donos de terra, com direito a voto e a manifestar livremente sua opinião. Na base, todos não brancos, sem nenhum tipo de posse e sem escolaridade” (SANTOS, 2009, p. 16).

A opção do governo pela imigração, mais uma vez impediu os grupos não brancos – entre eles os indígenas e os negros – de competirem de forma igualitária no mercado de trabalho assalariado. Do mesmo modo, a imigração, impediu que o negro competisse por melhores posições sociais, amparado no mito da “democracia racial” que, baseada na assimetria racial, não permitia a igualdade de oportunidade aos outros grupos étnicos (SOUZA, 1971).

Esse tratamento dado aos grupos étnicos-raciais estava baseado no eurocentrismo que determinava que os grupos étniacos-raciais não brancos e não europeus eram inferiores aos grupos étnicos-raciais brancos e europeus. (QUIJANO, 2005).

Essa primeira ideia de raça estava fundamentada em uma explicação biológica. Como já mencionado, foi utilizada apenas como respaldo para justificar o racismo. Os seres humanos foram classificados em subespécies e, tiveram determinadas as diferenças com base em qualidades morais e intelectuais para, assim, serem submetidos a uma hierarquia social. No entanto, por esse determinismo biológico essa ideia de raça não pode ser considerada uma ciência. Portanto, foi rejeitada após as consequências da Segunda Guerra Mundial, visto que, “[...] construção baseada em traços fisionômicos, de fenótipo ou de genótipo, é algo que não tem o menor respaldo científico” (GUMARÃES, 2003, p. 96).

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Estudiosos, percebendo que teorias biológicas não podiam ser aceitas, passaram a procurar outras teorias que explicassem as diferenças desses grupos. Exemplo disso são as explicações de que a “raça” seria uma construção social ou casos em que as classificações estão relacionadas à cor da pele.

É nesse sentido que Guimarães (2003) entende as raças como um conceito criado a partir de uma construção social que deve ser analisada por uma linha adequada da Sociologia, que estude identidades sociais. Assim, raças para a Sociologia seriam “discursos sobre as origens de um grupo, que usam termos que remetem à transmissão de traços fisionômicos, qualidades morais, intelectuais, psicológicas, etc” (GUIMARÃES, 2003, p. 96).

É nesse sentido que a raça é trabalhada nesse paper em termos de representação social, ou seja, a raça é usada no sentido nominativo, pois no senso comum os fenótipos, são usados para marcar as pessoas (GUIMARÃES, 2003, QUIJANO,2005).

A raça é também serve para a organização e mobilização pois é uma forma de identificação, vislumbrando um futuro empoderamento por parte dos grupos aqui citados. Não usamos raça em termos biológicos.

Essa escolha foi feita em virtude de que o IBGE usa o critério de raça e de autodeclaração e o Latinobarômetro também. Assim percebemos que o termo raça seria mais apropriado as concepções de classificação desses bancos de dados nesse paper utilizado.

Essa conjuntura foi apresentada nesse artigo com o objetivo de fornecer elementos passíveis da compreensão das postuladas diferenças de comportamento político dos grupos étnicos-raciais analisados – brancos indígenas e negros. A partir da compreensão desses acontecimentos é possível vislumbrar de que forma o contexto histórico da sociedade brasileira pode ter influenciado no comportamento político de cada grupo étnico-racial, almejando dessa forma “uma tentativa de compreender, à luz do resgate da trajetória histórica de uma nação, como sua Cultura Política é formada [...] para tentar mudar para melhor” (BAQUERO e PRÁ, 2007, p. 18).

Não é intenção desse trabalho, abordar as diversas teorias sobre os conceitos de etnia e raça, mas apresentar a conjuntura de como se deu essa

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classificação, bem como o motivo dessa classificação, para entender como se deu a escolha dos três grupos étnicos-raciais para esse paper.

4. Relações entre etnia-raça, acesso a serviços e apoio à democracia

Este paper utiliza informações obtidas no banco de dados da Corporación Latinobarómetro e de posse da amostragem probabilística de 2011, foram selecionadas as questões indicativas das variáveis de sustentação da democracia – apoio e satisfação – e as questões referentes às variáveis de acesso a serviços públicos – educação, segurança, trabalho – e ainda a variável da declaração étnica-racial do entrevistado.

Estimamos para o estudo apenas os grupos étnicos-raciais declarados “brancos”, “indígenas” e “mulatos e negros”. Como comentado anteriormente, preferiu-se por unir os percentuais de mulatos e negros, pois concernem ao próprio grupo afrodescendente.

As questões selecionadas para representar as variáveis de sustentação da democracia foram as questões: P13, ¿Con cuál de las siguientes frases está Ud. más de acuerdo: “La democracia es preferible a cualquier otra forma de gobierno”; “En algunas circunstancias, un gobierno autoritario puede ser preferible a uno democrático”; “A la gente como uno, nos da lo mismo un régimen democrático que uno no democrático”, P14, .A En general, ¿diría Ud. que está muy satisfecho, más bien satisfecho, no muy satisfecho o nada satisfecho con el funcionamiento de la democracia en (país)?

Para a variável correspondente à declaração étnica-racial foi usada a questão: S27. ¿A qué raza se considera perteneciente Ud.? Asiático; Negro; Indígena; Mestizo, Mulato, Blanco.

Quanto às variáveis acerca dos serviços públicos foram selecionadas as questões: S21. ¿Qué estudios ha realizado? ¿Cuál es el último año cursado ¿Escuela técnica de qué, instituto de qué..., etc.?, para a variável de educação; S23A. ¿Cuál es su situación ocupacional actual? Independiente/cuenta propia; Asalariado en emp. Pública; Asalariado en emp. Privada; Temporalmente no trabaja; Retirado/pensionado; No trabaja/ responsable de las compras y el cuidado de la casa, Estudiante, para a variável de trabalho, P80ST.A ¿Ha sido

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Ud. (1) o algún pariente (2) asaltado, agredido, o víctima de un delito en los últimos doce meses?, para variável de segurança

Com o processo de redemocratização no Brasil após 1985, muitos trabalhos voltaram-se para o estudo da sustentação da democracia, haja vista que havia uma dúvida quanto a sua manutenção, pois o país estava passando por uma transição do período ditatorial para o período democrático. Entre os trabalhos temos os teóricos que utilizaram a Cultura Política para compreender o momento pelo qual o Brasil estava passando (BAQUERO e PRÀ, 2007; BAQUERO, 2003, MOISÉS, 2008, 1995).

No entanto, estudos como os de Moisés e de Baquero demonstram que apenas a Cultura Política não consegue solucionar todos os problemas presentes na sustentação do regime democrático no Brasil. Por esse motivo, esses autores defendem a influência mútua entre as instituições e a cultura no comportamento, logo, na atitude de um cidadão, de modo que ambas podem influir na tomada de decisão dos indivíduos e na sustentação de um regime de uma dada sociedade, a partir das experiências dos cidadãos com as instituições e com a sua socialização ao longo da vida.

Nesse sentido, para a análise da sustentação consideraremos duas variáveis de apoio e satisfação. Apoio aqui baseado na teoria que o compreende como legitimidade do sistema político democrático e a confiança, pois é representado pela crença que os cidadãos têm no sistema, entende que o sistema democrático é preferível a outro (EASTON, 1975).

Para Easton (1975) o conceito de apoio no seu sentido comum seria uma avaliação, a forma como uma pessoa valorativamente se orienta a algum objeto, seja pelas suas atitudes ou seu comportamento. Contudo, esse conceito tem pouca utilização na linguagem técnica e o autor acrescenta ainda que existem muitas ambiguidades nos conceitos utilizados na linguagem científica. Por essa razão, o Easton (1975) faz uma reavaliação do conceito de apoio (“support”) apresentando dois tipos: apoio difuso e apoio específico.

O apoio específico está relacionado com a satisfação que as pessoas de um sistema político sentem segundo a obtenção de resultados e o desempenho das autoridades. Esse apoio é atrelado à avaliação das autoridades e das instituições. Apresenta dois sentidos específicos do objeto: 1) entende que as

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pessoas são ou podem tornar-se consciente das autoridades políticas (essas autoridades são responsáveis pelas ações do dia-a-dia tomadas de decisões em nome de um sistema político); 2) é relacionado às decisões, às políticas, às ações, às declarações, dessas autoridades. Esse conceito depende da relação que as pessoas fazem entre as suas necessidades, desejos e o comportamento das autoridades políticas. Para que esse apoio específico se constitua é necessário que os cidadãos atribuam (interpretem) de forma causal o apoio ao comportamento das autoridades. Em suma, neste apoio admite-se que as pessoas têm consciência política necessária para associar a satisfação e insatisfação com o comportamento compreendido dessas autoridades, se o comportamento é sob a forma de ações (EASTON, 1975).

Quanto ao apoio difuso, este está relacionado à atitude da população em relação ao sistema político de modo geral, diferente do apoio específico que remete a satisfação dos cidadãos com o desempenho dos governantes e as autoridades. Além disso, o apoio difuso não depende da avaliação/satisfação do desempenho do governo ou das instituições.

apoio político “difuso” envolvem atitudes que estão relacionadas com a aprovação das características essenciais do funcionamento do sistema político, como os procedimentos que garantem a participação dos cidadãos em processos destinados a formar governos através das eleições periódicas (MOISÉS, 1995, p. 198).

O apoio difuso é mais duradouro que o apoio específico e segundo Easton (1975) é a base que sustenta o regime político de modo geral. Ou seja, o apoio difuso é representado pelo apoio ao regime político de determinado país. Conforme Easton (1995) apud Ribeiro (2011, p.134) apoio difuso é “à dimensão normativa da adesão a determinado regime político, sendo resultado de longos processos de socialização”. Para Eaton (1975) o apoio difuso tem sua origem em duas fases, na infância, continuando na fase adulta (a socialização) e na experiência direta.

Dessa forma, considerando a Tabela 1 e a Tabela 2 podemos conferir os índices de apoio e satisfação ao regime democrático, ou seja, a confiança e avaliação que os três grupos étnicos-raciais estudados (brancos, indígenas e negros), atribuem ao regime democrático brasileiro.

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Tabela1

Apoio à democracia por etnia-Com qual das seguintes frases você está mais de acordo? (%) Negro Indígena Branco A democracia é preferível a qualquer outra forma de governo. 53,8 42,9 44,9 Em algumas circunstâncias é preferível o governo autoritário 17,1 21,4 28,2 Dá no mesmo um regime autoritário ou democrático. 29,1 35,7 26,8

Total 100 100 100

N 299 14 414

Fonte: Dados com base em Latinobarómetro (2011). p<0,05

A partir da Tabela 1 podemos observar que o grupo dos negros são os que mais apoiam o regime democrático, haja vista que apresentam 53,8% para “a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo”, à medida que o grupo dos brancos apresenta quase 55 % do que podemos denominar de “não apoio” em relação aos negros, resultado da soma dos percentuais de “em algumas circunstâncias é preferível um governo autoritário” e “dá no no mesmo um regime autoritário ou democrático”. Quanto os indígenas podemos notar um maior percentual de indiferença quanto ao regime político no país.

Tabela 2

Satisfação com a democracia por etnia – Em geral, você diria que está muito satisfeito, satisfeito, não muito satisfeito ou nada satisfeito com o funcionamento da democracia no país? (%)

Negro Indígena Branco

Satisfeito 32,3 31,3 42,8

Insatisfeito 67,7 68,8 57,2

Total 100 100 100

N 344 16 549

Fonte: Dados com base em Latinobarómetro (2011) p<0,05

No que confere à satisfação, os dados da Tabela 2 corroboram que dentre os grupos estudados o grupo dos brancos está mais satisfeito com a democracia que os outros grupos. No entanto, o grupo dos indígenas e dos negros expõem os maiores percentuais de insatisfação. O que se coincide ao percentual total de satisfação e insatisfação dos brasileiros, pois segundo os dados analisados estes mostram 38,6% para satisfação e 61,4% para insatisfação com o regime democrático.

Nesse caso concluímos que, embora os diferentes grupos étnicos apoiem o regime democrático, eles estão insatisfeitos com a democracia.

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É verificável pelos dados da Tabela 1 e os recentemente mencionados da Tabela 2, que há uma diferença de atitude em comparação ao apoio desses grupos para com a democracia e a satisfação. Como já foi mencionado na Tabela 1 se somarmos os percentuais de “em algumas circunstâncias é preferível um governo autoritário” e “dá no mesmo um regime autoritário ou democrático” dos grupos étnicos dos brancos (28,2% + 26,8% = 55%) e dos indígenas (21,4% + 35,7% = 57,1%) observamos que sobrepujam os percentuais de “apoio ao regime”. Dessa forma, esse percentual suscita um questionamento em relação à legitimidade do regime democrático e sua sustentabilidade. Segundo Moisés (1995) isso pode ocorrer por diferentes motivos, dentre eles as desigualdades econômicas e sociais, predicados da sociedade brasileira.

Ao analisarmos a Tabela 3 com a comparação dos percentuais de apoio ao regime democrático e a insatisfação com a democracia conjecturamos uma diferença de atitude em relação ao grupo dos negros, pois apresenta um percentual expressivo de insatisfação, porém possui o maior percentual de apoio, ou seja, ainda que insatisfeitos com a democracia os negros apoiam o regimedemocrático. Atitude que não se apresenta nos dados dos brancos e indígenas.

Tabela 3

Atitude Ambivalente segundo etnia/raça (%/N)

Negro Indígena Branco

Apoio à democracia 53,8 (299) 42,9 (14) 44,9 (414) Insatisfação com a

democracia

67,7 (344) 68,8 (16) 57,2 (549)

Fonte: Dados com base em Latinobarómetro (2011).

Deste modo entendemos que a satisfação é resultado da avaliação que os cidadãos fazem do desempenho do governo e/ou do Estado e da competência das autoridades em resolver os problemas da sociedade. É possível indicar que a insatisfação dos brasileiros estaria associada, entre outras questões, ao não acolhimento do governo democrático às demandas dos brasileiros, ou seja, a insatisfação com os serviços públicos e com as instituições procederia na insatisfação com o regime em vigência. Assim verificado na Tabela 3.

As informações das Tabelas 4, 5 e 6 oferecem elementos para averiguar essa relação hipotética em meio as diferenças de comportamento dos brancos,

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indígenas e negros e o acesso aos serviços públicos com as variáveis de sustentação do regime democrático.

Tabela 4

Acesso à educação por etnia – Que estudos realizou? (%) Negro Indígena Branco

Não estudou 13,3 16,7 7,2

Ensino Fundamental, Médio e Técnico 69,4 55,6 63,9 Universitário incompleto e completo 22,8 27,8 29,0

Total 100 100 100

N 360 18 585

Fonte: Dados com base em Latinobarómetro (2011)

No que corresponde ao acesso aos serviços públicos notamos com a Tabela 4 que os indígenas têm os maiores percentuais para não estudou, ao passo que o grupo dos brancos tem o menor percentual. Esses dados nos induzem a acreditar que os brancos podem ter percepção diferenciada de acesso à educação em relação aos indígenas. Os negros têm os maiores percentuais para o ensino fundamental, médio e técnico. Isto posto, é pertinente pensar que a escolarização de um cidadão conjectura implicações de uma exclusão social e pode influir no apoio ao regime democrático (MOISÉS, 1995).

Tabela 5

Acesso à segurança por etnia – Você e sua família foram vítimas de delito no último ano? (%)

Negro Indígena Branco

Sim 30,4 38,9 30,1

Não 69,6 61,1 69,9

Total 100 100 100

N 355 18 581

Fonte: Dados com base em Latinobarómetro (2011) p>0,05

Na Tabela 5, os percentuais, nos mostram que não há associação entre a etnia e o acesso à segurança. Os percentuais apresentam uma pequena diferença dentre as pontuações do grupo dos brancos e dos negros, portanto têm a mesma percepção de acesso à segurança. À medida que, o grupo dos indígenas se distingui-se um pouco mais, com 38,9% de pessoas que sofreram algum ato de violência no momento referido.

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Tabela 6

Acesso ao emprego por etnia – Qual sua situação ocupacional atual? (%)

Negro Indígena Branco

Autônomo 43,6 33,3 34,9 Assalariado 23,1 16,7 26,6 Não trabalha 20,8 27,8 21,4 Pensionista 9,7 16,7 12,8 Estudante 2,8 5,6 4,3 Total 100 100 100 N 360 18 585

Fonte: Dados com base em Latinobarómetro (2011) p>0,05

Do mesmo modo que na segurança, não identificamos associação entre o acesso ao trabalho e a etnia. Pois, os grupos demonstaram os maiores percentuais para trabalho autônomo. O grupo dos brancos e negros trazem como segundo e terceiro percentual o trabalho assalariado e o não trabalha. Consequentemente, eles têm a mesma percepção de acesso ao trabalho. Os arranjos se alteram no grupo dos indígenas, já que o segundo percentual está em não trabalha e o terceiro em trabalho assalariado, logo é o grupo étnico-racial com percepção de acesso ao trabalho diferenciada.

Depois dos dados expostos nas tabelas anteriores, demontraremos nesse momento os resultados sobre apoio e satisfação com a democracia com base no cruzamento da etnia-raça com o acesso aos diferentes serviços públicos. Os dados consistem na seleção dos resultados mais expressivos das tabelas anteriores. Na Tabela 7 apresentamos o apoio à democracia com o cruzamento dos serviços conforme a etnia-raça dos entrevistados.

Tabela 7: Democracia é preferível a qualquer forma de governo – acesso a serviços por etnia (% - n)

Negro Indígena Branco p Com acesso à EDUCAÇÃO 67,5 (83) 100 (4) 38,0 (129) <0,05 TRABALHO autônomo 55,7 (131) 20,0 (5) 44,4 (180) <0,05 SEGURANÇA – não vítima 54,8 (208) 50,0 (8) 45,0 (351) <0,05

Fonte: Dados com base em Latinobarómetro (2011).

No geral, os grupos étnicos-raciais que informaram ter acesso à educação apoiam a democracia. É apropriado salientar o grupo dos brancos, a medida que asseguram ter acesso à educação, mas têm o menor percentual de apoio à democracia. Em meio aos grupos estudados no item de acesso ao trabalho (no caso sendo autônomo), o grupo dos negros se distingui por apoiar majoritariamente a democracia, sendo que os outros grupos demonstram baixo

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apoio. A cerca do acesso à segurança, é possivel proferir que os três grupos apontam uma percepção de acesso a esse serviço (a medida que não foram vítimas de delito), apoiando a democracia, embora a maioria do grupo dos brancos não apoie a democracia. No que tange a falta de acesso, coforme aqueles que preferem a democracia, verifica-se que os negros são os que mais apontam carência deste serviço, concebendo mais da metade desse grupo étnico-racial.

Na tabela seguinte trazemos os dados a partir do posicionamento de satisfação com a democracia.

Tabela 8: Está satisfeito(a) com a Democracia – acesso a serviços por etnia (% - n) Negro Indígena Branco p

Sem acesso à EDUCAÇÃO 28,1 (256) 45,5 (11) 41,1 (411) <0,05 TRABALHO autônomo 33,1 (148) 20,0 (5) 45,4 (196) <0,05 SEGURANÇA – não vítima 35,9 (237) 30,0 (10) 45,6 (377) <0,05

Fonte: Dados com base em Latinobarómetro (2011).

Os dados da Tabela 8 demontram que, mesmo sem acesso à educação, grande parte dos indígenas e dos brancos estão satisfeitos com a democracia. O menor percentual de satisfação e que não tem acesso à educação encontra-se dentre os negros. Conferindo os dados dos entrevistados que desempenham trabalho autônomo nota-se que o percentual de satisfação com a democracia é maior entre o grupo dos brancos (e mesmo nesse, o percentual não abarca a maioria). Entre aqueles que não foram vítimas de delito, acontece o mesmo que com o acesso ao trabalho autônomo.

Do mesmo modo, com os dados das tabelas 7 e 8, ousamos afirmar que os brasileiros dos diferentes grupos étnicos-raciais como apresentam um comportamento dessemelhante, com destaque para os negros. Esse grupo é o que mais apoia a democracia, contudo, não está satisfeito com essa forma de governo, provavelmente por apresentar dificuldades para acessar os diferentes serviços que a democracia necessitaria oferecer.

Resultados

Este paper foi efetuado na finalidade de colaborar com a Ciência Política proporcianando novos subsídios acerca da Cultura Política considerando a

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declaração étnica-racial, fundamentado no seguinte problema de pesquisa: Qual é o efeito do acesso a serviços públicos no comportamento político dos principais grupos étnicos-raciais do Brasil?

A hipótese central apreciada para esse problema foi de que grupos étnicos-raciais com mais percepção de acesso a serviços públicos – educação, segurança e trabalho – apoiariam mais a democracia, acontecendo o oposto com os grupos com menos percepção de acesso. O grupo com mais percepção de acesso é representados pelos brancos e o com menos percepção de acesso representado pelos indígenas e negros.

Toda via os dados estudados não confirmaram a hipótese principal do estudo. O grupo étnico-racial que mais demonstrou atitude de não apoio a democracia foi o grupo-étnico dos brancos do mesmo que foi o grupo que apresentou menos percepção de dificuldade de acesso aos serviços públicos à medida que os negros são os que mais apoiam a democracia mesmo quando declaram não ter acesso aos serviços públicos. Logo. o grupo dos indígenas evidenciou um comportamento mais associado aos brancos, ainda que, essa atitude tenha se aparecido de forma díspar do grupo dos brancos, já que essa atitude surge mais quando os entrevistados que se declararam indígenas confirmaram não ter acesso aos serviços públicos. Analisados os dados de acesso o comportamento foi de apoio à democracia.

Em fim este estudo é ainda principiante e descritivo, contudo, se pretende aprofundar futuramente a partir de cruzamentos mais complexos usando análise estatística inferencial e acrescentando novas variáves, contudo acreditamos já estar contribuindo para que surjam novar perspectivas de estudos na Ciência Política.

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Referências

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