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VIII Congresso Brasileiro de Administração e Contabilidade - AdCont a 21 de outubro de Rio de Janeiro, RJ

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Academic year: 2021

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Análise do Comportamento da Alíquota Tributária Efetiva Brasileira após Alterações Societárias e da Lei nº 12.973/2014

Weslei Camelo Lopes Mestrando em Ciências Contábeis Universidade Federal do Rio de Janeiro

wesleicamelo@gmail.com

José Augusto Veiga da Costa Marques Pós-Doutor em Contabilidade e Controladoria Universidade Federal do Rio de Janeiro

joselaura@uol.com.br Resumo

A tomada de decisão é impactada pelas normas tributárias. Diante de diversas práticas, os gestores adotam aquelas que produzam o melhor resultado contábil e tributário simultaneamente. E muitas delas, são afetadas pelos planos fiscais. A norma tributária é um dos fatores determinantes que influenciariam as práticas escolhidas. Este artigo busca analisar o comportamento das alíquotas tributárias efetivas total (ETRt) e corrente (ETRc), conforme Guimarães, Macedo e Cruz (2016), no período compreendido entre 2005 e 2016 das empresas no Brasil. Dessa forma, visa (i) verificar se a alíquota tributária média é diferente da alíquota nominal de 34% (IRPJ/CSLL) e se o comportamento da alíquota tributária efetiva sofre alguma influência frente à convergência às IFRS, aos ajustes decorrentes do RTT e à aplicação da Lei 12.973/2014. Para isso, fez-se uma análise descritiva e, por meio de testes de hipóteses de igualdade de médias, buscou-se comparar os períodos citados. Assim, é um estudo descritivo com abordagem quantitativa e uma amostra de 2.834 observações extraídas do Economática. Como resultados, na primeira hipótese, constatou-se que as ETRs são estatisticamente inferiores a 34%. A estatística descritiva demonstra certo gerenciamento tributário realizado pelos gestores quanto ao diferimento de práticas tributárias. Quanto à segunda hipótese, verifica-se que a ETRt sofreu influência significativa quando adotadas as IFRS e permanece estatisticamente igual pós aplicação da Lei nº 12.973/2014. Já ETRc apresenta igualdade entre os períodos de convergência, mas é diferente após a Lei nº 12.973. Ainda, revela-se um aumento médio considerável de 7 pontos percentuais na ETRc entre os anos de 2015 e 2016. Tal fato reforça a continuação de estudos sobre o comportamento das alíquotas efetivas sobre o lucro das empresas a fim de identificar os motivos deste impacto.

Palavras-chave: Contabilidade Tributária; Alíquota Tributária Efetiva; ETR; Gerenciamento

Tributário.

1 Introdução

A tomada de decisão é impactada pelas normas tributárias. Diante de diversas práticas, os gestores adotam aquelas que produzam o melhor resultado contábil e tributário simultaneamente. E muitas delas, são afetadas pelos planos fiscais. (FIELDS; LYS; VINCENT, 2001 apud CABELLO, 2012; SHACKELFORD; SHEVLIN, 2001; MARQUES, 2014; GUIMARÃES; MACEDO; CRUZ, 2016). Segundo os autores, a norma tributária é um dos fatores determinantes que influenciariam as práticas escolhidas. Dada a complexidade do sistema tributário brasileiro, muitas empresas investem numa equipe responsável pelo compliance empresarial em busca de uma eficiência tributária.

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2 De acordo com Cabello e Pereira (2015), uma gestão tributária eficiente dará condições às empresas de uma possível redução dos tributos, o que, para Reinders e Martinez (2016) torna-se saúde para o bolso podendo repretorna-sentar maior capitalização do negócio e novos investimentos. Ainda segundo Reinders e Martinez (2016, p. 1), “há alguns anos vem se intensificando as pesquisas sobre o planejamento tributário”. Diversos autores (SCHOLES; WILSON; WOLFSON, 1992; JANSSEN, 2000; SHACKELFORD; SHEVLIN, 2001; LAMMERSEN, 2002; HANLON; HEITZMAN, 2010) procuraram identificar quais seriam as métricas adequadas para detectar as práticas tributárias nas companhias. Dentre elas, destaca-se a alíquota tributária efetiva ou effective tax rate (ETR).

Por meio da Lei nº 11.638/2007, foi iniciada no Brasil a convergência com os padrões contábeis internacionais. Este processo se deu com a adesão gradual de poucos pronunciamentos em 2008 e 2009. Com a finalidade de neutralizar os efeitos tributários das alterações trazidas pela Lei nº 11.638/2007, a Receita Federal criou o Regime Tributário de Transição, o RTT, por meio da Lei nº 11.941 exigindo que as apurações fiscais fossem realizadas de acordo com as regras tributárias vigentes em 31 de dezembro de 2007, uma vez que os novos ajustes modificariam as bases de cálculo do Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ, da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido – CSLL, da Contribuição para o Programa de Integração Social – PIS/PASEP e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS. Guimarães, Macedo e Cruz (2016) realizaram um estudo sobre o comportamento das ETRs no período de 2003 e 2013. Como resultado da pesquisa, identificaram que as ETRs são inferiores à alíquota nominal de 34% e que a adoção do padrão IFRS, de fato, impactaram as ETRs, reduzindo-as.

Já em 2014, houve a regulamentação da Lei nº 12.973 estabelecendo um novo regime tributário dos procedimentos fiscais das empresas. Conforme Silva et al. (2014, p. 27), “as alterações trazidas por esse diploma legal, em grande parte, pautam-se na neutralidade tributária e buscam reduzir o nível de interferência das regras tributárias sobre a escrituração comercial das pessoas jurídicas”. Desta forma, entende-se que a neutralidade tributária permaneceu em foco, ou seja, espera-se que não tenha havido interferências significativas desta lei e, com isso, as ETRs apresentariam o mesmo comportamento reduzido de quando vigorava o RTT (GUIMARÃES et al., 2016; GOMES, 2016).

Este artigo busca analizar o comportamento das alíquotas tributárias efetivas, total (ETRt) e corrente (ETRc) no período comprendido entre 2005 e 2016 das empresas no Brasil. Ainda, tem como objetivos (i) verificar se a alíquota tributária média é diferente da alíquota nominal de 34% e (ii) se o comportamento da alíquota tributária efetiva sofre alguma influência frente à convergência aos pronunciamentos do IFRS, aos ajustes decorrentes do RTT e à aplicação da Lei 12.973/2014.

Segundo Cabello (2012) e Reinders e Martinez (2016), há uma exigência de estudos mais aprofundados sobre agressividade tributária. Justificam-se esses estudos a inferências sobre variações futuras decorrentes de resultados passados, bem como avaliar as mudanças decorrentes de alterações nas legislações verificando se as mudanças, principalmente tributárias, foram onerosas ou não para as companhias. Bem como, busca-se uma atualização dos estudos elaborados por Guimarães et al. (2016) a fim de demonstrar os novos efeitos tributários nas alíquotas tributárias efetivas, assim, tem este artigo como um pano de fundo. Para tanto, as hipóteses e boa parte da metodologia seguem os mesmos parâmetros adotados pelos autores, à exceção, da inclusão da investigação com relação ao regime tributário exigido, obrigatoriamente, a partir de 2015.

Este estudo está estruturado em cinco tópicos: o primeiro expõe sobre aspectos introdutórios, no segundo, apresentam-se os aspectos que propiciam respaldo teórico ao estudo evidenciando o gerenciamento tributário (tax management), a effective tax rate e pesquisas anteriores, no terceiro tópico traz-se a metodologia utilizada no desenvolvimento deste estudo,

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3 no quarto tópico relatam-se os resultados encontrados e no quinto, as considerações finais do trabalho.

2 Referencial Teórico

Para embasar este estudo, serão exibidas as pesquisas realizadas em matéria tributária sobre tax management e ETR a fim de expor suas questões teóricas, aplicações e limitações. Em seguida, será apresentada a métrica ETR, suas características, limitações e sua utilização em pesquisas já realizadas sobre o tema, bem como evidenciando, por meio de exemplos numéricos, os possíveis impactos na ETR.

2.1 Gerenciamento Tributário: Tax Management

Um dos motivos para o aumento de pesquisas na área tributária se deve a sua relevância para os usuários da informação contábil, acionistas e governo (CARVALHO et al., 2016). Segundo Calijuri (2010), os tributos são um dos maiores custos dos negócios influenciando todos os demais cálculos contábeis. Se por um lado, os agentes procuram incentivos para o tax management, pelo outro, preocupam-se de não chamar a atenção do fisco porque as informações contábeis informam também um outro stakeholder: a autoridade tributária (GRAHAM; RAEDY; SHACKELFORD, 2012). Além do mais, este custo representa uma linha da demonstração do resultado, realçando ainda mais sua relevância (GUIMARÃES et al., 2016).

Definindo tax avoidance, Hanlon e Heitzman (2010) consideram como uma redução tributação sem pecar pelos atos legais exigidos. Ou seja, sem ir contra a legislação tributária, e que se pode denominar de várias formas: gestão tributária, planejamento tributário, gerenciamento tributário (tax management), administração tributária e elisão fiscal (DESAI; DHARMAPALA, 2009; FORMIGONI; ANTUNES; PAULO, 2009; GOMES, 2016).

Hanlon e Heitzman (2010) realizaram um levantamento para identificar o tax avoidance. Foram identificadas diferentes variáveis, tendo a ETR como destaque e suas variações. Além desta, as autoras consideram a medida BTD (book tax difference) e suas variações. Segundo as autoras, a BTD é calculada pela diferença entre o lucro contábil e o lucro tributário.

Segundo Scholes, Wilson e Wolfson (1992), pode-se definir a ETR como a proporção de despesa de tributos sobre o lucro oriundo da contabilidade societária. Essa proporção é uma estimativa da carga tributária da empresa, levando em consideração as diferenças permanentes e temporárias entre o lucro contábil e lucro tributável (CABELLO; PEREIRA, 2015).

Em relação à ETR, Hanlon e Heitzman (2010) afirmam que seu uso deve ser de acordo com os objetivos de investigação. A ETR pode fornecer informações sobre tax management, mas não sobre práticas de diferimento de tributos. Logo, se o objetivo é identificar práticas de diferimento, é preciso utilizar a CurrentETR (seguindo a nomenclatura de GUIMARÃES et al. (2016), ETRc), uma vez que somente a partir do custo corrente com tributos é possível avaliar eventual gerenciamento em relação às diferenças tributárias temporárias uma vez que diferenças temporárias provocam distorções em resultados contábeis futuros. As autoras também destacam outra variante, a CashETR, calculada pela soma dos tributos pagos no longo prazo sobre o resultado antes dos tributos a fim de verificar o comportamento de longo prazo das alíquotas tributárias efetivas.

Mas em relação às ETRs, foco deste artigo, ainda há uma certa divergência entre autores com relação ao tamanho da firma e as alíquotas tributárias efetivas. Alguns autores indicam que quanto maiores as empresas, menores os custos tributários (SCHOLES et al., 1992; REGO, 2003; CABELLO, 2012). Rego (2003) afirma que empresas grandes apresentam menores ETRs porque possuem mais recursos para (i) influenciar politicamente o processo tributário, (ii)

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4 desenvolver a expertise em planejamento e, (iii) organizar suas atividades numa forma ótima de economia de impostos. Por outro lado, outros advogam pela hipótese do custo político. De acordo com Guimarães et al. (2016), grandes empresas estão sob constante investigação dos órgãos governamentais levando-as a apresentar uma maior carga fiscal relativa a fim de não atrair uma possível fiscalização.

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2.2 Effective Tax Rate (ETR)

ETR é a taxa de imposto efetiva resultante pela divisão da despesa com imposto de renda pelo lucro contábil antes dos tributos (SHACKELFORD; SHEVLIN, 2001). Lammersen (2002) considera que a ETR é útil para usuários que necessitam de informação sofisticada acerca da carga tributária das empresas e que pode ajudar os usuários a uma tomada de decisão. Como já afirmado por Shackelford e Shevlin (2001), a ETR revela o descolamento entre a alíquota do tributo definida na legislação tributária e a efetiva alíquota do tributo podendo servir, ainda, para medir o tax management.

Hanlon e Heitzman (2010) argumentam que é difícil afirmar se um nível mais baixo de ETR é resultado de escolhas fiscais, isenções, compensação de prejuízos fiscais, por exemplo, ou outras formas de elisão. Sendo assim, a ETR pode conter erros de medição do tax management uma vez que, segundo as autoras, nem todas essas mensurações são apropriadas para todas as questões de pesquisa porque as exigências da contabilidade societária são diferentes das exigências da legislação tributária. Ao mesmo tempo, afirmam que não é fácil coletar os dados dos demonstrativos contábeis para mensurar a elisão tributária das companhias. Corroborando essa análise no Brasil, Cabello (2012) afirma que são poucas as práticas tributárias passíveis de serem coletadas por meio das demonstrações, a saber: depreciação acelerada; depreciação acelerada incentivada; JSCP; reorganização societária; e, incentivos fiscais.

Na legislação tributária brasileira, existem situações nas quais os tributos sobre o lucro possuem influência de valores extras contábeis que são mantidos apenas no Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR) ou não são registrados em contas de resultado, apenas nas patrimoniais. Esse é o caso da depreciação acelerada incentivada, compensação de prejuízos fiscais, exclusões e adições por diferenças temporárias, incentivos fiscais e assim por diante (CABELLO, 2012).

Como se percebe, a primeira verificação de uma mensuração de elisão tributária é por meio da ETR. Entretanto, Hanlon e Heitzman (2010) apresentam a ETR sob diversos enfoques, ou seja, ETR total (tributos correntes mais os diferidos), ETR considerando o fluxo de caixa, Generally Accepted Accounting Principles (GAAP) ETR, ETR considerando somente os tributos correntes, entre outros. O estudo ressalta que, dependendo da pesquisa, deve-se dar uma maior importância ao denominador do ETR. Como busca-se verificar a carga tributária das empresas, dado o propósito previamente explicitado de analisar o comportamento da ETR com a convergência contábil e após as mudanças na legislação tributária, entende-se adequada a métrica.

2.2 Pesquisas Anteriores

A medida ETR pode ser encontrada nas pesquisas realizadas por Rego (2003), Schmidt (2006), Cabello (2012), Cabello e Pereira (2015), Guimarães et al. (2016), Gomes (2016), entre outros, nas quais os autores utilizam a ETR para detectar se há práticas tributárias nas companhias, uma vez que uma redução das taxas efetivas de tributos pode resultar na utilização de práticas tributárias bem gerenciadas.

No âmbito internacional, Rego (2003) investigou 19.737 empresas no período entre 1990 e 1997 a fim de verificar se as empresas multinacionais que praticavam elisão fiscal com mais intensidade possuíam ETR menor do que as companhias que atuavam apenas nos EUA. Como resultados, concluíram que as empresas maiores possuem ETRs maiores e as empresas com grandes lucros, antes do imposto de renda, possuem ETRs menores. Como as empresas grandes possuem maiores recursos e incentivos para investir num planejamento tributário, essa relação negativa entre ETR e LAIR se torna mais consistente.

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6 Já Hanlon e Heitzman (2010) buscam alertar os demais pesquisadores quando às inferências em relação a ETR. Na revisão de bibliografia, as autoras identificaram mais variações da ETR, mas afirmam que esta é uma medida contábil capaz de verificar o nível de tributação em relação ao lucro contábil. Entretanto, as autoras afirmam ainda que existem grandes variações nas taxas de imposto entre os diferentes setores resultantes de diferentes estruturas de custos e diferentes níveis de exposição internacional. Logo, recomendam que os investidores comparem a taxa de imposto efetiva de uma empresa com seus pares setoriais ao formular sentenças sobre a prudência ou não da política tributária da empresa.

Já no âmbito nacional, Schmidt (2006) buscou identificar se os ganhos identificados pelas ETRs são capazes de prever resultados futuros. Como conclusão, o autor obteve resposta positiva e significativa de que há relação entre o resultado e previsões futuras. Adicionalmente, o autor identificou que as ETRs são transitórias porque possuem resultados diferentes inclusive entre os trimestres do mesmo ano. Tal achado pode ser explicado pelo diferimento de transações já mencionadas.

Cabello (2012) investigou se as empresas que escolhem determinadas práticas tributárias sobre o lucro apresentam ETR inferior às demais. Práticas estas definidas como: depreciação acelerada, depreciação acelerada incentivada, juros sobre o capital próprio, reorganização societária e incentivos fiscais. Analisando as companhias de capital aberto entre o período de 2009 e 2010, o autor demonstrou que adotada ao menos uma prática, as companhias apresentariam, em média, uma ETR menor. Entretanto, ressalta que nem sempre a utilização de uma determinada prática tributária reduzirá numa ETR menor.

Cabello e Pereira (2015) investigaram o efeito de determinadas práticas empregadas para tributação do lucro sobre a ETR das empresas. Os autores constataram que os setores possuem ETRs diferentes, independente das práticas tributárias adotadas, evidenciando que o porte, em função do tamanho do ativo, e o LAIR não são variáveis relevantes para observar se as empresas maiores ou com LAIR maiores possuem ETRs maiores; e, as de menor porte com LAIR menores possuem ETRs menores.

Guimarães et al. (2016) analisaram as ETRs (total e corrente) de empresas do capital aberto no período de 2003 e 2013 a fim de verificar tax management e uma possível influência dos ajustes do RTT decorrente da introdução dos IFRS. Como resultado, os autores identificaram que as empresas possuem ETR significativamente menor que a alíquota nominal prevista na legislação de 34%. Adicionalmente, as análises comprovam que houve redução de alíquota efetiva após a convergência parcial para as IFRS. Ainda, concluíram que os resultados confirmam tal prática de gerenciamento.

Embora Gomes (2016) tenha por objetivo investigar se as práticas de governança corporativa são utilizadas para aumentar o desempenho das empresas, o autor buscou identificar o gerenciamento tributário por diversas métricas, inclusive a ETR. Como resultado, somente desta variável, constatou-se que as empresas brasileiras não descartam os benefícios do gerenciamento tributário já que a ETR média da amostra analisada ficou em 25% sendo estatisticamente menor que a alíquota nominal dos tributos sobre o lucro no Brasil.

Desta forma, com o objetivo de investigar o comportamento das ETR no mercado brasileiro, pode-se inferir sobre variações futuras decorrentes de resultados passados, bem como avaliar as mudanças decorrentes de alterações nas legislações verificando se as mudanças, principalmente tributárias, foram onerosas ou não para as companhias.

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3 Metodologia

3.1 Tipo de Pesquisa, População e Amostra

Este trabalho se propõe a analisar o comportamento das alíquotas tributárias efetivas, total (ETRt) e corrente (ETRc) das empresas de capital aberto no Brasil. Desta forma, trata-se de uma pesquisa descritiva, pois busca expor o comportamento das alíquotas tributárias efetivas ao longo do processo de harmonização das normas contábeis para o padrão IFRS e após a alteração tributária regulamentada pela Lei nº 12.973/2014.

Como estratégia de pesquisa, pode classificá-lo como uma pesquisa bibliográfica porque recorre a outros autores para construção de sua fundamentação teórica, análise do problema e das contribuições de seus resultados (MARTINS; THEÓPHILO, 2007). Como abordagem de pesquisa, é classificada como quantitativa por usar a estatística descritiva e testes estatísticos para análise dos dados e a inferência dos resultados (MARTINS; THEÓPHILO, 2007).

Em relação à técnica de coleta de dados, a população é composta pelas empresas de capital aberto no Brasil. Para a amostra, procedeu-se uma extração das empresas listadas na BM&FBOVESPA, utilizando o banco de dados da empresa Economática®, cujos dados secundários compreendem-se entre os anos de 2005 e 2016 colhidos em março de 2017, com as seguintes informações: (i) lucro antes da tributação com o IRPJ/CSLL e (ii) as despesas com os tributos sobre o lucro (correntes e diferidas). O que, de certa forma, torna-se uma limitação do estudo uma vez que muitas empresas ainda não haviam divulgado suas demonstrações contábeis de 2016 por ser o dia 31 do próprio mês o prazo final exigido para divulgação.

Para composição da amostra final, os dados foram tratados da seguinte forma: (i) foram excluídas as empresas do setor de instituições financeiras por apresentarem uma alíquota nominal de tributação do IRPJ/CSLL diferenciada (40%) dos demais setores; (ii) foram excluídas as empresas que possuíam LAIR igual a zero; e, (iii) foram excluídas as empresas que apresentaram despesa de IRPJ/CSLL corrente menor ou igual a zero por entender que houve alguma classificação errada ou elas não tiveram tributação sobre o lucro fiscal naquele período. Após essas exclusões, foram tratados os outliers onde eliminou-se os possíveis dados extremos que pudessem impactar as amostras de cada ano (FÁVERO et al. 2009). Ou seja, foram excluídas as observações em que a variável ETR ultrapassou os limites do primeiro e terceiro quartis somado a três vezes o intervalo interquartil.

A amostra final contém 2.834 observações compostas pelos anos de 2005 a 2016. O quadro a seguir ilustra o número de observações em cada ano do estudo.

Quadro 1: Número de observações por ano

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 185 213 226 241 254 239 253 264 272 284 283 120 Fonte: o autor

3.2 Descrição das Variáveis e Hipótese de Estudo

A ETR é comumente usada para medir o gerenciamento tributário, pois ela calcula a alíquota efetiva do tributo recolhido pelas empresas e é definida como o percentual obtido pela divisão da despesa total com tributos sobre o lucro pelo lucro antes do Imposto de Renda e da Contribuição Social de uma determinada empresa i no ano t:

𝐸𝑇𝑅𝑖,𝑡 = 𝐼𝑅/𝐶𝑆𝐿𝐿𝑖,𝑡

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8 Onde:

ETRi, t: Alíquota Tributária Efetiva da empresa i no ano t;

IRPJ/CSLLi,t: Somatório da despesa com IRPJ/CSLL da empresa i no ano t;

LAIRi,t: Lucro antes do IRPJ/CSLL da empresa i no ano t;

Portanto, para identificar o gerenciamento tributário nas empresas calculou-se a ETR das empresas listadas na BM&FBOVESPA entre 2005 e 2016. Já para a ETRc, foi considerado, no numerador, apenas as despesas correntes desses tributos, onde práticas tributárias do período impactam o IRPJ e a CSLL deste mesmo período com os ajustes permanentes e onde as diferenças temporárias não interferem.

Em geral, a proporção ETR tende a ser abaixo da alíquota nominal (CABELLO, 2012; GOMES, 2016; GUIMARÃES et al. 2016). Nesta pesquisa considera-se como empresas que praticam o gerenciamento tributário aquelas que apresentam índices de ETR estatisticamente menores que as alíquotas nominais dos tributos sobre o lucro, que no Brasil somam 34%. Para isso, a primeira hipótese da pesquisa é:

H1: A média da ETR da amostra em cada ano é inferior à alíquota nominal de IRPJ/CSLL (34%)

Tendo iniciado o processo de convergência com os padrões contábeis internacionais com a Lei nº 11.638/2007 e a sua neutralização para efeitos tributários a partir de 2010, a contabilidade pôde tomar rumos divergentes da essência fiscal anteriormente aplicada. Já a partir de 2015, com a regulamentação da Lei nº 12.973/2014, de acordo com Silva et al. (2014), a regulamentação de uma nova legislação tributária se pautou nos princípios de neutralidade tributária, porém alguns métodos e critérios contábeis convergentes foram adotados.

Como forma de analisar o comportamento ao longo do tempo, foram segregados por grupo. Esses grupos foram identificados como normas contábeis brasileiras regulamentadas pela Lei nº 6.404/1976 ou período anterior ao processo de convergência (2005 a 2007), período de início da convergência conforme alguns pronunciamentos do CPC (2008 e 2009), período de adoção plena aos pronunciamentos (2010 a 2014) e pós Lei nº 12.973/2014 de acordo com a tributação incidente sobre os métodos e critérios societários convergidos (2015 e 2016).

Estima-se que as médias das ETRs sejam diferentes entre os períodos anterior ao processo de convergência com os períodos de adoção dos pronunciamentos contábeis, porém iguais entre os de adoção e o do regime tributário definitivo, uma vez que permanece a neutralidade fiscal (SILVA et al., 2014). Assim, formula-se a segunda hipótese:

H2: Há diferença significativa entre a média de ETR entre os quatro períodos: de 2005 a 2007, 2008 a 2009, de 2010 a 2014 e de 2015 a 2016.

Não foi possível tomar como base o resultado dos períodos já analisados por Guimarães et al. (2016) porque apresentam tratamento de amostra divergentes, por exemplo, os casos onde a ETR resulta em valor negativo (resultado diferido maior que a despesa com IRPJ/CSLL corrente quando apresenta resultado contábil positivo ou prejuízo contábil com despesa tributária por não possuir, necessariamente, prejuízo fiscal). Com isso, estudou-se os períodos de 2005 a 2013 novamente.

3.3 Instrumentos de Análise dos Dados

Como ferramenta de análise para as hipóteses H1 e H2, utiliza-se os testes de hipóteses de média (FÁVERO et al., 2009).

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9 Para H1, utilizará um teste simples de uma amostra antecedido da aderência ao pressuposto de normalidade para análise por testes paramétricos. Quando não for atendido este pressuposto, o teste de média não-paramétrico que deve ser realizado é o de Wilcoxon.

Para avaliação de H2, um teste de média para mais de duas amostras com a verificação preliminar dos pressupostos de normalidade e homocedasticidade das variâncias é utilizado. Quando não atendido este pressuposto, o teste de média não-paramétrico a ser realizado é o de Kruskal-Wallis a fim de verificar se a média dos grupos é estatisticamente iguais entre si.

Adicionalmente, se a média de um dos quatro períodos for diferente entre si, deve-se realizar o teste não-paramétrico de Mann-Whitney para verificar qual dos períodos é significativamente diferente.

Para os testes de hipóteses de médias utilizou-se o programa SPSS (versão 20) considerando um nível de significância de 1%.

4 Análise dos Resultados

4.1 Análise Descritiva dos Dados

De acordo com a Tabela 1, todas as médias são inferiores à alíquota nominal dos tributos sobre o lucro (34%).

Nota-se que em quase todos os anos, as médias ETRt são inferiores à média ETRc. Desta forma, pode-se entender que a prática das empresas constituírem ativos fiscais diferidos e/ou reduzirem os passivos fiscais diferidos é constante, uma vez que, em ambas transações, o resultado na DRE é negativo reduzindo a linha do IRPJ/CSLL total. Tal fenômeno também é evidenciado por Cabello (2012) e Guimarães et al. (2016) onde as práticas de diferimento reduzem as ETRt.

Entre o período de convergência parcial e até o início do pós-lei 12.973 (2009-2015), houve redução da ETRc. Embora os dados quantitativos não possam ser totalmente comparáveis com Guimarães, Macedo e Cruz (2016), nota-se nesse trabalho, que também há uma redução da ETRc. Uma explicação é o surgimento do RTT, o período de neutralidade fiscal, conferindo ao campo da tributação, nenhuma alteração fiscal enquanto que para fins societários, os fatos contábeis recebiam outro tratamento. De acordo com as médias de ETRc, pode-se inferir um aumento no lucro contábil, conforme observado por Santos e Calixto (2010), Mello e Salotti (2013), Moraes, Macedo e Sauerbronn (2015) e Santos (2015) nos momentos de adoção parcial e full das normas IFRS.

Tabela 1: Estatística Descritiva para amostra com dados com base em mar/2017 ETRt 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 N 185 213 226 241 254 239 253 264 272 284 283 120 Média 27,27 8,14 5,15 11,14 9,51 10,05 10,55 7,57 13,37 13,97 14,99 10,75 Mín. -8,05 -49,55 -46,03 -55,57 -50,71 -24,63 -34,80 -52,96 -32,08 -65,28 -51,06 -35,34 Máx. 80,31 42,34 43,36 42,91 50,04 43,26 48,59 51,41 63,70 72,03 75,13 54,03 D.Pad. 14,87 13,79 14,95 15,47 16,27 12,76 13,37 15,82 16,92 18,81 21,80 14,89 ETRc 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 N 185 213 226 241 254 239 253 264 272 284 283 120 Média 26,46 25,12 26,14 21,31 22,16 21,25 20,79 20,51 20,17 17,09 15,38 22,27 Mín. -8,05 -8,37 -9,36 -24,40 -16,04 -15,40 -19,52 -29,73 -27,75 -41,69 -40,87 0,02 Máx. 80,31 83,55 87,41 92,87 81,35 85,69 78,32 97,60 93,87 103,55 91,67 95,40 D.Pad. 15,98 14,95 15,77 16,61 16,51 15,71 15,77 20,53 18,76 20,92 22,93 17,18

(10)

10 Com a conversão da MP 627/2013 na Lei nº 12.973/2014 com efeitos obrigatórios a partir de 2015, segundo Silva et al. (2014), não haveria reflexos tributários exorbitantes uma vez que a Receita Federal do Brasil pautou-se nos princípios de neutralidade tributária. Entretanto, pode-se verificar que houve uma variação positiva de quase 145% (de 15,38% em 2015 para 22,27% em 2016) após seis exercícios fiscais de queda. Desta forma, evidencia-se que houve um aumento médio de tributos correntes no segundo ano após regulamentada a lei o que requer uma continuidade analítica desse comportamento em períodos posteriores.

4.2 Análise dos Testes de Hipóteses de Média

Para análise da H2, foram realizados testes de hipóteses de médias demonstrados na Tabela 2. Foram testados os pressupostos de normalidade em cada ano dos conjuntos.

Tabela 2: Resultados dos testes de hipóteses de médias para H1

H1 – A média para ETRt é inferior a 34% H1 – A média para ETRc é inferior a 34%

Normalidade Teste T Wilcoxon Normalidade Teste T Wilcoxon

ETRt Média p-valor(K-S) p-valor p-valor ETRc Média p-valor(K-S) p-valor p-valor

2005 27,27 0,000 - 0,000 2005 26,46 0,002 - 0,000 2006 8,14 0,001 - 0,000 2006 25,12 0,200 0,000 - 2007 5,15 0,000 - 0,000 2007 26,14 0,000 - 0,000 2008 11,14 0,004 - 0,000 2008 21,31 0,007 - 0,000 2009 9,51 0,000 - 0,000 2009 22,16 0,000 - 0,000 2010 10,05 0,000 - 0,000 2010 21,25 0,002 - 0,000 2011 10,55 0,000 - 0,000 2011 20,79 0,002 - 0,000 2012 7,57 0,000 - 0,000 2012 20,51 0,000 - 0,000 2013 13,37 0,000 - 0,000 2013 20,17 0,016 0,000 - 2014 13,97 0,000 - 0,000 2014 17,09 0,003 - 0,000 2015 14,99 0,000 - 0,000 2015 15,38 0,000 - 0,000 2016 10,75 0,000 - 0,000 2016 22,27 0,007 - 0,000

Fonte: Elaborado pelo autor

As médias das ETRs, em todos os anos, não apresentam uma curva normal, com exceção dos anos de 2006 e 2013 para a ETRc. Nesses dois casos, foi possível a realização do teste de hipótese de média pelo Teste T. Já para os demais, como o p-value do teste K-S é inferior ao nível de significância de 1%, não foi possível validar a hipótese de que as observações apresentavam uma curva normal.

Para realização dos testes de média com a alíquota nominal de IRPJ/CSLL nos demais casos, foi utilizado o teste de Wilcoxon, teste não-paramétrico que compara duas amostras relacionadas. Para tanto, foi considerada uma amostra com os mesmos números de fatores iguais a 34%. Desta forma, é possível afirmar que as médias das ETRs são diferentes e inferiores à alíquota nominal de 34%. Esses achados vão de encontro aos estudos de Hanlon e Heitzman (2010), Cabello e Pereira (2015), Guimarães et al. (2016), Gomes (2016) que também identificaram ETRs menores que a alíquota nominal do país estudado, evidenciando assim, um certo gerenciamento tributário.

Para testar o efeito entre os períodos de pré-convergência, convergência parcial, adoção de novos padrões e alteração na legislação tributária, foi considerado o teste de média para mais de uma amostra, conforme Tabela 3, identificados com os valores de 0 (2005-2007), de 1 (2008-2009), de 2 (2010-2014) e de 3 (2015-2016), respectivamente.

(11)

11 Tabela 3: Resultados dos testes de hipóteses de médias para H2

H2 - A média para ETRt entre os períodos H2 - A média para ETRc entre os períodos

Normalidade Normalidade

Período Média p-valor (K-S) Período Média p-valor (K-S)

0 26,70 0,000 0 25,89 0,000

1 23,70 0,000 1 21,75 0,000

2 22,48 0,000 2 19,89 0,000

3 20,28 0,000 3 17,43 0,000

Fonte: Elaborado pelo autor

Conforme os resultados do pressuposto de normalidade, nenhum dos períodos apresenta normalidade tão pouco possuem homogeneidade de variância uma vez que para ambas ETRs, o teste de Levene obteve p-value inferior à 0,001. Desta forma, há a impossibilidade da realização do teste ANOVA.

Como alternativa, foi realizado o teste não paramétrico para mais de duas amostras de Kruskal-Wallis (K-W) para os dois conjuntos. Como resultado, foi identificado que pelo menos um dos períodos é diferente já que com o p-value obtido (ETRt e ETRc de 0,000) não foi possível validar a hipótese de que há igualdade entre as médias dos grupos.

Desta forma, foi verificado o comportamento entre os grupos para identificar quais pertenceriam a mesma população. Foram realizados os testes não paramétricos de Mann-Whitney (M-W) definindo o período de 2005 a 2007 para comparação, como valor 0; para o período de 2008 a 2009, o valor 1; para 2010 a 2014, o valor 2; e, para 2015 a 2016, o valor 3, conforme a Tabela 4.

Os resultados indicam que para a ETRt, houve igualdade de médias entre (i) os períodos de convergência parcial e de adoção plena (p-value 0,395), (ii) os de convergência parcial e de pós-lei 12.973 (p-value 0,017) e (iii) os de adoção plena e de pós-lei 12.973 (p-value 0,043). Esses resultados confirmam a hipótese de que a convergência parcial e a adoção plena para o padrão IFRS impactaram alíquota efetiva de tributos sobre o lucro em relação aos padrões contábeis vigentes em 2007, como os achados de Guimarães et al. (2016) para a adoção plena. Por outro lado, para a ETRc, somente os períodos de convergência parcial e de adoção plena apresentaram igualdade de médias (p-value 0,010).

Tabela 4: Resultados dos testes de hipóteses de médias para H2 Testes ETRt ETRc

p-value K-W (0, 1, 2 e 3) 0,000 0,000 p-value M-W (0 e 1) 0,000 0,000 p-value M-W (0 e 2) 0,000 0,000 p-value M-W (0 e 3) 0,000 0,000 p-value M-W (1 e 2) 0,395 0,010 p-value M-W (1 e 3) 0,017 0,000 p-value M-W (2 e 3) 0,043 0,006 Fonte: Elaborado pelo autor

Os resultados apoiam ainda a hipótese do aumento do distanciamento entre o lucro contábil e a base para apuração dos tributos sobre o lucro (BTD positivo). Isto indica também uma maior margem para resultados menos conservadores, conforme afirmam Santos e Calixto (2010). Com uma maior distinção do lucro contábil para o lucro tributável, há indícios de um aumento da liberdade dos gestores em adotar um gerenciamento tributário mais agressivo.

(12)

12 Segundo Ferreira et al. (2012), BTD positivo são oriundos de (i) prejuízos fiscais apurados em períodos de apuração anteriores e (ii) eventos que não são deduzidos do lucro líquido, mas que são dedutíveis do lucro real, como, por exemplo, depreciação acelerada incentivada, juros sobre o capital próprio, reorganizações societárias, incentivos fiscais, entre outros (CABELLO, 2012).

De acordo com Silva et al. (2014), permanece a neutralidade fiscal após a regulamentação da Lei nº 12.973/2014 com efeitos obrigatórios a partir de 2015. Como as médias da ETRt entre os períodos de convergência parcial e de adoção plena possuem igualdade estatística com este período, infere-se que não houve mudança após sua regulamentação. O fato deste último período não apresentar igualdade de médias com o período anterior ao de pré-convergência, confirma uma ruptura com as regras antigas de tributação e de contabilidade existentes no Brasil.

Já a ETRc, em 2016, teve um aumento considerável em relação a 2015, ano de regulamentação da nova legislação tributária, voltando às médias anteriores ao período de convergência.

5 Considerações Finais

Este estudo teve por objetivo analisar o comportamento das alíquotas tributárias efetivas total (ETRt) e corrente (ETRc) no Brasil a fim de verificar se a alíquota tributária média é diferente da alíquota nominal de 34% de IRPJ/CSLL no período compreendido entre 2005 e 2016. A análise buscou verificar ainda, se as ETRs sofreram alguma influência com a adoção dos novos padrões contábeis do IFRS, da inclusão do RTT e da regulamentação da Lei nº 12.973/2014.

Para testar as hipóteses, foram realizados testes paramétricos e não-paramétricos de igualdade de médias. Quanto à hipótese 1, que verifica se as médias das ETRs da amostra são diferentes da alíquota nominal de 34%, constatou-se que em todos os anos as médias são estatisticamente diferentes e inferiores à alíquota nominal. As médias se concentraram entre 5,15% e 27,27% (ETRt) e 15,38% e 26,46% (ETRc). Nota-se uma variação bem maior para a ETRt, o que, na literatura, indicariam indícios de tax management já que esta variável incorpora no resultado o efeito dos tributos diferidos. Já a ETRc apresenta variações menores, entretanto, após uma contínua redução iniciada no período de convergência parcial dos pronunciamentos do CPC, houve uma variação positiva de quase 145% de 2015 para 2016, de 15,38% para 22,27%, respectivamente.

Para a hipótese 2, que busca verificar a influência da convergência contábil para os padrões IFRS e da regulamentação da Lei nº 12.973/2014, foram identificados quatro grupos para análise e comparação. A saber, de 2005 a 2007 (pré-convergência), 2008 a 2009 (convergência parcial), de 2010 a 2014 (adoção plena da convergência) e de 2015 a 2016 (pós-lei 12.973). Os resultados indicam que (i) a ETRt, entre os períodos de convergência parcial, de adoção plena e de regulamentação da Lei nº 12.973/2014 são estatisticamente iguais, mas diferentes do período de pré-convergência o que comprova que houve influência significativa quando adotados os padrões internacionais de contabilidade; (ii) o RTT permitiu um maior distanciamento entre os lucros contábil e fiscal (BTD positivo). Tal fato é justificado pela tributação de acordo com as normas tributárias vigentes em 2007 enquanto a contabilidade convergia para novos padrões, sendo identificados maiores lucros contábeis, conforme observado por Santos e Calixto (2010), Mello e Salotti (2013), Moraes, Macedo e Sauerbronn (2015) e Santos (2015) nos momentos de adoção parcial e full das normas IFRS; e, (iii) a neutralidade fiscal, conferida pela Receita Federal, na regulamentação da Lei nº 12.973/2014 (SILVA et al., 2014) não parece estar muito clara já que a ETRt permaneceu em queda, enquanto houve aumento considerável da ETRc de 2015 para 2016. Tal fato reforça a

(13)

13 continuação de estudos sobre o comportamento das alíquotas efetivas sobre o lucro das empresas a fim de identificar os motivos deste impacto.

O acompanhamento da tributação, seja por meio da ETR ou por outras métricas, conferem aos usuários interessados base para inferência de aumento da carga fiscal ou de persistência de alíquotas fiscais, ou seja, indícios de gerenciamento de resultados tributários. Com isso, sugere-se o acompanhamento, ou mesmo, identificação de outras métricas que captem melhor o gerenciamento tributário e sua relação com outras variáveis corporativas. Ainda, que os novos estudos explorem a análise por tamanho, setor de atividade, para verificar se essas hipóteses seriam mantidas, suavizadas ou acentuadas após a Lei nº 12.973/2014, bem como a sua relação com o valor da companhia.

Como limitações do estudo, há de se mencionar a coleta dos dados. Por ter sido realizada em março de 2017, muitas empresas ainda não haviam divulgado suas demonstrações contábeis de 2016 por ter o prazo final exigido no dia 31 deste próprio mês. Com isso, a amostra deste ano ficou reduzida. Outra limitação pode ser o estudo ser voltado somente para as companhias abertas uma vez que utiliza como fonte principal a base Economática.

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