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EXERCÍCIO FÍSICO E QUALIDADE DE VIDA DE MULHERES COM HIPOTIREOIDISMO TRATADAS COM LEVOTIROXINA

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EXERCÍCIO FÍSICO E QUALIDADE DE VIDA DE MULHERES COM HIPOTIREOIDISMO TRATADAS COM LEVOTIROXINA

PHYSICAL EXERCISE AND QUALITY OF LIFE IN L-THYROXINE TREATED HYPOTHYROID WOMEN

Francisco Zacaron Werneck Mestre em Educação Física. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Medicina-Endocrinologia da UFRJ. Emerson Filipino Coelho Doutor em Ciências. Pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Medicina-Endocrinologia da UFRJ. Mateus Camaroti Laterza Doutor em Ciências. Coordenador da Unidade de Investigação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício

do Hospital Universitário e da Faculdade de Educação Física e Desportos da UFJF . Jorge Roberto Perrout de Lima Doutor em Educação Física. Professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação da Faculdade de

Educação Física e Desportos da UFJF . Heloina Lamha Machado Bonfante Médica endocrinologista da Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora (SUPREMA). Tatiana Roberta Medeiros Professora de Educação Física. Especialista em Atividade Física em Saúde e Reabilitação Cardíaca pela UFJF. Fabiana de Faria Guetti Nutricionista. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde da UFJF . Rafaela Pinheiro Lacerda Professora de Educação Física. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde da UFJF . Mário Vaisman Professor titular da Faculdade de Medicina da UFRJ. Chefe do Serviço de Endocrinologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF).

Correspondência:

Francisco Zacaron Werneck

Rua Dr. Idolindo Daibert, 155 / ap. 401 - CEP 36037-320 São Pedro - Juiz de Fora - MG

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RESUMO

Introdução: Pouco se sabe sobre os benefícios do exercício em pacientes com

hipotireoidismo. Objetivo: Testar a hipótese de que a prática regular de exercícios físicos melhora a qualidade de vida de mulheres com hipotireoidismo tratadas com levotiroxina (L-T4).

Material e Métodos: Participaram deste estudo transversal 53 pacientes (mulheres de 20

a 65 anos) tratadas com L-T4 (25 a 200mg), apresentando níveis normais de TSH (2,83±1,76 µUI/ml) e T4 livre (1,11±0,42 ng/dl). As pacientes foram classificadas quanto à prática regular de atividades físicas em dois grupos: sedentárias e fisicamente ativas. A qualidade de vida foi mensurada pelo questionário SF-36 e o perfil dos estados de humor pelo POMS. O teste U de Mann-Whitney foi usado para comparar os grupos nas variáveis contínuas; e o coeficiente de correlação de Spearman, para testar a relação entre as variáveis de interesse.

Resultados: As pacientes fisicamente ativas apresentaram maior capacidade funcional

(79±17 vs. 60±28; p=0,01), maior percepção de saúde geral (76±16 vs. 60±21; p=0,01) e maior escore físico de qualidade de vida (72±20 vs. 59±22; p=0,04) quando comparadas às pacientes sedentárias. Não houve diferença significativa entre os grupos no perfil de humor (p>0,05). A presença do sintoma fraqueza muscular foi menor nas pacientes ativas (10,7% vs. 36%; p=0,03) Não foi observada correlação entre os níveis de TSH e as variáveis do SF-36 ou do POMS (p>0,05). Conclusões: Os resultados demonstram que mulheres com hipotireoidismo tratadas com L-T4 que praticam atividade física regularmente possuem melhor qualidade de vida, especialmente em relação aos aspectos de saúde física.

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ABSTRACT

Introduction: Little is known about exercise benefits in hypothyroid patients.

Aim: To test the hypothesis that regular physical exercise improves quality of life in

L-thyroxine (L-T4) treated hypothyroid women.

Material and Methods: Took part in this cross-sectional study 53 patients (women

aged from 20 to 65 years old) treated with L-T4 (25 a 200mg) and with normal TSH levels (2,83 ± 1,76 µUI/ml) and free T4 (1,11 ± 0,42 ng/dl). Patients were classified in two groups: sedentary or physically active. Quality of life and profile of mood states were measured with questionnaires (SF-36 and POMS, respectively). Mann-Whitney´s U test was used to compare groups on continuous variables and Spearman´s correlation was used to test the relationship between variables.

Results: Physically active group showed bigger functional capacity (79±17 vs. 60±28;

p=0,01), general health (76±16 vs. 60±21; p=0,01) and physical score of quality of life (72±20 vs. 59±22; p=0,04) when compared with the sedentary group. Significance difference in the mood profile was not found between the groups (p>0,05). Muscular weakness symptom was lower in physically active group (10,7% vs. 36%; p=0,03). TSH levels, quality of life and mood didn’t shown any correlation (p>0,05).

Conclusion: It was conclude that L-T4 treated hypothyroid women which practice physical exercise regularly have better quality of life, especially in physical health.

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INTRODUÇÃO

Os hormônios tireoidianos T3 e T4 regulam o metabolismo corporal, atuando de forma direta ou indireta sobre vários sistemas orgânicos. A deficiência na produção desses hormônios caracteriza o hipotireoidismo e provoca consequências adversas sobre a saúde(1). O hipotireoidismo clínico é uma disfunção da tireóide, sendo diagnosticado quando os níveis séricos do hormônio tireoestimulante (TSH) estão elevados e as concentrações livres de T3 e T4 estão reduzidas(2). Estudo populacional realizado na cidade do Rio de Janeiro-Brasil encontrou prevalência de hipotireoidismo de 12,3%, sendo maior em mulheres(3).

O hipotireoidismo clínico implica em diversas morbidades associadas, tais como: fadiga, ganho de peso, mialgias, dislipidemia, complicações cardiovasculares, distúrbios neuropsicológicos e maior insatisfação com a saúde(2,4,5). O tratamento desses pacientes se realiza através da reposição hormonal com levotiroxina (L-T4) e, normalmente, reverte grande parte das complicações cardiovasculares observadas(2). Entretanto, quanto à percepção de saúde, alguns estudos verificaram que, mesmo após a normalização dos hormônios tireoidianos, não houve melhora no estado de humor e na qualidade de vida dos pacientes tratados com L-T4 quando comparados a indivíduos saudáveis ou a normas populacionais(6-11).

A percepção de saúde no hipotireoidismo tem sido apontada como importante fator clínico de monitoramento dos pacientes e de tomada de decisão quanto ao início do tratamento medicamentoso para os casos subclínicos(7), especialmente por que existem evidências de que quanto maior a severidade da doença, pior é a percepção de saúde dessas pacientes(12).

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Está bem documentado na literatura que a presença de morbidades está associada ao estilo de vida sedentário, acarretando prejuízos diversos sobre a saúde física, psicológica e social dos indivíduos e que a prática regular de exercícios físicos previne e auxilia no tratamento de algumas doenças, tais como: diabetes, hipertensão arterial sistêmica e obesidade, melhorando, assim, a qualidade de vida dos pacientes(13). Porém, pouco se sabe sobre os possíveis benefícios do exercício físico em pacientes com hipotireoidismo.

Diante deste contexto, o presente estudo teve como objetivo testar a hipótese de que a prática regular de exercícios físicos melhora a qualidade de vida de mulheres com hipotireoidismo tratadas com L-T4.

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MATERIAL E MÉTODOS

Participaram do estudo 53 mulheres recrutadas no ambulatório de Endocrinologia do Hospital e Maternidade Terezinha de Jesus da SUPREMA (HMTJ-SUPREMA). As pacientes foram estratificadas quanto à prática de atividade física em dois grupos: “fisicamente ativas” ou “sedentárias”. A paciente foi classificada como fisicamente ativa se, nos últimos três meses antes da entrevista, esteve envolvida em qualquer tipo de programa de atividade física pelo menos duas vezes por semana e mínimo de duração de 30 minutos. Os critérios de inclusão foram: mulheres de 20 a 65 anos de idade; diagnóstico de hipotireoidismo em tratamento com L-T4 há pelo menos seis meses; realização de dosagem de TSH e T4 livre nos últimos seis meses, apresentando valores dentro da faixa de normalidade (eutireoidianas), de acordo com os limites de referência do laboratório. Os critérios de exclusão foram: uso de medicação antidepressiva ou que afetasse a função tireoidiana; presença de doença em estágio agudo. A dosagem de L-T4 utilizada pelas pacientes variou de 25 a 200mg, sendo mais comum doses de 50mg (25%) e 75mg (35%). A presença de morbidades associadas foi similar entre os grupos (hipertensão: 8 vs. 7; diabetes: 2 vs. 1; dislipidemia: 10 vs. 9; doença cardíaca: 1 vs. 1, respectivamente). A maioria das pacientes reportou histórico familiar de doença tireoidiana (66%). A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética do HMTJ-SUPREMA, sob protocolo n° 0164/10.

A avaliação dos níveis hormonais foi feita com base nos resultados obtidos no último exame de sangue realizado pela paciente, com tempo máximo de seis meses antes da realização da entrevista. Os valores de referência para normalidade do TSH e T4 livre foram 0,34 a 4,5 µUI/mL e 0,61 a 1,24 ng/dL, respectivamente. Todas as pacientes submeteram-se à anamnese e exame físico no dia da visita. Foram coletadas informações sobre histórico de doenças, uso de medicamentos, histórico familiar de doença

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tireoidiana, uso de cigarro, status de menopausa, tempo de uso e dosagem de L-T4, prática regular de exercício físico e sintomas relacionados ao hipotireoidismo. As pacientes também foram questionadas quanto à presença dos seguintes sintomas: mialgia, fadiga geral, câimbras, fraqueza muscular e ganho de peso. Os sintomas foram computados como presentes se ocorreram pelo menos uma vez no último mês e com intensidade suficiente para interferir nas atividades diárias. Os dados antropométricos coletados foram massa corporal e estatura.

O SF-36 (Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form Health Survey) foi usado para medir o estado de saúde das pacientes em sua versão traduzida e validada para o Português(14). O SF-36 é um instrumento genérico de avaliação da qualidade de vida, composto por 36 itens, distribuídos em oito escalas ou dimensões: capacidade funcional, aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental. As respostas são apresentadas em escala likert. O escore final varia de 0 a 100 pontos, sendo que quanto maior o escore, melhor o estado de saúde. O escore físico de qualidade de vida foi calculado pela média das seguintes escalas: capacidade funcional, aspectos físicos, dor e estado geral de saúde; e o escore psicológico, pelas escalas: vitalidade, aspectos sociais, aspectos emocionais e saúde mental.

Usou-se o POMS (Profile of Mood States) para medir sentimentos subjetivos de humor, em sua versão traduzida e validada para o Português(15). As pacientes responderam aos itens de acordo com a seguinte instrução: “Como você vem se sentindo durante a última semana, incluindo hoje?”, numa escala likert de 0 (nada) a 4 (extremamente). Altos valores nas subescalas do POMS refletem pior estado de humor, exceto para o constructo vigor, em que altos valores refletem melhor estado de humor.

Para medida do nível de atividade física habitual, utilizou-se o Questionário de Baecke em sua versão traduzida e validada para o Português(16). O questionário consta

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de 16 questões, compreendendo três componentes de atividade física nos últimos 12 meses: atividades físicas ocupacionais, exercícios físicos praticados durante o tempo de lazer e atividades físicas durante o tempo de lazer e locomoção, excluindo exercícios físicos. Quanto maior a soma dos escores, maior o nível de atividade física habitual.

A análise descritiva apresenta-se como média ± desvio-padrão. A distribuição das variáveis foi testada pelo teste de Kolmogorov-Smirnov. Para comparar as pacientes fisicamente ativas e sedentárias quanto à idade, IMC, níveis hormonais, nível de atividade física habitual, bem como nas escalas de qualidade de vida e do estado de humor, utilizou-se o teste U de Mann-Whitney. Diferenças nas frequências dos sintomas foram testadas pelo teste χ2. A consistência interna do SF-36 e do POMS foi avaliada pelo coeficiente alfa de Cronbach. Para verificar associação entre as escalas do SF-36 e do POMS com os níveis de TSH e nível de atividade física, utilizou-se o teste de correlação de Spearman. Todas as análises foram realizadas através do software estatístico SPSS, versão 16.0 (SPSS Inc., Chicago, IL), sendo adotado o nível de significância de 5%.

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RESULTADOS

As principais características da amostra estão apresentadas na Tabela 1. As pacientes fisicamente ativas e sedentárias foram similares quanto à idade, ao índice de massa corpórea (IMC), tempo de doença e níveis de TSH e T4 livre. O nível de atividade física, medido pelo teste de Baecke, foi maior nas pacientes fisicamente ativas, confirmando a classificação dos grupos pelo critério de prática regular de exercícios físicos. Apesar de semelhantes nos sintomas mialgia, fadiga geral, câimbras e ganho de peso, o grupo de pacientes fisicamente ativas apresentou valores de fraqueza muscular significativamente menor quando comparado ao grupo de sedentárias.

“Inserir Tabela 1 aqui”

O SF-36 apresentou consistência interna satisfatória (alfa de Cronbach = 0,88), assim como em cada uma de suas subescalas, com alfa variando de 0,77 a 0,90. As pacientes fisicamente ativas apresentaram melhor percepção de saúde do que as sedentárias, sobretudo quanto ao aspecto físico da qualidade de vida. As pacientes fisicamente ativas demonstraram maior capacidade funcional (Z=-2,477; p=0,01), melhor saúde geral (Z=-2,834; p=0,01) e maior escore físico de qualidade de vida (Z=-2,049; p=0,04) comparadas às sedentárias (Figura 1 e Tabela 2, respectivamente).

“Inserir figura 1 aqui”

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O tamanho do efeito observado nessas comparações, considerando critérios utilizados para estudos clínicos, foi moderado (capacidade funcional = 0,68; saúde geral = 0,79; escore físico = 0,59). Não foram observadas diferenças significativas para as variáveis: aspectos físicos 0,872; p=0,38), dor 1,357; p=0,17), vitalidade (Z=-0,340; p=0,73), aspectos sociais (Z=-1,354; p=0,18), aspectos emocionais (Z=-0,513; p=0,61), saúde mental (Z=-0,250; p=0,80) e escore psicológico (Z=-0,820; p=0,41).

O POMS apresentou consistência interna satisfatória (alfa de Cronbach = 0,85), assim como em cada uma de suas subescalas, com alfa variando de 0,68 a 0,89. O perfil de humor das pacientes ativas e sedentárias foi similar (p>0,05).

O nível de TSH não apresentou relação com as variáveis do SF-36 ou do POMS (p>0,05). Também não se encontrou correlação entre o nível de atividade física, o TSH e as variáveis de humor (p>0,05). Por outro lado, constatou-se correlação significativa entre o tempo da doença e os escores de depressão (r=0,31; p=0,02; n=53) e raiva (r=0,27; p=0,04; n=53) do POMS.

DISCUSSÃO

A hipótese do estudo foi que as pacientes com hipotireoidismo tratadas com L-T4 e que praticam atividade física regularmente apresentariam melhor estado de humor e melhor qualidade de vida do que aquelas não praticantes. Tal condição foi confirmada para as variáveis relacionadas à qualidade de vida, mas não para o estado de humor. No presente estudo, mulheres hipotireoidianas tratadas com L-T4 e fisicamente ativas apresentaram maiores valores nas variáveis relacionadas à qualidade de vida, sobretudo nos indicadores físicos, como capacidade funcional, saúde geral e escore físico geral.

Vale notar que este é o primeiro estudo a examinar a relação entre o nível de atividade física e o estado de saúde em pacientes com hipotireoidismo. Os resultados

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encontrados mostraram que a prática regular de exercícios está associada com melhor percepção de saúde física nessas pacientes. Como os grupos foram similares quanto à idade, IMC, tempo de doença e presença de morbidades associadas, especula-se que a diferença entre os grupos se deva a prática de exercícios. Este resultado corrobora a grande maioria da literatura disponível que demonstra benefícios do exercício sobre a saúde, tanto em pessoas saudáveis, quanto em pessoas acometidas por morbidades(13). É sabido que a prática regular de exercícios físicos promove diversas adaptações psicofisiológicas positivas no organismo e, assim, propiciam benefícios, tanto físicos quanto mentais, como o aumento da aptidão física, maior disposição para as atividades diárias e maior bem-estar. Especula-se que o treinamento físico poderia atuar na regulação dos hormônios tireoidianos e no controle metabólico, todavia esse tema é controverso(19).

Os resultados de qualidade de vida encontrados em nossas pacientes são piores quando comparados a dados normativos de pessoas sem comprometimento da tireóide, exceto nas variáveis saúde geral e vitalidade. Esse resultado corrobora os achados de outros estudos que demonstraram uma baixa percepção de saúde e a presença de sintomas físicos e distúrbios psicológicos em pacientes com hipotireoidismo, mesmo quando apresentavam níveis dos hormônios tireoidianos controlados(6,8,10,20). Sobre isto, Bianchi et al.(7) afirmam que, independente da severidade da doença, simplesmente apresentar algum distúrbio da tireóide já altera a percepção de saúde das pacientes, tanto na dimensão física quanto mental. Em pacientes com hipotireoidismo clínico, a explicação se dá pelos diversos sintomas e morbidades que acompanham essa condição. Porém, era de se esperar que o tratamento destas pacientes revertesse este quadro. De fato, o uso de L-T4 reverte à maioria dos sintomas e prejuízos funcionais observados no hipotireoidismo, mas a melhora na percepção de saúde e qualidade de vida apresenta resultados inconsistentes(11,21,22).

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Em alguns pacientes os sintomas da doença persistem e o tratamento não é suficiente para melhorar a percepção do estado de saúde(17).Não está claro se isto se deve a presença de morbidades ou se o tratamento de algum modo é inadequado para alguns indivíduos(23). Tentativas já foram realizadas no sentido de buscar um ajuste na dosagem do medicamento que proporcionasse maiores benefícios. Porém, no que diz respeito à melhoria do bem-estar e da qualidade de vida dos pacientes não houve sucesso(11). Outros estudos propuseram uma combinação de T3 com T4 ao invés da monoterapia com T4, mas recente estudo de metanálise não encontrou superioridade no tratamento combinado para melhoria dos sintomas e da percepção de saúde em pacientes com hipotireoidismo(24).

Quanto à presença de sintomas, as pacientes fisicamente ativas apresentaram menor frequência dos sintomas: fraqueza muscular, câimbras e ganho de peso, embora estes dois últimos não tenham alcançado significância estatística. Gulseren et al.(21) encontraram melhoras significativas nos sintomas de pacientes com hipotireoidismo após tratamento com L-T4, sendo esta melhora maior nos casos mais graves da doença. Quanto ao ganho de peso, recente estudo realizado sugeriu que a perda de peso observada em pacientes tratadas com hormônio tireoidiano se deve mais a eliminação do excesso de água, causado pela presença de edema periorbitário, do que ao aumento do nível de atividade física(26). Na verdade, a investigação dos sintomas no hipotireoidismo torna-se um pouco complexa, pois alguns deles não são específicos do hipotireoidismo e podem estar relacionados a outras condições patológicas.

Existe associação entre os níveis de TSH e o quadro clínico do paciente. Em pacientes subclínicos ou que ainda não iniciaram o tratamento, os maiores prejuízos funcionais no estado de saúde são observados naqueles com maiores níveis de TSH(25). Porém, em pacientes tratadas, como no presente estudo, os níveis de TSH dentro da

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faixa de normalidade não se correlacionam com a percepção de qualidade de vida e nem com a presença de sintomas, conforme observado por outros autores(10,11).

Decisões terapêuticas são usualmente baseadas nos níveis hormonais, mas a presença de sintomas e, especialmente, a percepção do estado de saúde do paciente deve ser levada em consideração, diante das evidências de estudos recentes(7,26). Além disso, o monitoramento de sintomas psicológicos pode ajudar a melhorar a qualidade de vida das pacientes e minimizar o custo com o tratamento da doença. Sendo assim, a prática de exercícios aliada à adoção de hábitos saudáveis de vida pode auxiliar no alívio dos sintomas e melhoria da percepção de saúde e por isso deve ser melhor investigada no hipotireoidismo.

A significância clínica desses resultados está na diferença dos escores de qualidade de vida entre pacientes ativas e sedentárias. No que diz respeito à capacidade funcional, a saúde geral e o escore físico geral, o tamanho do efeito da diferença foi considerado moderado. Isto sugere na prática que as pacientes fisicamente ativas apresentam percepção de maior disposição para as atividades diárias, sendo mais independentes fisicamente quando comparadas às pacientes sedentárias. A avaliação do estado de saúde através do SF-36 deve ser mais uma estratégia utilizada na avaliação clínica de pacientes com hipotireoidismo e a prática de exercícios deve ser estimulada na clínica médica, como meio eficaz de promoção da saúde e auxílio no tratamento destas pacientes.

Como limitações do presente estudo destacam-se: o desenho transversal não permite estabelecer relações de causa e efeito entre qualidade de vida e prática de exercícios; a utilização exclusiva de mulheres não permite estender os resultados para pacientes do sexo masculino; não foram coletadas informações quanto à condição socioeconômica, que pode influenciar na percepção de qualidade de vida; não foi

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controlado em que estágio do ciclo menstrual as mulheres estavam no momento da entrevista.

Recomendam-se novos estudos com desenho experimental que possa testar diferentes doses de atividade física em pacientes com hipotireoidismo e seus benefícios psicofisiológicos, visando a estabelecer critérios para prescrição de atividade física para esta população. São necessários também estudos de caráter populacional para construção de normas brasileiras do SF-36 para que se possa verificar de fato até que ponto a percepção de saúde de pacientes com hipotireoidismo tratadas com L-T4 está prejudicada. Novas pesquisas também são necessárias para tentar elucidar os possíveis mecanismos envolvidos na melhoria da percepção de saúde por meio do exercício físico.

CONCLUSÕES

Concluímos que mulheres com hipotireoidismo tratadas com L-T4 e que praticam exercício físico regularmente apresentam melhor percepção de qualidade de vida quando comparadas àquelas que não praticam exercício, sobretudo nos indicadores físicos, tais como maior capacidade funcional, maior saúde geral e menor frequência de sintomas, como fraqueza muscular.

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Tabela 1. Características gerais, níveis hormonais e presença de sintomas em mulheres com hipotireoidismo tratadas com L-T4 classificadas quanto à prática regular de atividades físicas (n=53). Variáveis Pacientes Ativas (n = 28) Pacientes Sedentárias (n =25) p-valor Idade (anos) 50,5 ± 13,4 47,6 ± 8,3 0,09 IMC (kg/m2) 26,7 ± 4,1 28,1 ± 6,5 0,49

Nível de atividade física 8,5 ± 1,2 7,2 ± 0,8 0,001*

Tempo da doença (anos) 5,8 ± 5,9 7,0 ± 5,9 0,39 TSH (UI/ml) 2,79 ± 1,26 2,87 ± 2,21 0,79 T4L (ng/dl) 1,11 ± 0,38 1,12 ± 0,47 0,77 Mialgia (%) 42,9 56,1 0,34 Fadiga geral (%) 35,7 36,0 0,98 Câimbras (%) 17,9 40,0 0,07 Fraqueza muscular (%) 10,7 36,0 0,03* Ganho de peso (%) 17,9 40,0 0,07

(Nível de atividade física medido pelo teste de Baecke; *Diferença significativa, p<0,05; Teste U de Mann-Whitney).

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Tabela 2. Características normalizadas de qualidade de vida e valores brutos de estados de humor de mulheres com hipotireoidismo tratadas com L-T4 classificadas quanto à prática regular de atividades físicas (n=53).

Variáveis Pacientes Ativas (n = 28) Pacientes Sedentárias (n =25) p-valor SF-36 Capacidade Funcional 79,1 ± 17,4 60,0 ± 27,8 0,01* Aspectos Físicos 67,8 ± 39,6 60,0 ± 42,7 0,38 Dor 65,2 ± 25,4 56,5 ± 24,3 0,17 Saúde Geral 76,2 ± 15,8 59,7 ± 20,8 0,01* Vitalidade 61,9 ± 21,5 56,2 ± 25,3 0,73 Aspectos Sociais 77,4 ± 23,7 67,7 ± 27,4 0,18 Aspectos Emocionais 64,3 ± 45,3 62,7 ± 35,2 0,61 Saúde Mental 68,4 ± 20,8 66,5 ± 21,1 0,80 Escore Físico 72,1 ± 20,1 59,0 ± 22,1 0,04* Escore Psicológico 68,0 ± 23,7 63,3 ± 22,1 0,41 POMS Tensão 14,5 ± 7,7 16,2 ± 9,1 0,55 Depressão 6,9 ± 7,3 13,5 ± 13,9 0,09 Raiva 8,3 ± 6,6 11,8 ± 12,0 0,62 Vigor 16,5 ± 6,0 16,7 ± 5,4 0,94 Fadiga 9,7 ± 6,6 12,7 ± 7,2 0,15 Confusão Mental 7,4 ± 5,0 9,4 ± 6,2 0,28

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Figura.1: Valores absolutos de qualidade de vida de mulheres com hipotireoidismo tratadas com L-T4 classificadas quanto à prática regular de atividades físicas (n=53). (*Diferenças significativas, p<0,05).

Referências

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