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IV DISCUSSÃO. 1 Discussão Geral

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Academic year: 2021

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IV – DISCUSSÃO

1 – Discussão Geral

Música é um fenômeno complexo e sua audição pelo homem ainda carece de muitas explicações a respeito de como isto se dá. Os dados obtidos nos dois experimentos vêm atestar esta complexidade. A diferença de resultados obtida nos Experimentos 1 e 2 comprova que a diversificação dos sujeitos divididos em leigos (se bem que não totalmente leigos, pelo fato de se ter exigido deles afinidade e musicalidade) e músicos, em homens e mulheres são fatores dos quais resultam diferenças e que podem estar agregadas à complexidade da percepção musical. Os resultados obtidos nos dois Experimentos geralmente atenderam às expectativas para as quais haviam sido projetados: indicação de lateralidade para funções musicais isoladas, diferença de percepção como decorrência do sexo em algumas funções etc. Não foi atendida, porém, a expectativa de diferença na percepção dos participantes como função de sua formação (leigos e músicos). Entende-se que isto possa ter ocorrido pelo fato de as amostras de leigos e músicos, quanto a este aspecto não ter se diferenciado substancialmente, uma vez que de ambos os grupos exigia-se que tivessem determinadas características comuns, como a musicalidade (afinidade com a música).

A discussão sobre os resultados encontrados é feita seguindo a ordem segundo a qual os dados foram analisados. Deixa-se claro aqui que os dados obtidos nos dois Experimentos permitem muitas outras análises sob vários outros pontos de vista, como por exemplo, nos testes de altura, o da localização das anomalias levando em consideração as consonâncias e dissonâncias, a diatonicidade entre as notas que compuseram o intervalo analisado, a distância em tons e semitons entre o som base e o alterado etc. e que não foram feitos neste trabalho.

a) Modalidade

Os tempos de reação registrados foram maiores na modalidade dicótica para o timbre e para a altura. Para a intensidade ocorreu o contrário: as médias menores foram as da modalidade dicótica (506 ms) e as maiores a da modalidade monótica (562 ms). (Vide Tabela XV). Esta ocorrência levanta uma questão a respeito do comportamento auditivo dos participantes. Será que eles responderam à intensidade como função isolada, na audição monótica, da mesma forma que responderam na dicótica? Poderia na audição dicótica, ter havido uma mudança no enfoque da atenção da audição do julgamento de contraste de intensidade em si, para julgamento de direção do som? É uma hipótese que se

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verificada muda com certeza a reação do sujeito e, por conseguinte, seu tempo de reação ao conferir a resposta.

b) Lateralidade:

Para o estudo da lateralização auditiva de estímulos musicais deve-se atender a algumas regras básicas de como evitar a indução a um determinado hemisfério cerebral o que poderia ocorrer como conseqüência da formulação e apresentação do estímulo, por exemplo, quando para sua percepção se induz ao raciocínio, à análise, à comparação. Para este trabalho, é razoável aceitar-se que o contexto musical e o uso de modalidades de audição deferentes nos Experimentos 1 e 2, conduzidos com fins a se complementarem e o efeito aleatório da distribuição dos estímulos ajudem a evitar esta armadilha. Os dados obtidos mostraram que houve diferença no comportamento auditivo dos participantes em relação às duas modalidades de audição, monótica e dicótica (Tabela XV), porém, esta diferença se evidenciou sobretudo para a altura para a qual, em audição dicótica, as médias dos TRs, variância e número de erros foram mais altos do que em audição monótica, sugerindo dificuldade, indecisão de resposta ou processo neural mais lento, de qualquer forma diferenciado do utilizado para a detecção dos outros dois parâmetros, intensidade e timbre.

1. Timbre

Definir timbre sob o ponto de vista da acústica é difícil por causa dos diversos elementos que contribuem para sua formação. O som de um clarinete, por exemplo, transmite ao mesmo tempo informações de altura, intensidade, duração e do próprio timbre. Sua percepção exige um aparato neurológico que integralize todas estas informações e que segundo Zatorre et al. (1994), exige a participação de mecanismos cerebrais do HD por conter em si propriedades que, envolvendo o reconhecimento de mudança na estrutura (o espectro) do som, precisam ser analisadas para serem decodificadas (Milner, 1962; Samson e Zatorre, 1991; Tramo e Gazzaniga, 1989). Alguns estudos revelam que o timbre não é percebido da mesma maneira por leigos e por músicos. Beal (1985) fez estudos a respeito de discriminação do timbre em que os sujeitos deviam responder se o timbre dos acordes (tocados por harpa e por guitarra) mudava ou não (e a mudança ou não consistia na mudança do instrumento que tocava os acordes) e encontrou que músicos saiam-se melhor na identificação das mudanças do que leigos, sugerindo que, talvez, os leigos pudessem confundir timbre com altura, o que não aconteceria com os músicos, e, como conseqüência, a percepção do timbre poderia afetar a percepção da altura. Pitt (1994) em estudo com sons isolados avaliou a percepção do timbre de 4 sons (2 tocados por um trompete e 2 por um piano) e concluiu que a mudança de timbre afetou a percepção

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da altura nos leigos e que isto não aconteceu para os músicos. No experimento de Pitt (1994) o timbre foi avaliado em sons isolados, o que difere de sua avaliação quando presente em um contexto melódico. E ainda seja dito que o timbre é uma propriedade específica de cada instrumento variando de um para outro e sua percepção pode de algum modo ser função desta variação. Neste experimento trata-se de timbre específico de um determinado instrumento, o clarinete.

Neste trabalho a consideração sobre a percepção do timbre como função musical isolada (vide Tabela XV) revelou que, em audição monótica, a orelha esquerda foi mais rápida do que a direita, não tendo sido indicada diferença entre as orelhas na audição dicótica. Também para a percepção do timbre os leigos cometeram mais erros do que os músicos, mas no total foram cometidos menos erros pelos participantes ao acusarem o timbre do que para acusarem os outros dois parâmetros (no paradigma monòtico: timbre, 162, intensidade, 262, altura, 265; no paradigma dicótico: timbre, 131, intensidade, 127, altura, 640 erros) e isto está de acordo com as indicações da literatura (Beal, 1985 e Pitt 1994) que evidenciam a lateralização para o hemisfério direito para funções musicais receptivas relacionadas com mudanças de espectro sonoro (Zatorre et al. 1994), perturbações do contorno melódico (Peretz, 1987) e julgamentos estéticos, todas circunstâncias, que provavelmente a mudança de timbre no estímulo avaliado possa ter contrariado. Ao ser respondido em presença da altura e da intensidade, para o timbre foram registrados tempos de reação menores do que para a situação contrária (altura ou intensidade sendo respondida em presença do timbre), indicação também referenciada pela literatura como verdadeira (Wolpert, 1990 e Pitt 1994), fazendo crer que de fato o timbre se impõe à percepção diante destes parâmetros. Portanto, a partir dos resultados é possível concluir-se que o hemisfério direito processa mais rapidamente a percepção do timbre do clarinete em presença do timbre do piano em contexto melódico, do que o hemisfério esquerdo e que os leigos erram mais do que os músicos ao atenderem às informações de timbre, mas que no geral cometem-se menos erros para perceber timbre do que para perceber altura e intensidade.

2. Intensidade

Dos parâmetros musicais estudados neste trabalho a intensidade é o que apresenta menor número de estudos na literatura sob o ponto de vista de sua percepção. Um deles é o experimento de Nakamura (1987) examinando os efeitos da intensidade na concepção de um intérprete ou de um ouvinte em geral. O papel da intensidade é fundamental na criação de expectativas musicais e é da variedade de intensidade e do andamento que surge a agógica, um dos parâmetros musicais de maior expressividade na música, mediante a qual o músico, sobretudo o intérprete, se comunica estabelecendo-se a relação intérprete e ouvinte. Neste experimento a assimetria hemisférica da

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intensidade foi examinada em tarefa que se baseava na mudança da intensidade em notas isoladas dentro de um contexto musical que usou intensidade constante em todas as demais notas.

A Tabela XV permite a visualização dos resultados para a intensidade a partir dos quais não foi encontrada diferença nas médias do TRs, nos desvios padrão e no número de erros entre as orelhas direita e esquerda na modalidade monótica, mas sim na dicótica, para a qual a orelha esquerda foi mais rápida. Nesta condição os desvios foram semelhantes, mas o número de erros foi maior para o grupo dos leigos do que para o dos músicos tanto no paradigma monótico como no dicótico, levando a crer que os leigos não se desempenham tão bem como os músicos no reconhecimento das mudanças na intensidade ou as confundem com outros parâmetros musicais envolvidos (altura e timbre). Neste experimento para responder à intensidade solicitada não se fazia necessárias qualidades musicais no sentido estrito, mas apenas audição íntegra, talvez por isto o desempenho inferior dos leigos comparados ao dos músicos não possa ser explicado apenas pela falta de treino ou conhecimentos musicais. Quando se consideraram os resultados em função do sexo, verificou-se que os homens erram menos do que as mulheres em ambas as modalidades de audição, mas as médias dos TRs não foram significantes.

Os resultados apontaram para uma superioridade do hemisfério direito no processamento da mudança de intensidade em duas notas (colcheias) isoladas inseridas em contexto melódico. Esta conclusão está de acordo com as indicações da literatura quando evidenciam lateralização para o hemisfério direito para funções musicais específicas, entre elas alteração de contorno melódico e julgamentos estéticos, sendo estas as prováveis causas que deram fundamento ao julgamento dos participantes. O resultado deste experimento poderia acrescentar à literatura de lateralização em música um evento: a percepção de intensidade como função isolada, independentemente de formação ou sexo.

3. Altura

A altura é entendida como resultado da freqüência fundamental de um som, mas traz consigo também outras informações como, por exemplo. a da tonalidade (Krumhansl e Shepard, 1979; Shepard, 1982) ou modalidade com implicações sobre o contexto melódico e harmônico. Sua percepção exige participação especializada e complexa do sistema neural, para o que teria função decisiva o lobo temporal direito, segundo indicação de Zatorre e Halpern (1993), pelo menos para alguns aspectos específicos deste processamento (Zatorre et al., 1994). A discriminação da altura quando considerada em sons isolados parece ser mais difícil, sobretudo para os leigos (Pitt e Crowder, 1992; Beal, 1985). Esta percepção (dos leigos) se torna mais difícil quando os sons a serem discriminados ocorrem diante de estímulos perturbadores como, por exemplo, em presença do timbre

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ou da intensidade, fazendo crer que os sujeitos respondem mais aos estímulos perturbadores do que à altura em si. Apesar de os leigos deste experimento não serem totalmente leigos à música, uma vez que deles se exigiu alguma musicalidade, mas não conhecimentos formais de música, possivelmente se enquadram no conceito de leigos referenciado por Pitt e Crowder (1992) e Beal (1985), avalizando a legitimidade das conclusões a que se chegou nos dois experimentos.

Neste trabalho para a percepção da altura na modalidade monótica, não se verificou diferença entre as médias dos TRs, desvios e número de erros efetuados pelas orelhas, verificando-se, porém, diferença na modalidade dicótica, onde a orelha direita foi mais rápida e teve menor número de erros. (Tabela XV). Ainda para a percepção de altura os leigos erraram mais do que os músicos nas duas modalidades de audição. As mulheres foram mais rápidas, tiveram menor desvio padrão, mas erraram mais do que os homens na modalidade dicótica. A percepção de altura foi feita mais lentamente em presença do timbre do que o inverso.

Constatou-se ainda que os dados (médias, variância e número de erros) do teste altura em audição dicótica foram mais altos do que os das outras condições testadas, tanto em audição monótica como em dicótica. Diga-se, no entanto, que a coerência nas respostas dos participantes, sobretudo no paradigma dicótico, foi mantida, frente ao que se pode concluir que para ouvir altura em audição dicótica, revelou-se assimetria hemisférica em favor da orelha direita demonstrada pelos tempos de reação mais curtos nesta orelha, podendo-se concluir que existe superioridade do hemisfério esquerdo no processamento da mudança de altura de uma nota (colcheia) inserida randomicamente num contexto melódico e que tais resultados não apontam para uma relação direta com a formação ou com o sexo do sujeito.

c) Formação

A análise que considerou as respostas dos participantes segundo sua formação em leigos e músicos não indicou significância para nenhum dos parâmetros (timbre, intensidade e altura) em nenhuma das modalidades de audição (monótica e dicótica) (vide Tabela XV), sugerindo com estes resultados que, nos dois experimentos o fato de o sujeito ter ou não conhecimentos e experiência musicais não afetou os resultados, contrariando assim a indicação da literatura que sugere que a discriminação da altura quando considerada em sons isolados parece ser mais difícil para os leigos do que para os músicos (Pitt e Crowder, 1992; Beal, 1985) admitindo com isto diferença decorrente da formação do participante. Todavia os leigos cometeram mais erros do que os músicos em todas as tarefas, tanto na modalidade monótica como na dicótica, dando a entender que a acurácia das respostas

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à percepção está relacionada com o treinamento e conhecimento específico de música dos participantes. Há de lembrar-se que mesmo não sendo os grupos de leigos e músicos totalmente diferenciados quanto ao aspecto da musicalidade, esta característica não teria influenciado suas respostas sob o ponto de vista da correção.

d) Gênero

A análise que considerou as respostas dos participantes segundo sua divisão em homens e mulheres, não indicou diferença na percepção de nenhum dos parâmetros testados, timbre, intensidade e altura na modalidade monótica e timbre e intensidade na dicótica. Para a percepção de alturas as mulheres foram mais rápidas e tiveram menor variância (homens, 161, mulheres, 82) na modalidade dicótica. Isto está de acordo com a literatura quando sugere que as mulheres são mais lateralizadas do que os homens (Gorski, 1985, Piazza, 1980) para funções que envolvem audição de estímulos não verbais, inclusive música.

2. – Considerações finais

As pesquisas avançam à procura das chaves dos “segredos” da música, sobretudo, em três direções: uma sob os princípios das neurociências (neurologia e neuropsicologia) e que visa a identificação e correção de distúrbios da percepção e do desempenho musicais, outra que se caracteriza pela procura de respostas para situações práticas de como, por exemplo, alguém se torna músico, se a partir de estudo ou não e uma terceira a busca do conhecimento dos fenômenos musicais em si. Todas estão envolvidas de alguma forma com os milenares “segredos” da música. Os passos são lentos mas são constantes. É uma rotina que as severas limitações da metodologia científica impõem ao objeto de uma pesquisa e que levam o pesquisador a restringir seus estudos a pequenas descobertas, mas que é destas descobertas que se chega a conclusões maiores que enriquecem o campo do conhecimento específico de cada área pesquisada, inclusive da música. Restringir, para controlar. Dissecar para analisar.. Em música, estudando parâmetro por parâmetro, do som, do ritmo, no tempo e no espaço, tenta-se realizar a grande síntese. É assim que este estudo se projeta e marca o seu espaço na área do conhecimento científico. O importante fato de serem determinadas com precisão lateralização de parâmetros musicais, função que a formação ou o sexo das pessoas possa ter nesta lateralização etc., torna-se mais importante na medida em que se transformam em base para novos estudos ou servem a objetivos terapêuticos ou se colocam a serviço da prática musical. Talvez, em casos, a complexidade

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da música desestimule a busca de resposta aos segredos, mas em outros são justamente estes “segredos” que impulsionam a pesquisa.

As indagações sobre os eternos “segredos” da música, certamente vão continuar, aquelas que ocupam e preocupam os interessados no assunto, de modo especial aqueles que têm sobre si responsabilidades terapêuticas ou de orientar a quem quer se tornar músico ou que se sentem atraídos pelo fascínio do conhecimento em si. Muitas perguntas, com certeza, estiveram, estão e estarão no questionário dos pesquisadores das “coisas secretas” da música e que, com certeza, não foram respondidas neste trabalho. Mas nele está a missão de lembrá-las para que estejam sempre na mente dos que se interessam por música e sua relação com o homem, notadamente os músicos, os neurologistas, os musicoterapeutas, os professores de música, como estímulos constantes à pesquisa.1

Uma pesquisa nos moldes da que foi feita é apenas uma pequena introdução no mundo das perguntas à cata de conhecimentos a respeito de música e sua relação com o homem. Conhecimentos que podem ser obtidos a favor da saúde das pessoas ou postos a serviço do ensino ou permanecer na esfera do conhecimento puro.

1 as referencias bibliográficas e até certo ponto as exposições, às vezes foram longas, e aparentemente sem referência direta

à pesquisa em si, mas se justificam pela absoluta falta de informação, em português, a respeito do assunto, sobretudo para músicos e professores e estudantes de música a quem são dedicadas estas informações.

Referências

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