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PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL DE CARVÃO VEGETAL

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PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL DE

CARVÃO VEGETAL

ANÁLISE SOCIO-ECOLÓGICA, ESTUDO DE

MERCADOS E LEGISLAÇÃO RELEVANTE

EM GAZA, MAPUTO E MAPUTO CIDADE

Relatório Final

PARTE 1 DE 2

Ricardo Martins

Boris Atanassov

Rui Mirira

Maputo, Fevereiro de 2016

(2)

AVISO LEGAL

Este relatório foi preparado no âmbito da identificação e preparação ideias/propostas do Projecto de Acções de Mitigação Nacionalmente Apropriadas para Moçambique. O Serviço de Alterações Climáticas do Governo Federal Belga providenciou o apoio financeiro para este projecto.

Os pontos de vista e opiniões expressos neste relatório são da exclusiva responsabilidade dos autores e não vinculam terceiros. Os resultados e factos foram recolhidos e verificados com o melhor empenho dos autores e destinam-se a informar discussões futuras para melhorar a eficiência/sustentabilidade da cadeia de valor do carvão vegetal em Moçambique. O uso deste documento e do seu conteúdo é da inteira responsabilidade de quem o usar.

(3)

Índice

AGRADECIMENTOS ... i LISTA DE TABELAS ... ii LISTA DE FIGURAS ... iv ACRÓNIMOS ... vi 1. INTRODUÇÃO ... 1 2. METODOLOGIA ... 2 2.1. METODOLOGIA DE INQUIRIÇÃO ... 2

2.2. ABORDAGEM DE ANÁLISE CRÍTICA ... 3

3. CONTEXTO SOCIO-ECOLÓGICOS DAS ÁREAS DE PRODUÇÃO ... 4

3.1. GEOGRAFIA, METEOROLOGIA E TIPO DE SOLOS ... 4

3.2. DISPONIBILIDADE DE BIOMASSA PARA A PRODUÇÃO SUSTENTADA DE CARVÃO ... 6

3.2.1. INVENTÁRIO E COBERTURA FLORESTAL DOS DISTRITOS ANALISADOS ... 7

3.2.2. BIOMASSA FLORESTAL DISPONÍVEL PARA PRODUZIR CARVÃO EM GAZA E MAPUTO ... 10

3.2.3. SELECÇÃO DE ESPÉCIES PARA PLANTAÇÃO ... 18

3.3. CONTEXTOS E DINÂMICAS SOCIO-ECONÓMICAS NA PRODUÇÃO DE CARVÃO... 19

4. QUADRO INSTITUCIONAL E SOCIAL E A PRODUÇÃO DE CARVÃO ... 24

4.1. ENQUADRAMENTO LEGISLATIVO COM EFEITO NA PRODUÇÃO DE CARVÃO ... 24

4.1.1. LEI DA TERRA ... 24

4.1.2. LICENÇAS FLORESTAIS ... 25

4.1.3. REGISTO DE EMPRESAS E LICENCIAMENTO DE INVESTIMENTOS E PROJECTOS ... 27

4.1.4. LICENCIAMENTO AMBIENTAL ... 28

4.1.5. OUTRA LEGISLAÇÃO RELEVANTE PARA COMBUSTÍVEIS LENHOSOS... 30

4.2. ASSOCIAÇÕES DE CARVOEIROS COMO PARCEIROS DE PROJECTO ... 31

4.3. O GOVERNO DE MOÇAMBIQUE COMO PARCEIRO DE PROJECTO ... 37

5. MERCADO E NEGOCIO DO CARVÃO ... 39

6. ANÁLISE CRITICA E PROPOSTAS ... 42

6.1. ANÁLISE CRITICA AO SISTEMA SOCIO-ECOLÓGICO ... 42

6.2. ANÁLISE CRITICA AO QUADRO REGULAMENTAR E INSTITUCIONAL ... 43

6.3. ANÁLISE CRITICA DO ACTUAL MODELO DE NEGÓCIO ... 44

6.4. PROPOSTA DE TRABALHO FUTURO... 45

REFERÊNCIAS ... 47 ANEXO A- LISTA DE ENTREVISTADOS ... A ANEXO B- DEFINIÇÕES FLORESTAIS ... B

(4)

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem igualmente à Sra. Marcelina Mataveia, Sr. Rosa Benedito, ao Sr. Albazine e ao Sr. Osvaldo Manso nos respectivos ministérios que contribuíram com o seu tempo, conhecimento e perspectivas nacionais para os assuntos aqui abordados. Agradecemos também aos Srs. Mário Beca e Alexandre Zimba da Direcção Provincial de Gaza e à Sra. Argentina Cossa Direcção Provincial de Maputo que de forma muito diligente e profissional providenciaram dados e informações muito relevantes para este trabalho. Agradecemos igualmente aos docentes Romanda Bandeira, Natasha Ribeiro, Sophia Baumert, Mário Falcão da Universidade Eduardo Mondlane pelas perspectivas de investigação e de trabalho prático desenvolvido na área. Finalmente, um agradecimento muito especial aos carvoeiros e aos representantes das Associações de Carvoeiros que dispensaram o seu tempo, experiencia e conhecimento com esta equipa, dando, de forma positiva e empenhada, um contributo substancial para este trabalho. Finalmente, este relatório teve a preciosa ajuda de Rudi Drigo na análise e fornecimento de dados sobre a disponibilidade de biomassa para a produção de carvão no sul de Moçambique. A todos o nosso muito obrigado.

(5)

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1- Técnicas de inquirição e dados para cada uma das dimensões de analise em §1

[Fonte: Martins]. --- 2

Tabela 2.2- Instituições contactadas, informação fornecida e contributos para as 3 dimensões

de análise usadas: 1- Contexto Socio-Ecológico dos Distritos; 2- O Quadro Institucional e Social; 3- O Mercado e Negócio do Carvão [Fonte: Martins]. --- 3

Tabela 3.1- Risco de seca e cheias por distrito [Fonte: NAPA 2007]. --- 5 Tabela 3.2- Comparação da cobertura vegetal de florestas e outras formações lenhosas para

Gaza, Maputo e Moçambique em termos absolutos e relativos (Onde: %TN- percentagem do território nacional; %TP- percentagem do território Provincial) [Fonte: Marzoli 2007]. --- 10

Tabela 3.3- Comparação entre a floresta produtiva e não produtiva em Gaza, Maputo e

Moçambique em termos absolutos e relativos (Onde: %T- percentagem floresta total para essa divisão territorial) [Fonte: Marzoli 2007]. --- 11

Tabela 3.4- Comparação de volumes disponíveis entre as províncias de Gaza e Maputo (Onde:

DAP- Diâmetro medio de peito) [Fonte: Marzoli 2007]. --- 11

Tabela 3.5- Produtividade e disponibilidade legal para produzir carvão de algumas espécies de

árvore comuns nas províncias de Gaza e Maputo (Onde: DAP- Diâmetro medio de peito) [Fonte: Marzoli 2007]. --- 12

Tabela 3.6- Corte anual admissível (CAA) segundo dois métodos considerando todas as espécies

comerciais e apenas as de 1ª Classe nas províncias de Gaza e Maputo e em Moçambique [Fonte: Marzoli 2007]. --- 14

Tabela 3.7- Quantidade de sacos de carvão licenciados por província [Entr. Mário Beca 2014]. 15 Tabela 3.8- Estimativas do WISDOM para o balanço de biomassa (oferta-procura) nos distritos

estudados, Províncias respectivas e pais [Fonte: Drigo et al. 2008]. --- 16

Tabela 3.9- Espécies possivelmente úteis para a produção de carvão no sul de Moçambique

[Fonte: WL 2005; ABIODES 2009]. Contínua na página seguinte. --- 18

Tabela 3.10- Densidades populacionais e taxas de aumento populacional nos distritos

províncias analisados [Fonte: INE 2007]. --- 20

Tabela 4.1- Procedimentos para o registro de uma empresa em Moçambique [Fonte: CEPAGRI

2014]. --- 27

Tabela 4.2- Procedimentos necessários no licenciamento ambiental em Moçambique [Fonte:

MITADER 2007]. --- 30

Tabela 4.3- Detalhes das Associações de Carvoeiros a operarem em Gaza [Fonte: DPA 2014]. - 32 Tabela 4.4- Resumo da capacidade de produção de biomassa florestal por agente (Associações

(6)

Tabela 5.1- Estrutura de custos para dois tipos de produtores (CTS- Custos; forno de carvão a

produzir 65 sacos durante 18 dias) [Fonte: Chavana 2014]. --- 39

(7)

LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1- Localização geográfica das áreas de produção de carvão estudadas no contexto

deste projecto [Fonte: os Autores]. --- 4

Figura 3.2- Relação entre os vários tipos de disponibilidades de biomassa para a produção

sustentável de carvão e os respectivos limites (NOTA: a figura não representa nenhum tipo de proporcionalidade) [Fonte: Martins]. --- 6

Figura 3.3- Mapa e quantificação do uso e ocupação da terra no distrito de Chicualacuala

[Fonte: DPA 2014]. --- 7

Figura 3.4- Mapa e quantificação do uso e ocupação da terra no distrito de Chigubo [Fonte: DPA

2014]. --- 7

Figura 3.5- Mapa e quantificação do uso e ocupação da terra no distrito de Mabalane [Fonte:

DPA 2014]. --- 8

Figura 3.6- Mapa e quantificação do uso e ocupação da terra no distrito de Guijá [Fonte: DPA

2014]. --- 8

Figura 3.7- Mapa e quantificação do uso e ocupação da terra no distrito de Magude [Fonte: DPA

2014]. --- 9

Figura 3.8- Mapa e quantificação do uso e ocupação da terra no distrito de Matutuine [Fonte:

DPA 2014]. --- 9

Figura 3.9- Arvores de Mopane de vários diâmetros com o interior oco [Fonte: Martins]. --- 13 Figura 3.10- Comparação entre o Corte anual admissível (CAA) e o sacos de carvão licenciados

para as províncias de Maputo (A) e Gaza (B) (Onde: Li.- licenciado; M1- Método 1; M2- Método 2) [Fonte: Martins]. --- 15

Figura 3.11- (A) Análise balanço de biomassa pixel a pixel com os distritos estudados em

evidência no contexto Provincial (quadrados de 6.25ha de lado; As zonas brancas referem-se a áreas protegidas); (B) Análise de balaço de biomassa por distrito e capita de Distrito; (C) Análise de balaço de biomassa em função dos riscos de degradação florestal (a risco negro estão marcados os distritos estudados) [Fonte: adaptado por Martins de Drigo et al. 2008 ]. --- 17

Figura 4.1- Diagrama do processo de obtenção da Licença De Concessão Florestal em

Moçambique (Onde: SPFFB- Secção Provincial de Flora e Fauna Bravia; DPA- Direcção Provincial de Agricultura; DNTF- Direcção Nacional de Terras e Floresta; N- Não; S- Sim) [Fonte: CEPAGRI 2014]. --- 26

Figura 4.2- Processo de aquisição de terra para actividade florestal no CEPAGRI e submissão de

projecto de investimento estrangeiro no CPI (Onde: EPDA- Estudo de Pré-viabilidade e Definição do Âmbito; DNTF- Direcção Nacional de Terras e Florestas) [Fonte: CEPAGRI 2014]. 28

(8)

Figura 4.4- Detalhe da localização e dimensão da área de exploração das Associações de

Mucachane, Ligone e Mepuze [Fonte:Martins com Dados da DPA de Gaza]. --- 33

Figura 5.1- Evolução histórica do preço de um saco de carvão de 75kg de 2007 a 2014 e

projecção de preços de 2014 a 2019 para o mesmo saco [Fonte: Greenlight Projects 2013]. --- 41

(9)

ACRÓNIMOS

AC s Associações de Carvoeiros AIA Avaliação De Impacto Ambiental

BEST Estratégia de Biomassa para Moçambique (Biomass Energy Strategy em Inglês) BM O Banco Mundial

CAA Corte Anual Admissível

CEPAGRI Centro de Promoção da Agricultura CPI Centro de Promoção de Investimento DAP Diâmetro médio de peito

DNTF Direcção Nacional de Terras e Florestas DPA Direcção Provincial de Agricultura

DUAT Direito de Uso e Aproveitamento de Terra EIA Estudo de Impacto ambiental

EPDA Estudo de Pré-viabilidade e Definição do Âmbito

FAO Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura GdDG Governo do Distrito do Guijá

GdM Governo de Moçambique

GdPM Governo da Província de Maputo

IIAM Instituto de Investigação Agrária de Moçambique MAE Ministério da Administração Estatal

MASA Ministério De Agricultura E Segurança Alimentar (Antes MINAG, Ministério da

Agricultura)

MdC Ministério do Comércio

MIREME Ministério de Recurso Minerais e Energia (Antes MdE Ministério da Energia)

MITADER Ministério Para Terra, Ambiente E Desenvolvimento Rural (Antes MICOA Ministério

para A Coordenação Ambiental)

NAMA Acções de Mitigação Nacionalmente Apropriadas (National Appropriate Mitigation

Action em Inglês).

PI Proposta de Investimento

SDAE Serviços Distritais das Actividades Económicas SPFFB Secção Provincial de Floresta e Fauna Bravia TdR Termos de Referência

(10)

1. INTRODUÇÃO

A produção de carvão já foi associada à queda de impérios e culturas Africanas (Kerr 2012), a tensões políticas, económicas e ecológicas, mas também a oportunidades para iniciativas (negócios ou projectos) de desenvolvimento. A experiencia das últimas décadas indica que para terem sucesso essas iniciativas terão de conhecer de forma integrada a disponibilidade ecológica, os contextos e dinâmicas socio-económicas e institucionais, as opções tecnológicas e as possibilidades de financiamento dentro de uma lógica de sustentabilidade.

Uma das opções de financiamento oferecidas hoje aos países em desenvolvimento no sector da energia e das florestas é o financiamento climático. Neste contexto o presente relatório está inserido numa iniciativa mais alargada que pretende tornar o sector de produção de carvão vegetal em Moçambique beneficiário de financiamento climático no quadro oferecido pelas Acções de Mitigação Nacionalmente Apropriadas, ou NAMA (do Inglês National Appropriate

Mitigation Action). As NAMAs permitem o financiamento e apoio tecnológico da comunidade

internacional a projectos em Moçambique desde que estes se enquadrem nas prioridades Nacionais de redução de emissões e de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. Neste sentido, foram identificados 3 projectos de produção sustentável de carvão no sul de Moçambique susceptíveis de serem enquadrados numa NAMA (EES 2014b, c):

1. Produção de briquetes a partir de resíduos de carvão, florestais e/ou de agrícolas;

2. Uso de fornos melhorados e gestão florestal por comunidades e produtores de carvão;

3. Produção privada em larga escala com base em plantações e fornos eficientes.

No entanto, para se saber qual a possibilidade real de implementação prática destes projectos, e logo de inclusão numa NAMA, é fundamental saber, numa lógica de sustentabilidade, se estão reunidas as condições socio-ecológicas adequadas. Uma vez que a informação sobre estas condições apresenta lacunas e/ou esta dispersa o este relatório pretende reunir, analisar e relacionar informação de distritos seleccionados nas Províncias de Gaza e Maputo sobre:

1. O Contexto Socio-Ecológico dos Distritos (§3), descrevendo o ambiente físico, o clima, as actividades económicas e a capacidade florestal de sustentar a produção de carvão;

2. O Quadro Institucional e Social (§4), aferindo o grau de aceitação social, de organização dos produtores e de adequação legislativa e regulamentar aos projectos;

3. O Mercado e Negócio do Carvão (§5), indicando As características do mercado de carvão que justificam os projectos como negócio.

Complementando estas 3 dimensões de análise estão a descrição da metodologia seguida (§2) e a discussão dos resultados (§6).

(11)

2. METODOLOGIA

Neste trabalho a metodologia refere-se à abordagem metodológica usada em dois níveis diferentes. Ao nível da execução do trabalho foi aplicada uma metodologia de inquirição, que inclui as técnicas usadas para obter a informação pretendida (§2.1). Ao nível de abordagem dos propósitos do trabalho, foi aplicada uma técnica de análise crítica que procura perceber se a situação actual é propícia aos objectivos do projecto e, em caso negativo, que condições deveriam ser estabelecidas.

2.1. METODOLOGIA DE INQUIRIÇÃO

Para garantir um levantamento de dados de forma fidedigna, consistente e fiável foi definido e aplicado um conjunto de técnicas de inquirição que incluíram:

1. Pesquisa bibliográfica em todos os temas abordados nos vários objectivos traçados (§1);

2. Visitas de campo aos distintos sectores que compõe a cadeia de produção de carvão incluindo os locais de produção, transporte e venda para observar e obter dados e informação através de observação in-loco e entrevista;

3. Entrevistas individuas ou a grupos focais realizadas durante as visitas de campo junto de entidades e indivíduos relevantes e conhecedores da realidade socio-ecológica de Mabalane e da produção de carvão

A relação entre as técnicas usadas e os objectivos (§1) está exposta na tab. 2.1:

TABELA 2.1- Técnicas de inquirição e dados para cada uma das dimensões de análise em §1 [Fonte: Martins].

DIMENSÃO BUSCA BIBLIOGRÁFICA VISITA DE CAMPO ENTREVISTA

1 Contexto socio-ecológicos dos Distritos

Geografia, meteorologia, geologia e floresta de Mabalane (Gaza e Maputo)

Dados estatísticos socio-económicos

Visita a distritos de Gaza e Maputo

Associações de carvoeiros; carvoeiros; Governo local e

central; e Direcções Provinciais

2. Quadro Institucional e

Social Legislação e procedimentos legais em vigor

Funcionários do Estado em entidades e sectores relevantes (florestas; agricultura; energia; Ambiente) 3. O Mercado e Negócio do Carvão Descrição da produtividade florestal, produção carvoeira, dados económicos, de preços e de mercado,

Visita a distritos de Gaza e Maputo e a zonas de comércio de carvão em Maputo Carvoeiros, transportadores e revendedores de carvão em Maputo e na Matola

(12)

Em relação ao contributo dado por cada um dos intervenientes para o trabalho de análise, a tab. 2.2 relaciona os inquiridos com a informação prestada e as 5 dimensões de análise listradas em §1 (vide Anexo A para lista de entrevistados):

TABELA 2.2- Instituições contactadas, informação fornecida e contributos para as 3 dimensões de análise usadas: 1-

Contexto Socio-Ecológico dos Distritos; 2- O Quadro Institucional e Social; 3- O Mercado e Negócio do Carvão [Fonte: Martins].

INSTITUIÇÃO INFORMAÇÃO RECOLHIDA DIMENSÃO

1 2 3

Governo Distrital (Gaza) Experiência em iniciativas passadas e

conhecimento socio-ecológico da sua região e procedimentos legais

  

Governo Distrital (Maputo)

Ministério da Energia Enquadramento legal e institucional 

Ministério do Ambiente Licenças ambientais 

Direcção Nacional de Terras e Florestas

Dados de inventário florestal, informação sobre estratégias governamentais e enquadramento legal

  

Direcção Provincial de Agricultura (Gaza) Lista de Associações de carvoeiros, estratégias

governamentais para o sector no distrito, procedimentos legais

  

Direcção Provincial de Agricultura (Maputo)

Associações de Carvoeiros (Chicualacuala) Condições da floresta e socio-económicas dos

seus membros, organização e actividade das associações estratégias locais, preços na cadeia de valor

 

Associações de Carvoeiros (Mabalane)

Universidade Eduardo Mondlane (Departamento de Eng. Florestal)

Estado da pesquisa actual, incluído dados e perspectivas do terreno, aspectos técnicos relacionados com a plantação de árvores e produção de carvão, perspectivas socio-económicas e legais sobre o carvão e os carvoeiros

  

Organizações Não Governamentais Experiencia com projectos e condições

socio-económicas dos carvoeiros  

2.2. ABORDAGEM DE ANÁLISE CRÍTICA

O presente relatório investiga o grau de adequação do contexto socio-ecológico de distritos das Províncias de Maputo e Gaza à implementação de qualquer um dos 3 projectos apresentados de produção sustentada de carvão usando financiamento climático no quadro oferecido de um NAMA (§1). No entanto mais do que fazer a análise da adequação este relatório também apresenta sugestões e recomendações sobre que mudanças podem ser operadas e porquê para fazer essa NAMA possível. Deste modo cada uma das dimensões de análise é abordada em dois passos: descrição analítica para averiguar da possibilidade de implementação; e análise crítica das condições em que essa possibilidade se confirma, e o que propor em caso negativo.

(13)

3. CONTEXTO SOCIO-ECOLÓGICOS DAS ÁREAS DE PRODUÇÃO

Independentemente das perspectivas qualquer iniciativa relacionada com a produção e consumo de carvão incide, tem significado, influencia e é influenciada pelo seu contexto socio-ecológico (Martins 2014: 12-38). Quanto melhor e mais efectivo for o conhecimento dessa realidade maiores serão as probabilidades de sucesso das iniciativas a implementar.

Esta secção descreve o contexto socio-ecológico presente dos distritos de Chicualacuala, Gijá, Mabalane e Chigubo na Província de Gaza, e dos distritos de Magude e Matutuine na província de Maputo, no sul de Moçambique. Estes distritos foram escolhidos por produzirem carvão para abastecer a cidade de Maputo, a Matola e o Xai-Xai. A analise do contexto socio-ecológico destes distritos irá incidir sobre: a geografia, a meteorologia; o tipo de solos; a cobertura e inventário florestal; e as realidades e dinâmicas socio-económicas mais relevantes (§3.3). Sem ser exaustiva esta análise será sempre relacionada com a produção de carvão.

3.1. GEOGRAFIA, METEOROLOGIA E TIPO DE SOLOS

A fig. 3.1 mostra a distribuição geográfica dos vários distritos analisados dentro das fronteiras das Províncias respectivas em Moçambique.

Começando de norte para sul na Província de Gaza, o distrito de Chicualacuala, com sede na vila Eduardo Mondlane (ou também Chicualacuala), fazendo fronteira distrital a norte com Massangena (Província de Manica), a leste com Chigubo, a sudeste com Mabalane e a oeste faz fronteira internacional com a África do Sul e o Zimbabwe. O distrito de Chigubo, com sede em Ndindiza (ou Dindiza) está situado no norte na província de Gaza limitado a norte pelo distrito de Massangena, a leste pelos distritos de Mabote, Funhalouro e Panda (Província de Inhambane), a sul com os distritos de Chibuto e Guijá e a oeste pelos distritos de Mabalane e Chicualacuala. O distrito de Mabalane tem sede na vila do mesmo nome, e está limitado a oeste e noroeste pelo distrito de Chicualacuala, a este e nordeste pelo distrito de Chigubo, a sul pelo distrito de Chokwé, a sudoeste pele distrito de Massingir e a

Figura 3.1- Localização geográfica das áreas de

produção de carvão estudadas no contexto deste projecto [Fonte: os Autores].

Oceano Índico Massagena Chicualacuala Mabalane Massingir Chigubo Xai-Xai Bilene Chokwé Manjacase Chibuto GAZA Magude Manhiça Moamba Matutuine Namaacha Maputo Boane MAPUTO

(14)

Caniçado) e faz fronteira a norte com o distrito de Chigubo, a leste com o distrito de Chibuto, a sul e sudoeste com o distrito de Chókwè e a oeste com o distrito de Mabalane.

Na província de Maputo o distrito de Magude tem sede na vila de Magude e está geograficamente limitado a norte pelo distrito de Massingir e a este pelos distritos de Chókwè e Bilene (todas da Província de Gaza), a sul pelos distritos de Manhiça e Moamba e a oeste pela África do sul. Matutuine é o distrito mais a sul de Moçambique tem capital na Bela Vista e está confinado pela Swazilândia e distrito da Namaacha a este, pelo Oceano Índico a leste, e pelos distritos de Boane e Cidade de Maputo a norte e pela África do Sul a sul.

Com algumas variações localizadas, todos os distritos estudados têm um clima sub-tropical seco, de acordo com a classificação de Kopha, com duas estações: uma mais quente e com maior pluviosidade de Novembro a Março; e outra mais seca com temperaturas mais baixas de Abril a Outubro. A temperatura média anual varia entre os 22-26oC, precipitação média anual entre os 400-800mm e a média anual de humidade relativa do ar é de 71,7% (MAE 2005a). A maioria destes distritos são particularmente propensos a secas prolongadas e/ou cheias, tab. 3.1. Nenhum dos distritos analisados está simultaneamente livre de risco de seca ou cheias e apenas Chicualacuala e Chigubo têm pouco ou nenhum risco de cheias, mas os outros distritos apresentam um risco de moderado a muito alto de qualquer de um ou ambos os desastres naturais. Em particular, Mabalane e Guijá apresentam um risco muito alto tanto de seca quanto de cheias, tab. 3.1.

TABELA 3.1-Risco de seca e cheias por distrito [Fonte: NAPA 2007].

PROVÍNCIA DISTRITO RISCO DE SECA RISCO DE CHEIAS

Gaza Chicualacuala Muito Alto Pouco ou Nenhum

Chigubo Alto Pouco ou Nenhum

Mabalane Muito Alto Muito Alto

Guijá Muito Alto Muito Alto

Maputo Magude Alto Moderado

Matutuine Moderado Moderado

A província de Gaza está também particularmente sujeita a pragas agrícolas, surtos de doenças em animais e humanos e danos por vento (Levy & Kaufmann 2014; USAID 2011:44-45). É de notar que esta frequência e intensidade de desastres naturais já foram associadas às alterações climáticas (BM 2011).

Em termos de solos estas regiões caracterizam-se por solos arenosos amarelados e alaranjados (solos lixissolos háplicos) e solos de mananga com 50-100cm e 25-50 de camada arenosa (Luvissolos cálcicos), todos considerados relativamente pobres para agricultura (MAE 2005a, b)

(15)

3.2. DISPONIBILIDADE DE BIOMASSA PARA A PRODUÇÃO SUSTENTADA DE CARVÃO

Promover a oferta ou produção sustentável de carvão implica assegurar a disponibilidade permanente de recursos florestais para a produção de carvão ao mesmo tempo que se mantém a integridade, biodiversidade e serviços ecológicos oferecidos pelo ecossistema florestal. No entanto a definição de "disponível" num tempo e espaço não é imediata e depende das características socio-ecológicas desse espaço e tempo, e das perspectivas de sustentabilidade dos vários actores envolvidos expressas em práticas, leis e/ou regulamentos, fig. 3.2.

Figura 3.2- Relação entre os vários tipos de disponibilidades de biomassa para a

produção sustentável de carvão e os respectivos limites (NOTA: a figura não representa nenhum tipo de proporcionalidade) [Fonte: Martins].

A biomassa florestal total disponível corresponde a um valor máximo que nem sempre está acessível em termos economicamente rentáveis por questões geográficas ou tecnológicas, tipicamente por estar em zonas remotas e/ou inacessíveis ou por ter outros usos economicamente igualmente valorizados (e.g. construção, por dar fruta). Além disso há limites sociais que contabilizam as áreas e espécies protegidas por leis, crenças religiosas e culturais. Finalmente, de todas as árvores que restam, há ainda que garantir que a taxa remoção de biomassa florestal (taxa de corte) não excede a taxa de regeneração (rendimento) das espécies florestais exploradas (em florestas ou plantações). Se o objectivo é evitar a desflorestação, em última análise é o limite ecológico de regeneração e definir o corte anual admissível para a produção de carvão. Apesar de a fig. 3.2 mostrar os vários limites alinhados, não se trata de hierarquias ou de limites rígidos, mas sim de diferentes disponibilidades que interagem e forma dinâmica. Podes ser pouco económico e socialmente aceitável cortar uma mangueira, mas se ele deixa de dar fruto a perspectiva muda, e pode-se cortar. Um distrito pode ter muita madeira, mas se toda é sagrada, é como se não tivesse. No entanto, o limite ecológico marca, por assim dizer, um limite físico que não deve ser ultrapassado ou o sistema entra em perda, i.e., há desflorestação. Resumindo, em termos práticos, para o sucesso deste projecto é importante saber o que existe (inventário florestal), §3.2.1, e qual biomassa florestal disponível e adequada à produção de carvão, §3.2.2.

(16)

3.2.1. INVENTÁRIO E COBERTURA FLORESTAL DOS DISTRITOS ANALISADOS

Para se determinar a capacidade da ecologia local suportar a produção sustentada de carvão, importa identificar: que tipo de vegetação florestal existe; qual a área que ocupa (ha); qual prevalência relativa (%); e quais as espécies prevalentes (vide §4.1).

Com estes objectivos, nas fig. 3.3-3.8 são apresentados os mapas do mais recente inventário florestal disponível (DPA 2014). Os mapas apresentados foram publicados em 2011 e usam as definições da FAO (1998), (Anexo B). Convém referir que, a par de outras actividades económicas (vide Martins 2014) nas últimas décadas a exploração carvoeira de Mopane (Colophospermum Mopane) em Gaza e de Micaia (Acacia Sp) e Konola (Terminalia Sp) em Maputo (as espécies florestais abundantes nessas províncias) poderá ter alterado bastante os mapas apresentados, fig. 3.3-3.8 (Entr. Argentina Cossa 2014; Quenhe 2014).

TIPO DE VEGETAÇÃO ÁREA

[ha] % Agricultura 26328.40 1.5 Águas interiores 8120.16 0.5 Arbustos 142085.17 7.9 Floresta Aberta 496214.11 27.5 Florestas Densa 943051.12 52.2 Matagais 78483.54 4.4 Pastagens 111924.71 6.2 TOTAL 1806207.21 100

Figura 3.3- Mapa e quantificação do uso e ocupação da terra no distrito de Chicualacuala [Fonte: DPA 2014].

TIPO DE VEGETAÇÃO ÁREA

[ha] % Agricultura --- --- Águas interiores 10242.77 0.7 Arbustos 151908.05 10.1 Floresta Aberta 979539.29 65.1 Florestas Densa 216642.25 14.4 Matagais --- --- Pastagens 144972.49 9.6 TOTAL 1503304.85 100

(17)

TIPO DE VEGETAÇÃO ÁREA [ha] % Agricultura 18130.15 2.0 Águas interiores 1183.30 0.1 Arbustos 129934.07 14.6 Floresta Aberta 256380.44 28.7 Florestas Densa 455788.57 51.1 Matagais 27901.11 3.1 Pastagens 2755.68 0.3 TOTAL 892073.32 100

Figura 3.5- Mapa e quantificação do uso e ocupação da terra no distrito de Mabalane [Fonte: DPA 2014].

TIPO DE VEGETAÇÃO ÁREA

[ha] % Agricultura 32211.05 7.7 Águas interiores 6046.68 1.4 Arbustos 48750.38 11.6 Floresta Aberta 163191.72 39.0 Floresta/Agricultura 7889.85 1.9 Floresta Densa 154260.72 36.9 Matagais --- --- Pastagens 6214.26 1.5 TOTAL 418564.65 100

Figura 3.6- Mapa e quantificação do uso e ocupação da terra no distrito de Guijá [Fonte: DPA 2014].

Nos distritos de Gaza analisados predomina largamente o Mopane que ocupa vastas áreas de floresta contínua (aberta ou densa), fig. 3.3-6, com pouca diversidade de espécies. Convém referir que muito dos indivíduos da floresta de Mopane em Gaza estão bastante danificados, apresentando-se ocos com perdas de massa lenhosa até aos 70% (vide fig. 3.10, §3.3.2). Adicionalmente, em algumas zonas, o Mopane está reduzido a um estado arbustivo não crescendo mais do que 1.5m.

A floresta na província de Maputo, em relação a Gaza, tem menor área de floresta, mas conta com maior biodiversidade e distribuições mais complexas de cobertura florestal, especialmente na zona de Matutuine, fig. 3.7, que possui Mangais e vegetação bastante diversificada e difícil de caracterizar, com manchas florestais de vários tipos em intrincadas distribuições

(18)

TIPO DE VEGETAÇÃO ÁREA [ha] % Agricultura 80571.79 11.6 Águas interiores 2720.15 0.4 Arbustos 74040.78 10.6 Floresta Aberta 258375.26 37.1 Floresta/Agricultura 22955.36 3.3 Florestas abertas em zonas húmidas 56423.22 8.1 Floresta Densa 48369.33 6.9 Matagais 23360.06 3.4 Pastagens 129276.09 18.6 TOTAL 696092.04 100

Figura 3.7- Mapa e quantificação do uso e ocupação da terra no distrito de Magude [Fonte: DPA 2014].

TIPO DE VEGETAÇÃO ÁREA

[ha] % Agricultura 11470.23 2.2 Águas interiores 18581.58 3.5 Arbustos 47792.60 9.0 Floresta Aberta 87258.58 16.4 Floresta/Agricultura 5967.88 1.1 Florestas abertas em zonas húmidas 1310.94 0.2 Floresta Densa 145390.95 27.3 Mangais 1910.94 0.4 Matagais 19366.46 3.6 Pastagens 191362.02 35.9 Sem Vegetação 2717.19 0.5 TOTAL 533129.37 100

Figura 3.8- Mapa e quantificação do uso e ocupação da terra no distrito de Matutuine [Fonte: DPA 2014].

De referir que de momento estão em curso 2 inventários florestais em Gaza, um conduzido pela Universidade Eduardo Mondlane (UEM) (Prof. Falcão) e outro pelo DFFB com o apoio financeiro e técnico da JICA. Nenhum dos estudos publicou ainda qualquer tipo de resultado. Em 2014 foi também realizado um levantamento botânico exaustivo pela UEM na zona de Matutuine (Prof. Albano), que poderá servir de comparação ao último estudo exaustivo e compreensivo da zona por Van Wyk (1996) que indicava a presença de 2500-3000 espécies arbóreas sendo cerca de 200 endémicas ou sub-endémicas.

(19)

3.2.2. BIOMASSA FLORESTAL DISPONÍVEL PARA PRODUZIR CARVÃO EM GAZA E MAPUTO

Estima-se que 51.4% de todo o território Moçambicano, i.e., 40.1x106ha, esteja coberto de floresta (Marzoli2007), dos quais: 22.5x106ha (56.2%) é florestas densa; 16,4x106ha (40.9%) floresta aberta; 802x103ha (2.0%) floresta aberta em áreas inundada; e 357x103ha (0.9%) mangais (Marzoli2007,Anexo B para definições). Na tab. 3.2 estes valores são confrontados com os dados para as províncias Gaza e Maputo. Em relação ao total nacional, embora representando 12.7% do território nacional em área (Gaza 9.7% e Maputo 3%) no seu conjunto estas duas províncias contribuem com menos de 6% para a cobertura florestal nacional. No entanto, Gaza tem um valor de cobertura florestal (50.2%) apenas ligeiramente inferior à média nacional (51.4%) ao passo que Maputo apresenta um valor substancialmente inferior de cobertura florestal (34.7%). O mesmo sucede quando se compara a o rácio floresta per capita nacional (2ha per capita) com o valor de Gaza (3.1ha per capita) e de Maputo (0.7ha per

capita). A única categoria em que a província de Maputo apresenta valores ligeiramente

melhores que a média nacional é nos valores de floresta aberta (%TP na tab. 3.2) e em todas as categorias de outras formações lenhosas.

TABELA 3.2-Comparação da cobertura vegetal de florestas e outras formações lenhosas para Gaza, Maputo e

Moçambique em termos absolutos e relativos (Onde: %TN- percentagem do território nacional; %TP- percentagem do território Provincial) [Fonte: Marzoli 2007].

TIPO DE VEGETAÇÃO MOÇAMBIQUE GAZA MAPUTO

1000ha %TN 1000ha %TN %TP 1000ha %TN %TP

Floresta densa 22518.7 28.9 1696.0 2.2 22.5 268.0 0.3 11.3

Floresta aberta 16390.0 21.0 2074.9 2.7 27.5 516.4 0.7 21.9

Mangal 357.0 0.5 0.0 0.0 0.0 5.4 0.0 0.2

Floresta aberta- zonas húmidas 802.3 1.0 7.90 0.0 0.1 30.6 0.0 1.3

Total Florestas 40068.0 51.4 3778.8 4.8 50.2 820.4 1.1 34.7

Matagal 1093.1 1.4 226.7 0.3 3.0 58.8 0.1 2.5

Arbusto 8051.0 10.3 1,604.3 2.1 21.3 285.4 0.4 12.1

Floresta com agricultura 5568.1 7.1 176.9 0.2 2.3 285.4 0.4 12.1

Total Outras Formações Lenhosas 14712.2 18.9 2,007.8 2.6 26.7 439.20 0.6 18.6

Comparando as duas províncias entre si, é claro que província de Gaza possui mais recursos florestais disponíveis que a província de Maputo. Embora seja três vezes maior que Maputo, a província de Gaza tem 4.6 vezes mais área florestal e área ocupada com outras formações lenhosas. Esta diferença torna-se ainda mais evidente se for considerada a baixa densidade populacional de Gaza face a Maputo, o que significa que há bastante mais floresta disponível por habitante na província de Gaza.

(20)

Esta diferença inter-provincial atenua-se um pouco quando se aplicam limitações sociais e económicas, para se subtrair as florestas não produtivas de conservação e protecção. São florestas de conservação as áreas protegidas, como Parques Nacionais, Reservas Florestais e Coutadas de Caça, e são florestas de protecção todas as florestas localizadas em zonas húmidas (superfícies alagadas, incluindo os mangais), em terrenos inacessíveis, acidentados ou moderadamente acidentados (Marzoli2007). Por outro lado as florestas produtivas podem ser usadas para extrair materiais de construção, combustível lenhosos e madeira, tab. 3.3.

TABELA 3.3-Comparação entre a floresta produtiva e não produtiva em Gaza, Maputo e Moçambique em termos absolutos e relativos (Onde: %T- percentagem floresta total para essa divisão territorial) [Fonte: Marzoli 2007].

PROVÍNCIA [PAIS] FLORESTA TOTAL FLORESTA PRODUTIVA

FLORESTA NÃO PRODUTIVA

DE CONSERVAÇÃO DE PROTECÇÃO

1000ha 1000ha %T 1000ha %T 1000ha %T

Gaza 3778.8 2421.9 64.1 289.1 7.7 1067.8 28.3

Maputo 820.4 682.9 83.2 99.1 12.1 38.5 4.7

[Moçambique] 40068.0 26907.1 67.2 4255.5 10.6 8905.4 22.2

Como se pode constatar na tab. 3.3 a província de Gaza tem uma área de floresta protegida (Parque nacional do Limpopo e Parque Nacional de Banhine) do que a média nacional e ainda mais do que a província de Maputo (Apenas a muito pequena reserva de Maputo). Deste modo aplicando esta restrição Gaza passa a ter 3778.8x103ha contra 820.4 x103ha de Maputo, ou seja 3.5 vezes mais área florestal produtiva. É de salientar que nenhum dos distritos escolhidos em Gaza é abrangido por nenhum das zonas protegidas dessa província, ao passo que a Reserva de Maputo está precisamente em Matutuine.

Para definir a biomassa florestal ecologicamente disponível numa zona são necessários dois parâmetros: a concentração média de árvores nessa zona; e a área basal, tab. 3.4. Em ambos os parâmetros Gaza mostra valores mais altos de que resulta um valor de quase 5 vezes mais volume de biomassa disponível do que Maputo, 48.42x106m3 contra 10.04x106m3, tab. 3.4.

TABELA 3.4- Comparação de volumes disponíveis entre as províncias de Gaza e Maputo (Onde: DAP-

Diâmetro médio de peito) [Fonte: Marzoli 2007].

PROVÍNCIA FLORESTA PRODUTIVA [1000ha] Nº DE ÁRVORES POR ha [DAP > 10 cm] ÁREA BASAL [m2/ha] VOLUME TOTAL POR ÁREA [m3/ha] VOLUME TOTAL [milhões m3] Gaza 2421.9 97.1 6 20.0 48.42 Maputo 682.9 91.5 2.5 14.7 10.04

Finalmente restam duas condicionantes à disponibilidade de biomassa florestal para a produção de carvão: os regulamentos legais que definem que espécies podem ser usadas na

(21)

produção de carvão; e o corte anual admissível definido pelo produtividade dessas espécies. A lei moçambicana estipula a existência de 4 Classes de árvores de acordo com o seu valor e aplicação. Na 1ª Classe estão as espécies preciosas cujo destino só pode ser a produção de madeira, ao passo que na 4ª Classe estão as espécies que não tendo valor para nenhuma outra aplicação podem ser usadas para produzir carvão (Decreto 12/2002 de 6 de Julho de 2002, §5.5). Para se ter uma ideia do que este regulamento de exploração florestal implica a tab. 3.5 lista algumas das espécies de árvores mais comuns nas províncias de Gaza e Maputo indicado o seu estatuto legal e produtividade.

TABELA 3.5-Produtividade e disponibilidade legal para produzir carvão de algumas espécies de árvore comuns nas províncias de Gaza e Maputo (Onde: DAP- Diâmetro médio de peito) [Fonte: Marzoli 2007].

NOME COMERCIAL & [NOME CIENTÍFICO] LEGAL PARA CARVÃO? Nº DE ÁRVORES POR ha [DAP > 10 cm] ÁREA BASAL [m2/ha] VOLUME TOTAL POR ÁREA [m3/ha] GAZA Mopane

[Colophospermum mopane] Sim 33.8 1.2 10

Namuno

[Acacia nigrescens] Sim 6.8 0.2 1.6

Sândalo

[Spirostachys africana] Não 4.9 0.2 1.3

Chacate preto

[Guibourtia conjugata] Não 10.2 0.2 1.3

MAPUTO

Mopane

[Colophospermum mopane] Não

1

25 0.5 2.4

Chanfuta

[Afzelia quanzensis] Não 6.2 0.2 1.8

Ziba

[Dialium schlechteri] Não 9 0.2 1.3

Sândalo

[Spirostachys africana] Não 6.2 0.2 1.3

Micaia

[Acacia burkei] Sim 3.1 0.2 1.2

Namuno

[Acacia nigrescens] Sim 7.6 0.3 1.2

Infomoze

[Newtonia hildebrandtii] Não 1.2 0.1 1.1

Nota: 1- O Mopane é de 1ª Classe, mas em Gaza por ser usado para carvão (vide explicação no texto).

Da lista fornecida na tab. 3.5, para Gaza apenas o Mopane e o Namuno, e em Maputo apenas a Acacia Burkei e o Namuno podem, legalmente, ser usadas na produção de carvão, sendo que em termos práticos em Gaza se usa quase exclusivamente o Mopane e em Maputo Micaia

(22)

(Acacia Sp) e Konola (Terminalia Sp) (não listadas) e eventualmente Mopane. O Mopane é de facto muito abundante em Gaza (mais de 70% de todo o Mopane em Moçambique está ai localizado segundo Marzoli 2007) onde apresenta destacadamente mais alta concentração de árvores por hectare de que resulta também o maior volume de biomassa por hectare. Além disso, como já foi dito, produz um carvão de grande densidade e poder calorífico muito apreciado nos mercados em Maputo. No entanto, a nível nacional, o Mopane está catalogado como sendo uma árvore de 1ª Classe e, como tal, não poderia servir para fazer carvão. Contudo na província de Gaza o seu uso está autorizado na produção de carvão por dois motivos (Entr. Mário Beca 2014): a impressionante abundância na província e a sua importância central para a sobrevivência de muitos agregados familiares; por mais de 80% dos indivíduos (vide parte 2 deste relatório) serem ocos devido à falta de água, fig. 3.9., tornando-os defeituosos para a produção de madeira ou qualquer outro fim mais rentável e como tal disponíveis para serem carbonizados (aliás uma situação prevista na lei).

Figura 3.9- Árvores de Mopane de vários diâmetros com o interior oco [Fonte: Martins].

O corte anual admissível (CAA) é de grande importância na definição da biomassa efectivamente disponível, mas de difícil cálculo porque requer dados de inventário florestal, de condições meteorológicas, de estimativas de perdas, de crescimento e rendimento florestal que são complicados de obter. Para o inventário Nacional de 1994 (Saket 1994) foi usado um CAA nacional estimado de 500000m3/ano. Dados do Projecto Maneio sustentado dos Recursos do Ministério da Agricultura (agora MASA) com base em dados da província Gaza estimava um CAA nacional de 250000m3/ano. Neste trabalho optou-se por usar os valores estimados por Marzoli (2007). Marzoli usou dois métodos de estimativa. O método 1 calcula o CAA a partir do incremento médio anual como medida de produtividade com base na precipitação média anual. No método 2 o CAA é calculado em função do volume comercial em pé existente, do ciclo de corte e das perdas anuais (e.g. exploração, mortalidade natural, queimadas) em volume para cada espécie. Como indicado na tab. 3.6, quando se consideram apenas as espécies de 1ª

(23)

Classe os valores estimados por estes dois métodos a nível nacional (515.7x103m3/ano e 640.1x103m3/ano) aproximam-se muito do valor estimado por Saket (1984). No entanto, considerando todas as espécies os valores nacionais dados pelos dois métodos são muito semelhantes entre si (2143.9x103m3/ano e 2309x103m3/ano), mas mais de 4 vezes superiores aos obtidos com o CAA de Saket (1984). Em relação às províncias os valores para Maputo são relativamente constantes independentemente dos métodos e da classe das espécies consideradas. por outro lado a província de Gaza é bastante sensível ao cálculo com diferentes métodos (variações de 80%), mas bastante mais estável dentro do mesmo método considerando todas as espécies ou apenas as espécies de 1ª Classe, o que parece ser resultado da prevalência do Mopane nesta província (espécie de 1ª Classe), tab. 3.6.

TABELA 3.6-Corte anual admissível (CAA) segundo dois métodos considerando todas as espécies comerciais e apenas as de 1ª Classe nas províncias de Gaza e Maputo e em Moçambique [Fonte: Marzoli 2007].

PROVÍNCIA [PAIS]

CAA TODAS AS ESPÉCIES [1000m3/ano] CAA ESPÉCIES 1ª CLASSE [1000m3/ano]

MÉTODO 1 MÉTODO 2 MÉTODO 1 MÉTODO 2

Gaza 73.6 133.4 62.8 113.9

Maputo 14.4 13.7 10.6 10.1

[Moçambique] 2143.9 2309.3 515.7 640.1

Conhecendo o CAA e o volume de carvão licenciado é possível verificar se a exploração da floresta para fins energéticos está a cumprir com os limites calculados de CAA. Com base no número de sacos licenciados entre 2008 e 2012, tab. 3.7, assumindo um peso médio de 75kg por saco (medições pessoais de Atanassov) calculou-se a massa de carvão total licenciada por ano. Assumindo uma eficiência média de carbonização de 15% em peso nos fornos de terra usados na produção de carvão no sul de Moçambique (vide a parte 2 deste relatório), estimou-se a massa de lenha usada para produzir esestimou-se carvão. Usando 1064kg/m3 como a densidade do Mopane (Entr. Mário Beca 2014) obtém-se o volume de lenha usado por ano para Gaza e Maputo, fig. 3.10. Este cálculo é, naturalmente, apenas indicador, mas em grande medida conservador, pois embora os sacos possam pesar menos, a eficiência de muitos fornos é inferior a 15%, a densidade das madeiras usadas inferiores à do Mopane e não se consideram as perdas com fornos que entram em combustão completa que são algo frequentes. Se estas perdas fossem devidamente contabilizadas resultariam volumes maiores. No entanto, para simular um pouco melhor a realidade usou-se um factor de 90% para simular o peso do mercado informal e ilegal de carvão que se estima em 98% de todo o volume transaccionado (Cumbe et al. 2005; Gatto 2003).

(24)

TABELA 3.7-Quantidade de sacos de carvão licenciados por província [Entr. Mário Beca 2014].

PROVÍNCIA 2008 2009 2010 2011 2012

Gaza 269270 250643 344653 1049476 807176

Maputo 69992 125031 53920 287449 544653

Os resultados finais dos cálculos, considerando os valores de CAA mais elevados para ambos os métodos (considerando todas as espécies comerciais, tab. 3.6) entre 2008 e 2012, são apresentados nas fig. 3.10A e B, para as províncias de Maputo e Gaza respectivamente.

Figura 3.10- Comparação entre o Corte anual admissível (CAA) e o sacos de carvão licenciados

para as províncias de Maputo (A) e Gaza (B) (Onde: Li.- licenciado; M1- Método 1; M2- Método 2) [Fonte: Martins].

O gráfico da fig. 3.10A parece indicar que, mesmo sem o factor correctivo de informalidade, Maputo está a extrair da sua floresta muito mais biomassa do que a reposta pela produtividade

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 2008 2009 2010 2011 2012 VOL U M E D E M AD EIR A [1 00 0m 3] ANO

(A)

Maputo Carvão Licenciado Maputo Carvão Ilegal Maputo CAA/M1 Maputo CAA/M2

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 2008 2009 2010 2011 2012 VO LUM E D E MAD EIR A [10 00 m 3] ANO

(B)

(25)

florestal. Este facto é corroborado por alguns entrevistados que defendem que em Maputo o aproveitamento florestal para fins energéticos só poderá ser feito por meio de plantações, ou seja, de reflorestação (Entr. Argentina Cossa 2014). Relativamente à província de Gaza (fig. 3.10B) os valores licenciados, corrigidos ou não para a informalidade, estão dentro do intervalo definido pelos dois métodos de cálculo de CAA, o que indica maior disponibilidade de biomassa. No entanto a margem disponível é pequena, o que indica a necessidade de medidas de produção mais sustentável, plantações ou reflorestamento, especialmente sabendo que existem outras actividades (e.g. lenha, construção) que competem com a produção de carvão pela madeira das florestas e não estão aqui contabilizadas. Como os cálculos foram feitos com base nos volumes licenciados as curvas de produção seguem as flutuações do licenciamento. Os resultados parecem indicar que nem a Direcção Provincial de Agricultura (DPA) de Gaza nem a de Maputo (responsáveis por emitir as licenças) usam o CAA na decisões de licenciamento (menos Maputo) e que o facto de Gaza ainda apresentar volumes de corte dentro dos valores da CAA se deve mais a ter iniciado a sua produção de carvão mais recentemente, ter mais cobertura florestal e mais biomassa disponível e como tal ter mais margem para exploração. Estas conclusões foram confirmadas num estudo nacional WISDOM (uma metodologia que combina sistemas de informação geográfica, imagens de satélite e inventário florestal para fazer os balanços de biomassa) encomendado pelo MESA (Drigo et al. 2008). Este estudo calcula a produtividade total, i.e., a biomassa total teoricamente disponível, e por cálculo a produtividade comercial, i.e., a quantidade disponível de biomassa que pode ser usada como combustível. O estudo prossegue depois para identificar dois cenários de consumo, um mais

liberal que considera o acesso ilimitado, e outro mais conservador que considera zonas

alagadas, e desníveis superiores a 60% como limitantes ao consumo, tab.3.8.

TABELA 3.8-Estimativas do WISDOM para o balanço de biomassa (oferta-procura) nos

distritos estudados, Províncias respectivas e pais [Fonte: Drigo et al. 2008].

DISTRITO (PROVÍNCIA)

BIOMASSA TOTAL

[1000t]

BALANÇO COMERCIAL [t/ano]

LIBERAL CONSERVADOR Chicualacuala 30870 270117 192381 Chigubo 22687 420350 416799 Guijá 6672 108741 90214 Mabalane 15107 156184 142106 Magude 9463 162567 147742 Matutuine 9955 169198 150864 (GAZA) 112708 977000 821000 (MAPUTO) 31464 -204000 -263000 MOZAMBIQUE 1615091 19077000 16748000

(26)

O estudo volta a confirmar que Maputo esta com um balanço de biomassa negativo entre os 204000-263000t, ou seja, há mais procura que oferta local, e como tal está em défice energético de biomassa. Além da província de Maputo só a Cidade de Maputo apresenta um défice de biomassa (-971000t/ano). Este défice é colmatado com carvão vindo de Gaza, uma província que apresenta valores muito mais positivos, particularmente em Chigubo (tab. 3.8, fig. 3.11B). É de notar que Gaza apresentava em 2008 uma situação já crítica, estando na zona de risco de degradação florestal intermédio, com zonas do seu território a sul já catalogadas como de alto risco (défice de biomassa), e zonas de baixo risco a nordeste, fig. 3.11C. Deste modo, embora ainda apresenta-se grandes manchas verdes no norte de Mabalane e Chicualacuala e quase todo o distrito de Chigubo, é perceptível uma dinâmica de desflorestação no sentido sul-norte, fig.3.11A-C.

Figura 3.11- (A) Análise balanço de biomassa pixel a pixel com os distritos estudados em evidência no contexto

Provincial (quadrados de 6.25ha de lado; As zonas brancas referem-se a áreas protegidas); (B) Análise de balaço de biomassa por distrito e capita de Distrito; (C) Análise de balaço de biomassa em função dos riscos de degradação florestal (a risco negro estão marcados os distritos estudados) [Fonte: adaptado por Martins de Drigo et al. 2008 ].

Uma vez que ainda não estão disponíveis os resultados dos últimos inventários, não é possível quantificar o estado actual. No entanto, a experiencia dos Autores aponta para a ausência de reflorestamento, de melhoria das prácticas de gestão florestal ou de uma redução substancial na produção de carvão. O único fenómeno que parece ocorrer é o deslocamento das zonas de corte. Neste sentido é de esperar o agravamento da situação actual e a dispersão do défice a mais distritos. Matut uine Ch igubo Chok wé M anhiç a

(27)

3.2.3. SELECÇÃO DE ESPÉCIES PARA PLANTAÇÃO

Face ao panorama traçado acima (§3.2.1-2) uma das soluções propostas no âmbito do presente trabalho (e de outras abordagens, §4.3) é a do reflorestamento. Embora seja uma opção óbvia para aumentar a massa de biomassa disponível (§3.2.2) o reflorestamento, sendo uma intervenção humana num ecossistema complexo, levanta questões complicadas, entre as quais se destacam: a escolha das espécies a plantar; o modelo de gestão florestal a implementar; e a monitorização do processo. Nesta secção irá ser abordada apenas a escolha das espécies possíveis de considerar. Para esta escolha, e tendo em conta a fragilidade dos ecossistemas em causa, o presente trabalho tentou encontrar espécies que fossem úteis para a produção de carvão e que pudessem prestar outros serviços ecológicos, como: alimento para o gado; néctar para abelhas (apicultura); alimento (e.g. nozes, frutos); fins medicinais (raízes, folhas, cortiça); e protecção dos solos (e.g. fixando azoto). A escolha também deu prioridade a espécies autóctones e, por contingências legais (§3.2.2), só se mencionam espécies de 4ª classe.

No entanto é importante referir que a escolha de espécies está sempre condicionada (WL 2005): ao tipo e humidade do solo; relevo e clima; efeitos sobre o solo e outras espécies; tipo de utilização (produto) pretendida; brevidade com que se pretende o retorno do investimento. Nesse sentido a lista aqui apresentada, tab. 3.9 é apenas indicativa e estudo locais são sempre necessários.

TABELA 3.9-Espécies possivelmente úteis para a produção de carvão no sul de Moçambique [Fonte: WL 2005; ABIODES 2009]. Contínua na página seguinte.

ESPÉCIE

OUTRAS APLICAÇÕES

NOME CIENTIFICO NOME LOCAL/COMERCIAL

Acacia gerardii Caia Néctar, lenha

Acácia nilotica Shangwa, Changua Néctar, lenha

Acacia polyacantha Guevo Néctar, lenha

Acacia senegal Munga Néctar, suplemento alimentar

Acacia xanthophloea Lhonpfunga, Chicacaugua Lenha, produtos medicinais

Azadirachta indica Neem Produtos medicinais

Cacia abbreviata Numanhama, Molua1 Lenha

Casuarina equisetifolia Casuarina Lenha, protecção

Diplorhynchus condylocarpon M’tôa1, Rocochi1 Lenha, postes, produtos medicinais

Eucalyptus camaldulensis Eucalipto Lenha

Eucalyptus globulus Eucalipto Lenha e néctar

Eucalyptus grandis Eucalipto Lenha, e postes

Lannea schweinfurthia Muganicomo, Ganicoma Lenha, fruta, produtos medicinais

(28)

Tabela 3.9- Espécies possivelmente úteis para a produção de carvão no sul de Moçambique [Fonte: WL 2005;

ABIODES 2009]. Contínua da página anterior.

ESPÉCIE

OUTRAS APLICAÇÕES

NOME CIENTIFICO NOME LOCAL/COMERCIAL

Lonchocarpus bussei Napitche1 Lenha

Olax dissitiflora N'ssiro1 Lenha

Polysphaeria sp. Norilo1 Lenha

Pterocarpus lucensis Tsandzadlovo Lenha, néctar

Sphenostylis stenocarpa Ntuco1 Fruto, néctar

Tamarindus indica Tamarinho, Wepa Fruto

NOTA: 1- Nome local em Cabo Delgado.

3.3. CONTEXTOS E DINÂMICAS SOCIO-ECONÓMICAS NA PRODUÇÃO DE CARVÃO

A existência de recursos florestais (§3.2 e também §4.1) por si só não justifica a produção de carvão. Praticada nos moldes tecnológicos actuais a produção de carvão não é uma actividade desejada pela maior parte dos carvoeiros entrevistados, pois requer um imenso esforço físico, grande investimento de tempo, põe sérios perigos para a saúde e tem um risco elevado de produzir nenhum ou pouco satisfatórios rendimentos.

De acordo com os grupos entrevistados em Mabalane, em média a produção de carvão leva cerca de 270 dias por ano para fazer cinco fornos, produzindo cada um entre 30 a 90 sacos de carvão. É de referir que o período de duração depende da quantidade de troncos de madeira e do tamanho do forno. No entanto, assumindo a produção média de 60 sacos em cinco fornos por ano e sabendo que cada saco é vendido a 250Mt, por ano um carvoeiro tem de rendimento médio de 75000Mt (cerca de 1500€) ou seja 125 € por mês aos quais se têm de descontar as despesas com pessoal, motosserra, transporte, combustível. Outro valor muito repetido entre quem trabalha por conta de outrem em vários fornos é de 12000Mt por mês (240€). A disparidade de valores evidencia a dificuldade de análise dos aspectos económico da produção de carvão e a necessidade de um estudo mais aprofundado.

O processo de produção de carvão vegetal começa pelo abate e corte de madeiras, que é realizado em muitos casos pelos membros dos agregados familiares, com uma estrutura de divisão do trabalho que incluem adolescentes, jovens e adultos homens e mulheres. Em outros casos, o corte e o abate é feito por trabalhadores assalariados, contratados pelos produtores. Todo processo é tradicional, podendo usar ou não motosserra, mas os fornos são exclusivamente de terra do tipo "barco", menos eficientes. Terminada a sua produção, o carvão é ensacado e transportado para junto da estrada ou linhas de caminho-de-ferro de onde se faz o transbordo para o mercado local e urbano. A maior parte do carvão é comprada pelos

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revendedores que transportam o mesmo para os principais mercados urbanos. Deste modo existe um conjunto de razões socio-económicas que contextualizam a produção de carvão, em particular, o isolamento geográfico e económico, a pobreza e a necessidade de obter dinheiro. Os distritos analisados são na maior parte do seu território remotos e isolados em termos físicos, sociais e económicos. A densidade populacional Moçambicana, 25.7 habitantes/km2 (INE 2007), é já considerada relativamente baixa, no entanto todos os distritos analisados têm valores bastante inferiores variando, com a excepção de Guijá (21 habitantes/km2) entre 1.5 e 3 habitantes/km2 para os distritos de Gaza e entre 6.9 e 7.8 habitantes/km2 para os distritos de Maputo, tab. 3.10. Contudo, todos os distritos analisados apresentam crescimentos populacionais inferiores aos do total das suas províncias respectivas. Adicionalmente as localidades produtoras de carvão são servidas (quando são) por uma rede viária insuficiente e constituída essencialmente por picadas, o que descreve uma ocupação humana caracterizada por populações relativamente pequenas, remotas e de difícil acesso dispersas por vastas áreas.

TABELA 3.10-Densidades populacionais e taxas de aumento populacional nos distritos províncias analisados

[Fonte: INE 2007]. DISTRITO (PROVÍNCIA) ÁREA [km2] POPULAÇÃO [Habitantes] DENSIDADE POPULACIONAL [Habitante/km2] AUMENTO POPULAÇÃO [%] 1997 2007 1997 2007 Chicualacuala 16035 33284 38917 2.08 2.40 16,9 Chigubo 13952 20685 21237 1.48 1.50 2,7 Mabalane 9580 25464 27898 2.65 2.91 9.6 Guijá 3589 57217 76308 15.94 21.30 33,4 (GAZA) 75709 1062380 1228514 14.03 16.23 15.6 Magude 6960 42788 54252 6.15 7.80 26,8 Matutuine 5387 35161 37239 6.53 6.90 5.9 (MAPUTO) 26058 806179 1205709 30.93 46.27 49.5%

Além deste isolamento físico, estas comunidades são pouco e mal servidas de infraestruturas e serviços médicos, educativos, viários e administrativos. As comunicações, embora com melhorias impressionantes nos últimos anos, continuam a ser difíceis e instáveis. Em 2014 o INE declarava que 27.6% de Gaza tinha cobertura de comunicações telefónicas, contra 62.1% da província de Maputo (INE 2015).

No caso de Mabalane, dos 54527ha que o distrito aproveita para a agricultura, 21500ha (39% do total) são dedicados a regadio e estão localizados ao longo do rio Limpopo, enquanto os restantes 33000ha (61% do total) são explorados em regime de sequeiro (MAE 2005a, b). No entanto, a propensão para desastres naturais (tab. 3.1), as pragas frequentes e a má qualidade

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dos solos na maior parte do território (§3.1), o acesso limitado a mercados e facilidade de crédito, bem como, a falta de informação e pouco ou nenhum investimento e apoio estatal no pequeno agricultor (Levy & Kaufmann 2014), fazem da agricultura nestes distritos uma actividade familiar, de subsistência e muito baixo rendimento. Uma vez mais, para o caso de Mabalane, os agricultores, que representam 98% da população activa, tipicamente produzem apenas metade do que consomem num ano (FAO 2005) e, nos distritos de Chigubo e Chicualacuala, mais de 25% da população sofre de Insegurança alimentar (Entr. Mário Beca 2014). Adicionalmente os agricultores nestas zonas são sistematicamente confrontados com colheitas fracas e têm uma capacidade limitada de alterar as condições de produção (Levy & Kaufmann 2014). Já Magude, em 2005, era o segundo maior produtor de gado na Província de Maputo, mas as reservas alimentares de cereais e mandioca eram de apenas 3 meses, e estimava-se que 7.5% da população estivesse altamente vulnerada à pobreza (MAE 2005b). Os distritos de Matutuine e Magude estão localizados na província de Maputo que costuma surgir nas estatísticas socio-culturais em segundo lugar logo atrás de capital, a Cidade de Maputo. Por exemplo, em 2014 a província de Maputo registou uma mortalidade infantil de 61.7 crianças por mil habitantes, contra 51 de Maputo, 77.4 de Gaza e 80.9 em Moçambique (INE 2015). Mesmo sendo muito mais pequena que Gaza, a Província de Maputo tem mais hospitais (3), médicos (89) e pessoal de nível médio (386) que Gaza (2, 76 e 369 respectivamente). Em compensação, a província de Maputo registou em 2014 quase 10 vezes mais desempregados que Gaza, de acordo com os registos oficiais. No entanto distritos mais afastados, como Magude, em 2005 contínua a registar taxas de analfabetismo de 41%, só 11.1% das pessoas tinha acesso a água canalizada e 7.8% tinha acesso à electricidade. Em Matutuine, em 2007, 66.6% das casas ainda eram de caniço, teto em chapa de zinco e chão em adobe, não tinha latrina e recolhia água de poço a céu aberto.

Transversal a todas as comunidades rurais moçambicanas, é o facto se terem tornado mais monetizadas na última décadas por influência de empreendedores comerciais locais, mas também por terem aumentado as necessidades de bens não produzidos nas zonas rurais (Hanlon & Cunguara 2010). Curiosamente, algumas dessas necessidades monetárias resultam de um esforço do Governo por cumprir os Objectivos De Desenvolvimentos do Milénio. Por exemplo para se aumentar os níveis de educação os agregados familiares rurais são agora confrontados com novas despesas (e.g. lápis, cadernos) e com muito poucas, ou nenhumas, oportunidades de emprego fora do sector agrícola (Levy & Kaufmann 2014).

É neste contexto de vulnerabilidade extrema e necessidade de rendimento que a abundância de florestas, fig. 3.2-3.7, de acesso fácil e gratuito em termos monetários, são exploradas para a produção de carvão, lenha, postes de electricidade e material de construção. No caso particular

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de Gaza, a espécie mais usada, Mopane além de muito abundante (§3.2, §4) é também conhecida por produzir um carvão denso, de grande poder calórico muito apreciado pelos consumidores urbanos. A presença de uma linha de comboio e, mais recentemente a abertura e melhoria de picadas e estradas, tornou possível enviar o carvão por camião ou comboio para Maputo, Matola e Xai-Xai. No caso de Magude as mesmas razões aplicam-se, com a particularidade de a estrada para Maputo Cidade ser pavimentada e de alta qualidade. Desta forma, como o demonstra um recente trabalho de campo da Greenlight em parceria com a Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e entrevistas conduzidas no âmbito deste projecto (e.g. Entr. Mário Beca 2014; Entr. Alexandre Zimba 2014), a produção de carvão no distrito de Mabalane é já a segunda actividade económica depois da agricultura e a primeira em geração de renda. Em Matutuine a comercialização do carvão é a principal fonte de rendimento de cerca de 66% das famílias que praticam esta actividade. Sendo uma alternativa reconhecida de rendimento, a produção de carvão está a alastrar para outras áreas mais remotas em que tradicionalmente não se produzia carvão até um passado muito recente. Por exemplo em Chigubo onde a produção de carvão tem menos de 10 anos, já há famílias que garantem a estabilização das condições de segurança alimentar a produção e venda de carvão, além de estacas de construção (Entr. Mário Beca 2014). De facto, as entrevistas em Gaza revelaram a produção de carvão pode ser vista como um complemento à actividade agrícola, o que parecer ser o caso predominante em Mabalane, ou ser mesmo a actividade principal, no caso dos carvoeiros profissionais que são já a maioria em Chicualacuala. Em ambos os casos o carvoeiro poderá trabalhar por conta própria, assalariado ou empregador. De referir ainda a grande parte dos carvoeiros profissionais (mais de 80%) são originários de outras províncias, maioritariamente de Inhambane ou Manica, (Com. Natacha Ribeiro) o que mostra bem a importância do negócio do carvão como gerador consistente de renda.

As entrevistas também revelam o perfil do carvoeiro. Embora a idade os carvoeiros posam ser homens ou mulheres entre os 15 e os 50 anos de idade, no geral são homens com cerca de 35-39 anos e com pouca (88%), ou nenhuma escolaridade. Relativamente ao género, um tema muito investigado no nexus energia-desenvolvimento (e.g. Cecelski 2004; Tragett 2012), as entrevistas conduzidas em Gaza indicam que apesar de ocasionalmente ajudarem os maridos na cobertura dos fornos, as mulheres não chegam a representar 10% dos produtores, embora haja casos de mulheres que são conhecidas empresárias do carvão, normalmente por terem obter renda para o sustento da família enquanto chefes de família (e.g. por serem viúvas). Já em Matutuine a presença das mulheres na produção é substancialmente mais evidente, por vezes maioritária, provavelmente por haver uma maior tradição de empreendedorismo feminino e uma grande tradição de emigração masculina para a vizinha África do Sul.

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Em resumo., as entrevistas nos distritos de Gaza revelam que a necessidade de adaptar as estratégias de sobrevivência familiar às condições socio-ecológicas particularmente adversas, lidar com a insegurança alimentar e gerar renda em áreas remotas, isoladas e mal servidas de serviços e infraestruturas, mas relativamente ricas em recursos florestais, levou a que muitos agricultores entrassem na produção de carvão em produção própria ou para outrem (ide também Levy & Kaufmann 2014) como forma de gerar rendimentos, ter emprego e poder consumir. Outro factor importante é a existência de um crescente e grande mercado urbano alimentado por agregados familiares com poucas alternativas energéticas ao carvão, que garantiu, e provavelmente continuará a garantir num futuro próximo, a procura de carvão. Enquanto actividade económica a produção de carvão caracteriza-se por pela utilização extensiva de biomassa lenhosa das florestas, na forma de actividade familiar ou de micro/pequena empresa, com baixa eficiência técnica e potenciais impactos negativos na qualidade e quantidade de floresta existente (Entr. Mário Beca 2014; Entr. Argentina Cossa 2014). Contudo esta relação não é simples nem funciona numa só direcção, já que existem indícios de que a produção não sustentável de carvão está relacionada com elevados impactos ambientais e sociais (doenças respiratórias, desflorestação) o que poderá agravar e aumentar, a médio e longo prazo, a vulnerabilidade às mudanças climáticas e reduzir seriamente a capacidade de geração de riqueza (Levy & Kaufmann 2014; Martins 2014).

Referências

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