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O emprego assalariado nos anos 2000: mudanças de composição e de renda por idade e sexo

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Academic year: 2021

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O emprego assalariado nos anos 2000: mudanças de composição e de renda por idade e sexo∗∗∗∗

Eugenia Leone••••

Paulo Baltar♦♦♦♦

Palavras-chave: população ativa; mercado de trabalho; gênero

Resumo

Ao longo dos anos 2000 houve uma reativação do mercado de trabalho assalariado, consequência de um maior dinamismo da economia brasileira. A ampliação do emprego assalariado vem ocorrendo em meio a uma expressiva alteração na composição etária da população, juntamente com aumento da participação feminina e redução da participação masculina na atividade econômica. Usando dados dos Censos Demográficos de 2000 e 2010, este trabalho mostra as mudanças que ocorreram na absorção de homens e mulheres pela atividade econômica, bem como as alterações nas diferenças de renda por sexo.

Assim, o trabalho foca o emprego assalariado em estabelecimento econômico e interpreta as mudanças na composição etária desses empregados argumentando que sua forte ampliação vem se processando por meio da absorção de jovens como empregados de estabelecimento e pela continuidade das pessoas nesse tipo de emprego com o avanço da idade, mais do que pelo deslocamento da população adulta desde outras formas de atividade econômica para o emprego em estabelecimento. Nesta dinâmica de ampliação do mercado de trabalho destaca-se a importância do aumento da participação das mulheres na atividade econômica: de um lado, o aumento da proporção de mulheres jovens que participam da atividade econômica e, de outro, a continuidade dessa participação quando as mulheres e os homens se tornam adultos.

Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em São Pedro/SP –

Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014. Esta pesquisa contou com o apoio do CNPq.

Do Instituto de Economia da Unicamp e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit). Do Instituto de Economia da Unicamp e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit).

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O emprego assalariado nos anos 2000: mudanças de composição e de renda por idade e sexo∗∗∗∗

Eugenia Leone••••

Paulo Baltar♦♦♦♦

Introdução

O objetivo deste trabalho é focar o emprego assalariado em estabelecimento econômico e mostrar, com base nos dados dos Censos Demográficos de 2000 e 2010, as mudanças que ocorreram na absorção de homens e mulheres pela atividade econômica, bem como as alterações nas diferenças de renda por idade.

A primeira questão a ser enfrentada por este estudo é a da explicitação dos efeitos do maior crescimento do emprego de estabelecimento com contrato formalizado segundo as leis do trabalho no perfil ocupacional da população masculina e feminina, levando em conta a idade. Em particular, é importante contrastar, por sexo, a formalização dos contratos de trabalho no emprego juvenil e a diferença, também por sexo, na crescente permanência do adulto no mercado de trabalho. Com este objetivo é importante considerar as mudanças que ocorreram na estrutura etária da população economicamente ativa. Isto, porque o perfil ocupacional varia com a idade das pessoas. Assim, por exemplo, o emprego assalariado tem um peso maior na absorção de jovens enquanto que trabalhos realizados por conta própria pesam mais expressivamente na absorção da população adulta.

Feita essa caracterização dos perfis ocupacionais de homens e de mulheres e das tendências de composição por idade e sexo do emprego assalariado em estabelecimento, a segunda questão deste estudo é a evolução da dispersão das rendas, destacando as diferenças por sexo.

O presente texto está estruturado em seis itens. No primeiro deles, é realizada uma breve análise do desempenho do mercado de trabalho na primeira década do século vinte e um. No segundo item são apresentadas considerações sobre a desvantagem feminina na atividade econômica enquanto que o terceiro item mostra a importância do aumento da participação das mulheres no desempenho do mercado de trabalho dos anos 2000. O item

Trabalho apresentado no XIX Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em São Pedro/SP

-Brasil, de 24 a 28 de novembro de 2014. Esta pesquisa contou com o apoio do CNPq.

Do Instituto de Economia da Unicamp e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit). Do Instituto de Economia da Unicamp e do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit).

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quarto trata especificamente do mercado de trabalho assalariado enquanto o item quinto destaca especialmente a formalização dos contratos de trabalho que marcou o desempenho do trabalho assalariado na primeira década do novo milênio. Finalmente, o sexto item se refere à evolução da remuneração do trabalho, destacando o emprego formalizado em conformidade com a legislação trabalhista e previdenciária. Por último são apresentadas as considerações finais.

1. Emprego assalariado e formalização dos empregos

É importante salientar inicialmente que nem todas as pessoas que participam da atividade econômica têm um emprego assalariado. É o caso dos empregadores, dos trabalhadores por conta-própria, das pessoas que trabalham sem remuneração ajudando outro membro da família que é conta-própria, das pessoas que trabalham na produção agrícola exclusivamente para o consumo próprio, além das que trabalham exclusivamente na autoconstrução. No ano 2000, um terço das pessoas ocupadas estava nessa situação, trabalhando na atividade econômica, mas sem um emprego assalariado, sinalizando a existência de problemas de absorção das pessoas pela atividade econômica. Desde 2004, o mercado de trabalho assalariado ampliou-se com a retomada do crescimento da economia brasileira e 71,3% das pessoas ocupadas, em 2010, tinham um emprego assalariado.

O emprego assalariado, propriamente dito, é aquele constituído pelas pessoas que trabalham para um empregador, seja este um estabelecimento ou uma família. Em outras palavras, os empregados assalariados são aqueles trabalhadores contratados por estabelecimentos (sejam ou não formalmente constituídos como pessoa jurídica) para realizar atividades econômicas, ou, são pessoas contratadas por famílias para prestar serviços domésticos remunerados. Nesta categoria de empregado assalariado incluem-se também os militares e os religiosos. No ano 2000, conforme dados do Censo Demográfico, de um total de 64,5 milhões de pessoas ocupadas (de 15 anos ou mais de idade), 43 milhões eram assalariadas (sendo que 38,1 milhões trabalhavam em estabelecimentos e 4,9 milhões eram contratadas por famílias).

Independentemente de qual seja o tipo de empregador (família ou estabelecimento), nem todos os contratos de trabalho são formalizados de acordo com as Leis do Trabalho e da Previdência Social. No Brasil, para caracterizar um emprego formal, a pessoa que trabalha deve ter carteira profissional assinada pelo empregador conforme a Consolidação

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das Leis do Trabalho (CLT), ou, deve ser contratada conforme o Estatuto do Servidor Público (Estatutários). Os militares são empregados formais com um regime especial de contratação. Todos aqueles trabalhadores contratados por estabelecimentos ou famílias que desrespeitam as normas existentes (CLT, Estatutos do Servidor Público e dos Militares) estão na ilegalidade. Uma aferição da frequência da ilegalidade dos contratos de trabalho é proporcionada pela fração dos empregos assalariados sem carteira de trabalho assinada pelo empregador e que não correspondem nem a militares nem a estatutários, ou seja, não são contratos de trabalho em conformidade com a CLT ou os Estatutos dos Servidores Públicos e dos Militares. No ano 2000, dos 38,1 milhões de trabalhadores que eram empregados de estabelecimento 27,6 tinham contrato formal (72,4%). Dos 4,9 milhões que trabalhavam no serviço doméstico, apenas 1,5 milhão tinham carteira de trabalho assinada pelo empregador (30,6%).

O mercado de trabalho, entretanto, tem dado sinais de recuperação ao longo da década dos 2000, destacando-se a maior formalização dos empregos. A partir de 2004, principalmente, assistiu-se a uma inversão da tendência negativa de desempenho da economia e do mercado de trabalho, verificada na década anterior, com o crescimento significativo do emprego formal e a recuperação do poder de compra do nível médio da renda do trabalho que tinha ficado muito baixo com o fraco desempenho da economia brasileira (em termos de baixo crescimento do PIB e altas taxas de desemprego e de inflação) desde a crise da Ásia em 2007. A economia voltou a crescer, possibilitada por uma situação internacional favorável, refletindo-se no mercado de trabalho que deu claros sinais de recuperação, gerando número significativo de postos de trabalho em um processo visível de formalização do emprego1.

De fato, a partir de 2004 houve uma expressiva elevação da participação do emprego assalariado formal na ocupação das pessoas: a taxa de crescimento do emprego em estabelecimento que assina a carteira de trabalho foi superior à do emprego em

estabelecimento que não assina a carteira de trabalho2. A evolução positiva do número de

empregos foi consequência do maior crescimento do PIB, associado inicialmente à ampliação das exportações e, posteriormente ao incremento no consumo das famílias,

1 Sobre fatores que contribuíram para o aumento do emprego formal, ver BALTAR, KREIN e MORETTO

(2006) e CARDOSO JUNIOR (2007).

2 E também foi maior do que à do trabalho doméstico remunerado e à do trabalho por conta própria,

principalmente em 2004-2008, período de maior crescimento do PIB desde o início da abertura econômica (BALTAR, 2013). Deve-se destacar que a melhora dos indicadores de mercado de trabalho não foi interrompida pela crise de 2008.

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acentuado pela melhora na distribuição de renda e a ampliação do crédito e, finalmente, pela retomada dos investimentos (CARNEIRO, 2011; BALTAR e. al., 2010, TROVÃO e LEONE, 2011; KREIN e SANTOS, 2012).

Nessa maior formalização do emprego, deve-se também chamar à atenção para a mudança de atitude do Estado brasileiro no esforço por obter superávit na arrecadação de impostos e contribuições sociais em relação às despesas públicas não financeiras. O Estado passou a cuidar mais da formalização das empresas e do cumprimento das leis tributárias e previdenciárias. Some-se a isto, um avanço na fiscalização por parte dos órgãos públicos responsáveis pelo cumprimento das leis do trabalho e da previdência social (Ministério do Trabalho e Emprego, Ministério da Previdência Social, Ministério Público do Trabalho, Justiça do Trabalho e Sindicatos) (BALTAR, KREIN e LEONE, 2009). Além disso, a própria retomada do crescimento da economia levou as grandes empresas a novamente ampliar o quadro de pessoal e induziu à formalização das empresas menores e dos contratos de trabalho.

Entre 2000 e 2010, os Censos Demográficos indicam que o emprego formal em estabelecimento dedicado a realizar atividade econômica aumentou no ritmo anual de 4,8% enquanto o emprego sem carteira de trabalho aumentou 1,0% ao ano. O ritmo de crescimento do emprego total em estabelecimento (3,7%) foi bem maior do que o do número total de pessoas ocupadas (2,8%) e a população ocupada cresceu bem mais do que a população economicamente ativa (2,0%), fazendo diminuir a taxa de desemprego de 15% para 7,5%. Nesse expressivo desempenho do mercado de trabalho assalariado, o aumento da participação das mulheres na atividade econômica teve um papel importante, como será visto no item seguinte.

2. A mulher no mercado de trabalho

As formas de absorção das mulheres pela atividade econômica indicam uma profunda desvantagem destas em relação aos homens associada, entre outros fatores, às dificuldades de articulação do trabalho remunerado com as responsabilidades familiares. As mulheres continuam arcando com a maior parte dos cuidados da família e os homens não têm aumentado suficientemente sua participação nessas responsabilidades.

A desvantagem feminina na atividade econômica aparece na condição de atividade (menor participação e maior desemprego), na elevada frequência de mulheres nas piores

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situações da informalidade (trabalho não remunerado e emprego doméstico sem carteira de trabalho) e nos empregos formais pior remunerados (LEONE, 2012).

O desemprego feminino é muito maior que o masculino e a participação do emprego doméstico remunerado no trabalho assalariado de mulheres, assim como a participação do trabalho não remunerado nas ocupações não assalariadas femininas são muito expressivas. A taxa de desemprego das mulheres foi de 19,6% no ano 2000, superando a taxa de desemprego dos homens (11,9%) em 7,7 pontos percentuais. O trabalho doméstico remunerado participava com 25,4% dos empregos assalariados femininos e o contraste dos empregos domésticos e de estabelecimento em termos de grau de formalização dos contratos de trabalho continuava muito marcante. No ano 2000, somente 29,2% do emprego doméstico feminino tinha carteira de trabalho assinada pelo patrão, enquanto o emprego formal representava 74% do emprego feminino em estabelecimentos.

O crescimento da economia, entretanto, tem permitido reduzir a taxa de desemprego e ampliar a participação do emprego assalariado em estabelecimento econômico na ocupação das pessoas. As grandes empresas que reduziram fortemente o emprego na década de 1990 voltaram a aumentar o emprego. Além disso, as pequenas empresas tornaram-se mais propensas à formalização de suas atividades, repercutindo na formalização dos contratos de trabalho (BALTAR, KREIN e MORETTO, 2006).

Em consequência, em 2010, a taxa de desemprego feminino caiu para 10,1% e a masculina diminuiu para 5,6%, reduzindo a diferença para 4,5 pontos percentuais. A participação do trabalho doméstico remunerado no emprego assalariado feminino diminuiu de 25,4% para 20,2%, mas a proporção formal do trabalho doméstico remunerado era, ainda, de somente 33,7% enquanto o emprego formal passou a representar 78,1% dos empregos femininos em estabelecimento.

A ampliação do emprego formal é importante para melhorar a qualidade do emprego dos trabalhadores em geral e da mulher em particular. A legislação brasileira prevê uma série de medidas com relação à articulação entre trabalho e responsabilidades familiares (licença maternidade e paternidade, intervalo para amamentação, assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até cinco anos de idade em creches e pré-escolas, salário-família, entre outros). É importante ressaltar que todos esses direitos são assegurados apenas para os trabalhadores formais o que implica numa cobertura relativamente restrita da legislação brasileira para os trabalhadores e suas famílias.

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A distribuição das pessoas por posição na ocupação é diferente entre homens e mulheres. Em 2010, de um total de 49,2 milhões de homens ocupados 33,7 milhões eram assalariados (68,6%). No caso das mulheres, de um total de 36,1 milhões de trabalhadoras 27,1 milhões eram assalariadas (75,1%). Já o emprego assalariado formal era menor entre as mulheres (69,1%) do que entre os homens (74,1%) devido ao elevado peso do emprego doméstico remunerado sem carteira de trabalho entre as mulheres assalariadas. Mas, quando se considera somente o emprego assalariado de estabelecimentos a formalização das mulheres (78,1%) superava à dos homens (74,6%).

No emprego formal as mulheres continuam excluídas das ocupações diretamente vinculadas à produção de bens que exigem menores níveis de escolaridade, enquanto nas ocupações de apoio administrativo, prestação de serviços, vendas, profissões de nível superior e técnicas de nível médio, as exigências de escolaridade mínima tendem a dificultar a inserção de mulheres de nível socioeconômico mais baixo. O emprego doméstico remunerado tem um peso desproporcional na absorção de mulheres de famílias de nível socioeconômico mais baixo. Já a elevada frequência feminina no emprego formal de ocupações administrativas, de prestação de serviços, de vendas, de profissões de nível superior e técnicos de nível médio absorve mulheres de nível socioeconômico intermediário e alto, contribuindo, inclusive, para ampliar o nível de renda dessas famílias (LEONE e

BALTAR, 2012)3.

É justamente nesse último tipo de famílias onde a participação feminina na atividade econômica é maior e onde as mulheres também se defrontam com enormes dificuldades para articular o trabalho remunerado com as responsabilidades familiares, parcialmente contornadas pela contratação de empregadas domésticas. Essas dificuldades aparecem na enorme diferença de renda em favor dos homens e essa desvantagem feminina ocorre até mesmo no setor público que responde por grande parte dos empregos formais de profissões das ciências e das artes, onde predominam as mulheres (LEONE e MORETTO, 2012).

Efetivamente, no emprego formal os rendimentos médios das mulheres são inferiores aos dos homens, qualquer que seja o nível de instrução, mas essa diferença é mais acentuada no nível superior de escolaridade. Essa desvantagem dos rendimentos das mulheres em relação aos homens ocorre, em simultâneo, a uma maior proporção de mulheres do que homens nos empregos em estabelecimentos de maior tamanho e com

3 Por esse motivo ao se comparar as situações de homens e de mulheres no emprego assalariado é importante

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vínculos mais estáveis no emprego. Essas duas características estão relacionadas à maior importância do setor publico para o emprego formal feminino (LEONE, 2012).

As desvantagens femininas na atividade econômica continuam expressivas, embora os efeitos dessas desvantagens tenham diminuído com a ampliação do mercado de trabalho assalariado. A crescente participação das mulheres na atividade econômica foi muito importante para essa ampliação do mercado de trabalho, como será visto no próximo item.

3. Participação feminina na ampliação da população ocupada na década de 2000 Entre 2000 e 2010 o número de pessoas ocupadas aumentou 32,2% ou 2,8% ao ano. No mesmo período, o PIB aumentou 42,6% ou 3,6% ao ano, sinalizando uma elasticidade emprego relativamente alta, de 0,78, maior do que na época da industrialização do país (dos 50 aos 70), quando o PIB aumentava ao ritmo de 7% ao ano e o emprego a 3,5% ao ano, com uma elasticidade emprego de aproximadamente 0,5 e um aumento do PIB por pessoa ocupada de 3,5% ao ano, muito maior do que em 2000-2010, quando o PIB por pessoa ocupada aumentou somente 0,8% ao ano.

A ampliação da ocupação de mulheres teve um papel importante na expansão do número de pessoas ocupadas. Em 2000 as mulheres representavam 37,8% das pessoas ocupadas e chegaram a 42,3% em 2010. O aumento do número de mulheres ocupadas correspondeu a 56% do aumento no total de pessoas ocupadas. Tanto a população masculina quanto a feminina de 15 anos ou mais de idade, cresceram a ritmos quase idênticos (2,0% e 1,9% ao ano, respectivamente), mas a taxa de ocupação (relação entre o número de pessoas ocupadas e o total de pessoas com 15 ou mais anos de idade) das mulheres aumentou muito mais (de 39,7% para 48,3%) do que a dos homens (de 69% para 70,2%). O maior aumento da taxa de ocupação feminina se deveu à combinação entre, de um lado, o aumento da taxa de participação (relação entre a população economicamente ativa e a população com 15 e mais anos de idade) e, de outro, a redução na taxa de desemprego (relação entre o número de desempregados e a população economicamente ativa). A taxa de participação feminina aumentou de 49,3% para 53,7% e a taxa de desemprego diminuiu de 19,6% para 10,1%. No caso dos homens, a taxa de desemprego diminuiu de 11,9% para 5,6%, mas a taxa de participação também diminuiu de 78,4% para 74,4%. Dessa forma, a retomada do crescimento da economia e do mercado de trabalho reduziu o desemprego de homens e de mulheres, mas a forte participação feminina na

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ampliação da população ocupada se deve fundamentalmente à elevação da participação dessas mulheres na atividade econômica.

O aumento da participação feminina compensou a redução da participação masculina e a população economicamente ativa cresceu em ritmo parecido com o do total da população de 15 anos ou mais de idade (2,0% e 1,9% ao ano, respectivamente). Porém, a PEA feminina cresceu 2,8% ao ano e a masculina somente a 1,4%. Em 2010 a população ativa tinha 16,4 milhões de pessoas a mais do que em 2000 e as mulheres participaram com 56,2% desse aumento, sendo que em 2000 as mulheres correspondiam a 40% da PEA. A Tabela 1 mostra a importância relativa do aumento da PEA feminina para a efetivação da ampliação do número de pessoas ocupadas entre os anos 2000 e 2010.

Tabela 1

Variação da população ativa, da população ocupada e da população desempregada por sexo. Brasil, 2000 e 2010

População %

Aumento da população ocupada 20.796.957 100,0

Aumento da população ativa masculina 6.587.389 31,7

Aumento da população ativa feminina 9.809.402 47,1

Redução da população desempregada masculina 2.511.309 12,1

Redução da população desempregada feminina 1.888.857 9,1

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010

O crescimento do número de pessoas ocupadas foi bem mais intenso do que o crescimento da população ativa (2,8% e 2,0% respectivamente), fazendo diminuir, expressivamente, a taxa de desemprego de 15% para 7,5%. Porém, na ampliação do número de pessoas ocupadas entre 2000 e 2010, a parcela correspondente à absorção do aumento da população ativa foi mais importante do que a redução do número de desempregados. O aumento da população ativa feminina correspondeu a quase metade do aumento da população ocupada (47%), enquanto o aumento da população ativa masculina correspondeu a menos de 1/3 (31,7%). Já a redução total do número de desempregados foi equivalente a 21,2% da ampliação da população ocupada.

A Tabela 2 mostra a composição da ampliação da população ativa por sexo e idade. Observa-se que as pessoas com mais de 45 anos foram responsáveis por 57,2% do aumento total da população ativa, enquanto que o grupo constituído pelas pessoas de 15 a 29 anos foi, em 2010, somente 3,3% superior ao existente em 2000. Não foi desprezível, entretanto, o aumento da população ativa feminina com 15 a 29 anos (8,6% do aumento da PEA do

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período), mas esse aumento foi parcialmente compensado pela redução da PEA masculina nessa mesma faixa etária. Em 2010, não obstante, 35% da PEA estava na faixa de 15 a 29 anos, enquanto 37% tinha idade entre 30 e 44 anos e somente 28% da PEA tinha mais de 45 anos.

Tabela 2

Variações da população ativa por idade e sexo. Brasil, 2000 e 2010

População ativa por idade e sexo ∆ População %

Aumento da população ativa 16.396.791 100,0

Homens 15 a 29 anos -359.531 -2,2 Mulheres15 a 29 anos 1.410.733 8,6 Total 15 a 29 anos 1.051.202 6,4 Homens 30 a 44 anos 2.392.096 14,6 Mulheres 30 a 44 anos 3.580.558 21,8 Total 30 a 44 anos 5.972.654 36,4

Homens 45 anos e mais 4.554.824 27,8

Mulheres 45 anos e mais 4.818.111 29,4

Total 45 anos e mais 9.372.935 57,2

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010

Assim, a maior parte do aumento da PEA, entre 2000 e 2010, correspondeu a pessoas com 30 ou mais anos de idade. A PEA com menos de 30 anos aumentou somente 3,3% nesses 10 anos, mas como em 2000 a fração da PEA com menos de 30 anos (41,5%) era bem maior do que a parcela com 30 a 44 anos (36,6%), esta última parcela da PEA aumentou substancialmente na primeira década do século vinte e um, mantendo sua participação de 36,6% em 2010. Em 2000, o contingente da PEA com 30 a 34 anos de idade também foi bem maior do que o com 45 anos ou mais, de modo que esta última parcela da PEA aumentou de participação na PEA total, passando de 21,9% para 28,2% entre 2000 e 2010, crescendo no ritmo desproporcional de 4,6% ao ano. É possível supor que na segunda década do século vinte e um a PEA com menos de 30 anos diminua, enquanto àquela com 30 a 44 anos aumente um pouco, concentrando-se todo o aumento da PEA na faixa de 45 anos ou mais de idade. Além disso, as mulheres serão maioria na composição da ampliação da PEA. Essa composição do aumento da PEA por idade e sexo deve ser levada em conta nos debates sobre as perspectivas do mercado de trabalho para a corrente década.

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4. A ampliação do mercado de trabalho assalariado nos anos 2000

O emprego assalariado em estabelecimento foi 44,3% maior em 2010 do que em 2000, sinalizando aumento anual médio de 3,7%, muito maior do que o da população ocupada (2,8%) que por sua vez foi muito maior do que o da população ativa (2%). Ou seja, o núcleo básico do mercado de trabalho assalariado foi responsável pela ampliação da ocupação das pessoas na atividade econômica, reduzindo, substancialmente, a taxa de desemprego de 15% para 7,5% da PEA. O emprego doméstico que tinha se ampliado inicialmente vem diminuindo desde o final da década, mas em 2010 passou a ser 19,8% maior do que em 2000, sinalizando aumento médio anual de 1,8%, ritmo bem menor do que o do emprego assalariado em estabelecimento que realiza atividade econômica.

O forte aumento do emprego em estabelecimento foi acompanhado de significativas mudanças na sua composição por idade e sexo. As mulheres mostraram aumentos muito maiores que o dos homens e, quanto maior a idade das pessoas, tanto maior o crescimento do emprego em estabelecimento (Tabela 3). Não obstante, mesmo no caso dos homens, com 15 a 29 anos de idade, o crescimento médio anual do emprego em estabelecimento foi de 2,5%. Como mencionado, a PEA masculina jovem foi, em 2010, menor do que em 2000. A redução no número de pessoas desempregadas e com outros tipos de ocupação (principalmente membros da família que trabalham sem remuneração para um trabalhador por conta própria) permitiu ampliar o emprego em estabelecimento de jovens do sexo masculino com 15 a 29 anos de idade.

Tabela 3

Fontes de oferta de trabalho que permitiram a ampliação do emprego de estabelecimento por sexo e idade. Brasil, 2000 e 2020

Taxa de Aumento do Variação Redução Variação

Crescim. Emprego PEA Desemprego Outras Ocup.

Mulheres 15 a 29 anos 3,7 100,0 37,4 49,8 12,8

Homens de 15 a 29 anos 1,3 100,0 -61,6 100,6 61,0

Mulheres de 30 a 44 anos 4,1 100,0 116,6 20,8 -37,4

Homens de 30 a 44 anos 2,8 100,0 64,2 21,8 14,0

Mulheres de 45 anos ou mais 7,3 100,0 193,4 6,7 100,1

Homens de 45 anos ou mais 5,5 100,0 128,0 13,3 -41,3

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A ampliação do número de mulheres na faixa dos 15 a 29 anos de idade empregadas em estabelecimento foi muito mais intensa (4,2% ao ano) e combinou aumento da PEA com reduções tanto no número de desempregados como no número de pessoas com outros tipos de ocupação (principalmente trabalho doméstico remunerado). A intensidade da ampliação do número de mulheres jovens com emprego em estabelecimento chegou a ser maior do que à dos homens adultos com 30 a 44 anos de idade (3,1% ao ano). A ampliação do número de homens adultos com emprego em estabelecimento também combinou aumentos da PEA com reduções no desemprego e em outros tipos de ocupação. Porém, enquanto entre as mulheres jovens pesou mais a redução do desemprego, no caso dos homens adultos foi maior a participação do aumento da PEA na ampliação do número de empregados de estabelecimento.

Finalmente, foram desproporcionais os aumentos de emprego em estabelecimento de homens e de mulheres com 45 ou mais anos de idade. Nos dois casos, o aumento da PEA foi muito grande, permitindo ampliar tanto o emprego em estabelecimento quanto outros tipos de ocupação (principalmente trabalhadores por conta própria, mas também trabalhadores exclusivamente na produção para o consumo próprio e trabalhos no serviço doméstico remunerado, no caso das mulheres). A redução do número de adultos desempregados maiores de 45 anos foi significativa, mas nada comparável ao aumento da PEA com esta idade.

Ocorreram, então, expressivas mudanças na composição e na absorção da PEA entre os anos 2000 e 2010, esta última, evidenciadas na Tabela 4. A ampliação da população ativa com emprego em estabelecimento ocorreu em detrimento da taxa de desemprego e também, dependendo do sexo e da idade das pessoas, de alguns outros tipos de ocupação. Houve redução generalizada do peso do trabalho não remunerado na absorção de todo tipo de pessoas. Além disso, houve redução da participação do trabalho doméstico remunerado no caso das jovens de 15 a 29 anos e do trabalho por conta própria no caso dos adultos masculinos de 30 a 44 anos e de 45 anos ou mais de idade. Em 2010, o número de empregadas domésticas com 15 a 29 anos era 30,8% menor que em 2000, enquanto que o número de trabalhadores por conta própria com 30 ou mais anos de idade era somente 12,7% maior, em 2010, do que em 2000, indicando crescimento no ritmo anual de somente 1,2%, em circunstancias de que a PEA masculina nesse grupo de idade cresceu no ritmo de 2,3% ao ano.

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Tabela 4

Absorção da PEA por sexo e idade. Brasil, 2000 e 2010

15 a 29 anos 30 a 44 anos 45 anos e mais Posição na Ocupação Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010 2000 2010

Empregado 43,8 59,3 59,1 70,8 46,9 55,4 56,9 67,1 38,9 44,5 42,1 51,9

Trab. Doméstico 15,4 9,6 0,7 0,6 15,0 15,2 0,8 0,8 14,1 16,7 1,0 1,0

C. Própria/ Empregador 7,6 9,6 15,5 14,6 17,7 17,7 25,8 26,0 25,7 25,7 43,2 37,8

Não remun./ autocons. 5,3 4,6 7,1 4,2 5,5 3,9 2,5 2,4 11,0 8,9 5,9 6,5

Desemprego 27,9 16,9 17,6 9,8 14,9 7,8 3,8 3,7 10,3 4,2 7,8 2,8

PEA 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010

As mudanças apontadas no perfil da absorção da PEA, por idade e sexo, indicam a maneira como vem se ampliando o emprego assalariado de estabelecimento com a retomada do crescimento da economia no início do século vinte e um. A PEA masculina jovem está diminuindo, mas o emprego de jovens em estabelecimentos não deixou de crescer, com redução da taxa de desemprego e do número de jovens com trabalho não remunerado. Já a PEA feminina jovem continuou a aumentar, diminuindo o desemprego dessas jovens bem como o emprego no serviço doméstico remunerado, alimentando fortíssimo aumento do emprego feminino jovem nos estabelecimentos. A PEA adulta, por sua vez, principalmente aquela com 45 ou mais anos de idade, aumentou muito, especialmente a PEA feminina, permitindo que outros tipos de ocupação aumentassem, em paralelo, com o forte crescimento do emprego em estabelecimento. A redução da taxa de desemprego e do número de pessoas que trabalham sem remuneração ajudou a viabilizar o crescimento do emprego em estabelecimento, mas o trabalho por conta própria continuou aumentando, embora menos que a PEA com essa idade, traduzindo o fato do forte aumento de adultos com emprego em estabelecimento dever-se muito mais à permanência nesse tipo de emprego com o avanço da idade, do que aos deslocamentos de adultos desde outros tipos de ocupação para empregos de estabelecimento.

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5. Formalização dos contratos de trabalho no emprego em estabelecimento

Nos empregos em estabelecimento, as mulheres apresentam grau de formalidade dos

contratos de trabalho maior que o dos homens (Tabela 5).4 Em 2000, a diferença era de 8,3

pontos percentuais, variando de 6,2 pontos para empregados com idades de 30 a 44 anos a 10,6 pontos para empregados com 45 ou mais anos de idade. Entre 2000 e 2010, o grau de formalidade dos contratos de trabalho em empregos de estabelecimento aumentou mais entre os homens do que entre as mulheres. A diferença, em favor das mulheres, diminuiu para 3,5 pontos percentuais variando de 2,7 pontos entre os empregados com 30 a 44 anos e 5,2 pontos para empregados com 45 ou mais anos de idade.

Tabela 5

Grau de formalidade dos contratos de trabalho do emprego em estabelecimento por idade e sexo. Brasil, 2000 e 2010

Idade Mulher Homem

2000 2010 2000 2010

15 a 29 anos 68,0 74,3 59,5 70,9

30 a 44 anos 78,8 81,1 72,6 78,4

45 anos e mais 77,1 79,6 66,5 74,4

15 anos e mais 74,0 78,1 65,7 74,6

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010

Na primeira década do século vinte e um, o emprego formal de estabelecimento aumentou no ritmo médio anual de 4,8% enquanto o emprego sem carteira de trabalho cresceu nos estabelecimentos ao ritmo de 1% ao ano. Da ampliação total do emprego em estabelecimento 92,5% correspondeu a empregos formais. O emprego formal de estabelecimento aumentou 5,5% entre as mulheres e 4,3% ao ano entre os homens (Tabela 6). Já o emprego de estabelecimento sem carteira de trabalho aumentou 3,2% ao ano no caso das mulheres e manteve-se constante no caso dos homens. Ou seja, a forte ampliação do emprego feminino em estabelecimento ocorreu com intensa ampliação do emprego sem carteira de trabalho, enquanto o crescimento relativamente mais suave do emprego

4 Este fato reflete, de um lado, a dificuldade das mulheres de baixa condição socioeconômica ter acesso a

empregos de estabelecimento quando predominavam ocupações manuais tipicamente masculinas e, do outro, a importância relativa do emprego público na absorção de mulheres em empregos de estabelecimento, principalmente as mulheres de melhor condição socioeconômica. Atualmente a situação a esse respeito está se modificando, pois as mulheres jovens de baixo nível socioeconômico estão evitando o emprego doméstico remunerado e acedendo a empregos de estabelecimento. A elevação do nível educacional da população jovem tem facilitado essas modificações no emprego das mulheres jovens, bem como a reativação do mercado de trabalho com o maior crescimento da economia.

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masculino em estabelecimento ocorreu com a manutenção dos empregos sem carteira, resultando em maior aumento do grau de formalidade dos contratos de trabalho nos empregos masculinos em estabelecimentos.

Tabela 6

Taxas de crescimento do emprego formal e sem carteira de trabalho no emprego em estabelecimento por idade e sexo. Brasil, 2000 e 2010

Idade Mulher Homem

Formal Sem/cart. Formal Sem/cart.

15 a 29 anos 5,1 1,9 3,4 (-15,6)

30 a 44 anos 4,8 3,3 3,9 0,7

45 anos e mais 7,9 6,4 7,0 3,0

15 anos e mais 5,5 3,2 4,3 (-0,1)

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010

A tabela 6 também mostra que houve redução do emprego de estabelecimento masculino sem carteira de trabalho na faixa etária de 15 a 29 anos. Entre homens e entre mulheres, o ritmo de crescimento dos empregos de estabelecimento sem carteira de trabalho foi tanto maior quanto maior a idade dos empregados. Os dados sugerem que é mais difícil o deslocamento de empregos sem carteira para empregos formais em idades mais avançadas. A ampliação dos empregos formais de estabelecimento é especialmente forte nas idades mais avançadas dos empregados e reflete a intensificação do aumento do emprego formal de jovens, bem como a maior permanência desses jovens nesses empregos, com o avanço da idade. Os empregados sem carteira também permanecem nos empregos com o avanço da idade, mantendo também forte a ampliação do emprego sem carteira nas faixas de maior idade. Entre as mulheres jovens, o crescimento do emprego sem carteira de trabalho continuou intenso e o crescimento desses empregos nas faixas de maior idade foi muito maior entre as mulheres do que entre os homens, refletindo novamente a crescente dificuldade, com o avanço da idade, do deslocamento do emprego sem carteira para o emprego formal.

Em síntese, a intensa ampliação do emprego em estabelecimento, com a retomada do crescimento da economia brasileira, na primeira década do século vinte e um, ocorreu em paralelo à formalização de pequenas empresas e à retomada do aumento de pessoal nas grandes empresas, resultando em forte crescimento do emprego formal, de forma desproporcional à intensidade do crescimento do PIB observado nesse período. Surgiram

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muitos empregos formais para jovens, sendo possível continuar nesses empregos com o avanço da idade, mas também foi intenso o crescimento do emprego sem carteira de trabalho de mulheres jovens e muitos empregados sem carteira continuaram nesse tipo de emprego, com o avanço da idade, de modo que foi expressivo o crescimento do emprego sem carteira de trabalho de pessoas com 30 ou mais anos de idade, especialmente mulheres.

6. A remuneração do trabalho nos anos 2000

A retomada do crescimento da economia, em simultâneo à redução no ritmo da inflação, aumentou a renda do trabalho, a partir do nível muito baixo ao que tinha chegado em 2004. O aumento do desemprego e a elevação da inflação tinham diminuído o poder de compra dos trabalhadores entre 1998 e 2003 (BALTAR, 2013). Comparando 2010 com 2000, a renda média por hora trabalhada de todas as pessoas com rendimento positivo (não se consideraram os trabalhos não remunerado e exclusivamente para o consumo próprio) aumentou 33,4% equivalendo à média de 2,9% ao ano. O número de pessoas ocupadas e com rendimento também aumentou 34,5% no período e a jornada semanal de trabalho diminuiu de 44,1 para 40,5 horas, ou seja, uma redução de 8,2%. Em consequência, a massa total de renda do trabalho aumentou 64,7% ou 5,1% ao ano, para um aumento do PIB de 42,6% no conjunto da década (3,6% ao ano). A participação da renda do trabalho na renda nacional, que estava relativamente baixa em 2000, recuperou-se, parcialmente, com a retomada do crescimento da economia, a restauração do poder de compra dos trabalhadores e o aumento do número de pessoas ocupadas.

Considerando somente as pessoas ocupadas com rendimento, o PIB por hora trabalhada aumentou 15,5% ou 1,5% ao ano, na primeira década do século vinte e um. A renda por hora dessas mesmas pessoas ocupadas teve um aumento maior, como já mencionado, 33,4% ou 2,9% ao ano. Não poderia ser de outra maneira já que houve uma recuperação da participação do trabalho na renda nacional. Deste modo, a ampliação da renda total das pessoas ocupadas foi expressiva e a Tabela 7 mostra que houve uma modificação na distribuição desta renda por posição das pessoas na ocupação.

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Tabela 7

Distribuição da Renda do Trabalho por Posição na Ocupação. Brasil, 2000 e 2010 Posição na Ocupação

Renda Total Variação 2000 - 2010

2000 2010 Total Ocupados Jornada Renda

Média

Emprego Formal 44,7 54,7 95,9 59,8 -5,5 29,7

Emprego sem/cart. 10,9 9,3 37,0 10,6 -11,6 40,1

Total emprego estabelec. 55,7 64,0 87,7 44,3 -7,1 40,0

Trab. Doméstico 2,5 2,8 81,5 19,8 -13,3 74,7

Trab. Conta-própria 26,0 24,8 52,8 20,2 -9,9 41,1

Empregador 15,9 8,4 -15,5 -10,3 -7,7 2,1

Total 100,0 100,0 64,7 34,5 -8,2 33,4

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010

A participação da renda dos empregados formais na renda total aumentou 10 pontos percentuais, passando de 44,7% em 2000 para 54,7% em 2010. Segundo os dados do Censo Demográfico, a principal contrapartida no aumento da participação da renda do emprego formal foi a queda na participação da renda dos empregadores. Além disso, o aumento da participação dos empregados formais na renda do trabalho foi consequência, principalmente, do aumento do número de empregados formais, pois o aumento da renda média desses empregados foi menor do que os aumentos de renda média das outras posições na ocupação (com exceção dos empregadores). O forte aumento do número de empregados formais reflete a retomada da geração de emprego em grandes empresas e a formalização das empresas menores e de seus contratos de trabalho. O aumento da renda média do emprego formal foi expressivo (2,6% ao ano), porém menor do que o aumento de renda média de empregados sem carteira (3,4%), de trabalhadores por conta própria (3,5%) e de trabalhadores no serviço doméstico remunerado (5,7%).

O emprego formal feminino (de agora em diante a soma do emprego formal de estabelecimento com o emprego formal no serviço doméstico remunerado) ampliou-se em um ritmo anual mais intenso que o emprego formal masculino (5,3% e 4,3%,

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respectivamente)5. A dispersão relativa da renda do emprego formal por idade era, em 2000, um pouco maior entre os homens.6 Em 2010, a dispersão relativa da renda do emprego formal por idade das mulheres aumentou mais e ficou parecida à dos homens. As rendas médias tanto dos empregos formais masculinos quanto dos femininos aumentaram em ritmo parecido (2,7%, ao ano, no caso dos homens e, 2,9%, no das mulheres), mas o aumento do desvio padrão das rendas por idade foi de 4,2%, ao ano, no caso do emprego formal feminino e de 2,3%, ao ano, no caso do emprego formal masculino. O coeficiente de variação (relação entre o desvio padrão e a média) das rendas do emprego formal por idade aumentou de 0,238 para 0,271 no caso das mulheres e diminuiu ligeiramente de 0,329 para 0,315 no caso dos homens.

A renda média por hora do emprego formal de homens na faixa dos 15 aos 29 anos aumentou mais do que a renda média das mulheres com essa idade (3,3% e 2,9%, ao ano, respectivamente), enquanto que o aumento foi menor e em ritmo semelhante para homens e mulheres de 30 a 44 anos (1,5% ao ano) e, bem maior, entre as mulheres do que dos homens de 45 anos ou mais de idade (4,0% e 2,8%, respectivamente). Esses aumentos diferentes de renda alteraram o padrão de diferenciação da renda do emprego formal por idade (Tabela 8).

Tabela 8

Renda média por hora do emprego formal em estabelecimento e no serviço doméstico remunerado por idade e sexo. Brasil, 2000 e 2010

Idade Homens crescimento Taxa de Mulheres crescimento Taxa de

2000 2010 2000 2010

15 a 29 anos 62,3 66,2 3,3 70,9 71,1 2,9

30 a 44 anos 115,5 101,3 1,4 114,0 99,6 1,5

45 anos e mais 147,4 149,2 2,8 129,1 143,5 4,0

15 anos e mais 100,0 100,0 2,7 100,0 100,0 2,9

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010

5 Como mencionado, na ocupação das mulheres de baixa condição socioeconômica o emprego doméstico

remunerado tem um peso desproporcional. Por tanto, a comparação dos salários entre homens e mulheres tem que considerar todo o emprego assalariado e não somente o de estabelecimento econômico.

6 Neste ano não houve diferença de renda média do emprego formal entre homens e mulheres de 15 a 29 anos,

enquanto que a diferença foi de 16% a favor dos homens na faixa de 30 a 44 anos e de 30% na de 45 anos e mais de idade.

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No ano 2000, a maior diferença de renda do emprego formal por idade ocorria nas faixas de 30 a 44 e 15 a 29 anos (85,2% no caso dos homens e 60,6% no caso das mulheres), bem mais do que entre as faixas de 45 e mais anos e 30 e 44 anos (27,6% no caso dos homens e 13,3% no caso das mulheres). A maior incorporação de jovens no emprego formal e a maior permanência das pessoas nesse tipo de ocupação, com o avanço da idade, que provocou intenso aumento do emprego formal em todas as faixas de idade (principalmente de mulheres e de pessoas com 45 e mais anos de idade) foi acompanhada de redução na diferença de renda entre as faixas de 30 a 44 anos e 15 a 29 anos (passou para 53,0% no caso dos homens e 40,1% no caso das mulheres), ampliando a diferença entre as faixas de 30 a 44 e 45 ou mais anos de idade (passou para 47,1% no caso dos homens e 44,1% no caso das mulheres).

Na comparação de renda do emprego formal entre homens e mulheres, a diferença continua muito pequena na faixa de 15 a 29 anos, tendo diminuído de 16% para 14% a diferença em favor dos homens na faixa de 30 a 44 anos e de 30% para 17% na faixa de 45 ou mais anos de idade. Ou seja, entre 2000 e 2010 diminuiu a diferença de renda entre homens e mulheres, na faixa de idade onde essa diferença era mais expressiva (45 ou mais anos). A diferença de renda do emprego formal entre as faixas de 15 a 29 e 45 ou mais passou de 82% para 102% no caso das mulheres e diminuiu de 136% para 125% no caso dos homens, confirmando que de fato a intensa ampliação do emprego formal de pessoas com 45 ou mais anos de idade foi acompanhada de expressivo aumento da remuneração média dessas pessoas, principalmente no caso das mulheres.

A tabela 9 confirma, novamente, a elevada intensidade do aumento de renda do emprego formal de homens e de mulheres com 45 ou mais anos de idade. A comparação da renda do emprego formal com a renda do emprego sem carteira e com a renda dos não assalariados (o conjunto formado de trabalhadores por conta própria e empregadores) mostra que quando se considera faixas de maior idade aumenta a distancia da renda do emprego formal em relação à renda do emprego sem carteira e diminui a diferença em favor da renda do não assalariado. Além disso, entre 2000 e 2010, a faixa de 45 e mais anos de idade manteve a diferença de renda do emprego formal em relação ao emprego sem carteira

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e a renda de homens e de mulheres de 45 ou mais anos de idade e emprego formal tornou-se quatornou-se igual à renda dos não assalariados com essa idade7.

Tabela 9

Diferenças de renda por hora entre emprego formal, informal e ocupação por conta própria

Tipo de Emprego Faixas de idade

15 a 29 30 a 34 45 e mais

Homem 2000

Formal 100,0 100,0 100,0

Informal 58,2 51,2 46,0

Conta Própria e Empregador 122,7 119,7 115,6

Mulher 2000

Formal 100,0 100,0 100,0

Informal 55,8 49,0 47,5

Conta Própria e Empregador 153,4 132,8 121,9

Homem 2010

Formal 100,0 100,0 100,0

Informal 62,8 56,1 47,1

Conta Própria e Empregador 116,1 116,2 104,2

Mulher 2010

Formal 100,0 100,0 100,0

Informal 64,2 55,3 46,4

Conta Própria e Empregador 140,4 129,2 106,3

Fonte: Censos Demográficos 2000 e 2010

O intenso aumento do emprego formal de homens e de mulheres com 45 ou mais anos de idade, em simultâneo ao forte aumento do poder de compra da remuneração do emprego formal dessas pessoas sinaliza que a reativação do mercado de trabalho com a retomada do crescimento da economia brasileira na primeira década do século vinte e um significou um amadurecimento do trabalho assalariado no país. Este amadurecimento traduziu efeitos das mudanças na estrutura etária da população, com o inicio da diminuição dos contingentes de população mais jovem, mas também foi consequência do adiamento da entrada no mercado de trabalho da população juvenil, da formalização das empresas e dos

7 Isto se deve ao pequeno aumento da renda dos empregadores, pois a renda do trabalho por conta própria de

pessoas com 45 anos ou mais de idade aumentou mais do que a renda média do emprego formal entre 2000 e 2010.

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contratos de trabalho e da maior permanência da população adulta no emprego assalariado formal.

Considerações finais

O desempenho recente do mercado de trabalho no Brasil, com a retomada do crescimento econômico nos anos 2000, contrasta com o observado na época em que a industrialização desenvolveu a economia, ao longo das décadas de 1950 a 1980. Esse desenvolvimento da economia brasileira levou a uma pequena participação do trabalho na renda nacional e a uma grande dispersão relativa das rendas do trabalho.

Essas características da distribuição da renda do trabalho (baixo nível e amplas assimetria e dispersão) foram associadas a uma baixa estruturação do trabalho assalariado no país (MACHADO DA SILVA, 1990). Os momentos da entrada e saída das pessoas do mercado de trabalho não foram bem definidos bem como os requisitos para acesso às diversas ocupações. A contratação e o desligamento dos vínculos de emprego ficaram ao livre arbítrio dos empregadores e não se desenvolveram mecanismos para garantir a elevação generalizada do poder de compra dos salários em ritmo comparável ao do aumento da produtividade do sistema econômico.

O intenso crescimento e rápido deslocamento para as cidades de uma população de baixo nível socioeconômico agravaram os efeitos do trabalho assalariado não estruturado sobre a distribuição das rendas do trabalho. A entrada precoce ao mercado de trabalho de amplo segmento de população jovem, a não especialização dessa população trabalhadora em ocupações e setores de atividade específicos e a extrema instabilidade da maioria dos vínculos de emprego levaram a uma constante renovação de força de trabalho assalariada muito jovem enquanto muitos trabalhadores adultos eram expulsos do mercado de trabalho, sendo levados a montar negócios por conta própria, com ou sem as condições necessárias para o êxito desses empreendimentos, resultando ampla fração da PEA no trabalho por conta própria e com uma distribuição da renda de nível menor e com dispersão maior do que a da distribuição dos salários.

A redução do crescimento demográfico e suas implicações sobre a estrutura etária da população ao lado da elevação do nível de escolaridade da população juvenil têm diminuído o tamanho absoluto da PEA jovem e aumentado a participação da PEA adulta. Em meio a essas modificações na composição etária da PEA, a retomada do mercado de

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trabalho vem melhorando o perfil da absorção da PEA juvenil e adulta. As taxas de desemprego diminuíram, bem como as frações da PEA absorvidas pelo trabalho não remunerado e pelo trabalho por conta própria, aumentando a participação do emprego em estabelecimento e o grau de formalidade desses contratos de trabalho.

Em simultâneo, o controle da inflação e a ampliação do emprego assalariado têm permitido às categorias profissionais alcançarem reajustamentos anuais de salário que têm aumentado o poder de compra dos assalariados. Além disso, a política de valorização do salário mínimo vem reforçando o aumento do poder de compra dos menores salários e contribuindo para acentuar a diminuição da dispersão relativa das rendas do trabalho.

A retomada do mercado de trabalho vem, então, refazendo a distribuição das rendas do trabalho, elevando o nível e diminuindo a dispersão. A continuação deste processo supõe, além da preservação do crescimento da economia, o aprofundamento da estruturação do trabalho assalariado, com a redução da instabilidade dos vínculos de emprego e o aumento da especialização da força de trabalho por ocupação e setor de atividade. O capitalismo contemporâneo não tem facilitado essa estruturação do trabalho assalariado e é importante levar em conta a crescente participação feminina na força de trabalho e as dificuldades específicas dessa participação associadas à necessidade de conciliar trabalho remunerado com responsabilidades familiares, ainda muito mal repartidas por sexo.

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