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I Relatório. Proc.º n.º R. P. 63/2013 STJ-CC

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Proc.º n.º R. P. 63/2013 STJ-CC

Sumário: Registo provisório de aquisição efetuado com base em contrato-promessa. Conversão em definitivo. Requalificação em função dos pedidos constantes da inscrição do procedimento cautelar de arresto, feita de permeio.

Recorrente: Nuno Manuel ….., notário.

Recorrida: Conservatória do Registo Predial …...

I – Relatório

1 – Em 28 de Junho de 2013 foi apresentado na Conservatória do Registo Predial

…. o pedido de conversão em definitivo da inscrição provisória de aquisição do prédio descrito sob o n.º 8…../20020502, da freguesia da ……, L….., a que coube a ap…, tendo sido instruído com a escritura pública de compra e venda outorgada em 27 de junho no cartório notarial do ora recorrente.

2 – Resulta da análise da situação jurídica acolhida nas tábuas que a inscrição de

aquisição em causa (ap. 2…../20130614), efetuada a favor de Ernesto …… casado na comunhão de adquiridos com J…. Ramos ……, foi qualificada como provisória por natureza nos termos do disposto na alínea g) do n.º 1 em conjugação com o n.º 4 do artigo 92.º do Código do Registo Predial (CRP).

E mais, que em 27 de Junho de 2013 foi efetuado um registo de arresto como provisório por natureza ao abrigo do disposto na alínea a) do n.º 1 e na alínea b) do n.º 2 do artigo 92.º do CRP, com base no requerimento do procedimento cautelar especificado onde se peticiona que seja decretado o arresto de determinados bens, entre os quais figura o prédio n.º 8…. aqui em apreço, e que os requeridos (que figuram como vendedores e compradores no contrato projetado) sejam proibidos de outorgar a escritura pública de compra e venda correspondente ao referido prédio, bem como de requererem, junto de qualquer conservatória, a conversão do registo de aquisição provisório por natureza que sobre ele incide.

Da aludida inscrição, após o averbamento oficioso de retificação, passou a constar o seguinte pedido: «Serem os sujeitos passivos proibidos de outorgar escritura pública de compra e venda que tenha por objeto este prédio; serem proibidos de requererem a conversão em definitivo da apresentação 2…. de 2013/08/14».

3 – O pedido de conversão do registo provisório de aquisição foi executado nos

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92.º, n.º 1, alínea g), e n.º 4, passando a revestir o caráter de provisória por natureza, nos termos do artigo 92.º, n.º 2, alínea b), atentos os pedidos constantes do procedimento cautelar (ap. n.º …. de 2013-06-27 e averbamento respetivo), relativos à proibição de venda do imóvel e de conversão em definitivo do registo provisório de aquisição».

4 – O despacho de requalificação, notificado ao interessado em 15 de Julho e

anotado na respetiva ficha em cumprimento do disposto no n.º 3 do artigo 71.º do CRP, é de teor idêntico ao do averbamento transcrito no número anterior.

5 – O subscritor do pedido de registo vem manifestar o seu total desacordo contra

a aludida decisão de requalificação mediante a interposição do presente recurso hierárquico no qual produz as alegações que aqui se dão por integralmente reproduzidas, das quais se destacam, muito sumariamente, as seguintes:

5.1 – É manifestamente ilegal e inadmissível o pedido de proibição de venda do

imóvel e de conversão do registo de aquisição no âmbito da providência cautelar de arresto, além de que se está a pôr em causa o princípio da prioridade do registo consagrado no artigo 6.º do CRP.

O arresto, mesmo depois de decretado, não impede a transmissão do imóvel, sendo

contra legem interpor providência cautelar de arresto em que se estendam os pedidos e

se alarguem os seus efeitos como se de providência cautelar não especificada se tratasse, em clara violação do regime jurídico daquele.

5.2 – Por outro lado, seria absurdo equacionar a mera possibilidade de o legislador

de 2008, ao introduzir a alínea d) do n.º 1 do artigo 3.º do CRP, admitir o desrespeito e a violação dos princípios registrais consagrados no respetivo Código. O pedido da providência cautelar de arresto deve ser limitado nos seus efeitos registais, como providência especificada que é.

Finaliza, por isso, solicitando o deferimento do recurso hierárquico com a consequente conversão em definitivo do registo de aquisição nos termos requeridos.

6 – O senhor conservador sustenta a decisão prolatada com base nos fundamentos

que aqui se dão, de igual modo, por reproduzidos na íntegra, sem prejuízo de salientarmos que, não obstante considere que a existência do arresto não impede a conversão do registo de aquisição, manifesta o entendimento de que os pedidos de proibição de compra e venda do imóvel pelos requeridos e de conversão em definitivo do

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registo provisório de aquisição formulados no procedimento obstam à pretendida conversão.

Na verdade, sublinha, é importante acautelar, em termos registais, os efeitos da decisão final a proferir no procedimento judicial, pelo que a situação demanda que se proceda à requalificação da inscrição aquisitiva de molde a poder acolher o que vier a ser decidido em sede judicial.

Se os pedidos proibitivos procederem cairá a inscrição de aquisição, caso contrário, será convertida em definitivo ao abrigo do disposto nos n.ºs 6 e 8 do artigo 92.º do CRP.

II – Saneamento

Descrita sumariamente a factualidade dos autos e a controvérsia que opõe recorrente e recorrido, verificamos que o processo é o próprio, as partes têm legitimidade, o recurso foi interposto tempestivamente, e que inexistem outras questões prévias ou prejudiciais que obstem ao conhecimento do seu mérito.

III – Pronúncia

1 – Como é sabido, o registo é provisório por natureza quando a própria lei

expressamente assim o determina.

Tais situações encontram-se tipificadas nas diversas alíneas dos n.ºs 1 e 2 do artigo

92.º do Código do Registo Predial, desdobrando-se em duas categorias1.

Com efeito, distinguem-se entre inscrições que podem (e devem) ser logo pedidas como provisórias por natureza, e correspondem à previsão da norma do n.º 1, e inscrições que não obstante não tenham sido pedidas com essa natureza são efetuadas como tal, por se enquadrarem na facti species da norma do n.º 2 do citado preceito.

As primeiras têm um caráter prévio ou cautelar e correspondem a situações em que o ato ainda não está concluído – ainda não atingiu a sua plena maturação – sendo necessário, para o efeito, o cumprimento de alguma formalidade ulterior para que se torne perfeito e definitivo, passando, então sim, a produzir plenamente todos os efeitos que lhe estão inerentes.

As segundas dependem do resultado da qualificação ou, nalguns casos, da mera constatação feita pelo conservador dos registos anteriormente efetuados e correspondem às situações acolhidas nas diversas alíneas do n.º 2 do referido artigo 92.º.

1 A propósito desta temática vejam-se, entre outros, MOUTEIRA GUERREIRO, in Noções de Direito Registral,

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2 – O registo provisório de aquisição de um direito antes de titulado o negócio é

feito com base em declaração do proprietário ou, se não houver convenção em contrário, com base em contrato-promessa de alienação, nos termos previstos no artigo 47.º do CRP.

Este registo é pedido como provisório por natureza correspondendo-lhe simplesmente a alínea g) do n.º 1 do artigo 92.º do CRP, ou esta cumulada com o n.º 4 do mesmo preceito, diferindo o seu prazo de vigência, consoante seja ou não baseado em contrato-promessa, como decorre do disposto no n.º 3 do artigo 11.º e no n.º 4 do artigo 92.º ambos do CRP.

O recurso a este meio, atentas as suas notórias vantagens, encontra-se muito generalizado no comércio jurídico imobiliário, visando os interessados, de imediato, salvaguardar a prioridade dos seus direitos mediante o ingresso dos factos no registo, ainda que em termos provisórios.

Efetivamente, por força do princípio da prioridade consagrado no artigo 6.º do CRP, o direito primeiramente inscrito prevalece sobre os que se lhe seguirem relativamente aos mesmos bens, por ordem da data dos registos e, dentro desta, pela ordem temporal das apresentações correspondentes.

E mais, o registo convertido em definitivo conserva a prioridade que tem como

provisório por força do disposto no n.º 3 do artigo 6.º do CRP2.

Por conseguinte, os registos provisórios por natureza permitem salvaguardar os direitos dos interessados antes mesmo de o próprio contrato se encontrar celebrado.

Nesta conformidade, após a titulação do contrato (mediante o qual se produzirá o efeito jurídico-real aquisitivo – artigo 408, n.º 1, do Código Civil) e do pedido tempestivo de conversão do correspondente assento registal provisório por natureza nada há que obstaculize a sua conversão em definitivo, uma vez que os efeitos do registo retroagem à

data da elaboração do mesmo como provisório (artigos 5.º, n.º1, e 6.º, n.º 3, do CRP)3.

2 Neste tocante, a lei não distingue entre os registos provisórios por dúvidas e por natureza, nem se

vislumbram quaisquer razões para tal.

3 Relativamente às posições doutrinárias e jurisprudenciais suscitadas em torno do registo provisório de

aquisição e da reserva de prioridade própria que este representa, vd. MÓNICA JARDIM, in Efeitos Substantivos do

Registo Predial – Terceiros para Efeitos de Registo, 2013, págs.109 a 117, e 799 e segs.

Veja-se também, entre outros, o parecer proferido pelo Conselho Técnico no proc.º n.º R.P.105/97 DSJ-CT, publicado no BRN n.º 6/98, II Caderno, págs. 27 e segs., bem como os autores nele citados.

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3 – A situação configurada nos autos corresponde precisamente ao registo de

aquisição (ap.2…./20130614) efetuado como provisório por natureza ao abrigo do disposto na alínea g) do n.º 1 e do n.º 4 do artigo 92.º do CRP.

Ora, tendo sido tempestivamente pedida a conversão do mesmo em definitivo e apresentado título bastante, tal pedido, como facilmente se depreende já, merecia integral acolhimento nas tábuas, funcionando, em pleno, a reserva de prioridade (ou

reserva de lugar) marcada com a inscrição provisória de aquisição.

Nestes termos, in casu, a requalificação do registo de aquisição em apreço não tem qualquer cabimento, pelo que assiste razão ao recorrente.

4 – Apesar de não estar diretamente em tabela a apreciação da elaboração do

registo do procedimento cautelar de arresto (que, aliás, não prima pelo rigor técnico) afigura-se-nos necessário tecer alguns considerandos com respeito à figura, ainda que perfunctoriamente, tanto mais que o pedido relativo à proibição de celebração da escritura pública de compra e venda e à proibição da conversão em definitivo da ap. 2…, inserido no extrato da referida inscrição de arresto, foi a causa próxima da requalificação (indevida) levada a efeito pelo senhor conservador recorrido.

Saliente-se, porém, que o entendimento do recorrente e do recorrido no que concerne aos efeitos do registo do arresto é convergente, pois que ambos subscrevem (e bem) a tese de que o referido assento registal não impede a transmissão do bem nem o correspondente registo definitivo4.

Na verdade, do arresto, mesmo decretado, deriva apenas que os atos de disposição são ineficazes em relação ao credor, de acordo com as regras próprias da penhora, por força do disposto no artigo 622.º do Código Civil5.

Pois bem, se o próprio arresto não impede a transmissão do bem menos ainda o procedimento cautelar em causa terá virtualidade para tal, até por maioria de razão.

4 A ineficácia dos atos de alienação pressupõe a sua validade. Assim, os arrestados podem transmitir

livremente os bens sobre os quais incide o arresto, só que tais atos dispositivos não produzem efeitos relativamente ao arrestante, daí que este, transformado o arresto em penhora, possa prosseguir com a execução em relação aos bens objeto do arresto como se esses bens não tivessem saído do património do devedor – cfr, em conformidade, ANTUNES VARELA e PIRES DE LIMA in Código Civil Anotado, I Volume, 1979, pág. 563.

5 Sobre o ponto veja-se ABRANTES GERALDES, in Temas da Reforma do Processo Civil, IV Volume, págs.

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4.1 – Como é sabido, a reforma operada pelo Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de

Julho, veio permitir o registo provisório por natureza dos procedimentos que tenham por fim o decretamento do arresto e do arrolamento, bem como o de outras providências que afetem a livre disposição dos bens, nos termos do disposto nos artigos 3.º, n.º 1, alínea d), e 92.º, n.º 1, alínea a), do CRP.

O legislador, ao sujeitar a registo os referidos procedimentos, concedeu uma tutela mais forte e imediata aos credores contra os devedores, visto que assim, e à semelhança do que acontece com o registo das ações, os credores não têm de esperar, como anteriormente, por uma decisão do juiz para desencadear a instância registal com sucesso.

4.1.1 – Na vigência da lei anterior, o procedimento cautelar, que é sempre

dependência da causa, que tenha por fundamento o direito acautelado (artigo 381.º, n.º

1, do CPC), não tinha acesso ao registo6, mas apenas a providência nele decretada que

afetasse a livre disposição dos bens, ao abrigo do prescrito na parte final da alínea n) do n.º 1 do artigo 2.º do CRP.

4.2 – Como decorre do disposto no n.º 2 do artigo 2.º do Código de Processo Civil

(CPC), os procedimentos cautelares constituem meios ao dispor do titular do direito para este acautelar o efeito útil da ação, de que é instrumental.

São pressupostos gerais dos procedimentos a existência do direito e o perigo de lesão desse direito, reconduzindo-se a medida de proteção requerida ao procedimento

cautelar comum, ou aos procedimentos cautelares especificados, previstos,

respetivamente, nos artigos 381.º e segs., e 393.º e segs. do CPC7, consoante os casos.

O pedido do procedimento cautelar respeita ao arresto do prédio descrito na conservatória do registo predial de L…. sob o n.º 8…../20020502, entre outros, não obstante os requerentes tenham também requerido a proibição dos requeridos de outorgar a escritura de compra e venda e a proibição de requererem a conversão do registo provisório do identificado prédio.

4.2.1 – Cremos que a possibilidade de cumulação de pedidos essencialmente

respeitantes a procedimentos especificados, como é o de arresto, com pedidos de

6 O procedimento cautelar em si não tinha, portanto, qualquer proteção tabular – vd., em conformidade,

CATARINO NUNES, in Código do Registo Predial Anotado, pág. 188.

7 Para mais desenvolvimentos atinentes aos requisitos gerais dos procedimentos cautelares veja-se,

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procedimentos cautelares não especificados, é claramente rejeitada pelo disposto no n.º 3 do artigo 381.º do CPC.

Como nota Carlos Francisco Lopes do Rego8, a propósito da aproximação do direito

processual civil com a Diretiva Comunitária, o referido n.º 3 estabelece o caráter subsidiário do procedimento cautelar comum, relativamente aos procedimentos especialmente regulados na Secção II do Capítulo IV – o que, desde logo, implica, em termos de relevância negativa, a existência de uma relação de exclusão entre

providências nominadas e inominadas (negrito nosso).

Contudo, tal decisão é da competência exclusiva do juiz do processo, na qual não nos devemos imiscuir, nem tão pouco é necessário, visto que tal excede, manifestamente, a economia dos autos.

É que, na verdade, esse nem sequer é o ponto, pois independentemente de o juiz admitir, ou não, a possibilidade de cumulação dos referidos pedidos, o que o conservador tem de apreciar é se os factos consubstanciados naqueles pedidos estão, ou não, sujeitos

a registo9, não cabendo nos seus poderes de qualificação a apreciação de questões

atinentes ao mérito ou à forma processual seguida (artigos 265.º e 265.º-A do CPC)10.

As competências e os prismas de cada um destes intervenientes no processo são distintos e autónomos.

4.2.2 – Ao conservador compete atentar nos princípios enformadores do nosso

sistema registal, em especial no princípio da tipicidade, segundo o qual só estão sujeitos a registo os factos de que derivem os direitos elencados no artigo 2.º e, ainda, no artigo 3.º do CRP.

Pois bem, a esta luz fácil é depreender que o pedido de proibição dos requeridos celebrarem escritura de compra e venda daquele determinado prédio e de promoverem a conversão em definitivo do registo provisório por natureza de aquisição desse mesmo prédio formulado em procedimento cautelar especificado (ou comum, que fosse) não é

8 In Comentários ao Código de Processo Civil, I Volume, 2004, págs. 342 e segs.

9 Afigura-se-nos também inadmissível pretender-se que o conservador fique vinculado à elaboração dos

registos nos termos reivindicados pelo apresentante no seu pedido de registo, como aconteceu no caso do presente procedimento cautelar de arresto.

As menções a inserir no extrato da inscrição são determinadas a partir dos títulos subjacentes ao registo, tendo em consideração o prescrito nos artigos 93.º e 95.º do CRP.

10 Veja-se, neste sentido, o parecer do Conselho Técnico proferido no proc.º n.º 85/90 R.P.4, in Regesta,

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facto sujeito a registo, por não se subsumir na previsão dos artigos 2.º e 3.º do Código do Registo Predial.

Por outro lado, convém também realçar que as aludidas proibições não são dirigidas ao conservador, nem sequer visam propriamente afetar o poder de disposição do titular em termos gerais, sendo apenas direcionadas aos requeridos e circunscritas ao registo provisório efetuado e à sua conversão em definitivo, o que, mesmo que

procedentes, não invalidavam a venda do prédio em causa a terceiros11.

Dizendo ainda de modo mais enfático, o fim visado pelas providências requeridas é o de impedir a conversão em definitivo daquele concreto registo provisório de aquisição visto que daí derivaria a perda de reserva de lugar ou de prioridade que o mesmo representa relativamente ao registo do procedimento cautelar em causa.

Consequentemente, em face de todo o exposto, as referidas proibições, dada a sua

ligação intrínseca, ainda que constantes do pedido formulado no procedimento12, não

deveriam ter acolhimento nas tábuas.

Mas ainda que assim não se entendesse, deve realçar-se que a conversão do registo em definitivo era, de qualquer modo, incontornável atenta a reserva de prioridade ou de lugar que, em face do n.º 3 do artigo 6.º do CRP, o registo provisório representa.

4.3 – Acresce ainda, por outro lado, que, por força do princípio da legalidade

consagrado no artigo 68.º do CRP, o conservador deve apreciar livremente a validade do pedido de registo, verificando a identidade do prédio, a legitimidade dos interessados, a

regularidade formal dos títulos e a validade dos atos dispositivos neles contidos13.

Decorrentemente, o conservador não pode rejeitar a apresentação (artigo 66.º do CRP) dos documentos que titulem factos sujeitos a registo (artigo 43.º) nem ser «obrigado» a recusar a elaboração de um registo (artigo 75.º, n.º1), porque a lei não lhe confere essa possibilidade, o que, a acontecer, seria particularmente grave do ponto de vista dos princípios da legalidade e da prioridade do registo.

11 Diverso seria, porém, o entendimento do Conselho se a situação configurada nos autos tivesse

contornos idênticos aos das situações apreciadas nos pareceres ínsitos nos proc.ºs n.º R.P.89/2006 DSJ-CT e R.P.203/2006 DSJ-CT, entre outros, disponíveis em www.irn.mj.pt (Doutrina).

12 Ainda que incidentalmente, sabe-se já, em face dos documentos carreados para os autos, que a

providência decretada no procedimento foi, naturalmente, no sentido de indeferir todos pedidos, com exceção do decretamento do arresto.

13 O conservador, entidade primária na orgânica do registo, aparece aqui, no dizer de OLIVEIRA ASCENSÃO,

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De harmonia com a lei, a qualificação do pedido de registo é feita pelo conservador livremente, sendo este poder indeclinável e irrevogável.

É notoriamente incompatível acatar uma hipotética «ordem judicial de não

registar»14 e o cumprimento das normas legais imperativas que regem o registo

predial15.

A atividade qualificadora, apesar de não ser função judicial exerce-se com semelhante independência, daí que diversos autores nacionais e estrangeiros a

caraterizem como função «para-judicial»16.

5 – Por último, na senda do que já procurámos evidenciar, mais um breve

apontamento alusivo à requalificação do registo de aquisição para provisório por natureza, nos termos da alínea b) do n.º 2 do artigo 92.º do CRP, devido à presença do registo do procedimento cautelar de arresto, para a rejeitarmos liminarmente dada a inexistência de qualquer relação de dependência ou de incompatibilidade que atinja aquele primeiro registo.

Como já salientámos, a existência de registo de procedimento cautelar de arresto, ou mesmo do próprio arresto, não inviabiliza a transmissão e o correspondente registo definitivo do prédio sobre o qual venha a recair a providência, apenas a torna ineficaz e inoponível em relação ao requerente, como decorre do disposto nos artigos 619.º e 622.º do Código Civil.

Nestes termos, a requalificação do registo de aquisição não é convocável para a

situação em apreço, dado que a norma plasmada na alínea b) do n.º 2 do artigo 92.º do

14 Vem a propósito transcrever, por ilustrativo, o seguinte breve trecho do acórdão do STJ, constante do

proc.º n.º 799/99, publicado no BRN n.º 10/99, I Caderno, pág. 16: «… o juiz não podia ordenar ao Sr. Conservador que procedesse ao registo.

Em recurso contencioso o tribunal, se julgar procedente o recurso, limita-se a anular ou declarar nulo o despacho impugnado.

Nada ordena.

Administração e Tribunais são entidades independentes. Não dão nem recebem ordens entre si».

15 Embora com contornos específicos diversos dos aqui em apreço (havia já sido proferida decisão

judicial), veja-se o parecer proferido pelo Conselho Técnico no proc.º n.º C.P.11/97 DSJ-CT, especialmente o teor das V e VI Conclusões, publicado no BRN n.º 12/97, II Caderno, pág. 8.

16 Cfr., entre outros, LACRUZ BERDEJO &SANCHO REBULLIDA, in Derecho Inmobiliário Registral, 1984, pág.

354, bem como o parecer proferido no proc.º n.º 58/93 R.P.4, publicado na Regesta, 2.º trimestre, 1994, págs. 75 e segs.

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CRP não tem aplicabilidade in casu, nem, posteriormente, o disposto nos n.ºs 6 e 8 do referido artigo 92.º17.

Retroagindo os efeitos do registo, com a sua conversão, à data do registo provisório, prevalece o direito primeiramente registado, como decorre da conjugação do disposto nos n.ºs 1 e 3 do artigo 6.º do CRP.

Acresce ainda, por outro lado, que resulta com razoável clareza do prescrito na aludida alínea b) que o conservador ao qualificar um pedido de registo que dependa de outro provisório ou que com ele seja incompatível o deve efetuar como provisório por natureza. Esta relação de dependência ou de incompatibilidade, porém, só funciona em sentido descendente, vale por dizer, não é o pedido efetuado em segundo lugar que afeta o primeiro mas este que afeta a qualificação dos subsequentes – a ordem dos fatores não é aqui indiferente.

5.1 – No caso concreto, como se infere do que precede, a conversão do registo de

aquisição não é, de modo algum, indiferente para a sorte do registo do procedimento cautelar, que havia sido qualificado como provisório por natureza não só nos termos do disposto na alínea a) do n.º 1 como também de harmonia com o prescrito na alínea b) do n.º 2 do artigo 92.º do CRP, o que demanda, aqui sim, a aplicação do preceituado na parte final do n.º 7 do citado artigo 92.º.

6 – Assim, como corolário lógico do exposto, entendemos que o presente recurso

hierárquico merece provimento.

E, em consonância, a posição deste Conselho vai sintetizada nas seguintes

Conclusões

I – A existência de registo de procedimento cautelar de arresto, ou mesmo do próprio arresto, não inviabiliza a transmissão e o correspondente registo definitivo do prédio sobre o qual recai a providência, apenas a torna ineficaz e inoponível em relação ao requerente, como decorre do disposto nos artigos 619.º e 622.º do Código Civil.

17 Sublinhamos que, nos casos em que se mostre pertinente qualificar um registo como provisório por

natureza ao abrigo do disposto na alínea b) do n.º 2 do artigo 92.º do CRP, importa sempre esclarecer devidamente se essa relação é de dependência ou de incompatibilidade.

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II – O registo de aquisição baseado em contrato-promessa, efetuado como provisório por natureza, nos termos previstos nos artigos 47.º e 92.º, n.º 1, alínea g), e n.º 4, do Código do Registo Predial, deve ser convertido em definitivo, em face do tempestivo pedido instruído com a correspondente escritura de compra e venda, ainda que entre o referido assento registal e o pedido da sua conversão se interponha um registo de procedimento cautelar de arresto em que um dos pedidos formulados pelos requerentes visa precisamente impedir que os requeridos promovam essa conversão.

IV – Consequentemente, sabendo-se que o registo convertido em definitivo conserva a prioridade que tinha como provisório, por força da reserva de prioridade ou de lugar consagrada no n.º 3 do artigo 6.º do Código do Registo Predial, a requalificação do registo de aquisição não tem aqui cabimento sendo inaplicável, in casu, o disposto na alínea b) do n.º 2 do artigo 92.º do citado Código.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 17 de outubro de 2013. Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, relatora, Luís Manuel Nunes Martins, Blandina Maria da Silva Soares, António Manuel Fernandes Lopes, Maria Madalena Rodrigues Teixeira.

Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Presidente do Conselho Diretivo em 04.11.2013.

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