• Nenhum resultado encontrado

O PAPEL DA LOGÍSTICA REVERSA NO SUPRIMENTO DE SISTEMAS DE RECUPERAÇÃO DE PRODUTOS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O PAPEL DA LOGÍSTICA REVERSA NO SUPRIMENTO DE SISTEMAS DE RECUPERAÇÃO DE PRODUTOS"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

O PAPEL DA LOGÍSTICA REVERSA NO

SUPRIMENTO DE SISTEMAS DE RECUPERAÇÃO

DE PRODUTOS

MARINA BOUZON marinabouzon@gmail.com UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

CARLOS MANUEL TABOADA RODRIGUEZ taboada@deps.ufsc.br UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

Resumo: A LOGÍSTICA REVERSA (LR) E OS SISTEMAS DE RECUPERAÇÃO DE

PRODUTOS VÊM RECEBENDO ATENÇÃO RECENTEMENTE DEVIDO ÀS CRESCENTES PREOCUPAÇÕES SOCIAIS E AMBIENTAIS. RECUPERAÇÃO É UM TIPO DE REVALORIZAÇÃO DE PRODUTOS QUE REAGREGA VALOR POR MEIO DE RREPARO, RECONDICIONAMENTO OU REMANUFATURA. NESTE CONTEXTO, A LR ATUA COMO RESPONSÁVEL PELO SUPRIMENTO DESTES SISTEMAS, FORNECENDO PRODUTOS PÓS-USO. ESTE ARTIGO APRESENTA O ESTADO ATUAL DO ABASTECIMENTO DOS SISTEMAS DE RECUPERAÇÃO DE PRODUTOS, ASSIM COMO APRESENTA OS DESAFIOS QUE SURGEM COMO CONSEQUÊNCIA DA INSTABILIDADE DE FORNECIMENTO. FOI VERIFICADO QUE A FALTA DE ORGANIZAÇÃO E A VARIABILIDADE DE FORNECIMENTO PROVOCAM DESBALANCEAMENTO COM A DEMANDA DO MERCADO DE REUSO, COMO TAMBÉM EXCESSO DE ESTOQUES NAS REDES DE RECUPERAÇÃO DE VALOR, DIFICULTANDO O DESENVOLVIMENTO DESSE TIPO DE INDÚSTRIA.

Palavras-chaves: LOGÍSTICA REVERSA; RECUPERAÇÃO DE PRODUTOS;

(2)

2

THE ROLE OF REVERSE LOGISTICS AS A

SUPPLIER OF PRODUCT RECOVERY

SYSTEMS

Abstract: REVERSE LOGISTICS (RL) AND PRODUCT RECOVERY SYSTEMS HAVE

BECOME CENTRAL ISSUES RECENTLY DUE TO THE GROWING OF SOCIAL AND ENVIRONMENTAL CONCERNS. RECOVERY IS A TYPE OF REVALORIZATION THAT RE-AGGREGATES THE VALUE OF PRODUCTS THROUGH REPAIR, RRECONDITIONING OR REMANUFACTURE. IN THIS CONTEXT, RL ACTS AS RESPONSIBLE FOR THE SUPPLY OF THESE SYSTEMS, PROVIDING AFTER-USE PRODUCTS. THIS ARTICLE PRESENTS THE CURRENT STATE OF SUPPLY OF PRODUCT RECOVERY SYSTEMS, AND PRESENTS THE CHALLENGES THAT ARISE AS A RESULT OF THE INSTABILITY OF SUPPLY. IT WAS VERIFIED THAT THE LACK OF ORGANIZATION AND VARIABILITY OF SUPPLY CAUSE UNBALANCING WITH REUSE MARKET DEMAND, AS WELL AS EXCESS INVENTORY IN THE VALUE RECOVERY NETWORKS, DIFFICULTING THE DEVELOPMENT OF THIS TYPE OF INDUSTRY.

(3)

3

1. Introdução

Diante do atual contexto ambiental, o foco da sociedade e das empresas está direcionado para soluções que reduzam impactos ambientais e que sejam, ao mesmo tempo, economicamente sustentáveis. Nesse sentido, impulsionada por questões sócio-ambientais, legislativas e até mesmo econômicas, a logística estendeu sua abrangência para o retorno de produtos e materiais nas cadeias.

No início da década de 1980, cadeias de suprimento estavam preocupadas com o refinamento da logística dos produtos desde matérias-primas até o consumidor final. Obviamente, os produtos ainda estão correndo na direção dos consumidores finais, porém um fluxo crescente de produtos está voltando. Isto vem ocorrendo com uma ampla gama de indústrias, incluindo produtos eletrônicos, farmacêuticos, bebidas, dentre outros (BRITO, DEKKER, 2003).

Seja por uma ação forçada de fluxo reverso ou pró-ativa, a logística reversa (LR) tornou-se uma competência chave nas cadeias de suprimento modernas (BRITO, DEKKER, 2003). Mesmo considerando o fato de que a LR possui importância estratégica (ALVAREZ-GIL et al., 2007), os canais de distribuição reversos têm sido pouco estudados, há pouca literatura com material organizado nesta área (SUBRAMONIAM; HUISINGH, CHINNAM, 2009; KUMAR, PUTNAM, 2008; GONZALEZ-TORRE; ADENSO-DIAZ, ARTIBA, 2004; LEITE, 2003).

Da mesma maneira, a recuperação de produtos usados vem recebendo atenção recentemente devido às crescentes preocupações sociais e ambientais (FLEISCHMANN et al., 2000). A recuperação é um tipo de revalorização de produtos que reagrega valor ao bem após seu consumo. Este processo pode ocorrer em diferentes níveis de recuperação (reparo, recondicionamento ou remanufatura) e, independente do nível, é a LR a responsável pelo suprimento destes sistemas.

Muitas vezes, a logística de suprimento às redes de recuperação (reversa) não é estruturada e seu fornecimento é inconstante. Esta instabilidade de suprimento dificulta a programação dos processos de recuperação como também o planejamento de materiais (GUIDE Jr, 2000). Por isso, afirma-se que os sistemas de revalorização de produtos enfrentam um grande desafio: alcançar estabilidade operacional com fornecimento geralmente instável (ATASU; SARVARY, VAN WASSENHOVE, 2008; GUIDE Jr, 2000).

Desta maneira, este artigo apresenta uma revisão da bibliografia no assunto a fim de traçar um panorama atual acerca da logística reversa como fonte supridora dos processos de recuperação de produtos. Para isso, o artigo inicia pela abordagem do ciclo de vida útil dos produtos, relacionando aos cenários de final de vida. Em seguida, é abordado o conceito de LR, definição de seus processos e comparativo entre os fluxos direto e reverso. Também são definidas as formas de recuperação de valor dos produtos pós-consumo, trazendo as características complicadoras desses sistemas. Por fim, o artigo apresenta a abordagem da LR como fonte de suprimento dos sistemas de recuperação de produtos e as considerações finais sobre o tema.

2. Ciclo de vida do produto e cenários de fim de vida

A fim de melhor contextualizar a LR e a recuperação de produtos, este tópico visa fornecer uma breve abordagem sobre o ciclo de vida útil de um produto, os possíveis cenários

(4)

4

para o fim de vida e os motivos para o retorno de produtos.

O ciclo de vida a ser considerado para este artigo refere-se ao ciclo completo do produto, a partir da pré-produção, produção, transporte, utilização, descarte, reutilização e a reciclagem de parte ou da totalidade do produto. Isso significa considerar o produto a partir do berço ao berço ou cradle-to-cradle, como em um ciclo fechado em que os resíduos entram no sistema novamente. Desta forma, essa abordagem difere do ciclo de vida que envolve a dimensão comercial do produto, a partir do projeto até a sua morte e retirada do mercado.

Uma vez que um produto é descartado ou rejeitado, este pode ser encaminhado para algumas possíveis destinações levantadas por Parkinson e Thompson (2003) por meio de uma análise taxonômica, conforme Figura 1.

FIGURA 1 - Cenários para final de vida do produto. Fonte: Adaptado de Parkinson e Thompson (2003).

De acordo com a Figura 1, os produtos podem ser encaminhados para um descarte ilegal, aterro regularizado ou passar por um processo de revalorização. A coordenação desse fluxo reverso de produtos é o que dá origem ao termo “logística reversa”. Desta maneira, a LR atua nos processos de movimentação de materiais/produtos primordialmente no ramo da reciclagem e do reuso, seja este último direto “como está” ou passando por reprocessamento, fechando o ciclo de materiais. A atuação da LR pode ser ilustrada pela Figura 2.

FIGURA 2 - Logística reversa na remanufatura, reciclagem e reparo. Fonte: Adaptado de Kumar e Putnam (2008).

De acordo com a Figura 2, os produtos retornam dos consumidores diretamente para outro consumidor (reuso direto) ou para reprocessamento por reparo, remanufatura ou reciclagem. Em último caso também podem ser encaminhados para aterro. O foco deste artigo está no fornecimento de produtos pós-uso para recuperação do produto, ou seja, reprocessamento por remanufatura, recondicionamento ou reparo. A reciclagem é um processo de recuperação de materiais e, portanto, não é foco para o presente estudo.

(5)

5

3. Logística reversa: definições e comparação com o fluxo direto

Um dos objetivos operacionais da logística moderna, em um conceito mais amplo, é a idéia de “apoio ao ciclo de vida” do produto, no que diz respeito ao prolongamento do conceito além do fluxo direto de materiais e à necessidade de considerar os fluxos reversos dos produtos em geral (BOWERSOX, CLOSS, 2001). Assim, o conceito de ciclo de material gradualmente substitui a percepção econômica de “um sentido” (FLEISCHMANN et al., 2000). E a atuação da LR ocorre na operacionalização do retorno dos bens a este ciclo produtivo (LEITE, 2003).

Entende-se LR como a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros. A LR agrega valor ao planejar as redes reversas e as respectivas informações e ao operacionalizar o fluxo desde a coleta dos bens, por meio dos processamentos logísticos de consolidação, separação e seleção, até a reintegração ao ciclo (LEITE, 2003).

Os produtos retornam por dois canais de distribuição reversos: consumo e pós-venda. O canal reverso de pós-consumo caracteriza-se por produtos oriundos de descarte após uso. Já o canal reverso de pós-venda caracteriza-se pelo retorno de produtos com pouco ou nenhum uso que apresentaram problemas de responsabilidade do fabricante ou distribuidor e, ainda, por insatisfação do consumidor (LEITE, 2003). Os fluxos de retorno venda e pós-consumo encontram-se diferenciados na Figura 3 a seguir.

FIGURA 3 - Atuação da Logística Reversa: pós-consumo e pós-venda. Fonte: Adaptado de Leite (2003). Os produtos pós-venda ou pós-consumo podem ser de natureza durável, semi-durável ou descartável. Em geral, os bens descartáveis, quando revalorizados, são reciclados. Já os

(6)

6

bens duráveis são mais adequados para passar pelos processos de recuperação de valor por meio de remanufatura, reparo ou recondicionamento.

3.1 Diferenças entre logística direta e logística reversa

O fluxo da LR apresenta muitas diferenças em relação ao fluxo direto (TIBBEN-LEMBKE, ROGERS, 2002). A logística direta pode ser definida pelo conceito do CLM (Council of Logistics Management, atual Council of Supply Chain Management Professionals – CSCMP) como: “Processo de planejamento, execução e controle de procedimentos para o transporte e estocagem eficiente e efetiva de bens incluindo serviços e informações relacionadas desde o ponto de origem até o ponto de consumo com o objetivo de atender às necessidades dos clientes” (BALLOU, 2006; NOVAES, 2004). A LR, por sua vez, tem sido definida como a movimentação de produtos ou materiais na direção oposta com o objetivo de criar ou recapturar valor, ou com o propósito de disposição final (TIBBEN-LEMBKE, ROGERS, 2002).

Tibben-Lembke e Rogers (2002) sintetizam as principais diferenças do fluxo direto e reverso em um quadro comparativo (Quadro 1).

Logística direta Logística Reversa

Previsão relativamente alinhada Previsão mais difícil

De um para muitos transportes De muitos para um transporte Qualidade do produto uniforme Qualidade do produto não uniforme

Embalagem do produto uniforme Embalagem do produto geralmente danificada Destinação/rota clara Destinação/rota não clara

Canal padronizado Orientado pela exceção

Opções de local de disposição claras Opções de local de disposição não claras Preço relativamente uniforme Preço depende de muitos fatores

Importância da velocidade reconhecida Velocidade geralmente não é uma prioridade Custos de distribuição monitorados cuidadosamente

por sistemas de contabilidade

Custos reversos menos visíveis

Gerenciamento de estoques consistente Gerenciamento de estoque não consistente

Ciclo de vida do produto gerenciável Questões de ciclo de vida do produto são mais complexas

Negociação entre os membros do canal são alinhadas Negociação é complicada por causa de considerações adicionais

Métodos de marketing são bem conhecidos Marketing é complicado por vários fatores (especialmente canibalização)

Informação em tempo real disponível para rastrear o produto

Visibilidade do processo é menos transparente QUADRO 1 - Diferenças entre logística direta e reversa. Fonte: Tibben-Lembke e Rogers (2002).

As diversas diferenças encontradas entre a logística direta e reversa ressaltam a falta de estrutura e de estudos no ramo do canal reverso, além do fato que esta área é relativamente nova e menos consolidada, se comparada à logística direta.

3.2 Influência de fatores ambientais e sócio-legislativos

Os produtos retornam por canais reversos motivados por diversos fatores de influência. Dentre eles, Brito e Dekker (2003) destacam os seguintes fatores:

 Econômicos: Os ganhos diretos são relacionados ao reuso de materiais dos produtos, recuperação do valor do produto e redução dos custos de despejo. Os ganhos indiretos

(7)

7

proporcionados pela LR estão na área de marketing (imagem “verde”), competitividade e outras questões estratégicas, tais como antecipação a legislações e melhoria da relação com cliente e fornecedor.

 Legislativos: Os fatores legislativos referem-se a jurisdições relativas à recuperação e/ou retorno de produtos.

 Cidadania empresarial: A cidadania empresarial engloba uma gama de valores ou princípios que estimulam uma indústria ou organização a se tornar engajada com a LR.

Alvarez-Gil et al. (2007) sugerem que os programas de LR resultam da combinação de fatores externos (consumidores, governo, fornecedores, ONGs, etc.), organizacionais (disponibilidade de recursos) e individuais (postura de gestores).

Leite (2003) afirma que nas últimas décadas, os impactos causados sobre o meio ambiente pelos produtos e processos industriais, acrescidos dos grandes desastres ecológicos mais próximos, tornaram-se mais visíveis à sociedade em geral, modificando hábitos de consumo em alguns países. Regulamentações expressas de projeção contra esses impactos justificam o crescente interesse pelas oportunidades e riscos dos canais de distribuição reversos.

Adicionalmente, o aumento da velocidade de descarte dos produtos de utilidade após seu primeiro uso, motivado pelo nítido aumento da descartabilidade dos produtos em geral, não encontrando canais de distribuição reversos de pós-consumo devidamente estruturados e organizados, provoca um desbalanceamento entre as quantidades descartadas e as reaproveitadas (LEITE, 2003).

Este volume de lixo gerado torna-se visível, e impulsionam a sociedade na direção da preocupação ambiental, criando a sensibilidade ecológica. Por sua vez, as empresas buscam, além das possíveis oportunidades econômicas oriundas desses reaproveitamentos e reutilizações, a questão da inclusão da preservação ecológica na sua imagem corporativa, na mesma medida que a sociedade defende-se por meio de legislações e regulamentações específicas (LEITE, 2003). Este aumento da preocupação ambiental é ratificado pela quantidade de trabalhos desenvolvidos relacionando a LR com as questões ambientais (ROGERS, TIBBEN-LEMBKE, 1998).

Nesse sentido, novos princípios de proteção ambiental foram criados, como o

Extended Product Responsibility (EPR), ou Responsabilidade Estendida do Produto. Este

conceito traz a idéia de que a cadeia produtiva deve se responsabilizar pelo produto até sua fase final, incluindo a decisão quanto ao melhor destino pós-uso.

No Brasil, a nova Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), aprovada em 2010, traz inúmeras inovações relativas ao princípio EPR. Tais inovações exigirão alterações na conduta empresarial quanto ao retorno de produtos, pois responsabiliza as empresas pelo recolhimento destes, incentivando o reuso e a reciclagem. Esta política estimula a busca por soluções sócio-ambientais, não mais relacionadas somente à criação da imagem “verde”, mas também às medidas de sustentabilidade do próprio negócio, gerenciando a conformidade legal ambiental sob a ótica econômica.

Outra influência é colocada por Kumar e Putnam (2008), ao afirmarem que o desenvolvimento e o aumento do consumo nos países subdesenvolvidos diminuem a oferta de matérias-primas como alumínio, aço e cobre, impulsionando o reaproveitamento de materiais e, consequentemente, a operação de LR.

(8)

8

ambientais, sociais, e até econômicos (interesse em recuperar o valor). O tópico seguinte define a recuperação de produtos.

4. Recuperação de produtos

Depois da segunda guerra mundial, a escassez de material, especialmente nas indústrias automotivas, forçou as empresas a recuperar componentes ao invés de produzir novos (MÄHL, ÖSTLIN, 2007). Esse cenário impulsionou a indústria da recuperação de produtos, reaproveitando materiais, componentes, peças, módulos e produtos como um todo. Assim, pode-se afirmar que a recuperação de produtos tem estado presente nos últimos 60 anos, provendo significativos benefícios econômicos, sociais e ambientais (PARKINSON, THOMPSON, 2003).

Desta maneira, ao retornar de campo, um produto pode ser descartado (seja em aterros convencionais ou despejos ilegais) ou ser encaminhado para um processo de revalorização. A revalorização consiste em reagregar valor ao produto, que pode ocorrer de duas formas principais: reciclagem ou reuso.

Os termos “reuso” e “reciclagem” são utilizados erroneamente como sinônimos. O reuso é caracterizado por toda forma de reutilização do produto. Em outros termos, continua-se a usar o produto (PARKINSON, THOMPSON, 2003), o que caracteriza um ciclo fechado de materiais. Na reciclagem, a energia e os recursos despendidos na produção do produto são perdidos, e esse é reduzido ao estado de matéria-prima e insumos para outros processos.

O reuso do produto pode ocorrer por meio da recuperação das suas funcionalidades. Segundo Ijomah et al. (2007), as operações de recuperação de produtos diferenciam-se em termos de conteúdo de trabalho, garantia e qualidade, conforme indica a Figura 4.

Conteúdo de Trabalho Garantia Qualidade Reparo Recondicionamento Remanufatura

FIGURA 4 - Hierarquia dos processos de recuperação. Fonte: Ijomah et al. (2007)

De acordo com a Figura 4, o processo de reparo encontra-se em nível inferior da remanufatura. Ainda entre essas duas formas de recuperação encontra-se o recondicionamento, que recupera o produto da mesma forma que a remanufatura, porém sem o compromisso de deixá-lo em “estado de novo”.

4.1 Processos de Sistemas de Recuperação

O processo de recuperação de produtos, em geral, é dividido nas seguintes operações: desmontagem, limpeza, inspeção e triagem, reparo ou substituição de componentes, remontagem e teste (PARKINSON; THOMPSON, 2003; SUNDIN, 2004), conforme ilustrado pela Figura 5.

(9)

9

Desmontagem Limpeza Inspeção

Conserto e/ou Substituição

Remontagem Teste

FIGURA 5 - Etapas da recuperação de produtos.

Essas operações podem ser colocadas em ordens diferentes ou mesmo excluídas, dependendo do tipo de produto, volume, qualidade do item retornado e objetivo da recuperação: reparar, recondicionar ou remanufaturar. Ou seja, indústrias diferentes optam por executar estas operações em diferentes sequências (SUNDIN, 2004).

4.2 Particularidades dos Sistemas de Recuperação

Apesar de seus inúmeros benefícios e oportunidades, os sistemas de recuperação têm permanecido amplamente intocados pelos avanços em tecnologia, produtividade e qualidade nos últimos trinta anos (LUND, 1996 apud KUCNER, 2008), e por isso são cunhados de “indústria imatura” (KUCNER, 2008). A recuperação de produtos possui alguns fatores que restringem seu desenvolvimento enquanto processo produtivo, comparada à manufatura tradicional. Um dos seus principais desafios é produzir produtos com qualidade a partir de produtos de qualidade desconhecida (PARKINSON; THOMPSON, 2004). Esses fatores e desafios têm como conseqüência a incerteza e a variabilidade no ambiente de recuperação, em termos de tempos de atravessamento (lead times), rotas e custos produção.

Desta forma, comparado à manufatura tradicional, o ambiente de recuperação é mais complexo devido ao alto grau de incerteza no processo produtivo, principalmente causado por dois fatores: a quantidade e a qualidade dos itens retornados (MÄHL, ÖSTLIN, 2007). Guide (2000) afirma haver sete particularidades nesses ambientes, cunhadas por ele de “características complicadoras”. São elas:

a) Incertezas relacionadas ao tempo e à quantidade de retorno de produtos: em geral, o tempo e a quantidade de retorno de itens são incertos. Isto é, em geral, um reflexo da natureza incerta da vida do produto. Um número de fatores como estágio de ciclo de vida e taxa de mudança de tecnologia influenciam a taxa de retorno (GUIDE Jr, 2000). Essa dificuldade insere a necessidade de previsões da quantidade de retorno de produtos e o momento do retorno, exigindo ao mesmo tempo atividades de logística reversa (LAGE Jr, 2008). Portanto, esta característica dificulta a programação da recuperação de produtos e seu planejamento de materiais.

b) Balanceamento da demanda com o retorno: o problema de balancear a demanda com o

mix e o volume de produtos retornados é outra característica que aumenta a complexidade

dos sistemas de recuperação de produtos. Este balanceamento visa principalmente à redução dos estoques. De uma mesma maneira, é uma função da expectativa de vida do produto e da taxa de inovação tecnológica, impactando no planejamento de recursos e gerenciamento de materiais (GUIDE Jr, 2000).

c) Desmontagem: após a triagem inicial, a desmontagem é o primeiro passo do processo de recuperação. Em geral, este processo varia muito no que diz respeito ao tempo requerido. Esta incerteza faz com que estimar os tempos de fluxo seja difícil e fixar lead times precisos uma tarefa quase impossível (GUIDE Jr, 2000). Esta particularidade torna-se ainda mais importante quando se trata de produtos que não foram projetados para a desmontagem, o que ocorre na maioria dos casos (LAGE Jr, 2008).

d) Diferenças na qualidade das peças retornadas: as diferentes condições nas quais os produtos chegam são impactadas por uma série de fatores, incluindo a idade, ambiente,

(10)

10

uso e manutenção do item (KUCNER, 2008). Isto gera para a fábrica uma incerteza na quantidade de peças e materiais a serem consertados, que é um reflexo do fato que dois produtos aparentemente iguais podem requerer consertos completamente diferentes. Esta particularidade dificulta a previsão de compra de materiais e dimensionamento de estoque de peças e componentes (GUIDE Jr, 2000).

e) Restrições de materiais equivalentes: as restrições de equivalência dos componentes a serem substituídos nos produtos retornados complicam o gerenciamento de materiais e o processo de produção (GUIDE Jr, 2000).

f) Incerteza de rota e de tempo de processamento: esta incerteza é outra conseqüência das diferentes condições dos itens retornados, o que dificulta o planejamento dos recursos, a programação, o controle do chão de fábrica de recuperação e o gerenciamento dos materiais. Estes esforços tornam-se, portanto, mais complexos que os de uma manufatura tradicional (GUIDE Jr, 2000).

g) Logística Reversa: conforme visto anteriormente, a rede de logística reversa é caracterizada pela coleta dos produtos do consumidor final e retorno destes para a fábrica de remanufatura, reparo ou reciclagem. Esta rede de coleta é uma função chave para o balanceamento do retorno. Este processo é muito complexo por si só, pois envolve uma gama de decisões como o número e locais de centros de coleta, incentivos para retorno de produtos, métodos de transporte, provedores terceirizados, entre outras (GUIDE Jr, 2000).

Desta maneira, a logística reversa é fator chave para o sucesso de redes de recuperação de produtos, pois, por si só é um processo que envolve uma série de decisões e necessita de uma estruturação diferente da logística direta. Além disso, por exercer o papel de fornecimento para indústrias de recuperação, tem impacto direto na eficiência destes sistemas. O tópico seguinte aborda esta questão.

5. Logística reversa no suprimento de sistemas de recuperação de produtos

A logística reversa faz parte da rede de recuperação de produtos, atuando como fornecedora de produtos originados dos consumidores para as fábricas de recuperação, no sentido contrário ao da cadeia de valor (FLEISCHMANN et al., 2000). Após a reagregação de valor, os bens são novamente distribuídos aos consumidores conforme uma cadeia de suprimentos tradicional e, portanto, não caracterizando uma logística reversa, como ilustra a Figura 6.

(11)

11

FIGURA 6 - Rede de recuperação de produtos.

A Figura 6 ilustra de forma esquemática o ciclo fechado produtivo, no qual os produtos retornam a operações de recuperação para voltar ao mercado. Esta figura pode ter suprimido algumas etapas do ciclo completo a fim de obter caráter didático. As principais atividades de uma rede de recuperação são: coleta, inspeção/separação, reprocessamento e redistribuição (FLEISCHMANN et al., 2000).

A demanda de produtos e materiais recuperados (revalorizados) parece ter difícil previsão em muitos casos, principalmente devido ao fato que os mercados de reuso estão em evolução e ainda não estão estabelecidos. Entretanto, ainda mais relevante é a condição de fornecimento dos processos de revalorização (FLEISCHMANN et al., 2000). Por isso, muitos autores afirmam que o alto nível de incerteza é uma característica do gerenciamento da recuperação de produtos (FLEISCHMANN et al., 2000; GUIDE Jr, 2000; KUCNER, 2008; MÄHL, ÖSTLIN, 2007; SUNDIN, 2004; ÖSTLIN, 2008; IJOMAH; BENNETT, PEARCE, 1999; SRIVASTAVA, 2008).

Corroborando este fato, em um estudo de caso em uma empresa de telecomunicações, Bouzon et al. (2010) afirmam que a empresa utiliza a LR como suprimento da sua remanufatura. Foi relatado que a empresa estudada “não possui uma rotina estabelecida para a coleta dos produtos devolvidos, e também não opera com centros de coleta para estocá-los”. Como consequência, a empresa opera sua remanufatura com altos estoques e alta variabilidade de lead times produtivos, uma vez que os produtos retornados não são previamente classificados por níveis de reparo necessário.

6. Considerações finais

Novas tecnologias e necessidades impostas pelo mercado e pelas entidades governamentais fizeram com que o conceito de logística se especializasse para atender a necessidade de ferramentas de gestão eficientes para o fluxo de retorno de produtos. Além das imposições mercadológicas e governamentais, a progressiva mudança na cultura de consumo dos clientes também tem incentivado a logística reversa.

Nesse sentido, diante do atual quadro ambiental e de pressões sociais e governamentais, o meio acadêmico e o meio empresarial iniciaram uma busca por alternativas

(12)

12

tecnológicas que reduzam os danos ambientais e que sejam mais adequadas às novas questões legislativas. Uma das alternativas é voltada para os processos reversos nas cadeias de suprimento, a fim de minimizar a geração de lixo pela revalorização dos produtos e materiais e atender às demandas legislativas e sociais.

Neste contexto, a LR cresce em importância e aplicação, uma vez que exerce o importante papel de suprimento de indústrias de recuperação de produtos. Entretanto, na prática, a LR enfrenta dificuldades devido à falta de organização e estrutura do fluxo, da mesma maneira que os estudos na área ainda são pouco numerosos, relativamente à logística direta.

Já os sistemas de recuperação de produtos pós-uso sofrem os efeitos da falta de organização do seu suprimento, gerando instabilidades dentro do sistema, desbalanceamento com a demanda do mercado de reuso e excesso de estoques. Além disso, enfrentam outros desafios ou apresentam outras “características complicadoras” que dificultam o seu desenvolvimento enquanto processo produtivo e, por isso, as indústrias de recuperação de produtos são cunhadas de “imaturas”.

Desta forma, a fim de minimizar estes efeitos, a LR necessita de desenvolvimento e estruturação nos seus canais, a fim de estabilizar o fluxo dos produtos reverso e os processos de recuperação. Maior eficiência e organização podem trazer benefícios econômicos - com a redução de custos reversos - e ambientais – com a redução do lixo gerado -, provendo um fator diferenciador para as redes de recuperação de produtos.

Referências

ALVAREZ-GIL, M. J.;BERRONE, P.;HUSILLOS, F. J.,LADO, N. Reverse Logistics, Stakeholdres' Influence, Organizational Slack, and Managers' Posture. Journal of Business Research, v.60, n.5, p.463-473. 2007. ATASU, A.; SARVARY, M., VAN WASSENHOVE, L. N. Remanufacturing as a Marketing Strategy. Management Science, v.54, n.10, p.1731-1746, out. 2008.

BALLOU, R. H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. Porto Alegre: Bookman, 2006.

BOUZON, M.;CARDOSO, C. L.;QUEIROZ, A. A.,GONTIJO, L. A. Panorama Prático-Teórico do Ambiente de Recuperação de Produtos: um estudo de caso em uma remanufatura de produtos de telecomunicações. In: Encontro Nacional de Engenharia de Produção, 30, 2010, São Carlos. Anais. São Carlos: ENEGEP, 2010. BOWERSOX, D. J., CLOSS, D. J. Logística Empresarial. São Paulo: Ed. Atlas S.A., 2001.

BRITO, M., DEKKER, R. A Framework for Reverse Logistics. Disponível em: <http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=1273476&>. Acesso em: 10 de abril de 2011.

FLEISCHMANN, M.;KRIKKE, H. R.;DEKKER, R.,FLAPPER, S. D. P. A Characterisation of Logistics Networks for Product Recovery. The International Journal of Management Science, v.28, n.6, p.653-666, dez. 2000.

GONZALEZ-TORRE, P. L.; ADENSO-DIAZ, B., ARTIBA, H. Environmental and Reverse Logistics Policies in European Bottling and Packaging Firms. International Journal of Production Economics, v.88, n.1, p.95-104. 2004.

GUIDE Jr, V. D. R. Production Planning and Control for Remanufacturing: industry practice and research needs. Journal of Operations Management, v.18, n.4, p.467-483. 2000.

IJOMAH, W. L.; BENNETT, J. P., PEARCE, J. Remanufacturing: Evidence of Environmentally Conscious Business Practice in the UK. In: International Symposium On EcoDesign, 1, 1999, Tokyo. Proceedings. Tokyo: Manufacturing, E. C. D. a. I., 1999.

IJOMAH, W. L.;MCMAHON, C. A.;HAMMOND, G. P.,NEWMAN, S. T. Development of Design for Remanufacturing Guidelines to Support Sustainable Manufacturing. Robotics and Computer-Integrated Manufacturing, v.23, n.6, p.712-719, dez. 2007.

(13)

13

KUCNER, R. J. A Socio-Technical Study of Lean Manufacturing Deployment in the Remanufacturing Context. 2008. 290 f. Tese (Doutorado em Industrial and Operations Engineering) - Department of Industrial and Operations Engineering, University of Michigan, Detroit, 2008.

KUMAR, S., PUTNAM, V. Cradle to cradle: reverse logistics strategies and opportunities across three industry sectors. International Journal of Production Economics, v.115, n.2, p.305-315. 2008.

LAGE Jr, M. Proposição de um Jogo Didático para o Ensino-Aprendizagem das Diferenças entre Manufatura e Remanufatura. In: ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, 28, 2008, Rio de Janeiro. Anais. Rio de Janeiro: ENEGEP, 2008.

LEITE, P. R. Logística Reversa. São Paulo: Prentice Hall, 2003.

MÄHL, M., ÖSTLIN, J. Lean Remanufacturing: Material Flows at Volvo Parts Flen. 2007. 41 f. Mestrado em Business Studies (Dissertação) - Department of Business Studies, Uppsala University, Uppsala, 2007.

NOVAES, A. G. Logística e Gerenciamento da Cadeia de Distribuição: estratégia, operação e avaliação. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

ÖSTLIN, J. On Remanufacturing Systems: analysing and managing material flows and remanufacturing processes. 2008. 278 f. Tese (Doutorado em Gestão e Engenharia) - Department of Management and Engineering, Linköpings Universitet, Linköping, 2008.

PARKINSON, H. J., THOMPSON, G. Analysis and Taxonomy of Remanufacturing Industry Practice. Proceedings of the Institution of Mechanical Engineers, Part E: Journal of Process Mechanical Engineering, v.217, n.3, p.243-256. 2003.

PARKINSON, H. J., THOMPSON, G. Systematic Approach to the Planning and Execution of Product Remanufacture. Proceedings of the Institution of Mechanical Engineers, Part E: Journal of Process Mechanical Engineering, v.218, n.1, p.1-13. 2004.

ROGERS, D. S., TIBBEN-LEMBKE, R. S. Going Backwards: reverse logistics trends and practices. Reno: Reverse Logistics Executive Council, 1998.

SRIVASTAVA, S. K. Value Recovery Network Design for Product Returns. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management, v.38, n.4, p.311-331, fev. 2008.

SUBRAMONIAM, R.; HUISINGH, D., CHINNAM, R. B. Remanufacturing for the Automotive Aftermarket-strategic Factors: literature review and future research needs. Journal of Cleaner Production, v.17, n.13, p.1163-1174, set. 2009.

SUNDIN, E. Product and Process Design for Successful Remanufacturing. 2004. 89 f. Dissertação (Mestrado em Sistemas Produtivos) - Department of Mechanical Engineering, Linköpings Universitet, Linköping,, 2004. TIBBEN-LEMBKE, R. S., ROGERS, D. S. Differences between forward and reverse logistics. Supply Chain Management: An International Journal, v.7, n.5, p.271-282. 2002.

Referências

Documentos relacionados

Devido ao crescente número de projetos de pesquisa concedidos a professores da Universidade Federal do ABC, no que tange as áreas de pesquisa em ciências biológicas,

O objetivo geral deste trabalho é avaliar a viabilidade técnica e econômica de um sistema fotovoltaico conectado à rede no Jardim Botânico de Brasília, de modo a buscar as melhores

Na fundamentação teórica deste artigo, são apresentados os conceitos e características da logística reversa e logística reversa de pós-consumo, bem como o importante

§ 6o Os fabricantes e os importadores darão destinação ambientalmente adequada aos produtos e às embalagens reunidos ou devolvidos, sendo o

Quais são os requisitos de uma plataforma multilateral de software para possibilitar o aumento da quantidade de resíduos de equipamentos eletroeletrônicos (REEE) destinados

Portanto, este estudo tem a finalidade de demonstrar a importância de realizar-se o Processo de Logística Reversa das embalagens de defensivos agrícolas na Central de

O presente estudo buscou através do acompanhamento de dezoito atletas da equipe de Futsal do Unisul Esporte Clube (UEC) na pré-temporada de 2008, no período de janeiro até março

Esta pesquisa teve como objetivo principal identificar possibilidades para a solução dos resíduos refratários gerados pelas indústrias siderúrgicas e indicar a possibilidade de