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Uma Visão Interdiciplinar de Comunicação: Semiótica e Negociação

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Academic year: 2021

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Uma Visão Interdiciplinar de Comunicação:

Semiótica e Negociação

*

CLEA BEATRIZ MACAGNAN PRETTO

RESUMO

Para entender a negociação é necessário aprimorar conhecimentos de comunicação, pois, a negociação só é possível através da comunicação. Assim o objetivo deste artigo é aplicar a teoria semiótica desenvolvida por Algirdas Julien Greimas como forma de identificação da estrutura profunda na análise de conteúdo da negociação como arquitetura de situações de conflitos para tomada de decisão do negociador. Para isso, em primeiro lugar, abordar-se-á aspectos da teoria gremasiana para uma posterior aplicação da mesma na teoria de negociação.

1. Introdução

O ser humano não vive só. Tanto para sobreviver como para procriar ele precisa de conviver socialmente. Viver em sociedade significa manter relacionamentos, dividir e lutar por espaços. Vivemos num mundo em que, entre as pessoas, predominam diferenças. Diferenças físicas, econômicas, sociais, de interesses, etc. O sistema capitalista prospera no mundo inteiro incentivando os interesses individuais. Se não bastasse isso, os governos do mundo inteiro vêm estimulando a globalização da economia, com isso, provocando uma competitividade cada dia mais ferrenha. As empresas, por sua vez, para se tornarem competitivas, necessitam de estimular o aumento de produtividade, para que, com isso, consigam alcançar o mercado estimado. Para que atinjam esse objetivo, tomam medidas administrativas fortes que visam a aumentar a produtividade; automatizam suas indústrias;

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Professora da disciplina: Noções básicas de negociação e mestranda do curso de pós-graduação em ciências da comunicação, Mestrado em Semiótica, Universidade do Vale do Rio dos Sinos.

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desenvolvem programas de qualidade, que provocam demissões em massa, buscando racionalizar custos. E as conseqüências dessas ações não são difíceis de imaginar.

Se não bastassem os conflitos gerados pelos interesses e pelas mudanças na economia, tem-se também outras revoluções acontecendo no mundo inteiro. A mulher conquista novos espaços, muda a sua realidade, passa também a ser uma profissional contribuindo para a renda familiar. Tais mudanças vêm provocando novos comportamentos sociais, pois a família, núcleo da sociedade, já não é a mesma. Essa nova realidade instiga guerras, mortes, separações entre casais, situações de perda etc., de que consciente ou inconscientemente se é vítima; conflitos se originam porque os interesses são diferentes. Não se é e nem se pensa de forma homogênea. Além das diferenças, há que se acharem soluções para as situações que, muitas vezes, geram conflitos. Diariamente, deparamo-nos com situações de confronto. Nesses momentos, tem-se um pequeno número de opções como forma de solucionar os conflitos.

Nessa perspectiva, identificamos apenas três formas de solução, a saber: • O uso do Poder Judiciário, quando tivermos condições para isso. • O uso da força: física e/ou de armamentos.

• A negociação.

O primeiro item citado, o Poder Judiciário, é muito utilizado como mediador na busca de soluções para conflitos. Funciona de forma arbitrária, através de uma sentença proclamada pelo juiz. Essa forma pode satisfazer muitas pessoas, grupos ou instituições, porém não atende e não cobre todas as situações conflitantes. Percebemos isso claramente quando observamos as guerras existentes no mundo inteiro. Essa é, aliás, a segunda maneira de se solucionarem os conflitos. É o uso da força, que pode ter a dimensão de uma briga entre amigos ou de uma guerra entre nações. Em tais situações, sempre uma das partes perde, para não se dizer as duas. A terceira forma de solucionar conflitos parece a forma mais indicada, se se partir do pressuposto de que a intenção é a solução de conflitos. A negociação é, sem dúvida, o meio mais democrático para a busca de soluções em casos de divergência. Ela é viabilizada entre, no mínimo, duas partes, que a realizarão através da comunicação, com o uso de diversas linguagens (verbal, gestual, etc.) constituindo um universo semântico bastante amplo.

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A semiótica é uma ciência que tem como proposta o desenvolvimento de estudos sobre o processo de significação do discurso. Assim, este artigo tem como objetivo refletir sobre negociação numa visão semiótica, a partir da teoria greimasiana1.

Este presente trabalho estrutura-se em quatro secções. Na secção dois são tratadas questões ligadas a teoria greimasiana; na secção três, é analisado o conceito de negociação a partir da teoria greimasiana. A secção quatro é uma tentativa de aplicação da teoria greimasiana a uma negociação. Finalmente, chega-se às conclusões.

2- Semiótica greimasiana

Para Greimas, o estudo da semiótica se desenvolve com o objetivo de buscar os sentidos dos textos. Com a influência de Propp, Hjelmslev, Lévi-Strauss e outros, Greimas desenvolveu um método que permite analisar a organização dos discursos, no plano do

conteúdo, a partir do conceito de narratividade2.

Esses estudos levaram Greimas identificar a existência de formas universais de organização da narrativa no texto. Tais formas se repetem nos mais diversos textos e são essas estruturas que sustentam a construção dos sentidos e da significação dos textos. A existência dessa estrutura narrativa manifesta-se em qualquer tipo de discurso. Percebe-se bem isso quando Greimas diz: “(...)todos os contistas do mundo repetem incansavelmente: a qualificação do sujeito, manifestada sob diversas formas (rituais de iniciação, ritos de passagem , concursos e condecorações); a realização do sujeito na vida, considerada como um espaço virtual que o homem é convocado a preencher pelos seus actos, executando alguma coisa e revelando-se a si próprio no mesmo gesto; o reconhecimento, esse olhar do outro que atribui os actos ao seu autor e o constitui em seu ser” 3

É necessário dizer também que o esquema narrativo se desenvolve através de relações paradigmáticas, isto é, elementos que podem substituir-se uns aos outros num mesmo contexto (relações do tipo “ou ... ou “) e sintagmáticas identificada por ser um processo linear, caracterizado como uma rede de relações do tipo “e .... e “. Greimas esclarece esse aspecto, quando diz: “Reconhecer a existência de unidades narrativas de

1

A escola de Greimas define a semiótica como uma teoria da significação.

2

Conforme Greimas (1979, p. 294), “pode-se denominar narratividade uma dada propriedade que caracteriza certo tipo de discurso”. 3

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caráter ora paradigmático, ora sintagmático, constituídas pelas relações que os enunciados narrativos mantêm em si, e interpretar a narrativa como uma estrutura narrativa, isto é, como uma vasta rede relacional subentendida pelo discurso de superfície que só a manifesta parcialmente.” 4

Para Greimas a narratividade se constrói em três níveis de complexidade diversas: estrutura fundamental, estrutura narrativa e estrutura discursiva, que serão abordados a seguir.

2.1- Estrutura Fundamental

A estrutura fundamental caracteriza-se por ser a estrutura mais profunda e abstrata. Greimas identifica os semas5 na base dessa estrutura. E um sema é como é,

pois tem um outro sema como referência, o que possibilita a identificação das diferenças. Para melhor esclarecer esse aspecto, Courtès menciona os tipos de relações existentes entre elas: ”A relação que se encontra estabelecida entre os dois semas é de natureza antonímica, relevando ao mesmo tempo da disjunção e da conjunção6

Os semas têm carácter binário. Eles se ligam por uma relação de oposição. Por tanto, essa relação se dá sempre entre dois semas. Tal relação pode ser representada no quadrado semiótico, e “permite dar conta da ordenação dos universos semânticos no seu

conjunto” 7

4

Id., ibid., p.13 5

Entende-se por sema a unidade mínima da significação. 6

Id., ibid., p.69 7

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Figura: 01

relação entre contraditórios relação entre contrários relação de implicação

A estrutura elementar é concebida de forma lógica numa categoria sêmica binária do tipo branco e preto, e os termos estão em relação de contrariedade, de contraditoriedade e de implicação. Essa estrutura existe em todo discurso e organiza as relações, seja na ordem sintagmática, seja na paradigmática.

As características formais do quadrado semiótico, são esclarecidas por Courtès: “Esta apresentação do modelo constitucional, (...) fez-se ao nível do sistema, isto é numa perspectiva paradigmática. Pode-se então, complementarmente, considerá-lo do ponto de vista do processo, isto é segundo o eixo sintagmático” 8

2.2- Estrutura Narrativa

A estrutura narrativa é a etapa mais superficial do percurso gerativo. Essa organização se dá sobre os sememas9, e é chamada por Greimas de “modelo actancial”. A

8

Id., ibid., p.73 9

Conforme Greimas (1979, p 402) semema “corresponde àquilo que a linguagem ordinária entende por acepção, sentido particular de uma palavra. “ S s1 s2 _ _ s2 s1 _ S

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organização actancial é formada por actantes que, conforme Greimas são: “... seres ou coisas que, a um título qualquer e de um modo qualquer, ainda a título de meros figurantes e de maneira mais passiva possível, participam do processo ” 10

Todo o discurso se desenvolve em cima de objetos, personagens, lugares etc. Os actantes são seres do discurso. O modelo actancial proposto por Greimas está estruturado da seguinte forma:

Figura: 02

Em todos os textos, o esquema narrativo canônico se repete quer explicitamente, quer sob a forma de pressuposição.

Uma das primeiras relações apresentadas é a relação entre o sujeito e o objeto, que é caracterizada pelo desejo do primeiro em relação ou segundo. Essa relação existente entre o sujeito e o objeto é chamada de “junção”, que pode se dar de duas formas, que são identificadas como enunciados11 conjuntivos e enunciados disjuntivos.

O enunciado conjuntivo é a relação entre o sujeito e o objeto, que pode ser diferentemente situado, à medida que o objeto pode ser dotado de diferentes valores, “objetivos” ou “subjetivos “.

10

GREIMAS, A J. e COURTÈS, Joseph. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Cultrix. 1979.p.12

11

Id., Ibid., p. 148: “entende-se por enunciado toda grandeza dotada de sentido, pertencente a cadeia falada ou ao texto escrito, anteriormente a qualquer análise lingüística ou lógica. “

(saber) (saber)

Destinador Objeto Destinatário

(desejo)

(poder) (poder)

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Os enunciados disjuntivos, o objeto, embora dotado de valor, não está em conjunção com o sujeito. Greimas assim esclarece: “ A disjunção só faz virtualizar a relação entre sujeito e objeto, mantendo-a como uma possibilidade de conjunção.” 12

O sujeito e o objeto não são os únicos a fazerem parte da estrutura narrativa. Tem-se também o destinador13 e o destinatário, que formam o segundo par de actantes. Estes estão interligados pelo objeto de desejo. “A confrontação, por sua vez, pode ser quer polêmica, quer transacional, manifestando-se ora por combate, ora por uma troca, permitindo esta distinção reconhecer duas concepções das relações inter-humanas”. 14 Toda a confrontação ocorre porque existe um objeto a ser disputado. A partir do momento que este objeto é desejado pelas partes envolvidas, o mesmo passa a ter um determinado valor, e então passa a ser um objeto de desejo para o sujeito, estando situado entre o destinador e o destinatário. Destinador é aquele actante que faz fazer, diferente do sujeito que tem a ação, que fazer ser. Diferentes relações se estabelecem: entre o destinador e o destinatário, uma relação de implicação; entre o sujeito e o objeto, uma relação de projeção e, entre adjuvante e opositor, uma relação de contradição.

2.3 - Estrutura Discursiva

A estrutura discursiva está identificada ao nível mais superficial. Os três níveis caracterizam um percurso de passagem do mais abstrato ao mais concreto. Pode-se dizer ainda que a estrutura discursiva está no limiar da relação da significação (Expressão e Conteúdo). A estrutura discursiva veste a narrativa, sendo o nível mais próximo da textualização. E nesse nível que ocorrem os processos de figurativização, temporalização,

espacialização, gestualidade, sociabilidade e sexualidade.15

As figuras organizam-se no discurso e se agrupam para dar lugar a configurações discursivas. A construção das figuras se dá por um procedimento de debreagem e embreagem. A debreagem consiste na retirada de todas as marcas de temporalidade, espacialidade; isto é, a embreagem dota esses elementos de marcas de tempo, espaço, etc.

3- Teoria da Negociação

12

GREIMAS, A J. e COURTÈS, Joseph. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Cultrix. 1979. P. 20

13

Id., ibid., p. 114: a expressão destinador e destinatário “designam em sua acepção mais geral, dois actantes da comunicação (chamados também, na teoria da informação, mas numa perspectiva mecanicista e não-dinâmica, emissor e receptor)”

14 Id., ibid., p. 16 15

(8)

A palavra negociação, bastante usada em determinados meios, é bem vista por uns e discriminada por outros. É termo, portanto, interpretado de diferentes maneiras. Enquanto é visto de forma pejorativa por alguns, é utilizada sistematicamente por outros. Negociar significa: “Impulsionar o andamento de. Ajustar. Contratar. Celebrar.

Agenciar. Combinar. Ajustar. Concluir. Ter relações para concluir tratados ou convênios.”

A negociação desenvolve-se desde que o homem existe, porém, há muito pouco tempo vem merecendo estudos específicos. É, na área comercial, que predominam os estudos existentes. A maioria das pessoas aprendem a negociar negociando. São poucas as universidades que transmitem esse conhecimento teórico, até porque há pouco material disponível. Grande parte do material desenvolvido sobre o tema se limita à apresentação de métodos de negociação. Entre os que se preocupam com a questão da conceituação do tema, salienta-se Junqueira, que assim a define: “ Negociação é o processo de buscar aceitação de idéias, propósitos ou interesses visando ao melhor resultado possível, de tal modo que as partes envolvidas terminem a negociação conscientes de que foram ouvidas, tiveram oportunidade de apresentar toda a sua argumentação e que o produto final seja maior que a soma das contribuições individuais.” 16

Ao se analisar essa segunda conceituação, sente-se logo a necessidade de ressaltar a palavra “processo”, que identifica claramente que a negociação se desenvolve não em um momento único, isto é, não como algo estanque, uma vez que se desenrola diferentes momentos. Um momento pode ser precedido ou seguido por outro momento numa linearidade.

Outras palavras que nos chamam atenção são “partes envolvidas” que nos esclarecem muito bem que a negociação se dará entre no mínimo duas ou mais partes. Figura: 03

16

JUNQUEIRA, Luiz Augusto Costacurta. Negociação Tecnologia e comportamento. São Paulo: COP. 1994. p. 12

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Quando Junqueira diz “o produto final ”, está, na verdade, referindo-se a um determinado tipo de resultado. Esse resultado deve atender aos objetivos das partes que serão definidos através de um acordo. O acordo pode ser entendido aqui como o resultado da negociação, gerando, então, um contrato entre as partes. Esse contrato pode ser formal ou informal.

3.1- Tipos de acordo e tipos de processo

Acordo é o resultado do processo de negociação tanto formal como informal. Há diferentes tipos de acordo.

3.1.1 - Acordo Ganha Ganha : Visão cooperativa

Figura: 04

Processo da negociação:

Visão de construção

Esse tipo de negociação caracteriza-se pela realização da fase do planejamento em conjunto entre os sujeito que se encontram implicados na relação. O interesse é convergente, entre as partes envolvidas, para que saiam ambas satisfeitas, enfim para que o acordo seja de ganho mútuo.

Figura: 05

(10)

3.1.2 - Acordo ganha perde : Visão Competitiva

Figura: 06

Esse processo diferencia-se pelo fato de que o planejamento é feito de forma individual. Cada um identifica uma estratégia para, no mínimo, resolver o seu problema, sem se importar se o acordo planejado será bom para o outro ou não. Nesta relação, o interesse é de que o acordo represente um ganho sobre o outro.

Processo de Negociação:

Visão competitiva

Figura: 07

S1

Planejamento tratativas fechamento Manutenção (com ou sem acordo)

S2

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3.2- Relação Sintagmática da Negociação

Conforme já foi acima mencionado, a negociação dá-se através de um processo e não num único momento. A negociação é constituída por quatro momentos, assim apresentados: planejamento, tratativas, fechamento e manutenção.

Ao identificarmos essas quatro fases, fica clara a existência de uma relação sintagmática: cada fase é precedida ou seguida de outras. Cabe também mencionar que cada etapa é composta de vários momentos que se encadearão linearmente. O planejamento é feito item após item. A etapa das relações, chamadas de tratativas, ocorrerá com a participação das duas partes envolvidas na negociação. Portanto, após a apresentação dos argumentos, contestações e/ou questionamentos feitos por uma das partes, por conseqüência ou necessidade, haverá a participação da outra e, assim, sucessivamente. Além disso, a negociação poderá ser finalizada em um ou mais encontros, que se sucedem uns aos outros.

Em toda a negociação, ocorrem argumentações que se darão numa ordem de linearidade, um argumento seguido de outro. Uma proposta seguida de uma contraproposta. Se isso não bastasse, para identificar a relação sintagmática, lembra-se ainda, que, na negociação, mesmo quando uma pessoa não fala, isto é, fica calada ou não responde, o silêncio é precedido ou será seguido por um tipo de manifestação.

S1

Planejamento 1

tratativas (S1 e S2) Fechamento Manutenção

(com ou sem acordo)

Planejamento 2

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3.3- Alguns aspectos das relações paradigmáticas na negociação

As negociações, se dão de diversas maneiras. Ao observá-las, percebe-se que possuem características que as diferem entre si. Podemos citar alguns tipos bem distintos de negociações, tais como: políticas, diplomáticas, comerciais, trabalhistas, sociais etc. Os itens em pauta são esses e não aqueles. A tudo que é dito, corresponde o que poderia ter sido ou apresentado diferentemente num mesmo momento. Essa relação verticalizada é identificada como paradigmática.

Os tipos de planejamentos podem ser realizados de diversas maneiras, porque existem diferentes formas de planejar. Isso leva também a lembrar que a forma de relação muda de pessoa para pessoa, de instituição para instituição ou ainda, de grupo para grupo. Culturas, ideologias e situações diferentes levam a diferentes caminhos. Conseqüentemente, as relações se dão de maneiras diferentes.

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3.4- Estrutura Profunda na negociação

Figura: 08 Quadrado Semiótica da negociação

A negociação é uma das formas ou meios de se buscar em soluções para conflitos. Essa situação está representada no quadrado semiótico. Quando há “não relação” ocorre uma situação de não complementaridade e não competitividade. A presença de complementaridade ou ainda de competitividade identifica a presença de “relação”, que pode ocorrer de forma complementar e não competitiva, de implicação, isto é caracterizada pela construção ou parceria. Pode ainda haver uma relação de implicação

relação (negociação)

complementaridade competitividade

Construção Jogo

não competitividade não complementaridade

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entre ação de não-complementaridade, mas de competitividade, que estabelece a negociação baseada no “jogo”.

A relação entre contraditórios, isto é, na de complementaridade e competitividade identifica-se com os tipos de acordo apresentados anteriormente. Como acordo “ganha ganha” há uma visão cooperativa, na qual se estabelece uma relação de colaboração, propiciando uma construção conjunta em que as duas partes terminem a negociação ganhando. De outra forma, identificamos no eixo dos contrários uma relação competitiva e de não complementaridade que sustenta negociações visando um acordo “ganha perde”. Nessa relação, baseada no jogo, sempre haverá ganhadores e perdedores, e, em situações muito otimista, empate.

3.5- Estrutura Narrativa

A negociação pode ser analisada como uma narrativa, isto é, como constituída de uma estrutura actancial. Os negociadores são sujeitos que dotam de valor um mesmo objeto de desejo ou objeto em relação de implicação. O objeto de desejo se encontra entre os dois sujeitos: ou é o mesmo para ambos, ou é duplo, estando um em relação de imbricação com o outro. O destinador pode, muitas vezes, ser o próprio negociador, o próprio sujeito da ação, ou um delegado seu; ele alterna o papel de sujeito da ação com o de destinador - manipulador em relação a um destinatário, que é o outro sujeito negociador e com o de destinatário quando os papéis se invertem.

Os papéis actanciais são recobertos pelos temáticos. Como o tema é a negociação identificamos dessa forma:

Negociadores = Sujeito: 1 e Sujeito: 2

S1 = negociador S2 = negociador Objeto de valor = negócio (contrato) Destinador: negociador Destinatário: negociador

Figura: 09 Relação de conjunção

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Nesta figura, identifica-se uma relação, entre os sujeitos negociadores, de conjunção, ambos estão interessados na solução do conflito pela negociação. Neste caso, o interesse comum é o elemento que define a relação de conjunção.

Figura: 10 Relação de disjunção

Na figura número 10 a relação é de disjunção, entre os sujeitos negociadores. Os sujeitos estão ligados pelo conflito, elemento que define a disjunção e caracteriza uma relação de conjunção virtual.

3.6- Estrutura Discursiva

Na estrutura discursiva, identificam-se particularidades de cada negociação. Ela é investida, figurativizada. É nesse nível que se percebem as diferenças de uma negociação para outra. Essa diferenciação de uma negociação para outra se dá tanto através do e no

tempo de cada relação como também pela tematização. Como exemplo, podem-se citar as

negociações diplomáticas, que ocorrem entre governos de diferentes países; as políticas, que ocorrem entre diferentes partidos políticos; as comercias, que se dão entre relações institucionais de interesses comerciais. Há ainda as negociações administrativas, cujo o tema são conflitos entre departamentos. Não se pode deixar de chamar atenção ainda às relações trabalhistas, que originam negociações em que o tema são os conflitos oriundos das relações capital/trabalho. As negociações mais comuns são as sociais, cujo tema se atualiza a todo momento uma vez que o homem necessita viver em sociedade, isso é, de dividir espaços com diferentes interesses e pessoas.

Este é o momento da actorialização ou da individualização. Nas relações de negociação, isso ocorre sistematicamente. Toda a relação de negociação é diferente: nenhuma negociação se repete na estrutura discursiva. Sempre haverá detalhes diferenciadores que vão caracterizar determinada negociação.

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4 - Aplicação da teoria Greimasiana a uma negociação

Nesta secção, a proposta é realizar uma análise semiótica de negociação em texto extraído do filme “Uma linda mulher”. A análise se dará sobre gravação feita em língua inglesa e legendada em língua portuguesa.

Ao se delimitar o corpus de análise semiótica, ressalta-se ser esse recorte necessário, pois o texto fílmico, por sua natureza, possui um plano de conteúdo, porém recorre a várias substâncias de expressão, tais como: a linguagem gestual, a fala, a imagem em movimento, a escrita das legendas, etc. O objeto de estudo será apenas a fala legendada. A análise semiótica compreenderá a identificação da estrutura profunda, narrativa e discursiva do corpus.

Figura: 11 Relação de negociação

4.1- Estrutura Profunda na negociação: Edward e Vivian

Figura: 12 Quadrado Semiótica da negociação

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Na estrutura profunda dessa negociação, identifica-se a relação entre contrários correspondente ao jogo, que se estabelece entre os eixos ganhar ou perder desdobrado em: ganhar e não ganhar, perder e não perder. A relação de implicação entre ganhar e não perder significa vitória, enquanto que a relação de implicação perder e não ganhar, significa uma derrota.

4.2 - Estrutura Narrativa

Figura: 15 Relação de disjunção

O S1 (Vivian) e S2 (Edward) são dois sujeitos em relação na medida em que o S2 manifesta o seu querer “sabe como chego a Beverly Hills? “, seu objeto de desejo Jogo

Ganhar Perder

Vitória Derrota

Não perder Não ganhar

Não participar

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(informação: como chegar a Beverly Hills), e S1 é possuidor da informação, comprovada pela sua resposta “claro”. A relação de disjunção se estabelece pela manifestação de S1, que condiciona a concessão da informação pelo seu objeto de desejo (dinheiro), quando diz: “por U$ 5” .

Figura: 14 Relação de conjunção

A relação de conjunção se estabelece pela manipulação do sujeito destinador 1 que, ao dizer, “faço o que quero, não estou perdida”, identifica sua competência e intimida o S2 com sua condição de poder não fazer. Diante da lembrança da situação em que o S2 se encontra, S1 (como destinador) atualiza e manipula S2. É pela manifestação de S2 que identifica-se a relação de conjunção, “Tudo bem. Você venceu, eu perdi.” Também é por esta manifestação que identifica-se que o tipo de acordo estabelecido é de visão competitiva onde um ganha e outro perde.

Conclusão

A identificação da estrutura fundamental da negociação cria condições para visualizar, com clareza, as possibilidades existentes para solucionar um conflito. A partir do momento que há um conflito, tem-se que decidir se se vai solucioná-lo ou não. Entendendo que há interesse em solucionar o conflito, a decisão passa a ser a de identificar qual o melhor encaminhamento de negociação. A relação poderá ter dois caminhos: competitividade ou construção. A relação de construção permitirá uma negociação baseada na parceria, cujo tipo de acordo trará ganho às duas partes envolvidas na negociação. Por outro lado, pode-se decidir pela relação competitiva. Este tipo de relação identifica-se com as características do jogo: uma das partes envolvidas na negociação ganha e a outra perde.

Além dos aspectos mencionados no parágrafo anterior, considera-se importante dizer que o estudo das relações sintagmática e paradigmática da negociação permitem situar, muito bem, os processos e os tipos de acordos possíveis. A estrutura narrativa está

(19)

presente em todas as negociações. Dá condições aos negociadores de verem com mais clareza o desdobramentos de papéis de cada um, e permite identificar as pessoas que, indiretamente, estão relacionadas ao conflito, organizando melhor a ação a ser desencadeada.

É necessário dizer que esse tema merece um estudo mais aprofundado. Mas tudo leva a crer que a semiótica possa fazer avançar o entendimento sobre a teoria da negociação.

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URY, William L. Supere o Não negociando com pessoas difíceis. São Paulo: Best Seller. 1991. 151 p.

Anexos “Corpus”

Negociação número 1

Vívian: Procurando companhia?

Edward: Não. Sabe como chego a Beverly Hills? Vívian: Claro. Por US$ 5.

Edward: Isso é ridículo. Vívian: Agora é US$ 10.

Edward: Não pode cobrar por informação. Vívian: Faço o que quero não estou perdida. Edward: Tudo bem. Você venceu, eu perdi. Tem troco para US$ 20?

Referências

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