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Projeto Vivendo Valores na Carlos Jereissati

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Academic year: 2021

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Projeto “Vivendo Valores na Carlos Jereissati”

Escola Municipal de Educação Infantil e Fundamental Senador Carlos Jereissati Maracanaú – Ceará

Patrícia Bataglia e Maria Suzana S. Menin- UNESP Relatores da escola: Márcio Roque Cordeiro; Maria Gomes Filgueira; Ana Paula Pinheiro Campos de Oliveira

O CONTEXTO

A EMEIEF Senador Carlos Jereissati situa-se no município de Maracanaú, no estado do Ceará. Este município fica a 20 km de Fortaleza e, segundo informações de sua prefeitura, é o quarto município mais populoso do estado, com cerca 200.000 mil habitantes. Maracanaú é, também, o maior centro industrial do estado. O nome Maracanaú faz referência às aves maracanãs que vinham beber água na lagoa da região.

A escola Senador Carlos Jereissati é uma das 119 escolas do Município e foi fundada em 1994. Conta atualmente com 993 alunos e 38 professores. Seu diretor atual é o senhor Hilton Paulo dos Santos Filho e há dois vice-diretores, a professora Maria Gomes Filgueira e o professor Francisco José de Oliveira Barbosa além de uma secretária, Sônia Maria da Costa Peixoto.

O projeto “Vivendo Valores na Carlos Jereissati” iniciou-se em 2007 e foi idealizado por Marcio Roque, na época o supervisor da escola e por Maria Gomes Figueira, vice-diretora.

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POR QUE E COMO O PROJETO COMEÇOU?

O projeto foi motivado por problemas de indisciplina na escola. Maria Gomes, vice-diretora da escola, aponta que era preciso melhorar o convívio entre os alunos, fazê-los refletir sobre valores tais como respeito, honestidade, valorizar a vida. A comunidade em volta da escola também provocou a experiência, uma vez que há problema de violência na redondeza, como furtos frequentes. Aconteceram furtos também dentro da escola. Notamos certa depredação dos muros da escola como pichações.

Segundo os idealizadores do projeto

nossa escola parecia ter se transformado em um lugar comum, que reproduzia a cultura do medo, da violência, do desrespeito e da falta de solidariedade. De fato, isso é o reflexo da sociedade na qual vivemos, onde a violência, seja ela na sua forma física, moral ou psicológica, está presente nas ruas, nos lares, na mídia, nas formas das pessoas se entreterem e na escola. Enfim, no que quer que olhemos, escutemos e observemos não será raro percebermos sentimentos, palavras e cenas que expressam o desrespeito, a agressividade, a competitividade, a intolerância, atitudes que contribuem para a degradação moral e social do ser humano, o que nos distancia da sociedade de convivência igualitária, pacífica e justa que todos nós desejamos. Este apelo pelos valores não ecoava somente como um desejo da comunidade escolar, a

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escola simplesmente trouxe para suas discussões internas o clamor da sociedade na qual ela está inserida”. (Oliveira, Cordeiro e Filgueira, 2010).

Além dessas queixas sobre indisciplina e violência, Maria Gomes e Marcio Roque, o supervisor da escola e idealizador do projeto, haviam participado de um congresso organizado pelo IVV – Instituto Vivendo Valores, em Parnamirim – RN, oferecido na Secretaria de Educação, onde fizeram o curso VIVE – Vivendo Valores na Educação. Neste curso discute-se como trabalhar doze valores na escola: Compromisso, Responsabilidade, Justiça, União, Amizade, Solidariedade, Paz, Tolerância, Harmonia, Amor, Respeito e Alegria.

Essa preparação em curso, somada a momentos de reflexão sobre o tema na UNIFOR (Universidade de Fortaleza), inspiraram os conteúdos e métodos de um trabalho sobre valores na escola.

Assim, os gestores da escola decidiram, na Semana Pedagógica, trabalhar os doze valores do programa VIVE ao longo do ano letivo 2007. Marcio Roque relata, também, que suas crenças religiosas motivaram essa iniciativa; mas, como a escola é laica, acredita que é possível trabalhar valores de forma não ligada à religiosidade, pois, como diz, “todos precisam viver na solidariedade, na bondade, na paz, mesmo que não tenham religião”.

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O supervisor da escola, Marcio Roque, acredita que valores, tais como paz, respeito, solidariedade, respeito ao meio ambiente, devem ser trabalhados por todos os professores dentro das próprias disciplinas e de programas normais de ensino nas salas de aula. Um professor de língua portuguesa, por exemplo, pode trabalhar a construção de músicas, versos, redações; um professor ao dar matemática, pode mostrar as estatísticas sobre depredação ambiental ou pode trabalhar os índices da violência em gráficos; ao dar aulas de história, podem ser discutidas histórias de solidariedade ou sobre as violências que nos cercam.

Essas idéias se transformaram numa proposta que foi discutida com os agentes gestores e o corpo docente e, então, incluída no Plano Pedagógico da escola.

Desde 2007, a escola realiza essa forma de ensino de valores através das atividades de todos os professores e em todas as classes do ensino fundamental. Na Semana Pedagógica, decidiu-se que cada classe recebe um nome e a cada mês um valor seria trabalhado (Compromisso, Responsabilidade, Justiça, União, Amizade, Solidariedade, Paz, Tolerância, Harmonia, Amor, Respeito e Alegria). Nas classes de primeira à quarta série do ensino fundamental, há plaquinhas com o nome do valor a ser trabalhado durante o ano. Os coordenadores do projeto apontam que

estes valores representam um chamado do nosso tempo histórico, no sentido de superarmos questões que nos inquietam e promovem conflitos de toda natureza, e que as políticas oficiais, de instituições não-governamentais, as iniciativas individuais de educadores, nem sempre têm dado respostas efetivas. (Oliveira, Cordeiro e Filgueira, 2010)

Os professores são preparados para trabalhar os valores na reunião de planejamento.

Em 2008, a Secretaria da Educação lançou um projeto sobre os pacifistas e isso também foi integrado ao projeto.

No período de Mostra Cultural, no mês de novembro, a escola apresenta para a comunidade vários trabalhos realizados ao longo do ano. Nesse momento, há a culminância do projeto “Vivendo valores no CJ”. Os professores e alunos mostram as produções resultantes do trabalho com valores, como músicas com letras escritas pelos próprios alunos, cartazes com dizeres sobre valores, maquetes sobre a cidade e a proteção do meio ambiente; há também, pequenas representações teatrais. Todos os professores participam; há os que coordenam e os que cooperam.

Maria Gomes conta que no início do projeto havia premiações dos melhores trabalhos dentro de cada classe; mas, isso gerou um clima de competição entre os professores, de modo que as premiações deixaram de ser usadas.

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A escola tem um blog (http://escolacarlosjereissati.nafoto.net/) onde podem ser vistas fotos da amostra de produtos com esse trabalho com valores. Há registro com fotos das atividades realizadas. Há também um jornalzinho da escola, que pode se acessado no blog da escola, e onde alunas e alunos escrevem redações sobre valores diversos.

PRINCIPAIS RESULTADOS E FORMAS DE AVALIAÇÕES

Após a semana de Amostra Cultural, a equipe gestora se reúne com os professores e todos discutem suas opiniões sobre o andamento e resultados do projeto, assim como decidem sobre os valores que serão mais focados no próximo ano.

Segundo os gestores da escola, o maior resultado do projeto é a reflexão sobre valores que professores e alunos passam a fazer de forma mais frequente. Maria Gomes e Marcio Roque afirmam que houve um crescimento nas atividades dos alunos em relação aos outros e ao ambiente. O mesmo aconteceu entre os professores e toda a escola. A partir do momento em que começaram a trabalhar valores todos sentiram necessidade de uma reflexão sobre como trabalhar, na prática, o valor escolhido.

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Marcio Roque afirma:

Se vamos trabalhar o tema humildade com os alunos, deveríamos primeiro discutir entre nós: como levar isso para sala? ... Os alunos por sua vez, quando trabalhavam isso em classe, acabavam levando para casa e conversando com suas famílias.

Ou ainda:

Quando trabalhamos valores, vamos contra algumas práticas sociais comuns. Por exemplo, quando trabalhamos paz, como interpretar a violência que há lá fora? Sempre que há uma ocorrência de briga, por exemplo, entre alunos, recuperamos o tema e questionamos: “o que estamos trabalhando como valor?”. Nossa ideia é a de que parta daqui uma influência positiva para fora da escola, para toda sociedade. Falar de valores é importante até para que os alunos tenham oportunidade de falar sobre suas dificuldades familiares.

Ainda segundo os gestores da escola, o que colaborou muito para o sucesso do projeto foi a cooperação de alguns professores que funcionaram como “linha de frente”. Houve uma professora que sendo da comunidade fez de sua casa palco de ensaios e de trabalhos do projeto.

LIMITES E DIFICULDADES

Maria Gomes e Marcio Roque, ao falarem do projeto apontam algumas dificuldades ligadas à participação do corpo docente. Nem todos participam com o mesmo ânimo, ou com uma metodologia dinâmica, como o projeto necessita. Há professores que se destacam pela dedicação com que se entregam ao trabalho; são os mais antigos da escola.

Os gestores apontam também que “o trabalho com os valores no ano de 2007, ajudou muito no redimensionamento do convívio no âmbito de nossa escola, no entanto, ressaltamos que a prática do trabalho com os valores não foi o suficiente para erradicar os problemas advindos da sua ausência e/ou negação nas famílias que compõem a comunidade escolar” (Oliveira, Cordeiro e Filgueira, 2010).

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Notamos, num contato com algumas classes, que a transmissão de valores se dá de modo ainda muito verbal e heterônomo, ou seja, os alunos sabem dar exemplos de algum valor, por exemplo, “respeito é não xingar o colega”; mas a obediência ao cumprimento do valor é condicionada ao uso de pontos negativos dados pela professora e não a partir de uma decisão autônoma dos alunos. Observamos em uma das salas que os alunos não se lembravam da plaquinha que havia na porta e precisaram ir até lá para ver qual o valor de sua sala, o que sugere a necessidade de envolver mais o grupo de alunos na realização do trabalho.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE PROJETO

O projeto “Vivendo Valores na Carlos Jereissati” nos pareceu muito interessante por vários motivos. Ele tem como foco o conhecimento e a reflexão sobre valores morais, como respeito ao outro, respeito ao meio ambiente, solidariedade, paz e não-violência, e outros, por todos os alunos da escola e por meio de iniciativas diversas de seus professores.

O projeto envolve toda a escola, está inscrito no Projeto Pedagógico e se ocorre como parte de um planejamento que se repete a todo ano. Provoca discussões, reflexões e avaliações sobre como trabalhar valores entre o corpo docente e sobre os resultados que isso pode produzir. A exposição de trabalhos das classes numa culminância na Amostra cultural parece provocar muito ânimo e alegria nos alunos e reconhecimento pelo trabalho feito, por eles e seus professores. O evento, realizado num grande pátio da escola, com fotos, música, representações, notícias no jornal da escola, exposição no blog, produz uma forte valorização das diversas iniciativas e produtos. Por tudo isso, o projeto pode inspirar sua replicação por outras escolas públicas.

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No que o projeto poderia melhorar? Acreditamos que os meios para se trabalhar os valores precisam ser planejados de forma a alcançar, não só um conhecimento sobre os significados dos valores e a sua verbalização mais freqüente pelas professoras e alunos, mas a vivência dos mesmos, através de práticas cotidianas na escola e para além de seus muros. Falar sobre o respeito, a justiça, a solidariedade, é diferente de ser respeitoso, justo, solidário, como já nos mostrava Piaget (1968, 1977) e outros autores brasileiros na atualidade (ARAÚJO, 2000; ARAÚJO, PUIG, ARANTES, 2007 TOGNETTA, VINHA 2007). A verbalização, mesmo que útil para provocar maior conhecimento e reflexão, não é suficiente para a incorporação de valores pelos alunos e a tomada de decisões autônomas sobre os mesmos.

Assim, seria interessante que a escola incrementasse seu projeto “Vivendo Valores na Carlos Jereissati” colocando mais ênfase nas vivências dos valores tanto por professores, como por seus alunos em situações cotidianas escolares e mesmo fora da escola, na comunidade (ARAÙJO, 2001).

Os valores podem ser pensados como critérios tanto para dar direções às formas de atuação dos agentes escolares nas relações pedagógicas e sociais dentro da escola, como nas escolhas das pessoas sobre a vida que escolhem viver, ou seja, o que dá sentido à vida (LA TAILLE, 2009). No primeiro sentido, valores podem ser pensados e vividos em situações que podem envolver desde uma gestão mais democrática da escola, como as formas em que se estabelecem as regras, ou se resolvem conflitos, ou ainda as formas de avaliação e de sanções (MENIN, 1996, 2007; VINHA, 2000; TOGNETTA, VINHA, 2007). Trabalhar com valores pode também envolver atuações planejadas que busquem sua aplicação ou o exercício; por exemplo: realizar com e por meio dos alunos ações solidárias para com outros, dentro e fora da escola, de forma a ensinar a solidariedade. ( BRASIL, 1998; SERRANO, 2002)

Na segunda forma de pensar valores, como construtores de sentidos na vida (LA TAILLE, 2009) cabe aos agentes escolares não apenas discutir questões mais cotidianas e momentâneas sobre como ser e relacionar-se na escola, mas levar essa discussão para questões maiores sobre que vida os alunos querem viver e, nesse sentido, o que planejam para seus futuros, para além da vida escolar.

Acreditamos que a escola EMEIEF SENADOR CARLOS JEREISSATI dando continuidade ao seu projeto “Vivendo Valores na Carlos Jereissati” e considerando essas outras formas de se pensar a Educação em Valores poderá ampliar seu projeto alcançando a vivência real e cotidiana dos valores morais e sua incorporação autônoma pelos alunos.

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REFERÊNCIAS

ARAÚJO, U.; AQUINO, J.G. OS Direitos Humanos na sala se aula. A Ética Como Tema Transversal. São Paulo: Moderna Editora, 2001.

ARAÚJO, U.F. Escola, democracia e a construção de personalidades morais. Educação

e Pesquisa, São Paulo, v.26, n.2, p. 91-107, jul./dez. 2000.

ARAÚJO, U.F.; PUIG, J. ARANTES, V. (org.) Educação e valores. São Paulo: Sumus, 2007.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais; terceiro e quarto ciclo: apresentação dos temas transversais. Brasília: MEC/SEF,1998. LA TAILLE, Y. Formação ética: do tédio ao respeito de si. Porto Alegre: Artmed, 2009.

MENIN, M. S. S. Desenvolvimento Moral. In: MACEDO, L. (org.); et al. Cinco

estudos de educação moral. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996.

MENIN, M.S.S. Escola e Educação Moral. In: MONTOYA, A. D. (org.) Contribuições

da Psicologia para a Educação. Campinas, SP. Mercado das Letras, 2007. 45-63.

OLIVEIRA, A. P. P. C. CORDEIRO, M. R.; FILGUEIRA, M. G. Vivendo Valores na Escola. Para uma Cultura de PAZ na Escola Municipal Carlos Jereissati (Maracanaú-Ce). In: CONGRESSO internacional – PBL 2010 Aprendizagem baseada em problemas e metodologias ativas de aprendizagem, 1. 2010. ANAIS... São Paulo: USP, 2010.

PIAGET, J. (1930). Os procedimentos de Educação Moral. In: MACEDO, L. (Org.)

Cinco estudos de educação moral. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996. p.1 – 36.

PIAGET, J. (1932). O Julgamento moral na criança. São Paulo: Mestre Jou, 1977. PIAGET,J. Observaciones psicológicas sobre la autonomia escolar. In: PIAGET, J.; HELLER, H. La autonomia en la escuela. Buenos Aires: Losada, 1968.

SERRANO, G.P. Educação em Valores. Como educar para a democracia. Porto Alegre: Artmed editora S. A., 2002.

TOGNETTA, L. R. P. Virtudes e educação: o desafio da modernidade. Campinas: Mercado de Letras, 2007.

TOGNETTA, L. R. P.; VINHA, T. P. Quando a escola é democrática: um olhar sobre

a prática das regras e assembléias na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2007.

VINHA, T. P. O Educador e a moralidade infantil numa visão construtivista.

Campinas: Mercado de Letras, 2000.

http://2.bp.blogspot.com/_MFhp_6haCNc/SqlAWTaBhwI/AAAAAAAAAEg/CLpIo1S xad0/s1600-h/1.bmp. Consultado em 12 de junho de 2010.

http://escolacarlosjereissati.nafoto.net/. Consultado em 12 de junho de 2010. http://www.maracanau.ce.gov.br. Consultado em 12 de junho de 2010.

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