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ETNOGRAFIA DE UMA COMUNIDADE AUTODENOMINADA QUILOMBOLA - NO MUNICÍPIO DE GUAÍRA/PR

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Academic year: 2021

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ETNOGRAFIA DE UMA COMUNIDADE AUTODENOMINADA QUILOMBOLA - NO MUNICÍPIO DE GUAÍRA/PR

Ana Cristina Bochnia Cabral (EXTENSÃO-UNIOESTE) Andréia Cristina Hackbarth (EXTENSÃO-UNIOESTE),

Franciele Cristina Neves (EXTENSÃO-UNIOESTE), Gislene Costa Souza (EXTENSÃO-UNIOESTE), Roberto Biscoli (Co-Orientador) biscoli@uol.com.br, Antônio Pimentel Pontes Filho (Orientador) appontesfilho@yahoo.com.br Universidade Estadual do Oeste do Paraná/Centro de Ciências Humanas e Sociais/Colegiado de Ciências Sociais – campus de Toledo

Introdução:

A comunidade tradicional “Manoel Ciríaco dos Santos” localiza-se na zona rural do município de Guaíra no Paraná. Essa população tradicional negra, hoje busca sua identidade enquanto grupo social distinto. O Decreto 4.887, de 20 de novembro de 2003, em seu artigo 2º, considera os remanescentes das comunidades dos quilombos, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra/africana, relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida.

Conforme pudemos constatar estes são os membros da Associação Negra Manoel Ciriaco dos Santos, descritos em ata:

Segundo Capitulo VI, Art. 41º do Estatuto da Associação Comunidade Negra Manoel Ciriaco dos Santos - ACONEMA: “São considerados associados a esta comunidade: José

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Maria Gonçalves e família; Joaquim dos Santos e família; Geralda dos Santos e família; Adir Rodrigues dos Santos e família; João Aparecido dos Santos e família e os agregados à família: Luzia de Oliveira e Guilherme Fortunato da Silva e os descendentes de Antônio Gregório dos Santos (falecido): Daiane dos Santos, Fernanda Amâncio dos Santos e Rosana dos Santos.”

A execução bem sucedida deste projeto se faz importante, quando reconhecemos que no Brasil, a história do negro tem sido caracterizada pela exploração, discriminação, pela exclusão social. Desta forma pode ser revelador das relações desequilibradas mantidas entre os diferentes atores que naquela região se encontram. O objetivo do relatório antropológico é compreender sua auto-identificação como comunidade quilombola e como esta identidade é percebida e vivida pelas demais pessoas do seu entorno e de fora dele.

Metodologia:

Como primeiro momento, a constituição da equipe de trabalho contou com o reconhecimento de estudos, pesquisas, investigações e planejamentos existentes. A partir do segundo momento, várias atividades foram executadas concomitantemente: as teóricas - aprofundamento bibliográfico a respeito da comunidade em pauta e do município onde se encontra; levantamento de bibliografia especifica de Antropologia. E as práticas - atividades em campo, ou melhor, observação participante. O trabalho de campo da equipe foi registrado em diários de campo individuais, cadernetas de campo, gravações e também com fotografias.

Resultados:

A Associação Comunidade Negra Manoel Ciriaco dos Santos localiza-se na cidade de Guaíra – PR, gleba nº 4-A, colônia “C”, Serra Maracajú, localizada à 12 km de Guaíra. Sendo

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ela composta pelos lotes rurais número 186 (com 9,2390 alqueires paulistas) e 186-A (com 0,9925 alqueires paulistas), a soma dos dois lotes rurais totaliza 10,2315 alqueires paulistas, ou seja, 247.602,30 metros quadrados.

A Associação é formada por pessoas relacionadas por parentesco direto e/ou cruzado, isto é, são irmãos, tios(as), sobrinhos(as), primos(as) de primeiro, segundo ou mais graus.

Conforme o que levantamos, o nome “Manoel Ciriaco dos Santos” é homenagem ao patriarca da família. Seu Manoel nasceu em 16 de março de 1920 e faleceu em 1989.

A Comunidade nos contou que “o pai”, seu Manoel, teria migrado com sua família de Santo Antonio do Itambé do Cerro/MG para a cidade de Caiabú/SP no ano de 1957.

Na narrativa de chegada ao Paraná e, em particular, à Guaíra, no Maracajú dos Gaúchos, contam que em outubro de 1962, seu Manoel Ciriaco viaja de Caiabú/SP para a cidade de Guaíra/PR com o seu primo Geraldo Domingues dos Santos e adquire da Sociedade Agro-pecuária Industrial e Comercial Maracajú Ltda, uma área de 10,2315 alqueires paulistas. Como nos foi descrito por alguns membros da Comunidade, a família deles seria muito pobre, não teria condições de comprar roupas, quando crianças usariam sacos amarados com cordas, não tinham calçados e por isso andavam descalços. Por vergonha e por medo dos outros moradores da Vila de Maracajú dos Gaúchos quando alguém se aproximava, eles se escondiam no mato.

Além do trabalho assalariado, também cultivavam arroz irrigado as margens do rio Birigui, plantavam ainda mandioca, feijão, em pequenas hortas no espaço cedido pela colonizadora. Ao mesmo tempo iam desmatando sua terra, preparando-a para o plantio e construção de casa. Casa esta construída pela própria família.

Utilizaram lascas de coqueiro, pau bruto e taquaras, cobriam as casas com caibros, ripas e tábuas de coqueiro, eventualmente tábuas de cedro. Essa madeira era extraída da mata da propriedade e beneficiada pela própria família, utilizavam para isso serrotes traçadores, machado, facão, o chão era de barro batido. As atuais casas de madeira foram construídas após o ano de 1974, e ainda existem cinco casas neste lote.

Manoel Ciriaco dos Santos casou-se duas vezes. O primeiro casamento foi com Maria Olinda (falecida) com quem teve três filhos: Olegário da Silva, Jovelina Ciriaco dos Santos e João Doriano dos Santos.

Apesar de somente residirem hoje cinco famílias na terras, nos foi possível ao longo do trabalho de campo identificar outras quatro famílias como pertencentes à Associação, mas que residem em outros locais.

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Os membros da Associação Comunidade Manoel Ciriaco dos Santos, bem como seus vizinhos do Maracajú dos Gaúchos, vêm sofrendo transformações na sua forma vida. A começar que se antes eles se identificavam prioritariamente como membros de uma mesma família, e/ou como uma comunidade rural de agricultura familiar, agora o fazem por meio da noção de auto-identificação de pertencentes à uma comunidade quilombola. Esta nova identidade, que vem sendo construída aos poucos, pôde ser datada por nós, tendo em vista relatos internos da Comunidade e externos a ela, com de mais ou menos três anos. Ainda estão em processo de passarem a pensar sua realidade e identidade com base neste outro padrão identitário.

É nesse momento que entra o trabalho do INCRA, que contatou a Universidade para a realização do Relatório Antropológico, que tem como objetivo baseado na cientificidade e ética da Antropologia, fazer um laudo esclarecedor, através de uma etnografia que descreva todas as relações e práticas referentes a essas pessoas.

Neste sentido, por meio de conversas e observações realizadas na Associação e em seu entorno, conseguimos coletar dados para entender o funcionamento e as relações dentro dela, ou seja, entender o “nós” bem como as relações fora dela com os “outros”.

As falas dos agora auto denominados “remanescentes de quilombos” ou “quilombolas” trazem o preconceito que sofreram/ sofrem dos outros grupos étnicos que vivem no seu entorno, principalmente dos chamados “gaúchos”, “italianos” e “alemães”. Os auto denominados quilombolas relatam que sempre sofreram discriminações, citam como exemplos apelidos como “lustrinho”, ou frases do tipo: “Lá vem a nuvem preta, vai chover!” – se referindo a quando eles iam na igreja do Maracajú dos Gaúchos. Ou ainda “Tem muito macaco perto do rio”.

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Conclusão:

Até o presente momento o que temos são dados parciais, dado nosso estudo apenas terminar no próximo mês de dezembro.

Por meio de conversas e observações realizadas junto dos membros da Associação e das pessoas em seu entorno, conseguimos coletar dados para entender o funcionamento e de suas relações; do “nós” com os “outros”.

As falas dos agora auto identificados “quilombolas” apontam para o preconceito que sofreram e/ou sofrem dos outros grupos étnicos que vivem no seu entorno, principalmente daqueles que eles chamam de “gaúchos”, “italianos” e “alemães”. Relatam que sempre sofreram discriminações. Mas em suas falas há também elementos de identificação negativa, bem como de preconceito para com aqueles “outros”.

Constatamos que há quem diga que a Associação e/ou “comunidade quilombola”, nunca teve um contato freqüente com os moradores do Maracajú dos Gaúchos devido à timidez e pobreza de seus membros. Notamos a possível existência de um auto-isolamento e que este isolamento tem aumentado depois do processo iniciado pela sua auto-identificação como “quilombolas”.

Constatamos que esta Associação tem como principal atividade econômica de subsistência o cultivo de arroz, milho, feijão, mandioca, batata doce, pimenta, hortaliças, recentemente ervas medicinais, além disso, criam porcos e aves para consumo próprio e venda.

Referências

AGIER, Michel. “Distúrbios Identitários em Tempos de Globalização”. Mana 7(2): 7-33, 2001.

CHAGAS, Miriam de Fátima. A política do reconhecimento dos remanescentes das comunidades dos quilombos. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, ano 7, n. 15, p. 209-235, julho de 2001.

CUCHE, Denys. A noção de cultura nas Ciências Sociais. Bauru: Edusc, 1999.

HALL, Stuart. Quem precisa de identidade? In: SILVA, Tomaz T. da (org.), “Identidade e diferença“. Petrópolis: Vozes, 2000

HOEBEL, E. Adamson & FROST, Everett L.. Antropologia cultural e social. São Paulo: Pensamento Culturix, 2005.

HASENBALG, Carlos. Discriminação e desigualdades raciais no Brasil. Rio de Janeiro: Graal, 1979.

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LEITE, Ilka Boaventura. Negros no sul do Brasil - invisibilidade e territorialidade. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1996.

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MARTINS, Cristian Farias. “As fronteiras da Liberdade: O Campo Negro como Entre - Lugar da Identidade Quilombola”. Dissertação de Mestrado em Ciências Sociais na Universidade de Brasília. Brasília, março de 2006.

MATHEWS, Gordon. Cultura global e identidade individual Bauru: Edusc, 2002.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso. Caminhos da identidade: Ensaios sobre etnicidade e multiculturalismo. São Paulo: Editora da Unesp: 2006.

POUTIGNAT, Philippe e STREIFF-FENART, Jocelyne, Teorias da Etnicidade. São Paulo: Ed. UNESP, 1998.

Referências

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