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Traços calosos/não-emocionais em jovens agressores institucionalizados

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Academic year: 2021

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Departamento de Educação e Psicologia

2º Ciclo em Psicologia Clínica

Traços calosos/não-emocionais em jovens agressores institucionalizados

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Ana Catarina Barbosa de Sousa Professor Doutor Ricardo Barroso

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Departamento de Educação e Psicologia

2º Ciclo em Psicologia Clínica

Traços calosos/não-emocionais em jovens agressores institucionalizados

Dissertação de Mestrado em Psicologia Clínica

Ana Catarina Barbosa de Sousa Professor Doutor Ricardo Barroso

Composição do Júri:

Professora Doutora Ana Catarina Pires Pinheiro da Mota

Professora Doutora Alice Margarida Martins dos Santos Simões Professor Doutor Ricardo Nuno Serralheiro Gonçalves Barroso

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iii Agradecimentos

Ao Professor Doutor Ricardo Barroso que tanto me ensinou e transmitiu durante o meu percurso académico, orientando-me para o melhor caminho e as melhores escolhas. Obrigada por toda esta aprendizagem, pela ajuda na construção

deste projeto, pela sua orientação e disponibilidade.

À UTAD, a instituição que me acolheu ao longo destes cinco anos repletos de desafios e aventuras e onde conheci pessoas fantásticas. Aos docentes do Departamento

de Psicologia e aos outros profissionais da nossa Escola, que a seu jeito tiveram influência nas minhas decisões e na construção do meu percurso estudantil e

profissional.

Ao CESA, local do meu estágio curricular deste ano letivo, que me proporcionou um conhecimento profundo da problemática que abraço neste meu

trabalho, a delinquência juvenil.

Aos meus pais: à minha mãe, que sempre foi o meu suporte e o meu refúgio e que tanto lutou para me ajudar a conquistar este lugar; e ao meu pai, por acreditar nas

minhas capacidades e por me incentivar a lutar por um futuro melhor.

Às minhas irmãs: à minha irmã Carla, que mostrou ser uma grande amiga e que sempre se disponibilizou a ouvir-me e a ajudar-me; e à minha irmã Cláudia, uma

força da natureza, que me deu alento nas fases mais complicadas e que sempre me fez ver o lado positivo de todos os desafios.

Ao Pedro, a quem deposito inteira confiança, por ter lutado comigo, por nunca me deixar baixar os braços e me inspirar todos os dias com o seu positivismo e a sua

tranquilidade. Obrigada por todo o amor.

Às grandes amizades da faculdade – Rafaela, Márcia, Sara, Raquel, Aurora e

(4)

iv À minha amiga Joana, que nunca me deixou sozinha, que me apoiou durante todos estes anos e que todos os dias me fez crer verdadeiramente na palavra “amizade”.

À Patrícia, por toda a ajuda, compreensão e disponibilidade, que se tornaram cruciais no arranque e construção deste trabalho. Não tenho palavras para agradecer!

E sem esquecer, a cidade de Vila Real, que me acolheu de braços abertos e me proporcionou dos melhores anos da minha vida.

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v Índice

Agradecimentos ... iii

Lista de Tabelas ... vii

Lista de Figuras ... viii

Lista de Siglas e Acrónimos ... ix

Introdução ... 1

ESTUDO EMPÍRICO I ... 3

O papel mediador da procura de sensações na relação entre traços calosos/não-emocionais e agressão física ... 3

Resumo ... 4

Abstract ... 5

Delinquência juvenil ... 6

Os traços de frieza emocional como preditores da agressão física... 7

O efeito da procura de sensações na associação entre os traços calosos/não-emocionais e a agressão física ... 10

Metodologia ... 14

Amostra ... 14

Instrumentos ... 15

Questionário de Agressão de Buss-Perry – Versão Reduzida (BPAQ-SF) ... 15

Inventário de Traços Calosos/Não-Emocionais (ICU) ... 15

Escala Abreviada de Procura de Sensações (BSSS) ... 16

Procedimento ... 17 Análises Estatísticas ... 18 Análises correlacionais ... 19 Efeitos mediadores ... 20 Discussão ... 23 Referências ... 27 ESTUDO EMPÍRICO II ... 31

Traços calosos/não-emocionais em jovens agressores pertencentes a gangues ... 31

Resumo ... 32

Abstract ... 33

O papel dos gangues nos jovens delinquentes agressores ... 34

O efeito dos traços calosos/não-emocionais na inserção de jovens agressores em gangues ... 37

(6)

vi

Objetivo e hipóteses do presente estudo ... 39

Metodologia ... 40

Amostra ... 40

Instrumentos ... 41

Inventário de Traços Calosos/Não-Emocionais (ICU) ... 41

Procedimento ... 42

Análises Estatísticas ... 43

Resultados ... 43

Comparação de médias entre níveis de traços calosos/não-emocionais para os grupos JPG e JNPG ... 43

Discussão ... 44

(7)

vii Lista de Tabelas

Estudo Empírico I

Tabela 1 Dados sociodemográficos da amostra em estudo 14

Tabela 2 Médias (M), desvio padrão (SD) e correlações entre as variáveis em estudo 20 Tabela 3 Efeito indireto da desinibição na relação entre frieza emocional e agressão

física

22

Tabela 4 Efeito indireto da BSSS total na relação entre frieza emocional e agressão física

22

Estudo Empírico II

Tabela 5 Dados sociodemográficos da amostra em estudo 41

Tabela 6 Resultados obtidos com a aplicação do Teste T em relação às dimensões do ICU face aos JPG e aos JNPG

(8)

viii Lista de Figuras

Estudo empírico I

Figura 1 Modelo representativo das hipóteses em estudo 13 Figura 2 Modelo de mediação múltipla da relação entre frieza emocional, procura

de sensações (desinibição e score BSSS Total) e agressão física

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ix Lista de Siglas e Acrónimos

APA American Psychological Association

BPAQ-SF Questionário de Agressão de Buss-Perry – Versão Reduzida BSSS Escala Abreviada de Procura de Sensações

BSSS total Score total da Escala Abreviada de Procura de Sensações

CE Centro Educativo

CEBV Centro Educativo da Bela Vista CEM Centro Educativo do Mondego CEO Centro Educativo dos Olivais CESA Centro Educativo de Santo António CESC Centro Educativo de Santa Clara

DGRSP Direção Geral de Reinserção Social e Serviços Prisionais

DSM-5 Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (5ª Edição) EP Estabelecimento Prisional

ETE Equipa Tutelar Educativa IC Intervalo de Confiança

ICU Inventário de Traços Calosos/Não-Emocionais

ICU total Score total do Inventário de Traços Calosos/Não-Emocionais JPG Jovens Pertencentes a Gangues

JNPG Jovens Não Pertencentes a Gangues LTE Lei Tutelar Educativa

SPSS Statistical Package for Social Sciences SSS-V Sensation Seeking Scale-V

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1 Introdução

A delinquência juvenil é um fenómeno que tem vindo a suscitar interesse na comunidade científica, evidenciando-se nestes diversos trabalhos a necessidade de

intervenção psicológica com jovens agressores. Este interesse surge em particular pelo facto de uma maioria dos crimes graves e violentos serem cometidos por jovens, existindo um grande número de detenções nas idades que compreendem a adolescência (Pechorro, Poiares, Maroco, & Vieira, 2012), aumentando assim a importância de se proceder à investigação nessa faixa etária.

No que se refere a traços psicopáticos, as investigações têm verificado que em adultos estes estão associados a anormalidades no processamento de estímulos emocionais. No

sentido de verificar se a mesma associação estava presente em adolescentes agressores, alguns estudos verificaram que os jovens apresentam diferentes tipos de reatividade emocional entre si, podendo constituir-se como diferentes grupos de jovens com comportamento antissocial (Loney, Frick, Clements, Ellis, & Kerlin, 2003). No caso dos adolescentes institucionalizados, verifica-se uma prevalência bastante alta relativamente à perturbação de comportamento (Rijo et al., 2016).

De uma forma geral, os estudos (Dadds, Fraser, Frost, & Hawes, 2005) apontam que os indivíduos com problemas de comportamento antissocial apresentam elevadas

características de traços emocionais. É nesse sentido que os tralos calosos/não-emocionais (também designados por insensbilidade ou de frieza emocional) surgem como uma dimensão distinta do construto da psicopatia, capaz de diferenciar um tipo específico de adolescentes delinquentes graves e agressivos. Num estudo de Pechorro et al. (2012), os rapazes apresentaram maiores níveis de traços calosos/não-emocionais, maior frequência de comportamentos delituosos e de maior gravidade e, por sua vez, maior prevalência de traços psicopáticos na dimensão de traços calosos/não-emocionais, comparativamente com as raparigas. Estes resultados sugerem a importância de direcionar a investigação para amostras do sexo masculino e da necessidade de as investigações empíricas debruçarem-se sobre as características dos jovens delinquentes graves para uma melhor compreensão do

funcionamento psicológico dos mesmos. Contudo, para além das características individuais, existem outros fatores que beneficiam o desenvolvimento do comportamento antissocial, aos quais também devem ser tidos em conta no desenvolvimento da intervenção terapêutica.

(11)

2 Considerando os aspetos referidos relacionados com a delinquência juvenil, esta dissertação de mestrado procurará abordar o tema em duas partes distintas, ainda que

interligadas. Numa primeira parte, é apresentado um primeiro estudo empírico sobre o papel mediador da procura de sensações na relação entre traços calosos/não-emocionais e agressão física, numa amostra de jovens agressores. Numa segunda parte, o segundo artigo empírico examinará as diferenças entre jovens agressores pertencentes a gangues e jovens agressores não pertencentes a gangues em relação à presença de traços calosos/não-emocionais. Em ambos os estudos, para além do enquadramento teórico das diferentes variáveis em questão, serão descritos os processos metodológicos correspondentes, tal como a caracterização da amostra utilizada, instrumentos e as análises estatísticas utilizadas. De acordo com o estado de arte, os resultados são discutidos tendo em vista as implicações clínicas de ambos os estudos.

Como já foi referido anteriormente, o presente trabalho, surge na necessidade de aprofundar a investigação na área da delinquência juvenil, de forma a responder às questões levantadas sobre as características dos jovens delinquentes graves e agressivos e,

nomeadamente, das formas de intervenção clínica na fase da adolescência, tanto a nível não- institucional como institucional.

(12)

3 ESTUDO EMPÍRICO I

O papel mediador da procura de sensações na relação entre traços calosos/não-emocionais e agressão física

The mediator role of sensation seeking in relationship between callous/unemotional traits and physical aggression

(13)

4 Resumo

Este estudo teve como objetivo investigar a possibilidade de uma relação entre os traços calosos/não-emocionais e a agressão física, e em que medida esta relação é mediada pela procura de sensações por parte do agressor. Pressupôs-se que os traços calosos/não-emocionais influenciam positivamente a agressão física, e que a relação entre os dois é mediada pela procura de sensações. As hipóteses foram testadas através da aplicação de três instrumentos – Questionário de Agressão de Buss-Perry – Versão Reduzida (BPAQ-SF), Inventário de Traços Calosos/Não-Emocionais (ICU) e Escala Abreviada de Procura de Sensações (BSSS) – a uma amostra de 160 jovens agressores, com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos, institucionalizados em centros de reclusão juvenil sob tutela do Ministério da Justiça de Portugal. Os resultados obtidos sugerem uma relação positiva significativa entre os traços calosos/não-emocionais e comportamentos de agressão física e, de igual modo, confirmam a existência de uma mediação parcial da procura de sensações na relação entre os traços calosos/não-emocionais e a agressão física.

Palavras-chave: Traços calosos/não-emocionais, agressão física, procura de sensações, mediação.

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5 Abstract

This study investigates the possibility of a relationship between a callous-unemotional traits and physical aggression, and to what extent the relationship is mediated by sensation seeking when it comes to the offender. It was assumed that the callous-unemotional traits influences in a positive way physical aggression, and that the relationship between them is mediated by sensation seeking. These hypotheses were tested through the application of three instruments – Buss-Perry Aggression Questionnaire Short-Form (BQAP-SF), Inventory of Callous-Unemotional Traits (ICU), and Brief Sensation Seeking Scale (BSSS) – to a sample of 160 young offenders, aged between 12 and 18 years, institutionalized in juvenile detention centers under the custody of the Portuguese Ministry of Justice.The results obtained suggest a significant positive relationship between the callous-unemotional traits and behaviors of physical aggression and, in the same way, confirmed the existence of a parcial mediation of sensation seeking in the relationship between the callous-unemotional traits and physical aggression.

Keywords: Callous-unemotional traits, physical aggression, sensation seeking and mediation.

(15)

6 Delinquência juvenil

A delinquência juvenil é um dos focos de investigação já desde há vários anos, sendo que o conceito da mesma não é definido com precisão, uma vez que se estende não só ao contexto legal mas também ao contexto social. Desta forma, a sociedade, tendo em conta as normas pelas quais se rege, define comportamentos que são considerados antissociais. O termo comportamento antissocial acaba por ser a denominação mais abrangente para definir os atos que entram em conflito com as normas, expetativas sociais e a lei, nomeadamente fugas, agressão, furto, roubo, vandalismo e outros atos que violam as normas da sociedade em que o jovem se insere (Negreiros, 2001).

Nos termos da Lei Tutelar Educativa (LTE), a problemática da delinquência juvenil engloba os atos qualificados pela lei como crimes praticados por jovens entre os 12 e os 16 anos, os quais necessitam de ser educados para o direito, bem como ser inseridos de forma digna e responsável na vida em sociedade (art. 2º e art. 3º da LTE, 2015). É neste sentido que aos jovens infratores é-lhes aplicada uma medida tutelar educativa de acordo com o facto praticado (art. 4º da LTE, 2015).

Os jovens são um grupo responsável por uma maioria de crimes graves e violentos de uma forma persistente, existindo um grande número de detenções nas idades que

compreendem a adolescência. Desta forma, um elevado número de indivíduos nesta fase desenvolvimental apresentam comportamentos delituosos, eventualmente indicadores da perturbação de comportamento (Pechorro, Poiares, Maroco, & Vieira, 2012).

A investigação empírica tem demonstrado que os comportamentos delinquentes graves estão maioritariamente concentrados nos jovens do sexo masculino e que o período da vida do indivíduo em que ocorrem as primeiras manifestações é um aspeto fulcral no entendimento da trajetória delinquente. A maioria dos adolescentes cometeu o primeiro delito por volta dos 14 anos e apesar de estas infrações estarem associadas à adolescência, estes indivíduos

normalmente apresentam uma história de problemas de comportamento durante a infância: agressões a pares, fugas de casa, comportamento de oposição face a adultos, hiperatividade, furtos, associação a pares antissociais, fugas à escola e problemas de integração escolar (Lemos, 2010).

Os vários motivos para o início da prática criminal apoiam-se então em diversos fatores, podendo ser externos (fatores de contexto social e familiar) ou, por outro lado, os internos que encontram-se intrínsecos no indivíduo (Moffitt, 1993).Torna-se assim

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7 importante abordar os processos de desenvolvimento de competências emocionais e o

desenvolvimento de componentes afetivas que se encontram associadas a determinadas vulnerabilidades temperamentais. Isto porque ambos podem colocar uma criança em risco para o desenvolvimento de problemas de comportamento através de causas distintas, podendo explicar os vários tipos de jovens diagnosticados com o distúrbio antissocial (Frick & Morris, 2004).

Os traços de frieza emocional como preditores da agressão física

No caso dos adolescentes institucionalizados, verifica-se uma prevalência bastante alta relativamente à perturbação de comportamento (Rijo et al., 2016).

As perturbações descritas no DSM-5 (APA, 2013) podem auxiliar na definição de um diagnóstico adequado entre os investigadores e clínicos em relação a problemas

comportamentais. Neste âmbito, um diagnóstico usual prende-se com a Perturbação do Comportamento, que se revela como um padrão comportamental persistente e repetitivo em que são violados os direitos básicos dos outros ou importantes regras ou normas sociais próprias da idade do sujeito. Os critérios deste tipo de problema estão associados a cinco subtipos, nomeadamente, 1) a relação com a idade de início (infância ou adolescência), 2) a limitação à infância, que sugere a existência de um grupo de sujeitos com problemas graves decorridos ao longo da infância, 3) a existência de traços calosos/não-emocionais ou frieza emocional e, por fim, 4) especificadores femininos (APA, 2013). É então de acordo com estes critérios que existe a distinção entre as crianças cujo comportamento antissocial e agressivo começa na infância ou na adolescência, sendo evidentes as diferentes trajetórias

desenvolvimentais subjacentes. As crianças do grupo de início na infância são caracterizadas por maior agressividade, mais distúrbios cognitivos e neuropsicológicos, maior

impulsividade, maior alienação social e antecedentes familiares mais disfuncionais do que as crianças pertencentes ao grupo de início da adolescência. Especificamente, as crianças do grupo de início na infância parecem ser caracterizadas por uma má regulação emocional e comportamental (Moffitt, 1993).

Um marcador para estes diferentes padrões de desregulação emocional pode ser a presença ou ausência traços calosos/não-emocionais (Frick & Ellis, 1999; Frick, Barry, & Bodin, 2000), também denominados de frieza ou insensibilidade emocional, que permite diferenciar um tipo de delinquentes graves e agressivos de uma forma que outras dimensões

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8 da psicopatia não conseguem. Os traços calosos/não-emocionais pretendem definir indivíduos caracterizados por não manifestarem empatia ou remorsos, pouco afeto e insensibilidade à punição aparentemente devido a problemas neurocognitivos relacionados com uma disfunção na amígdala e na zona orbitofrontal (Barroso, 2012). Referem-se assim, a um conjunto de características muito específicas (e.g., a falta de culpa, a falta de empatia, a falta de remorso e afeto e o uso insensível de terceiros), sendo estáveis ao longo da infância e da adolescência (Frick, Bodin, & Barry, 2000; Frick & White, 2008). Estas características sugerem que os adolescentes com comportamento delinquente apresentam diferentes tipos de reatividade emocional entre si (Loney, Frick, Clements, Ellis, & Kerlin, 2003), capazes de indicar um tipo de delinquentes com comportamento antissocial grave e agressivo.

Os traços calosos/não-emocionais podem ser avaliados em três dimensões, nomeadamente 1) a calosidade/frieza emocional que procura avaliar a competência de demonstrar preocupação pelo sofrimentos dos outros, 2) a não-emocionalidade que se centra no funcionamento emocional do jovem, concretamente na preocupação que este apresenta em relação aos sentimentos de outros e de si e por último, 3) a despreocupação emocional que abarca a expressão e a gestão emocional (Essau, Sasagawa, & Frick, 2006; Kimonis et al., 2008; Pechorro, Ray, Barroso, Maroco & Gonçalves, 2014).

Os estudos indicam que os traços calosos/não-emocionais aumentam

significativamente a capacidade de prever o comportamento antissocial (Dadds, Fraser, Frost, & Hawes, 2005), uma vez que se encontram fortemente associados a défices de empatia emocional e cognitiva (Pardini, Lochman, & Frick, 2003) subjacentes ao seu comportamento antissocial que podem levar a diferentes formas de reação na sociedade e resultar em

diferentes padrões de comportamento agressivo (Frick et al., 2003). Neste sentido, torna-se crucial entender que a agressão poderá apresentar duas funções - a agressão reativa e a instrumental - e que cada uma apresenta diferentes fatores cognitivos e emocionais. A agressão reativa encontra-se muitas vezes associada à provocação e é caracterizada pelo impulso das respostas afetivas associadas a uma provocação ou ameaça percebida. A agressão instrumental é percebida como um meio eficaz para adquirir os objetivos desejados e avaliada na pré-adolescência pode predizer delinquência juvenil, uma vez que, o comportamento agressivo muitas vezes precede os comportamentos delinquentes. Este padrão é evidenciado em jovens com traços calosos/não-emocionais, o que poderá estar na origem da instabilidade e défice das suas respostas emocionais aos estímulos negativos e às suas respostas de punição,

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9 podendo influenciar o desenvolvimento normal da empatia e da culpa (Muñoz & Frick, 2012) e, por sua vez, constituir um risco para a ocorrência da agressão grave em jovens.

Com o intuito de estudar a relação entre os traços calosos/não-emocionais e as

expectativas relativamente a um comportamento agressivo, Pardini e Byrd (2012), analisaram uma amostra composta por 96 crianças de escolas públicas cuja idade média rondava os 10 anos. Os resultados evidenciaram que estas crianças são menos propensas a esperar que a agressão resulte em sofrimento e sentimentos de remorso na vítima e, também, são menos preocupadas com o facto de o seu comportamento agressivo poder resultar numa punição, num sofrimento na vítima e sentimentos de remorso. De uma forma geral, as crianças com traços calosos/não-emocionais tendem a minimizar o comportamento de agressão e o sofrimento da vítima, sentindo-se menos intimidadas pela punição, uma vez que veem a agressão como meio eficaz para dominar os outros. No caso dos adolescentes com traços calosos/não-emocionais, estes acreditam que a agressão resultará em ganhos. O mesmo acontece com as crianças, uma vez que não associam o negativismo das suas ações. Estas visões poderão definir a origem da variedade do comportamento agressivo nos jovens, bem como a presença dos traços calosos/não-emocionais ajudar a delinear as expectativas e as consequências da agressão nos jovens. Por exemplo, os adolescentes que apresentam traços calosos/não-emocionais são mais propensos a antecipar que a agressão resultará em

recompensas e menos propensos a esperar que o comportamento agressivo resultará em punição (Pardini et al., 2003).

A tendência para o comportamento agressivo foi então reportada em vários estudos que indicaram que as crianças com altos traços calosos/não-emocionais encontram-se associadas a maiores níveis de perturbação de comportamento (Frick, Stickle, Dandreaux, Farrell, & Kimonis, 2005), delinquência, agressão e violência (Frick & White, 2008). Uma das características mais interessantes e em comum com os comportamentos antissociais e os traços psicopáticos são a sua forte associação e a sua grande estabilidade durante a vida adulta quando se manifestam precocemente na vida dos sujeitos, pelo menos no que diz respeito aos sujeitos do sexo masculino (Frick & Loney, 1999).

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10 O efeito da procura de sensações na associação entre os traços calosos/não-emocionais e a agressão física

Os comportamentos antissociais e agressivos dos jovens com traços calosos/não-emocionais parecem estar menos relacionados com fatores externos, apresentando-se diferenciadores a nível emocional e cognitivo (e.g., ausência de medo a punições e perigos, procura permanente de sensações e novidade) que levam a um desenvolvimento da sua trajetória criminal. A delinquência juvenil tem sido estudada segundo abordagens familiares, sociais e individuais. Dessas mesmas características individuais, destacam-se os traços de personalidade do indivíduo, nomeadamente a procura de sensações, que procuram dar respostas ao comportamento desviante. A teoria da procura de sensações assume que o indivíduo possui “um traço que descreve a tendência para procurar sensações e experiências novas variadas, complexas e intensas, e a disposição para correr riscos com a finalidade de satisfazer tais experiências” (Zuckerman, 1994, p. 1).

Segundo Zuckerman (1984), a procura de sensações é uma predisposição ou um traço de personalidade identificado por uma unidade para uma variedade de estímulos específicos caracterizados pela novidade, complexidade, intensidade e uma vontade de correr riscos para atingir as experiências. Do ponto de vista teórico, dada a relevância da procura de sensações, é importante analisar a sua ligação aos comportamentos de risco com maior profundidade (Smorti & Guarnieri, 2013). Os indivíduos que apresentam o traço procura de sensações mais saliente teriam tendência para a assunção de comportamentos que aumentassem a estimulação que experienciam. Para satisfazer essa necessidade de estimulação intensa, os indivíduos adotam determinados comportamentos que estão associados, por exemplo, à prática de desporto de risco, consumo de álcool ou estupefacientes, condução perigosa, atividade sexual de risco, ou seja, a tudo que provoque sensações originais e novas experiências (Zuckerman, 1994).

Relativamente à idade, os estudos transversais demonstraram o declínio da procura de sensações ao longo da vida, apesar de se comprovar um aumento da procura de sensações desde a infância, alcançando o pico na adolescência e início da idade adulta (Steinberg et al., 2008). Este traço é apontado como uma característica do adolescente, estando a maior parte das vezes relacionado com comportamentos de risco (Zuckerman, 1994). Dentro de algumas características comuns às pessoas que procuram sensações muito intensas estão as atitudes positivas em relação à emoção ou alegria e expressões mais desinibidas, de forma que,

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espera-11 se que a procura de sensações prediga uma abertura à experiência. Estes sujeitos são também considerados mais sociáveis, impetuosos, assertivos, atrevidos e demonstram menos medos (Vasconcelos, Gouveia, Pimentel, & Pessoa, 2008).

A procura de sensações é um traço expresso em termos de comportamento que implica um aumento da estimulação, tendo sido profundamente estudado na vertente da delinquência. É dessa forma que este constructo não é apenas tido como uma necessidade individual, mas como um processo de socialização. Esta dimensão da personalidade pretende compreender o comportamento juvenil, principalmente aquele que caracteriza as transgressões das normas sociais como as variações de comportamento de risco a partir da importância que o jovem dá à procura de novas experiências e emoções intensas (Formiga, Aguiar, & Omar, 2008).

No decorrer do seu estudo, Zuckerman (1994) referiu ainda quatro dimensões da procura de sensações, nomeadamente 1) a procura de emoção e aventura, 2) a procura de experiências, 3) a desinibição e 4) a intolerância ao aborrecimento. A primeira dimensão, a procura de emoção e aventura expressa a intenção de participar em desportos ou outras atividades de risco que suscitam sensações incomuns da velocidade ou de desafio da gravidade (e.g., paraquedismo, mergulho ou alpinismo). De seguida, a procura de

experiências descreve a procura de novas sensações e experiências de atividades intelectuais e sensoriais estimulantes (e.g., música, arte ou viagens) ou a procura de atividades não

conformistas como a associação a grupos não convencionais. Em terceiro lugar, o fator desinibição descreve a preferência por atividades que promovam a socialização como as festas, o consumo de álcool e outras substâncias. Por último, a intolerância ao aborrecimento refere-se à intolerância a experiências repetitivas e à monotonia.

Tendo em conta as dimensões descritas, a procura de sensações é uma dimensão da personalidade que permite compreender o comportamento desviante juvenil, nomeadamente os comportamentos de risco adquiridos pela necessidade de procura de novas experiências e emoções intensas (Arnett, 1994). No estudo de Arnett (1996), com o objetivo de compreender a relação entre os comportamentos imprudentes, a agressividade e a procura de sensações em adolescentes, os resultados evidenciaram que essas mesmas variáveis apresentam uma relação, uma vez que altas pontuações na dimensão da procura de sensações prediziam a aquisição desses mesmos comportamentos. No estudo de Formiga et al. (2008), com uma amostra de 504 jovens brasileiros com idades compreendidas entre os 11 e os 20 anos, os autores identificaram uma relação positiva entre a procura de sensações e o comportamento agressivo, demonstrando que as características individuais dos jovens permitem explicar o

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12 comportamento juvenil. Estes resultados corroboram com pesquisas anteriormente realizadas (e.g. Donohew, Hoyle, Clayton, Skinner, Colon, & Rice,1999), onde os sujeitos com valores elevados de procura de sensações apresentaram uma maior probabilidade de enveredar por comportamentos antissociais e de os iniciar precocemente.

O estudo de Vasconcelos et al. (2008), que testou o modelo causal de avaliação de condutas antissociais no qual foram abordados vários instrumentos de avaliação da

personalidade, demonstrou que a procura de sensações apresentou um maior peso fatorial do modelo, pois explica diretamente as condutas antissociais. Percebe-se assim a relevância dos traços de personalidade delineados e também o papel dos traços de procura de sensações, como construto que pode contribuir para a compreensão das interações sociais, verificando-se a influência dos mesmos na explicação das condutas desviantes. Apesar da relação entre o traço procura de sensações e a tendência para correr risco estar devidamente comprovada (Zuckerman, 1994), esta não constitui a principal motivação do comportamento, uma vez que o traço de procura de sensações não é um revelador de funcionamento psicopatológico ou antissocial. Os indivíduos com altos níveis deste traço nem sempre são desajustados ou apresentam um funcionamento errado (Zuckerman, 1994), apesar de, por serem excitáveis e mais ativos, terem tendência para apresentar comportamentos antissociais (Zuckerman & Link, 1968).

A explicação para essa evidência poderá basear-se na presença de traços calosos/não-emocionais nos adolescentes, uma vez que existe uma correlação significativa entre os traços calosos/não-emocionais e a procura de sensações (Essau et al., 2006) que, por sua vez, se encontram associados a comportamentos de risco. Essa evidência é consistente com investigações anteriores que mostraram que as crianças com maiores níveis de traços

calosos/não-emocionais evidenciavam uma maior preferência por comportamentos de procura de sensações (Barry et al., 2000; Frick, Cornell, Barry, Bodin, & Dane, 2003). Na mesma linha de pensamento, o estudo de Frick e Morris (2004) sugeriu que um temperamento relacionado com a falta de inibições comportamentais pode colocar a criança em risco de problemas ao nível da culpa e empatia, podendo ser um fator crucial no desenvolvimento de traços calosos/não-emocionais.

Uma vez que ainda não são claras as conclusões sobre a influência desta característica da personalidade, torna-se pertinente perceber qual o papel do traço de procura de sensações na relação entre os traços calosos/não-emocionais e o comportamento agressivo, preditores de uma perturbação de comportamento antissocial em jovens delinquentes.

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13 Objetivos e hipóteses do presente estudo

O presente estudo teve como principal objetivo analisar a presença de traços

calosos/não-emocionais numa amostra de jovens com problemas de comportamento grave e testar o seu efeito na prática de agressão física, assim como testar o papel mediador da procura de sensações na associação entre frieza emocional e agressão física. Atendendo aos objetivos específicos, pretendeu-se, num primeiro momento, observar as associações entre os traços calosos/não-emocionais, a agressão física e a procura de sensações. Por último, de acordo com os resultados de correlação para compreender a relação entre as três variáveis, pretendeu-se analisar em que medida a procura de sensações pode exercer um efeito mediador na relação entre os traços calosos/não-emocionais e agressão física (Figura 1).

Face aos objetivos propostos, como primeira hipótese é esperado que as dimensões dos traços calosos/não-emocionais e a agressão física se correlacionem significativamente.

Hipótese 1: Os traços calosos/não-emocionais estão positivamente relacionados com a agressão física.

Por último, espera-se que a procura de sensações exerça um papel mediador na relação entre os traços calosos/não-emocionais e a agressão física.

Hipótese 2: A procura de sensações medeia a relação entre os traços calosos/não- emocionais e a agressão física.

Figura 1. Modelo representativo das hipóteses em estudo. H1: Efeito direto – a variável independente (X) afeta a

variável dependente (Y); H2: Efeito indireto – a variável independente (X) afeta a variável dependente (Y) através da variável mediadora (M).

Traços calosos/não- -emocionais X Agressão Física Y Procura de sensações M H2 H1

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14 Metodologia

Amostra

A amostra utilizada no presente estudo foi recolhida durante o ano de 2015 no âmbito de um projeto de investigação mais vasto, intitulado de “Características e Especificidades de Jovens Agressores”, encontrando-se em permanente atualização. A amostra é constituída por 160 participantes do sexo masculino com idades compreendidas entre os 12 e os 19 anos (M= 14.59; DP=1.1) no momento do crime. Todos os jovens encontravam-se sob tutela da Direção Geral de Reinserção Social e Serviços Prisionais (DGRSP),estando institucionalizados em Centros Educativos (CE), Estabelecimentos Prisionais (EP) ou sob gestão de Equipas

Tutelares Educativas (ETE). Assim, 148 jovens encontram-se institucionalizados em CE, dos quais, 29 (18.1%) no Centro Educativo dos Olivais (CEO), 42 (26.3%) no Centro Educativo de Santo António (CESA), 21 (13.1%) no Centro Educativo do Mondego (CEM), 27 (16.9%) no Centro Educativo da Bela Vista (CEBV), 29 (18.1%) no Centro Educativo de Santa Clara (CESC) e 12 (7.55%) no EP de Leiria (Tabela 1).

Os sujeitos completaram os autorrelatos individualmente e anonimamente, tendo sido entregues os questionários diretamente aos investigadores. Previamente, os participantes leram e assinaram o consentimento informado, não tendo sido entregue qualquer valor monetário pela participação no estudo.

Tabela 1

Dados sociodemográficos da amostra em estudo

N (%) M (DP) Amplitude Idade Momento do crime 154 (96.3%) 14.59 (1.192) 12-19 Momento da recolha 160 (100%) 17.05(1.964) 12-26 Instituição CEO 29 (18.1%) CESA 42 (26.3%) CEM 21 (13.1%) CEBV 27 (16.9%) CESC 29(18.1%) EP Leiria 12(7.55%) Tipo de Crime Sexual 6 (3.8%) Não sexual 133 (83.1%) Ambos 21 (13.1%)

(24)

15 Instrumentos

Questionário de Agressão de Buss-Perry – Versão Reduzida (BPAQ-SF)

O BPAQ-SF é um instrumento de autorrelato desenvolvido por Buss e Perry (1992) e adaptado para a população portuguesa por Pechorro, Barroso, Poiares, Oliveira e Torrealday (2015) com o objetivo de avaliar a agressão numa abordagem multicomponencial, permitindo saber não só o quanto agressiva a pessoa era, mas também estimar como é que a sua

agressividade se manifestava. Nesta versão reduzida a escala é constituída por 12 itens

divididos em quatro fatores: agressão física (3 itens), agressão verbal (3 itens), raiva (3 itens) e hostilidade (3 itens), que são avaliados numa escala de Likert de 5 pontos, em que 0 = nunca ou quase nunca; 1 = poucas vezes; 2 = algumas vezes; 3 = muitas vezes; 4 = sempre ou quase sempre. O BPAQ-SF apresenta boas propriedade psicométricas, tendo sido o alpha de

Cronbach de .89 (agressão física [α = .85], agressão verbal [α = .72], raiva [α = .83] e

hostilidade [α = .70]). Na versão adaptada para a população portuguesa o BPAQ apresenta um alpha de Cronbach de .84 (agressão física [α = .71], agressão verbal [α = .63], raiva [α = .62] e hostilidade [α = .75]). No presente estudo, o alpha de Cronbach para a escala total é de .86 (agressão física [α = .75], agressão verbal [α = .63], raiva [α = .77] e hostilidade [α = .78]). Neste estudo será apenas utilizada a subescala agressão física, que apresenta boas

propriedades psicométricas, dado o alpha de Cronbach apresentado.

Inventário de Traços Calosos/Não-Emocionais (ICU)

O ICU (Essau, et al., 2006; Kimonis et al., 2008) é um inventário adaptado para a língua portuguesa por Pechorro et al. (2014) que demonstrou boas propriedades psicométricas nessa mesma validação, sendo justificável o seu uso na população portuguesa. Procura avaliar a presença de traços calosos/não-emocionais (como a frieza emocional/não-emocionalidade) em jovens (e.g. ausência de culpa, de empatia, de investimento afetivo nos outros). A versão de autorrelato do jovem pode ser administrada em adolescentes com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos de idade. Trata-se de uma escala constituída por 24 itens em que cada item é pontuado numa escala de quatro pontos (0 = Totalmente falso; 1 = Por vezes falso; 2 = Por vezes verdade; 3 = Totalmente verdade). Os itens são divididos, constituindo neste

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16 inventário três subescalas: 1) calosidade/frieza emocional (callousness), onde estão inseridos itens que procuram avaliar a competência de demonstrar preocupação pelo sofrimento de outros (e.g. “Não me importo quem magoo para conseguir o que quero”); 2)

não-emocionalidade (unemotional): os itens desta dimensão centram-se no funcionamento emocional do jovem, concretamente na preocupação que este apresenta em relação aos sentimentos de outros e de si mesmo (e.g. “Tento não magoar os sofrimentos das outras pessoas”; 3) despreocupação emocional (uncaring): nesta subescala estão inseridos itens relacionados com a expressão e gestão emocional (e.g. “As outras pessoas percebem facilmente como eu me sinto”).

A versão portuguesa deste inventário apresenta boas propriedades psicométricas, nomeadamente, alpha de Cronbach do inventário total é α=.90 (da subescala

calosidade/frieza emocional é de α=.88, não-emocionalidade é α=.86 e despreocupação emocional é de α=.87) (dados não publicados). Em relação ao presente estudo, o alpha de Cronbach da escala total foi de α=.65 (da subescala calosidade/frieza emocional é de α=.68, não-emocionalidade é α=.70 e despreocupação emocional é de α=.13). Dados os valores apresentados, foi eliminada a escala de despreocupação emocional, sendo apenas utilizadas as escalas que apresentam propriedades psicométricas aceitáveis relativamente à sua

confiabilidade, concretamente a escala de frieza emocional, a não-emocionalidade e a escala total (ICU total).

Escala Abreviada de Procura de Sensações (BSSS)

A BSSS (Hoyle, Stephenson, Palmgreen Lorch, & Donohew, 2002) foi criada adaptando itens do Sensation Seeking Scale-V (SSS-V) (Zuckerman, Eysenck, & Eysenck, 1978) com um conjunto de itens derivados do SSS-V, mas adaptados para adolescentes (Huba, Newcomb, & Bentler, 1981). Caracteriza-se como um instrumento de autorrelato que mede o fator de risco para vários problemas de comportamento, nomeadamente a procura de sensações.

A versão final do BSSS apresenta quatro dimensões primárias de procura de sensações: procura de emoção e aventura (thrill and adventure seeking), a procura de experiências (experience seeking), a desinibição (disinhibition) e a intolerância ao

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17 perfazendo um total de 8 itens. As respostas compreendem uma escala tipo Likert, de cinco pontos, “discordo fortemente”, “discordo”, “nem discordo nem concordo”, “concordo” e “concordo fortemente”.

A versão original do BSSS apresenta boas propriedades psicométricas, conferindo-lhe confiança, tendo sido o alpha de Cronbach de .76 para a escala total. No presente estudo, o instrumento apresenta um alpha de Cronbach para a escala total de .76 (procura de emoção e aventura [α = .29], procura de experiências [α = .50], desinibição [α = .80] e intolerância ao aborrecimento [α = .49]). Dados os resultados apresentados, neste estudo serão utilizadas apenas as escalas que apresentam propriedades psicométricas aceitáveis relativamente à confiabilidade, concretamente a subescala desinibição e a escala total do instrumento (BSSS total).

Procedimento

De acordo com a literatura e com o objetivo de centrar características particulares, foram definidos como critérios de inclusão os participantes serem do sexo masculino, terem idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos e, por último, esses mesmos adolescentes deveriam ter comprovadamente (pelos Tribunais) praticado algum comportamento agressivo grave.

Para a recolha da amostra, solicitou-se o pedido de autorização de recolha de dados à DGRSP com o objetivo de o mesmo ser encaminhado para as diversas instituições em causa, em concreto Centro Educativos (no caso dos crimes terem sido cometidos antes dos 16 anos) ou em Estabelecimentos Prisionais (no caso de maiores de 16 anos). Após um processo de análise e seleção, integraram o estudo, jovens institucionalizados no Centro Educativo dos Olivais (CEO), Centro Educativo de Santo António (CESA), Centro Educativo do Mondego (CEM), Centro Educativo da Bela Vista (CEBV) e Centro Educativo de Santa Clara (CESC). Integram de igual modo jovens com prática de crimes sob tutela das Equipas Tutelares Educativas do Porto e de Lisboa. Por fim, no que diz respeito aos Estabelecimentos Prisionais, participaram jovens reclusos do EP de Leiria.

No processo de recolha de dados foi entregue a cada sujeito uma declaração de consentimento informado onde foram fornecidas todas as informações necessárias acerca do estudo garantido anonimato e a confidencialidade dos dados fornecidos. Ao mesmo tempo, houve a preocupação por parte dos investigadores de recolher todas as informações

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18 processuais dos jovens que aceitaram participar no estudo, através das peças processuais de cada um. Neste processo, o investigador informou sobre o anonimato das informações fornecidas, estando esta recolha desprovida de custos ou consequências associadas,

mantendo-se claro para os jovens que tinham o direito de desistência a qualquer momento.

Análises Estatísticas

Este estudo apresenta um cariz transversal dado que o conjunto de avaliações foi realizado num único momento do tempo, não existindo, portanto, um seguimento temporal dos indivíduos. Em termos de análises estatísticas, foi utilizado o programa de tratamento estatístico IBM SPSS (Statistical Package for Social Sciences), na versão 23.0 como forma de responder às hipóteses levantadas no atual estudo de investigação. Inicialmente procedeu-se à caracterização da amostra, recorrendo-se a análises de natureza descritiva e foi testada a consistência interna (alpha de Cronbach) dos instrumentos utilizados. Com objetivo de se decidir quais os procedimentos estatísticos a utilizar foram realizados testes de normalidade de dados (Kolmogorov Sminorv) antes de efetuar os respetivos testes paramétricos (Maroco, 2007). De modo a responder ao primeiro objetivo previamente delineado para esta

investigação, o primeiro passo prendeu-se pela realização de análises de correlação (Pearson) de forma a examinar e medir a associação entre as variáveis em questão e por sua vez,

sintetizar o relacionamento entre essas mesmas variáveis (Maroco, 2007).

De acordo com o segundo objetivo, para testar os modelos de mediações, foi utilizada a macro PROCESS desenvolvida por Hayes (2013) que permite o cálculo dos modelos de mediação por meio da técnica de bootstrapping com a utilização do SPSS. A técnica de bootstrapping para calcular o intervalo de confiança é um método considerado superior ao tradicional de análises de mediação, uma vez que permite estimar as propriedades da distribuição da nossa amostra, permitindo contornar o problema de uma distribuição não normal. Assim, para realizar o teste de mediação foram conduzidas as regressões simultâneas dos efeitos diretos (variável independente sobre a dependente) e efeitos indiretos (variável independente sobre dependente, através da variável mediadora), conforme procedimento de Preacher e Hayes (2004). O procedimento avalia o intervalo de confiança (IC), sendo que o valor que se encontrar dentro dos 95% dos intervalos de confiança, o efeito indireto é significativo e, por consequência, a ocorrência da mediação pode ser considerada presente.

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19 Para que o efeito indireto seja significativo, não pode haver troca de sinal entre os limites dos intervalos (limite inferior e limite superior de 95%). Os autores Preacher e Hayes (2004) sugerem que na mediação existem três condições que se devem verificar: 1) a variável independente (frieza emocional) deve estar relacionada com o mediador (procura de sensações); 2) a variável independente (frieza emocional) e o mediador (procura de

sensações) proposto devem cada um estar significativamente correlacionados com a variável dependente (agressão física); e 3) a relação entre a variável independente (frieza emocional) e dependente (agressão física) deve ser significativamente fraca (mediação parcial) ou não existente (mediação total), quando o mediador é incluído na equação da regressão.

Resultados Análises correlacionais

Tendo em conta os pressupostos estatísticos necessários para a realização de testes paramétricos estarem cumpridos, nomeadamente a normalidade dos dados para todas as escalas aqui utilizadas, tornou-se possível estabelecer análises paramétricas. Em geral, as consistências internas apresentaram-se como satisfatórias para a dimensão agressão física (BQAP); frieza emocional, não emocionalidade e ICU total (ICU); e desinibição e BSSS total (BSSS). As restantes dimensões correspondentes aos instrumentos utilizados foram excluídas no presente estudo, devido à baixa consistência interna apresentadas.

Relativamente aos resultados do teste de Correlação de Pearson, foram encontradas relações positivas significativas entre a frieza emocional e a agressão física (r=.379, p=.000), a frieza emocional e a desinibição (r=.377, p=.000), a frieza emocional e o BSSS total

(r=.378, p=.000) e a frieza emocional e o ICU total (r=.521, p=.000). Assim, maior frieza emocional está associada a uma maior agressão física, desinibição e a uma maior procura de sensações e emoções (BSSS total). No que diz respeito à subescala da não emocionalidade, esta encontra-se correlacionada negativamente com todas as restantes variáveis,

nomeadamente com a frieza emocional (r=-.325, p=.000), com a agressão física (r=-.292, p=.001), com a desinibição (r=-.338, p=.000) e com a BSSS total (r=-.270, p=.0002), à exceção da escala ICU total (r=.606, p=.000). Estes valores de correlação indicaram que a uma maior não emocionalidade estão associados menores níveis de frieza emocional, agressão física, desinibição e procura de sensações e emoções (BSSS total). Relativamente à agressão

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20 física, esta encontra-se, ainda, positiva e significativamente correlacionada com a desinibição (r=.322, p=.000) e com a BSSS total (r=.384, p=.000). Isto indica que a uma maior agressão física, estão associados maiores valores de desinibição e procura de sensações e emoções (BSSS total). Por último, a subescala desinibição encontra-se ainda positivamente

correlacionada com a BSSS total (r=.770, p=.000), indicando que uma maior desinibição está associada a uma maior procura de sensações e emoções (BSSS total) (Tabela 2).

Tabela 2

Médias (M), desvio-padrão (SD) e correlações entre as variáveis em estudo

Variáveis 1 2 3 4 5 6 M SD N 1. Frieza emocional - -0,325** 0,379** 0,377** 0,378** 0,521** 14,38 3,09 128 2. Não emocionalidade - -0,292** -0,338** -0,270** 0,606** 16,51 4,85 128 3. Agressão física - 0,322** 0,384** 0,053 8,81 3,09 159 4. Desinibição - 0,770** -0,001 7,33 2.38 160 5. BSSS total - 0,084 27,38 6,05 159 6. ICU total - 38,91 7,07 123 * p< .05; ** p< .01 Efeitos mediadores

De forma a testar os efeitos mediadores, foi proposto um modelo que incluiu a frieza emocional como antecedente, a desinibição e a BSSS total como variáveis mediadoras e a agressão física como variável de resultado (Figura 2).

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21 Figura 2. Modelo de mediação múltipla da relação entre frieza emocional, procura de sensações (desinibição e

BSSS total) e agressão física.

De acordo com o modelo geral apresentado, foi possível verificar que a desinibição mediou a relação entre a frieza emocional e a agressão física, F(2, 124) = 14,7900, p<.0000, explicando 19,26% da variância. Para além disso, verificou-se que a escala total da BSSS (BSSS total) mediou a relação entre a frieza emocional e a agressão física, F (2, 123) = 17, 831, p<.0000, explicando 22,48% da variância.

A relação entre a frieza emocional e a agressão física foi mediada pela desinibição e pela BSSS Total. Como é possível verificar na tabela 3, existe um efeito indireto significativo e positivo da desinibição sobre a relação entre a variável independente e de resultado, b=.055, 95% IC [.007, .122], que representa um efeito médio, k2 =.089, 95% BCa IC [.015, .195]. O Kelley Kappa-Squared (K2; Hayes, 2013) foi usado como uma medida do tamanho do efeito, sendo interpretado como o efeito indireto em relação ao seu valor máximo possível dos dados. Por sua vez, a BSSS total também se mostrou mediadora da relação entre a frieza emocional e a agressão física. Na tabela 4 verifica-se um efeito indireto positivo e significativo da BSSS total sobre a relação entre a frieza emocional e agressão física, b=.068, 95% IC [.028, .127], que representa um efeito médio sobre esta relação, k2 =.113, 95% BCa IC [.049, .198].

1) Desinibição 2) BSSS total Frieza emocional a) b= 0,1807, p=.0000 b) b=0,483, p=.0000 b c d Agressão física Efeito direto 1) b=.178, p=.0011; 2) b=.164, p=.0019 Efeito indireto 1) b=.055, p=.0216, 95% Bca IC [.0023,.0406]; 2) b=.068, p=.0065, 95% Bca IC [.0280,.1272] c) b=0,302, p=.0070 d) b=0,140, p=.0006 a

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22 Tabela 3

Efeito indireto da desinibição na relação entre frieza emocional e agressão física

Path coeficientes Kappa Square

Agressão Física B SE B 95% IC t K2 SE 95% IC Frieza Emocional .233 .051 [.132, .334] 4.58* Desinibição .l81 .040 [.101, .260] 4.48* Efeito direto .178 .053 [.073, .284] 3.34* Efeito indireto .055 .030 [.007, .122] .09 .046 [.015, .195] * p< .05 Tabela 4

Efeito indireto da BSSS total na relação entre frieza emocional e agressão física

Path coefficientes Kappa Square

Agressão física B SE 95% IC t K2 SE 95% IC Frieza Emocional .232 .501 [.133, .331] 4.63* BSSS Total .483 .108 [.269, .606] 4.47* Efeito direto .164 .052 [.062, .266] 3.18* Efeito indireto .068 .025 [.028, .127] .11 .038 [.049, .198] * p< .05

Os resultados destas análises demonstraram que foram assumidas as condições necessárias, propostas pelos autores Preacher e Hayes (2004): 1) os elevados níveis de traços calosos/não-emocionais (frieza emocional) encontram-se associados a uma maior procura de sensações (desinibição e BSSS total); 2) maiores níveis de traços calosos/não-emocionais (frieza emocional) e procura de sensações (desinibição e BSSS total) encontram-se associados a uma maior agressão física; 3) o efeito direto da relação entre os traços

calosos/não-emocionais (frieza emocional) e a agressão física é evidente, no entanto este estudo vem a explicar que essa mesma relação não é direta, ou seja, ela existe, mas é mais evidente e mais forte com a presença da variável mediadora, ou seja, de traços ligados a procura de sensações e à desinibição. De uma formal geral, as variáveis em estudo (traços calosos/não-emocionais, agressão física e procura de sensações) encontram-se numa constante correlação positiva entre as mesmas. Os resultados apontam para uma mediação parcial da procura de sensações na relação entre os traços calosos/não-emocionais e a agressão física, uma vez que o efeito

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23 indireto significativo é considerado como médio, não existindo uma anulação do efeito direto da variável independente na variável dependente.

Discussão

O presente estudo assumiu como principal objetivo testar o papel dos traços calosos/não-emocionais no desenvolvimento da agressão física em jovens agressores institucionalizados, bem como analisar o papel mediador da procura de sensações na associação entre os traços calosos/não-emocionais e a agressão física.

Como já descrito anteriormente, os traços calosos/não-emocionais são avaliados pelo ICU em três dimensões (frieza emocional, não emocionalidade e despreocupação emocional); a procura de sensações, avaliada pela BSSS, em quatro dimensões (procura de emoções e aventura, desinibição, procura de experiências e intolerância ao aborrecimento) e a agressão física pelo BPAQ-SF, sendo apenas essa a dimensão utilizada. Para uma melhor compreensão e discussão dos resultados obtidos, é pertinente ter em atenção que para a realização dos mesmos, apenas foram utilizadas as dimensões que apresentavam boas consistências internas (frieza emocional, não emocionalidade, agressão física, desinibição, BSSS total e ICU total).

O presente estudo sugere que a presença de traços calosos/não-emocionais nos jovens delinquentes, nomeadamente a frieza emocional, contribuem para a agressão física, podendo considerar-se um preditor do comportamento antissocial e agressivo. Desta forma, indivíduos com maiores níveis de frieza emocional apresentam uma maior ocorrência de

comportamentos agressivos. As conclusões formuladas vão ao encontro à literatura existente que indicam que os jovens com maiores níveis de traços calosos/não-emocionais possuem maiores níveis de perturbação de comportamento grave, delinquência e agressão (Dadds et al., 2005; Frick et al., 2005; Frick & White, 2008; Pechorro et al., 2012), podendo assim

considerar-se os traços calosos/não-emocionais como preditores da agressão física. Através da análise dos resultados, também foi possível verificar uma associação entre os traços de frieza emocional e os traços de procura de sensações. Vários estudos também indicam que a

existência de uma correlação significativa entre os traços calosos/não-emocionais e a procura de sensações (e.g., Essau et al., 2006). Esse estudo é consistente com pesquisas anteriores que mostram que as crianças com maiores níveis de traços calosos/não-emocionais evidenciam uma preferência mais forte por comportamentos de procura de sensações (Barry et al., 2000;

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24 Frick et al., 2003). Na mesma linha de pensamento, o estudo de Frick e Morris (2004) sugere que um temperamento relacionado à falta de inibições comportamentais pode colocar a criança em risco de problemas no desenvolvimento da culpa e empatia, podendo ser um fator crucial no desenvolvimento de traços calosos/não-emocionais. Percebe-se assim a relevância dos traços de personalidade delineados e também o papel dos traços de procura de sensações, como constructo que pode contribuir para a compreensão das interações sociais, verificando-se a influência dos mesmos na explicação das condutas desviantes (Vasconcelos et al., 2008). Os resultados do estudo corroboram também com outras pesquisas já realizadas, que indicam a existência de uma relação positiva entre a procura de sensações e o comportamento

agressivo (Arnett, 1996; Formiga et al., 2008).

Após a análise dos resultados, torna-se pertinente destacar as implicações práticas inerentes à realização do presente estudo, no que diz respeito à importância da compreensão do papel mediador da procura de sensações na relação entre os traços calosos/não-emocionais e a agressão física.

A nível clínico, para intervir em adolescentes institucionalizados com perturbação de comportamento, torna-se necessário avaliar as competências emocionais (capacidade de identificar e gerir as suas emoções, por exemplo) e as componentes afetivas que colocam a criança em risco, bem como os motivos para a prática criminal. Dado que os adolescentes apresentam diferentes trajetórias desenvolvimentais é necessário identificar o padrão de desregulação emocional próprio de cada indivíduo, nomeadamente a presença ou ausência de traços calosos/não-emocionais (Frick et al., 2000; Frick & Ellis, 1999). Uma vez que os traços de frieza ou insensibilidade emocional referem-se a características muito específicas de cada indivíduo (Barroso, 2012), torna-se pertinente focar a intervenção clínica nas características da personalidade dos adolescentes agressores, de forma a que estes desenvolvam as suas competências emocionais. Apesar de os traços calosos/não-emocionais se mostrarem fortes preditores do comportamento agressivo, é possível concluir que o efeito direto dessa relação é anulado com a presença da variável procura de sensações, que mostra ter um papel mediador. Ou seja, a relação entre os traços calosos/não-emocionais e a agressão física não é direta tornando-se mais forte e evidente com a presença da variável mediadora, ou seja, de traços de procura de sensações. Um agressor físico apresenta uma tendência para evidenciar traços de frieza emocional, mas estes traços não descrevem na totalidade a sua personalidade, nem justificam todo o seu comportamento. A dimensão dos traços calosos não-emocionais nos adolescentes não afeta diretamente a agressão física, o que acontece neste caso, é que os

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25 traços de frieza emocional influenciam outros traços da personalidade (neste caso, a

desinibição e a procura de sensações), que por sua vez, influencia a tomada de um comportamento agressivo.

Aquando o enfoque das características da personalidade, os resultados do presente estudo, permitiram verificar que uma intervenção somente focada nos traços/calosos-emocionais poderá apresentar resultados diretos significativos na diminuição do comportamento

agressivo, contudo não se tornará suficiente. Uma vez que os jovens se diferenciam ao nível emocional e cognitivo, é pertinente explorar outras características da personalidade que auxiliem na diminuição da aquisição de comportamentos de risco, como por exemplo, a procura de sensações. Tal como indica a literatura (Zuckerman, 1994), este traço próprio da adolescência é entendido como uma predisposição para o comportamento delinquente. Ao explorar a importância que o jovem dá à procura de sensações e emoções intensas (Formiga et al., 2008), o terapeuta poderá ser capaz de compreender melhor a razão do comportamento delinquente adoptado pelo adolescente. Contudo, esta não constitui a principal motivação do comportamento desviante porque não é considerado como um revelador do funcionamento psicopatológico e antissocial. É neste sentido que surge a necessidade de avaliar o indivíduo através da associação entre os traços calosos/não-emocionais, a procura de sensações e a desinibição, para que seja possível diminuir o comportamento agressivo. Os resultados do presente estudo sugerem que apesar da importância individual de ambas as variáveis da personalidade em questão, estas nunca devem ser tidas em conta separadamente na avaliação do comportamento agressivo do jovem.

Uma das possíveis estratégias de intervenção a jovens agressores institucionalizados que apresentam níveis elevados de traços de frieza ou insensibilidade emocional e de procura de sensações e desinibição poderá centrar-se na adopção de programas de estratégias de

regulação emocional com o objetivo de controlar as suas emoções e de encontrar um equilíbrio na regulação das mesmas. Estes programas também são aplicados de forma a modificar algumas das crenças adquiridas pelos jovens ao longo da sua trajetória delinquencial e de torná-los capazes na avaliação das consequências dos seus comportamentos. O programa Agression Replacement Training (ART) – Treino de

Substituição de Agressividade, desenvolvido por Goldstein e Glick (1987) é um exemplo de uma intervenção cognitiva-comportamental em jovens cronicamente agressivos. O programa é organizado em três componentes, nomeadamente a comportamental ou de ação, com o treino de competências sociais, a componente emocional e, por fim, a componente de valores,

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26 com o treino de raciocínio moral. Dado que os adolescentes que manifestam problemas de comportamento agressivo são indivíduos mais excitáveis e mais ativos (Zuckerman & Link, 1968), torna-se necessário e interessante recorrer a estratégias de relaxamento (Roeder & Lima, 2000) para que seja possível diminuir essa excitabilidade.

Contudo, é importante salientar que nem sempre se verifica uma total adesão dos

adolescentes institucionalizados, uma vez que o comportamento agressivo se apresenta como um dos desafios da intervenção com adolescente e intervenção emocional nos mesmos, dado que jovens com comportamentos antissociais e delinquentes apresentam atitudes de oposição com padrões de irritabilidade, explosões de raiva, comportamento agressivo que resultam em dificuldade de resolução de problemas.

Apesar das implicações práticas apresentadas, o estudo deparou-se com algumas limitações no decorrer da investigação. Como já referido anteriormente, apenas algumas das dimensões dos instrumentos utilizados apresentavam consistências internas adequadas, facto que condicionou a análise total de todas as dimensões do instrumento. No que diz respeito à dimensão não emocionalidade do instrumento ICU, esta encontra-se negativamente

correlacionada, sugerindo que quanto maior a não emocionalidade, menor a frieza emocional, a agressão física, a desinibição e a procura de sensações. Contudo, uma vez que estes

resultados não se mostram consistentes com os vários estudos e assim, não apresentavam um racional teórico compreensível, procedeu-se à testagem dos efeitos mediadores excluindo essa dimensão. Relativamente à BSSS, apesar desta escala não se encontrar aferida para a

população portuguesa, o seu uso tornou-se justificativo dada à pertinência do estudo desta variável.

A faixa etária da amostra em estudo mostrou-se justificativa com a literatura, uma vez que a maioria dos adolescentes cometeu o primeiro delito por volta dos 14 anos e as infrações encontram-se associadas à fase da adolescência (Lemos, 2010). Deste modo, considera-se relevante, em investigações futuras, distinguir os jovens agressores sexuais e não sexuais na associação entre os traços calosos/não-emocionais e a procura de sensações.

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27 Referências

American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (5th ed., text rev.). Washington, DC: American Psychiatric Association. Arnett, J. (1994). Sensation seeking: A new conceptualization and a new scale. Personality

and Individual Differences, 16(2), 289-296.

Arnett, J. (1996). Sensation seeking, agressiveness, and adolescente reckless behavior. Personality and Individual Differences, 20(6), 693-702.

Barry C. Frick P., DeShazo, T. McCoy M., Ellis M., & Loney, B. (2000). The importance of callous-unemotional traits for extending the concept of psychopaty to children. Journal of Abnormal Psychology, 109(2), 335-340.

Barroso, R. (2012). Características e especificidades de jovens agressores sexuais (Tese de Doutoramento não Publicada). Departamento de Educação da Universidade de Aveiro, Aveiro.

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Figura 1. Modelo representativo das hipóteses em estudo. H1: Efeito direto – a variável independente (X) afeta a  variável dependente (Y); H2: Efeito indireto – a variável independente (X) afeta a variável dependente (Y)  através da variável mediadora (M)
Figura 2. Modelo de mediação múltipla da relação entre frieza emocional, procura de sensações (desinibição e  BSSS total) e agressão física

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