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Conservação ambiental: a busca pela qualidade de vida como elemento motivador de movimentos migratórios

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Academic year: 2021

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CONSERVAÇÃO AMBIENTAL: A BUSCA PELA QUALIDADE DE VIDA COMO ELEMENTO MOTIVADOR DE MOVIMENTOS MIGRATÓRIOS1

Mauro Augusto dos Santos2 Renata Bernardes Faria Campos3 Kênia Lima Dias4

INTRODUÇÃO

A migração é um fenômeno extremamente complexo e há uma infinidade de trabalhos publicados que tentam explicar os motivos que levam os indivíduos a deixarem seus locais de origem para irem viver em outros lugares, seja dentro de seu próprio país ou no exterior. Embora não seja o objetivo desse trabalho tentar esgotar a discussão sobre os motivos que levam os indivíduos a migrarem, podemos destacar que a motivação econômica para esses movimentos populacionais aparece em grande parte desses trabalhos, em alguns destacando as diferenças regionais em termos de oferta e demanda de trabalho (RAVENSTEIN, 1885; LEWIS, 1954; RANIS; FEI, 1961), em outrosa existência de diferenças salariais ou nas taxas de emprego (SJAASTAD, 1962; TODARO, 1969; HARRIS; TODARO, 1970).

Para alguns autores, mesmo em um cenário no qual não haja diferenças salariais a migração poderia continuar ocorrendo, tendo em vista que a decisão de migrar seria tomada em conjunto pelos membros do domicílio e esses controlariam o risco de queda no padrão de vida, o que os levaria a diversificar a alocação de recursos, podendo alguns membros migrarem (STARK; BLOOM, 1985; STARK; TAYLOR, 1989; STARK; TAYLOR, 1991; TAYLOR, 1986).

A migração também pode estar associada a etapas do ciclo de vida dos indivíduos. Com o avanço da idade, fatores como a aposentadoria, por exemplo, podem levar a migração de retorno para os locais de origem ou para outros lugares em busca de maior proximidade com familiares. Tais movimentos migratórios

1

Trabalho apresentado no XI Encontro Nacional sobre Migrações, realizado no Museu da Imigração do Estado de São Paulo, em São Paulo, SP, entre os dias 9 e 10 de outubro de 2019.

2

Doutor em Demografia pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Professor adjunto do Programa de Mestrado em Gestão Integrada do Território na Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE.

3

Doutora em Entomologia pela Universidade Federal de Viçosa – UFV. Professora adjunta do Programa de Mestrado em Gestão Integrada do Território na Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE.

4 Mestre em Gestão Integrada do Território pela Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE. Analista

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também podem ser motivados pela busca de amenidades, tais como o contato com a natureza, clima agradável, baixos índices de criminalidade, menor custo de vida, emaior acesso a tratamentos de saúde (OJIMA; AZEVEDO; OLIVEIRA, 2015; CAMPOS; BARBIERI, 2013; CAMPOS; BARBIERI; CARVALHO, 2008).

Marliéria é um pequeno município do estado de Minas Gerais, pertencente a região geográfica intermediária de Ipatinga e região geográfica imediata de mesmo nome. O município foi criado pela Lei Estadual nº 1039, de 12 de dezembro de 1953, tendo sido desmembrado de São Domingos da Prata. Possui uma área do de 545,8 km² e uma população, segundo os dados do Censo Demográfico de 2010, de 4.012 habitantes, sendo que 70,89% desses residiam nas duas áreas urbanas do município, a sua sede e o distrito de Cava Grande.

Apesar de ser um município pequeno, com mais de 60 anos, que apresentou taxas de crescimento populacional negativa em quase todo o período compreendido entre 1970 e 2010, e de ter uma economia pouco dinâmica, chama a atenção o fato de que, segundo os dados do último censo, 46,4% de sua população não era nascida no município, sendo que desses, 41,0% tinham mais de 10 anos e residiam a no máximo 10 anos em Marliéria.

Uma possível resposta para o fato do município atrair migrantes, seria a busca desses por amenidades, principalmente o contato com a natureza, uma vez que Marliéria possui grande parte do seu território ocupado por áreas de preservação ambiental. Parte dos imigrantes em Marliéria estaria interessada em uma melhor qualidade de vida, proporcionada pela maior proximidade com a natureza?

Visando responder a essa questão, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental e utilizados dados secundários de diversas fontes para caracterizar o município de Marliéria. Além disso,procedeu-se a análise dos dados provenientes de um survey realizado entre os meses de junho e julho de 2018, abrangendo a sede do munícipio, o distrito de Cava Grande e sete comunidades rurais. Foi realizada uma amostragem aleatória simples sem reposição e, considerando-se um universo de 1.244 domicílios no município, um nível de confiança de 95,0% e uma margem de erro de 5,0%, foram entrevistados 290 chefes de domicílio5.

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O projeto de pesquisa, sob coordenação do primeiro autor desse artigo e contando com demais na equipe de trabalho, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Vale do Rio Doce (CEP – UNIVALE), com o parecer nº 2.573. 682.

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O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001. Contou também apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – Fapemige da rede Terra Água (CNPQ/CAPES/FAPEMIG).

O MUNICÍPIO DE MARLIÉRIA

Considerando a evolução populacional de Marliéria no período compreendido entre 1970 e 2010, o município não apresentou taxa de crescimento médio anual (TCMA) negativa apenas na década de 1990 (1,50) – ver Tabela 1. Os dados mostram que o grau de urbanização subiu de 14,72% em 1970 para 19,48% em 1980, se mantendo próximo a 22,0% nos Censos de 1991 e 2000, para então dar um salto, vindo a atingir 70,89% em 2010.

O que explica esse grande salto no grau de urbanização no município entre os censos de 2000 e 2010 é a criação do distrito de Cava Grande no período intercensitário6. Embora Cava Grande, com sua respectiva população, sempre tenha feito parte do município de Marliéria, como não existia formalmente enquanto distrito, a área urbana do município, até o Censo Demográfico de 2000, computava apenas a sede. Com a criação do distrito, a população do mesmo passou a ser computada como residente em área urbana. Em 2010, a população de Cava Grande representava 67,7% da população urbana de Marliéria e 59,2% da população total.

TABELA 1 – Marliéria: evolução da população e taxas de crescimento médio anual por situação de domicílio

Fonte: IBGE (Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010).

[08:37, 21/10/2019] Renata - GIT: 2) Tivemos também auxílio financeiro da Fapemig (projeto do Haruf) e da rede Terra Água (CNPQ/CAPES/FAPEMIG)

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O distrito foi criado a partir da Lei Municipal nº 863, de 2 de maio de 2006.

Urb. Rural Total Urb. Rural Total Urb. Rural Total Urb. Rural Total Urb. Rural Total

655 3.795 4.450 801 3.310 4.111 769 2.771 3.540 885 3.159 4.044 2.844 1.168 4.012 14,72 85,28 100,00 19,48 80,52 100,00 21,72 78,28 100,00 21,88 78,12 100,00 70,89 29,11 100,00 Cresc. 1970 pop. Urb. Cresc. 1970 pop. rural Cresc. 1970 pop. total Cresc. 1980 pop. Urb. Cresc. 1980 pop. rural Cresc. 1980 pop. total Cresc. 1990 pop. Urb. Cresc. 1990 pop. rural Cresc. 1990 pop. total Cresc. 2000 pop. Urb. Cresc. 2000 pop. rural Cresc. 2000 pop. total 2,03 -1,36 -0,79 -0,37 -1,60 -1,35 1,59 1,48 1,50 12,38 -9,47 -0,08 1970-1980 1980-1991 1991-2000 2000-2010 1970 1980 1991 2000 2010

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Como já ressaltado anteriormente, segundo os dados do Censo Demográfico de 2010, 46,4% da população residente em Marliéria não era nascida no município. Considerando que no local não há um hospital e que Marliéria está muito próxima de outros municípios com melhor estrutura em termos de serviços de saúde7, é de se esperar que parte de sua população residente tenha apenas nascido em outro município, onde foi feito o seu registro de nascimento, vindo a residir, logo depois, em seu território. Com o objetivo de se eliminar esses casos, excluiu-se os indivíduos não nascidos em Marliéria cuja idade era igual ao tempo de residência no município. Ainda assim, o percentual se manteve elevado, totalizando 44,2% da população residente na época de realização do censo (n = 1.772).

Havia, um maior percentual de pessoas idosas, com idade igual ou superior a 60 anos, entre os residentes de Marliéria que não haviam nascido no município. Entre os indivíduos nascidos em Marliéria e que lá sempre viveram – grupo que representava exatamente 50,0% da população residente8 –, os indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos, totalizaram 11,4%, percentual próximo ao do estado de Minas Gerais (11,8%) e do Brasil (10,8%). Já entre os indivíduos que estavam residindo em Marliéria na época da realização do censo, mas que não haviam nascido no município, o percentual de idosos com 60 anos ou mais era de 18,2%.

Apresentando uma ligação direta ao maior percentual de idosos, temos que é também maior o percentual de indivíduos que declararam receber pensão ou aposentadoria entre os não nascidos no município, totalizando 21,5%, em relação aos que nasceram e que lá sempre viveram (16,0%).

Deixando os aspectos demográficos e considerando os econômicos, temos que município apresentou, em 2016, um PIB de R$38.899.000,00, sendo que o valor adicionado bruto pelo setor agropecuário foi de 13,9% e, pela indústria, apenas 3,7%. O setor de serviços foi responsável por 78,8% do PIB do município, ressaltando que somente o valor adicionado bruto pela administração pública representou 49,4%. O fato de quase 50,0% do PIB municipal estar associado a administração pública é um bom indicador do cenário de estagnação econômica em que se encontra Marliéria, com um fraco desempenho tanto do setor industrial quanto do agropecuário.

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Sendo os principais Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo.

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Os que nasceram em Marliéria, mas que haviam residido em outro município anteriormente, totalizaram apenas 3,6% da população residente.

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Com os seus 299,6 km², o Parque Estadual do Rio Doce (PERD) ocupa 55,1% da área de Marliéria. Dentro do município ainda se encontram duas áreas de preservação ambiental, a do Jacroá e a do Belém, que ocupam, respectivamente, 54,0 km² (9,9%) e 32,5 km² (6,0%). Ou seja, mais de 70,0% da área de Marliéria é constituída por unidades de conservação, o que limita muito as possibilidades de uso e ocupação do solo.

O PERD é a mais antiga unidade de conservação criada em Minas Gerais, tendo sido oficialmente criado pelo então governador do estado, Benedito Valadares, em 14 de julho de 1944, através do Decreto-Lei nº 1.119 (RIBEIRO, 2009).

O parque, aberto ao turismo desde 1967, foi fechado em 1986 para reforma e só reaberto em 1993, para pesquisa, recreação e turismo. Nos sete anos que ficou fechado para reforma, por quatro anos as obras ficaram paradas, em função de mudança da administração do Estado (IEF, 2019).

O PERD possui uma área de 35.976,4 hectares, sendo a maior floresta tropical de Minas Gerais e o terceiro maior fragmento de Mata Atlântica do país (SOS Mata Atlântica, 2018). É considerado também o terceiro maior sistema lacustre do país. Tendo sua importância reconhecida tanto nacional quanto internacionalmente, o PERD é a primeira unidade de conservação de Minas Gerais a deter o sítio Ramsar, sendo também reconhecido, pela Unesco, como Área Núcleo da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica no estado. O parque possui área de camping com capacidade para atender a 500 pessoas, alojamentos, vestiários, restaurante, anfiteatro, auditório, centro de treinamento e ampla área de estacionamento, possibilitando aos seus visitantes a realização atividades como banho, caminhada, camping, passeio de barco, observações astronômicas, trilhas, teatro e pesca (IEF, 2019).

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FIGURA 1 – Localização do Parque Estadual do Rio Doce

Fonte: Plano de Manejo do Parque Estadual do Rio Doce – IEDE, GEMOG-IEF (2008).

Se por um lado possuir uma área tão grande de seu território ocupada por unidades de conservação limita as possibilidades de uso do solo no município, por outro lado, Marliéria, desde 2011 é o município mineiro com maior valor de repasse financeiro de ICMS referente ao critério de meio ambiente (ICMS Ecológico).

No Estado de Minas Gerais, a Lei n° 12.040 – que ficou conhecida como Lei Robin Hood –, de 28 de dezembro de 1995, criou novos critérios para a distribuição da cota-parte do ICMS devido aos municípios, incluindo o critério ambiental. Desde que foi promulgada, a Lei Robin Hood sofreu diversas alterações até que, em 12 de janeiro de 2009, foi aprovada e publicada a Lei n° 18.030, que atualizou os critérios e os percentuais para a distribuição do ICMS aos municípios. Essa lei entrou em vigor em janeiro de 2010, mas a distribuição realizada com base nos novos critérios foi iniciada em 2011, estando ainda em vigor. De acordo com os novos critérios e percentuais, os municípios que acrescentam maiores valores nas operações de entradas e saídas de mercadorias e/ou prestações de serviços de transporte e de comunicação em seu território, em determinado ano civil, têm direito a 75% dos 25% do valor arrecadado pelo Estado de Minas Gerais e que será distribuído aos municípios em um dado ano civil. O critério meio ambiente passou a representar

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1,10% dos 25% do ICMS a serem repassados para os municípios, possuindo alguns fatores associados à sua pontuação, todos ligados a proteção das unidades de conservação ambiental e aos serviços de saneamento básico prestados à população.

No ano de 2017, o município de Marliéria recebeu R$3.459.538,99 referentes ao repasse do ICMS, sendo que, desse valor, 58,1 % foi referente ao critério meio ambiente. Entre 2013 e 2016, o valor do ICMS Ecológico oscilou entre 57,0 e 59,0% do repasse total feito ao município.

Em 2017, o valor proveniente do repasse do ICMS à Marliéria representou 18,7% de toda receita pública realizada naquele ano. E o critério meio ambiente sozinho representou 10,9% (R$ 2.010.363,79). Esses números reforçam a importância do ICMS Ecológico para as finanças do município.

Os dados apresentados nessa seção mostram, de forma bem suscinta, um retrato de Marliéria. Trata-se de um município pequeno, com uma economia nada dinâmica e que possui quase três quartos de sua área ocupada por áreas de preservação ambiental, o que acaba representando um entrave para o crescimento do município – tanto economicamente como em termos de expansão da mancha urbana. Apesar disso, os dados também mostram que o município foi escolhido como local de residência por uma população que ali não nasceu e que hoje representa quase metade do seu contingente populacional.

Na próxima seção são apresentados alguns dados do survey realizado em Marliéria em 2018 com o objetivo de se obter alguns elementos que expliquem essa atratividade de migrantes.

A PESQUISA REALIZADA NO MUNICÍPIO

Na pesquisa realizada em Marliéria, 53,4% (n=290) dos chefes de domicílios entrevistados não haviam nascido no município, percentual um pouco mais elevado que o encontrado no Censo Demográfico de 2010 (46,4%). A maior parte desses indivíduos (72,3%) nasceram em 23 municípios localizados dentro de um raio de 100 quilômetros de Marliéria, com destaque para os municípios de Timóteo (23,4%), Dionísio (12,6%), Raul Soares (9,0%), São José do Goiabal (8,1%), Coronel Fabriciano (8,1%) e São Domingos do Prata (6,3%). O percentual de indivíduos que nasceram em municípios mais distantes de Marliéria é significativo (28,7%), sendo que os indivíduos desse grupo se distribuíam entre 30 municípios de origem, com

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destaque para: Ferros (3,2%), Governador Valadares (2,6%) e Belo Horizonte (1,9%).

Entre os que não haviam nascido em Marliéria (n=155), 64,5% residiam em Cava Grande, 13,5% na sede do município e os demais na zona rural (22,0%). Com relação ao sexo dos entrevistados, houve um ligeiro predomínio do sexo masculino (53,5%) em relação ao feminino. A idade média era de 50 anos, com desvio padrão de 16 anos. A maioria era casado (63,2%), sendo que os indivíduos solteiros representavam o segundo maior grupo, com 18,1% dos entrevistados, sendo seguido pelo dos viúvos, com 11,0%.

O nível de escolaridade era baixo, com mais da metade (67,7%) tendo concluído, na época da realização da pesquisa, no máximo o ensino fundamental (incluindo 6,5% de analfabetos e 3,2% de indivíduos que nunca haviam frequentado uma escola). Os que haviam concluído o ensino médio totalizaram 23,2% e os que haviam concluído um curso superior, apenas 9,0%.

Entre os não nascidos em Marliéria, 40,0% não estavam trabalhando na época da pesquisa, sendo que desses (n=62), a maior parte tinha como principal fonte de renda a aposentadoria (72,6%)9.Entre os que estavam trabalhando (n=93), as principais ocupações foram: empregados do comércio (12,9%), funcionário público (9,7%), diarista ou empregada doméstica (9,7%), comerciante (8,6%), trabalhadores da construção civil (7,5%) e trabalhadores rurais (7,5%).

Do total de 290 chefes de domicílio entrevistados, apenas um afirmou não conhecer ou já ter ouvido falar do PERD. Em 93,8% dos casos, o entrevistado ou alguém da família já havia visitado o parque, sendo que 76,5% (n=272) afirmaram que já haviam realizado alguma atividade de lazer no PERD ou que alguém da família já havia realizado.

Considerando apenas os indivíduos não nascidos em Marliéria (n=155), 91,0% afirmaram que eles próprios ou alguém da família já haviam visitado o parque, apesar da maioria (71,6%) ter afirmado que o visitavam raramente.

Quando indagados se o PERD seria bom para o município de Marliéria, 95,6% dos entrevistados nascidos no município (n=135)10 responderam que sim,

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Os aposentados representaram 29,0% dos não nascidos em Marliéria.

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O grupo de indivíduos que nasceram em Marliéria mas que já haviam residido em outro município ou país estrangeiro é composto por apenas 16 indivíduos, o que inviabiliza qualquer tipo de análise considerando o grupo. Optamos por agregar esses indivíduos ao grupo dos que nasceram e sempre viveram em Marliéria.

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apenas 2,2% responderam que não e o mesmo percentual não soube responder a questão. Entre os não nascidos em Marliéria, 89,0% responderam que sim, 4,5% responderam que não e 6,5% não souberam responder.

Entre os nascidos em Marliéria, 32,8% justificaram sua resposta afirmando que o parque é uma opção de lazer para os moradores – alguns chegaram a afirmar, durante a entrevista, que seria a única – 24,8% afirmaram que ele gera renda a partir do turismo ecológico; 13,1% destacaram os incentivos financeiros recebidos pelo município para a conservação do parque; 12,4% afirmaram que ele possibilita o contato da população com a natureza e 8,0% afirmaram que ele permite a preservação da fauna e flora local. Essas também foram as principais justificativas dadas pelos indivíduos não nascidos em Marliéria, com pequenas diferenças nos percentuais. Nesse grupo, a principal justificativa apresentada foi a de que o PERD geraria renda para o município a partir do turismo ecológico (31,0%), com 21,7% dos entrevistados afirmando que o parque é uma opção de lazer para os moradores. Os incentivos financeiros recebidos pelo município para a conservação do parque também aparecem como terceira justificativa mais dada, sendo destacados por 16,3% dos entrevistados. Por fim temos, como no grupo dos nascidos no município, o fato do PERD permitir a preservação da fauna e flora local (11,6%) e de possibilitar o contato da população com a natureza (4,7%).

Por outro lado, quando indagados se o PERD geraria algum problema para Marliéria 80,5% dos chefes de domicílio não nascidos no município afirmaram que não e 14,3% afirmaram que sim. Já entre os nascidos em Marliéria, os percentuais foram de 91,1% e 8,9% respectivamente. Apesar do pequeno número de respostas afirmativas nos dois grupos, a principal justificativa apresentada foi a de que a existência do parque impossibilitaria a instalação de indústrias no município.

Também foi indagado aos entrevistados se o PERD geraria empregos para o município (tanto diretos ou indiretos). O percentual de respostas afirmativas entre o grupo formado pelos nascidos no município (83,0%), foi maior que entre os não nascidos em Marliéria (72,7%).

Com relação ao recebimento do ICMS Ecológico pelo município de Marliéria, tal informação era do conhecimento da maioria dos indivíduos que compunham os dois grupos. Mesmo o nome do imposto não sendo conhecido por todos, a maioria dos entrevistados afirmou que sabia que Marliéria recebia recursos financeiros do Estado de Minas Gerais devido ao fato da maior parte das terras do município

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estarem dentro do parque ou de outras áreas de preservação ambiental, sendo 71,1% entre os nascidos no município e 66,9% no outro grupo. Entre que sabiam que Marliéria recebia esse tipo de recurso, nos dois grupos, o percentual que afirmou que ele era muito ou extremamente importante para o município foi de 55,0%. Entre os nascidos no município, 25,0% consideraram essa fonte de recursos importante e entre os não nascidos em Marliéria, esse percentual foi de 29,6%. Nos dois grupos, o percentual de indivíduos que afirmaram que o valor era pouco importante foi de aproximadamente 7,0%.

Por fim, foi indagado aos entrevistados se, na opinião desses, o PERD contribuía, atrapalhava, ou se a sua existência não afetaria em nada o desenvolvimento de Marliéria, ressaltando que não foi atribuído nenhum significado específico para o que o entrevistado devesse entender por desenvolvimento. Entre o grupo dos nascidos no município, apenas 5,2% afirmou que o parque atrapalharia o desenvolvimento de Marliéria, ao passo que, no outro grupo, esse percentual foi ligeiramente superior (6,5%). A maior parte dos dois grupos considerou que o PERD contribuía para o desenvolvimento de Marliéria, com 68,9% entre os nascidos no município e 55,5% entre os não nascidos. O percentual dos não nascidos no município (34,8%) superou o dos nascidos (20,7%) considerando, entre esses, os que consideravam que o PERD não tinha nenhuma influência no que diz respeito ao desenvolvimento de Marliéria.

FIGURA 2 – O PERD contribui, atrapalha ou não interfere no desenvolvimento de Marliéria

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As características do município, ressaltadas na seção anterior, e os dados até aqui apresentados, destacando a importância atribuída ao PERD para os moradores de Marliéria – lembrando que o parque foi criado em 1944, nove anos antes da emancipação do município – parecem reforçar a ideia de que no lugar exista uma valorização do meio ambiente saudável, o que implicaria em uma melhor qualidade de vida para a população. Até mesmo o retorno econômico que o parque – e as outras unidades de conservação – possibilitam ao município através do recebimento do ICMS Ecológico e da renda gerada a partir do turismo na região era percebido pelos chefes de domicílio que compuseram a amostra da pesquisa. Essas características associadas a proximidade e fácil acesso a outros municípios com melhor infraestrutura em termos de serviços – principalmente no que diz respeito a saúde – poderia explicar o fato de aproximadamente metade da população residente não haver nascido em Marliéria11.

Contrastando com a importância atribuída ao PERD, quando indagados sobre o que uma cidade deve ter para que seus moradores possuam qualidade de vida, as respostas dadas pelos que não nasceram em Marliéria não diferiram muito das dos que nasceram no município, como pode ser observado na Tabela 2. A diferença maior está na importância dada as questões ligadas ao saneamento básico, que foram mais destacadas pelos não nascidos no município. Entretanto, o que mais chama a atenção é a baixa importância dada pelos dois grupos a necessidade de se ter um ambiente preservado. Nos dois grupos ela ocupa a sétima posição com menos de 5,0% das respostas dadas a questão. A necessidade de se ter mais oportunidades de empregos, o que em parte implicaria na instalação de mais empresas no município foi muito citada pelos dois grupos, com maior percentual de respostas entre os nascidos no município (21,5%) que entre os não nascidos (18,7%).

11

Lembrando que, segundo os dados do survey, 72,3% dos entrevistados nasceram em municípios localizados dentro de um raio de 100 quilômetros de Marliéria.

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TABELA 2 – O que é necessário para que a população tenha uma boa qualidade de vida

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa.

Quando indagados sobre o que faltava em Marliéria para que sua população tivesse uma boa qualidade de vida, 10,4% dos nascidos no município afirmaram que não faltava nada, enquanto, entre os não nascidos, esse percentual foi de apenas 5,2%. Como pode ser observado na Tabela 3, ter mais oportunidades de emprego foi a resposta com maior percentual nos dois grupos, ficando com 37,8% entre os nascidos no município e 30,6% entre os não nascidos. Se considerarmos que a terceira resposta mais dada a questão nos dois grupos foi aumentar o número de empresas no município – estando essa diretamente associada ao aumento da oferta de vagas de emprego –, temos que a diferença se torna mínima entre os dois grupos se somarmos as duas respostas dadas, totalizando 45,4% das respostas dadas pelos nascidos no município e 43,8% pelos não nascidos em Marliéria.

TABELA 3 – O que falta em Marliéria para que os seus moradores tenham uma melhor qualidade de vida

Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da pesquisa. O que uma cidade deve ter para que seus

moradores tenham uma boa qualidade de vida

Nasceu em Marliéria (n=135) Não nasceu em Marliéria (n=155) Boa estrutura de atendimento na saúde 24,4 25,2 Investimento em saneamento básico 17,0 23,2

Mais oportunidades de emprego 21,5 18,7

Educação de qualidade 9,6 9,7

Investimento em segurança pública 5,9 6,5

Opções de lazer para a população 4,4 5,2

Um meio ambiente preservado 4,4 3,2

Outros 12,6 8,4

O que falta em Marliéria

Nasceu em Marliéria (n=119) Não nasceu em Marliéria (n=144)

Mais oportunidades de emprego 37,8 30,6

Uma melhor adiministração por parte da prefeitura 11,8 16,7 Aumentar o número de empresas no município 7,6 13,2 Mais investimentos na área da saúde 6,7 2,8 Mais investimentos em saneamento básico 5,9 9,0 Melhorar infraestrutura de transporte 5,0 5,6

Mais investimentos em educação 4,2 7,6

Mais opções de lazer para a população 3,4 0,7

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Os dois grupos apresentaram a necessidade de uma melhor administração por parte da prefeitura como segunda maior demanda do município. Entretanto, não é possível fazer qualquer avaliação sobre a atual gestão municipal ou das gestões recentes. O número de entrevistados que assim responderam à questão foi muito pequeno – apenas 38 indivíduos – e divididos entre o distrito de Cava Grande, a sede e a zona rural de Marliéria. Ou seja, três realidades distintas dentro do mesmo município. Assim sendo, a partir do que se coletou de informações no trabalho de campo, seja de forma estruturada ou a partir de conversas informais, não é possível se fazer nenhuma avaliação sobre a atual gestão municipal, tendo em vista que a mesma foi, na mesma proporção, idolatrada por um grupo de indivíduos entrevistados e taxada de incompetente por outro.

Chama a atenção, entretanto, o fato de que nos dois grupos tenha sido baixo o percentual de entrevistados que apontaram a necessidade de se investir mais na área da saúde – 6,7% entre os nascidos em Marliéria e apenas 2,8% entre os não nascidos. O município possui apenas três estabelecimentos de saúde, um na sede do município e dois no distrito de Cava Grande, não dispondo de um equipamento de raio-x ou de leitos para internação. O fato de os dois grupos não terem ressaltado a necessidade de mais investimentos nessa área está com certeza associado ao fato de Marliéria estar muito próxima e de ter fácil acesso a municípios com melhor estrutura em termos de atendimento a saúde, como Coronel Fabriciano, Timóteo e Ipatinga. Não é por acaso que, apesar do pequeno número de indivíduos que ressaltaram essa carência – apenas 12 –, a maior parte residia na zona rural (75,0%), ou seja, estava distante até mesmo do atendimento básico prestado pelas unidades de saúde do município.

Por fim, com relação a necessidade de mais investimentos em saneamento básico, que foi apontada por 5,9% do indivíduos que nasceram em Marliéria e por 9,0% dos que ali não nasceram – nos dois grupos aparecendo na quinta posição –, deve ser ressaltado que esse é um dos critérios para o recebimento do ICMS Ecológico. Como o município liderou o ranking dos municípios mineiros que mais receberam repasses referentes ao critério meio ambiente entre os anos de 2011 até 2017, e considerando que o repasse desses recursos está vinculado não apenas a conservação ambiental, mas também a serviços de saneamento básico prestados à população, é de se esperar que Marliéria esteja melhor posicionada neste quesito do que outros municípios. O que se tem é que, apesar do pequeno número de

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entrevistados que apontaram este tipo de investimento como sendo algo necessário (n=20), 70,0% desses na verdade destacaram a necessidade de se investir no tratamento de água. Como escutamos algumas reclamações sobre falhas no fornecimento de água e sobre a qualidade dessa no período em que foi realizada a pesquisa, há uma grande probabilidade de que essas respostas reflitam um momento específico e não uma realidade do município.

Em resumo, ambos os grupos – nascidos e não nascidos em Marliéria – atribuíram uma grande importância ao PERD, inclusive associando-o a geração de receita e empregos no município, além de reconhecer a sua importância como importante opção de lazer e garantia de um meio ambiente preservado. Entretanto, como destacado na Tabela 2, o percentual de entrevistados de ambos os grupos que consideraram que ter um meio ambiente preservado é algo essencial para que a população de um lugar tenha uma boa qualidade de vida foi muito baixo nos dois grupos e menor ainda entre os não nascidos em Marliéria (3,2%), cuja hipótese levantada seria a de que teriam escolhido o município para viver justamente pela característica peculiar de possuir grande parte do seu território ocupado por áreas de preservação ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os dados da pesquisa de campo apontaram para o fato de que as características específicas do município de Marliéria, que apresenta quase três quartos do seu território ocupados com unidades de conservação, seja um dos seus atrativos no sentido de atrair migrantes. Isso é indicado principalmente pela grande valorização do Parque Estadual do Rio Doce, que ocupa mais da metade da área do município, e teve a sua importância reconhecida pela grande maioria dos entrevistados.

Entretanto, na opinião dos entrevistados, sejam eles nascidos ou não no município, quando se deseja que a população tenha uma boa qualidade de vida, existem muitas coisas que são mais importantes do que se ter um ambiente preservado.

Apesar do pequeno percentual de entrevistados que afirmaram que o PERD traria problemas para o município, esses problemas foram associados principalmente as restrições no uso do solo, que não pode ser ocupado por novas empresas, principalmente indústrias.

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Some-se a isso a importância dada pelos dois grupos analisados a necessidade de se gerar mais empregos como algo prioritário dentro da lista de carências apontadas no município, e temos, além de uma certa incoerência no discurso, a previsão de enfrentamento de dificuldades no futuro para se garantir a manutenção das áreas de conservação ambiental do município.

Marliéria se revela, por suas características peculiares, como um lugar privilegiado para se analisar a conservação ambiental, associada a qualidade de vida a ela atrelada, como um elemento motivador de movimentos migratórios. Os dados apresentados apenas apontam questões que devem ser aprofundadas em estudos futuros. Como não constava nos objetivos do survey identificar os motivos que levaram a população a escolher o município para viver – ou para o terem deixado –, espera-se que essas respostas sejam encontradas a partir de um novo projeto de pesquisa, focado nestas questões.

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