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Sazonalidade dos nascimentos no Brasil: Sinasc - 2000-2005

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Sazonalidade dos nascimentos no Brasil: Sinasc - 2000-2005

Morvan de Mello Moreira

Palavras-chave: nascimentos; sazonalidade; Sinasc; Brasil.

Resumo

A sazonalidade no número de nascimentos vivos é um fenômeno universal e observado em quase todas as regiões do mundo. Entretanto essa sazonalidade não é homogênea, diferenciando-se não só por regiões, mas, dentro dessas, por características sociodemográficas das mães e ao longo do tempo. Apesar da universalidade do fenômeno não há, ainda, abordagens explicativas das causas da sazonalidade dos nascimentos e não se dispõe de um corpo teórico que dê conta dos fatores explicativos da mesma. Este trabalho tem como objetivo apresentar os dados sobre a sazonalidade dos nascimentos no Brasil no período 2000-2005 e identificar possíveis diferenciais nos padrões de sazonalidade segundo características sociodemográficas da população brasileira. A série temporal provem de mais de 18 milhões de nascimentos vivos registrados pelo Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – SINASC, do Ministério da Saúde. Os dados mensais foram padronizados de forma a se considerar um mês de 30 dias e submetidos às técnicas econométricas de suavização e identificação das componentes temporais. Os resultados mostram uma tendência de declínio na natalidade brasileira, com leve retomada no período recente, fenômeno sujeito ao escrutínio dos dados de 2006. A inspeção visual e procedimentos estatísticos simples apontam que no Brasil a sazonalidade não é muito expressiva e que o pico dos nascimentos acontece no trimestre março-abril-maio, em especial em março, seguido por um pico secundário em setembro. O vale ocorre em outubro-dezembro, com menor incidência de nascimentos em dezembro. Não há diferenças significativas nos padrões de sazonalidade de nascimentos por região ou características sociodemográficas das mães.

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú- MG –

Brasil, de 29 de setembro a 3 de outubro de 2008

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Sazonalidade dos nascimentos no Brasil: Sinasc - 2000-2005

Morvan de Mello Moreira

Introdução

Considerada no agregado, a espécie humana é fecunda em qualquer momento do ano. Entretanto, a desagregação das informações sobre os nascimentos ocorridos durante o ano mostra certa regularidade sistemática e desigual na distribuição mensal dos nascimentos, constituindo a significante variabilidade do número de nascimentos ao longo do ano uma feição comum à maioria das populações nas quais o fenômeno da sazonalidade reprodutiva foi estudado. A ausência de sazonalidade nos nascimentos é um evento incomum (Condon, 1991; Brewis et alli, 1996; Pascual et alli, 2000).

Fruto das taxas de concepção ocorridas nove meses passados, a variabilidade dos nascimentos vivos ao longo do ano resulta da combinação de fatores biológicos, ambientais e socioculturais. Possíveis sazonalidades nos nascimentos prematuros, assim como eventual sazonalidade nos abortos e nas perdas fetais podem constituir ruídos na relação temporal entre a concepção e o nascimento, mas muitos autores consideram-nos de menor significado (Lam, 1994) e, ademais, seria necessário dispor de dados acurados para tal, que, no Brasil, são muito parciais e incompletos. Além do mais, é bastante provável que sua distribuição temporal acompanhe bastante de perto a distribuição das concepções associadas com os nascimentos vivos. Entre os fatores biológicos impactantes sobre a sazonalidade dos nascimentos destaca-se a receptividade endeométrica, a qualidade do sêmem, a taxa de ovulação, além da qualidade dos zigotos, enquanto que entre os fatores ambientais são cada vez mais presentes na literatura os efeitos da temperatura e da intensidade da luminosidade diária – fotoperíodo. Entre os determinantes socioculturais são citados: a urbanização, os ciclos agrícolas, o calendário de lazer, a taxa em que as mulheres adentram a população em risco de conceber, a taxa de uniões, a ordem da parturição, a freqüência dos coitos e o nível da contracepção, entre outros (Rojansky, Brzezinski, Schenker, 1992; Lam; Miron; Riley, 1994; Udry, Morris, 1968; Udry, 1980; White; Hertz-Picciotto, 1985; James, 1990; Bronson, 1995, 2004; Cummings, 2003, 2007; Cowgill, 1966; Levy, 1986; Lam; Miron, 1991; Lérido, 1986; Bobak; Gjonca, 2001; Grech et alli, 2003).

Em que pese inúmeras abordagens explicativas das causas da sazonalidade dos nascimentos, ainda não se tem um entendimento completo de suas razões de ser e não há uma teoria unificadora da sazonalidade da reprodução humana (Seiver, 1985; Doblhammer; Rodgers, Rau, 1999). A ausência de explanações convincentes sobre a sazonalidade dos nascimentos é comentada por vários autores. Seiver (1985) considerava que: “Seasonal variation in American births is one of the great demographic regularities which has never been convincingly explained and only occasionally documented.” (p.89). Lam e Miron (1991) constatam que: “no single

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explanation receives strong, consistent support from the data. Instead, the variation in seasonality patterns across countries as time periods poses a challenge to virtually all existing explanations, without decisively rejecting any of them” (p.51). Doblhammer e outros (1999) afirmam: “the real causes of birth seasonality patterns are still regarded as a ‘puzzle’ and a ‘mystery’” (p.3). Ou, ainda, como esses mesmos autores respondem à indagação sobre fatores causais subjacentes aos intrigantes padrões de sazonalidade dos nascimentos: “although several classes of explanations have been offered (and will be reviewed shortly), we still don’t know.”(p.5)

A distribuição dos nascimentos ao longo do ano apresenta diferenças substanciais não só em termos geográficos, mas também ao longo do tempo (Hoffman; Kawiani, 1976; Lerchl, Simoni, Nieschlag, 1993; Matsuda; Kahyo, 1994; Haandrikman; Wissen, 2008) inclusive com mudanças de padrões observados em países europeus em direção ao padrão Americano (James, 1990). Ainda assim, em que pese a ampla ocorrência desigual no número de nascimentos ao longo do ano calendário entre distintos países, não sendo possível identificar um padrão universal de sazonalidade nos nascimentos, considera-se existirem dois padrões aos quais a grande maioria dos países se filiam. De um lado, o padrão europeu, mais próprio da Europa Setentrional (países nórdicos, Reino Unido, Estônia, Letônia e Lituânia), no qual fica bem definido que o maior número de nascimentos acontece na primavera – em março e abril, principalmente - período em que, nos Estados Unidos – o outro padrão reconhecido -, os nascimentos são menos freqüentes (abril e maio). Por outro lado, nos Estados Unidos são mais freqüentes os nascimentos no período de julho a setembro, meses que antecedem àqueles em que na Europa setentrional os nascimentos são menos numerosos – outubro-novembro. Considerados em termos de estações climáticas, o padrão Europeu tem pico mais elevado na primavera e pico secundário no outono, enquanto o padrão Americano tem o pico maior no outono e o menor na primavera. Assim, o padrão Europeu, com nascimentos no início do ano e declínio constante nos meses subseqüentes, contrasta com o padrão Americano, no qual menos nascimentos acontecem em abril e, daí, um crescendo até o início do outono, seguido por retração nos meses subseqüentes. Ambos os padrões têm em comum um pico secundário de nascimentos em setembro. (Lam, Miron, 1994).

A diversidade de padrões de sazonalidade dos nascimentos é marcante. Entre muitos outros países, em El Salvador o pico de nascimentos ocorre em janeiro (Cowgill, 1966); na Noruega em janeiro-maio (Odegard, 1977); na Áustria em fevereiro (Doblammer; Rodgers, Rau, 1999); mesmo mês em que acontece no Senegal (Pitt et alli, 1997); na Tchecoslováquia o maior número de nascimentos ocorre em março-maio (Bobak; Gjonca, 2001); o mesmo período na Espanha (Cancho-Candela et alli, 2007); no Canadá, em abril-maio (Werschler; Halii, 1992); na Sibéria, em abril-junho (Jongbloet, 2004); na Tailândia, em maio (Miura, 1987); mesmo mês em que ocorre na Irlanda do Norte (Fellman; Eriksson, 1999); no Nepal, em maio e julho (Panter-Brick, 1996); na Escócia, em junho (Fellman; Eriksson, 1999); na Suécia o pico dos nascimentos acontece em junho-julho (Lam; Miron, 1994); na Tanzânia, em junho-outubro (Bantje, 1988); na Croácia, julho-setembro (Polasek et alli, 2005); mesmo período que ocorre em Malta, (Grech et alli, 2003); nos EUA setentrional, em agosto e setembro (Werschlert; Halli, 1992) assim como na Holanda (Haandrikman; Van Wissen, 2008); na Alemanha em setembro (Lerch et alli, 1993); mesmo mês que ocorre em Camarões (Tembon, 1990); em Singapura, Malásia e Hong Kong, em outubro (Abeysinghe, 1991); em Taiwan, em novembro (Abeysinghe, 1991); no Japão, os nascimentos são mais numerosos em dezembro-fevereiro e agosto-setembro (Matsuda; Kahyo, 1994).

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É crescente o reconhecimento do significado dos padrões sazonais dos nascimentos para o planejamento da saúde. Tal importância é especial no que respeita às necessidades de atenção à gestante e ao recém-nascido, provimento da assistência ao parto, assim como quanto à dinâmica das doenças infecciosas, devido às variações nos números de indivíduos suscetíveis às infecções que diferencialmente adentram a população de risco ao longo do ano. Nascimentos sazonais também desempenham papel no desenrolar de distúrbios mentais e afetivos (esquizofrenia, bipolaridade, distúrbios depressivos), alergias (rinite alérgica, asma), distúrbios alimentares e desenvolvimento de outras doenças (autismo, dislexia, tumores, diabetes). A sazonalidade dos nascimentos também tem influências sobre a performance reprodutiva do homem, é importante para o planejamento familiar e para a longevidade humana (Cowgill, 1966; Doblhammer, 1999; Huber et alli, 2004).

Na bibliografia dos estudos populacionais brasileiros, poucas referências são encontradas sobre a sazonalidade dos nascimentos no País. Na escassa bibliografia nacional, em especial no que se refere a estudos em nível agregado, destaca-se o artigo de Giraldelli; Saad (1982) com base nos dados do Estado de São Paulo, para o período 1933-1980, apontando as alterações temporais na sazonalidade dos nascimentos paulistas. Estudos de natureza mais restritos, seja em termos geográficos, temporais ou da população pesquisada, nos quais a sazonalidade não é o objetivo principal, também oferecem informações localizadas sobre a sazonalidade dos nascimentos no Brasil (Chica, 2006; Mickulecki; Lisboa, 2002; Scott, 2006; Martinez et alli, 1998; Ramos et alli, 1981).

É objetivo deste trabalho apresentar os dados sobre a sazonalidade nos nascimentos brasileiros registrados no período 2000-2005 e avaliar a existência de diferencial de sazonalidade segundo a estratificação da população em observação.

Metodologia e dados

A base de dados do estudo é a série temporal constituída pelos 18.481.532 nascimentos vivos registrados de 1 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2005. Os dados são provenientes da base de dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – SINASC, gerido pelo Departamento de Análise de Situação de Saúde, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, publicados em CD-Rom, para o período 1998-2004. Os dados referentes ao ano de 2005 foram obtidos no sítio do Ministério da Saúde, em: http://tabnet.datasus.gov.br/ tabdata/sinasc/dados/nov_indice.htm#dados.

Considerou-se a série temporal disponibilizada pelo Ministério da Saúde a partir do ano 2000 em razão de nos anos anteriores ainda ser muito elevada a proporção de informações sociodemográficas não informadas ou declaradas como ignoradas.

No banco de dados dos registros do SINASC constam todos os registros de nascimentos com informações adicionais do nascido vivo: data do nascimento, sexo, raça/cor, peso, anomalias, Apgar no primeiro minuto e Apgar no quinto minuto, além de dados sociodemográficos sobre a mãe: idade, estado civil, escolaridade, ocupação, município de residência, número de filhos nascidos vivos, número de filhos nascidos mortos, e sobre a gravidez e parto: município de ocorrência do nascimento, local de ocorrência do nascimento, semanas de gestação, tipo de gravidez, tipo de parto, número de consultas pré-natal.

Segundo a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), Nascido Vivo é a expulsão ou extração completa do corpo da mãe, independentemente da duração da gravidez, de

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um produto de concepção que, depois da separação, respire ou apresente qualquer outro sinal de vida, tal como batimentos do coração, pulsações do cordão umbilical ou movimentos efetivos dos músculos de contração voluntária, estando ou não cortado o cordão umbilical e estando ou não desprendida da placenta. Cada produto de um nascimento que reúna essas condições se considera como uma criança viva.

A implantação do SINASC foi iniciada em 1990 e não ocorreu de forma similar em todo o país, e, apesar de apresentar fragilidades a serem corrigidas (Romero; Cunha, 2006, 2004; Barbosa; Melo, 2005, Fernandes, 1998; Melo Jorge, 1996), a sua rápida e eficiente implantação resultou em que nos dias atuais já apresente número de nascimentos registrados superiores àqueles do Registro Civil publicados pelo IBGE.1

Os dados mensais do número de nascimentos foram ajustados de tal forma a se considerar um mês de 30 dias, padronizando-se a desigual extensão de cada mês e considerando a existência de ano bissexto. Intentando reduzir a contaminação da tendência pela sazonalidade tomou-se os dados de nascimentos mensais ajustados para um mês de igual duração e calculou-se a média móvel centrada de 12 meses para cada mês. Dados referentes a 1999 foram utilizados para se obter a série das médias centradas a partir de janeiro de 2000.

A série estacionária, na qual a componente cíclica e a tendência são eliminadas, foi obtida pela razão entre a série mensal de dados observados e a respectiva série mensal de média móvel centrada. A relação entre os dados observados e as respectivas médias móveis¸ sendo tais valores expressos em porcento, constituem a série da qual foi obtido o índice de sazonalidade médio. Para tal, primeiramente, calculou-se a média das médias de cada mês, em cada ano, excluídos os valores extremos, corrigindo-as por um fator de ajustamento que faz com que a soma dos índices seja 1200, estabelecendo-se, assim, os índices de sazonalidade ou fator cíclico. A partir de tais índices procedeu-se a desasonalização da série inicial, dividindo-se cada valor original pelo seu correspondente índice sazonal (vide Pyndick; Rubinfeld, 2004; Cordeiro, 2002).

A série temporal dos nascimentos também foi desagregada por região e características da mãe: idade, estado civil e escolaridade e pela parturição, assim como pelo sexo do recém-nascido. As macrorregiões consideradas foram: Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste; os grupos de idade da mãe foram estabelecidos para: 10-14 anos, 15-20 anos, 21-30 anos, 31-40 anos e 41-50 anos; o estado civil foi bipartido entre solteira e alguma vez casada (casada, em união consensual, viúva, divorciada-desquitada); os anos de estudo da mãe foram agrupados em: nenhum, 1-3 anos, 4-7 anos, 8-11 anos e 12 anos e mais; a parturição, dada pelo número de nascimentos anteriores, em: nenhum, 1-3 nascimentos, 4-6 nascimentos, 7 nascimentos e mais e o sexo do recém-nascido desagregado em masculino e feminino.

Mesmo sendo relativamente pouco numerosos a partir de 2000, no banco de dados utilizado, os casos de informações faltantes – ignorado ou não informado – foram redistribuídos de acordo com as informações conhecidas.

A informação em que as categorias “ignorado” e “não informado” constituem fração expressiva do registro é a que se refere à parturição. No período 2000-2005 a proporção de informações desconhecidas declinou de 14% para 11%, mas constitui, ainda, um dado a merecer especial consideração.Também, em 2000, as categorias ‘ignorado’ ou ‘não informado’, referentes à escolaridade da mãe, representam 5-6% dos registros, proporção essa que se reduz progressivamente, chegando a 2% em 2005. Barbosa e Melo (2005) já tinham chamado a atenção

1 É decrescente o diferencial de enumeração entre o Registro Civil e o Sinasc no período, sendo que, em 2005, o

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para uma cobertura diferenciada do Sinasc para mulheres de menor nível educacional, o que exigiria uma maior cautela na utilização dos dados dos anos iniciais da série.

Dos dados utilizados, caso a merecer especial cautela em sua utilização refere-se aos dados de anos de escolaridade das mães em janeiro e fevereiro de 2002, quando o registro de nascimentos de filhos de mulheres de 1 a 3 anos de estudo apresenta-se muito acima do esperado. Substituiu-se os dados pelos valores médios dos meses adjacentes.

Também há que se colocar alguma restrição sobre a situação conjugal das mães no ano de 2003, ocasião em que, aparentemente, há um profundo descolamento entre as distribuições dos nascimentos gerados por mães solteiras e mulheres alguma vez casadas, resultando em que a partir do final de 2002 o número de nascimentos gerados por mulheres solteiras passa a crescer até superar, na segunda metade de 2003, os nascimentos provenientes de mulheres alguma vez casadas.2

A sazonalidade dos nascimentos totais e segundo características sociodemográficas foi inicialmente avaliada por inspeção visual da série temporal. Desde que não foi identificada variação significativa na distribuição dos nascimentos ao longo dos anos da série, os dados mensais foram combinados para formar uma única série referente ao período 2000-2005 por meio do número médio de nascimentos em cada mês.

Análise dos resultados

No Gráfico 1 são apresentados os dados que conformam a série temporal de nascimentos no período 2000-2005 e as séries derivadas da mesma, quais sejam: a série temporal suavizada por meio da média móvel centrada de 12 meses, a tendência linear, a série dos índices sazonais e, por último, a série desazonalizada.

A série mensal de nascimentos nos anos de 2000 a 2005 aponta para um persistente decréscimo no número absoluto de nascimentos no Brasil, com uma pequena exceção ocorrendo no ano de 2005, ocasião em que há um muito modesto acréscimo no total dos registros em relação ao ano anterior (pouco mais de 16 mil nascimentos, ou menos do que 0,6% dos nascimentos do ano anterior), mas sem retornar aos valores de 2003, muito similares aos de 2004. Mesmo admitindo-se que a cobertura do Sinasc já tivesse atingido um nível de cobertura no qual acréscimos seriam cada vez mais difíceis de serem obtidos e, desta forma, eventuais variações na natalidade não derivariam de fortuitas melhorias de cobertura, dada a dimensão do incremento observado, não há como desconsiderar a ampliação da natalidade à uma melhoria na cobertura.

Os movimentos temporais dos nascimentos no Brasil são melhor visualizados na série das médias móveis centradas de 12 meses e a persistência ou não da inversão na tendência só poderá ser confirmada por ocasião da publicação dos registros de 2006. Observe-se, também, que 2005 é o ano de maior amplitude no ciclo dos nascimentos, apresentando o maior diferencial absoluto e relativo no período, em flagrante contraste com 2001, ano de menor diferencial no total absoluto e relativo de nascimentos mensais.

2 Há claras indicações que registros de nascimentos anteriormente atribuídos às mulheres em união consensual

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Gráfico 1

Brasil – Série temporal dos nascimentos, série temporal suavizada, tendência linear, série dos índices sazonais e série temporal dos nascimentos desazonalizada – 2000-2005

222.000 232.000 242.000 252.000 262.000 272.000 282.000 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J Meses N a sc im e n to s , M é di a M ó v e l, T e n d ê n c ia, D e sa s ona liza da 96,5 97,0 97,5 98,0 98,5 99,0 99,5 100,0 100,5 101,0 101,5 Fa to r c íc lic o

Nascimentos MM12 Tendência Desasonalizada Fator Cíclico Fonte dos dados brutos: Sinasc

No Gráfico 2, a média mensal de nascimentos no período 2000-2005 mostra claramente um duplo pico de nascimentos no Brasil; o primeiro, muito mais pronunciado, nos meses de março-abril-maio – correspondendo ao outono brasileiro – e o segundo, um pico secundário de muito menor expressão, em setembro. Tal concentração temporal dos nascimentos indica que o padrão da natalidade brasileira em muito se assemelha ao padrão europeu, semelhança essa que é tão mais significativa pelo fato do vale dos nascimentos no Brasil ocorrer à mesma época em que o mesmo se dá no padrão europeu, qual seja outubro-dezembro – primavera brasileira. Observe-se que as similitudes dos meObserve-ses de pico e de vale no Brasil e na Europa Observe-setentrional significam mais e menos numerosos nascimentos em estações opostas do ano: pico no outono brasileiro e na primavera européia e vale na primavera no Brasil e no outono na Europa setentrional.

Nascimentos no período de pico de março-maio resultam de concepções em junho-agosto – inverno brasileiro e férias de meio de ano – e nascimentos em setembro, pico secundário, são fruto de concepções em dezembro – festividades do natal e ano novo. O menor número de nascenças que ocorre no período outubro-dezembro – primavera no Brasil resulta de concepções que ocorrem em janeiro-março – verão brasileiro.

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Gráfico 2

Brasil – Número médio de nascimentos por mês de nascimento – 2000-2005

Jan Fev

Mar Abr Mai

Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 215.000 220.000 225.000 230.000 235.000 240.000 245.000 250.000 255.000 260.000 265.000 270.000 275.000 Núm e ro m é dio d e nascim e n to s

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Mês

Fonte dos dados brutos: Sinasc

Apesar do pequeno número de anos da série mensal de nascimentos, tanto os dados anuais, como os referentes à média mensal dos nascimentos no período 2000-2005, revelam estabilidade nos meses de pico, concentrados no período março-abril-maio e do pico secundário no mês de setembro. Essa estabilidade no trimestre, entretanto, encobre mudanças mensais dentro do período considerado, sendo identificada na série temporal representada no Gráfico 1 uma antecipação no mês de pico de nascimentos ao longo dos anos, que passa de maio, em 2000 e 2001, para abril, em 2002 e 2003 e para março, em 2004-2005. Tal deslocamento no mês de pico é acompanhado por uma ampliação na proporção de nascimentos anuais a ocorrer no trimestre de pico. Associado à ampliação da proporção dos nascimentos anuais que ocorrem em setembro e à redução do peso dos nascimentos nos meses de novembro-dezembro-janeiro, tais evidências sustentam a possibilidade de uma mais expressiva concentração dos nascimentos nos momentos identificados como de picos, a sugerir que possíveis fatores contribuintes para a sazonalidade observada estariam se consolidando no tempo.

Não é observada variação de monta na sazonalidade dos nascimentos quando a análise é realizada em nível regional ou por características sociodemográficas da mãe, em particular quando se tem em conta as relativas deficiências das informações desagregadas. Os Gráficos 3 a 7 mostram a série temporal em termos das proporções dos nascimentos mensais para as desagregações dos nascimentos por região, grupos de idades das mães, situação conjugal, anos de estudo e ordem da parturição. Os dados da Tabela 1 sintetizam alguns atributos das desagregações sociodemográficas consideradas.

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Tabela 1

Brasil - Nascimentos e indicadores das variações sazonais dos nascimentos segundo características sociodemográficas das mães por ocasião do parto – 2000-2005

Atributo Total de Nascimentos 2000-2005 Coeficiente de Variação Mês de Pico Mês de Vale Razão Mês de Pico/ Mês de Vale (%) Trimestre

de Pico Trimestre de Vale

Razão Trimestre de Pico/ Trimestre de Vale (%) Macrorregião

Norte 1.800.127 3,8 Setembro Dezembro 14,9 abr/mai/jun dez/jan/fev 8,1

Nordeste 5.483.544 6,5 Maio Dezembro 24,8 mar/abr/mai out/nov/dez 14,9

Sudeste 7.161.107 7,1 Março Dezembro 21,2 mar/abr/mai out/nov/dez 16,2

Sul 2.417.934 5,3 Março Novembro 16,3 fev/mar/abr out/nov/dez 12,4

C.Oeste 1.354.745 5,5 Março Dezembro 18,1 mar/abr/mai out/nov/dez 12,8

Grupos de Idades das Mães

10-14 anos 163.117 6,0 Maio Dezembro 21,9 abr/mai/jun nov/dez/jan 13,9

15-20 anos 5.153.054 6,1 Março Dezembro 21,4 mar/abr/mai out/nov/dez 14,4

21-30 anos 9.352.881 5,9 Março Dezembro 19,0 mar/abr/mai out/nov/dez 13,8

31-40 anos 3.332.242 6,1 Março Dezembro 18,5 mar/abr/mai out/nov/dez 14,4

41-50 anos 235.096 6,2 Maio Dezembro 20,8 abr/mai/jun out/nov/dez 14,5

Escolaridade Materna

Nenhuma 667.425 9,3 Março Dezembro 36,2 mar/abr/mai out/nov/dez 20,3

1-3 anos 2.534.995 7,5 Março Dezembro 27,8 mar/abr/mai nov/dez/jan 17,4

4-7 anos 6.846.695 6,6 Abril Dezembro 22,3 mar/abr/mai nov/dez/jan 16,1

8-11 anos 5.881.604 4,6 Março Dezembro 14,0 mar/abr/mai out/nov/dez 11,0

12 anos e+ 2.271.873 5,4 Março Novembro 16,7 mar/abr/mai out/nov/dez 12,3

Estado Civil

Solteira 8.009.247 5,3 Maio Dezembro 17,1 abr/mai/jun out/nov/dez 11,4

Alguma vez

casada 10.227.830 7,4 Março Dezembro 24,4 fev/mar/abr out/nov/dez 16,7

Parturição

0 6.281.080 5,1 Março Dezembro 16,6 mar/abr/mai out/nov/dez 12,1

1-3 10.384.391 6,4 Março Dezembro 20,9 mar/abr/mai out/nov/dez 15,1

4-6 1.213.947 6,2 Maio Dezembro 22,5 mar/abr/mai out/nov/dez 14,8

7 e+ 327.114 6,4 Maio Dezembro 24,4 abr/mai/jun out/nov/dez 14,4

Total de Nascimentos

Total 18.217.458 5,9 Março Dezembro 19,6 mar/abr/mai out/nov/dez 14,1

Fonte dos dados brutos: Sinasc

De início chama atenção o fato de ser relativamente modesto o coeficiente de variação da série temporal, indicando que, no período analisado, a sazonalidade dos nascimentos no Brasil, relativamente, não é um fenômeno de monta.

Em termos das desagregações consideradas é significativo observar a estabilidade dos meses de pico e de vale que, independente da região considerada e das características das mães por ocasião do parto, concentram-se fundamentalmente nos meses de março (em 13 dos 21 atributos considerados) e maio (em 6 das 21 desagregações). Entre as mulheres de 4 a 7 anos de estudo, o pico dos nascimentos acontece em abril, e é notório o fato de que o pico dos

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nascimentos na região Norte sedia-se em setembro (usualmente, pico secundário nas demais regiões e atributos das mães).

Se há estabilidade no pico dos nascimentos, persistência maior ocorre no mês de vale: dezembro é o mês de vale para 19 dos 21 atributos considerados, diferenciando-se apenas a região Sul e as mulheres de 12 anos e mais de estudos, para as quais o mês de menor número de nascimentos é novembro.

Quando os períodos de pico e de vale são mensurados em termos trimestrais, o mês de março, quando mês de pico, pelo seu significado em relação ao demais, faz com que o mesmo se torne o mês inicial do trimestre de pico. Quando o mês de pico é maio, o peso dos meses de março e abril, vis-à-vis os meses de junho e julho, muitas vezes ponderam na definição do trimestre de pico e fazem com que o trimestre não se inicie em maio ou o tenha como mês central. Dessa forma, apenas entre as mulheres de 10-14 anos e 41-50 anos, assim como as solteiras e as com 7 filhos e mais por ocasião do parto, o trimestre de pico tem maio como mês central; nos demais, maio é o último mês do trimestre. Observe-se adicionalmente que, em que pese na região Norte o mês de pico ser setembro, o trimestre de maior número de nascimentos é abril-maio-junho.3

Uma medida mais localizada da dimensão da sazonalidade nos nascimentos, dada pela razão entre o número de nascimentos no mês de pico e o número de nascimentos no mês de vale, aponta uma marcante diferença entre os mesmos, em especial quando se observa a série temporal das mães que declaram não ter nenhum ano de escolaridade. Entre elas, é expressiva a diferença entre o número de nascimentos no pico que é 36,2% maior do que no vale. A menor diferença é encontrada entre as mulheres da região Norte que geram nascimentos no mês de pico apenas 15% mais elevados do que no mês de vale.

Mensurado em termos trimestrais as diferenças entre vales e picos são atenuadas, em razão de, fora dos meses de pico e vale, nos demais meses não diferirem de maneira significativa o número de nascimentos. Assim, na região Norte a amplitude dos diferenciais trimestrais é de apenas 8,1%. Mas, o amplo diferencial no número de nascimentos nos meses de março e dezembro, observado entre as mulheres de nenhuma escolaridade, faz com que seja da ordem de 20% a diferença entre os trimestres de pico e vale neste segmento feminino.

No Gráfico 3 é apresentada a distribuição proporcional dos nascimentos ao longo do ano segundo as macrorregiões brasileiras.

Refletindo as especificidades da implantação do Sinasc na região, há que se notar que a região Norte, nos anos iniciais da série, em particular nos dois primeiros anos, apresenta um padrão temporal de nascimentos muito distinto das demais regiões e, apenas no biênio final, em especial no último ano do período, é que o padrão temporal de nascimentos no Norte se aproxima daquele observado nas demais regiões do Brasil. A se considerar os registros de nascimentos na região Norte nos anos anteriores a 2005 como, pelo menos, uma amostra representativa dos nascimentos regionais, então seria plausível admitir uma modificação no padrão temporal do pico das concepções regional, que deslocaria de dezembro para julho-setembro e, em conseqüência, transladaria o pico dos nascimentos de julho-setembro para março-maio.

3 O mês de pico em setembro, na região Norte no período 2000-2005, está determinado pela magnitude dos pesos

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Gráfico 3

Brasil – Proporção de nascimentos por macrorregiões e mês de nascimento – 2000-2005

6,9 7,4 7,9 8,4 8,9 9,4 Jan Mar Ma i Jul Set Nov Jan Mar Ma i Jul Set Nov Jan Mar Ma i Jul Set Nov Jan Mar Ma i Jul Set Nov Jan Mar Ma i Jul Set Nov Jan Mar Ma i Jul Set Nov

Norte Nordeste Sudeste Sul C.Oeste Total

Fonte dos dados brutos: Sinasc

Aparentemente, em razão de se observar limites difíceis de serem transpostos na melhoria da cobertura do Sinasc, o ano de 2005 marca o ponto demarcatório da tendência à homogeneização dos padrões temporais dos nascimentos no Brasil, sendo relativamente diminuta a diferença nas distribuições proporcionais dos nascimentos mensais entre as regiões brasileiras, e notável a similitude entre a feição dos nascimentos no nordeste e no sudeste, determinantes chave para o perfil dos nascimentos em nível agregado.

No Gráfico 4 são mostradas as proporções de nascimentos mensais segundo grupos de idades das mães por ocasião do parto.

Os grupos de idades 15-20 anos, 21-30 anos e 31-40 anos respondem por 97,8% dos nascimentos registrados pelo Sinasc no período 2000-2005, correspondendo aos nascimentos dos menores de 15 anos, 0,9% e às mulheres maiores de 50 anos, 1,3%. Assim, considerando-se que apenas os nascimentos gerados por menores de 15 anos apresenta uma diversidade dos padrões anuais ao longo do período, os resultados do Gráfico 4 sugerem que não há diferenças significativas nos padrões de sazonalidade dos nascimentos de acordo com as idades das mães.

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Gráfico 4

Brasil – Proporção de nascimentos por grupos de idades das mães e mês de nascimento – 2000-2005

7,1 7,5 7,9 8,3 8,7 9,1

Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov

10-14 anos 15-20 anos 21-30 anos 31-40 anos 41-50 anos Total

Fonte dos dados brutos: Sinasc

O Gráfico 5 traça a distribuição da proporção dos nascimentos mensais segundo a situação conjugal das mães apontando claramente a ausência de diferenças significativas no padrão de nascimento entre mulheres solteiras e mulheres alguma vez casadas. Isto em que pese a mudança de classificação da situação civil das mães entre os anos de 2003-2004 não permitir uma adequada avaliação das diferenças nos padrões temporais de nascimentos. Entretanto, os anos anteriores e o ano final da série mostram que são muito pequenas as diferenças entre os padrões por situação conjugal da mães, prevalecendo, em ambos, o pico nos meses de março-maio e um pico secundário em setembro e o vale em novembro-dezembro.

No Gráfico 6 são apresentadas as proporções de nascimentos mensais segundo grupos de a escolaridade materna.

A distribuição mensal dos nascimentos segundo a escolaridade das mães é a que apresenta a maior variabilidade nos padrões temporais, refletindo, parcialmente a dificuldade na adequada obtenção de tal informação. De início chama a atenção as profundas diferenças nos padrões de nascimentos mensais no período analisado entre as mães que não tiveram pelo menos um ano de estudo. Não só são os distintos padrões ao longo dos anos uma característica desta população, mas, também a amplitude do movimento, que, neste caso, é de número de nascimentos no pico 36,2% superior ao número de nascimentos no vale. Essa proeminência dessa condição na população de nenhum ano de estudo, em relação às demais subpopulações, em diferentes magnitudes, ocorre nos distintos anos da série. Considere-se, porém, ser relativamente o número de nascimentos gerados pelas mulheres com nenhuma escolaridade.

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Gráfico 5

Brasil – Proporção de nascimentos por situação conjugal das mães e mês de nascimento – 2000-2005 6,5 6,9 7,3 7,7 8,1 8,5 8,9 9,3 9,7 10,1

Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Ma i

Jul Set Nov

Solteira Alguma vez casada Total

Fonte dos dados brutos: Sinasc

Gráfico 6

Brasil – Proporção de nascimentos por anos de estudos das mães e mês de nascimento – 2000-2005

6,3 6,8 7,3 7,8 8,3 8,8 9,3 Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Ma r Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Ma r Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov

Nenhuma 1-3 anos 4-7 anos 8-11 anos 12 anos e+ Total

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Ainda assim, mesmo apresentando uma miríade de diferenças segundo a escolaridade, prevalece o pico de nascimentos no mês de março, exceto para as mães de 4-7 anos de estudo, cujo pico é em abril, e o vale em dezembro, com exceção das mães com 12 anos e mais de estudo, para quem o vale é novembro.

No Gráfico 7 são apresentadas as proporções de nascimentos mensais segundo a ordem da parturição materna no momento do parto.

Gráfico 7

Brasil – Proporção de nascimentos por ordem da parturição e mês de nascimento – 2000-2005

6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5 Jan Ma r Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Ma r Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov Jan Ma r Mai Jul Set Nov Jan Mar Mai Jul Set Nov 0 1-3 4-6 7 e+ Total

Fonte dos dados brutos: Sinasc

À semelhança das desagregações anteriores, não é possível identificar diferenças nos padrões de nascimentos por ordem de parturição suficientes para caracterizar comportamentos diferenciados quanto à sazonalidade destes nascimentos. Dignos de nota são a semelhança do padrão de primeiros nascimentos com a trajetória do total da população e a dimensão do pico secundário dos nascimentos entre as mães que no momento do parto já tinham 7 filhos ou mais.

Síntese e Conclusão

Os dados do Sinasc permitem estabelecer a tendência à redução na natalidade brasileira no período considerado, com uma modesta retomada em seus números absolutos no último ano da série, mas cuja persistência fica na dependência de confirmação pelos registros de 2006. O sistema de registros do Sinasc possibilita, também, estabelecer a existência de sazonalidade nos nascimentos brasileiros e mostra que, praticamente, não existem diferenças nos movimentos

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temporais segundo as regiões brasileiras e as características sociodemográficas das mães por ocasião do parto.

No Brasil, o pico dos nascimentos se dá nos meses de março-abril-maio, com maior freqüência no mês de março, acompanhado por um pico secundário em setembro. O menor número de nascimentos ocorre no trimestre outubro-dezembro, com menor número de nascimentos em dezembro. Dessa forma, o padrão de nascimentos brasileiros em muito se assemelha ao padrão Europeu.

A avaliação do movimento temporal de nascimentos desagregado por região e atributos sociodemográficos das mães mostra que a região Norte apresenta um padrão relativamente distinto das demais regiões, o que parcialmente pode se dever à evolução da implantação do sistema de registro de nascimentos na região. Também as mulheres que declararam não ter nenhum nível de escolaridade mostram uma trajetória temporal diferente das outras, a refletir, em certa medida, as dificuldades de obtenção de dados fidedignos a respeito da escolaridade materna. Padrão diferenciado também ocorre entre as mulheres solteiras, e tal fato, em grande medida, é resultado de mudanças no sistema de classificação da condição civil da mãe, atribuindo-se às mulheres anteriormente em união conjugal o status de solteira. Em conseqüência da dicotomização da situação conjugal, as mulheres alguma vez casadas, no período, também, apresentam padrões que em muito se diferenciam das demais. Refletindo o relativamente modesto número de nascimentos contabilizados e, portanto, mais afeito às flutuações aleatórias, o padrão de sazonalidade dos nascimentos entre as mulheres de 10-14 anos diferencia-se de forma significativa dos demais. Para todos os demais atributos considerados são muito similares os padrões de nascimentos mensais.

A região Sudeste tem pico em março e, entre todas as desagregações consideradas, apresenta a mais alta proporção de nascimentos neste mês. No Nordeste o pico ocorre no mês de maio e, da interação entre os movimentos dos nascimentos nessas duas regiões ao longo do período, define-se a trajetória temporal dos nascimentos nacionais no trimestre de pico que, paulatinamente, transfere-se de maio, no início da série, para março, ao final da mesma. Entre a população da região Norte e a população feminina com 12 anos e mais de estudo o pico secundário no mês de setembro é mais significativo do que em quaisquer outras desagregações.

Mesmo com tais diferenças pode-se aventar pela estabilidade do pico dos nascimentos brasileiros no trimestre março-abril-maio, acompanhado pelo pico secundário em setembro, e a redução do numero de nascimento nos meses subseqüentes, fazendo com que dezembro constitua-se no vale da série temporal.

Resta buscar explicações para a sazonalidade dos nascimentos no Brasil.

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