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Meu canto contigo um roteiro de curta metragem

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Academic year: 2021

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“Meu canto contigo”

Um roteiro de curta-metragem

Salvador

2010

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Faculdade de Comunicação

Memória do Trabalho de Conclusão de Curso

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LAILA MILANI MAGALHÃES

“Meu canto contigo”

Um roteiro de curta-metragem

Memória do Trabalho de Conclusão de Curso de Comunicação com habilitação em Produção Cultural, da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia.

Orientador: Prof. Mahomed Bamba

Salvador

2010

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A meus queridos Zeca e Duze, avós paternos, pela presença espiritual em minha vida. É com muito AMOR que vos dedico este trabalho.

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AGRADECIMENTOS

A ZECA E DUZE, avós paternos, que iluminam a minha vida.

A meu pai EURICO e minha mãe ALESSANDRA por toda minha criação. Pai, muito obrigada pelas preces e palavras de conforto.

Mãe, este roteiro nasceu daquele livro que um dia você colocou em minhas mãos. A LUDMILA, pequena flor, irmã e afilhada, pelo abraço mais maravilhoso do mundo.

A PIPO, por todo o tempo de corpo e alma, pelo companheirismo em dias e noites de incessante trabalho.

A BETINA e FLORA pelas preciosas colaborações neste roteiro. Pelas disposições em ajudar a qualquer hora.

Ao SR. BAMBA, pelo jeito divertido de tratar de coisas sérias. Foi muito gratificante tê-lo como orientador deste trabalho.

A DEUS, essência criadora do Universo, amor e luz, que me deu a vida. Graças a ele aqui estou eu realizando mais uma tarefa que me foi atribuída.

A “VARANDINHA” faconiana, porque não podia deixar de ser.

A TODOS aqueles que cruzaram o meu caminho durante o processo de elaboração desse roteiro e me presentearam com palavras de apoio, reflexões e inspirações.

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Talvez o orgasmo seja fundamentalmente um mecanismo de descontração para o corpo, como outras reações espasmódicas, como o riso, o choro, ou as convulsões. Talvez a função do orgasmo seja a descarga e o alívio de todas as espécies de tensões.

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RESUMO

Partindo do pressuposto que o comportamento humano é diversamente “modelado” e determinado pela cultura e de uma revisão crítica da representação da mulher no cinema e no audiovisual, o objetivo deste trabalho é traçar reflexões sobre a sexualidade feminina, tendo como foco principal os modos como a(s) mulher(s) vivencia(m) e coloca(m) em discurso sua busca pelo prazer. Além do memorial propriamente dito, em que procuramos discutir os aspectos teóricos do tema abordado, a segunda grande parte deste trabalho de conclusão de curso se constitui de um roteiro de um filme de curta metragem de ficção, elaborado a partir de uma leitura livre e inspiradora do livro O relatório Hite.

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SUMÁRIO

1. Apresentação...08

1.1 Justificativa...09

2. A sexualidade feminina...10

2.1 O Relatório Hite da sexualidade feminina...12

3. A representação da mulher no cinema...15

4. A elaboração do roteiro...17

5. Considerações finais...20

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1. APRESENTAÇÃO

A idéia de criar um roteiro de curta metragem de ficção nasceu da leitura do livro “Relatório Hite - um profundo estudo sobre a sexualidade feminina” e teve, portanto, como foco temático a questão da busca do prazer sexual pela mulher.

Todas as peculiaridades do roteiro (a forma como as palavras foram escritas, as circunstâncias em torno das ações, a necessidade dramática, o trabalho psicológico dos personagens... etc) foram desenvolvidas como o princípio de um processo visual e não o final de um processo literário. Em outras palavras, o roteiro foi elaborado com o objetivo de vir a ser um curta-metragem finalizado, que seja acessível ao público e que desperte uma reflexão crítica acerca da sexualidade.

1.1 JUSTIFICATIVA

Sem querer desmerecer o entretenimento (na medida em que este não extrapola seus limites ao assediar o espectador com mensagens inúteis e/ou formadoras de opiniões ignorantes à respeito da sociedade), prefiro enxergar o cinema de um ponto de vista mais social, por meio do seu grande potencial para a educação. Num período histórico em que a “imagem” ocupa uma posição de destaque como forma de comunicação, nada mais importante do que associá-la a questões sociais mal resolvidas, com o intuito de esclarecer a população, fazê-la refletir sobre as relações humanas, os modos de comportamento, e, inclusive, acerca do próprio universo das produções audiovisuais. Como salienta Xavier (2008), a dimensão educativa permeia a experiência do cinema: “O cinema que „educa‟ é o cinema que faz pensar, não só o cinema, mas as mais variadas experiências e questões que coloca em foco”. (p. 15)

Estamos no século XXI e ainda hoje vivemos numa sociedade dividida por classes, raças e etnias, e gêneros. A desigualdade entre homens e mulheres surge como conseqüência da falsa crença de que nossas diferenças biológicas justificam a existência de dois modelos de

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comportamento, um masculino e outro feminino. Esta divisão do ser reflete em todas as estruturas, valores e ideologias sociais. Nesse contexto a mulher assume a condição de cidadão de segunda classe, (ou “o segundo sexo”, como diria Simone de Beauvoir), sempre orientada para um lugar secundário dentro da sociedade.

Na tentativa de unir o potencial do cinema como pedagogia cultural a um discurso feminino de valorização da mulher, eis o meu trabalho.

Meu interesse por cinema foi surgindo aos poucos, no decorrer dos anos de faculdade. A primeira experiência direta com o fazer cinematográfico se deu logo no segundo semestre, através da disciplina de Oficina Audiovisual. Durante o quinto semestre ingressei como bolsista no Laboratório de Análise Fílmica, sob a responsabilidade do professor Wilson Gomes. Nele permaneci por apenas seis meses, devido à oportunidade de realizar um intercâmbio estudantil da UFBA na Espanha. Entretanto, o curto período de permanência no grupo foi fundamental para aprofundar meus conhecimentos em teorias cinematográficas e iniciar a prática escrita de análises fílmicas. Como estudante intercambista do curso de Comunicación Audiovisual de la Universidad del País Vasco, em Bilbao/Espanha, optei por fazer uma matéria de “Guión Cinematográfico I”1

. Desde então o desejo de me especializar nessa área só tem crescido, paralelamente com o gosto pelo cinema de um modo geral. Foi também durante esse tempo fora do país que meu interesse pela sexualidade foi despertado, após ler pela primeira vez um livro com essa temática. Nessa conjuntura tive a idéia de unir esses dois universos (cinema e sexualidade) no meu trabalho de conclusão de curso. O que era ainda uma mera vontade está, agora, se concretizando.

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2. A sexualidade feminina

[...] não é enquanto corpo, é enquanto corpos submetidos a tabus, a leis, que o sujeito toma consciência de si mesmo e se realiza: é em nome de certos valores que ele se valoriza. E, diga-se mais uma vez, não é a fisiologia que pode criar valores. Os dados biológicos revestem os que o existente lhe conferem. (BEAUVOIR, 1949, p. 68)

Partindo desse princípio pode-se dizer que a nossa forma de pensar o sexo como um processo constituído de “preliminares”, “penetração” e intercurso é conseqüência da cultura em que estamos inseridos, da educação que recebemos, das regras ocultas que nos dizem o que é correto e o que não é. Um dos mitos de nossa sociedade é que o sexo tal como praticamos provém dos nossos “instintos”, faz parte da nossa natureza sexual. Mas como seriamos capazes de conhecer nossa natureza sexual se estamos constantemente expostos a modelos de comportamento pré-estabelecidos? Se somos incessantemente assediados por mensagens subliminares sobre o nosso corpo? O terreno da sexualidade encontra-se cercado de mistérios e tabus. Compreender a ideologia que se esconde por trás deste terreno é o melhor meio de entender como o sujeito e a sociedade interagem, sob a superfície.

Em seu livro “A história da sexualidade I – a vontade do saber” Michel Foucault (1976) afirma que o que é próprio das sociedades modernas não é o fato de terem condenado o sexo a permanecer na obscuridade, mas sim o fato de ter-se devotado a falar dele sempre, valorizando-o como o segredo (p.36). O surgimento da sociedade burguesa, no século XVII, iniciou um período de multiplicidade de discursos acerca do sexo. A burguesia buscava diferenciar-se das outras classes investindo numa sexualidade específica, investigada, que garantisse a qualidade de sua descendência. A partir de então os governos e instituições de grande poder financeiro começaram a financiar projetos científicos que desvendassem os mistérios do sexo. Dentro desse contexto a psicanálise tornou-se uma arma política e eficaz.

Entre os principais psicanalistas do século XVIII, Sigmund Freud foi o principal responsável pelas teorias acerca da sexualidade. Sua visão precária da sexualidade feminina sugeria que todos os conflitos e frustrações sexuais das mulheres eram culpa delas mesmas.

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A estimulação do clitóris2 pelas meninas durante a infância era tida como um ato sexual masculino, uma vez que o órgão era considerado uma espécie de micro pênis. Devido à confiança nessa informação as meninas esperavam o desenvolvimento do clitóris e sua transformação num órgão sexual igual ao dos meninos. Ao mesmo tempo imaginavam haverem sido “castradas” por alguma conduta imoral, como se a ausência do pênis durante a infância fosse uma espécie de castigo.

O que Freud considerava como característica única da passagem da infância para adolescência era a extinção de uma zona sexual nas meninas, o clitóris, e sua substituição pela vagina. As meninas que insistissem nesse tipo de masturbação corriam o risco de chegarem à fase adulta bloqueadas sexualmente. O corpo feminino deixou de ser reconhecido tal como era, com sua forma natural de atingir o orgasmo. Criou-se um clichê simplista, baseado numa compreensão estritamente reprodutiva da sexualidade, de que “o homem penetra, e a mulher goza”. O prazer da mulher só poderia existir como projeção do outro, proveniente da relação sexual, ou em outros termos, como resultante do coito. Com base nesses princípios pode-se deduzir, portanto, que segundo as teorias de Freud o prazer sexual seria algo quase que exclusivamente masculino.

Mais de dois séculos se passaram e esse clichê simplista de que o orgasmo feminino provém da penetração perdura até os dias de hoje. Apesar de completamente ultrapassado ele continua bem vivo, está por toda parte, como se fosse “moderno”. Esse fato é de se prever quando, de certo modo, beneficia em muito os homens.

[...] o modelo reprodutivo do sexo garante o orgasmo masculino ao conferir-lhe um momento e um lugar padronizado em que as duas pessoas sabem o que fazer para o homem gozar. A coisa toda é pré-arranjada. Trata-se de um acordo prévio. Mas não há padrões ou arranjos especiais para a mulher gozar – a não ser que ela consiga gozar durante a relação. Assim as mulheres são colocadas na posição de pedir algum estímulo extra, um algo mais, ou então tentar sublinarmente enviar mensagens a um parceiro que na maioria das vezes nem se toca que devia prestar atenção. Se a mulher consegue esse algo mais, sente-se agradecida por ele ter sido

2

Com mais de oito mil nervos, o clitóris é a parte da mulher que mais contém terminações nervosas de todo o corpo, inclusive mais do que a língua e o pênis masculino. É o único órgão do corpo que serve exclusivamente para proporcionar prazer para a mulher, e, pelo que parece, não possui uma função evidente no processo de reprodução.

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extraordinariamente “sensível”. E quase sempre as mulheres simplesmente ficam sem o orgasmo – ou simulam. (HITE, 1976, p. 281)

Fixar a idéia de que as mulheres devem gozar durante a penetração, é inferiorizá-las, oprimi-las, forçá-las a adaptarem seus corpos a estímulos insuficientes. O direito ao orgasmo tornou-se uma questão política para as mulheres na medida em que envolve uma estrutura de poder que, por sua vez, estabelece um padrão de comportamento sexual onde o homem sempre tem orgasmo e a mulher não. Nas palavras de Hite (1976), afinal, por que é natural que um homem espere ter o intercurso para gozar com ou sem estímulo ao clitóris, e traição se uma mulher quer ter o clitóris estimulado para gozar sem o intercurso? (p. 412). Ainda vivemos numa sociedade patriarcal onde tudo gira em torno do homem e na qual a mulher é símbolo de submissão ao poder masculino.

[...] toda a história das mulheres foi feita pelos homens. Eles é que sempre tiveram a sorte da mulher nas mãos; dela não decidiram em função do interesse feminino; foi para os seus próprios projetos, temores e necessidades que atentaram. Se adoraram a deusa-mãe foi porque a Natureza os amedrontara, logo que o instrumento de bronze lhes permitiu enfrentá-la, instituíram o patriarcado; foi o conflito entre a família e o Estado que então definiu o estatuto da mulher; foi a atitude do cristão em face de Deus, do mundo e da própria carne que se refletiu na condição que lhe determinaram... (BEAUVOIR, 1949, p. 200 e 201).

2.1 O RELATÓRIO HITE DA SEXUALIDADE FEMININA

Shirley Diana Gregory, mais conhecida por Shere Hite, nasceu em 1942 em St. Joseph, Missouri, nos Estados Unidos. Ela se formou em História Americana e Ideologia das Ciências na Flórida e fez doutorado em História na Universidade de Columbia. Seu nome sempre foi associado à luta feminina nos mais diversos campos: entre 1972 e 1968 Hite atuou como Diretora do Projeto Feminista de Sexualidade da National Organization for Women (NOW), organização ativista feminista fundada em 1966 com o objetivo de lutar pela igualdade e valorização das mulheres no trabalho, na escola, no sistema judiciário e outros setores da sociedade, como também pelos seus direitos reprodutivos e pelo fim da violência doméstica.

Hite escreveu diversos livros sobre a mulher sob influência da segunda onda do movimento feminista na década de 60 e 70. Seu trabalho mais polêmico foi, sem dúvida, o Relatório Hite da sexualidade feminina (The Hite Report on Female Sexuality), lançado pela

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primeira vez nos Estados Unidos em 1976. Partindo de uma grande pesquisa que reuniu as respostas de quase 100 mil mulheres americanas, com idade entre 14 e 78 anos, o relatório derrubava o mito do orgasmo vaginal. Em outras palavras, o ponto crítico do livro era o fato da maioria das mulheres não gozar em decorrência do coito. Se nos dias de hoje, mais de 30 anos depois, a sexualidade feminina ainda poder ser considerada tabu pode-se imaginar quão grande foi o impacto que o livro causou na década de 70, quando se dizia que a maioria das mulheres estavam insatisfeitas em seus casamentos.

The Hite Report on Female Sexuality foi traduzido e lançado em dezessete países, vendendo mais de 2 milhões de exemplares. Em alguns desses países o livro foi recebido com censura, inclusive no Brasil, onde foi proibido até o ano de 1978.

Como conseqüência do escândalo causado nos Estados Unidos Shere Hite mudou-se para a Alemanha e trocou de nacionalidade. Pouco tempo depois, em 1981 a autora deu continuidade ao estudo e publicou também o Relatório Hite da sexualidade masculina (The Hite Report on Male Sexuality). Os Relatórios Hite (1976 e 1981) estão entre os três estudos do século XX que mais obtiveram repercussão mundial. Os outros dois foram os Relatórios Kinsey (1948 e 1953) e os Relatórios Masters & Johnson (1966 e 1970).

Segundo a autora, a utilização de citações e narrativas das participantes da pesquisa (característica marcante da obra) permitiu uma comunicação mais eficiente entre elas e os leitores. Esse método de construção possibilitou o contato indireto entre as mulheres, a oportunidade de se descobrirem e/ou de se identificarem umas com as outras, e sendo assim, reflexionarem mais e melhor acerca da sexualidade feminina. Embora o livro seja todo arquitetado a partir de depoimentos, Hite não deixar de posicionar-se como feminista e expor suas opiniões. Ela se apropria também de conclusões científicas de outros autores, como Kinsey, Masters & Johnson, Helen Kaplan, Mary Jane Sherfey e Seymour Fisher.

Shere Hite inicia seu relatório partindo de uma afirmação que será crucial para o desenvolvimento da obra: a masturbação clitoriana constitui-se fonte fácil de orgasmos para a maioria das mulheres. Essa declaração desmistifica todos os estereótipos da sexualidade feminina que justificam a ausência do orgasmo por outros meios senão pela falta de estímulos suficientes durante o ato sexual com o parceiro. Não obstante, os depoimentos indicam que quase todas as mulheres pesquisadas foram educadas de forma a não se masturbarem. Muitas

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delas admitem não sentirem-se bem psicologicamente durante o ato, ou terem aprendido a ter orgasmos depois de anos de incapacidade para tal. E enquanto algumas enxergavam a masturbação como substituta do sexo (orgasmo com o parceiro) e como forma de independência sexual, outras tampouco se permitiam obter prazer, mesmo fisicamente.

Todas as questões levantadas no livro evidenciam a supremacia masculina a partir de uma padronização do sexo como constituído de ereção, penetração e orgasmo, privilegiando o prazer do homem e excluindo do processo a satisfação da mulher.

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3. A representação da mulher no cinema

Desde o cinema clássico hollywoodiano a imagem feminina na tela sempre teve seu papel estratégico. O close-up, como técnica cinematográfica de aproximação/destaque, surgiu com a função de revelar os detalhes do rosto da mulher, tornando-a objeto erótico para os personagens da história e para os espectadores do filme.

Pode-se dizer que o objetivo do close-up da “estrela feminina” era justamente o de agradar o sujeito masculino, reforçando suas fantasias sexuais. Segundo Mulvey (1991), na divisão dos papéis típica à sociedade patriarcal, a mulher é o elemento passivo e o homem é o elemento ativo na economia do olhar – o prazer voyeurista tem como objetivo privilegiado a figura feminina (p. 368). Essa diferenciação também podia ser notada nas próprias narrativas dos filmes onde os protagonistas masculinos atuavam como suporte ativo da história, controlando os acontecimentos, e possuindo a identificação do espectador. Ao mesmo tempo a personagem feminina não tinha a menor importância em si mesma, elevando-se no universo de sentido do filme apenas em sua relação subordinada para com o homem. O peso de objeto sexual era exclusivamente da mulher, sua presença era indispensável para congelar o fluxo da ação em momentos de contemplação erótica.

Do cinema clássico aos dias de hoje o cinema sofreu diversas mudanças. No entanto, como conseqüência da ideologia dominante da nossa sociedade, ainda há uma hierarquia de discursos, principalmente nos filmes comerciais, em que o discurso do homem é mais valorizado do que o feminino. De acordo com Kaplan (2002),o modo pelo qual a mulher é imaginada nos dramas convencionais de Hollywood emerge do inconsciente patriarcal masculino. São medos e fantasias do homem sobre a mulher que achamos nos filmes, não perspectivas e inquietações femininas (p. 04).

Com relação à sexualidade feminina o que estamos acostumados a ver na grande maioria das obras cinematográficas, sejam elas pornográficas ou não, são as mulheres atingindo o orgasmo facilmente durante a penetração. Ao apresentar o orgasmo feminino como resultado do coito percebe-se como o cinema ainda está preso às velhas concepções de sexualidade. No que tange a indústria pornográfica a representação da mulher e, portanto, da sexualidade feminina é ainda mais chocante. A pornografia envia a mensagem subliminar de que as mulheres devem ser controladas e de que é disso que elas gostam.

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[...] fundamentalmente, a pornografia dirige-se aos homens, ou à idéia que alguns fazem do que são os homens, como descobrimos todos os dias nessas mensagens eletrônicas que propõem “gatas molhadas” e mulheres oferecidas. Nessa indústria, o corpo da mulher é vendido aos homens... A ironia nisso tudo é que, embora a pornografia pareça lisongear os homens, na verdade está zombado deles. Ela diz e mostra aos homens que sua sexualidade é ridícula, crua e desprovida de sensibilidade, até mesmo grotesca. Visualmente, apresenta uma imagem feia, brutal e estúpida dos homens. Em todo caso, uma imagem desprovida de qualquer sedução. Muitos criticam a mensagem de opressão que a pornografia dirige às mulheres, e a imagem negativa que apresenta delas. De minha parte, critico também a imagem do homem na pornografia, pois a vejo consideravelmente deformada e negativa.

(HITE, 2004, p.128).

Não obstante, os estudos da mulher vêm realizando grandes progressos dentro do âmbito cultural. Novas imagens femininas, conflitantes e distintas, estão sendo desenvolvidas tanto no cinema independente como no comercial. Nestas obras o sexo seria utilizado com o objetivo de questionar, de incitar seus consumidores a refletirem sobre ele, quebrar padrões, e contribuir assim para uma mudança de paradigma das relações sexuais, a favor de uma visão renovada da sexualidade.

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4. A elaboração do roteiro

A escolha da sexualidade feminina como temática central do roteiro desencadeou uma série de leituras que foram fundamentais para minha familiarização com o assunto e o alcance da segurança que me faltava para tratar dele. Dentre livros, artigos, poemas e pesquisas de internet, optei por mencionar neste momento apenas aquelas obras que mais apreciei, ou que mais colaboraram para este projeto. Em ordem cronológica de publicação, apresento-as: de Simone de Beauvoir, lançada em 1949, “O segundo sexo”; de MichelFoucault, datada do ano de 1976, “A história da sexualidade I – a vontade do saber”; de Shere Hite, 1976, “O relatório Hite – um profundo estudo sobre a sexualidade feminina; de Shere Hite com Philippe Barraud, 2004, “O orgulho de ser mulher”.

Todas as leituras dos livros foram acompanhadas de fichamentos dos mesmos. Meu objetivo era selecionar e armazenar os principais fundamentos teóricos que seriam utilizados, posteriormente, no processo de construção deste Memorial. Além disso, algumas passagens anotadas serviram também de inspiração para a elaboração do roteiro.

Após minha primeira reunião com Mahomed Bamba, orientador desse projeto, decidimos que o roteiro viria a ser uma adaptação do “Relatório Hite da sexualidade feminina”, o que, a primeira vista, complicaria menos o processo. No entanto, meu desejo primário e contínuo sempre foi o de escrever um argumento original, mesmo consciente de que se tratava de meu primeiro ensaio como roteirista. No fim das contas, então, abandonei a idéia de uma adaptação e resolvi que utilizaria a obra como fonte inspiradora. E assim foi.

A falta de experiência em elaborações de roteiros também suscitou a leitura de algumas obras, cada qual com suas peculiaridades: de Hugo Moss, “Como formatar seu roteiro”; de Roberto Duarte e por indicação de Mohamed, “O primeiro traço – um manual descomplicado de roteiro”; de Syed Field, o clássico “Manual do roteiro”; de Gabriel Garcia Marquez, “Como contar um conto” e, por fim, “Da criação ao roteiro” de Doc Comparato. E como não podia deixar de ser, este estudo foi complementado pela leitura de alguns roteiros, de curtas e longas metragem.

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O primeiro insight que me surgiu para a escrita do argumento partiu de um trecho do livro “Orgulho de ser mulher”, que dizia: uma jovem mulher de 22 anos descreve em detalhes como ela e seu namorado tentam integrar juntos o novo saber em sua vida sexual. No entanto, a idéia era ainda muito vaga e demorou a se desenvolver. Segundo Duarte (2009), embora as histórias nasçam ninguém sabe de onde, e caiam no colo da gente já meio configuradas, como se fossem produtos de sonhos, de visões produzidas em algum estágio inconsciente das nossas mentes, elas têm a estranha mania de virem incompletas, distorcidas, mascaradas e até escondidas (p.14).

Ainda pelas palavras de Duarte (2009), quando se produz um roteiro, escrever o roteiro é a última coisa que se faz. Antes, haverá um longo percurso, manejando muitas ferramentas teóricas e práticas, para estruturar toda a obra a partir da idéia inicial (p.28). Durante esse percurso eu me tornei membro do CUS – Grupo de Pesquisa em Cultura e Sexualidade do CULT – Grupo de Estudos Multidisciplinares em Cultura da UFBA. As reuniões do grupo, dirigido pelo professor Leandro Colling e composto por alunos de diversos cursos da UFBA, foram fundamentais para meu avanço teórico no terreno da sexualidade.

Após a primeira versão do roteiro ter sido concluída, fui selecionada para uma Oficina de Crítica cinematográfica, ministrada pelo jornalista e crítico João Sampaio, no espaço Unibanco de Cinema. A oficina fazia parte do VI Panorama Internacional Coisa de Cinema e ocorreu entre 17 e 22 de maio. O conteúdo oferecido nas aulas ampliou minha percepção e compreensão sobre o “fazer cinematográfico” e a produção audiovisual; desde o ponto de partida da criação da obra, isto é, o roteiro literário, até a sua recepção pela crítica. Os conhecimentos adquiridos durante a oficina me permitiram fazer uma leitura crítica do meu próprio roteiro, colaborando, portanto, para a execução do segundo tratamento do mesmo.

A escolha do cotidiano como pano de fundo para as expressões de sexualidade veio de modo natural, sem muitas indagações. De acordo com VITAL (2008), é no cenário caseiro que as representações da sexualidade se dão, trazendo à tona todo o erotismo que permeia a relação conjugal e o contato da mulher com sua genitália. Inspirada no Relatório Hite, busquei desenvolver a história do casal partindo de temas centrais como a masturbação clitoriana e a ausência do orgasmo durante a penetração.

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Com o roteiro praticamente finalizado participei também de um curso de análise fílmica da Mostra Possíveis Sexualidades, dia 17 de junho, no Instituto Cervantes. Coincidentemente o curso tratava da questão do gênero no cinema espanhol. E, portanto, também foi de grande ajuda para a conclusão do produto.

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5. Considerações finais

Se a masturbação é fonte fácil de orgasmos para a maioria das mulheres, se o prazer feminino não provém do coito mas da estimulação contínua do clitóris, é a própria noção de sexualidade que deve ser reexaminada.

A maioria dos homens não aprendeu como as mulheres chegam ao orgasmo. Sem o conhecimento necessário acerca da anatomia feminina fica mais difícil de compreender porque as mulheres gozam através da estimulação do clitóris. Dessa forma o que eles absorvem como uma sexualidade feminina “normal” emana da imagem pornográfica da mulher disseminada nos meios de comunicação: cinema, televisão, internet, etc. Em contrapartida, continuamos a constatar que as mulheres sofrem uma forte tendência a seguir o modelo de relação sexual vigente, ignorando sua própria sexualidade ao deixar de explorar seu próprio corpo. Mas como toda regra tem sua exceção, há muitas mulheres e homens que querem levar suas relações sexuais a um nível completamente novo. Neste caminho, entretanto, há um grande muro de resistência construído pela velha instituição de sexualidade. Se a sexualidade fosse desenvolvida de maneira diferente desde o nascimento, poderia assumir formas mais pessoais, livres de clichês e imposições3.

3

HITE, Shere. O orgulho de ser mulher / Shere Hite & Philippe Barraud, Rio de

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LIVROS

1. HITE, Shere. O Relatório Hite: um profundo estudo sobre a sexualidade feminina. 13.ed. São Paulo: Difel, 1982.

2. HITE, Shere. O orgulho de ser mulher / Shere Hite & Philippe Barraud, Rio de Janeiro: Sextante, 2004.

3. FOUCAULT , Michel. História da Sexualidade I: a vontade do saber. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.

4. BEAUVOUIR, Simone de. O segundo sexo: fatos e mitos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2004.

5. FIELD, Syd. Manual do Roteiro: os fundamentos do texto cinematográfico. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

6. COMPARATO, Doc. Da criação ao roteiro. Rio de Janeiro: Rocco Ltda, 1995.

7. MARQUÉZ, Gabriel Garcia. Como contar um conto. Rio de Janeiro: Casa Jorge, 2001. 8. CARRIÈRE, Jean Claude e BONITZER, Pascal. Práctica del guión cinematográfico.

Barcelona: Paidós, 1991.

9. DUARTE, Roberto: Primeiro Traço: manual descomplicado de roteiro. Salvador: Edufba, 2009.

ARTIGOS

10. VITAL, Egberto. Desconstruindo paradigmas: a sexualidade feminina em poemas de

(22)

http://www.gargantadaserpente.com/artigos/egbertovital2.shtml Acesso em: 20 abril. 2010.

11. SOUZA, Fernanda; FONSECA, Ilmara; LOURENÇO, Jamille; GÓES, Roberta e

LIMA, Simone. Hite encontra Freud: reflexões sobre sexualidade feminina à luz da

psicanálise. Disponível em

http://www.frb.br/ciente/PSI/PSI.SOUZA.%20et%20al.F2%20.pdf Acesso em: 20 abril. 2010.

12. KAPLAN, Ann. A mulher no cinema segundo Ann Kaplan. Revista Contracampo, Rio de Janeiro: vol. 7, n. 0, p. 209-216, 2002. Entrevista concedida a Denise Lopes. Disponível em http://revcom2.portcom.intercom.org.br/index.php/contracampo/article/viewFile/24/ Acesso em: 22 maio. 2010.

13. XAVIER, Ismail. Um Cinema que “Educa” é um cinema que (nos) faz Pensar.

Educação e realidade. Porto Alegre: UFRGS, v. 33 (1), p. 13-20, jan-jun. 2008.

Entrevista concedida a Fabiana de Amorim Marcello. Disponível em: http://www.seer.ufrgs.br/index.php/educacaoerealidade/article/viewFile/6683/3996

Acesso em 22 maio 2010.

CAPÍTULOS

14. MULVEY, Laura. Cinema e Sexualidade. In: XAVIER, Ismail (Org.). O Cinema do

Século. Rio de Janeiro: Imago, 1983, p.123-139.

15. MULVEY, Laura. Prazer Visual e Cinema Narrativo, In: XAVIER, Ismail (Org.) A

experiência do cinema: antologia. Rio de Janeiro: Graal, 1991, p. 437-455.

16. SENA, Tito. Os relatórios Shere Hite: Sexualidades, Gênero e os Discursos Confessionais, In: SENA, Tito. Os relatórios Kinsey, Masters & Johnson, Hite: As

sexualidades estatísticas em uma perspectiva das ciências humanas. 2007. Tese

(Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis: 2007. Disponível em:

(23)

http://www.fazendogenero8.ufsc.br/sts/ST33/Tito_Sena_33.pdf. Acesso em: 20 abril. 2010.

FILMES

15. LES AMANTS RÉGULIERS. Direção: Philippe Garrel. Produção: Gilles Sandoz. Elenco: Louis Garrel, Clotilde Hesme, Julien Lucas, Eric Rulliat, Nicolas Bridet, Mathieu Genet, Raïssa Mariotti, Caroline Deruas-Garrel, Rebecca Convenant, Marie Girardin, Maurice Garrel, Cécile Garcia-Fogel. Roteiro: Philippe Garrel, Arlette Langmann, Marc Cholodenko. Música: Jean-Claude Vannier. Fotografia: William Lubtchansky. França: Maia Films, 2005. 1 DVD (178 min), p & b.

16. LE CLITORIS, CE CHER INCONNU. Direção: Michele Dominici. França/ Inglaterra, 2003. (59 min.) Produzido por Cat & Dogs Films, Sylicone, Art France. Disponível em: http://www.cinegratis.net/index.php?module=search Acesso em: 2009.

(24)

MAGALHÃES, Laila Milani. ”Meu canto contigo”: Um roteiro de curta-metragem. 2010.

24 f. Memória (Trabalho de Conclusão de Curso em Comunicação Social com Habilitação em Produção Cultural) – Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia, Salvador.

Autorizo a reprodução [parcial ou total] deste trabalho para fins de comutação bibliográfica.

Salvador, 23 de junho de 2010.

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