w w w . e l s e v i e r . p t / r p s p
Artigo
original
Os
muito
idosos
do
concelho
de
Coimbra:
avaliac¸ão
da
funcionalidade
na
área
de
saúde
física
Rogério
Manuel
Clemente
Rodrigues
a,∗,
Zaida
de
Aguiar
Sá
Azeredo
b,
Isabel
Margarida
Marques
Monteiro
Dias
Mendes
a,
Sandrina
Sofia
da
Silva
Crespo
ae
Cristiana
Filipa
Ribeiro
da
Silva
aaUnidadedeInvestigac¸ãoemCiênciasdaSaúde:Enfermagem,EscolaSuperiordeEnfermagemdeCoimbra,Coimbra,Portugal bEscolaSuperiordeSaúdeJeanPiaget,InstitutoPiaget,Viseu,Portugal
informação
sobre
o
artigo
Historialdoartigo: Recebidoa1desetembrode2014 Aceitea5demaiode2016 On-linea15dejunhode2016 Palavras-chave: Envelhecimentodapopulac¸ão Avaliac¸ãogeriátrica Saúdedoidosor
e
s
u
m
o
Contexto:Concomitantecomoprocessodeenvelhecimentoexisteumdeclíniodasaúde físicadosindivíduos,porinterac¸ãodeinúmerosfatores,interferindocomassuas ativida-desdevidadiáriaequalidadedevida.Destaforma,éessencialpromoverumaavaliac¸ão multidimensionalquepermitaidentificaressesfatoreseintervirprecocemente.
Objetivo:Avaliaracapacidadefuncionalnaáreadesaúdefísicadapopulac¸ãocomidade≥75 anosdoconcelhodeCoimbra.
Método:Estudoquantitativo,descritivoecorrelacional,comamostraprobabilística (estrati-ficadaporsexo,idadeeáreaderesidência),constituídapor1.153indivíduos.Foiutilizadoo QuestionáriodeAvaliac¸ãoFuncionalMultidimensionalparaIdosos.Aavaliac¸ãodaáreade saúdefísicacomportaonúmerodeconsultasmédicas,aprescric¸ãodemedicamentos,as patologiasreferidasesuainterferêncianasatividades,aautopercec¸ãodavisãoeaudic¸ão, oconsumodeálcool,apráticadeatividadefísicaeaautoavaliac¸ãodasaúdefísica.
Resultados: Relativamenteàsconsultasmédicas,89,5%dosparticipantes(90,0%doshomens e89,2%dasmulheres)referiramtertidopelomenosumaconsulta,numperíodode6meses. Ahipertensãoarterialfoiapatologiamaisreferida(51,6%),seguidadaartriteoureumatismo
(49,5%).
Quantoàvisãoeaudic¸ão,24,8e26,8%,respetivamente,responderamqueestavamal.As mulhereseosparticipantes≥85anossãoosqueavaliamasuasaúdefísicamais negativa-mente.
Conclusão:O conhecimento da capacidade funcional produzido nesta área de estudo, conjugadocomarededecuidadosdesaúdeprimários,podeserútilnorastreio,no enca-minhamentoenaresoluc¸ãodesituac¸õesdeincapacidade.
©2016OAutor(s).PublicadoporElsevierEspa ˜na,S.L.U.emnomedeEscolaNacionalde Sa ´udeP ´ublica.Este ´eumartigoOpenAccesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http:// creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
∗ Autorparacorrespondência.
Correioeletrónico:rogerio@esenfc.pt(R.M.C.Rodrigues).
http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2016.05.002
0870-9025/©2016OAutor(s).PublicadoporElsevierEspa ˜na,S.L.U.emnomedeEscolaNacionaldeSa ´udeP ´ublica.Este ´eumartigoOpen Accesssobumalicenc¸aCCBY-NC-ND(http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
The
oldest
old
from
Coimbra:
Assessment
of
functionality
in
the
physical
health
area
Keywords: Demographicaging Geriatricassessment Elderlyhealtha
b
s
t
r
a
c
t
Context: Concurrentwiththeagingprocessthereisadeclineoftheindividuals’physical health,bytheinteractionofnumerousfactors,whichinterfereswiththeiractivitiesofdaily livingandqualityoflife.Thus,itisessentialtopromoteamultidimensionalassessmentto identifythosefactorsandinterveneearly.
Objective:Toassessthefunctionalstatusinphysicalhealthareaofindividualsaged75years oldormorefromCoimbra.
Method: Quantitative,descriptiveandcorrelationalstudywitharandomsample(stratified bygender,ageandareaofresidence),composedby1153individuals.Thequestionnaire usedwastheQuestionáriodeAvaliac¸ãoFuncionalMultidimensionalparaIdosos.Theevaluation ofphysicalhealth areainvolves numberofphysician visits,prescribeddrugs, patholo-giesmentionedandtheirinterferencewithactivities,self-evaluationvisionandhearing, consumptionofalcohol,andself-ratedphysicalhealth.
Results:Inaperiodofsixmonths,89.5%ofparticipants(90.0%menand89.2%women) repor-tedhavinghadatleastonephysicianvisit.Hypertensionwasthemostreferredpathology (51.6%),followedbyarthritisorrheumatism(49.5%).
Asforvisionandhearing,24.8%and26.8%,respectively,answeredthatwaspoor.The womenandindividuals≥85yearsevaluatedmorenegativelytheirphysicalhealth.
Conclusion:Theknowledgeofthefunctionalcapacityproducedinthisstudyarea,conjugated withprimaryhealthcarenetwork,maybeusefulforscreening,routingandaddressing situationsofdisability.
©2016TheAuthor(s).PublishedbyElsevierEspa ˜na,S.L.U.onbehalfofEscolaNacional deSa ´udeP ´ublica.ThisisanopenaccessarticleundertheCCBY-NC-NDlicense(http:// creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/).
Introduc¸ão
Nassociedadescontemporâneas,aumnívelglobal, observa--seumadiminuic¸ãodastaxasdemortalidadecomaumento da esperanc¸amédia de vida e uma diminuic¸ão nas taxas defecundidade,repercutindo-senumatransic¸ãodemográfica marcada,comenvelhecimentopopulacional1.
EmPortugal,oíndicedeenvelhecimentoé,deacordocom osdadospublicadosnoanode2013peloInstitutoNacional deEstatística2, de 131pessoas idosas(≥65 anos)porcada
100jovens(0-14anos),sendoaesperanc¸amédiadevidade 79,8anos2. Estefenómenoémaisacentuadonasmulheres,
refletindoasuamaiorlongevidade2,enogrupodosmuito
ido-sos(idade≥85anos),constituindoestes12,0%dapopulac¸ão empaísesdesenvolvidos1.
O envelhecimento demográfico está associado a um aumentodaincapacidade,amplificandooscustosemsaúde. Comotal,éfundamentalcriarcondic¸õesdesaúde,sociaise económicas,paraqueapessoapossapermanecerautónoma eindependenteomaiornúmerodeanospossível1.
Nestecontexto,desenvolvemosemCoimbra,oprojetoOs muito idosos: estudo doenvelhecimento emCoimbra, PTDC/CS--SOC/114895/2009, com o intuito de avaliar a capacidade funcionaleautilizac¸ão,enecessidadesentidadeservic¸osde saúdeedeapoiosocialpelosindivíduoscomidade≥75anos. Oconceitodecapacidade funcionalreporta-seà capaci-dadedapessoaparadesenvolverasatividadesessenciaisao seubem-estar,integrandoosdomíniosbiológico,psicológico
esocial3.Destaforma,éfundamentalqueasuaavaliac¸ãoseja
multidimensionaleorientada paraos3domínios. Contrari-amente,aincapacidadefuncionalpodeserdefinidacomoa incapacidadeoudificuldadeemrealizarasatividadesdiárias, podendo estar relacionada com asaúde física, psicológica, social,económicaouderecursos,impossibilitandoumavida independente.
Énestepressupostoqueassentaaavaliac¸ão multidimen-sional da pessoa idosa e, por sua vez, o presente estudo. Foi utilizadoo Questionáriode Avaliac¸ão Funcional Multi-dimensional para Idosos (QAFMI)4,5, que abrange as áreas
determinantesparaasaúdee,porconseguinte,paraa capa-cidadefuncionaldoidoso,nomeadamenterecursossociais, recursoseconómicos,saúdefísica,saúdementaleatividades devidadiária.
Nopresenteartigopretendemosdescreveraavaliac¸ãoda capacidadefuncionalnaáreadesaúdefísica,colocandoem evidênciaasdiferenc¸asentresexosegruposetários,porser umadasáreasemqueaintervenc¸ãodostécnicosdesaúdeé maisnotóriaeemqueoseupapelédeterminantenorastreio, cuidadoeencaminhamentodassituac¸õesemquenecessitam deservic¸osdesaúde.
Enquadramento
Aavaliac¸ãodasaúdefísicada pessoaidosaimplicao reco-nhecimentodacoexistênciadeumamultiplicidadedefatores
queacompanhamoprocessodeenvelhecimentoeda possi-bilidadedeinterac¸õesentreestes6.
As pessoas idosas são mais suscetíveis à incapacidade, refletindoaacumulac¸ãodefatoresderiscoduranteoseu per-curso devida. Estima-se que46,0% das pessoas com mais de 60 anos apresentem incapacidade, sendo as principais causasadiminuic¸ãodaacuidadevisualeauditiva,a demên-ciaeaosteoartrite7.Muitasdestascondic¸õessãoaltamente
incapacitantes e poderiam ser prevenidas, ou pelo menos retardadooseuaparecimento,deformaamantera capaci-dadefuncionalequalidadedevidaomaiornúmerodeanos possível.
Um dos aspetos característicos da incapacidade na populac¸ãoidosaéaexistênciade«multimorbilidade»,ouseja, decoexistiremmúltiplasdoenc¸asnomesmoindivíduo8.Este
factoaumentade formasignificativao riscodoidoso vira necessitar de cuidados de longa durac¸ão num período de 5anos,sendoademênciaeoacidentevascularcerebral(AVC) aquelesquesãomaisfortementecorrelacionadoscomeste risco9.
A apresentac¸ão da multimorbilidade, e do padrão de doenc¸as associadas, difere de forma significativa entre sexo e idade. As mulheres apresentam uma maior preva-lência de patologias do foro musculoesquelético, nomea-damente osteoartrose e osteoporose, do foro psiquiátrico (depressãoe ansiedade),apresentam maisfrequentemente diminuic¸ãoda acuidadevisualeincontinência. Oshomens são mais frequentemente acometidos por doenc¸a cardi-ovascular e metabólica (diabetes, obesidade, hipertensão, insuficiênciacardíacacongestiva,entreoutras)10,11.Nos
indi-víduosmaisidosos(≥85anos)ocorremaisfrequentemente doenc¸a cerebrovascular, insuficiência cardíaca, demência e osteoporose10,11.
Também a utilizac¸ão dos cuidados de saúde, nome-adamente de consultas médicas, difere entre homens e mulheres, observando-seque a probabilidade de não con-sultar o médico num período de 3 meses é superior para oshomensequeaproporc¸ão demulheresqueprocuramo médicoentre 1-6 vezesé superior,denotando-seuma ten-dênciaparaatrasaraprocuradeajudamédicaporpartedos homens12.
Apesardasdiferenc¸asindividuaisedamultiplicidadede diagnósticos,oparadigmadominantedoscuidadosdesaúde contemporâneospermanecefocado naabordagem de cada doenc¸aemseparado,resultandoemproblemasdearticulac¸ão entreosprofissionaisdoscuidadosdesaúdeprimáriose espe-cializados,comprejuízoparaapessoa13.
Énosentidodemudaroparadigmaatualquesurgemas medidasdeavaliac¸ãomultidimensionais,talcomoa metodo-logiaeinstrumentoutilizadonopresenteestudo,poisestas têm em considerac¸ão a multiplicidade de diagnósticos de saúdeaqueosidososestãosujeitos6,14.
Metodologia
Tipodeestudo
Trata-sedeumestudoquantitativodetipodescritivoe corre-lacional,realizadonoconcelhodeCoimbra.
Populac¸ãoeamostra
Definimos como populac¸ão-alvo os utentes com idade≥75 anos(a31dedezembrode2011)inscritoseresidentesnaárea geográficadeabrangênciados6centrosdesaúdedo conce-lhodeCoimbra,pertencentesaoAgrupamentodeCentrosde SaúdeBaixoMondego.
Aconstituic¸ãodaamostrabaseou-senosdados disponibi-lizadospelaAdministrac¸ãoRegionaldeSaúdedoCentro(ARS Centro)relativamenteàpopulac¸ãoalvo.Segundoosdados,a populac¸ãototaleraconstituídapor16.474indivíduos.Tendo em conta o tempo e os recursos disponíveis para a reco-lhadedados,definimoscomotamanhodaamostra7,0%da populac¸ão,representando1.153participantes.
Deformaaestratificaraamostra,subdividimosoficheiro deacordocom:sexo,gruposetários(74-84e≥85)eáreade residência (centro desaúde).A selec¸ãoda amostra foi efe-tuada,emcadaestrato,medianteselec¸ãoaleatóriasimples, segundo a ordem aleatória das bases de dados fornecidas peloscentrosdesaúde.
Paraalcanc¸aronossoobjetivoforamrealizados2.175 con-tactos. Destes, 1.022 (47,0%) não participaram no estudo maioritariamentedevidoacontactoserróneos(41,4%),recusas (21,4%)ouóbito(12,7%).Quandoocorriaumadestassituac¸ões opotencialentrevistadoerasubstituídoporoutrocomas mes-mascaracterísticas,respeitandoaaleatoriedadedaamostra definida.
Procedimentosparaarecolhadedados
Antesdoiníciodarecolhadedadosfoirealizadaumasessão deesclarecimento emcadacentrodesaúdeabrangidopelo estudocomosprofissionais desaúde,deforma ainformar acercadosobjetivoseprocedimentosderecolhadedados.
Oprimeirocontactofoirealizadopeloenfermeirodo cen-trodesaúde,talcomosolicitadopelaComissãoNacionalde Protec¸ão deDados(CNPD). Esteinformavaoutentesobreo estudo e questionava sobre o seu interesse em participar. Assim sendo, a recolha de dados foi realizada através de entrevistaestruturada, maioritariamenteno domicílio,mas tambémnoscentrosdesaúde,pelasbolseirasdeinvestigac¸ão, comumadurac¸ãomédiade47,38minutos(=15,661).Esta fasedecorreudejunhode2012aoutubrode2013.
Instrumentoderecolhadedados
Oinstrumentoderecolhadedadosutilizadofoiaversão vali-dadaemportuguêseuropeudoOlderAmericansResourcesand Services(OARS),oQAFMI4,5.Esteéuminstrumento
multidi-mensional comqualidades reconhecidasnaáreada saúde, desenvolvido especificamentepara idosos,cujas caracterís-ticaslhepermitemdesempenharumpapelnoestudodesta populac¸ão, auxiliando naidentificac¸ão de problemase ori-entandointervenc¸ões15.OQAFMI/OARSéconstituídoapenas
por perguntas fechadas e, atendendo às características da populac¸ãoalvo, olimitemáximode apeloàmemória éde 6meseseomínimodeummês.
O questionário inicia-se pela caracterizac¸ão sociode-mográfica e pelo Short Portable Mental Status Questionnaire
avaliarafunc¸ãocognitiva,determinandoseoidosoéidóneo pararesponder aoquestionárioou seénecessário recorrer a um informante. A determinac¸ão da idoneidade é rea-lizada através do somatório das respostas incorretas. No presenteestudo,tendoemcontaaidadedosentrevistados, ficou definido que o participante estaria idóneo a respon-der ao questionário se o número de respostas incorretas fosseaté5enãoas4habitualmentedefinidascomocritério de exclusão, decisão esta decorrente dos trabalhos origi-naisdePfeiffer16edeFillenbaum17,bemcomonautilizac¸ão
dos estudos de validac¸ão e aplicac¸ão para a populac¸ão portuguesa4–6,18.
Emtermosdeestrutura,oQAFMI/OARSécomposto funda-mentalmentepor2partes.AparteA(70questões)corresponde àavaliac¸ãofuncionaldasáreasderecursossociais,recursos económicos,saúdemental,saúdefísicaeAVD.AparteB reco-lheinformac¸ão sobreautilizac¸ão,nos últimos6meses,de 6conjuntosdeservic¸os,nomeadamente,servic¸osdesaúde, de avaliac¸ão e coordenac¸ão, não classificados, de apoio geral,deapoioeconómico,esociaiserecreativos,numtotal de23servic¸os.
Aavaliac¸ãodaáreadesaúdefísica,apresentada no pre-senteartigo,engloba20questões,correspondendoaogrupo entrea37.aea55.aquestão.
Oprimeirogrupodequestões(37-40)correspondeàanálise dafrequênciadasconsultasmédicasedosdiasemqueesteve doentee/ouinternado,sendosolicitadoàpessoaparareferir onúmerodevezesounúmerodediasnoperíodode6meses. Aquestão41questionaanecessidadedecuidadosmédicos adicionais.
Naquestão42e43 éapresentadaumalistade medica-mentos,solicitando-seaodoentequeindiquequaisos que tomounoúltimomês.Enquantonaquestão44éapresentada umalistade25doenc¸aseésolicitadoaosparticipantesque indiquemaquelasquepadecematualmente,referindodeque modoestasinterferemnassuasatividades(«nada»,«pouco» ou«muito»).
Napergunta45équestionadoacercadapresenc¸ade inca-pacidade física como «paralisia total», «paralisia parcial», «faltademembro/func¸ão»ou«fraturaóssea»,eaquestão48 inqueresobreapresenc¸adeoutroproblemadesaúdequeafete seriamenteasuasaúde(respostadicotómica«sim/não»).
Asquestões46e47sãorelativasàacuidadevisuale audi-tiva,respetivamente,variandoasrespostasdesde«muitoboa» a«cego/surdo».
Asquestões49e50sãorelativasaosdispositivosdeapoioe próteses,emqueaspessoassãoquestionadasacercadequais utilizamedequaisnecessitariam,mediantelistagem.
Aquestão51érelativaaoconsumodebebidasalcoólicas)e a52àpráticadeatividadefísica(ambasrespostasdicotómicas «sim/não»).
Porfim,asquestões53a55reportam-seàautoavaliac¸ãoda pessoarelativamenteàsuasaúdefísica.Aprimeiraquestiona acercadaopiniãodasuasaúdeemgeral,desde«muitoboa» a«má»,asegundasolicitaumacomparac¸ãocomhá5anos («melhor»,«igual»ou«pior»)e,porúltimoa55.ainquerede queformaosproblemasdesaúdeinterferemcomasuavida («nada»,«umpouco»,«muito»).
As3dimensões(doenc¸acrónica,incapacidadefuncionale autoavaliac¸ãodesaúde)earelac¸ãoqueestabelecementresi
sãoopontocentraldequalquermodelodeavaliac¸ãodesaúde físicaemidosos19.
Além destes dados, é também possível atribuir uma classificac¸ãoacadaáreafuncionalemestudo.Tendoporbase oQAFMI/OARS,foiconstruídoumprogramainformáticoque classificaacapacidadefuncionaldosrespondentes,emcada área,de1-6,correspondendo,respetivamente,aexcelente,boa, limitac¸ãopequena,limitac¸ãomoderada,limitac¸ãograveelimitac¸ão total18.Naáreadesaúdefísica,oprogramatememcontaas
respostasdadasnositensanteriormentedescritos.Opontode cortedefinidocomo«incapacidade»foiestabelecidoaonível dapontuac¸ão5e6.
Tratamentoestatísticodosdados
Osdadosobtidosforam processadosnoprograma informá-ticoStatisticalPackagefortheSocialSciences(SPSS®versão22.0) doWindows,tendo-serecorridoamétodosinerentesà estatís-ticadescritiva(apresentandocálculosreferentesafrequências absolutas e relativas) e inferencial, tendo-se recorrido às estatísticasresumoadequadaseaotestedecomparac¸ãode proporc¸õesdoqui-quadradoerespetivamedidadeassociac¸ão (V de Cramer). Para melhor compreensão da leitura das tabelas,gostaríamosdereferirquenastabelas6e7serão apre-sentadososdadosrelativosàcomparac¸ãoentresexospara cadaumdosgruposetários(75-84anos[A]e≥85anos[B])epara
ototaldaamostra[C]e,ainda,àcomparac¸ãoentreos2grupos
etários[D].
Considerac¸õesético-legais
O estudo foi autorizado pela ARS Centro, pela CNPD (autorizac¸ãon.◦1713/2012)epelaComissãodeÉticada
Uni-dade de Investigac¸ão em Ciências da Saúde: Enfermagem da Escola Superior de Enfermagem de Coimbra (parecer n.◦ 90-05/2012).Nomomento daentrevista,o indivíduoera
informadodosobjetivosdoestudoedagarantiade confiden-cialidadedosdadosrecolhidos,assinandooconsentimento informado.
Resultados
Osresultadosreferentesàáreafuncionaldesaúdefísicaserão apresentadosdeacordocomparâmetrosdeavaliac¸ão enunci-adosnametodologia.
Características
da
amostra
Aamostraéconstituída,quantoaosexo,por422participantes dosexomasculinoe731dosexofeminino.Quantoaogrupo etárioéconstituídapor814participantesentre75-84anose por339participantescomidade≥85anos.
Emrelac¸ãoaoestadocivildosparticipantes,oestadode solteiro foi referido maioritariamente por mulheres (10,1% do sexo feminino e 1,4% do sexo masculino), enquanto a percentagem de homens casadosé superior (76,1 e33,9%, respetivamente).Asituac¸ão deviúvo émaisfrequentenas mulheres(52,5e20,6%,respetivamente).
Tabela1–Distribuic¸ãosegundoreferênciaaconsultamédica,períododedoenc¸a,internamento(nosúltimos6meses) enecessidadedemaiscuidadosmédicos
Grupoetário75-84anos Grupoetário≥85anos Total
M(n=320) F(n=494) Total(n=814) M(n=102) F(n=237) Total(n=339) M(n=422) F(n=731) Total(n=1.153)
% % % % % % % % %
Vistopelomédico 90,0 92,1 91,3 90,2 83,1 85,3 90,0 89,2 89,5
Estevedoente 23,4 31,6 28,4 36,3 43,9 41,6 26,5 35,6 32,3
Esteveinternado 11,9 15,6 14,1 16,7 17,7 17,4 13,0 15,0 15,1
Necessitademaiscuidados/tratamentosmédicos
Sim 15,3 18,8 17,4 16,6 13,5 14,5 15,6 17,1 16,6
Não 84,4 79,8 81,6 77,5 77,6 77,6 82,7 79,1 80,4
NS/NR 0,3 1,4 1,0 5,9 8,9 7,9 1,7 3,8 3,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Quantoàshabilitac¸õesliterárias,nãosabiamlernem escre-ver, 8,8% dos homens e 26,0% das mulheres. Detinham o ensinobásicoprimário,51,4%doshomense45,6%das mulhe-res,eoensinosuperior9,5%doshomense6,0%dasmulheres.
Consultas
médicas
Quantoàfrequênciadeconsultasmédicas(tabela1), obser-vamosque 89,5% dosparticipantes referiram ter tido uma consultamédicanosúltimos6meses,sendoapercentagem maisaltaparaasmulhereseparaosparticipantesdogrupo etário75-84anos(89,2e91,3%,respetivamente).Masapenas 32,3%referiramterestadodoentes,sendoestefactomais refe-ridopelasmulheresepelosparticipantescomidade≥85anos (35,6e41,6%,respetivamente) e15,1%referiram ter estado internadosnumhospital,tambémmaioritariamente mulhe-res(15,0%)eparticipantes≥85anos(17,4%).
Cercade16,6%dosparticipantesreferiunecessitarde cui-dadosmédicos,alémdaquelesquerecebem.
Patologias
Natabela2éconjugadaainformac¸ãodasquestõesrelativas àspatologiasmaisreferidaseàmedicac¸ãocomreceitamédica
noúltimomês,indicando-separacadapatologiaograucom queinterferenasatividades(valorespercentuaisparaototal devezesreferida).
Ahipertensãoarterialfoiapatologiamaisreferidapelos par-ticipantes(51,6%),especialmentenogrupoetário75-84(55,3%) epelasmulheres(52,4%).
Aartriteoureumatismofoireferidapor49,5%dos participan-tes,sendonestecasomaisevidentenogrupoetário≥85anos com57,8%.Apresenta,também,valorespercentuaismais ele-vadosparaasmulheres(59,2%).
Osproblemascardíacosforammencionadospor39,2%dos participantes(39,8%dasmulherese38,2%doshomens).
Adiabetesfoireferidapor18,7%dosparticipantes,sendo maiorapercentagemdoshomens(20,1%).
Quanto aosproblemas circulatóriosdosmembroseàdoenc¸a datiroideestesforamreferidospor11,9e9,5%dos participan-tes,respetivamente,e,paraambos,apercentagemfoimais elevadaparaasmulheres(14,1e16,1%,respetivamente).
Contudo,aspatologiasmaisreferidasnãosão necessaria-menteaquelasquemaisinterferemnasatividades.
Aspatologiasreferidascommaiorinterferêncianas ativi-dadessãoaartriteoureumatismo(58,8%),problemascirculatórios dosmembroscom35,0%,epilepsia(33,3%),diabetescom24,5%,
úlceras(sistemadigestivo)com23,4%,doenc¸asdatiroideououtras glândulas(22,0%),problemascardíacos(21,9%)ehipertensãocom 4,7%.
Tabela2–Distribuic¸ãosegundoasdoenc¸asreferidasporsexo,graudelimitac¸ão,queprovocaminterferêncianas atividadesereceitademedicamentos
Doenc¸asreferidas Distribuic¸ãodasdoenc¸as
referidasporsexo
Interferêncianas
atividadesa
Receitade
medicamentosb
M(n=422) F(n=731) Nada Pouco Muito
% % % % % %
Hipertensão 50,2 52,4 38,7 56,6 4,7 67,4
Artriteoureumatismo 32,7 59,2 1,6 39,6 58,8 10,1
Problemascardíacos 38,2 39,8 11,1 67,0 21,9 68,8
Diabetes 20,1 17,9 16,2 59,3 24,5 23,0
Problemascirculatóriosdosmembros 8,1 14,1 5,8 59,1 35,0 15,4
Doenc¸adatiroideououtrasglândulas 16,1 5,6 30,3 47,7 22,0 4,8
Úlceras(sistemadigestivo) 5,5 5,6 6,3 70,3 23,4 19,2
Epilepsia 0,5 0,1 33,3 33,3 33,3 0,2
a Paraosquereferemapatologia.
Tabela3–Distribuic¸ãosegundoapercec¸ãodoestadodevisão
Visão Grupoetário75-84anos Grupoetário≥85anos Total
M(n=320) F(n=494) Total(n=814) M(n=102) F(n=237) Total(n=339) M(n=422) F(n=731) Total(n=1.153)
% % % % % % % % % Muitoboa 7,5 3,6 5,2 3,9 1,3 2,1 6,6 2,9 4,3 Boa 38,7 30,0 33,4 24,5 21,5 22,4 35,3 27,2 30,2 Regular 36,6 37,7 37,2 39,2 37,1 37,8 37,2 37,5 37,4 Mal 16,3 25,9 22,1 25,6 33,7 31,2 18,5 28,5 24,8 Estácego 0,0 1,2 0,7 2,9 1,3 1,8 0,7 1,2 1,0 NS/NR 0,9 1,6 1,4 3,9 5,1 4,7 1,7 2,7 2,3 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Duasdas 3patologiasmaiscitadas,ahipertensão(51,6%) e os problemas cardíacos (39,2%), são referidas como inter-ferindo pouco nas atividades, respetivamente em 56,6 e 67,0% dos casos, sendo ao mesmo tempo aquelas para as quaishámaiorpercentagem deinquiridos (67,4e68,8%) a indicar a existência de receita de medicamento com elas relacionadas.
Visão
Relativamenteàpercec¸ãodoestadodasuavisão(tabela3),a maioriadosparticipantesclassificou-acomoregular(37,4%). Apenas 4,3%do totaldos participantes referiram que está
muito boa (6,6% dos homens e 2,9% das mulheres), 30,2% classificou-acomoboa,24,8%comomal.Referindoestarcego
está1,0%daamostratotal(0,7%doshomense1,2%das mulhe-res),éo grupoetário≥85anosque apresentapercentagem maisalta(1,8%).
Audic¸ão
Quantoàpercec¸ãodoestadodasuaaudic¸ão(tabela4), tam-bémamaioria dosparticipantes a classificoucomo regular
(31,0%).Commuitoboaclassificou-se12,0%daamostratotal (10,7%doshomense12,9%dasmulheres),tendoogrupo etá-rio75-84anosumapercentagemmaisalta(15,0%);comboa
classificou-se27,3% da amostra total; com mal classificou--se 26,8%. Classificando-se como estando surdo foi 0,6% da amostra total (1,0% das mulheres), sendo o grupo etá-rio≥85 anos a apresentar uma percentagemmais elevada (1,5%).
Consumo
de
álcool
A referência de indicac¸ão médica de reduc¸ão do consumo de bebidasalcoólicas,apenassurgiuporpartedoshomens (7,3%nototaldaamostra),representando8,1%doshomens dogrupoetário75-84anose4,9%dogrupoetário≥85anos.
Atividade
física
Quandoquestionadossepraticavamalgumtipodeatividade física(tabela5),33,7%daamostratotal(50,0%doshomense 24,2%dasmulheres)referiuquesim,tendosidonogrupoetário 75-84anosqueestapercentagemfoimaisalta(41,0%).
Autoavaliac¸ão
de
saúde
física
A maioria dosparticipantes autoavalioua suasaúdefísica como regular (49,8% dos homens e 55,7% das mulheres) (tabela6).Comomuitoboaclassificaram-na5,0%doshomens e1,2%dasmulheres,ecomomáforam19,4%dasmulherese 12,3%doshomens.Foramobservadasdiferenc¸assignificativas entresexos(2=36,013;p=0,000),apresentandoasmulheres pior percec¸ão dasuasaúdefísica. Asdiferenc¸asentre gru-posetáriosforamtambémsignificativas(2=27,913;p=0,000), tendoosparticipantescomidade≥85anospiorpercec¸ãodo seuestadodesaúde.
Quandoquestionadossobreacomparac¸ãoquefazementre asituac¸ãoatualeaquetinhamhá5anos(tabela6),amaioria dosparticipantesreferiuquesesentepior(75,0%das mulhe-rese54,5%doshomens,nototaldaamostra).Apenas0,7% referiuquesesentiamelhore40,0%doshomense19,3%das
Tabela4–Distribuic¸ãosegundoapercec¸ãodoestadodeaudic¸ão
Audic¸ão Grupoetário75-84anos Grupoetário≥85anos Total
M(n=320) F(n=494) Total(n=814) M(n=102) F(n=237) Total(n=339) M(n=422) F(n=731) Total(n=1.153)
% % % % % % % % % Muitoboa 12,2 16,8 15,0 5,9 4,6 5,0 10,7 12,9 12,0 Boa 32,2 30,0 30,8 17,7 19,4 18,9 28,7 26,5 27,3 Regular 30,6 31,6 31,2 35,3 28,3 30,4 31,7 30,5 31,0 Mal 24,1 19,6 21,4 38,2 40,5 39,8 27,5 26,4 26,8 Estásurdo 0,0 0,4 0,2 0,0 2,1 1,5 0,0 1,0 0,6 NS/NR 0,9 1,6 1,4 2,9 5,1 4,4 1,4 2,7 2,3 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Tabela5–Distribuic¸ãosegundoapráticadeatividadefísica
Praticaatividade
física
Grupoetário75-84anos Grupoetário≥85anos Total
M(n=320) F(n=494) Total(n=814) M(n=102) F(n=237) Total(n=339) M(n=422) F(n=731) Total(n=1.153)
% % % % % % % % %
Sim 56,9 30,8 41,0 28,4 10,6 15,9 50,0 24,2 33,7
Não 42,8 68,6 58,5 70,6 88,6 83,2 49,5 75,1 65,7
NS/NR 0,3 0,6 0,5 1,0 0,8 0,9 0,5 0,7 0,6
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Tabela6–Distribuic¸ãosegundoaautoavaliac¸ãodesaúdefísica
Autoavaliac¸ãode
saúdefísica
Grupoetário75-84anos[A] Grupoetário≥85anos[B] Total[C],[D]
M(n=320) F(n=494) Total(n=814) M(n=102) F(n=237) Total(n=339) M(n=422) F(n=731) Total(n=1.153)
% % % % % % % % % Atual MuitoBoa 5,6* 1,6 3,2* 2,9* 0,5 1,2 5,0* 1,2 2,6 Boa 30,3* 20,0 24,1* 22,5 15,6 17,7 28,4* 18,6 22,2 Regular 49,7 56,5 53,8 50,0 54,0 52,8 49,8 55,7 53,5 Má 12,2 18,2* 15,8 12,8 21,9* 19,2 12,3 19,4* 16,8 NS/NR 2,2 3,7 3,1 11,8 8,0 9,1* 4,5 5,1 4,9 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Comparadocomhá5anos
Melhor 1,2 0,6 0,9 1,0 0,0 0,3 1,2 0,4 0,7 Igual 44,1* 21,3 30,2* 27,4* 15,2 18,9 40,0* 19,3 26,9 Pior 52,2 74,5* 65,7 61,8 75,9* 71,7* 54,5 75,0* 67,5 NS/NR 2,5 3,6 3,2 9,8 8,9 9,1* 4,3 5,3 4,9 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 Atual
*Resíduosajustadosestandardizados>1,96
[A]2=25,728;p=0,000;VC=0,18;[B]2=10,232;p=0,037;VC=0,17;[C]2=36,013;p=0,000;VC=0,18;[D]2=27,913;p=0,000;VC=0,16.
Comparadocomhá5anos
*Resíduosajustadosestandardizados>1,96
[A]2=49,857;p=0,000;VC=0,25;[B]2=10,073;p=0,018;VC=0,172;[C]2=62,417;p=0,000;VC=0,23;[D]2=30,952;p=0,000;VC=0,16.
mulheresreferiram sentir-seigual. Observam-sediferenc¸as significativasentresexos(2=62,417;p=0,000)eentregrupo etário(2=30,952;p=0,000),tendoasmulhereseos partici-pantes≥85anosumamaiorpercec¸ãodedeclínio.
Capacidade
funcional
na
área
de
saúde
física
Aclassificac¸ãosegundoomodeloQAFMI/OARSpermite clas-sificaracapacidadefuncionaldoindivíduonaáreadesaúde física(tabela7).
Comumaclassificac¸ãodeexcelenteouboanãofoipontuado nenhumindivíduodaamostra.Comlimitac¸ãopequenasão clas-sificados0,3%dasmulherese0,2%doshomens.Aclassificac¸ão de limitac¸ão moderadaé atribuída a 54,2% da amostra total (59,3%homense51,3%mulheres).Comlimitac¸ãogravesão clas-sificados27,6participantes(28,2%homense27,3%mulheres). Alimitac¸ãototalsurgecom21,1e12,3%,respetivamentepara mulheresehomens.
Adiferenc¸aentregruposetários(2=88,458;p=0,000)é sig-nificativa,sendopiorclassificadososmaisidosos(≥85anos). Quantoaosexoadiferenc¸a,nototaldaamostra,ésignificativa (2=14,647;p=0,002),sendoasmulherespiorclassificadas.
Discussão
Aamostraemestudotemumacomposic¸ãosemelhanteà veri-ficadanapopulac¸ãonacional,ondeprevaleceumadiminuic¸ão da populac¸ãoaolongodosgrupos etários,com mais acen-tuadodecréscimo doshomens20–22.Quanto aoestadocivil,
temosmaiorpercentagemdesolteirosentreasmulherese, comoenvelhecimento,observamosadiminuic¸ãodonúmero deindivíduoscasadoseumaumentodonúmerodeviúvos23.
Porúltimo,apopulac¸ãoidosacontinuaadeter,demodogeral, baixosníveisdeescolaridade,registandoasmulheresníveis maisbaixosqueoshomens21.
Noqueconcerne àsconsultasmédicas, verificamosque a maioriadosparticipantes mencionaram ter consultadoo médiconosúltimos6meses,sendoapercentagemdehomens emulheresmuitosimilar,aocontráriodoverificadoemoutros. Agrandepercentagemdeutilizadoresobservadaestámuito relacionada com a faixa etária em estudo (>75 anos), de acordocom oMinistérioda Saúde,éogrupocom maisde 65anosquedetémataxadeutilizac¸ãodecuidadosdesaúde primários maiselevada(60,0%), alémdisso, outrosestudos indicamqueserreformadoevivernumazonaurbanaimplica tambémumamaiorutilizac¸ãodecuidados12.
Tabela7–Distribuic¸ãosegundoapontuac¸ãodomodeloOARSnaáreadesaúdefísica
Pontuac¸ãoem
saúdefísica
Grupoetário75-84anos[A] Grupoetário≥85anos[B] Total[C],[D]
M(n=320) F(n=494) Total(n=814) M(n=102) F(n=237) Total(n=339) M(n=422) F(n=731) Total(n=1.153)
% % % % % % % % % Excelente - - - -Boa - - - -Limitac¸ãopequena 0,3 0,4 0,4 - - - 0,2 0,3 0,3 Limitac¸ãomoderada 61,9 57,1 59,0* 51,0 39,2 42,8 59,3* 51,3 54,2 Limitac¸ãograve 29,7 29,5 29,6* 23,5 22,8 23,0 28,2 27,3 27,6 Limitac¸ãototal 8,1 13,0 11,0 25,5 38,0 34,2* 12,3 21,1* 17,9 Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
*Resíduosajustadosestandardizados>1,96
[A]2=4,900;p=0,179;[B]2=5,563;p=0,062;[C]2=14,647;p=0,002;VC=0,11;[D]2=88,458;p=0,000;VC=0,28.
Quantoàspatologiasreferidas,observamosqueasdoenc¸as crónicassãoofatormajorqueinfluenciaacapacidadedas pes-soasidosasemviveremoseudia-a-diadeformaindependente eseguranoseiodacomunidadeonderesidem6,18,20.
Pela análise dos resultados verificou-se que a maioria dosparticipantes estavampolimedicados(utilizac¸ão conco-mitantedeváriosmedicamentosequepoderãointeragirentre si),umavezqueaindicac¸ãodeutentescomreceitade medi-camentosapresentavavaloressuperioresaosdapresenc¸ade patologia.Estãonestasituac¸ãoahipertensão,problemas cardía-cos,diabetesmellitus,problemascirculatóriosdosmembroseúlcera (sistemadigestivo)24–27.
Relativamente às patologias acima elencadas, os par-ticipantes no estudo referiram «não interferirem muito» nas atividades de vida diária, o que pode justificar o seu «esquecimento» aquando da solicitac¸ão para indicar as doenc¸as de que padece no momento, apesar da questão sobre a toma de medicac¸ão ser prévia. A explicac¸ão para ofactopoderáresidirnaelevadafrequênciacomqueestas patologiassãomencionadas,aformainsidiosaeprogressiva como se vão instalando, e a aceitac¸ão de um progressivo deteriorofísicoqueacompanhaoenvelhecimento,que pode-rãolevar os idosos aconsiderar estasituac¸ão como sendo resultado de um processo normal enão como algo passí-veldeintervenc¸ão,cuidadooutratamento.Estefactopoderá estartambémpresentequandoobservamosquealgumasdas patologiasquemaisinterferemnasatividadestêmmenor per-centagemde receitade medicamentos.Éexemploa artrite oureumatismo,referidapor49,5%,masemqueapenas10,1% referemmedicac¸ãoassociada.Narevisãodaliteratura cons-tatamosqueháumaumentodaprescric¸ãodemedicamentos relacionadacomaexistênciademaiornúmerodemúltiplas doenc¸ascrónicas24–27.
Quantoaoestadodavisão,asmulheresestãopior classifi-cadas,assimcomogrupoetáriocomidadede≥85anos,sendo queambososgruposetários,maioritariamente,considerama suavisãocomoestandoregular.Emtermosdasfunc¸ões audi-tivas,tambémseverificouagravamentodapercec¸ãoauditiva comoavanc¸odaidade,talcomonoutrosestudos21,28,epor
partedasmulheres.
Sobreaindicac¸ãodereduc¸ãodoconsumodebebidas alcoó-licas,oconsumodeálcoolestáligadoaosexomasculino,uma tendênciaqueseconfirmaanívelnacional,porquestões cul-turais, de socializac¸ãoeeconómicas, sendo prova disso as doenc¸aseamortalidadequelhesestáassociada20.
Quantoàpráticaregulardeatividadefísica,denota-seum decréscimodapráticacomoavanc¸odaidade,bemcomo,uma menoradesãopelasmulheres,sendoapercentagemde prati-cantesinferioraoapresentadonoutroestudo20.
Deummodogeral,paraosvaloresdototaldaamostra, aclassificac¸ãosegundo omodeloQAFMI/OARS afasta-seda autoavaliac¸ãoefetuadapelosinquiridos,emqueestes clas-sificammelhorasuasaúdefísica.Apresenc¸adepatologias crónico-degenerativase/ouincapacitantes,eascapacidades adaptativasnãosóadoenc¸as,mastambémasituac¸õesque vãosurgindoaolongodavida,podem,entreoutrosfatores nãocitados,influenciaraautopercec¸ãodoestadodesaúdede umindivíduo,bemcomoasuatomadadedecisãoemsaúde29.
Defacto,conformejámencionadoacima,aaceitac¸ãodo processodedeclínionacapacidadefuncionalqueacompanha oenvelhecimentopoderálevarosidososaconformar-secom estasituac¸ão,considerando-acomoumprocessonormalenão necessariamentealvodeintervenc¸ãodecuidadosdesaúde.
Narevisãodaliteraturadamoscontadaanálisereferente aestefatordesubjetividadedoestadodesaúdepercecionado pelosujeitoedasuarelac¸ãocomascondic¸õesobjetivasde vida,ondepodeexistirapossibilidadedediversidadede res-postasparaomesmocontexto,edaaceitac¸ãodascondic¸ões impostaspelodeclíniofuncional6,30–34.
Naáreadesaúdefísica,seconsiderarmosototalda amos-tra, as mulheres apresentaram pior capacidade funcional, podendoserexplicadoporumaautoavaliac¸ãomaisnegativa doseuestadodesaúdeemaiornúmero decomorbilidades associadas6,30,31,33,34.
Osparticipantescomidade≥85anosapresentaramas pio-res classificac¸ões. Ofacto de nenhum serclassificado com
excelenteouboasaúdefísicapodeserresultadodamorbilidade, doconsumoelevadodemedicac¸ãoede umaautoavaliac¸ão negativadasuasaúdefísicaatual6,29,33,34.
Nodecorrerdaaplicac¸ãodestametodologia,adimensão doquestionárioeotempodespendidoparaarecolhadedados podemsurgircomoumalimitac¸ão.Contudo,aquantidadee qualidadedainformac¸ãojustificamasuautilizac¸ão.
Conclusões
Foipossívelacaracterizac¸ãodapopulac¸ão≥75anosdo conce-lhodeCoimbra(comcaracterísticasurbanaserurais),naárea
desaúdefísica,permitindoobservarasdiferenc¸asintrínsecas entrehomensemulheres,eentregruposetários.
Naáreadesaúdefísica,atendendoaosresultadosobtidos, retemosanoc¸ãodequeaspatologiasmaisreferidasnãosão necessariamenteasquemaisinterferemnacapacidade funci-onaldoidoso.Poroutrolado,aclassificac¸ãosegundoomodelo QAFMI/OARSrevelaquecomumaclassificac¸ãodeexcelenteou
boanãofoipontuadonenhumindivíduodaamostra,sendo, das5áreasemestudo,aquelaemqueosparticipantes apre-sentarammaiorincapacidade(45,6%comlimitac¸ão graveou total).Estefactorevelaaimportânciadapromoc¸ãodasaúdee prevenc¸ãodeincapacidadesquesemanifestamnestafaixa etária,aconselhando apromoc¸ão deprogramas dirigidos à saúdefísica(comoprogramasdeatividadefísica)noscuidados desaúdeprimários.
Assim,comoavanc¸odaidade,verifica-sequeaspessoas apresentamumamaior complexidadenaavaliac¸ão clínica, requerendotratamentoparamuitascondic¸õesdoforofísicoe mental,refletindo-senumaumentodasdespesassociais rela-cionadascomasaúdeecomavelhice,enumanecessidade crescentedecuidadosdesaúdeeassistência.
Em termos de implicac¸ões para a prática clínica e de investigac¸ão,podemosconcluirqueoconhecimentoda capa-cidadefuncionalnestaáreadeestudo,podendoserutilizadaa metodologiaQAFMI/OARS,conjugadocomarededecuidados desaúdeprimários,podeserútilnorastreio,no encaminha-mento enaresoluc¸ão desituac¸ões de incapacidade,assim comoosdadosobtidospoderãoserutilizadosparao plane-amentoedesenvolvimentodasintervenc¸õesdesaúde.
Nestaperspetiva, acoordenac¸ão dosservic¸osde saúde, tendo por base a avaliac¸ão multidimensional de idosos, promoveumenvelhecimentosaudávelearespostaàs neces-sidadessentidas,combinandoasatividadesdepromoc¸ãode saúdecomestratégiasdeprevenc¸ãodedoenc¸as,atendendo aopercursodevidadecadaindividuoeàsdistintasformasde envelhecimentodehomensemulheres.
Financiamento
ProjetofinanciadopeloFundoEuropeudeDesenvolvimento Regional(FEDER)através doProgramaOperacionalFactores deCompetitividade(COMPETE)eporfundosnacionaisatravés daFundac¸ãoparaaCiênciaeTecnologia(FCT)noâmbitodo projetoPTDC/CS-SOC/114895/2009.
Conflito
de
interesses
Osautoresdeclaramnãohaverconflitodeinteresses.
r
e
f
e
r
ê
n
c
i
a
s
b
i
b
l
i
o
g
r
á
f
i
c
a
s
1. WorldHealthOrganization.USNationalInstituteofAging. Globalhealthandaging.Bethesda,Maryland:National InstitutesofHealth;2011(NIHPublicationno.11-7737).
2. InstitutoNacionaldeEstatística.Estatísticasdemográficas 2012.Lisboa:InstitutoNacionaldeEstatística;2013.
3. WorldHealthOrganization.Activeageing:apolicy framework.Geneva:WorldHealthOrganization;2002.
4.FerreiraP,RodriguesR.PortugueseversionoftheOARS multidimensionalfunctionalassessmentofolderadults questionnaire.QualLifeRes.1999;8:597.
5.RodriguesR.Validac¸ãodaversãoemportuguêseuropeude questionáriodeavaliac¸ãomultidimensionaldeidosos.Rev PanamSaludPublica.2008;23:109–15.
6.RodriguesR.Avaliac¸ãocomunitáriadeumapopulac¸ão deidosos.Coimbra:MardaPalavra;2009.
7.WorldHealthOrganization.Goodhealthaddslifetoyears: GlobalbriefforWorldHealthDay.Geneva:WorldHealth Organization;2012.
8.MarengoniA,AnglemanS,MelisR,MangialascheF,KarpA, GarmenA,etal.Agingwithmultimorbidity:Asystematic reviewoftheliterature.AgeingResRev.2011;10:
430–9.
9.KollerD,SchönG,SchäferI,GlaeskeG,vandenBusscheH, HansenH.Multimorbidityandlong-termcaredependency: Afiveyearfollow-up.BMCGeriatr.2014;14:70.
10.Abad-DiezJ,Caldéron-Larra ˜nagaA,Poncel-FalcóA,
Poblador-PlouB,Calderón-MezaJ,Sicras-MainarA,etal.Age andgenderdifferencesintheprevalenceandpatternsof multimorbidityintheolderpopulation.BMCGeriatr. 2014;14:75.
11.WorldHealthOrganization.Diet,nutrition,andthe
preventionofchronicdiseases:ReportofaWHOStudyGroup. Geneva:WorldHealthOrganization;2003(TechnicalReport Series;n.916).
12.QuintalC,Lourenc¸oO,FerreiraP.Utilizac¸ãodecuidadosde saúdepelapopulac¸ãoidosaportuguesa:umaavaliac¸ãopor géneroeclasseslatentes.RevPortSaúdePública.
2012;30:35–46.
13.BoydeCM,FortinM.Futureofmultimorbidityresearch:How shouldunderstandingofmultimorbidityinformhealth systemdesign.PublicHealthRev.2010;32:451–74.
14.EiroaPati ˜noP,Vásquez-VizosoFL,VerasCastroR.The handicapsandtheneedforservicesamongtheageddetected inthehealthsurveyOARS-Vigo.MedClin(Barc.).
1996;106:641–8.
15.VanHookMP,BerkmanB,DunkleR.Assessmenttoolsfor generalhealthcaresettings:Prime-MD,OARS,andSF-36. HealthSocWork.1996;21:230–4.
16.PfeifferE.Ashortportablementalstatusquestionnaire fortheassessmentoforganicbraindeficitinelderlypatients. JAmGeriatrSoc.1975;23:433–41.
17.FillenbaumGG.Multidimensionalfunctionalassessment ofolderadults:TheDukeOlderAmericansResources andServicesProcedures.Hilldale,NJ:LawrenceErlbaum Associates;1988.
18.FerreiraP,RodriguesR,NogueiraD.Avaliac¸ão
multidimensionalemidosos.Coimbra:MardaPalavra;2006.
19.WhitlawNA,LiangJ.ThestructureoftheOARSphysical healthmeasures.MedCare.1991;29:332–47.
20.FontesAP,BotelhoMA,FernandesAA.Afuncionalidadedos maisidosos(75anos):conceitos,perfiseoportunidadesde umgrupoheterogêneo.RevBrasGeriatrGerontol. 2013;16:91–107.
21.LopesMJ,EscovalA,PereiraDG,PereiraCS,CarvalhoC, FonsecaC.Evaluationofelderlypersons’functionalityand careneeds.RevLatAmEnfermagem.2013;21(special): 52–60.
22.AiresM,PaskulinL,MoraisEP.Functionalcapacityofelder elderly:ComparativestudyinthreeregionsofRioGrandedo Sul.RevLatAmEnfermagem.2010;18:11–7.
23.InouyeK,PedrazzaniES.Instruction,socialeconomicstatus andevaluationofsomedimensionsofoctagenarians’quality oflife.RevLatAmEnfermagem.2007;15(n.spe):742–7.
24.GomesHO,CaldasCP.Usoinapropriadodemedicamentos peloidoso:polifarmáciaeseusefeitos.RevHUPE. 2008;7:88–99.
25.FleithVD,FigueiredoMA,FigueiredoKF,MouraEC.Perfilde utilizac¸ãodemedicamentosemusuáriosdaredebásicade saúdedeLorena.CienSaudeColet.2008;13(núm.Sup.):755–62.
26.SantosM,AlmeidaA.Polimedicac¸ãonoidoso.RevEnfRefer. 2010;3:149–62.
27.LinjakumpuT,HartikainenS,KlaukkaT,VeijolaJ,KiveläSL, IsoahoR.Useofmedicationandpolypharmacyareincreasing amongtheelderly.JClinEpidemiol.2002;55:809–17.
28.MachadoFN,MachadoAN,SoaresSM.Comparac¸ãoentrea capacidadeedesempenho:umestudosobreafuncionalidade deidososdependentes.RevLatAmEnfermagem.
2013;21:1321–9.
29.AzeredoZ.Oidosocomoumtodo.Viseu:PsicoSoma;2011.
30.RodriguesT.OmodeloOARSnaenfermagemcomunitária: avaliac¸ãodafuncionalidadeeutilizac¸ãodeservic¸osdeuma populac¸ãoidosarural.EscolaSuperiordeEnfermagemde
Coimbra;2012.Dissertac¸ãodeMestradoemEnfermagem Comunitária.
31.Silva,S.Estadofuncionaleutilizac¸ãodeservic¸osemidosos nohabitaturbano:estudoemSãoJoãodaMadeira.Santiago deCompostela:DepartamentodePsiquiatria,Radiologiae SaúdePública.FaculdadedeMedicinadaUniversidadede SantiagodeCompostela;2014.TesedeDoutoradoem EpidemiologiaySaludPública.
32.BaltesPB,MayerKU,editors.TheBerlinagingstudy:Aging from70to100.UnitedKingdom:CambridgeUniversityPress; 2001.
33.WorldHealthOrganization.Gender,healthandageing. Geneva:WorldHealthOrganization;2003.
34.Lourenc¸oOD,QuintalC,FerreiraPL,BarrosPPA.Equidadena utilizac¸ãodecuidadosdesaúdeemPortugal:umaavaliac¸ão emmodelosdecontagem.NotasEconómicas.2007;25:6–26.