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Glaudston Silva de Paula

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Academic year: 2022

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(1)

Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro Biomédico

Faculdade de Enfermagem

Glaudston Silva de Paula

Violência laboral como risco psicossocial à saúde dos trabalhadores de enfermagem em hospital psiquiátrico

Rio de Janeiro

2014

(2)

Glaudston Silva de Paula

Violência laboral como risco psicossocial à saúde dos trabalhadores de enfermagem em hospital psiquiátrico

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Área de concentração: Enfermagem, Saúde e Sociedade.

Orientador: Prof. Dr. Elias Barbosa de Oliveira

Rio de Janeiro 2014

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CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ/REDE SIRIUS/CBB

Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação, desde que citada a fonte.

________________________________________ _________________________

Assinatura Data

P324 Paula, Glaudston Silva de.

Violência laboral como risco psicossocial à saúde dos trabalhadores de enfermagem em hospital psiquiátrico / Glaudston Silva de Paula. - 2014.

95 f.

Orientador: Elias Barbosa de Oliveira.

Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem.

1. Enfermagem psiquiátrica. 2. Violência no local de trabalho. 3.

Condições de Trabalho. 4. Riscos Ocupacionais. 5. Saúde do Trabalhador.

I. Oliveira, Elias Barbosa de. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Faculdade de Enfermagem. III. Título.

CDU 614.253.5

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Glaudston Silva de Paula

Violência laboral como risco psicossocial à saúde dos trabalhadores de enfermagem de um hospital psiquiátrico

Dissertação apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre, ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Área de concentração: Enfermagem, Saúde e Sociedade.

Aprovada em ____ de __________ de 2014.

Banca Examinadora:

__________________________________________________

Prof. Dr. Elias Barbosa de Oliveira (Orientador) Faculdade de Enfermagem - UERJ

__________________________________________________

Prof.ª Dra. Helena Maria Scherlowski Leal David Faculdade de Enfermagem – UERJ

__________________________________________________

Prof.ª Dra.Zenith Rosa Silvino Universidade Federal Fluminense

Rio de Janeiro 2014

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DEDICATÓRIA

Dedico este estudo à minha querida prima Geisa (in memoriam), que se evadiu do corpo físico, mas não da vida, vitimada por uma das faces da violência. Também dedico aos trabalhadores de enfermagem na psiquiatria da instituição que serviu como campo de estudo, contribuindo com suas experiências e vivências me proporcionando reflexões acerca da implantação da Reforma Psiquiátrica Brasileira, bem como os prejuízos decorrentes da violência laboral.

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AGRADECIMENTOS

Agradecer é ter a consciência de que o caminhar se torna mais seguro com o auxílio de outros corações. Desta maneira, a priori, agradeço a Causa Primária de Todas as Coisas, Deus, que tendo me criado simples e ignorante, porém condicionado à evolução, têm me ensejado oportunidades de encontros, reencontros e aprendizado no mundo das densas energias.

A Jesus, o Divino Amigo Galileu, que no decorrer dos milênios continua cantando sua Mensagem de Amor, de tal maneira a me recordar que o importante é ser no mundo e não ter, haja vista que o que temos transitará por outras mãos e o que somos viajará conosco pelos confins da eternidade.

A Maria, Senhora das Estrelas, que me tirou do torpor da ignorância, motivando ao trabalho, possibilitando desenvolver a consciência de que a porta por onde devemos passar para junto Dele, com o intuito de alcançarmos a redenção, é estreita e todas as dores e lágrimas passam quando chegamos ao cume do topo da montanha da realização pessoal.

A Edna do Carmo e Sebastião Walter, meus pais e primeiros educadores. Sou grato a Deus pela oportunidade de renascer no mundo por vosso intermédio, e também pelos constantes exemplos de renúncia, persistência e amor ao próximo que têm me impulsionado na direção da efetivação dos meus sonhos e de meu destino.

A meus irmãos, Gleidson e Glauco, pelo amor sincero, apoio e pelo entendimento que os caminhos distintos que seguimos nos caracteriza como seres individuais, na constante luta pela implantação do amor na Terra. Somadas a eles, minha gratidão às minhas cunhadas Larissa, Tais, e sobrinhas Maria e Milena, por tanto incentivo e amor.

Ao querido Professor Doutor Elias Barbosa de Oliveira, exemplo de professor e profissional, se destacando no cenário acadêmico pelo comprometimento com a pesquisa e seriedade em diversos matizes. Minha eterna gratidão pela oportunidade oferecida e pelo incentivo ao trabalho. Sem teu apoio, aconselhando e apontando o caminho a seguir, não teria logrado o êxito deste trabalho.

A Felipe, grande incentivador e confidente em minha vida. Sem sua presença me estimulando ao prosseguimento da tarefa eu teria me acovardado diante das boas lutas. Da mesma forma, minha gratidão a toda família Vassallo, por entender minhas constantes ausências e vibrar por meu sucesso.

Ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGENF/UERJ), pela oportunidade de crescimento enquanto profissional.

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Estendo meus agradecimentos a toda secretaria, especialmente a Fabíola e Penha, que sempre muito solícitas me ajudaram nas mais diversas situações.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa que me proporcionou tranquilidade nesse período.

Aos queridos Professores do PPGENF/UERJ, especialmente os da linha de pesquisa

“Trabalho, Educação e Formação Profissional em Saúde e Enfermagem” contribuindo com o meu aprendizado com as discussões tão ricas nas aulas.

À minha banca, Dra. Zenith Rosa Silvino, que com seu amor maternal e apoio desde o findar da graduação vem me acompanhando e incentivando ao crescimento; Dra. Helena Maria Scherlowski Leal David, profissional exemplo a ser seguido pela ética e seriedade que desempenha no contexto da saúde do trabalhador; Dra. Lucia Helena Garcia Penna e Dra.

Márcia Tereza Luz Lisboa pela contribuição valiosa no Exame de Qualificação.

Ao Campo de Pesquisa, especialmente aos trabalhadores que foram o principal motivo de minha pesquisa. Certo que juntos podemos mudar a realidade onde estamos, agradeço sinceramente pelos discursos tão ricos que ofereceram.

Aos amigos que fiz e reencontrei, em minha turma do Mestrado. Não podendo citar todos, lembro dos mais presentes nos momentos difíceis e alegres que caracterizaram esta trajetória: Luana, Helena, Alex, Valéria, Mariana, Carolina, Francisco, Fernanda, Carla e Gláucia. Minha gratidão também aos amigos da vida, especialmente Marina Yzu, Wallace de Castro, Mara Regina e Martiene.

Aos amigos devotados Dr. Bezerra de Menezes, João e Dr. Guilherme Taylor March que sempre exemplificaram a perseverança, lançando em minha alma, ainda fria e necessitada, o amor como ferramenta indispensável ao progresso intelecto-moral. Junto a eles, o Instituto Espírita Bezerra de Menezes, na qual ser diretor muito me honra e também me possibilita o aprendizado para bem servir a todos. Minha gratidão pela compreensão de minhas constantes ausências e pelo cansaço costumeiro que me caracterizou nesta temporada.

Aos amigos do Departamento de Infância e Juventude e também às 210 crianças do Instituto Dr. March, que nas manhãs frias e cansativas depois das noites em claro dissertando, me revigoravam a alma ao pedirem um abraço e me ofertando um sorriso sincero.

Agradecer, portanto, é lembrar que nossa vida é constituída dessa constante troca. É a soma dos divinos amparos que nos impedem de tombar, de pegadas luminosas deixadas pelos mais adiantados na marcha, sendo o roteiro a ser seguido quando o mundo vive o entorpecimento da ética e a ausência de bússola moral, e também da consciência de que ninguém poderá ser feliz sozinho.

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De nada vale o brilho da inteligência, se o coração permanece às escuras.

Bezerra de Menezes

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RESUMO

PAULA, Glaudston Silva de. Violência laboral como risco psicossocial à saúde dos trabalhadores de enfermagem em hospital psiquiátrico. 2014. 95f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Faculdade de Enfermagem, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

Estudo que possui como objeto “violência laboral em hospital psiquiátrico como risco psicossocial à saúde dos trabalhadores de enfermagem”, cujo interesse investigativo iniciou-se na graduação e posteriormente ao trabalhar como enfermeiro em um hospital psiquiátrico.

Tais experiências marcaram de forma peculiar a minha trajetória profissional e o interesse acerca do objeto de estudo, por entender que a violência em âmbito psiquiátrico precisa ser desvelada e discutida para que medidas preventivas sejam adotadas no coletivo dos trabalhadores com vistas ao bem estar, a satisfação no trabalho e qualidade do serviço ofertado a população. Objetivou-se neste estudo, identificar os tipos de violência presentes no trabalho da enfermagem em hospital psiquiátrico; descrever as repercussões da violência laboral para a saúde dos trabalhadores de enfermagem em hospital psiquiátrico e analisar os mecanismos de enfrentamento adotados pelos trabalhadores da enfermagem diante da violência laboral em hospital psiquiátrico. Estudo qualitativo, descritivo, cujos dados foram obtidos em um hospital psiquiátrico situado no município do Rio de Janeiro, no período janeiro a fevereiro de 2013 com 16 trabalhadores (7 enfermeiros e 9 técnicos de enfermagem), a partir dos critérios de inclusão adotados. Trabalhou-se com a técnica de entrevista semiestruturada, mediante um roteiro contendo questões sobre o objeto de estudo. O projeto atendeu as exigências presentes na Resolução 196/96, do Ministério da Saúde (MS), tendo sido aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa (CEP) com o número 070.3.2012.

Aplicada a técnica de conteúdo ao material emergiram os seguintes resultados: na vivencia dos trabalhadores do hospital psiquiátrico há três tipos de violência. A primeira refere-se à violência sofrida, principalmente durante as emergências psiquiátricas, momento em que o trabalhador sofre com as agressões verbais e, em alguns casos, físicas cometidas pelo paciente. Outro tipo de violência no trabalho foi a perpetrada pelo familiar em momentos de tensão e a terceira envolveu a violência simbólica por parte dos médicos, principalmente os residentes. A violência do trabalho foi identificada em decorrência da precarização das condições de trabalho em termos de recursos humanos e materiais. A violência laboral revelou-se como um risco psicossocial a saúde do trabalhador por acarretar sofrimento psíquico e físico evidenciado através de queixas de desgaste, estresse e medo, levando a insatisfação e desmotivação no trabalho. Para se manterem no trabalho, os trabalhadores elaboram estratégias de enfrentamento centradas na resolução dos problemas decorrentes da violência e na regulação da emoção. Diante dos resultados, concluiu-se que a violência em hospital psiquiátrico é um risco psicossocial que afeta a saúde dos trabalhadores de enfermagem, cabendo a organização juntamente com os trabalhadores propor medidas que deem visibilidade a violência sofrida, através do diagnostico, da prevenção e enfrentamento coletivo, o que pode ser realizado mediante denuncia dos próprios trabalhadores junto a instituição, sindicatos e órgãos de classe. Salienta-se a importância de suporte psicoterápico dos trabalhadores de enfermagem vitimas de violência com vistas à identificação dos fatores de risco e fortalecimento dos fatores protetores. Recomenda-se a continuidade de estudos na área, considerando a incipiência dos mesmos.

Palavras-chave: Enfermagem. Violência. Condições de trabalho. Risco ocupacional. Saúde do trabalhador.

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ABSTRACT

PAULA, Glaudston Silva de. Workplace violence as a psychosocial risk to the health of nurses of a psychiatric hospital, 2014. 95 f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) – Faculdade de Enfermagem, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

The following dissertation is a study that has as a subject-matter the “workplace violence as a psychosocial risk to the health of nurses of a psychiatric hospital”, whose investigative interest began in the undergraduate studies and later as I worked as a nurse in a psychiatric hospital. Such experiences shaped in a peculiar way my professional trajectory and the interest in the subject-matter of this study, for my understanding that the violence in the psychiatric sphere needs to be uncovered and discussed in order to preventive measures be adopted in the workers’ collective in view of the welfare, the work satisfaction and quality of the service that is offered to the population. It is intended in this study: to identify the kinds of violence that are present in the nursing work in a psychiatric hospital; to describe the repercussions of the workplace violence to the health of nurses in a psychiatric hospital; and to analyze the coping mechanisms adopted by the nurses in the presence of workplace violence in a psychiatric hospital. The study is a qualitative, descriptive one, whose data was collected in a psychiatric hospital from the city of Rio de Janeiro, through the period from January to February 2013, with 16 workers (7 registered nurses and 9 licensed practical nurses) from the adopted criteria of inclusion. The used technique was the semi-structured interview, through a script with questions about the subject-matter. The project followed the demands from the resolution 196/96, from the Ministry of Health (MH) and was approved by the Comissão de Ética em Pesquisa (CEP) with the number 070.3.2012. After the content analysis the following findings emerged: there are three kinds of violence in the life of the workers. The first refers to the violence suffered mainly during the psychiatric emergencies, where the worker suffers verbal and, in some cases, physical, aggressions by the patient.

Another kind of workplace violence was the one committed by the family of the patient in moments of tension, and the third one is the symbolic violence perpetrated by the doctors, mainly the residents. The workplace violence was identified as a consequence of poor working conditions such as human and material resources. The occupational violence showed itself as a psychosocial risk to the worker’s health, for it causes psychological and physical suffering, as could be seen through the complains of weariness, stress and fear, that causes the dissatisfaction and demotivation in the workplace. In order to maintain themselves in the work, the workers create coping strategies that are centered on the resolution to the problems resulted from the violence and on the emotion regulation. In the presence of the findings, it was concluded that the violence in the psychiatric hospital is a psychosocial risk that affects the nurses’ health, and it is due to the organization as well was the workers to propose measures that make the suffered violence visible through the diagnose, the prevention, and collective coping, something that can be done through the denouncing of the workers at the institutions, labor unions and professional organizations. It is emphasized the importance of psychotherapeutic support for nurses that are the victims of violence in order to identify the risk factors and to strengthen the protective factors. It is recommended the continuity of studies in the area, taking the lack of these studies into account.

Keywords: Nursing. Violence. Working conditions. Occupational risks. Occupational health.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Tabela 1 – Tabela 2 – Quadro 1 –

Quadro 2 -

Quadro 3 -

Características dos sujeitos do estudo - Rio de Janeiro – 2013 ...

Perfil profissional dos sujeitos do estudo - Rio de Janeiro – 2013...

Violência laboral no hospital psiquiátrico: vivência dos trabalhadores de enfermagem – Rio de Janeiro – 2013 ...

Violência laboral: implicações para a saúde do trabalhador de enfermagem – Rio de Janeiro – 2013 ...

Enfrentando a violência laboral no hospital psiquiátrico - Rio de Janeiro – 2013 ...

43 44

46

59

69

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CAL/OSHA CAPS CAPSad CAPSi CLT CNS COEP GESMT ICN MPAS MS NRs OIT OMS PNH PNHAH PPGENF SUS TCLE TMC UERJ

Occupation Safety & Health Administration Centro de Atenção Psicossocial

Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas Centro de Atenção Psicossocial Infantil

Consolidação das Leis do Trabalho Conselho Nacional de Saúde Comissão de Ética em Pesquisa

Grupo de Estudos de Enfermagem em Saúde Mental International Concil of Nurses

Ministério da Previdência e de Doença Adquirida Ministério da Saúde

Normas Regulamentadoras

Organização Internacional do Trabalho Organização Mundial da Saúde

Programa Nacional de Humanização

Programa Nacional de Humanização de Assistência Hospitalar Programa de Pós-Graduação em Enfermagem

Sistema Único de Saúde

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Transtornos Mentais Comuns

Universidade do Estado do Rio de Janeiro

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SUMÁRIO

1 1.1 1.2 1.3.

1.4 1.5 2 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 3 3.1 3.2

3.2.1 3.2.2 3.2.3 3.2.4 3.3

3.3.1 3.3.2 3.3.3

3.4 3.4.1

INTRODUÇÃO ...

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...

A saúde do trabalhador: aspectos conceituais e legais ...

A reforma psiquiátrica e o trabalho da enfermagem...

O hospital psiquiátrico e o trabalho da enfermagem ...

A violência laboral como risco psicossocial: o sofrimento no trabalho ...

O Sofrimento no trabalho e as estratégias de defesa ...

METODOLOGIA ...

Tipo de pesquisa...

Campo da pesquisa ...

Sujeitos da pesquisa ...

Aspectos éticos da pesquisa ...

Técnica e instrumento de coleta dos depoimentos ...

A análise de conteúdo...

RESULTADOS E DISCUSSÃO ...

Características dos sujeitos...

Categoria 1 - Violência laboral no hospital psiquiátrico: vivências dos trabalhadores de enfermagem ...

Subcategoria 1 – Violência no trabalho - quando o paciente agride a equipe ...

Subcategoria 2 – Hegemonia médica – a violência simbólica no trabalho ...

Subcategoria 3 – Violência verbal perpetrada pelo familiar ...

Subcategoria 4 – Violência estrutural: precarização das condições de trabalho ....

Categoria 2: Violência laboral – outra causa de sofrimento no trabalho e as implicações para a saúde do trabalhador de enfermagem ...

Subcategoria 1 – Medo como expressão de sofrimento: a violência no trabalho ...

Subcategoria 2 – Repercussões psicossomáticas para a saúde do trabalhador ...

Subcategoria 3 - Insatisfação e desmotivação no trabalho – riscos para o trabalhador e a organização...

Categoria 3: Enfrentando a violência laboral no hospital psiquiátrico ...

Subcategoria 1 Estratégias de enfrentamento centradas na solução do

13 21 21 25 28 30 34 36 36 37 37 38 38 40 43 43

46 47 51 54 55

58 59 61

64 69

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3.4.2

problema...

Subcategoria 2 – Estratégias de enfrentamento centradas na regulação da emoção ...

CONCLUSÃO ...

REFERÊNCIAS ...

APÊNDICE A – Folha de Rosto, Plataforma Brasil...

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ...

APÊNDICE C - Carta de solicitação de autorização para realização do estudo (Direção Geral) ...

APÊNDICE D - Carta de solicitação de autorização para realização do estudo (Coordenadoria de enfermagem) ...

APÊNDICE E – Roteiro para Entrevista e Coleta de Dados ...

ANEXO – Comissão de Ética em Pesquisa (COEP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro ...

70

73 76 79 89 90

91

92 93

95

(15)

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como objeto “violência laboral em hospital psiquiátrico como risco psicossocial à saúde dos trabalhadores de enfermagem”, cujo interesse investigativo foi se delineando a partir de duas experiências que marcaram de maneira peculiar a minha trajetória pessoal e profissional. A primeira experiência remete à minha vida acadêmica, ainda como estudante do curso de graduação em enfermagem, quando depois de selecionado no concurso de acadêmico bolsista do município, desenvolvi as atividades previstas no programa em um hospital psiquiátrico, cumprindo carga horária de vinte horas semanais pelo período de um ano.

Nesta ocasião, sob a supervisão do enfermeiro do hospital, vivenciei bem de perto a dinâmica do trabalho de enfermagem psiquiátrica, marcado em algumas situações pela imprevisibilidade do quadro clínico de alguns pacientes e da necessidade de observação e intervenções contínuas por parte da enfermagem. Portanto, um trabalho que por sua natureza gerava desgaste físico e mental aos trabalhadores, principalmente nos episódios de crise apresentadas pelo paciente. Nestas situações, havia uma grande mobilização da equipe, sendo necessário, em algumas circunstâncias realizar contensão química e mecânica, diante dos riscos para o próprio paciente e equipe.

Ao término das minhas atividades como acadêmico bolsista mantive o meu interesse acerca das questões relacionadas à saúde mental e trabalho, tendo desenvolvido a pesquisa

“Sofrimento psíquico do trabalhador de enfermagem da área hospitalar”, como trabalho de conclusão de curso de graduação em enfermagem. Este estudo resultou em um artigo (PAULA et al., 2010), cujos resultados apontaram que os trabalhadores de enfermagem da área materno-infantil enfrentavam riscos no ambiente de trabalho que afetavam a saúde e o bem estar do grupo. Nesta ocasião, apesar de não ter trabalhado a temática violência, pude observar que durante as entrevistas os sujeitos do estudo expressavam indignação e insatisfação diante da organização e das condições de trabalho.

Ao término da graduação, tive a minha primeira oportunidade de emprego ao trabalhar como enfermeiro em um hospital psiquiátrico da rede privada. Neste período, pude vivenciar mais de perto os problemas enfrentados pelos trabalhadores de enfermagem na psiquiatria e, dentre eles a precarização das condições de trabalho decorrente do déficit de pessoal e material. Esta problemática, além de interferir na qualidade do serviço prestado, acarretava sofrimento ao trabalhador devido à sobrecarga de trabalho e desgaste. Percebi que esta

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realidade era de fato uma violência estrutural que feria a dignidade do trabalhador, e, tendo em vista os avanços alcançados com a Reforma Psiquiátrica no país, principalmente em relação à assistência ao paciente e familiar, há necessidade de realização de projetos institucionais voltados também para a saúde do trabalhador de enfermagem.

Além da violência estrutural, observei que os trabalhadores de enfermagem conviviam com a violência laboral decorrente da assistência ao paciente, principalmente nos momentos de crise, tendo me chamado a atenção o fato de os trabalhadores entenderem as agressões verbal e física sofridas como parte do exercício profissional. Apesar da justificativa ou até mesmo tentativa de minimizar o problema, o sofrimento era evidente diante dos desabafos e labilidade emocional.

No intuito de aprofundar os conhecimentos acerca do objeto de estudo, mantive as minhas leituras, publiquei artigos e divulguei os resultados em eventos, tendo ingressado no curso de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Após o ingresso, obtive uma bolsa de estudos financiada pela CAPES, podendo deste modo me dedicar totalmente à pesquisa. Paralelo às atividades acadêmicas, venho participando do Grupo de Estudos Enfermagem em Saúde Mental e Trabalho (GESMT)1 sob a coordenação do meu orientador.1

A participação no GESMT tem sido de grande valia na minha formação acadêmica e dentre as atividades que tenho desenvolvido destaco: inserção na disciplina de Saúde Mental ministrada para alunos do 6º período da graduação, na qual ministrei conteúdos sobre a temática trabalho e subjetividade; participei da avaliação de seminários, publicação de artigos e participação em eventos no intuito de divulgar o projeto e resultados parciais do estudo.

Além destas atividades, realizei, com o meu orientador, dinâmicas de grupo com enfermeiros da psiquiatria, com objetivo de captar as experiências e percepções acerca da violência laboral.

Na obtenção das experiências e impressões acerca da violência no ambiente de trabalho, adotou-se como método a técnica da evocação livre. Mediante temas indutores solicitou-se aos sujeitos que registrassem em um impresso as expressões ou imagens que lhes viessem à mente quando apresentado os temas indutores: riscos no trabalho, violência e violência no trabalho. Em um segundo momento foi pedido cada participante falasse a

1 Situado na Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (ENF/UERJ), o GESMT está diretamente vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF). Possui como objetivos promover o intercâmbio com as instituições de ensino e serviço e realização de estudos sobre os riscos

psicossociais no trabalho e saúde mental dos trabalhadores de enfermagem, tendo como líder do grupo o Prof.

Dr. Elias Barbosa de Oliveira.

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respeito das evocações, sendo construído um quadro onde foram registradas as percepções do grupo. Após a leitura e fechamento dos trabalhos, concluiu-se que a violência no trabalho e do trabalho era um tema relevante para o grupo, por trazer implicações para a organização, o processo de trabalho e a saúde do trabalhador.

Pude concluir desta dinâmica, que os relatos dos enfermeiros ratificavam as minhas impressões acerca da violência laboral na instituição psiquiátrica onde atuei, na qual as agressões sofridas pela equipe, na relação estabelecida com pacientes e outros profissionais causavam nos trabalhadores o sofrimento no trabalho. Por outro lado, alguns profissionais optavam por se calar diante da violência sofrida, com medo de sofrerem retaliação por parte da própria gerência, pois havia o risco de demissão, de mudança de setor, de horário e até mesmo exclusão do grupo, realidade vivenciada principalmente no serviço privado.

Diante deste contexto, cabe salientar que o trabalho de enfermagem, segundo Paula et al. (2010), suscita prazer e satisfação pessoal, quando o trabalhador desenvolve as capacidades cognitivas, emocionais e afetivas e também por reconhecer que o seu trabalho possui um valor e é importante para sociedade. No entanto, quando existe pressão e submissão do trabalhador a organização, o trabalho gera sofrimento tendo como consequências a insatisfação, a angustia, principalmente diante da necessidade de contenção da emoção.

Entre os profissionais do setor saúde, os trabalhadores de enfermagem encontram-se mais susceptíveis a vivenciar episódios de violência verbal e física em seu ambiente de trabalho, devido a problemas estruturais do serviço, a demora do atendimento e a própria insatisfação pelo atendimento oferecido. Deste modo, a violência decorrente de problemas estruturais, acarreta prejuízos para a organização e para a saúde dos trabalhadores, e entre eles estresse, irritabilidade, baixa estima e desmotivação, devido às ameaças, xingamentos, ofensas e humilhação (SANTOS et al., 2011).

Entre os trabalhadores de enfermagem, aqueles que atuam na psiquiatria estão mais suscetíveis às agressões físicas e verbais cometidas pelo próprio usuário, pois se encontram, em algumas circunstâncias, descontrolados e agressivos, quadro característico de algumas doenças psiquiátricas ou devido ao uso de álcool e drogas estimulantes (CARVALHO; FELI, 2006).

Em geral, os trabalhadores que sofrem violência relatam problemas de ordem física (fratura e tensão muscular), emocionais (baixa estima, depressão, ansiedade, desmotivação, irritabilidade, distúrbios do sono) e em relação à organização (insatisfação com o trabalho, rotatividade, desemprego, etc) (MORENO, L.; MORENO, M., 2004).

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No cotidiano do trabalho em enfermagem psiquiátrica, os trabalhadores convivem em um ambiente ansiogênico decorrente de atitudes insalubres e penosas por parte dos próprios pacientes, considerados eventos agressivos a saúde mental do trabalhador, principalmente nas emergências psiquiátricas, podendo afetar o desempenho e as relações as relações interpessoais (VIANEY; BRASILEIRO, 2003).

Ao se discutir as cargas psíquicas e físicas de trabalho às quais estão expostos os trabalhadores de enfermagem no hospital psiquiátrico, evidencia-se que a carga psíquica encontra-se presente em todo o processo de trabalho, pois os trabalhadores, além de conviverem com a imprevisibilidade do quadro clínico dos pacientes, mantêm observação contínua e sentem medo pela possibilidade de sofrerem agressão física e verbal por parte dos pacientes (CARVALHO; FELI, 2006).

O processo de trabalho na psiquiatria para os trabalhadores de enfermagem, por si só é desgastante, pois o objeto de trabalho são indivíduos, que alguns casos, vivem a margem da sociedade, devido a dificuldades de reinserção social provocada pela doença, apresentando comportamentos “diferenciados”, haja vista os quadros clínicos característicos neste setor, o que acaba tornando o ambiente de trabalho tenso (BECK et al., 2009).

Apoiado em Cox e Rial-Gonzalez (2002), entende-se que a violência vivenciada pelos trabalhadores de enfermagem na psiquiatria é um risco psicossocial, principalmente ao se considerar as características do trabalho que funcionam como estressores, ou seja, implicam em grandes exigências no trabalho, combinadas com recursos insuficientes para o enfrentamento das mesmas. Tais recursos se referem à interação entre o trabalhador e o ambiente de trabalho, conteúdo do trabalho, condições organizacionais e habilidades do trabalhador, necessidades, cultura, causas externas ao trabalho que podem, por meio de percepções e experiências, influenciar a saúde, o desempenho no trabalho e a satisfação do trabalhador.

Fundamentado nesses pressupostos, foram elaboradas as seguintes questões norteadoras: Que tipos de violência estão presentes no trabalho da enfermagem em hospital psiquiátrico? Quais as repercussões da violência laboral para a saúde dos trabalhadores de enfermagem em hospital psiquiátrico? Quais as formas de enfrentamento adotadas pelos trabalhadores de enfermagem em hospital psiquiátrico frente à violência no trabalho? A partir da problemática colocada e com o intuito de responder as questões norteadoras do estudo foram elaborados os seguintes objetivos:

(19)

a) identificar os tipos de violência presentes no trabalho da enfermagem em hospital psiquiátrico;

b) descrever as repercussões da violência laboral para a saúde dos trabalhadores em hospital psiquiátrico;

c) analisar os mecanismos de enfrentamento adotados pelos trabalhadores da enfermagem diante da violência laboral em hospital psiquiátrico.

Este estudo se justifica diante da escassez de pesquisas realizadas por enfermeiros e outros pesquisadores que discutam a violência laboral com risco psicossocial a saúde do trabalhador de enfermagem. A partir dos resultados obtidos é possível vislumbrar a elaboração de projetos que deem visibilidade a esta problemática, com vistas à elaboração de medidas preventivas pela organização com participação dos trabalhadores, valorizando deste modo as suas percepções e experiências sobre este problema no ambiente ocupacional.

No intuito de identificar a produção do conhecimento da enfermagem brasileira sobre a violência laboral em hospital psiquiátrico no período de 2002 a 2012, optei pela revisão integrativa na Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), em bases de dados nacionais e internacionais (Medline, Lilacs e Bdenf). Na seleção da produção nos respectivos bancos de dados on-line de agosto a outubro de 2012, trabalhei com as seguintes palavras temas:

violência no trabalho, violência do trabalho, assédio moral, saúde do trabalhador, saúde mental e risco ocupacional. O material selecionado foi organizado em quadros informativos a partir das seguintes informações: título, autores, ano da publicação, periódico, método, técnica de coleta de dados, achados e recomendações.

No período 2002 a 2012, identificou-se 121 produções sobre a temática violência, sendo selecionados 18 artigos produzidos pela enfermagem de acordo com os critérios de inclusão estabelecidos. A produção sobre a violência laboral pela enfermagem é inexistente nos anos 2002, 2003, 2005 e 2007 e incipiente no ano de 2004, com apenas um artigo. Dos artigos selecionados, 16 foram publicados pelos seguintes periódicos: Revista Brasileira de Enfermagem (3), Revista de Enfermagem UERJ (2), Revista de Saúde Pública (02), Revista da Escola de Enfermagem Anna Nery (02), Revista de Saúde Pública (2), Caderno de Saúde Pública, (02) Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (01), Cogitare Enfermagem (01), Acta Paulista de Enfermagem (01), Revista da Escola de Enfermagem da USP (01) e Revista Gaúcha de Enfermagem (01). Quanto ao tipo de estudo, 13(81,25%) artigos são estudos de campo, 02(12,5%) revisão de literatura e 03(6,25%) de reflexão. As técnicas utilizadas na coleta de dados dos estudos originais foram a entrevista 12(75%) nos estudos qualitativos e o

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censo 2(12,5%) nos quantitativos, tendo como instrumentos o roteiro 9(69,2%) e o registro em meio digital 4(30,76%). O campo predominante dos estudos foi o hospital geral 10 (76,9%). Após o mapeamento da produção e aplicação da técnica de análise temática, emergiram as seguintes categorias: fatores contributivos à violência laboral e repercussões da violência para a saúde do trabalhador. A violência no trabalho da enfermagem decorre das relações interpessoais na equipe, podendo ser vertical ascendente e ou descendente e horizontal. A violência do trabalho decorre, principalmente, da precarização das condições laborais, tendo como consequência a insatisfação da população e, consequente agressão aos trabalhadores. A violência por causar intimidação, constrangimento, coação e humilhação à vitima, contribui para os quadros de ansiedade, estresse e doenças somáticas. Concluiu-se a necessidade de ampliação de estudos, divulgação e reflexão, acerca dos prejuízos acarretados à saúde do trabalhador, à organização e à qualidade do serviço ofertado. Por sua magnitude, necessita de realização de programas de prevenção, monitoramento e combate no próprio ambiente laboral. Reitera-se que não foi encontrado nenhum estudo sobre a violência laboral envolvendo trabalhadores de enfermagem em hospital psiquiátrico.

Carvalho e Felli (2006) relatam a insuficiência de estudos no Brasil que abordam a saúde do trabalhador de enfermagem atuante na psiquiatria, ratificando a necessidade de se conhecer os problemas que os trabalhadores de enfermagem em âmbito psiquiátrico estão expostos.

Em análise do banco de dados de dissertações defendidas desde 1999, ano de criação, no Programa de Pós Graduação em Enfermagem (PPGENF/UERJ) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, na linha de pesquisa “Trabalho, Educação e Formação Profissional em Saúde e Enfermagem”, foram encontradas 76 dissertações. Do material analisado, nenhuma dissertação tem como objeto de estudo a violência no trabalho da enfermagem.

A violência, na acepção de Deslandes (2002), por ser uma ameaça à vida, à integridade física e mental e à qualidade de vida do indivíduo, constitui um problema legítimo de saúde, ainda que não se restrinja a esse setor, pois é um problema de saúde pública. Acrescenta-se que a violência no trabalho, como ratifica Di Martino (2002), tem sido alvo de preocupação de órgãos internacionais diante do número crescente de incidentes de abuso e violência no trabalho, relacionados aos trabalhadores da área da saúde, especialmente contra os trabalhadores da enfermagem, os quais apresentam índices maiores de agressões, quando comparados a outras profissões.

No setor saúde a enfermagem representa a segunda maior força de trabalho, pois de acordo com o COFEN (2011), o país possui 1.856.683 profissionais de enfermagem, sendo

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346.968 enfermeiros (18,69%), 750.205 técnicos (40,41%), 744.924 auxiliares (40,12%), 14.291 atendentes (0,77%) e duas parteiras (0,0001%). Tendo em vista a expressiva representação destes trabalhadores, ao se estudar a violência almeja-se que medidas preventivas sejam adotadas nas organizações de saúde, de modo a evitar o adoecimento destes trabalhadores, tendo em vista os encargos sociais e financeiros para o sujeito, para a organização e a sociedade.

De acordo com Barbosa et al. (2011), em termos de encargos, a presença da violência no ambiente de trabalho implica em custos consideráveis para a saúde dos indivíduos, para o seu emprego e para a organização, dado o impacto causado pelo absenteísmo, baixa da produtividade e rotatividade de pessoal. De onde se conclui que a prevenção e o enfrentamento desta problemática no ambiente laboral trazem benefícios ao individuo, à organização e à sociedade como um todo, principalmente por interferir na qualidade do atendimento e na saúde do trabalhador.

O International Council of Nurses (ICN, 2007) ratifica que as repercussões da violência revelam o impacto negativo na vida profissional e pessoal do trabalhador de enfermagem, o que reforça a necessidade de discutir estratégias para a redução da violência nos serviços de saúde.

Vislumbro, com a realização deste estudo, contribuir com o acervo de teses e dissertações do Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPGENF/UERJ), na linha de pesquisa “Trabalho, Educação e Formação Profissional em Saúde e Enfermagem”, pois ao se realizar um levantamento no banco de dados de dissertações defendidas no período de 1999 a 2012, foi encontrado apenas 01 estudo que versava sobre o estresse da equipe de enfermagem em hospital psiquiátrico.

Os resultados além de oferecerem material de pesquisa com a publicação de artigos e apresentação em eventos, poderá subsidiar a realização de seminários e debates juntamente com alunos de graduação e em nível técnico, com o intuito de despertar a reflexão sobre a repercussão da violência na saúde do trabalhador. O acadêmico, em algum momento de sua formação, principalmente no ciclo profissionalizante, pode enfrentar a violência laboral e deste modo já ter subsídios para analisar os fatores envolvidos e buscar apoio para o enfrentamento desta problemática, tendo um posicionamento em defesa de seus direitos.

Ao se identificar os tipos de violência presentes no ambiente de trabalho em hospital psiquiátrico, suas repercussões e as formas de enfrentamento adotadas, os profissionais poderão refletir sobre a sua participação no intuito de monitorar e combater esse risco psicossocial que por sua magnitude, requer a participação do coletivo de trabalhadores que

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juntamente com a gerência e o Serviço de Saúde Ocupacional (SSO) poderão traçar metas para o seu enfrentamento ao considerar as implicações para a saúde mental e física do trabalhador e as dimensões éticas, morais e legais envolvidas.

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1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 A saúde do trabalhador: aspectos conceituais e legais

No Brasil, a força-de-trabalho da enfermagem é constituída por mais de um milhão de profissionais. São enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, atendentes e auxiliares operacionais de serviços diversos assemelhados, à mercê de condições de trabalho capazes de ameaçarem a própria sobrevivência da profissão (BARRETO; KREMPEL; HUMEREZ, 2011)

A enfermagem como uma área do conhecimento que se preocupa com o cuidado prestado aos seres humanos representa uma categoria que produz e consome seu próprio trabalho (AZAMBUJA et al., 2007). Nesta perspectiva, o cuidado deve ser analisado como um sistema dinâmico e contínuo em que os enfermeiros promovem ações com o fim de produzir e proteger a vida (ERDMANN et al., 2006) constituindo a base filosófica de articulação entre a enfermagem como profissão e a saúde do trabalhador como foco de intervenção (EBLILNG; CARDOSO, 2010).

Trabalhadores são todos os homens e mulheres que exercem atividades para sustento próprio e/ou de seus dependentes, qualquer que seja sua forma de inserção no mercado de trabalho, nos setores formais ou informais da economia. Estão incluídos nesse grupo os indivíduos que trabalharam ou trabalham como empregados assalariados, trabalhadores domésticos, trabalhadores avulsos, trabalhadores agrícolas, autônomos, servidores públicos, trabalhadores cooperativados e empregadores – particularmente, os proprietários de micro e pequenas unidades de produção. São também considerados trabalhadores aqueles que exercem atividades não remuneradas – habitualmente, em ajuda a membro da unidade domiciliar que tem uma atividade econômica, os aprendizes e estagiários e aqueles temporária ou definitivamente afastados do mercado de trabalho por doença, aposentadoria ou desemprego (BRASIL, 2001).

A Saúde do Trabalhador é uma área da Saúde Pública que tem como objeto de estudo e intervenção as relações entre o trabalho e a saúde. Tem como objetivos a promoção e a proteção da saúde do trabalhador, por meio do desenvolvimento de ações de vigilância dos riscos presentes nos ambientes e condições de trabalho, dos agravos à saúde do trabalhador e a organização e prestação da assistência aos trabalhadores, compreendendo procedimentos de

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diagnóstico, tratamento e reabilitação de forma integrada (BRASIL, 2001). Consiste, portanto, em um esforço de compreensão de como e porque ocorre o adoecer e o morrer dos trabalhadores, rompendo e superando a concepção de que existe apenas um vínculo causal entre a doença e um agente específico, ou um grupo de fatores de risco presentes no ambiente de trabalho (MENDES; DIAS, 1991).

Segundo Minayo e Costa (1997), refletir sobre o campo da saúde do trabalhador significa resgatar uma história que se inicia com o advento da Revolução Industrial, onde os trabalhadores estavam sujeitos a jornadas extenuantes, em ambientes extremamente desfavoráveis à saúde. A aglomeração humana em espaços inadequados propiciava a proliferação de doenças infectocontagiosas, ao mesmo tempo em que a periculosidade das máquinas era responsável por mutilações e mortes.

A Medicina do Trabalho surge neste contexto, na qual a presença do médico no interior das indústrias detinha o labor de detectar os processos danosos à saúde, além de ser um aliado do empresário para a recuperação do trabalhador, visando o seu retorno à linha de produção, num momento em que a força de trabalho era fundamental à industrialização emergente. O objetivo não era preservar o trabalhador, enquanto sujeito do processo produtivo, mas enquanto peça e engrenagem deste processo (GELBECKE, 2004).

Em função da inexistência de serviços de assistência à saúde, providos pelo Estado, os serviços médicos das empresas passam a consolidar, ao mesmo tempo, sua vocação enquanto instrumento de criar e manter a dependência do trabalhador, ao lado do exercício direto do controle da força de trabalho (MENDES; DIAS, 1991).

Com o advento da II Guerra Mundial e do pós-guerra, o custo provocado pela perda de vidas por acidentes de trabalho ou doenças do trabalho, começou a ser sentido pelos empregadores e pelas companhias de seguro, às voltas com o pagamento de pesadas indenizações por incapacidade provocada pelo trabalho (MENDES; DIAS, 1991).

A Saúde Ocupacional surge, sobretudo, dentro das grandes empresas, tendo um traço de multidisciplinaridade, com a organização de equipes progressivamente multiprofissionais, com ênfase na higiene industrial, relacionando o ambiente de trabalho e o corpo do trabalhador. Incorpora a teoria da multicausalidade, em que um conjunto de fatores de risco está relacionado ao aparecimento das doenças. Apoia-se desta maneira, nos fundamentos de Leavell e Clark, a partir do modelo da História Natural da Doença, derivada da inter-relação entre agente, hospedeiro e ambiente (MENDES; DIAS, 1991).

As medidas que deveriam assegurar a saúde do trabalhador restringem-se a intervenções pontuais sobre os riscos mais evidentes. Nesse sentido, vale ressaltar as normas

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regulamentadoras, que determinam formas de trabalhar consideradas seguras, bem como outras legislações como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) - (MINAYO; COSTA, 1997).

A cunhagem da expressão Saúde do Trabalhador foi se consolidando ao longo dos anos, especialmente a partir da incorporação do discurso mais incisivamente reivindicatório e reformista do movimento sindical, mais combativo e sensível às questões de saúde, à base técnica e acadêmica das áreas que lidam com as relações saúde/segurança/trabalho (OLIVEIRA; VASCONCELOS, 2000).

A modificação da terminologia dos serviços de atenção à saúde de Serviços de Medicina do Trabalho e/ou Saúde Ocupacional para Serviços de Saúde do Trabalhador segue uma tendência mundial nos países que passaram por movimentos semelhantes. O momento culminante de mobilização popular pela saúde do trabalhador no Brasil ocorre na VIII Conferencia Nacional de Saúde, em 1986 e na I Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador, no mesmo ano. A afirmação do movimento dentro do campo institucional acontece na IX Conferência Nacional de Saúde e na II Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador em 1994 (DIAS; HOEFEL, 2005). As duas conferências e os movimentos sindicais no país, tiveram como referência o modelo operário italiano. Este movimento, segundo Oddone et al. (1986), surgiu na Itália na década de 60, quando pesquisadores se uniram a grupos de operários de Turim para desenvolverem uma nova metodologia de intervenção nos ambientes de trabalho. Este modelo provém da junção do saber consensual oriundo da experiência concreta dos trabalhadores e o saber científico dos profissionais, na tentativa de incorporar a participação dos trabalhadores no movimento de luta pela saúde.

Ao fim da década de 1980, com a promulgação da Constituição Federal (1988), das Constituições Estaduais (1989) e da Lei Orgânica da Saúde (Lei 8080, de 19/09/1990), a discussão foi elevada a letra de lei, coroando algumas das grandes questões que se colocavam em relação à área de saúde e, do mesmo modo, à de saúde do trabalhador. Destacam-se as propostas de reformulação do sistema de saúde, incorporando uma nova lógica de unicidade do sistema, transferência de poder, através da descentralização e desconcentração, saúde como direito do cidadão e dever do Estado (BARROS et al., 2005; BARROS; FADEL;

BRANDÃO, 1997).

No Brasil a Saúde do Trabalhador surgiu em decorrência das mudanças socioeconômicas do processo de industrialização, tecnologia, reformulação dos valores sociais do trabalho e o sentido dele na vida dos trabalhadores, propiciando um novo

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pensamento do processo de trabalho e sua forma de organização, com o intuito de atender o trabalhador na sua integralidade (MENDES; DIAS, 1991).

A legislação brasileira em Saúde do Trabalhador passou a ter consideráveis avanços a partir da Constituição de 1988, com a incorporação das ações de vigilância em saúde do trabalhador no Sistema Único de Saúde (SUS), determinadas pela Lei Orgânica de Saúde nº 8080/90. De acordo com a Lei 8080/90 (BRASIL, 1990), a saúde do trabalhador é

um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e sanitária, à promoção, à proteção, à recuperação e a reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho.

Visando subsidiar as ações de diagnóstico, tratamento e vigilância em saúde e o estabelecimento da relação da doença com o trabalho e das condutas decorrentes, o Ministério da Saúde, cumprindo a determinação contida no art. 6º, § 3º, inciso VII, da Lei Orgânica da Saúde, elaborou uma Lista de Doenças relacionadas ao Trabalho, publicada na Portaria/MS nº 1.339/1999. Essa Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho foi também adotada pelo Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), regulamentando o conceito de Doença Profissional e de Doença Adquirida pelas condições em que o trabalho é realizado, Doença do Trabalho, segundo prescreve o artigo 20 da Lei Federal nº 8.213/1991, constituindo o Anexo II do Decreto nº 3.048/1999 (BRASIL, 2001).

No contexto da Saúde do Trabalhador o Ministério da Saúde, em sua Portaria nº 1339/GM de 18 de novembro de 1999, destaca os Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho, sendo estes definidos como aqueles resultantes de situações do processo de trabalho, provenientes de fatores pontuais como exposição a determinados agentes tóxicos, até a completa articulação de fatores relativos à organização do trabalho, como a divisão e parcelamento das tarefas, as políticas de gerenciamento das pessoas e a estrutura hierárquica organizacional. A lista possui 12 doenças mentais: Demência; Delirium; Transtorno cognitivo leve; Transtorno orgânico de personalidade; Transtorno mental orgânico ou sintomático não especificado; Alcoolismo crônico; Episódios depressivos; Estado de estresse pós-traumático;

Neurastenia; Outros transtornos neuróticos especificados (inclui Neurose Profissional);

Transtorno do ciclo vigília sono devido a fatores não orgânicos; Sensação de estar acabado (Síndrome do Esgotamento Profissional) (BRASIL, 1999).

No Brasil, as relações entre trabalho e saúde do trabalhador conformam um mosaico, coexistindo múltiplas situações de trabalho caracterizadas por diferentes estágios de

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incorporação tecnológica, diferentes formas de organização e gestão, relações e formas de contrato de trabalho, que se refletem sobre o viver, o adoecer e o morrer dos trabalhadores.

Essa diversidade de situações de trabalho, padrões de vida e de adoecimento tem se acentuado em decorrência das conjunturas política e econômica (BRASIL, 2001), tendo como consequência a precarização do trabalho, esta por sua vez resulta de escolhas estratégicas que visam, segundo os dirigentes industriais, à “modernização da organização do trabalho”, o que corresponde, na realidade, a uma desorganização do trabalho e das relações salariais, apoiada pelos poderes públicos (THEBAUD-MONY, 2011).

Vale citar que o Ministro de Estado do Trabalho, no uso de suas atribuições legais, considerando o disposto no art. 200, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), com redação dada pela Lei nº 6.514, de 22 de dezembro de 1977, aprova as Normas Regulamentadoras (NR) relativas à segurança e medicina do trabalho, que são de observância obrigatória pelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos da administração direta e indireta, bem como pelos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, que possuam empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

Dentre as Normas Regulamentadoras, destaca-se a NR 32 (BRASIL, 2005), criada pela portaria GM n.º485/2005, com o intuito estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral (CUNHA, 2010).

1.2 A reforma psiquiátrica e o trabalho da enfermagem

Ao final da II Guerra Mundial, vários movimentos de contestação do saber e práticas psiquiátricas se faziam notar no cenário mundial, dos quais se destaca a Psiquiatria de Setor na França, as Comunidades Terapêuticas na Inglaterra e a Psiquiatria Preventiva nos EUA.

Eram movimentos de “reforma” da assistência psiquiátrica no sentido de apontarem para um rearranjo técnico - cientifico e administrativo da Psiquiatria, sem a radicalidade da desinstitucionalização, proposta pelo movimento italiano a partir de 1960 (ROTELLI et al., 1990).

A influência desses movimentos de crítica à psiquiatria também se fizeram notar, em diferentes momentos, no contexto da sociedade brasileira. No final dos anos 1970 e início dos

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anos 1980, as ideias de Foucault, Goffman, Castel, Szaz, Basaglia e outros tiveram forte influência, sendo esta considerada como o primeiro momento da Reforma Psiquiátrica Brasileira, período marcado pelo final da ditadura, falência do “milagre econômico”, suspensão da censura, reorganização da sociedade através do ressurgimento dos sindicatos, partidos políticos e retorno ao Estado de Direito (AMARANTE, 1995).

No período político da Nova República, o movimento da Reforma Psiquiátrica incorporou-se ao aparelho de Estado e a crítica à cientificidade da medicina/psiquiatria e da neutralidade da ciência cedeu espaço para a ideia de que uma nova administração estatal resolveria os problemas de saúde/saúde mental da população. Trata-se do momento institucionalizante do processo. No momento da desinstitucionalização, cujo lema “Por uma sociedade sem manicômios”, retrata a medida do resgate da crítica da institucionalização da medicina/psiquiatria, sob forte influência da tradição basagliana, propõem-se mudanças no modelo de intervenção (AMARANTE, 1995).

A superação do modelo manicomial, como refere o autor supracitado, encontra ressonância nas políticas de saúde do Brasil que tiveram como marco teórico e político a 8a Conferência Nacional de Saúde (1986), na 1ª Conferencia Nacional de Saúde Mental em 1987, e nas demais realizadas em 1992 e 2001. Nesta conferência, houve participação expressiva dos trabalhadores de Saúde Mental, que insatisfeitos com as condições de trabalho e assistência psiquiátrica, reivindicaram sua participação no movimento.

Um marco histórico para o setor de saúde mental, possibilitador de mudanças ao nível do Ministério da Saúde, foi a Conferência Regional para a Reestruturação da Assistência Psiquiátrica, realizada em Caracas, em 1990. Como produto final da conferência, surgiu o documento oficial conhecido com “Declaração de Caracas” (OMS, 1990), onde os países da América Latina comprometem-se a: promover a reestruturação da assistência psiquiátrica;

rever criticamente o papel hegemônico e centralizador do hospital psiquiátrico; salvaguardar os direitos civis, a dignidade pessoal, os direitos humanos dos usuários e propiciar a sua permanência em meio comunitário (BRASIL, 1990).

A primeira experiência concreta de desconstrução do aparato manicomial no Brasil e da construção de estruturas substitutivas foi a intervenção na Casa de Saúde Anchieta, sendo uma experiência inovadora em que ocorreu uma intervenção médico-legal num asilo (HIRDES, 2009).

No que se refere à luta pela inclusão de novos sujeitos de direito e de novos direitos para os sujeitos em sofrimentos mental, um passo decisivo para esta direção foi dado com a promulgação da Lei 10.216 em 06 de abril de 2001. Embora o projeto original tenha sido

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rejeitado, após doze anos de tramitação, foi aprovado um substitutivo que dispõe sobre “a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental”. O texto da lei aprovada não assegurou algumas das aspirações mais fundamentais do projeto original, tais como a extinção progressiva dos manicômios.

Mesmo assim, revogou a legislação de 1934, que ainda estava em vigor, e significou um avanço considerável no modelo assistencial, ficando conhecida como a Lei da Reforma Psiquiátrica Brasileira (AMARANTE, 2007).

A partir deste marco, passou-se a privilegiar a criação de serviços substitutivos ao hospital psiquiátrico ou redes de atenção à saúde mental, quais sejam: Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), leitos psiquiátricos em hospitais gerais, oficinas terapêuticas, residências terapêuticas, respeitando-se as particularidades e necessidades de cada local. As iniciativas dos municípios, em que pese a vontade política dos gestores municipais, passaram a ser ressarcidas através das portarias ministeriais, objetivando o deslocamento dos recursos para modalidades alternativas à internação psiquiátrica e compatibilizando os procedimentos das ações de saúde mental com o modelo assistencial (HIRDES, 2009).

Dos princípios para a organização dos serviços de saúde mental, Rotelli et al. (1990) ratificam que a desinstitucionalização é um trabalho prático de transformação que contempla:

a ruptura do paradigma clínico e a reconstrução da possibilidade – probabilidade; o deslocamento da ênfase no processo de “cura" para a” invenção de saúde”; a construção de uma nova política de saúde mental; a centralização do trabalho terapêutico no objetivo de enriquecer a existência global; a construção de estruturas externas totalmente substitutivas à internação no manicômio; a não fixação dos serviços em um modelo estável, mas dinâmico e em transformação; a transformação das relações de poder entre a instituição e os sujeitos; o investimento menor dos recursos em aparatos e maior nas pessoas.

A mobilização de todos os atores envolvidos – técnicos e pacientes – irá produzir comunicação, solidariedade e conflitos; ingredientes fundamentais para a mudança das estruturas e dos sujeitos. Assim busca-se a promoção da capacidade de autoajuda e de autonomia das pessoas, o enriquecimento das competências profissionais e dos espaços de autonomia e decisão. Nesta perspectiva, o deslocamento do centro do interesse somente da doença para a pessoa e para a sua desabilidade social e o deslocamento de uma ação individual para uma ação coletiva nos confrontos dos pacientes com seus contextos (ROTELLI et al., 1990).

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1.3 O hospital psiquiátrico e o trabalho da enfermagem

No que diz respeito ao processo histórico da enfermagem psiquiátrica, essa especialidade caracterizou-se, pelo modelo controlador e também repressor, na qual suas atividades eram realizadas por indivíduos leigos, ex-pacientes, serventes dos hospitais e, posteriormente, desenvolvidas pelas irmãs de caridade. O cuidar significava o condicionamento dos internos às barbaridades dos guardas e carcereiros. Os maus tratos, a vigilância, a punição e a repressão eram os tratamentos preconizados e, geralmente, aplicados pelo trabalhador de enfermagem, que se ocupava do lugar das religiosas (VILELA;

SCATENNA, 2004).

Neste contexto histórico, cabe ressaltar que a organização do trabalho no interior das instituições asilares e, posteriormente, dos hospitais psiquiátricos constituíam-se de tarefas de vigilância e, manutenção da vida dos doentes que envolviam as práticas de asseio, alimentação, supervisão e também execução de tratamentos prescritos. Com a descoberta da eletroconvulsoterapia, a introdução dos tratamentos somáticos, a o tratamento medicamentoso a base de neurolépticos e outros, foi exigida do trabalhador de enfermagem uma assistência mais qualificada, fazendo com que sua prática fosse desenvolvida com a utilização de habilidades médicos-cirurgicas, conferindo-lhe um caráter cientifico (VILLELA;

SCATENNA, 2004).

As ligações entre hospital psiquiátrico e trabalho no cenário da reforma psiquiátrica, são bem maiores do que podemos supor. Essas ligações já aparecem na origem no manicômio e surge a partir da reformulação do processo de trabalho, determinando a divisão da sociedade entre indivíduos capazes e incapazes. Além disso, a especificidade do hospital psiquiátrico determinou diferentes modos de trabalho, dando origem a primeira especialidade médica: a psiquiatria e consequentemente a primeira escola de enfermeiros. Na atualidade as novas práticas de Saúde Mental estimulam mudanças no desempenho das ações de enfermagem psiquiátrica, no modo de cuidar, voltada para relação humana (RAMMINGER, 2006).

Com o advento da Reforma Psiquiátrica e as novas diretrizes da política nacional de saúde mental, o trabalho de enfermagem no setor de saúde mental vem passando por importantes transformações e com isso novas práticas estão sendo assimiladas pelo profissional, na tentativa de aperfeiçoar a assistência integral ao paciente com transtorno mental. Consequentemente, os profissionais têm sentido necessidade de refletir sobre suas ações, pois o processo de trabalho é constituído de conflitos e resistências, necessitando ser

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repensado no cotidiano em que se constrói. Desta forma é necessário garantir a qualificação destes trabalhadores e também oferecer melhores condições de trabalho (MOREIRA et al., 2008).

De acordo com Ramminger (2006), a enfermagem psiquiátrica deve acompanhar, portanto, as transformações dos movimentos da psiquiatria em que o trabalhador não deixa de ter características de suas especificidades, mas tendo seu lugar na equipe multidisciplinar reorganizando suas práticas com propostas terapêuticas. Nesta concepção é necessário entender a organização do trabalho e o processo de trabalho na enfermagem no contexto hospitalar, na especificidade da psiquiatria que possui particularidades decorrentes da forma como ele é organizado e desenvolvido. Deste modo, há de se considerar a exposição dos trabalhadores as cargas de trabalho física e psíquica, que podem manter nexo também com as emergências psiquiátricas; que podem trazer repercussões importantes à saúde física e mental do trabalhador de enfermagem.

A prática do enfermeiro inserido no contexto psiquiátrico reúne uma complexa trama de situações relacionadas à assistência direta ao paciente e fatores relacionados a organização do trabalho que contribuem para a ocorrência de estresse e consequentemente sofrimento.

Nessa prática, o enfermeiro se depara com situações adversas e específicas do trabalho, pois lida diretamente com os portadores de transtorno mental, enfrentando situações imprevistas e estressoras (COSTA; LIMA; ALMEIDA, 2003).

O Trabalho em ambiente psiquiátrico é considerado dinâmico, abarcando atividades insalubres, penosas e difíceis para todos os profissionais de saúde. Os trabalhadores de enfermagem que atuam com doentes mentais na fase aguda da doença parecem estar ainda mais expostos a situações estressantes que podem acarretar agravos à sua própria saúde. A elevada tensão emocional advinda das relações intersubjetivas que se estabelecem entre os trabalhadores de enfermagem, usuários e equipe no processo do cuidar de pacientes, associada às longas jornadas, à baixa remuneração, ao frequente emprego duplo, ao desenvolvimento de tarefas desagradáveis e repulsivas são fatores que acarretam sofrimento ao trabalhador.

Acrescentam-se outros fatores como a pressão sobre o trabalhador quanto ao tempo de execução de tarefas, os aspectos físicos negativos do local de trabalho e os conflitos interpessoais. (VIANEY; BRASILEIRO, 2003).

Nesse sentido, cabe ressaltar que muitos dos problemas enfrentados pelos trabalhadores no microespaço institucional, devem-se a existência de dissonâncias entre as diretrizes da política de saúde mental e a operacionalidade dos serviços. Nesse plano, considera-se que diversos problemas têm limitado a resolutividade dos serviços e entre eles: a

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ausência de uma rede de saúde mental estruturada e devidamente articulada com as demais redes assistenciais; conflitos entre as dimensões da autonomia do sujeito e a tutela pelo serviço e o assistencialismo das políticas de Assistência Social; conflito entre o modelo de formação profissional e a atuação na atenção psicossocial; dificuldade na gestão do território;

a dificuldade teórica e prática na gestão dos projetos terapêuticos individuais e coletivos; e terapêutica dominantemente centrada na erradicação de sintomas mediante a prescrição massificada de drogas (VASCONCELLOS; AZEVEDO, 2010).

Quanto as condições de trabalho na psiquiatria, Jorge et al. (2011) referem que os trabalhadores convivem com condições indignas, do ponto de vista das instalações físicas, com espaços pequenos e inadequados para o desenvolvimento das atividades. Há problemas relativos à da carência de profissionais, a escassez de materiais e equipamentos, ocasionando a formação de equipes pequenas e sobrecarregadas de trabalho. A precarização do trabalho também se faz presente tendo em vista os baixos salários, os vínculos empregatícios terceirizados (precarizados) e com insuficiência de formação continuada em serviço (JORGE et al., 2011).

Como afirmam Vasconcellos e Azevedo (2010), os modos de estruturação e gestão dos serviços centrados na flexibilização e precarização da força de trabalho, impactam na satisfação da equipe de saúde mental, principalmente na enfermagem, ocasionando insatisfação e sofrimento psíquico no coletivo de trabalhadores. Portanto, pensar o sofrimento como vivência, a qual pode ser compartilhada, significa inseri-lo na dimensão política, uma vez que envolve a presença do outro no campo da existência do sujeito. Deste modo, o prazer- sofrimento é uma vivência subjetiva do próprio trabalhador, mas que pode ser compartilhada coletivamente e influenciada pelo trabalho.

1.4 A violência laboral como risco psicossocial: o sofrimento no trabalho

De origem latina, o vocábulo violência, segundo Minayo (2006), vem da palavra vis, que quer dizer “força” e se refere às noções de constrangimento e de uso da superioridade física sobre o outro. Quem analisa os eventos violentos descobre que eles se referem a conflitos de autoridade, a lutas pelo poder e à busca de domínio e aniquilamento do outro, e que suas manifestações são aprovadas ou desaprovadas, lícitas ou ilícitas, segundo normas sociais mantidas por aparatos legais da sociedade ou por usos e costumes naturalizados.

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