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IV Encontro Internacional Participação, Democracia e Políticas Públicas 10 a 13/09/2019, UFRGS, Porto Alegre (RS)

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IV Encontro Internacional Participação, Democracia e Políticas Públicas 10 a 13/09/2019, UFRGS, Porto Alegre (RS)

ST02 - A democracia em rede: técnicas, tecnologias e capacidades participativas.

Participação no contexto da democracia técnica:

os laboratórios cidadãos como casos de estudo

Brenda de Fraga Espindula PPGS/UFRGS Financiamento Capes

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Resumo:

Nas relações entre conhecimento, tecnologia e política, observamos a emergência dos laboratórios cidadãos como espaços de experimentação de tecnologias para os problemas sociais. Os coletivos heterogêneos conformados para atuar em projetos de inovação cidadã no âmbito desses laboratórios produzem objetos técnicos e intervenções sociais. Quais formas de participação os laboratórios cidadãos promovem? Um “repertório de experimentação tecnopolítica” se estabelece?

Analisamos a dinâmica de dois laboratórios cidadãos, realizados entre 2015 e 2018, por iniciativa de uma rede de instituições articuladas em torno da Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB). Por meio da observação participante e da análise de diferentes dados digitais (grupos de mensagens, tweets, páginas Web), identificamos que os atores envolvidos participam para além do debate e deliberação de temas, sendo que são mobilizados para materializar as discussões em algum objeto experimental ou protótipo. Assim sendo, as formas de participação estabelecidas nos laboratórios cidadãos articulam a produção técnica e a prefiguração política, o que poderia consubstanciar um “repertório de experimentação tecnopolítica”.

Palavras-chave: Laboratórios cidadãos; democracia técnica; participação material;

experimentação tecnopolítica.

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1. Introdução

O presente artigo objetiva caracterizar os laboratórios cidadãos, organizados por uma rede de instituições articuladas em torno da Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB), e discutir as formas de participação dos atores heterogêneos envolvidos na criação e na prototipagem de tecnologias e metodologias de intervenções sociais durante a realização desses laboratórios. Investigamos como as formas de participação desenvolvidas nos laboratórios conformam um repertório de ação que articula a participação material (NORRES, 2015) e a experimentação política (LAURENT, 2016) no contexto da democracia técnica.

Os laboratórios cidadãos (labics) são organizados no escopo de um programa denominado de Inovação Cidadã desenvolvido desde de 2013 pela Secretaria Geral Iberoamericana (SEGIB). A Secretaria é órgão multilateral de apoio institucional e técnico da Cúpula de chefes de Estado e governo dos 22 países iberoamericanos e fomenta ações de cooperação internacional entre esses países. Conforme página web em que o programa é apresentado, a Inovação Cidadã é descrita como o

“processo que resolve problemas sociais com tecnologias (digitais, sociais, ancestrais) e metodologias inovadoras, através do envolvimento da própria comunidade afetada. Isto representa que os cidadãos deixam de ser receptores passivos de ações institucionais, para passar a se converterem em protagonistas e produtores de suas próprias soluções. Inovação Cidadã posicionou-se como o primeiro espaço de trabalho conjunto entre cidadãos, governos, meio acadêmico e empresas, baseado em uma dinâmica colaborativa e aberta lançado por meio de um organismo internacional” (ESPANHA, 2019).

Podemos observar que a definição põe em contato indivíduos e organizações de diferentes perfis e instituições governamentais sob o pressuposto das ideias de colaboração e de abertura, a fim de que sejam criadas soluções para resolver determinados problemas sociais. Por isso, os laboratórios cidadãos são concebidos como um “espaço de trabalho conjunto” que definem os cidadãos não como indivíduos

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que recebem as ações dos governos, mas sim como indivíduos que devem produzir colaborativamente as soluções com os governos e instituições.

Os laboratórios cidadãos são promovidos durante duas semanas em alguma cidade da região ibero-americana na qual tenha-se parceiros para organização, mais comumente governos, organizações sociais, instituições acadêmicas e outras instituições científicas. Convocatórias são lançadas para a seleção de projetos e eles buscam promover “a cidadania” como “agente proativa de suas próprias soluções”.

Depois de selecionados os projetos, são abertas chamadas públicas para colaboradores que queiram compor a equipe de trabalho dos projetos, com a definição dos perfis requeridos para cada projeto.

Nos arranjos sociotécnicos agenciados nos laboratórios cidadãos, coletivos heterogêneos constituídos por perfis diferentes de indivíduos atuam em projetos de inovação cidadã, produzindo objetos técnicos e metodologias de intervenções sociais.

Os objetivos dos projetos variam bastante e desenvolvem protótipos de tecnologias digitais e de outros artefatos, soluções tecnológicas de automação para problemas sociais de comunidades, intervenções urbanísticas de ocupação do espaço público, soluções ecológicas para realidades locais, metodologias para fomento à transparência governamental, entre tantas outros objetivos. Objetivos e resultados bastante díspares são enquadrados na concepção de inovação cidadã e remetem a formas de engajamento dos cidadãos para além da deliberação ou da decisão sobre políticas públicas.

Podemos nos perguntar sobre o que diferencia e o que assemelha os laboratórios cidadãos (labics) aos outros espaços experimentais ou laboratórios de inovação. Labics não seriam mais um nome para ​civic hackatons​, ​fablabs, makerspaces, media labs, living labs ​(MAXIGAS, 2014; GOLDENBERG, 2015;

ERMOSHINA, 2016, 2018; MARTINS, 2017; SMITH, 2017; CAMPOS, DIAS, 2018)?

Essa não é uma questão facilmente respondida, para qual a descrição dos laboratórios cidadãos aqui trazida pretende contribuir, em diálogo com uma agenda de pesquisa

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sobre inovação e participação que já consolida-se em vários centros de pesquisa pelo mundo (LAURENT; BAKER, 2019)​.

A partir de uma abordagem orientada para casos, entremeando análises quantitativas e qualitativas, definimos como objetos de pesquisa dois laboratórios cidadãos: 1) o Laboratório de Inovação Cidadã (LabicBR), realizado entre os dias 15 ao 29 de novembro de 2015, na cidade do Rio de Janeiro (Brasil), e o 2) Laboratório de Inovação Cidadã (LabicAR), ocorrido entre os dias 09 a 21 de outubro de 2018, na cidade de Rosário (Argentina). Além da observação participante na condição de colaboradora de projetos nos laboratórios indicados, documentamos os processos desenvolvidos nos laboratórios por meio de diários digitalizados de campo (no Google Docs) e da coleta e do processamento de diferentes dados digitais (conversações em grupos de mensagens Telegram, tweets dos perfis oficiais e dos organizadores, raspagem de páginas Web).

Investigando a dinâmica desses espaços, procuramos descrever as formas de participação que os laboratórios cidadãos promovem e discutir como essas formas podem consubstanciar em um​repertório de experimentação tecnopolítica ​. Percebemos que os fóruns híbridos constituídos nos laboratórios cidadãos participam para além do debate e deliberação de temas e questões, sendo mobilizados para “fazer algo” ou, em outros termos, “materializar as discussões” em algum objeto experimental ou protótipo, a semelhança do que é discutido por Norres (2015) por meio da categoria de ​material participation (participação material, em livre tradução). Desse modo, os projetos de inovação cidadã reposicionam para outra ordem a concepção de participação política e as formas pelas quais ela se estabelece nos laboratórios cidadãos. Não se espera mais que a participação política esteja no âmbito da deliberação ou dos meios para que a deliberação seja alcançada.

Associado a isso, a ideia de que as “soluções” desenvolvidas nos laboratórios têm caráter experimental reforça a perspectiva de reposicionamento da participação política para o experimentalismo da produção técnica, sendo que as “coisas inventadas” podem não dar resultados como esperados, estar repletas de erros e,

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mesmo, não ser instrumentais para a ação política. Aproxima-se do que Laurent (2016) analisa ao pensar sobre ​political experiments ​e a entrada dos vocabulários dos experimentos para analisar as ações políticas. Sendo assim, procuramos traçar os contornos para a discussão sobre as possibilidades de que um repertório de experimentação tecnopolítica esteja sendo estabelecido na medida em que a democracia técnica se intensifica na contemporaneidade.

2. Os laboratórios, os projetos de inovação cidadã e os protótipos

A pergunta de partida para o escopo deste artigo questionou-se sobre quais formas de participação os laboratórios cidadãos promovem e, para respondê-la, optamos em descrever os laboratórios, os projetos de inovação cidadã e os protótipos desenvolvidos nesses espaços de experimentação. A intenção foi “dissecar” os processos dos laboratórios cidadãos, em diálogo com a postura explicativa da sociologia analítica, a qual decompõe “uma totalidade complexa nas suas entidades e atividades constitutivas e depois coloca em evidência o que acredita-se ser os seus elementos mais essenciais” (HEDSTRÖM, 2005, p. 2, ​livre tradução​). Entretanto, por ser um trabalho de pesquisa em andamento, parte da construção da tese de doutorado, o artigo não contemplará abstrações mais refinadas que levem a explicação do fenômeno social, concentrando-se mais nas descrições dos atores (humanos e não-humanos) e das atividades postas em prática.

Seguimos as pistas de Ermoshina(2018) encontradas no seu trabalho sobre ​civic hackatons organizados na França e na Rússia para esboçar a descrição dos casos de laboratórios cidadãos estudados. A autora sugere que uma “galáxia de mediadores institucionalizados” (​ibidem​, p. 86, ​livre tradução​) passa a articular-se em uma rede transnacional, envolvendo ​hackers​, ativistas, organizações não-governamentais, startups​, profissionais facilitadores, empreendedores, ​makers​, políticos, gestores públicos, entre outros perfis, e a criar espaços e instrumentos para facilitar a interação entre esses universos. Na Quadro 1 descrevemos os diferentes atores que

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organizaram e apoiaram as iniciativas. A partir deles podemos identificar que organização dos laboratórios tem a iniciativa da Secretaria Geral Iberoamericana (SEGIB), através do programa de Inovação Cidadã, em conjunto com um ente governamental do país que recebe o evento. Podendo ser para financiamento ou colaboração técnica, o apoio aos laboratórios contam com entes governamentais (agência estatal espanhola de cooperação internacional, prefeituras, secretarias de governos nacionais) e com organizações não-governamentais ou associações da sociedade civil (como fundações e institutos).

Quadro 1. Organizadores e apoiadores dos laboratórios cidadãos

Laboratório Organizadores Apoiadores

Laboratório de Inovação Cidadã (LabicBR) Rio de Janeiro, Brasil

Inovação Cidadã, Secretaria Geral Iberoamericana (SEGIB) Secretaria das Políticas Culturais, Ministério de Cultura, Brasil MediaLab Prado

Agência Espanhola de

Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID) Ford Foundation

Fundación Unidos en Red Laboratorio Hacker, Câmara dos Deputados do Brasil

Secretaria Geral da Presidência da República, Brasil

Prefeitura do Rio de Janeiro Laboratório de

Inovação Cidadã (LabicAR)

Rosário, Argentina

Governo da Província de Santa Fé, por meio da iniciativa SantaLab

Inovação Cidadã da Secretaria Geral Iberoamericana (SEGIB)

Subsecretaria de Inovação Pública e Governo Aberto, do Ministério de Modernização do Estado do Governo da Nação Agência Espanhola de

Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID) Prefeitura de Rosário Medialab - Prado

Instituto Procomum Elaboração da autora (2019), a partir dos dados constantes nas convocatórias.

Os laboratórios acontecem em um amplo espaço físico aberto, sem paredes ou divisórias, onde são posicionadas mesas para cada equipe de trabalho e no entorno delas os materiais e equipamentos disponibilizados pela organização para o

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desenvolvimento do projeto. Comumente há uma mesa utilizada pelos organizadores, os mentores e os profissionais ligados à produção do evento. Os envolvidos percebem-se nesse espaço comum multilíngue em que é possível transitar, conhecer as pessoas e acompanhar as atividades dos projetos que são realizadas dia-a-dia. A escolha por esse formato arquitetônico do espaço físico do laboratório evoca os escritórios de plano aberto, sem salas individuais, que grande parte das empresas adotaram na última década (BERNSTEIN; TURBAN, 2018).

Em conjunto com os organizadores, atuam a figura do mentor ou da mentora junto ao dia-a-dia de trabalho das equipes dos projetos. No ambiente empresarial, em especial nos ambientes da incubação de empresas de base tecnológica (​startups​), conforme discutem Régis ​et al (2005), por serem pessoas com larga experiência e reconhecidas como “experts” no assunto, os mentores auxiliam na “aprendizagem dos papéis” e dos aspectos psicossociais aos indivíduos que querem alçar novas posições na carreira profissional. Nos laboratórios cidadãos, a mentoria tem papel semelhante a essa, já que os profissionais convidados (ou contratados) contribuem para as decisões tomadas pelas equipes dos projetos no que tange ao desenvolvimento dos protótipos ou à dinâmica do trabalho colaborativo que se deseja materializar.

É interessante destacar que os laboratórios cidadãos têm um código ético e de convivência. “Nós centramos na colaboração e não na competição”; “as ideias têm valor por si mesmas, e não por quem as propõe; não promovemos gurus, mas o bem comum”; “defendemos o direito à informação, o conhecimento e à participação”; “o diálogo e o livre intercâmbio guiam as nossas atividades”; “estimulamos as licenças livres e os repositórios abertos como forma de dar transparência e difundir o conhecimento”; são princípios observados no código ético, expostos em um banner na entrada de um dos eventos, devendo ser aceitos pelos colaboradores quando do processo de seleção.

Esses sentidos observados no código ético e de convivência podem ser melhor desdobrados quando recorremos aos artigos de opinião dos organizadores e mentores.

Em uma série de artigos publicados na página web do programa Inovação Cidadã, as

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ideias e justificativas que movem os laboratórios são apresentadas por pessoas que os vivenciaram na condição de organizador/a ou mentor/a. Assim, reunimos cinco artigos (em língua espanhola) como ​corpus ​de análise e produzimos uma representação gráfica da ​rede semântica dos discursos presentes nos artigos ​(Gráfico 1), utilizando a aplicação webapp Infranodus (PARANYUSHKIN, 2019). É uma técnica de análise de rede de texto com modelagem visual de tópicos. Ela converte qualquer texto em um gráfico de rede, por meio do qual as palavras são os nós e as co-ocorrências são as conexões entre eles, possibilitando ter uma visão geral dos principais tópicos e também identificar as lacunas nos discursos.

Os elementos mais influentes da rede semântica dos artigos selecionados foram laboratório​, ​inovação​, ​labic ​e ​projetos​, indicando para quais temas os autores convergiram suas reflexões. Esses termos são os pontos de cruzamentos entre os sentidos que circulam nos artigos, pois eles conectam as diferentes comunidades de nós (designadas por cores distintas). A aplicação conta com uma funcionalidade chamada Network Diversity Level, em livre tradução, nível de diversidade da rede, um indicador de viés baseado na estrutura do discurso. Tem quatro parâmetros principais:

disperso (não tendencioso), diversificado (com viés local), focado (ligeiramente enviesado) e tendenciosa (altamente tendenciosa). A estrutura do discurso presente nos artigos analisados foi classificada como diversificada, o que significa que existem vários tópicos distintos que são desenvolvidos dentro desse discurso e, no entanto, eles estão conectados no nível global. Por esse parâmetro, podemos afirmar que os organizadores e mentores apresentam perspectivas particulares sobre os laboratórios, ao mesmo tempo, em que compartilham uma visão geral ou um discurso alinhado sobre o que eles são.

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Gráfico 1. Rede semântica dos artigos dos organizadores e colaboradores

Fonte: Elaboração da autora, com aplicação Infranodus(2019).

O processamento também gerou quatro grupos principais de tópicos que configuram a rede semântica dos discursos, a partir da identificação das “comunidades de nós” (indicada por cores diferentes no gráfico de rede): 1.

Projetos-saberes-experimentar; 2. labic-trabalho-forma; 3.

desenvolvimento-ideias-criação; e 4. mentor-outro-relação. A partir desse grupos de tópicos, podemos explorar as ideias os organizadores e dos mentores sobre os laboratórios cidadãos. A partir do grupo de tópicos projetos-saberes-experimentar, o processamento destaca o seguinte excerto textual: “ ​El Laboratorio de Innovación Ciudadana (LABIC), que ocurrió en México, en Brasil y en Colombia, se destaca por promocionar proyectos de fortalecimiento de los saberes tradicionales y populares de

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los pueblos que nos constituyen. Podemos decir que es un caso único, en el cual la innovación deja de ser sinónimo de artefactos e interfaces magníficos producidos en el centro del capitalismo para afirmarse como un conjunto de metodologías, instrumentos y plataformas que mezclan saberes tradicionales y contemporáneos, en busca de generar respuestas adecuadas a los desafíos de nuestras sociedades ​”. A partir dele, podemos evidenciar a postura dos organizadores/as e mentores/as em diferenciar os laboratórios cidadãos das outras iniciativas de inovação que são realizadas atualmente, demarcando a diferença na valorização de saberes tradicionais e populares.

Já no grupo labic - trabalho - forma, o excerto textual destacado foi: “ ​Luego de elaborado el prototipo (sea este un objeto, una plataforma, un taller con determinada metodología de trabajo, una política, etc.), vendrán nuevas fases y versiones. Aunque en LABIC procurarnos evitar prototipos que sean resultado de trabajos e ideas puramente teóricas, y comenzamos desde el día uno a trabajar con las comunidades reales, con los destinatarios que van realizando sus aportes tempranos al proceso.

Destinatarios que forman parte del proceso y donde las fronteras entre el adentro y el afuera del laboratorio, el nosotros y ellos, comienzan a diluirse ​”. Observamos que os protótipos, como produto do trabalho nos laboratórios, podem ser muito variados e que os organizadores e mentores procuram promover uma forma específica de fazer esses protótipos, sendo que essa forma nutre-se “dos trabalhos com as comunidades” desde o início do laboratório para que as fronteiras entre dentro e fora sejam superadas.

No grupo de tópicos desenvolvimento-ideias-criação, a parte do texto recortada também trata sobre como se trabalha nos laboratórios cidadãos: “​El modelo de trabajo del Labic se caracteriza por la presentación de candidaturas para colaboradoras/es que deseen participar directamente del desarrollo de los proyectos seleccionados. Con esto el laboratorio propone una creación colectiva en ambiente en el cual las/los participantes pueden tanto aprender como enseñar en la medida en que desarrollan sus ideas. Muchos deben preguntarse qué es verdaderamente el trabajo colaborativo en un LABIC​”. Assim, os organizadores e mentores enfatizam a colaboração entre os participantes, a quebra dos papéis entre quem ensina e quem aprende e dos tempos

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de planejar e de fazer, o que caracterizaria a dinâmica de trabalho nos laboratórios cidadãos.

Por fim, no grupo de tópicos mentor-outro-relação, o excerto textual “ ​La base de esta estructura es la colaboración. Dentro de este contexto el colaborador o la colaboradora es el otro, el desconocido que viene a llamar a nuestra puerta trayendo consigo el mundo de allá afuera ​” evidencia a ideia de relação entre diferentes, a relação com “o outro” e o encontro de mundos.

Os sentidos evidenciados pela análise de texto em rede das opiniões dos atores que promovem os laboratórios articulam-se com os sentidos presentes no código ético e de convivência. Na fala dos atores, os laboratórios cidadãos não são como outros laboratórios de inovação ou espaços experimentais, por mais que orientem-se para a colaboração e a criação coletiva, pois o contato com “as comunidades reais”, os destinatários do que será produzido nos laboratórios, e a abertura para saberes não valorizados e para fronteiras antes não tensionadas configuram as suas singularidades.

Avançando na “dissecação” dos laboratórios, cabe pensarmos sobre os tipos de projetos de inovação cidadão, olhando-os em conjunto. Explorando a ideia de ​inovação cidadã​, a partir da definição no programa da SEGIB, bem como na fala dos atores acima referidos, percebemos que a noção de inovação é constituída por de quatro dimensões: “problemas sociais”, uma estratégia que tem um “como fazer”; “tecnologias (digitais, sociais, ancestrais) e metodologias inovadoras” e “envolvimento da comunidade afetada”. Assemelha-se ao que discute Ermoshina(2018), ao afirmar que o movimento de ​civic hacking nasce “da confiança nos códigos de programação como uma nova ferramenta capaz de resolver uma grande variedade de problemas públicos geralmente delegados a serviços públicos ou a instituições privadas específicas”

(​ibidem​, p. 79, livre ​tradução​). Os projetos dos laboratórios cidadãos estudados aqui também articulam uma situação problemática a uma “solução” (em um arranjo sociotécnico), a partir um processo de “solução de problemas” (“ ​problem-solving”) particularizado em cada projeto desenvolvido (BRABHAM, 2008; BRIGGS, 2008;

MCQUARRIE, 2013; BINDER, 2015; MARRES, 2015; ERMOSHINA, 2016). Um

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processo de “construção de um problema e de sua solução” que é acionado pelos critérios da convocatória e pela “galáxia de mediadores institucionalizados”, traduzido pelos proponentes do projeto e apropriado pela equipe dos colaboradores e pela comunidade envolvida na dinâmica do laboratório.

Nesse sentido, dialogamos com as indicações de Ermoshina(2018) ao sugerir que é necessário estudar mais os espaços experimentais e laboratórios de inovação (no caso da pesquisadora, os ​civic hackatons​) por meio de análises das tecnologias e das práticas que são produzidas:

Precisamos olhar para o enquadramento dos problemas e as escolhas infra-estruturais relacionadas: quem são os donos dos problemas? Quais são as soluções tecnológicas propostas pelos atores? Como é que o público está envolvido no enquadramento da questão e no desenvolvimento da solução? A quem pertencem os dados produzidos pelas aplicações cívicas?”

(ERMOSHINA, 2018, p.98, livre tradução).

A partir dessa problemática, analisamos as descrições dos projetos selecionados tal como comunicadas nas convocatórias de colaboradores (12 projetos para o LabicBR e 10 projetos para o LabicAR). Os dados foram extraídos na página web do programa de Inovação Cidadão, por meio da técnica de ​webscraping, ​utilizando a aplicação ParseHub. Após a coleta, foram processados através de uma análise de conteúdo temático-categorial, com a aplicação Atlas.ti Cloud e Google Planilhas.

Abaixo no Quadro 2 listamos os nomes dos projetos e os protótipos inicialmente propostos.

Quadro 2. Os projetos de inovação cidadã e os protótipos propostos LabicBR

1. Aprender Brincando: ​Kit com objetos digitais e analógicos 2. Caixa Mágica:​Plataforma digital de participação via conexão wifi

3. Cargografias: ​Plataforma digital com dados transparentes e abertos

4. Rádios comunitárias: ​Configuração de um modelo de rádio comunitária online

5. HiperGuardiões: ​Estação de monitoramento ZASF (Zona Autônoma Sem Fio) com uma

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plataforma aberta virtual

6. Jardins Suspensos: ​Jardim suspenso, instalação de coberturas de teto verde

7. Monitoramento Comunitário de Focos de Vetores de Dengue: ​Ovitrampas (iscas para as larvas dos mosquitos) e plataforma virtual de mapeamento

8. Praça: instruções de uso: ​Modelos abertos de equipamentos urbanos; guia metodológico

9. Redes de telecomunicações comunitárias: ​Rede livre de telecomunicações, guia metodológico

10.Sinergia da Diversidade: ​Guia metodológico, Pesquisa-ação

11.Todas as tuas ideias: ​Guia Intervenção comunitária

12.VirtualCidade: ​Mapa interativo em realidade virtual para visualização de dados

LabicAR

13.Elevações: ​Cadeira de Bipedestação com Código Aberto

14.Mulheres Qom empoderadas: ​Plano de negócios para os produtos indígenas

15.Impressão em 3d de modelos para aprendizado científico: ​Modelos abertos de impressão 3D

16.Sementes Poderosas: ​Guia de peletização sementes

17.Blockchain: última fronteira da participação cidadã: ​Arquitetura computacional em Blockchain

18.Circuito autossustentável de aquaponia: de peixes a plantas: ​Sistema de aquaponia e criação de peixes

19.Ocupação Beauvoir: cadê as artistas?: ​Guia Mobilização Cultural

20.Intercâmbio digital sustentável: ​Plataforma virtual para comércio de produtos orgânicos

21.A rota trans: lugares seguros: ​Plataforma virtual georreferenciada LGBT

22.Virtualidade real: ​Aplicativo em realidade virtual com fins educativos Fonte: Elaboração da autora, 2019, a partir dos dados de pesquisa.

Avançando na análise dos tipos de projetos, a partir de nova rodada da análise de conteúdo, criamos subcategorias para a categoria Problema a fim de sintetizar as situações problemáticas para quais orientaram-se os projetos, já que interessa-nos explorar o desenvolvimento dos ​projetos de inovação cidadão como um processo de

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“construção de um problema e de sua solução”. No Gráfico 2 observamos o quantidade de projetos por subcategorias de problemas.

Gráfico 2. Projetos por situação problemática

Fonte: Elaboração da autora, 2019, com dados da pesquisa.

Percebemos que os temas “participação social, transparência, qualidade e segurança da informação” e “educação, convivência e assistência social” agregam a maior quantidade de projetos. Os projetos categorizados no primeiro tema (Caixa Mágica, Cargografias, VirtualCidade, Blockchain: última fronteira da participação cidadã e Intercâmbio digital sustentável) convergem para a preocupação de aprimorar a participação social, seja em relação a governos ou em iniciativas da própria sociedade civil, e muito fortemente indicam a qualidade da informação e da deliberação como temas que devem ser focalizados. Já o tema “educação, convivência e assistência social” reúne projetos (Aprender Brincando, Sinergia da Diversidade, Elevações:

Cocriação de Cadeira de Bipedestação com Código Aberto, Impressão em 3d de modelos para aprendizado científico e Virtualidade real) que preocupam-se com as práticas educativas e de sociabilidade, voltando-se para a necessidade de ofertar recursos educativos (tangíveis ou intangíveis) às comunidades afetadas.

Os temas “controle social e monitoramento do meio ambiente” e “ação comunitária em espaço público” contam com três projetos em cada eixo. O primeiro trata de projetos (HiperGuardiões, Monitoramento Comunitário de Focos de Vetores de

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Dengue e Sementes Poderosas) voltados para os problemas socioambientais e defendem o envolvimento de indivíduos e organizações em práticas de monitoramento e apropriação de técnicas específicas para atuar nesses problemas. Já o segundo tema “ação comunitária em espaço público” agrega projetos(Jardins Suspensos, Praça:

instruções de uso e Todas as tuas ideias) que discutem sobre a mobilização das pessoas para apropriarem-se de espaços públicos locais e dos territórios em que vivem e as formas que podem ter esses processos.

Com dois projetos em cada subcategoria, no tema “vulnerabilidade socioeconômica”, os projetos (Mulheres Qom empoderadas e Circuito autossustentável de aquaponia: de peixes a plantas) olham para as dificuldades socioeconômicas de certos grupos sociais, indígenas e pequenos produtores rurais. Já no tema

“comunicação comunitária” são projetos (rádios comunitárias online, redes de telecomunicações comunitárias) que preocupam-se em “ativar” comunidades locais com a melhoria e a intensidade das práticas de comunicação. E, no último tema

“visibilidade, violência e representação”, os projetos (Ocupação Beauvoir: cadê as artistas? e A rota trans: lugares seguros) problematizam a violência, a segregação e a falta de representação de certos grupos sociais em certos lógicas sociais (no meio cultural e no espaço urbano).

Pelos resultados descritivos da análise, fica evidenciada a diversidade das questões que os ​projetos de inovação cidadã ​desenvolvidos nos laboratórios lidam e evocam, podendo, mesmo considerando que as problematizações que demarcam tendem a certas convergências temáticas. As situações concebidas como problemáticas pelos projetos envolvem diferentes atores sociais e políticos (desde de indivíduos, grupos e instituições), trabalham em várias escalas territoriais (local ou nacional) e apontam aspectos diversificados para as “soluções técnicas” que querem promover nos protótipos. Nesse sentido, cabe explorar as relações entre as situações consideradas problemáticas e o quê os projetos pretendem “experimentar” nos laboratórios, identificados pela análise dos seus objetivos e das atividades gerais propostas.

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Para isso, produzimos um cruzamento entre os objetivos categorizados e os problemas descritos pelos temas de análise (Quadro 3). As subcategorias para analisar os objetivos dos projetos foram criadas pensando as atividades gerais que os projetos propunham-se a desenvolver durante os laboratórios. Tem-se um problema, propõe-se uma forma de ação no escopo do laboratório e uma solução na forma de protótipos: os objetivos referem-se a essas formas de ação nas “fronteiras” do laboratório e, mais empiricamente, a atividade geral que pode ser descrita o trabalho do projeto durante as duas semanas.

Pela matriz, percebemos que o conjunto dos projetos da questão “participação social, transparência, qualidade e segurança da informação” pretende desenvolver uma aplicação virtual - produzir um aplicativo, plataforma, arquitetura computacional - e, em alguns, articula-se com a realização de uma intervenção social - construir uma mobilização social. Parece configurar uma aposta e confiança nas tecnologias digitais em rede para “solucionar” os problemas políticos. Já os projetos do tema “educação, convivência e assistência social” voltam-se mais para realizar uma intervenção social e, junto com essa ação, procuram desenvolver uma metodologia, um modelo ou testar um objeto físico como recurso educativo a ser experimentado. Os projetos do tema “ação comunitária no espaço público” estão mais orientados para as infraestruturas, mais concentrados nas ações de realizar uma intervenção urbana - construir uma infraestrutura urbana - e, a partir dela, uma metodologia ou uma aplicação IoT (um sistema de automação que envolve sensores físicos e aplicações virtuais). Já os projetos do tema “controle social e monitoramento do meio ambiente” promovem mais intervenções sociais de mobilização e, partir dela, um modelo, metodologia ou aplicação virtual.

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Quadro 3. Cruzamento entre problemas descritos e objetivos dos projetos

Fonte: Elaboração da autora, 2019, com dados da pesquisa.

Ainda, se olhamos os projetos dos temas “comunicação comunitária”,

“vulnerabilidade socioeconômica” e “visibilidade, violência e representação”, eles pretenderam realizar intervenções sociais e, a partir dela, desenvolver uma metodologia ou uma aplicação virtual, mas também procuraram realizar intervenção físico-estrutural junto a comunidades específicas e aprimorar um modelo de sistema técnico ou equipamento.

Após essa breve caracterização dos laboratórios, a partir do olhar para os projetos e os protótipos, retomamos aspectos da literatura sobre o tema, para que possamos nos aproximar de abstrações mais explicativas sobre as formas de participação e o repertório de ação que são promovidas nesses espaços.

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3. Convoca-se para a participação material! Venham experimentar!

É bem plausível que a caracterização dos laboratórios cidadãos feita até aqui seja a expressão da democracia técnica, já que podemos entendê-la, de forma paradoxal, como os processos em que são tomadas as decisões em relação aos sistemas técnicos que impactam a sociedade e os indivíduos, mas que, ao mesmo tempo, escapam das deliberações por parte dos cidadãos. Assim, o conceito põe em discussão o estranhamento frente às demandas para decidir sobre projetos e sistemas técnicos, muitas vezes consideradas mais “compatíveis” com cientistas ou profissionais ou restritas ao âmbito da iniciativa privada (CALLON, LASCOUMES, BARTHE, 2001;

LAMARD, LEQUIN, 2017). Estudos cada vez mais crescentes têm voltado-se a pensar as possibilidades de democratização das escolhas científicas e técnicas e as interações entre especialistas e leigos em fóruns híbridos. Fóruns este que podem ser considerados espaços abertos em que perfis muito diversos, entre técnicos, pessoas

“leigas”, políticos e especialistas, engajam-se em discutir opções técnicas e tratar de questões heterogêneas (CALLON, LASCOUMES, BARTHE, 2010).

Pensando a partir dos estudos urbanos, Farias e Blok (2016) sistematizam quatro dimensões para o conceito de democracia técnica, a saber: incerteza compartilhada, política material, experimentação coletiva e democratização frágil. A primeira delas, a incerteza, enfatiza as implicações das controvérsias tecnocientíficas que advém não só da falta de conhecimento sobre como as coisas funcionam, mas que dizem respeito também à complexidade das negociações sobre as entidades sociomateriais. A política material, como outra dimensão apontada, põe em relevo o fato de que a política nesse contexto não é expressão somente “as lutas sociais” entre especialistas e leigos, mas também constituída pelas disputas e engajamentos agenciadas pelas materialidades e tecnicidades dos objetos. A terceira dimensão é sobre a experimentação coletiva, processo em que não há decisões fechadas e tecnocráticas, mas sim sobre um processo ligado às indeterminações dos arranjos

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sociotécnicos no qual a dinâmica passa pela busca pelo novo, pelas falhas e revisões.

A última dimensão atenta para o fato de que a democratização nesse contexto é feita de momentos, quase sempre resultantes de processos que falham, de situações pontuais, críticas e controversas.

Duas dessas dimensões sobre o contexto da democracia técnica, a de política material e experimentação coletiva, podem ser melhor exploradas para pensar os casos dos laboratórios, seus projetos e protótipos. Marres(2015) debate que todas as práticas de participação têm uma dimensão material - um evento de protesto ou a participação em um processo deliberativo ou uma consulta pública -, mas falar em modos de participação material leva-nos a pensar que algumas práticas são mais

“materiais” que outras, especialmente quando são atribuídas capacidades políticas a dispositivos e objetos e quando as ações materiais tornam-se “operações” de interesse público. Por essa perspectiva que um crescente campo de estudos sobre democracia técnica têm investigado como “as coisas materiais são hoje implantadas para decretar uma forma pública distinta de engajamento” ( ​ibidem​, p. xii, ​livre tradução​). Eles buscam entender como “as capacidades de permitir a participação política” são atribuídas aos objetos e dispositivos.

Por esse caminho, podemos refletir sobre a variedade de protótipos e soluções

“técnicas” agenciadas nos projetos de inovação cidadã presentes no âmbito dos laboratórios cidadãos. Aplicações digitais, sensores físicos, impressão 3D, realidade virtual, qualidade da água, cadeira de bipedestação, sistemas de aquaponia, monitoramento da dengue, modelos de telecomunicações: qualquer tema e objeto pode ser agenciado para o “fazer política”. Na medida em que os projetos de inovação são apresentados para as convocatórias e identificam a necessidade de “resolver” uma situação problemática a partir da experimentação de um protótipo (tangível ou intangível), são estabelecidas as “formas distintas de engajamento”, as formas diferenciadas de participação política, que fundam uma dinâmica específica da política.

Nesse sentido, podemos considerar que os laboratórios cidadãos apostam em “colocar

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a matéria como uma nova base ou dinâmica fundacional da política ou da democracia”

(​idem​).

Contudo, Marres(2015) também atenta para o fato de a participação material pode ter outro “modo de engajamento”, uma forma em que os objetos e dispositivos

“não anunciam os seus poderes publicamente, mas antes exercem-nos de forma sub-reptícia, sem que as pessoas percebam ou compreendam-os em termos políticos”

(​ibidem​, p. xii). Nesse sentido, não basta descrever como os objetos e dispositivos são declarados pelos atores (humanos) como potentes para “mudar o mundo” ou “resolver problemas”. Para que consigamos explicar como configuram-se as formas de participação material é preciso investigar como os objetos e coisas atuam como

“participantes” e examinar que “capacidades de engajamento têm e permitem”, a exemplo da estratégia de “seguir as tecnologias” da tradição da Teoria Ator-Rede.

Assim, para além de dissecar como as situações consideradas problemáticas articulam

“um fazer” no escopo do laboratório e como elas são “consubstanciadas” em determinadas propostas de soluções (os protótipos), a exemplo do que fizemos na análise apresentada aqui, é necessário uma novo momento da investigação, que mergulhe nas práticas de projeção e desenvolvimento dos protótipos dentro dos laboratórios cidadãos, o que propomos na investigação mais ampla conduzida para a tese de doutorado.

Agregado a isso, a experimentação coletiva também nos parece uma dimensão analítica e teórica importante. Em certa medida, ela dialoga com a ideia de prefiguração política (MAECKELBERGH, 2011), a qual discute que a mudança social não delineia-se somente ao fazer a avaliação sobre a realidade, projetar planos para atuar nela e atingir objetivos predeterminados, mas também inclui como as pessoas, a partir dessas ideações, realizam-nas na prática política. A política prefigurativa traz a noção de que os “resultados” da política não estão no futuro, mas como esse “desejo de devir”

situa-se nas lutas do presente, no “fazer” da política. A ideia de prefiguração, então, engloba o experimentar “novos futuros” no presente e, por isso, aproxima-se dos estudos sobre democracia técnica que indicam a experimentação como processo

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ligado às incertezas dos “resultados” dos arranjos sociotécnicos. Essa discussão nos faz refletir sobre como as formas de participação material constituem-se no “fazer”, no

“testar”, no “experimentar”; sobre como os vocabulários experimentais são englobados na política (LAURENT, 2016) e, mais ainda, como as políticas passam a ser feitas nos laboratórios a partir de um “repertório” de experimentação.

Por fim, frente a esses aspectos, a caracterização dos laboratórios cidadãos como casos de estudos, bem como os diferentes espaços experimentais em que são acionadas formas de participação material no contexto da democracia técnica, constitui-se uma agenda de pesquisa muito profícuo para os/as cientistas sociais interessados em entender o ativismo, a participação política e o engajamento na interface com as tecnologias e os objetos técnicos.

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