(
E
f
J
SCHMITZ, P.I. e BARBOSA, A.S. Prospecções arqueológicas no sudoeste da Bahia. Projeto
Serra Geral. Revista de Arqueologia, São Paulo, 8(l):173-181, 1994.
PROSPECÇÕES
ARQUEOLÓGICAS
NO
SUDOESTE
DA BAHIA.
Projeto Serra
Geral
Pedro lgndcio Schmitz* Altair Sales Barbosa**
RESUMO: Estão sendo apresentados os primeiros resultados de uma
prospecção arqueológica inicial no Sudoente da Bahia, localizando sítios
de caçadores holocênicos antigos e recentes, uma abundante pintura de
tradição São Francisco e poucos assentamentos de tradição cerâmica Una e Tupiguarani. Mencionam-se datas pleistocênicas conseguidas num dos
abrigos, mas a ligação delas com a ocupação e atividade humanas não
pode ser confirmada.
Introdução
A
área compreendida noprojeto
Serra Geral, quevai
da fronteirade Goiás
até umpouco além
de
SantaMaria
da
Vitória,
BA,
com-preende
uma
partedo
rio
Corrente, afluentedo
rio
São Francisco e seus foffnadores Correntina e Formoso, com os respectivos afluentes, desde a confluêncla até as nascentes. Não tratamos aqui da partegoia-na do
projeto. (Ver
mapa)Está localizado entre os meridianos de 43o40' e
46
de longitudeoeste
e
os paralelosde
13oe 14o30' de
latitude
sul.Projeto do Programa
Arqueológico
de Goiás, teve seu trabalho de campo executado na estação seca dos anos de 1981, 1983, 1984 e 1985.Trata-se de um
projeto
prospectivo,cujo trabalho
de
campofoi
dificultado
pelas condições ambientais, numairea
de poucosmorado-res e menos caminhos.
Esta é uma comunicação prévia, visto o material não ter sido todo
analisado; a publicação do
relatório
final
está prevista para 7995.*
instituto Anchietano de Pesquisas.** Instituto do Trópico Sub-úmido.
,
SCHMITZ, P.I. e BARBOSA, A.S. Prospccções arqucológicas no sudocste da Bahia. Projeto
Serra Gcral. Revísta de Arqueologi¿, São Paulo, 8(1):173-181' 1994.
O trabalho
realizado
O
ambiente,no lado
baiano, pode ser apresentado em dois gran-des quadros:o
cerradoe
a caatinga arbórea.1. O
cerrado caractefiza-Sepor
uma extensa área, onde afloramareni-tos da Formação
Urucuia,
de origem continentalflúvio-eólica,
datadosdo
Cretáceo. Esta formação apresenta grande homogeneidadelitológi-ca de
arenitosfinos a
médios, com
algunsníveis
conglomeráticos eáreas com
maiof silicificação do
material, formando normalmente pe-quenAs cristas, mais resistentesà
erosão, que Se constituemna
fonte da matéria-prima para a fabricação de instrumentos.O
relevo
apresenta uma topografia uniforme,com
cotasde
1.000m
no extremo-oeste,
limite
com
Goiás,
decrescendoaté 800
m
nolimite
com
a caatinga. Os rioscofrem
paralelos, retilíneos, rápidos elimpos,
sem balrancas.A
vegetação, no extremo oeste,limite com
Goiás é de campos dealtitude, com matas-de-galeria localizadas.
Na
direção leste passagra-dativamente para o cerrado típico.
Duas áreas
foram
submetidas a uma prospecção intensiva: omé-dio
curso do rio Corentina, aolongo
da antiga estrada que, de Posse,GO,
vai
a
Correntina,BA;
o curso
médio do
rio Pratudão, ao longo
da outra estrada queliga Goiás ao
sudoeste da Bahia.Só
um sítio
pré-cerâmicofoi
localizado
na área
de
campos dealtitude,
junto
às nascentes do Pratudão..No
cerrado foram registrados20
sítios
pré-cerâmicosa
céu
aberto,próximos
às margens dos rios,em
pequenos cerrosou
chapadas,onde
aflora
quartzito
ou
sílex.
A
maior
parte dos sítios não passade locais
de exploração dematéria-prima, com
retalhamento de nódulos e preparação,ou
mesmoacaba-mento
de
artefatos. Geralmente são superhciaisprimários,
existindoconsiderável
volume
de
resíduos,muitas
vezes de grande tamanho,porque os nódulos
originais
sãomuito
volumosos, chegando a 50 cmde
diâmetro;muitos
deles estão cobertospor
espessa crosta malsili-cificada e com
numerosas falhas internas dematerial
nãobem
silici-ficado.
Sobre
o
rio
PratudãoÆormoso háum sítio
extenso ecom
grandeacúmulo de restos de retalhamento e muitos artefatos em fase de
SCHMITZ, P.L e BARBOSA, A.S. Prospecçõcs arqueológicas no sudocste da Bahia. Projeto
Serra Gcral. Revista de Arqueologia, São Paulo, 8(l);173-181, 1994.
volveram, pela
quedade blocos
e
dissolução docalcário,
pequenosabrigos, freqüentemente
com
evidências de ocupação humana.A
vegetaçãoé
constituída
de caatinga arbórea,
com
variaçõeslocais, que receberam as denominações de Floresta Montana estacional semi-decidual, e decidual.
A semi-decidual
ocorre, de preferência,den-tro
dos corredores com paredõestipo
canyon, devido amaior
concen-tração de umidade
local.
A
decidual
ocupa as áreas de patamares de chapadão.O
clima, segundo
Koeppen,
é
AW,
canarcteúzadocomo
clima
quente
com
estação secabem
acentuada,coincidindo com
o inverno.
Os rios da região
(Correntina, Formoso
e
Conente)
tôm bom
potencial, ao passo que os córregos, seus afluentes, são normalmente
intermitentes.
Os de maior porte, com água constante,
são
aquelesassociados a sumidouros, que apresentam trechos subterrâneos, com o abastecimento de água proveniente
do próprio lençol
freático.Na
áreaforam feitas
amostragens sistemáticas nas proximidades da cidadede
Correntina, sobre orio
do
mesmo nome, onde existem paredões calcárioscom
pequenas grutas,com
sedimentos rasos, nasquais se recuperaram ocupações pré-cerâmicas e cerâmicas; nas pare-des há pinturas da tradição São Francisco
e
sobre elas pequenosgra-fites
em carvão.Além de coletas superficiais,
foram
realizados três cortesestrati-gráficos nos abrigos; não há datações.
Outra área de amostragem sistemática
foi
a Serra do Ramalho, na margem direita do Corrente, perto da cidade de SantaMaria
daVitória,
mas
no município
deCoribe,
dentro e nas proximidades deum
típicocanyon calcário, com rio subterrâneo.
Ali
foram
localizados4
abrigospouco profundos,
com
ocupações humanas, testemunhadaspor
mate-riais
em camadas e pinturas nas paredes.Num
abrigo foram realizadosquatro
cortes, conseguindo-se12
datas,que
vão de
1.000
a
43.000anos
4.P.,
correspondentes a ocupações pré-cerâmicas e cerâmicas. Aspinturas principais,
da
tradição
São Francisco, estão recobertas porpequenos grafites a caruão.
Fora de abrigos, mas na sua proximidade, foram encontrados mais
dois
sítios cerâmicos.Há
também
grandes cavernas com estalactitese estalagmites
esumidouros, nas quais não se encontraram restos pré-históricos.
SCHMITZ, P.L e BARBOSA, A.S. Prospecções arqucológicas no sudoeste da Bahia. Projeto
Serra Geral. Revista de Arqueologia, São Paulo, S(1):173-181, 1994.
dois
anos depois e fizemosnovo corte
(II), que,
nos níveis profundostinha camadas de sedimentos claros, que pareciam de cinza, com
mui-tos moluscos, mas pouco carvão. Mandamos process¿¡r duas amostras de moluscos dessas camadas, saindo datas de 26.600+
620(5I-6292)
para
o nível de 130-140
cm e
26.900
+
570
A.P. (5I-6293)
para onível
de 140-150 cm. Há mais uma data de mais de 43.000 anos4.P.,
mas que não vale a pena discutir porque não está associada às camadas
que pareciam
cinza,,mas
provém de moluscos
retirados
por
baixo.Como as datas eram
muito altas,
os responsáveispelo
processamentoatribuíam
o
tamanhoda
dataa
algum
problemacom os
moluscos eprometeram processar outras amostras, mas
de
carvão.Foram
feitosnovos
cortes(III
e
IIb)
em 1984, recolhendo-se carvão
de
camadasparecidas,
num outro lugar
do
abrigo.
Saíram, então,mais
três datas:t6.200
+
290A.P. (5I-6752);18.570
t
130A.P.
(516751) e 21.090+
420
A.P. (5I-6750),
confirmando que se trata de camadaspleistocêni-cas,
faltando
confirmar que
se trata
realmentede
restosligados
aohomem. Os sedimentos retirados
foram
processadospor Ana
LuisaV.
Bitencourt
(O
paleoambientedo
sítio arqueológico
BA-RC-28:
umestudo através dos minerais dos sedimentos
do
abrigo), que os discute nesta reunião.Comentário
Pelos
dadosque
temos
desseprojeto
prospectivo,
percebemosuma ocupação
por
grupos caçadores no cerrado, desde ao menos 7.000anos
4.P.,
na caatinga
ao
menos
desde9.000
4.P.. Aqui
existe
apossibilidade de uma ocupação pleistocênica.
No cerrado os sítios
parecem localizados predominantemente aolongo
dosrios,
onde existe água, alimentaçãoe aflora
matéria-primalítica
por
causa da erosão; não nosinterflúvios,
onde estes elementosfaltam. Nos sítios mais visíveis e numerosos estão diretamente ligados aos afloramentos
do
quartzito
e
sflex
e
sua açãovisível
parece maisligada à exploração e manufatura dessa matéria-prima. Dos numerosos
sítios localizados só
um
parece não estar predominantementeligado
a esta atividade, mas ser de atividademúltipla.
Na
caatinga a maior parte dos sítios localizados está em abrigos. 178a
SCHMITZ, P.I. e BARBOSA, A.S. Prospecções arqucológicas no sudoeste da Bahia. Projeto
Serra Geral. Revista de Arqueologia, São Paulo, 8(l):173-181, 1994.
O
abastecimentode
água éresolvido com
o
acesso aum
rio
supedi-cial,
em cuja proximidade
se encontram (Correntina),um
rio
subter-râneo, dentro ou na proximidade
do
sítio (sena do Ramalho), a córre-gos intermitentes (SantaMaria
daVitória
e Santana dos Brejos); nesteúltimo
caso a ocupação costuma mostrar pouca intensidade. Os sítioscerâmicos a céu
abefio exploram
recursosde
água permanentes, nãomuito
afastados e se apóiamem
solos bastante ricos, desde que existaágua"
Pensando os sítios dentro da arqueologia de uma área mais ampla,
notamos que
o
pré-cerâmico provavelmente se enquadra noshorizon-tes estabelecidos para os cerrados de Goiás
(Scuuttz,
1980; SCHMITZe
outros,
1989)e
Minas
Gerais
(lnous
&
cuwtanÃss,
1981-1982)não sendo
o ambiente
excessivamente diferente.As
pinturas são cla-ramente da tradição São Francisco(Ver
SOLA, PROUS&
SILVA, 1981-1982).A
cerâmica de tradiçãoTupiguarani é
da subtradição Pintada, embora pareça haver uma certa presença de ungulados; os sítios pare-cem pouco numerosos e se encontram na proximidade dorio
Corrente,onde teriam
um ambiente suportável, embora não
ideal.
Outrasocor-rências cerâmicas
a
céu aberto,
ou eventuais
ocupaçõesde
abrigos,provavelmente são do horizonte IJna, que explora ambientes mais aci-dentados e solos menos aptos para cultivos.
ABSTRACT: Archaeological survey ín Southwest Bahia
-
The firstresults
of
an archaeological surveyin
Southwest Bahia are presented,setting the sites of ancient and recent holocenic hunters, abundant
paint-ing of the São Francisco Tradition and a few settlements of the Una and
Tupiguarani Ceramic Tradition. Pleistocenic dates obtained
in
arock-shelter are mentioned, but its relation with human activities and
occupa-tion can not be confirmed.
t
?
u)