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A trajetória de mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas dentro dos serviços de atenção e tratamento até a comunidade terapêutica

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Academic year: 2017

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Pró-Reitoria Acadêmica

Escola de Saúde

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia

A TRAJETÓRIA DE MULHERES USUÁRIAS DE ÁLCOOL

E/OU OUTRAS DROGAS DENTRO DOS SERVIÇOS DE

ATENÇÃO E TRATAMENTO ATÉ A COMUNIDADE

TERAPÊUTICA

Autora: Ana Dóris da Silva

Orientadora: Profª. Drª. Maria Aparecida Penso

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ANA DÓRIS DA SILVA

A TRAJETÓRIA DE MULHERES USUÁRIAS DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS DENTRO DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO E TRATAMENTO ATÉ A

COMUNIDADE TERAPÊUTICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Psicologia.

Orientadora: Profª Drª Maria Aparecida Penso

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Silva, Ana Dóris

A Trajetória de Mulheres Usuárias de Álcool e/ou Outras Drogas dentro dos Serviços de Atenção e Tratamento até a Comunidade Terapêutica/Ana Dóris da Silva. 2015.

162 páginas

Dissertação (Mestrado) Universidade Católica de Brasília, 2015. Orientação:Profª. Drª. Maria Aparecida Penso

1. Mulheres. 2. Álcool. 3. Drogas. 4. Comunidade Terapêutica. 5. Trajetória I. Penso, Maria Aparecida. II. Título

CDU Classificação

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Dissertação de autoria de Ana Dóris da Silva, intitulada “A TRAJETÓRIA DE MULHERES USUÁRIAS DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS DENTRO DOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO E TRATAMENTO ATÉ A COMUNIDADE TERAPÊUTICA”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, em ____/____/____, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

_________________________________________

Prof.ª Dr.ª Maria Aparecida Penso

Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia - UCB Orientadora

_________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maria Alexina Ribeiro

Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia - UCB Examinadora Interna

_________________________________________ Prof.ª Dr.ª Maria de Fátima Novais Gondim

Escola Superior de Ciências da Saúde

Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde – FEPECS Examinadora Externa

_________________________________________ Prof.ª Drª Cláudia Cristina Fukuda

Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia - UCB Suplente

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Ao chegar ao final desta etapa de minha vida, senti em meu coração um desejo intenso de agradecer a Deus por todas as coisas boas que consegui realizar. Decidi fazer uma prece, mas meu coração sentiu que esse agradecimento não foi completo, pois para isso seria necessário e importante também agradecer aos humanos.

Assim, agradeço a todos - mãe, irmã, cunhado, sobrinha-afilhada, marido, filhas, genro, neto, amigos, irmãos do Centro Espírita Casa do Caminho, colegas de trabalho da Comunidade Terapêutica, colegas e professores do mestrado, alunos da turma de supervisão no curso de graduação em psicologia da UCB - pelo carinho e pela confiança que a mim dedicaram durante esses dois anos de mestrado.

Agradeço a todas as mulheres que, ao longo dos 08 (oito) anos de existência e funcionamento da comunidade terapêutica, passaram pela instituição permitindo que a cada dia e a cada contato eu aprendesse um pouco com cada uma.

Agradeço a todos pela paciência e tolerância com minhas fraquezas e imperfeições e pela boa vontade ao atender meus pedidos de auxílio.

Agradeço a todos que me ajudaram a tentar aproveitar nesta terra, as oportunidades que a vida me deu para ser uma pequenina chama que ilumina as trevas em que jazem muitas criaturas. Agradeço a todos que me ajudaram a ser, ainda que minimamente, a água benéfica que minimizou a sede daqueles que cruzaram meu caminho, sequiosos de carinho e amor.

Agradeço a todos que me ajudaram a ser, embora com muita dificuldade, um pouco de alimento para os que me procuraram, famintos de compreensão e de incentivo.

Agradeço a todos que me ajudaram a manter-me firme na busca constante que tenho, no sentido de trilhar o caminho do amor e da caridade.

Agradeço à minha orientadora, que pacientemente ouviu meus pedidos de auxílio, que tolerantemente, relevou meus momentos de pouca sociabilidade, que humildemente ignorou as minhas grosserias, que generosamente, durante esse dois anos, aceitou-me como sou: imperfeita; e que, amorosamente conduziu-me até o final desta caminhada.

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Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse Amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse Amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tivesse Amor, nada disso me aproveitaria. O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. O Amor nunca falha. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o Amor.

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drogas dentro dos serviços de atenção e tratamento até a comunidade terapêutica. 2015. 162 folhas. (Dissertação de Mestrado em Psicologia). Universidade Católica de Brasília, Brasília.2015

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mudanças demonstradas pelas mulheres tratadas. Considerando a relação entre família, política pública e uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, este estudo procurou estabelecer um diálogo entre estas instâncias, trazendo a reflexão sobre a importância de que as mesmas sejam tratadas ou estudadas em conjunto, visto que inegavelmente estão inter-relacionadas.

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Reference: Silva, Ana Doris's. The trajectory of women who use alcohol and / or other drugs within the care and treatment services to the therapeutic community. 2015. 162 sheets. (Dissertation in Psychology). Catholic University of Brasilia, Brasília.2015

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1 INTRODUÇÃO ... 15

2 OBJETIVOS DA PESQUISA ... 22

2.1 GERAL ... 22

2.2 ESPECÍFICOS ... 22

3 REFERENCIAL TEÓRICO ... 23

3.1. AMULHER USUÁRIA DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS ... 23

3.1.1 Ser Mulher ... 23

3.1.2 Ser Usuária de Álcool e/ou Outras Drogas ... 25

3.2 AFAMÍLIA DA MULHER USUÁRIA DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS ... 29

3.3 POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS ... 33

3.4 MODELOS DE TRATAMENTO PARA O USO DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS ... 40

3.4.1 O Tratamento no Modelo de Comunidade Terapêutica ... 51

3.4.2 A Família e sua Participação no Tratamento ... 57

4 MÉTODO ... 63

4.1 OCONTEXTO DA REALIZAÇÃO DA PESQUISA ... 63

4.1.1 A Instituição ... 64

4.2. PARTICIPANTES ... 66

4.3 INSTRUMENTOS ... 67

4.3.1 Roteiro de Entrevista Semi-Estruturada ... 67

4.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DOS DADOS ... 67

4.4.1 Aproximação do Contexto ... 67

4.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS ... 68

5 RESULTADOS ... 71

5.1 PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO DAS MULHERES INTERNADAS ... 71

5.2PERFIL SÓCIO-DEMOGRÁFICO DOS FAMILIARES DAS MULHERES INTERNADAS ... 71

5.3 CONHECENDO AS HISTORIAS ... 72

5.3.1 A História de I ... 72

5.3.1.1 A História Contatada pela Mulher ... 72

5.3.1.2 A História Contata pela Família ... 75

5.3.2 A História de T. ... 76

5.3.2.1 A História Contatada pela Mulher ... 76

5.3.2.2 A História Contata pela Família ... 79

5.3.3 A História de M. ... 79

5.3.3.1 A História Contatada pela Mulher ... 79

5.3.3.2 A História Contata pela Família ... 83

5.3.4 A História de C. ... 86

5.3.4.1 A História Contatada pela Mulher ... 86

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6 DISCUSSÃO ... 95

6.1 ZONADESENTIDO1–ATRAJETÓRIA,OSMOTIVOS, ASEXPECTATIVASE APERCEPÇÃODOSRESULTADOS ... 95

6.2 ZONA DE SENTIDO 2 – EXPECTATIVAS E RESULTADOS EM RELAÇÃO AO TRATAMENTONACOMUNIDADETERAPÊUTICA ... 112

6.3 ZONA DE SENTIDO 3 – ESTRATÉGIAS PARA SAÍDA DA COMUNIDADE TERAPÊUTICAAPÓSACONCLUSÃODOTRATAMENTO ... 127

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 134

REFERÊNCIAS ... 140

ANEXO A ... 154

ANEXO B ... 156

APÊNDICE A ... 158

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1 INTRODUÇÃO

Este trabalho consistiu de uma pesquisa exploratória de natureza qualitativa que, considerando a complexidade das relações familiares, sociais e de poder, experienciadas no nosso cotidiano, foi baseada na abordagem sistêmica associada a algumas referências teóricas relacionadas ao uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, na tentativa de fazer um diálogo com os constructos oriundos das diversas pesquisas relacionadas com as comunidades terapêuticas.

Tem como tema a trajetória de mulheres adultas usuárias de álcool e/ou outras drogas e de suas famílias, dentro dos serviços de atenção e tratamento ao uso abusivo dessas substâncias, até chegar ao tratamento em regime de internação, em instituições denominadas Comunidades Terapêuticas.

O uso abusivo de álcool e outras drogas tem despertado interesse nos mais variados segmentos da sociedade, em especial no que se refere à população economicamente ativa, visto que o problema acarreta o afastamento do trabalho de pessoas ainda muito jovens; mobilizando, por conseqüência, várias instituições governamentais e não governamentais para o desenvolvimento de ações e estudos nas áreas da medicina, psicologia, serviço social, entre outras, com o objetivo de identificar alternativas para a prevenção e o tratamento (Aguena, 2006).

De acordo com a Teoria Geral dos Sistemas de Ludwig Von Bertalanffy as características essenciais de um organismo as quais surgem das interações e relações entre as partes, estão presentes também no todo, o que significa dizer que o todo é sempre maior do que a soma de suas partes (Nichols & Schwartz, 2007). Quando as concepções sistêmicas são aplicadas aos organismos humanos é necessário também levar em consideração a presença de subsistemas e o fato de que os sistemas passam por fases de estabilidades e mudanças. Outro aspecto importante refere-se ao fato de que cada subsistema tem função determinada, está relacionado com os demais subsistemas existentes no contexto em que está inserido e seu funcionamento é regulamentado pelas normas da instituição a qual pertence (Minuchin, Colapinto & Minuchin, 1999).

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Sudbrack, 2008). A abordagem sistêmica familiar, descrita por Minuchin (2009), define a família como um sistema aberto que funciona como a matriz de identidade dos seus membros. Na perspectiva sistêmica a família é vista como uma rede de relacionamentos em que seus membros influenciam e são influenciados entre si, pelas atitudes e comportamentos de cada um individualmente, sendo que além das interações que acontecem entre seus membros, ocorrem também interações com o ambiente externo (Nichols & Schwartz, 2007). Assim, a abordagem sistêmica tem como foco o estudo dos acontecimentos, das pessoas e da dinâmica relacional dessas pessoas diante dos acontecimentos, razão pela qual a família é considerada um sistema interativo. Partindo da premissa de que a família é um sistema entre outros sistemas, o conhecimento acerca das relações interpessoais e das normas que regulam o grupo familiar, permite compreender o comportamento de seus membros (Andolfi, 1996).

O uso abusivo de álcool e/ou outras drogas ou a dependência química é considerado atualmente como um grande e grave problema de saúde pública em todo o mundo. O Relatório Mundial sobre Drogas – 2012, registra a estimativa de que 230 milhões de pessoas, ou seja, um em cada 20 adultos – o que representa 5% da população - usaram alguma droga ilícita pelo menos uma vez em 2010, sendo que o numero de pessoas com problemas relacionados ao uso de drogas é da ordem de 27 milhoes de pessoas com idade entre 15 e 64 anos, ou seja, 0,6 % da população adulta mundial (United Nations Office on Druges and Crime [UNODC], 2012). De acordo com a Organização Mundial de Saúde – OMS, o uso prejudicial do álcool resulta na morte de 2,5 milhões de pessoas anualmente. Existem 60 tipos diferentes de doenças, em que o álcool tem um papel causal significativo. A OMS, alerta ainda para o fato de que o consumo de alcool, também causa danos ao bem-estar e à saúde das pessoas que convivem com o usuário da substância. Em 2005, o consumo mundial total foi igual a 6,13 litros de álcool puro por pessoa com 15 anos ou mais velhos (Organização Mundial de Saúde [OMS], 2012).

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15 e 29 anos morrem anualmente por causas relacionadas ao consumo de álcool , resultando em 9 % do total demortes nessa faixa etária (OMS, 2011).

De modo geral a situação mundial de consumo de drogas, assim como as consequências sanitárias do uso de drogas ilícitas, não sofreu alteração nos últimos cinco anos. Entre 10 e 13 % dos usuários de drogas continuam sendo consumidores que apresentam comportamentos relacionados à dependência quimica e/ou outro transtorno relacionado ao consumo de drogas, sendo que uma em cada cem mortes entre aldultos se deve ao consumo de drogas ilícitas (UNODC, 2012).

Pesquisas apontam para diferenças no consumo de drogas ilícitas, no que tange ao sexo, sendo que atualmente o maior número de usuários de drogas ilícitas são jovens do sexo masculino e esta diferença é mais pronunciada nos paises em desenvolvimento. O I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira, apontou para a prevalência de consumo de 65% para os homens e 41 % para as mulheres (Brasil, 2007c). No geral, o uso de drogas ilícitas entre os homens é muito maior do que entre mulheres, mas uma exceção à essa regra é o uso não médico de tranqüilizantes e sedativos. Na América do Sul e América Central, a prevalência de uso dessas substâncias em algum momento da vida foi de 6,6% entre as mulheres e 3,8% entre os homens (UNODC, 2012). Na maioria dos países em desenvolvimento, as diferenças de consumo de drogas entre sexos são ainda mais pronunciadas. Pesquisas de prevalência realizadas no Brasil em 2005 e na Argentina em 2010, indicam que o uso drogas entre as mulheres, é da ordem de aproximadamente dois terços abaixo das taxas de consumo de homens na população geral. Por outro lado, pesquisas realizadas em escolas, nesses paises, apresentam diferenças muito menores de consumo entre gêneros (UNODC, 2012).

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violência sexual na vida, enquanto entre os homens esse percentual foi de 7,0%. Em relação ao comportamento sexual 49,5% das mulheres informaram não ter usado preservativo em nenhuma relação sexual vaginal no mês anterior à entrevista, e apesar de ter conhecimento da exposição ao risco, 54.9% afirmaram nunca ter realizado teste para HIV (Brasil, 2011d).

Um estudo realizado em um Centro de Atenção Psicossocial – CAPS – Ad, em Caçador/SC, constatou que os motivos que mais levam as mulheres ao uso de álcool e outras drogas são: ter pais e/ou companheiros usuários (25,64%) e serem portadoras de transtorno de humor da depressão (23,07%). No caso da depressão, algumas mulheres não conseguiam identificar se esta ocorreu antes ou depois da dependência da substância. Além disso, a maioria das mulheres atendidas nesse serviço apresentava histórico de uso abusivo de álcool e outras drogas, além de violência doméstica e/ou psicológica, estigma social, abandono, desemprego, perda dos filhos judicialmente por conseqüência do uso da substância, entre outros (Almeida & Santos, 2013).

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher, publicada em 2007, ao apresentar breve diagnóstico da situação da saúde da mulher no Brasil aponta que, no período de três anos – entre 2000 e 2002, as internações psiquiátricas de mulheres decorrentes do uso de álcool, mantiveram-se como a 5ª causa. Entretanto, foi observado um aumento no período, passando de 4,4 % em 2000 para 4,6% em 2001 e para 4,8% em 2002. Outro aumento observado no período foram as internações devido ao uso de substâncias psicoativas que em 2000 e 2001 eram da ordem de 0,9% do total de internações em mulheres e passaram para 1,4% das internações em 2002 (Brasil, 2007a). Entretanto, apesar desse aumento, não consta da mencionada Política, objetivos específicos para o atendimento às peculiaridades de mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas (Brasil, 2008b; Brasil, 2013b; Brasil, 2013c).

Os dispositivos de atenção, criados pela Portaria MS nº 3.088/2011 com o objetivo de ampliar o acesso, fortalecer a rede de tratamento SUS e responder às novas demandas dos usuários de álcool e/ou outras drogas, em especial ao desafio relacionado à mudança de perfil do consumo de crack no Brasil, também não fazem referência específica ao público constituído pelas mulheres (Brasil, 2011a).

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passa a ser uma fonte de estímulo para a manutenção do uso de drogas. O prazer decorrente o uso da substância – seja o álcool ou seja outra droga - vem preencher a lacuna deixada pelas carências decorrentes das relações sociais e familiares vivenciadas pelo sujeito (Cardona, 2013).

Para Wanderlei (2001), o fenômeno da exclusão social, é composto por várias trajetórias onde a desvinculação está presente, sendo que essas trajetórias passam por vários contextos como a fragilização dos vínculos sociais e familiares, causando rupturas que levam o indivíduo ao isolamento social, ocasionando a vinculação desses indivíduos junto a outros contextos sociais que apresentem a perspectiva de aprovação e inclusão a estes indivíduos. Neste contexto, Cardona (2013), observa que o uso de álcool e/ou outras drogas é estimulado pela exclusão social, na medida em que a repressão policial é utilizada como recurso para o trabalho com o usuário.

Estima-se que 20% das pessoas com problemas relacionados ao uso abusivo de alcool e outras drogas, receberam tratamento em 2010. Também é estimado que a proporção de homens e mulheres em tratamento deve ser semelhante à proporção entre homens e mulheres em uso de drogas. Mas existem poucos estudos que analisem as diferenças de gênero, em relação ao acesso aos serviços de tratamento (UNODC, 2012).

Em países em desenvolvimento, os serviços de tratamento e cuidados para os usuários de drogas são limitados. Além disso, a existência de preconceitos decorrentes do estigma de ser usuário do sexo feminino, podem tornar mais difícil o acesso aos serviços de atenção e tratamento (UNODC, 2012).

Em 2008, o número médio de leitos para o tratamento de transtornos por uso de álcool e drogas em todo o mundo foi de 1,7 por 100 000 habitantes, enquanto que na Europa, este número foi 10,3 camas por 100.000 habitantes. No Brasil, ainda não estão relacionadas na tabela disponibilizada pela Organização Mundial de Saúde, as informações sobre o numero de leitos existentes para tratamento (OMS, 2012).

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tratamento na modalidade de terapia familiar, enquanto que entre as instituições não governamentais, 44,1 % oferecem esse tipo de tratamento. Além disso, no âmbito das instituições governamentais a importância da participação da família no tratamento está prevista em 88,2%, enquanto que 93,9 das instituições não governamentais prevêem esta participação no tratamento (Brasil, 2007b).

As instituições que compõem a rede de serviços de atenção ao usuário de álcool e/ou outras drogas, sejam governamentais ou não governamentais, fazem parte de um cadastro único que foi mapeado pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD em parceria com a Universidade de Brasília – UnB, com o apoio do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e da Comissão Interamericana do Controle de Abuso de Drogas, da Organização dos Estados Americanos (CICAD/OEA). Na ocasião existiam 695 instituições governamentais e não governamentais cadastradas pela SENAD/MJ, sendo que 38,5% foram classificadas pelos dirigentes destas como Comunidades Terapêuticas (Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas [OBID], 2007).

O Distrito Federal possui 13 instituições que se classificam como Comunidades Terapêuticas (Governo do Distrito Federal - GDF, 2013). De modo geral, a pessoa que busca tratamento na modalidade de comunidade terapêutica, já fracassou em muitas outras modalidades de tratamento e está em uma fase em que acredita e espera alcançar estabilidade na abstinência (Fracasso & Landre, 2012).

A respeito da inserção das mulheres nos serviços de tratamento, no Distrito Federal em 2013 existiam apenas 03 instituições não governamentais específicas para o atendimento de mulheres. Quanto às instituições governamentais, que eram restritas a CAPS-ad II, todas eram mistas, atendendo homens e mulheres (GDF, 2013).

Meu interesse por este tema nasceu a partir do trabalho social que desenvolvo, desde 1994, junto a famílias de baixa renda, na cidade satélite de Santa Maria-DF, quando, ao longo desses anos tenho tido a oportunidade de acompanhar várias famílias, em especial aquelas onde se encontram pessoas com problemas relacionados ao uso abusivo de álcool e/ou outras drogas.

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tenho tido a oportunidade de acompanhar vários casos de mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas, juntamente com suas famílias.

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2 OBJETIVOS DA PESQUISA

2.1 GERAL

Compreender a trajetória de mulheres adultas usuárias de álcool e/ou outras drogas e suas famílias, na busca por serviços de atenção e tratamento públicos e/ou privados, no Distrito Federal, até chegar à Comunidade Terapêutica.

2.2 ESPECÍFICOS

Conhecer a trajetória de uso de álcool e/ou outras drogas de mulheres internadas para tratamento em comunidade terapêutica, assim como a percepção de sua família acerca desse uso.

Identificar em quais serviços de atenção e tratamento, existentes na rede de saúde, pública e/ou privada, no Distrito Federal, a mulher usuária de álcool e/ou outras drogas e sua família, já foi atendida até chegar à Comunidade Terapêutica.

Identificar a que outros serviços, além daqueles de atenção à saúde, tais como: assistência social, educação, trabalho, segurança, etc., existentes na rede pública e/ou privada, a mulher usuária de álcool e/ou outras drogas e sua família, teve acesso. Conhecer os resultados atribuídos pela mulher usuária de álcool e/ou outras drogas e sua família, aos serviços de atenção e tratamento, existentes na rede de saúde, pública e/ou privada, no Distrito Federal, que freqüentaram.

Conhecer as expectativas de mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas, e suas famílias com relação ao tratamento realizado na modalidade de Comunidade Terapêutica.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

3.1. A MULHER USUÁRIA DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS

3.1.1 Ser mulher

De acordo com Farah (2004), nos últimos anos, a ampliação identificada na formulação de políticas públicas tem sido permeada pela inclusão de novos temas, dentre os quais está a questão de gênero. Para esta autora, o conceito de gênero, ao ser incorporado pelo movimento feminista na década de 70, vem sendo interpretado de maneiras distintas pelas diferentes correntes do feminismo. Ao enfatizar as relações sociais entre os sexos, este conceito oportuniza a caracterização de desigualdades entre homens e mulheres. Baseando-se nos pressupostos do feminismo da igualdade, o conceito de gênero afirma que as únicas diferenças entre homens e mulheres são biológicas e sexuais, sendo que as demais diferenças, passiveis de serem observadas, dizem respeito aos aspectos culturais, oriundos da relação de opressão.

A palavra gênero, quando utilizada em discussões sobre igualdade e/ou diferença entre homes e mulheres, vai além dos aspectos abordados, sejam eles relativos à igualdade ou a diferenças, uma vez que atinge aspecto mais amplo do tema, oportunizando a compreensão acerca do “ser homem” e do “ser mulher”, os quais estão inseridos em contexto social, histórico, econômico e cultural. O desenvolvimento de um conceito de gênero, remete a uma categoria social, uma vez que diz respeito as relações sociais onde estão presentes o poder – por parte dos homens - e a subordinação, por parte das mulheres (Leal, 2009).

Esse pensamento, vai ao encontro do pensamento de Engels (2009, p. 66):

“ uma das idéias mais absurdas transmitidas pela filosofia do século XVII é a de que, nos inícios da sociedade, a mulher teria sido escrava do homem. Entre todos os selvagens e em todas as tribos que se encontram-nas fases inferiores, média e até em parte da superior de barbárie, a mulher não só é livre, mas também muito considerada”.

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sido revestido de algumas formas mais suaves, tem recebido alguns retoques visando dissimulá-lo, mas ainda não foi eliminado.

Movida pela questão dos tempos sociais femininos, no contexto da mediação das relações de poder de gênero, Duque-Arrazola (2008), realizou estudo com o objetivo de identificar a condição do sujeito feminino nos programas de assistência social, enfocada a partir da divisão social e sexual do trabalho. Neste trabalho, a autora registra que nos países de capitalismo avançado, onde se observam profundas transformações na organização da produção e do trabalho, para as mulheres, ainda predominam os contratos de trabalho temporários, terceirizados e informais, sem garantia de direitos trabalhistas. Essas relações de serviço, marcam o dia-a-dia das mulheres, as quais estão na constante condição de entrega, doação e disponibilidade para com o outro.

Para Pinheiro (2006), apesar de observar algum avanço político e social que, de certa forma altera o curso da visão acerca da mulher e das relações de gênero, ainda é notória a ocorrência de referências e atitudes que colocam a mulher numa situação desconfortável e subordinada. Isso pode ser constatado a partir de expressões populares como: “ ‘mulher é para cuidar dos filhos, do marido e da casa'; 'a mulher não precisa estudar muito'; 'mulher só para pilotar fogão'; 'mulher tem que ficar em casa'; 'só podia ser uma mulher’ ” (Pinheiro, 2006 - p 37). Dessa forma, na medida em que se reforça a subordinação feminina delegando às mulheres papéis específicos que são caracterizados por fragilidade, meiguice, vulnerabilidade, incapacidade, vem à tona a desigualdade em relação ao homem.

Para Diniz (2011) as relações entre homens e mulheres, assim como as relações dos homens e das mulheres entre si, são organizadas em função das regras estabelecidas a partir da construção sócio-histórico-cultural do ser. Nesse contexto, a autora observa que o assujeitamento das mulheres às necessidades dos homens produzida pela estrutura patriarcal da sociedade acarretam para as mulheres a perda da sua autonomia. Sem autonomia as mulheres passam a servir e obedecer aos homens e à família.

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demanda dos movimentos sociais no Brasil, nos quais a mulher tem exercido papel relevante, está centrada na saúde da mulher (Farah, 2004).

Levando em consideração as atuais alterações nas dinâmicas de gênero e papeis sexuais decorrentes do movimento feminista, a compreensão das causas, assim como dos dados epidemiológicos relacionados ao alcoolismo feminino, é objeto de estudos e ainda está sendo construída. Ainda são poucas as pesquisas envolvendo somente mulheres, entretanto, quando se trata do alcoolismo feminino, há que se considerar alguns aspectos culturais como o menor padrão de consumo e a marginalização vivenciada tanto na família como na sociedade e nos serviços de saúde (Mendes, Cunha & Nogueira, 2011).

3.1.2 Ser usuária de álcool e/ou outras drogas

A mulher usuária de álcool e/ou outras drogas, assim como qualquer outra pessoa, é produto de uma história complexa que diz respeito a sua existência singular, isto é, ao seu desenvolvimento psíquico consolidado dentro de uma dinâmica familiar, e à sua existência social. Dessa forma, de acordo com Payá (2010) as influências culturais, exercem impacto sobre os padrões de uso e abuso de substâncias tanto em homens quanto em mulheres, sendo que fatores sociais que poderiam proteger a mulher no contexto da iniciação no uso de substâncias estão sendo enfraquecidos a cada dia.

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Em se tratando de contingente de pessoas passíveis de tornarem-se objeto de intervenções sociológicas, não podemos deixar de considerar que em determinados lugares sociais, os direitos mais básicos ainda não foram conquistados, o que remete essas populações para localizar suas preocupações na luta pela sobrevivência, em especial por tratar-se de indivíduos submetidos a processos de estigmatização, segregação e/ou rejeição social, fato que dificulta a construção de uma identidade social que seja aceita e reconhecida pela sociedade (Takeuti, 2009).

Acolhendo a idéia de Takeuti (2009) no sentido de que cada vez mais surgem diferentes formas de manifestação do desejo de construção de novos significados em diversos segmentos sociais, nos quais é possível identificar populações com déficits no que tange aos seus direitos fundamentais, é que me atrevo a abordar para fins de estudo e compreensão, temas sociais como as políticas públicas e os serviços de atenção voltados para o tratamento do uso abusivo de álcool e/ou outras drogas por mulheres.

Para Pereira (2012), por tratar-se de substância de abuso que a maioria dos adultos já experimentou, além de ser usado periodicamente durante a vida dessas pessoas, os dados de comparação acerca das taxas de uso de álcool na vida em diferentes faixas etárias e sexo, não são esclarecedores. Entretanto, a autora afirma que o uso de álcool por mulheres ocorre como forma destas se livrarem dos sintomas associados a quadros de depressão, além do fato de que mulheres usuárias de álcool tentam suicídio quatro vezes mais que aquelas que não fazem uso da substância.

O início do uso do álcool por mulheres, pode ocorrer em idades variáveis e em circunstâncias diversas, sendo que as motivações para esse início são, entre outras: família, amigos, pressão do grupo social, violência doméstica, fuga dos problemas, prazer, etc. além do fato de que as pessoas fazem uso de bebidas alcoólicas para vários fins, em especial nas celebrações como: nascimentos, casamentos, bodas, ritos de passagem (Assis & Castro, 2010).

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ingestão de álcool e/ou outras drogas são exemplos dessa fragilidade feminina. O uso abusivo de bebidas alcoólicas é uma doença crônica; influenciada por fatores genéticos, psicossociais e ambientais, que apresenta uma progressão mais rápida nas mulheres (Elbreder, Laranjeira, Siqueira, & Barbosa, (2008).

As diferenças de gênero em fontes de referência de tratamento têm sido documentadas, destacando a diferença entre as vias pelas quais mulheres e os homens entram em tratamento para o uso abusivo de substância. Por exemplo, significativamente mais homens que mulheres são encaminhados para tratamento através do sistema de justiça criminal (40% de homens versus 28% de mulheres). Aproximadamente duas vezes mais mulheres do que homens (15% de mulheres contra 6% de homens) são referenciadas de outras agências comunitárias: tais como bem-estar, saúde mental, e outros prestadores de cuidados de saúde (Greenfield, Back, Lawson, & Brady, 2010).

Estudo exploratório de abordagem qualitativa realizado no Centro de Atenção psicossocial – CAPS-Ad em Teresina – PI, com o objetivo de analisar o motivo de mulheres para o primeiro contato com álcool e/ou outras drogas revelou a maconha, o álcool e o crack como sendo as substâncias de primeiro contato e a idade de maior prevalência para o uso das substâncias ocorreu partir dos 19 anos. Dentre os motivos para o primeiro contato, destacou-se o relato de problemas familiares, destacou-seguido por curiosidade e influência de amigos. No que tange às sensações após o uso, as mulheres relataram que tinham sensação boa e ruim ao mesmo tempo (Guimarães et al., 2014).

Pinheiro (2006), ao se referir ao alcoolismo feminino afirma que este deve ser visto como uma questão social que se encontra inserida numa sociedade extremamente contraditória e dinâmica, preconceituosa, machista e estigmatizante. Esses aspectos dificultam o reconhecimento tanto pela sociedade quanto pela mulher usuária, da enfermidade – alcoolismo – em virtude da dor, vergonha e medo, vivenciados por ela, os quais são oriundos de uma sociedade desigual e competitiva que tradicionalmente camufla e limita as potencialidades da figura feminina.

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como: mãe e dona de casa; c) no que tange aos danos emocionais, 76,2% referem-se a desânimo e tristeza, seguidos de irritação, sentimento de culpa e vergonha.

No que diz respeito ao perfil das dependentes químicas, Santos e Almeida (2013), após estudo realizado com 17 usuárias do CAPS-ad do município de Caçador/SC, no ano de 2010, relatam que entre as pesquisadas a maioria eram mulheres entre 25 e 44 anos, não completaram o ensino fundamental, eram casadas ou amasiadas. Quase todas tinham filhos, variando entre 4 a 1 filho, estavam desempregadas, não tinham renda fixa, estavam em tratamento a menos de um ano, faziam uso de álcool isolado ou associado a outras drogas, em algum momento pensaram em suicídio, tinham ou tiveram alguma doença ou seqüela em função do uso, usavam medicamento para auxiliar no tratamento, sendo que os motivos que as levaram ao uso está relacionado com pais e/ou companheiros usuários e com a depressão.

Estudo exploratório realizado com pacientes internados em programa de tratamento residencial, não encontrou diferenças demográficas significativas, entre homens e mulheres, com relação aos transtornos e/ou comorbidades psiquiátricas relacionadas ao uso de substâncias. Entretanto, foi observado que as mulheres eram mais propensas a ter problemas com outras drogas além do álcool, inclusive com a possibilidade de ter “overdose” de drogas, assim como foram identificados parentes maternos que também apresentavam problemas com o uso de álcool e/ou outras drogas. Além disso, o estudo identificou que as mulheres apresentavam maiores perturbações decorrentes de problemas sociais e familiares, necessitando de aconselhamento e tratamento psiquiátrico de maior intensidade (Zilberman, Tavares, Blume, & el-Guebaly, 2003)

Roig, Ajzemberg e Tissot (2001), por sua vez, apontam ainda que o preconceito social estigmatiza a mulher usuária de álcool e outras drogas, como sendo alguém amoral e promíscua, num estereótipo de alguém frágil e débil e com dificuldades sexuais.

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mais propensas a entrarem em tratamento, do que aquelas que não residiam com seus filhos. (Greenfield, Back, Lawson & Brady, 2010).

Entre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres na busca por tratamento estão o local, o acolhimento os profissionais que a recebem e a proposta de tratamento. Dessa forma diante do aumento do consumo de álcool pelas mulheres, há que se obter mais conhecimento acerca do universo feminino na disponibilização de serviços de atenção, sejam eles públicos ou privados (Assis & Castro, 2010).

O consumo de álcool e/ou outras drogas é um fenômeno universal e quase tão antigo quanto à própria humanidade. O uso ocasional de álcool é relatado mencionando datas de até 250 mil anos atrás e da mesma forma, o consumo de cânhamo remonta à Antiguidade. Desde 3000 a. C., derivados de opióides são utilizados e há pelo menos 5 mil anos, as folhas de coca têm sido utilizadas com diversas finalidades. Por outro lado, alguns autores já consideravam o alcoolismo como doença, desde metade do século XVIII. Dessa forma, Brasiliano e Hochgraf (2006), fazem uma reflexão, no sentido de que o consumo de álcool e outras álcool e/ou outras drogas em vários momentos da história da sociedade possivelmente não limitava-se ao sexo masculino.

Considerando que as mulheres usuárias de álcool e/ou outras drogas não são criaturas isoladas, é importante lembrar que essas mulheres possuem características peculiares e importantes e que devem ser observadas por aqueles que dedicarem seu olhar a elas. Suas trajetórias precisam ser compreendidas sob um olhar cuidadoso, que permita conhecer como percorrem o caminho até a comunidade terapêutica.

3.2 A FAMÍLIA DA MULHER USUÁRIA DE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS

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Quando a vida em família não permite a interiorização de regras e conceitos que fundamentam a identidade, o resultado serão indivíduos que devido a precariedade de sua constituição estarão mais vulneráveis ao desenvolvimento de um padrão de comportamento que dificulte a aceitação e assunção das regras sociais, assim como viver a realidade de forma que não acarrete impacto ao próprio desenvolvimento (Stempliuk & Bursztein, 1999).

De acordo com Miermont et al., (1994), o sintoma apresentado por pelo menos um dos membros da família, deve ser entendido como sendo um fenômeno relacional. Isto significa que, os problemas relacionados ao uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, estão situados na relação estabelecida entre a pessoa, o ambiente em que ela se encontra e as demais pessoas com as quais ela convive. Assim sendo, considerando o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas com um sintoma, este denuncia disfunção e/ou desequilíbrios no sistema familiar, os quais aparecem no momento em que a família encontra dificuldades no seu processo de desenvolvimento, ao longo do ciclo de vida familiar (Penso, 2003; Trindade & Bucher-Maluschke, 2008; Penso, Costa & Sudbrack, 2008).

Numa perspectiva sistêmica, o uso de drogas é compreendido como um “sintoma” que pode, além de desempenhar papel importante na regulação da dinâmica familiar, apresentar-se como “sinal de alerta” para denunciar a ocorrência de situações extremas que necessitam ser mudadas (Kalina, 1999; Penso, Costa & Sudbrack, 2008). As famílias de usuários de drogas caracterizam-se como sistemas fechados que limitam a evolução e autonomia da pessoa em tratamento, mantendo o estado de dependência entre os membros do grupo, que se expressa mediante padrões de interação inadequados entre esses (Moreira, 2004).

Isto significa que onde encontramos usuários de drogas, existem famílias ou grupo equivalente, nos quais estão presentes o fenômeno do uso de álcool e/ou outras drogas ou modelos de comportamento que indiquem a ocorrência desse fenômeno (Kalina, 1988). Para este autor, (p. 27), "a família, ou seus equivalentes, é co-geradora do fenômeno adictivo". A família do usuário abusivo de álcool e/ou outras drogas possui estrutura psicopatológica com características patogênicas. O autor registra ainda que, em sua experiência, o comportamento de uso abusivo pode surgir em determinados grupos familiares e em outros não, concluindo que existe um certo tipo de estrutura familiar que gera patologias, sendo que em alguns casos o modelo de recorrer ao uso de drogas para enfrentar problemas tem uma história com significados particulares e de intensidade diferenciada para cada família.

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diretamente as relações interpessoais, sendo que as conseqüências são observadas principalmente na família, tanto no que diz respeito à saúde de seus membros como na fragilização das relações familiares. Para as autoras as famílias são "co-autoras" tanto do surgimento do uso de álcool e/ou outras drogas, como da evolução desse uso,

Analisando o uso de drogas como um sintoma de toda a família, que caracteriza uma forma de lidar com os conflitos, Penso e Sudbrack (2004) observam que a função desse sintoma é trazer à luz, a informação de que o sistema familiar e social apresenta falhas que necessitam ser observadas, visando a promoção de mudanças no funcionamento dessa família. Além disso, as autoras consideram que o uso de drogas caracteriza uma tentativa inadequada e um membro da família buscar sua emancipação do sistema familiar.

O comportamento dependente pode ser observado quando familiares se dedicam excessivamente aos membros do grupo familiar com problemas relacionados ao uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, e é caracterizado pela atitude de suportar heroicamente os comportamentos problemáticos de seus entes queridos. Esses familiares, em geral vivem em função da pessoa problemática, transformando essa forma de cuidado na razão de suas vidas, uma vez que com isso sentem-se úteis. Em geral são pessoas que têm baixa auto-estima, intenso sentimento de culpa e não conseguem se desvencilhar da pessoa dependente (Zampieri, 2004; Ballone, 2008).

Minuchin (2009), a partir de encontros terapêuticos realizados com uma família em uma instituição para dependentes de drogas na Flórida - Estados Unidos, onde atuava como consultor, observa que seu primeiro desafio foi mudar a percepção dos pais no sentido de que a dependência química é um problema individual que deve ser tratado individualmente. Nesse momento tem início um debate oral acerca do processo terapêutico, no qual o autor insiste em considerar a família como um sistema social onde as pessoas afetam umas às outras, e os membros da família respondem com uma narrativa das dinâmicas intrapsíquicas dos filhos.

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vulnerabilidade dessa população, acarretando a necessidade de atenção e cuidados específicos (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (INPAD, 2013).

Ribeiro, Galli e Amorim (2006), em pesquisa realizada com o objetivo de conhecer as condições em que a terapia conjugal e familiar é desenvolvida em Brasília, apontam que dentre as queixas apresentadas pelas famílias, o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas encontra-se entre os problemas mais freqüentes.

Tomando como base o modelo familiar do dependente químico do sexo masculino desenvolvido por Eduardo Kalina os pesquisadores Roig, Ajzemberg e Tissot (2001), efetuando algumas modificações descreveram um modelo que se ajustasse as características das famílias das mulheres. Os autores apontam semelhanças entre as características da estrutura familiar masculina e a estrutura familiar de mulheres usuárias de álcool e outras drogas, entre outros, fatores como: 1) os filhos são as drogas de cada um dos pais - co-dependentes; 2) o álcool ou as drogas funciona como anestésico, diluindo a função do superego; 3) ocorre um funcionamento imediatista pela falta da introjeção conceitual do

“não”; 4) o pai está ausente de forma perversa; 5) a mãe é descartada ou se descarta a si mesma, 6) ocorre dificuldade para lidar com a posição depressiva. Por outro lado, a droga exerce a função de aplacar a culpa no que tange aos impulsos de agressividade em relação á mãe, além de caracterizar uma realização autodestrutiva.

Penso e Sudbrack (2004) ao estudar a função do uso de drogas na regulação do equilíbrio relacional das famílias de adolescentes do sexo masculino, afirmam que no contexto do uso de drogas, os usuários encontram importantes oportunidades ou alternativas de vinculação. Para as autoras, é necessário ampliar o conceito de dependência química para incluir aquelas pessoas da família que durante o tratamento acompanharam os usuários, tendo em vista a importância da manutenção do dependente para algumas organizações familiares. Este raciocínio pode ser ampliado para o caso das mulheres usuárias de álcool e outras drogas e suas famílias.

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3.3 POLÍTICAS PÚBLICAS SOBRE ÁLCOOL E/OU OUTRAS DROGAS

O Brasil é signatário das principais convenções internacionais sobre drogas. Pesquisa realizada por Chagas e Ventura (2010) apontou que até aquela data, existiam 25 acordos internacionais bilaterais em vigor e 13 projetos com cooperação internacional. Ao longo do tempo o Brasil vem mudando a sua abordagem do fenômeno das drogas, passando para uma posição mais equilibrada entre segurança e saúde.

A referência mundial para o estabelecimento de políticas públicas na área da saúde e assistência, criação de ambientes propícios, fortalecimento de ação comunitária, desenvolvimento de habilidades pessoais e reorientação de serviços sanitários, é a Carta de Ottawa (1986). Este documento define a promoção da saúde como sendo o processo de empoderamento da comunidade para atuar não só na melhoria de sua qualidade de vida como também no controle social desse processo (Tinoco, Leite & Baldini, 2009).

No Brasil, o tema da saúde foi referenciado na Constituição de 1988, que em seu Art. 196 estabeleceu a saúde como Direito de todos e dever do Estado”, estabelecendo as bases conceituais e organizacionais do Sistema Único de Saúde – SUS (Tinoco, et al., 2009). Nesse contexto as necessidades individuais e coletivas passaram a ser consideradas de interesse público e o atendimento a essas necessidades um dever do Estado; a assistência médico-sanitária integral passou a ter caráter universal e destinando-se a assegurar a todos, o acesso aos serviços (Brasil, 2012a).

Para dar forma ao dispositivo constituicional estabelecido no Art. 196, foi criado, por intermédio da Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, o Sistema Único de Saúde – SUS, que tem por finalidade, regular, em todo o território nacional, as ações e serviços de saúde, executados isolada ou conjuntamente, em caráter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurídicas de direito público ou privado, visando a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes (Brasil, 1990).

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O Brasil vem empreendendo ações no sentido de estabelecer regulamentação e mecanismos de controle, acompanhamento, orientação, supervisão, no âmbito de políticas públicas relacionadas ao uso de álcool e/ou outras drogas, há muitos anos. Em 20 de dezembro de 1993, foi publicada a Lei nº 8.764, que criou a Secretaria Nacional de Entorpecentes e dá outras providências e posteriormente, com edição da Medida Provisória nº 1.689, de 29 de junho de 1998 que criou a Secretaria Nacional Antidrogas (Brasil, 2013). Com a criação da Secretaria Nacional Antidrogas – SENAD, o Brasil alinhou-se à luta global de combate às drogas (Chagas & Ventura, 2010).

Após a criação da Secretaria Nacional Antidrogas, foram estabelecidos ainda outros instrumentos visando fortalecer a Política sobre Drogas no país, assim como aregulamentação de dispositivos legais de maior abrangência, quais sejam:

Lei nº 9.294, de 15 de julho de 1996 - legislava sobre as restrições ao uso e à propaganda de bebidas alcoólicas, medicamentos, entre outros, sendo alterada pela Lei nº 11.705 de 19 de junho de 2008 (Brasil, 2010a);

Decreto nº 3.696, de 21 de dezembro de 2000 – Dispõe sobre o Sistema Nacional Antidroga, sendo revogado pelo Decreto 5.912 de 27 de setembro de 2006 (Brasil, 2010a);

Lei nº 10.409, de 11 de janeiro de 2002 - Dispõe sobre a Prevenção, o Tratamento, a Fiscalização, o Controle e a Repressão à produção, ao uso e Tráfico Ilícito de Produtos, Substâncias ou Drogas ilícitas que causem dependência física ou psíquica assim elencados pelo Ministério da Saúde, e dá outras providências; Revogada pela Lei nº 11.343/2006 (Brasil, 2010a);

Resolução nº 01 e nº 02, de 06 de outubro de 2003 do Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas - CONAD - Estabelece orientações estratégicas e diretrizes para o Sistema Nacional Antidrogas e estabelece orientações sobre a organização interna do Conselho Nacional Antidrogas (Brasil, 2003);

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personagem diferente do traficante, esta lei oportuniza espaço para discutir novas possibilidades de atendimento a essa população (Brasil, 2006);

Decreto nº 5.912, de 27 de setembro de 2006 - Regulamenta a Lei nº. 11.343, de 23 de agosto de 2006, que trata das políticas públicas sobre drogas e da instituição do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - SISNAD, e dá outras providências (Brasil, 2010a);

Decreto nº 6.117, de 22 de maio de 2007 - Aprova a Política Nacional sobre o Álcool, dispõe sobre as medidas para redução do uso indevido de álcool e sua associação com a violência e criminalidade, e dá outras providências (Brasil, 2010a);

Medida Provisória nº 415, de 21 de janeiro de 2008 - Proíbe a comercialização de bebidas alcoólicas em rodovias federais e acresce dispositivo à Lei no 9.503, de 23 de setembro de 1997 - Código de Trânsito Brasileiro; convertida na Lei nº 11.705/2008 (Brasil, 2010b);

Lei nº 11.754, de 23 de Julho de 2008 - Acresce, altera e revoga dispositivos da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, cria a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, cria cargos em comissão; revoga dispositivos das Leis nº 10.869, de 13 de maio de 2004, e nº 11.204, de 5 de dezembro de 2005; e dá outras providências. Vale observar que esta foi a Lei que alterou para Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, o nome da SENAD, que até então, em decorrência da Lei nº 10.683 de 28/5/2003, era identificada como Secretaria Nacional Antidroga (Brasil, 2008a);

Decreto nº 7.179, de 20 de maio de 2010 - Institui o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, cria o seu Comitê Gestor, e dá outras providências (Brasil, 2010c).

Além dos dispositivos estabelecidos visando de modo geral a regulamentação e criação de mecanismos de controle, acompanhamento, orientação e supervisão, no âmbito de políticas públicas relacionadas ao uso de álcool e/ou outras drogas, foram publicadas portarias específicas no que diz respeito à saúde, quais sejam:

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Portaria GM/MS nº 336 de 19 de fevereiro de 2002, que disciplina o funcionamento dos Centros de Atenção Psicossocial - CAPS, ao estabelecer que os Centros de Atenção Psicossocial poderão constituir-se nas seguintes modalidades de serviços: CAPS I, CAPS II e CAPS III, definidos por ordem crescente de porte/complexidade e abrangência populacional (Brasil, 2002b);

Portaria nº 2.197/GM de 14 de outubro de 2004, que redefiniu e ampliou a atenção integral para usuários de álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS. Com esta Portaria, foi ampliada para os usuários abusivos de álcool e/ou outras drogas as possibilidades de acesso aos serviços de atenção , estabelecendo que o Programa de Atenção Integral a Usuários de Álcool e outras Drogas tenha como seus principais componentes, a atenção básica; a atenção nos CAPS-AD, ambulatórios e outras unidades extra-hospitalares especializadas; a atenção hospitalar de referência; e a rede de suporte social (associações de ajuda mútua e entidades da sociedade civil), complementar à rede de serviços disponibilizados pelo SUS. Esta ampliação vem ao encontro das determinações da Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001; das recomendações da Portaria nº 816/GM, de 30 de abril de 2002; da prioridade estabelecida pela Política de Atenção Integral ao usuário, no sentido de que as ações de caráter terapêutico, preventivo, educativo e reabilitador, direcionadas a pessoas que fazem uso de álcool e outras drogas (e seus familiares) sejam realizadas na comunidade; assim como vem ao encontro da Política Nacional de Humanização do SUS, que preconiza a ampliação da atenção integral à saúde, assim como que o SUS ofereça respostas articuladas e integrais, nos diferentes níveis de complexidade e de acordo com a demanda apresentada pelos seus usuários. (Brasil, 2004a).

Vale ressaltar que a Lei 10.216 de abril de 2001 que trata dos direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona, a nível nacional, o modelo assistencial em saúde mental, também já menciona a questão das pessoas usuárias de álcool e/ou outras drogas (Brasil, 2001).

Dando seqüência no processo de humanização e fortalecimento das ações direcionadas aos usuários de álcool e/ou outras drogas, o Ministério da Saúde, considerando a necessidade da oferta de suporte hospitalar estratégico para a rede de atenção psicossocial, no que tange a situações de urgência decorrentes do uso de álcool e de outras drogas, por intermédio da

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Atenção Integral aos Usuários de Álcool e outras Drogas - SHR-ad. Com o advento desta Portaria, a expectativa foi de disponibilizar aos usuários de álcool e/ou outras drogas, acesso a rede hospitalar de retaguarda e a rede de atenção integral; suporte à demanda assistencial caracterizada por situações de urgência/emergência; suporte hospitalar, por meio de internações de curta duração; abordagem, suporte e encaminhamento adequado aos usuários que, mediante avaliação geral, evidenciarem indicativos de ocorrência de comorbidades de ordem clínica e/ou psíquica; e evitar a internação de usuários de álcool e outras drogas em hospitais psiquiátricos (Brasil, 2005).

Em 2011, o Ministério da Saúde, diante das recomendações contidas no Relatório Final da IV Conferência Nacional de Saúde Mental Intersetorial, realizada em 2010; considerando a necessidade de oferecer uma rede de serviços de saúde mental integrada, articulada e efetiva nos diferentes pontos de atenção para atender as pessoas com demandas decorrentes do consumo de álcool, crack e outras drogas; e considerando ainda a necessidade de ampliar e diversificar os serviços do SUS para a atenção às pessoas com necessidades decorrentes do consumo de álcool, crack e outras drogas e suas famílias, institui, por intermédio da Portaria GM/MS nº 3.088 de 23 de dezembro de 2011, a Rede de Atenção Psicossocial - RAPS, cuja finalidade é a criação, ampliação e articulação de pontos de atenção à saúde para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).

Esta portaria, estabelece as seguintes diretrizes:

"I - respeito aos direitos humanos, garantindo a autonomia e a liberdade das pessoas; II - promoção da equidade, reconhecendo os determinantes sociais da saúde; III - combate a estigmas e preconceitos; IV - garantia do acesso e da qualidade dos serviços, ofertando cuidado integral e assistência multiprofissional, sob a lógica interdisciplinar; V - atenção humanizada e centrada nas necessidades das pessoas; VI - diversificação das estratégias de cuidado; VII - desenvolvimento de atividades no território, que favoreça a inclusão social com vistas à promoção de autonomia e ao exercício da cidadania; VIII - desenvolvimento de estratégias de Redução de Danos; IX - ênfase em serviços de base territorial e comunitária, com participação e controle social dos usuários e de seus familiares; X - organização dos serviços em rede de atenção à saúde regionalizada, com estabelecimento de ações intersetoriais para garantir a integralidade do cuidado; XI - promoção de estratégias de educação permanente; e XII - desenvolvimento da lógica do cuidado para pessoas com transtornos mentais e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, tendo como eixo central a construção do projeto terapêutico singular" (Brasil, 2011a).

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previsto para integrar a Rede de Atenção psicossocial instituída pela Portaria nº 3.088/2011 já mencionada (Brasil, 2012a).

No âmbito do Distrito Federal a Política Distrital sobre Drogas, fundamenta-se na Política Nacional sobre Drogas, na Política Nacional sobre o Álcool e nas resoluções aprovadas pelo Conselho de Política sobre Drogas do Distrito Federal. Neste contexto, um dos objetivos da mencionada política é garantir a implantação, efetivação e melhoria dos programas, ações e atividades de redução da demanda por drogas, nas áreas de prevenção, tratamento e reinserção social, respeitando-se a individualidade e a dignidade da pessoa humana. Além disso, encontra-se entre as diretrizes da Política Distrital sobre Drogas, nas Áreas de Tratamento, Recuperação e Reinserção Social dos usuários ou dependentes de álcool e ou outras drogas, a expectativa de que o Estado: 1) promova a atenção e o acompanhamento dos usuários de álcool ou outras drogas, extensivo aos seus familiares, após sua alta, por uma equipe multidisciplinar, preferencialmente na sua região administrativa de origem, por no mínimo dois anos; 2) defina políticas de fiscalização do cumprimento dos protocolos de tratamento ao usuário de álcool ou outras drogas na rede de assistência do Sistema Único de Saúde – SUS; 3) fortaleça o atendimento dos serviços hospitalares de desintoxicação nos hospitais gerais; 4) fortaleça o atendimento social ao usuário de álcool ou outras drogas, especialmente daqueles em situação de maior vulnerabilidade social e em condição de reintegração familiar; 4) garanta adequado atendimento e acesso ao tratamento a todo cidadão, sem distinção de crença, orientação sexual, raça, idade ou condição de saúde (GDF, 2010).

Por intermédio do Decreto Distrital nº 32.901 de 03 de maio de 2011, foi instituído, no âmbito do Distrito Federal, o Comitê de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, com vistas à prevenção do uso, ao tratamento e à reinserção social de usuários de crack e outras drogas. O referido Decreto estabeleceu que as ações de enfrentamento ao crack e outras drogas tem como fundamento a integração e a articulação permanente entre as políticas e ações de saúde, assistência social, segurança pública, educação, direitos humanos, juventude, criança, justiça, entre outras, em consonância com os pressupostos, diretrizes e objetivos da Política Nacional sobre Drogas, da Política Nacional sobre o Álcool e da Política Distrital sobre Drogas (GDF, 2011a)

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adolescentes e população em situação de rua. Além disso, o decreto estabelece que é de competência deste Comitê, acompanhar e avaliar a implantação do Plano Distrital de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas (GDF, 2011a).

No Distrito Federal o Plano Distrital de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, instituído pelo Decreto nº 33.164 de 31 de agosto de 2011 propõe a integração e a articulação permanente entre as políticas e ações de saúde, assistência social, segurança pública, educação, desporto, cultura, direitos humanos, juventude, entre outras, em consonância com os pressupostos, diretrizes e objetivos da Política Distrital sobre Drogas. Além disso, dentre as ações a serem desenvolvidas no âmbito do DF, está a previsão de implantação do Projeto Lua Nova para atenção às mulheres grávidas ou às mães usuárias de crack e outras drogas (GDF, 2011b).

A legislação avançou muito no que diz respeito a forma de compreender e tratar o usuário de álcool e/ou outras drogas, no entanto, de acordo com a Organização dos Estados Americanos - OEA, apesar das leis, políticas e decretos visando oferecer um tratamento humanizado e digno aos usuários de álcool e/ou outras drogas, em geral, aqueles que consomem tais substâncias são portadores de uma característica que os condena e os fazem não merecedores de políticas estatais que lhes contemplem com uma melhora em sua qualidade de vida, por se pensar que estes apresentam “tendências autodestrutivas”, “cometem atos suicidas”, ou adotam “comportamento promíscuo”. É importante modificar este pressuposto para entender que a questão está em descobrir a relação do sujeito com as drogas, sua posição frente a elas e sua posição diante dos riscos associados ao uso, em relação a vida e a morte (Organização dos Estados Americanos [OEA], 2012)

Diante do exposto, observa-se que o usuário de álcool e/ou outras drogas apresentam-se com a necessidade de apresentam-serem auxiliados no apresentam-sentido de terem acesso a unidades públicas de apoio que oportunizem a essa população, atenção e atendimento que efetivamente seja integral. Para tanto, é imperioso que as estratégias, diretrizes, recomendações, orientação, e ações estabelecidas em cada um dos dispositivos legais publicados pelo Estado, estejam sintonizadas e articuladas entre si.

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apresentadas, bem como foi enfatizado o baixo limiar de acesso a programas de recuperação com base na abstinência, ressaltando que a abstinência nunca deve ser uma barreira para a entrada em programas de recuperação. Além disso, na perspectiva dessas mulheres, entre os componentes principais de um programa de recuperação devem estar incluídos os seguintes aspectos: normalização/estrutura, segurança e conexão social.

3.4 MODELOS DE TRATAMENTO PARA O USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS

São poucos os países que adotam políticas eficazes para evitar morte, doenças e ferimentos causados por uso de álcool e outras drogas. A partir de 1999, quando a OMS começou a informar sobre políticas de álcool, pelo menos 34 países adotaram algum tipo de política formal para reduzir o uso nocivo do álcool, tais como restrições à comercialização de álcool e penalização pelo uso de álcool ao volante. No entanto, ainda não existem ações específicas no que tange a medidas preventivas que permitam reduzir o consumo de álcool e/ou outras drogas de modo geral (OMS, 2011).

As respostas sócio-sanitaristas para o consumo problemático de drogas podem ser agrupadas do seguinte modo: tratamento ambulatorial para abandonar o consumo; consultórios de rua, hospital dia, grupos semanais, grupos de auto-ajuda como NA e AA, unidades móveis de saúde, unidades residências – comunidades terapêuticas, e clínicas psiquiátricas. Os tratamentos podem incluir terapias comportamentais, medicamentos, ou a combinação destes, além de desintoxicação com ou sem internação, baseados na modificação de comportamentos e atitudes prejudiciais dos usuários com vistas à ressocialização do indivíduo (OEA, 2012).

De acordo com Holder (2010), na atualidade existem muitos órgãos públicos, agências e organizações, em vários países, que oferecem serviços e programas relacionados ao uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, sendo que o tratamento do abuso de substâncias é muitas vezes separado de outras ações sociais e de saúde. Entretanto, os programas de atenção ao uso abusivo de álcool e/ou outras drogas não são organizados de forma a proporcionar acompanhamento e avaliação clínica da saúde global dos beneficiários desses programas. Além disso, os esforços visando atividades de prevenção, são realizados separadamente das ações relacionadas com o tratamento.

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necessidades de uma pessoa, e não apenas o seu abuso de drogas. Isso que dizer que, o tratamento para ser abrangente, deve ter em conta idade, gênero, etnia e cultura, além da gravidade da dependência e os esforços anteriores de parar de usar drogas, que também podem influenciar no tratamento. Além disso, o NIDA ressalta que a combinação entre ambiente de tratamento, programa e serviços, específicos para o nivel de necessidade da pessoa é a chave para o seu sucesso no momento de voltar a uma vida produtiva (National Institute on Drug Abuse [NIDA], 2012)

Nesta mesma linha de raciocinio, para Kalina e Kovadloff (1988) o tratamento ao usuário abusivo de álcool e/ou outras drogas, deve estar ligado à transformação das estruturas do sistema social em que a pessoa está inserida e onde teve início o uso de drogas. Dessa forma, para tornar possível o tratamento dessa pessoa, assim como a apoiá-la no processo de mudança de comportamento em busca por uma vida sem o uso de álcool e/ou outras drogas, é necessário realizar-se um processo de mudança não apenas para o usuário, mas também no contexto no qual ele está inserido, eliminando, até onde seja possível, a possibilidade de proliferação do uso de drogas.

Para Colle (2001) a dificuldade em realizar tratamentos para o uso abusivo de álcool e/ou outras drogas, em instituições especializadas, é contemporânea ao surgimento da psiquiatria e da psicanálise. No entanto, psicoterapias clássicas recentes, sejam individuais ou familiares, ainda estão distantes dos resultados esperados, tendo em vista que o comportamento das pessoas usuárias abusivas de álcool e/ou outras drogas, após serem submetidas ao tratamento é descrito como imprevisível. Dessa forma, o autor esclarece que para uma pessoa gravemente intoxicada, deve-se tentar desde o início do tratamento controlar o consumo excessivo de drogas, ao tempo em que a pessoa em tratamento deve aceitar a presença constante de profissional especializado em seu domicilio, ou ser internado em casa de saúde ou hospital especializado.

Eslabão et al. (2013), por sua vez, afirmam que nos serviços de atenção a usuárias de álcool e outras drogas, o processo de reabilitação psicossocial deve estar voltado para o restabelecimento da subjetividade do sujeito, possibilitando trocas sociais que promoverão melhores resultados em seu tratamento e por conseqüência em suas relações familiares e sociais.

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CAPS, Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas – CAPS-AD, Comunidades Terapêuticas, Grupos de Auto-ajuda e Ajuda Mútua, Hospitais Gerais e Psiquiátricos, Hospital-dia, Serviços de Emergências, Corpo de Bombeiros, Clínicas Especializadas, Casas de Apoio e Convivência e Moradias assistidas (Brasil, 2011b).

Por tratar-se de assunto relativamente novo, uma vez que até meados do século XX ao utilizar o termo “dependência”, os profissionais estavam se referindo às complicações clínicas e não ao comportamento decorrente do uso de álcool e/ou outras drogas, e considerando que o conceito de dependência deixou de estar relacionado ao desvio de caráter ou a sintomas que possibilitassem a caracterização de transtorno mental somente a partir da segunda metade do século, Ribeiro (2004) observa que a organização de serviços para tratamento de dependentes químicos se apresenta como uma atividade que, por envolver grande número de variáveis, é de grande complexidade.

Para Diehl, Cordeiro e Laranjeira, (2011) no que se refere ao tratamento da dependência química, no Brasil é possível observar uma expressiva carência de modelos específicos e mais eficientes de atendimento, sendo que nos últimos anos houve crescimento do interesse dos pesquisadores acerca do assunto, emanado da necessidade de estabelecer metodologias mais efetivas para o tratamento do usuário abusivo de álcool e/ou outras drogas. O tratamento da dependência de álcool e/ou outras drogas, tem recebido atenção da comunidade científica, com vista a atender a demanda existente. Para tanto, dentro da perspectiva da atenção básica, existe uma variedade de opções de modelos de tratamento, os quais diferem no que tange à abordagem utilizada e quanto á intensidade de atenção oferecida ao usuário do serviço. Neste contexto, é possível citar como opções, além do modelo de tratamento ambulatorial, os seguintes modelos: internação (para além da desintoxicação), internação-dia, residência terapêutica, serviços de intervenção em crise, tratamento farmacológico, e participação em grupos de mútua ajuda para usuários de álcool e/ou outras drogas e para seus familiares (Zanelatto, 2011).

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Figura 01: Rede de Atenção Psicossocial ao Usuário e à Família (Brasil, 2012b)

Referências

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