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Guanilho Mariana Mendes Perestrelo

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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

EGAS MONIZ

MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA DENTÁRIA

O ÓXIDO NÍTRICO E A DOENÇA PERIODONTAL

Trabalho submetido por

Mariana Mendes Perestrelo Guanilho

para a obtenção do grau de Mestre em Medicina Dentária

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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

EGAS MONIZ

MESTRADO INTEGRADO EM MEDICINA DENTÁRIA

O ÓXIDO NÍTRICO E A DOENÇA PERIODONTAL

Trabalho submetido por

Mariana Mendes Perestrelo Guanilho

para a obtenção do grau de Mestre em Medicina Dentária

Trabalho orientado por

Prof. Doutora Maria Gabriela Almeida

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Dedicatória

Aos meus pais,

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de expressar os meus sinceros agradecimentos à minha orientadora, Prof.

Doutora Maria Gabriela Almeida, pelo apoio na realização desta monografia e por me

ter dado a conhecer um tema que desconhecia e pelo qual desenvolvi interesse.

Ao corpo docente do Mestrado Integrado em Medicina Dentária, pela dedicação e

vontade de transmitir aos alunos os melhores conhecimentos, com rigor e excelência. A

toda a equipa de funcionários presente na faculdade, por nos proporcionarem um

ambiente relaxado e de convívio, que tanta falta faz durante o decorrer de um curso.

Aos meus amigos, que foram uma presença constante durante o meu percurso

académico; à Nádia, à Sofia e ao Pedro, por serem os melhores companheiros para a

vida. Especialmente, agradeço à Mariana, minha colega de box, que diariamente

partilhou comigo angústias e alegrias, o que permitiu aliviar a carga emocional deste

processo.

Ao João, por nunca duvidar das minhas capacidades, por ser uma presença assídua em

todas as vertentes da minha vida e por me convencer sempre de que eu seria capaz, ao

longo de todo o curso. Obrigada por todas as palavras, amor e carinho.

Por último, mas não menos importante, agradeço à minha família, que não duvidou de

mim por um segundo. Particularmente, agradeço aos meus enormes pais, Luís e Dulce,

que são a causa deste meu percurso. Sem eles, não teria sido possível a concretização

deste curso. Obrigada por desejarem sempre o melhor para mim, por acreditarem e

confiarem cegamente em mim e por terem seguido ao meu lado durante toda esta

viagem, com o carinho e preocupação que vos é característico.

(8)
(9)

1

RESUMO

A doença periodontal é uma das doenças do corpo humano com maior prevalência

a nível mundial e que, por apenas desenvolver sinais num estado mais avançado, é

considerada uma doença silenciosa. Dadas estas características, urge a necessidade de

entender e definir com clareza os intervenientes no desenvolvimento desta patologia. O

óxido nítrico é uma molécula que tem sido fortemente associada ao processo

fisiopatológico da doença periodontal e, por esse motivo, esta monografia centra-se na

compreensão dos mecanismos através dos quais esta molécula interfere no

desenvolvimento da doença.

Apesar de já se terem publicados vários trabalhos nesta temática, os mecanismos

pelos quais o óxido nítrico modula o progresso da doença periodontal e as condições em

que este se torna patológico ainda não estão claramente identificados e esclarecidos.

Como tal, é necessário aprofundar e realizar novos estudos com a perspectiva de se

conseguir, no futuro, implementar correcta e atempadamente medidas terapêuticas de

combate à doença. Por outro lado, importa investigar com clareza, a presença (ou não)

do óxido nítrico na doença periodontal, de modo a comprovar a hipótese de este ser um

biomarcador da mesma. Se se confirmar a associação do óxido nítrico à doença

periodontal, o desenvolvimento e aplicação de um teste rápido para detecção desta

molécula poderia facilitar o diagnóstico da doença periodontal e assim, evitar uma

progressão irreversível da mesma.

(10)
(11)

3

ABSTRACT

The periodontal disease is one of the most prevalent diseases of the human body

worldwide, being considered a silent disease that develops signs at a late stage only. As

so, there is an urgent need to better understanding the molecular mechanisms underlying

the disease onset and development. Nitric oxide is a molecule that has been strongly

associated to the patophysiological process of the periodontal disease. Therefore, the

aim of this monography is to describe the current state-of-the-art regarding the

mechanisms involving nitric oxide with/on the periodontal disease.

Despite many studies have been already published, the mechanisms by which

nitric oxide modulates the progression of periodontal disease and the conditions in

which it becomes pathological have not yet been clearly understood. Thus, new studies

on this topic should be performed in order to properly implement new therapies against

the disease. In addition, one should investigate the correlation between nitric oxide and

periodontal disease to prove its potential role as biomarker. In such a case, the

development of a point-of-care tests for nitric oxide would be very helpful for the

periodontal disease diagnosis, thereby avoiding its irreversible progression.

(12)
(13)

5

ÍNDICE GERAL

I. INTRODUÇÃO ... 15

II. DESENVOLVIMENTO ... 17

1. DOENÇA PERIODONTAL ... 17

1.1. Anatomia do Periodonto ... 17

1.2. Classificação da Doença Periodontal ... 20

1.3. Mecanismos da Doença Periodontal ... 22

2. ÓXIDO NÍTRICO ... 25

2.1. Características do Óxido Nítrico ... 25

2.2. Biossíntese do NO ... 26

2.2.1. Via L-Arginase – NO ... 26

2.2.2. Via Nitrato – Nitrito – Óxido Nítrico ... 27

2.3. Sintases do Óxido Nítrico - NOS ... 29

3. ÓXIDO NÍTRICO E DOENÇA PERIODONTAL ... 34

3.1. Formação de Agentes Oxidantes ... 35

3.2. Citotoxicidade do peroxinitrito ... 36

3.3. Modificação de proteínas – Nitração da tirosina ... 36

3.4. Peroxidação lipídica ... 37

3.5. Produção de metaloproteinases da matriz ... 38

3.6. Danos no ADN ... 39

3.7. Reabsorção Óssea ... 41

4. MEDIÇÃO DOS NÍVEIS DE ÓXIDO NÍTRICO ... 44

4.1. Medição de produtos do NO ... 44

4.2. Medição de iNOS ... 48

III. CONCLUSÃO ... 49

(14)
(15)

7

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Composição da gengiva e área de contacto entre esta e o esmalte (Adaptado

de Lindhe et al., 2003)……….……….……..18

Figura 2. Medição com sonda periodontal de sulco gengival em gengiva saudável

(Adaptado de Lindhe et al., 2003) ………...………...18

Figura 3. Orientação das fibras do ligamento periodontal (Adaptado de Lindhe et al.,

2003). ……….19

Figura 4. Corte seccional do osso alveolar da maxila que suporta as raízes dentárias

(indicadas pelas setas) (Adaptado de Lindhe et al., 2003) ………….……..20

Figura 5. Medição de bolsa periodontal com sonda periodontal graduada. (Adaptado de

Nyman & Lindhe, 2003)……….…21

Figura 6. Várias fases da doença periodontal (Traduzido e adaptado de Kinane et al.,

2017) ………. 22

Figura 7. Imagem da arcada inferior de paciente periodontal antes (A) e após (B)

destartarização (Adaptado de Nyman & Lindhe, 2003) …………..………..23

Figura 8. Formação de Óxido Nítrico a partir de L-arginina, numa reacção catalisada

pela NOS (Adaptado de Dusse et al., 2003) ………. 26

Figura 9. Ciclo do nitrato – nitrito – NO (Adaptado e traduzido de Lundberg et al.,

2009)………...28

Figura 10. Estrutura molecular da enzima NOS. (Traduzida e adaptada de Lorin et al.,

2013) ………..29

Figura 11. Isoformas da NOS (Adaptado de Dusse et al., 2003)……….30

Figura 12. NOS e as suas funções (Traduzido e adaptado de Förstermann & Sessa,

2012) ………..33

Figura 13. Estímulo da produção de prostaglandinas através da activação da COX-2

pelo NO (Traduzido e adaptado de Needleman & Manning, 1999) ….…….42

Figura 14. O peroxinitrito é sintetizado através da reacção entre o óxido nítrico e o

superóxido e activa a COX-2, que sintetiza PGE2 a partir do araquidonato

(16)
(17)

9

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1. Características de estudos que comparam os níveis de NO na doença

(18)
(19)

11

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E ACRÓNIMOS

8-oxo-dG– 8-Hidroxidesoxiguanosina

ADN – Ácido Desoxirribonucleico

ATP –Adenosina Trifosfato

BH4– Tetrahidrobiopterina

CaM– Calmodulina

COX-2 –Cicloxigenase-2

DesoxiHb –Desoxihemoglobina

eNOS – Sintase do Óxido Nítrico Endotelial, do inglês Endothelium Nitric Oxide

Synthase

FAD - Dinucleótido de Flavina e Adenina, do inglês Flavin Adenine Dinucleotide

FMN – Mononucleótido de Flavina, do inglês Flavin Mononucleotide

cGMP Monofosfato de Guanosina Cíclico, do inglês Cyclic Guanosine

Monophosphate

GSNO – S-nitrosoglutationa

HbFe3+ Metahemoglobina

HbFe3+–NO Hemoglobina Nitrosil Ferrosa

iNOS– Sintase do Óxido Nítrico Induzida, do inglês Induced Nitric Oxide Synthase

L-arg –L-Arginina

L-NA– NG-nitro-L-arginina

(20)

12

L-Name– NG-nitro-L-arginina-metil-éster

L-NIO– N-imino-etil-L-ornitina

L-NMMA– NG-monometil-L-arginina

LOO• – Radical Peroxil Lipídico

LOOH –Hidroperóxido Lipídico

MDA –Malondealdeído

MMP –Metaloproteinase da Matriz, do inglês Matrix Metalloproteinase

NAD+ Dinucleótido de Nicotinamida e Adenina Oxidado, do inglês Oxidized

Nicotinamide Adenine Dinucleotide

NADPH –Fosfato de Dinucleótido de Nicotinamida e Adenina Reduzido, do inglês

Reduced Nicotinamide Adenine Dinucleotide Phosphate

NFкB– Factor Nuclear кB, do inglês Nuclear Factor кB

nNOS– Sintase do Óxido Nítrico Neuronal, do inglês Neuronal Nitric Oxide Synthase

NOS– Sintase do Óxido Nítrico, do inglês Nitric Oxide Synthase

OxiHb– Oxihemoglobina

PARP– Poli(ADP-ribose) Polimerase

PGE2 – Prostaglandina E2

PMN –Neutrófilo Polimorfonuclear, do inglês Polimorphonuclear Neutrophil

RANK–Activador do Receptor do Factor Nuclear кB, do inglês Receptor Activator of

Nuclear Factor кB

RANKL–Activador do Receptor do Ligando do Factor Nuclear кB, do inglês Receptor

Activator of Nuclear Factor кB Ligand

(21)

13

ROS –Espécie Reactiva do Oxigénio, do inglês Reactive Oxygen Specie

SOD –Dismutase do Superóxido, do inglês Superoxide Dismutase

(22)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

(23)

Introdução

15

I. INTRODUÇÃO

A doença periodontal é uma doença progressiva e inflamatória associada à

destruição dos tecidos que suportam os dentes na cavidade oral, denominados por

periodonto (Nanci & Bosshardt, 2006; Antonini, Cancellier, Ferreira, Scaini & Streck,

2013).

Esta doença afecta mais de 50% da população com idade superior a 50 anos e

inicia-se com a presença de placa bacteriana junto à margem gengival. Existem duas

formas de expressão da doença periodontal: a gengivite e a periodontite. A presença de

bactérias desencadeia um processo inflamatório na gengiva, e, nesta fase, a doença é

denominada por gengivite. Quando a presença de placa bacteriana não é eliminada, a

doença progride e a inflamação atinge não só a gengiva como o resto dos tecidos que

circundam o dente, levando à destruição destes tecidos e à perda de inserção do dente

nos mesmos. Nesta fase, quando existe destruição tecidular, a doença é designada por

periodontite (Antonini et al., 2013; Larsen & Fiehn, 2017; Kinane, Stathopoulou &

Papapanou, 2017). Actualmente, distinguem-se duas formas de periodontite: crónica e

agressiva. A primeira decorre de modo lento, enquanto a segunda tem uma evolução

rápida (Antonini et al., 2013).

Esta patologia, apesar de ser despoletada apenas quando existe placa bacteriana,

é multifactorial e relaciona-se também com a qualidade imunitária do hospedeiro. Numa

fase inicial, ocorre uma inflamação em resposta à presença de bactérias, apesar de esta

ser totalmente reversível. Caso não se remova o estímulo bacteriano, a resposta

imunitária é excessiva, a inflamação persiste e existe perturbação da homeostase, o que

promove a evolução e agravamento da doença (Cekici, Kantarci, Hasturk & Van Dyke,

2014).

A doença periodontal não provoca dor quando é iniciada e pode nem vir a

provocar dor numa fase mais avançada, uma vez que as vias de sinalização nervosa

estão desreguladas. Por este motivo, o hospedeiro provavelmente não se aperceberá da

sua condição a menos que faça visitas regulares ao médico dentista que, clinicamente e

após breve análise, pode identificar a presença da doença. Visto que é uma das

patologias com maior prevalência a nível mundial, seria importante compreender

claramente os mecanismos adjacentes ao início e propagação da doença, bem como

existir um método de diagnóstico de uso fácil e prático que permitisse identificar

(24)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

16

inflamação tecidular até uma fase irreversível (Kim, Kim & Camargo, 2013; Hasturk &

Kantarci, 2015).

O óxido nítrico (NO) está associado ao desenvolvimento da doença periodontal,

pois a sua concentração aumenta devido ao processo inflamatório que decorre durante a

evolução da patologia. Se por um lado, o óxido nítrico tem uma função de defesa contra

os microrganismos periodontais, por outro lado, tem também um papel na destruição

dos tecidos quando em quantidades excessivas, levando a um descontrolo e aumento da

gravidade da doença (Borkar, Buthada & Pandagale, 2016).

O óxido nítrico é uma molécula com múltiplas funções de extrema importância

no corpo humano, onde se encontra em pequenas concentrações. Além da actividade

citotóxica contra bactérias, fungos e organismos protozoários (Borkar et al., 2016), tem

a capacidade de fornecer imunidade ao hospedeiro, e desempenha um papel como

mediador em diversos processos fisiológicos e fisiopatológicos (Sundar, Krishnan,

Krishnaraj, Hemalatha & Alam, 2013). Entre os fisiopatológicos destaca-se, nesta

monografia, a já referida resposta destrutiva do óxido nítrico em relação à placa

bacteriana que acaba por levar, directa ou indirectamente, à osteoclasia do osso que

circunda o dente (Herrera et al., 2011).

Por ser uma molécula altamente reactiva na presença de oxigénio, a medição

directa de óxido nítrico nos fluídos humanos está dificultada. O nitrito e o nitrato são

produtos finais da oxidação do óxido nítrico e são, claramente, mais estáveis do que

este. Como tal, podem ser utilizados como indicadores da presença do óxido nítrico,

tornando esta molécula um biomarcador indirecto da doença periodontal. Refira-se que

definir biomarcadores de uma doença permite não só identificá-la precocemente como,

(25)

Desenvolvimento

17

I. DESENVOLVIMENTO

1. DOENÇA PERIODONTAL

1.1. Anatomia do Periodonto

O periodonto é definido pelo conjunto de tecidos presentes na cavidade oral que

oferecem suporte aos dentes, permitindo-lhes manter a sua posição e função. Esses

tecidos são a gengiva (ou junção dentogengival), o cimento, o ligamento periodontal e o

osso alveolar (Nanci & Bosshardt, 2006).

 Gengiva – Junção dentogengival

A junção dentogengival é compreendida como a porção de gengiva que se

encontra virada para o dente, constitui a mucosa oral mastigatória, e é formada por

tecido epitelial e por uma camada de tecido conjuntivo abaixo desta (Lindhe, Karring &

Araújo, 2003; Nanci & Bosshardt, 2006).

O epitélio juncional é constituído por epitélio escamoso estratificado e abraça a

porção cervical do dente. O tecido conjuntivo suporta o epitélio juncional e é bastante

vascularizado. A alta vascularização do tecido conjuntivo explica o facto de existir no

local, mesmo em condições de saúde, um infiltrado de células inflamatórias como

neutrófilos polimorfonucleares (PMNs) e linfócitos T. Estas células, bem como os

monócitos característicos do tecido conjuntivo, vão passando para o epitélio juncional e

ocupam os seus espaços intercelulares. Após a sua passagem para o epitélio juncional,

os PMNs e monócitos passam para o sulco gengival e, aí, actuam na defesa contra a

população microbiana. Assim, o epitélio representa uma barreira entre a cavidade oral e

o resto dos tecidos periodontais, sendo considerado a primeira linha de defesa física

contra os organismos patogénicos (Nanci & Bosshardt, 2006).

A gengiva apresenta duas porções: a sua porção livre, denominada gengiva livre,

(26)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

18

Figura 1. Composição da gengiva e

área de contacto entre esta e o esmalte

(Adaptado de Lindhe et al., 2003).

Numa condição de saúde, existe um espaço de pequenas dimensões, denominado

sulco gengival, entre a margem da gengiva livre e o dente, que pode ser medido através

de sonda periodontal (Lindhe et al., 2003).

Figura 2. Medição com sonda periodontal de sulco gengival em gengiva saudável (Adaptado de Lindhe

(27)

Desenvolvimento

19  Cimento:

O cimento é um tipo de tecido conjuntivo que se encontra na superfície da raiz do

dente e tem como principal função a ligação às fibras do ligamento periodontal.

Classifica-se em dois tipos, diferenciados pela ausência ou presença de células: cimento

acelular e cimento celular. O primeiro tipo, acelular, representa uma importante fonte de

suporte periodontal por ter em si inseridas as principais fibras do ligamento periodontal,

conhecidas como fibras de Sharpey. O segundo tipo, celular, está principalmente

presente no terço apical ou na metade apical da raiz, bem como nos locais de furca da

raiz, apesar de se poder encontrar também ao longo de toda a raiz, devido à sua função.

Como tem na sua constituição cimentoblastos, que produzem colagénio, e cimentócitos,

retidos na matriz formada pelo colagénio, o cimento celular é considerado um reparador

de tecidos por ter capacidade de preencher pequenas falhas na raiz (Lindhe et al., 2003;

Nanci & Bosshardt, 2006).

 Ligamento periodontal:

O ligamento periodontal é o tecido conjuntivo especializado e altamente

vascularizado que faz a ligação entre o cimento e a parede óssea alveolar (Lindhe et al.,

2003). Tem como função primordial o suporte do dente no seu espaço no osso alveolar

e actua como receptor sensorial, permitindo perceber qual é a correcta posição da

mandíbula durante a mastigação. Para além disso, reserva células que permitem a

reparação ou regeneração tecidular (Nanci & Bosshardt, 2006). As fibras do ligamento

periodontal têm diferentes disposições e organizam-se espacialmente da seguinte forma:

Figura 3. Orientação das fibras do ligamento

periodontal (Adaptado de Lindhe et al., 2003).

FCA = fibras da crista alveolar;

FH = fibras horizontais;

FO = fibras horizontais;

FPA = fibras de posição apical;

C = cimento;

(28)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

20  Osso alveolar:

O processo alveolar é o local no osso maxilar e mandibular onde estão presentes

espaços onde se alojam as raizes dentárias, chamados alvéolos. O osso da maxila e da

mandíbula é constituído por corticais de osso compacto, um centro esponjoso e osso

alveolar, que circunda o alvéolo. O osso alveolar, importante no suporte do dente, é

constituído por várias fibras intrínsecas e apresenta, quase perpendiculares à sua

superfície, as fibras de Sharpey, que são a extremidade das fibras extrínsecas que

provêm do ligamento periodontal (Nanci & Bosshardt, 2006).

Figura 4. Corte seccional do osso alveolar da maxila que suporta as raízes dentárias (indicadas pelas

setas) (Adaptado de Lindhe et al., 2003).

1.2. Classificação da Doença Periodontal

A doença periodontal é uma doença progressiva e imuno-inflamatória causada

pela presença de bactérias que levam à destruição dos tecidos do periodonto (Silva et

al., 2015; Meyle & Chapple, 2015; Harvey, 2017; Nedzi-Góra, Kowalski, & Górska,

2017). A inflamação dos tecidos leva à perda do tecido conjuntivo e osso, que dá

origem a um espaço onde outrora ocorria a ligação entre tecidos periodontais e dente,

(29)

Desenvolvimento

21

epitélio juncional na direcção apical da raiz (Nanci & Bosshardt, 2006; Silva et. al,

2015).

Doença periodontal é um termo que compreende duas condições patológicas:

gengivite e periodontite. Na primeira, existe apenas uma inflamação gengival causada

pelas bactérias presentes na margem gengival. Se estas bactérias não forem removidas

por um meio mecânico, a doença progride para a forma mais avançada da doença, a

periodontite. Nesta condição, ocorre perda irreversível dos tecidos periodontais devido à

progressão da inflamação e surgem, assim, as bolsas periodontais (Antonini et al., 2013;

Kinane et al., 2017; Harvey, 2017).

Figura 5. Medição de bolsa periodontal com sonda periodontal graduada (Adaptado de Nyman & Lindhe,

2003).

A gengivite não tem, obrigatoriamente, de evoluir para periodontite, mas a

periodontite é precedida pela gengivite. A periodontite pode apresentar variadas formas:

de progressão mais lenta e menos invasiva, em que é considerada crónica, ou numa

versão em que a destruição tecidular é mais rápida e invasiva e, neste caso, designa-se

(30)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

22

Figura 6. Várias fases da doença periodontal (Traduzido e adaptado de Kinane et al., 2017).

O depósito de bactérias nos locais onde existe doença periodontal pode levar a

uma bacterémia que causa outras doenças sistémicas. Sabe-se, por ter sido largamente

estudado, que as bactérias localizadas nas bolsas periodontais estão amplamente

associadas a endocardite infecciosa, doenças cardiovasculares através da formação de

ateromas nos vasos sanguíneos, diabetes mellitus, infecções respiratórias e até

nascimento prematuro de bebés com baixo peso (Harvey, 2017).

1.3.Mecanismos da Doença Periodontal

O principal factor etiológico da doença periodontal é a presença do biofilme

bacteriano, muito embora se saiba que não é consequência única para a doença se iniciar

já que o biofilme, por si só, não consegue causar a doença. Entre os factores

responsáveis pela iniciação da doença periodontal estão também a genética, o sistema

imunitário, o ambiente, os comportamentos e a medicação tomada, o que faz desta

doença uma condição multifactorial e de elevada complexidade (Meyle & Chapple,

2015; Harvey, 2017).

A formação da placa bacteriana inicia-se, essencialmente, com bactérias aeróbias

que aderem, através de adesinas, às superfícies duras da cavidade oral – como o

esmalte, dentina ou cimento – quando não se procede à higienização local.

Posteriormente, com o aumento das camadas bacterianas, a quantidade de oxigénio vai

(31)

Desenvolvimento

23

através de uma ligação entre bactérias aeróbias e anaeróbias provavelmente conseguida

através da Fusobacterium nucleatum, que tem capacidade de ligação a todas as

moléculas da placa bacteriana. Se esta última não for removida, sofre uma calcificação e

passa a chamar-se tártaro. O tártaro, tanto sub- como supra-gengival, está bastante

associado à doença periodontal e não se consegue remover com a escovagem simples.

Para além disso, esta calcificação, devido à sua localização e rugosidades, funciona

como depósito de mais bactérias, o que provoca o seu aumento (Larsen & Fiehn, 2017;

Harvey, 2017).

Figura 7. Imagem da arcada inferior de paciente

periodontal antes (A) e após (B) destartarização

(Adaptado de Nyman & Lindhe, 2003).

Entre as bactérias anaeróbias mais conhecidas da doença periodontal estão a

Porphyromonas gingivalis, Aggregatibacter actinomycetemcomitans, Tannerella

forsythia e a Treponema denticola, que são consideradas periopatogénicas e

desencadeiam processos de imunidade inata, adaptativa e inflamatória (Silva et. al,

2015; Nedzi-Góra et al., 2017). A resposta do sistema imunitário do hospedeiro

desencadeia libertação de mediadores pró-inflamatórios como o factor de necrose

tumoral α (TNF-α), interleucina 1β (IL-1β) e prostaglandina E2 (PGE2), cujo papel tem vindo a ser conhecido na destruição do osso alveolar na doença periodontal (Nedzi-Góra

et al., 2017; Harvey, 2017). Também actuam, associados à imunidade adaptativa,

(32)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

24

ligando do factor nuclear кB (RANKL, do inglês receptor activator of nuclear factor

kappa-B ligand). O RANKL permite a activação do RANK, que participa na

diferenciação dos osteoclastos, responsáveis pela reabsorção do osso alveolar

característica da periodontite (Cekici et al., 2014; Harvey, 2017).

Quando há um estímulo inflamatório, os neutrófilos polimorfonucleares são das

primeiras células a chegar ao local inflamado. Têm uma capacidade de fagocitose das

células bacterianas e a sua desgranulação no local provoca a libertação de enzimas que

têm a capacidade de degradar tecidos adjacentes e matriz extracelular (Silva et. al,

2015), como as metaloproteinases da matriz extracelular (MMPs). Numa situação

equilibrada, estas MMPs ligam-se a receptores chamados tecidos inibidores de

metaloproteinases (TIMPs); caso haja desequilíbrio, as MMPs iniciam a decomposição

do tecido conjuntivo (Nedzi-Góra et al., 2017).

Os macrófagos, que têm capacidade fagocitária, são outro tipo de células que se

deslocam até ao local de inflamação periodontal. Para além da função previamente

conhecida de fagocitose realizada por estas células, sabe-se agora que estas têm

receptores que permitem a ligação a antigénios patogénicos. Esta ligação desencadeia,

no local, a secreção pelas células do hospedeiro de mais mediadores pró-inflamatórios,

propagando a inflamação (Nedzi-Góra et al., 2017).

A destruição tecidular característica desta patologia deve-se, resumidamente, a um

(33)

Desenvolvimento

25

2. ÓXIDO NÍTRICO

2.1. Características do Óxido Nítrico

O óxido nítrico é uma molécula radicalar altamente reactiva. Em condições

normofisiológicas, desempenha o seu papel como mensageiro em processos de

neurotransmissão, regulação do tónus vascular e participa na imunidade do hospedeiro,

desempenhando, portanto, um importante papel a nível cardiovascular, a nível do

sistema nervoso central e a nível imunológico. Assim, prevê-se que quando existem

alterações na quantidade desta molécula mensageira, possam ser desencadeados

processos fisiopatológicos. O que distingue o seu carácter fisiológico ou nocivo são as

condições em que este é sintetizado, as células que o produzem ou com as quais entra

em contacto, as quantidades em que é produzido e qual o seu destino químico (Barreto,

Correia & Muscará, 2005; Çanarçi & Doğan, 2014).

O óxido nítrico é um gás no seu estado puro, apesar de ter solubilidade elevada

em meios apolares, pelo que, em meio biológico, é encontrado em membranas e

proteínas. Ao reagir com o oxigénio (O2), o NO dá origem a dióxido de nitrogénio

(NO2). (Reacção A) O NO2, por sua vez, reage com NO ou com outra molécula de NO2

e dá origem a trióxido de dinitrogénio (N2O3) (Reacção B) ou tetróxido de dinitrogénio

(N2O4) (Reacção C), respectivamente. O N2O3 e o N2O4 são espécies que reagem

rapidamente com a molécula de água (H2O) e dão origem a nitrito (NO2-) e a nitrato

(NO3-) (Reacção D e E, respectivamente). Por conseguinte, os nitratos e nitritos são

considerados os metabolitos finais da oxidação do NO (Cerqueira & Yoshida, 2002;

Barreto et al., 2005).

(A) 2 NO + O2 → 2 NO2

(B) NO + NO2 → N2O3

(C) NO2 + NO2 → N2O4

(D) N2O3 → 2 NO2- + 2 H+

(34)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

26

Actualmente, sabe-se que existem duas vias de produção do óxido nítrico: a via

clássica L-arginase – NO, realizada pelas sintases do óxido nítrico, e a via alternativa

nitrato – nitrito – óxido nítrico (Zhao, Vanhoutte & Leung, 2015).

2.2. Biossíntese do NO

2.2.1. Via L-Arginase – NO

A L-arginina é o aminoácido do qual provem o óxido nítrico sintetizado pela via

clássica L-arginina – NO. Este processo resulta na conversão deste aminoácido em

L-citrulina e NO e envolve duas fases. Na primeira, ocorre a hidroxilação de um dos

nitrogénios da L-arginina, gerando N-hidroxi-L-arginina. Como co-substratos desta

hidroxilação temos o oxigénio molecular e o dinucleotido nicotinamida adenina na sua

forma reduzida e fosfatada (NADPH), que funciona como fornecedor de electrões. Na

etapa que se segue, a N-hidroxi-arginina sofre uma oxidação e é convertida em

L-citrulina, com a consequente libertação de NO. Para que ocorra a produção de NO

através da conversão da L-arginina em L-citrulina são necessários vários co-factores

redox como o mononucleótido de favina (FMN), o dinucleótido de favina e adenina

(FAD), a tetrahidrobiopterina (BH4) e um grupo heme (Förstermann & Sessa, 2012;

Lorin et al., 2013; Zhao et al., 2015). Este processo de síntese do NO depende de uma

família de enzimas citosólicas conhecidas como sintases do óxido nítrico (NOS, do

inglês Nitric Oxide Synthase) (Förstermann & Sessa, 2012; Lorin et al., 2013).

Figura 8. Formação de Óxido Nítrico a partir de L-arginina, numa reacção catalisada pela NOS

(35)

Desenvolvimento

27

2.2.2. Via Nitrato – Nitrito – Óxido Nítrico

O nitrato e o nitrito foram, até determinada altura, considerados produtos da

oxidação do óxido nítrico com propriedades indesejadas para o organismo (Lundberg,

Weitzberg & Gladwin, 2008). Contudo, sabe-se hoje em dia, que estes iões não só

produzem óxido nítrico, como se reconhece que têm funções fisiológicas importantes no

organismo. Por exemplo, desempenham um papel na regulação da pressão sanguínea e

têm um efeito vasodilatador em condições de hipóxia (Kim-Shapiro & Gladwin, 2014).

Tal como visto na secção anterior, na via clássica de formação de óxido nítrico

(via L-arginina – óxido nítrico), o oxigénio é um co-substrato essencial à reacção.

Porém, se o sistema entrar num estado de hipoxia, é progressivamente activada a via

nitrato – nitrito – óxido nítrico. Apesar de não se saber exactamente em que momento e

com que níveis de oxigénio a última via é activada, esta tem vindo a ser considerada um

complemento à via clássica de formação de óxido nítrico por permitir manter os níveis

deste necessários ao funcionamento fisiológico dos organismos num meio com falta de

oxigénio. Esta via caracteriza-se pela redução do nitrato a nitrito e, em seguida, pela

redução deste a óxido nítrico (Lundberg et al., 2008).

Redução do Nitrato a Nitrito:

Inicialmente, o NO3- é convertido em NO2-. A sialina, expressa em vários tecidos,

é uma proteína membranar que funciona como transportadora de aniões inorgânicos e

tem principal destaque nas glândulas parótida, submandibular, tiróide, no cérebro,

fígado, rim e pâncreas. Esta proteína permite o transporte do nitrato desde a circulação

sanguínea até às glândulas salivares (Qu et al., 2016).

As bactérias presentes na cavidade oral são essenciais para o início da via nitrato –

nitrito – óxido nítrico (Bryan & Loscalzo, 2011). São as bactérias anaeróbicas que se

encontram nas criptas profundas da região posterior da língua que reduzem o nitrato a

nitrito através de redutases do nitrato (Qu et al., 2016).

Redução do Nitrito a Óxido Nítrico:

Em condições de hipóxia, onde existe uma redução da tensão de oxigénio, a

(36)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

28

mudança na sua estrutura quaternária (Zhao et al., 2015). A desoxiHb funciona como

uma enzima redutase de nitrito. O nitrito reage com o ferro presente na

desoxihemoglobina (HbFe2+) e com um protão (H+) para formar o óxido nítrico (NO) e

metahemoglobina (HbFe3+). (Reacção I)

I. NO2- + HbFe2+ + H+ → NO + HbFe3+ + OH

-Posteriormente, o NO formado através da redução do nitrito, reage com uma nova

desoxihemoglobina e forma a hemoglobina nitrosil ferrosa (HbFe3+–NO). (Reacção II)

II. NO + HbFe2+ → HbFe2+–NO

Após análise destas reacções, é possível considerar-se a hemoglobina como uma

enzima que, em situações em que a concentração de oxigénio está diminuída, tem uma

acção na sinalização e vasodilatação hipóxicas, uma vez que permite a formação de NO

através da redução do nitrito (Lundberg et al., 2008).

(37)

Desenvolvimento

29

Para além da hemoglobina, também outras proteínas como a neuroglobina,

citoglobina e mioglobina actuam como redutases do nitrito com o objectivo de formar

NO de uma maneira independente das sintases do óxido nítrico, através de mecanismos

idênticos aos referidos anteriormente. No entanto, a produção de NO pela

desoximioglobina é concisamente superior à produzida pelas outras globinas

(Kim-Shapiro & Gladwin, 2014).

Outras proteínas como a oxidase do citocromo c mitocondrial, a eNOS, a oxidase

do aldeído e ainda a oxirredutase da xantina (esta última em anoxia) têm capacidade de

participar na manutenção da concentração de NO formado a partir da redução do nitrito

(Lundberg et al., 2008; Zhao et al., 2015).

Apesar de estes produtos finais do óxido nítrico serem considerados como

estáveis e inertes, percebe-se agora que, em condições específicas, eles tem a

capacidade de se reciclarem e produzirem, novamente, óxido nítrico (Bryan & Loscalzo,

2011).

2.3. Sintases do Óxido Nítrico – NOS

As enzimas NOS são dímeros que funcionam como dioxigenases formados por

dois domínios: o domínio redutase (C-terminal) e o domínio oxigenase (N-terminal)

(Förstermann & Sessa, 2012; Lorin et

al., 2013).

Figura 10. Estrutura molecular da enzima NOS

(38)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

30

É o domínio N-terminal (oxigenase) que se liga ao substrato L-arginina, ao grupo

heme, ao co-factor BH4 e ao oxigénio molecular. No domínio C-terminal (redutase),

dá-se a união aos co-factores FMN, FAD e ao co-substrato NADPH, do qual são

transferidos electrões para o domínio amino-terminal (oxigenase) (Förstermann &

Sessa, 2012; Lorin et al., 2013).

São conhecidas três isoformas destas enzimas: a sintase do óxido nítrico neuronal

(nNOS ou NOS1), a sintase do óxido nítrico induzida (iNOS ou NOS2) e a sintase do

óxido nítrico endotelial (eNOS ou NOS3). As isoformas nNOS e eNOS são

consideradas sintases constitutivas. Todas as isoformas utilizam a L-arginina como

substrato, o NADPH e o O2 como co-substrato e FMN, FAD, BH4, calmodulina (CaM)

e um grupo heme como co-factores (Lorin et al., 2013).

Figura 11. Isoformas da NOS (Adaptado de Dusse et al., 2003).

Nas sintases nNOS e eNOS, a ligação à calmodulina é maior na presença de

concentrações elevadas de Ca2+ (entre 200 a 400nM), e, por isso, considera-se que estas

sintases constitutivas são cálcio-dependentes. Considera-se activada a enzima que está

ligada à CaM uma vez que é esta que permite uma maior afluência dos electrões cedidos

pelo NADPH, desde o domínio C-terminal ao domínio N-terminal. Já a enzima iNOS

consegue com facilidade uma ligação à calmodulina, independentemente da presença ou

ausência de Ca2+, uma vez que esta enzima não depende do aumento da concentração

deste ião. Esta independência permite-lhe funcionar em perfeitas condições em

(39)

Desenvolvimento

31

Até à data, sabe-se que as moléculas com estruturas análogas à L-arginina servem

como inibidoras das isoformas da enzima NOS e, destas, conhece-se:

NG-monometil-L-arginina (L-NMMA), N-imino-etil-Lornitina (L-NIO), NG-amino-L-NG-monometil-L-arginina (L-NAA),

NG-nitroL-arginina (L-NA) e o metil éster correspondente, o

NG-nitro-L-arginina-metil-éster (L-Name). Para além destes análogos da L-arg, que se ligam à NOS em vez

da arginina, também a aminoguanidina tem afinidade para a enzima iNOS. Uma vez que

se associam quantidades de óxido nítrico elevadas a patologias do organismo, seria

extremamente importante compreender profundamente o funcionamento das isoformas

da enzima NOS, de modo a ser possível utilizar inibidores com funções terapêuticas

(Dusse, Vieira & Carvalho, 2003).

Sintase do óxido nítrico neuronal – nNOS:

A nNOS é encontrada em neurónios específicos do cérebro e produz óxido nítrico

tanto no sistema nervoso central como no sistema nervoso periférico. Para além de ser

encontrada em tecidos do cérebro, encontra-se também em células da mácula densa do

rim e células pancreáticas, músculo esquelético, gânglios simpáticos e glândulas

suprarrenais, nervos nitrérgicos periféricos, células epiteliais, região sexual masculina e

medula espinhal (Cerqueira & Yoshida, 2002; Förstermann & Sessa, 2012).

O óxido nítrico produzido pela nNOS tem funções na regulação de

neurotransmissores como a acetilcolina, histamina e serotonina e na vasodilatação

através de nervos periféricos (Zhao et al., 2015). Regula a excitabilidade ou depressão

neuronal e, assim, trabalha sobre a plasticidade sináptica, o que interfere nos processos

de memória e aprendizagem (Förstermann & Sessa, 2012; Zhao et al., 2015). Os nervos

nitrérgicos com presença de nNOS provocam um relaxamento do corpo cavernoso e por

isso permitem a erecção peniana. Por este motivo, quando se detectam indivíduos com

níveis de nNOS diminuídos, é comum estes sofrerem de disfunção eréctil (Förstermann

& Sessa, 2012).

Sintase do óxido nítrico induzida – iNOS:

A iNOS é uma enzima raramente expressa em situações fisiológicas, estando

presente em condições de inflamação, causada principalmente por lipopolissacáridos

bacterianos e citocinas pro-inflamatórias. Este estímulo inflamatório tem como

(40)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

32

Sayed, 2013). É uma enzima independente da concentração de cálcio e, depois de

activada, a sua actividade não cessa (Förstermann & Sessa, 2012).

A iNOS é encontrada inicialmente em macrófagos e a expressão destes gera

grandes quantidades de óxido nítrico, durante um longo período de tempo (Förstermann

& Sessa, 2012). Presume-se que esta enzima sintetize óxido nítrico com diferentes

funções e em concentrações 1000 vezes maiores do que as produzidas pelas restantes

NOS (Cerqueira & Yoshida, 2002). Altas concentrações de óxido nítrico podem

interferir com o ADN celular e provocar a sua fragmentação, o que lhe confere uma

propriedade citoestática e citotóxica. As propriedades tóxicas do óxido nítrico permitem

não só uma acção contra os microrganismos patológicos e células tumorais, mas

também contra células vizinhas que não constituem o alvo inicial de defesa

imunológica. É por este motivo que a actividade fisiopatológica do óxido nítrico está

relacionada com a iNOS (Förstermann & Sessa, 2012). A transcrição do gene da iNOS,

que produz óxido nítrico inflamatório, é activada pelas citocinas IL-1, TNF-α e IFN-ỿ,

que são produzidas por macrófagos activados ou por LPS, sendo estas as responsáveis

pela sua síntese. Como depende de transcrição genética, a activação da iNOS é muito

mais lenta do que a activação das outras NOS, que são constitutivas. Enquanto as

enzimas constitutivas, eNOS e nNOS, conseguem produzir óxido nítrico com rapidez e

de uma maneira controlada e pontual em pequenas concentrações, a iNOS tem uma

resposta mais lenta na formação de grandes quantidades de óxido nítrico que, por serem

elevadas, são consideradas citotóxicas (Kendall, Marshall & Bartold, 2001; Guzik,

Korbut & Adamek-Guzik, 2003).

Sintase do óxido nítrico endotelial – eNOS:

A eNOS é uma das enzimas constitutivas que está presente nas células do

endotélio, embora também tenha sido detectada em plaquetas, células epiteliais

tubulares do rim, neurónios e músculo cardíaco (Förstermann & Sessa, 2012).

O óxido nítrico proveniente da eNOS está associado a um aumento do

monofosfato cíclico de guanosina (cGMP, do inglês cyclic Guanosine Monophosphate)

e da guanilil ciclase, o que provoca a dilatação de todos os vasos sanguíneos, e que lhe

confere uma característica reguladora da pressão sanguínea. Tem uma actividade

protectora relativamente à formação de ateromas: inibe ou impede a união da molécula

CD11/CD18 – molécula de adesão dos leucócitos – às paredes dos vasos sanguíneos

(41)

Desenvolvimento

33

Quando existe uma disfunção do endotélio – nas doenças cardiovasculares, por

exemplo – ocorre uma diminuição na actividade da eNOS e na consequente

bioactivação de óxido nítrico, o que provoca a desregulação da homeostase da pressão

sanguínea. Para além disso, nas doenças cardiovasculares há produção de espécies

reactivas de oxigénio (ROS, do inglês Reactive Oxygen Specie) como enzimas da cadeia

respiratória mitocondrial, oxidases de NADPH, eNOS desacopladas e oxidases de

xantina. Para além desta condição de stress oxidativo, o óxido nítrico tem, ainda,

tendência a reagir com o superóxido (O2-), o que diminui a sua biodisponibilidade

(Lorin et al., 2013).

Esta eNOS consegue produzir óxido nítrico de uma forma dependente e

independente de cálcio. A acetilcolina, bradiquinina e histamina aumentam a

concentração de cálcio intracelular através da sua união a um receptor específico da

sintase e assim, como previamente conhecido, é provocada a ligação à calmodulina e a

consequente activação da enzima. Por outro lado, as cinases conseguem regular a

actividade da eNOS ao ligarem-se a sítios específicos de fosforilação desta.

Dependendo do local, a enzima é activada ou inibida (Zhao et al., 2015).

(42)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

34

3. ÓXIDO NÍTRICO E DOENÇA PERIODONTAL

Quando existem toxinas microbiológicas ou um estímulo nocivo, inicia-se um

processo de defesa pela parte do organismo que se caracteriza por inflamação. Este

processo inactiva ou destrói os organismos nocivos e inicia uma reparação do tecido

afectado através de respostas imunitárias de carácter específico e não-específico. Numa

primeira fase da inflamação, a permeabilidade vascular aumenta e são libertados

péptidos como a interleucina-1, bem como aminas como a histamina ou a

5-hidroxitriptamina. Contudo, se existir uma desregulação ao nível das células imunitárias

e inflamatórias, a resposta aos organismos patogénicos é exacerbada e pode provocar

destruição não só dos agentes microbianos como das células saudáveis do hospedeiro

(Guzik et al., 2003).

A doença periondontal é iniciada por uma inflamação dos tecidos que circundam

o dente e nos quais se desenvolve uma resposta imune excessiva em relação à presença

de placa bacteriana. Numa fase inicial, existe uma resposta das células endoteliais e dos

leucócitos ao biofilme bacteriano, o que provoca modificações histológicas nos tecidos

que não são observáveis clinicamente. Depois, o epitélio juncional produz óxido nítrico

em resposta aos produtos metabólicos das bactérias, através de monócitos, citocinas e

neuropéptidos, o que induz a vasodilatação local. A vasodilatação permite que os

neutrófilos, macrófagos e linfócitos migrem até ao tecido conjuntivo e possam dar

continuação à resposta inflamatória. Por tal motivo, no tecido inflamado é característico

encontrarem-se as citocinas pró-inflamatórias IL-1β e TNF-α, bem como células

inflamatórias como neutrófilos e macrófagos, que são grandes produtoras de ROS e

RNS. Entre estas espécies reactivas de oxigénio e azoto, encontramos o óxido nítrico

(Kinane et al., 2017).

Como referido anteriormente, o óxido nítrico, para além das suas funções como

neurotransmissor, relaxante muscular e inibidor de agregação plaquetária, é um radical

de grande importância na imunidade e nos processos inflamatórios, e desempenha

acções protectoras, reguladoras e destrutivas. Pode ter um papel benéfico na defesa

contra microrganismos, mas, se em grandes quantidades, tem um desempenho nocivo

contra as células do hospedeiro. Neste campo, a actividade do NO considera-se bem

(43)

Desenvolvimento

35

3.1. Formação de Agentes Oxidantes

Tal como já foi referido, o óxido nítrico é citotóxico em quantidades elevadas,

porque se mostra disponível para reagir com outras biomoléculas e, assim, formar

compostos tóxicos para as células (Kendall et al., 2001). A produção de grandes

quantidades de óxido nítrico “inflamatório”, produzido pela iNOS, é, geralmente,

acompanhada por uma grande produção do anião superóxido (Guzik et al., 2003). As

oxidases de NADPH e as oxidases de xantina são as responsáveis pela produção desta

espécie nos macrófagos, a qual é obtida através de uma reacção de redução do oxigénio.

O superóxido, assim formado, apenas é desactivado pela enzima dismutase do

superóxido (SOD, do inglês superoxide dismutase). No entanto, o óxido nítrico e o

superóxido tem a capacidade de reagir um com o outro, com extrema rapidez, sem ser

necessário qualquer tipo de enzimas, que retardariam o processo. Isto faz do óxido

nítrico a única molécula que, devido às grandes concentrações e à rapidez da reacção

com o O2-, consegue competir com a SOD. Note-se que o óxido nítrico e o superóxido

reagem entre si mesmo que não tenham sido produzidos na mesma célula, uma vez que

o NO tem uma alta capacidade de se difundir entre elas. Da reacção resulta uma espécie

reactiva do azoto (RNS, do inglês Reactive Nitrogen Specie) com actividade citotóxica:

o peroxinitrito (Reacção 1) (Guzik et al., 2003; Pacher, Beckman & Liaudet, 2007).

(1) NO + O2- → ONOO-

O peroxinitrito pode apresentar-se na sua forma não protonada (ONOO-) ou

protonada (ONOOH), caso se encontre em pH neutro, e assim originar novas moléculas

com funções em mecanismos fisiológicos e patológicos (Reacção 2)

(Virág, Szabó, Gergely & Szabó, 2003; Barreto et al., 2005):

(44)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

36

3.2. Citotoxicidade do peroxinitrito

A maior parte das moléculas radicalares influencia os processos biológicos ao

alterarem a formação, estrutura e função das células. Isto acontece porque os radicais

são altamente capazes de reagir com lípidos, proteínas, hidratos de carbono e ácidos

nucleicos. O peroxinitrito é um desses radicais que, tal como descrito na secção anterior,

é formado pela reacção entre o NO e o O2- em tecidos onde decorre uma inflamação,

como é o caso de tecidos periodontais durante a doença periodontal, sendo apontado

como a principal causa de citotoxicidade do óxido nítrico (Ahmad, Rasheed & Ahsan,

2009). Em particular, o peroxinitrito é responsável por danos oxidativos, nitração e S

-nitrosilação em biomoléculas como lípidos, proteínas e ADN, revelando ter um efeito

citotóxico e mutagénico nas células, o que conduz a processos de morte celular –

apoptose, necrose, ou um processo misto (Ahmad et al., 2009; Förstermann & Sessa,

2012). Para além disso, o peroxinitrito ainda aumenta a biossíntese de IL-8, que é uma

citocina produzida por leucócitos responsável pela activação de neutrófilos, sendo

responsável por propagar a inflamação já existente (Pacher et al., 2007).

3.3. Modificação de proteínas – Nitração da tirosina

Os PMNs e os macrófagos são uma fonte importante de NO e O2-, ou seja, de

peroxinitrito. É também nos PMNs que se produz a enzima mieloperoxidase, que

interage com o peroxinitrito para dar início ao processo de modificação proteica. A

tirosina é um aminoácido que sofre nitração pelo peroxinitrito, dando origem à

nitrotirosina, que está presente no tecido gengival quando existe doença periodontal

(Lohinail et al., 2001). A nitrotirosina forma-se através da adição de um grupo nitro

(NO2-) ao grupo hidroxila do anel aromático da tirosina presente numa proteína (Pacher

et al., 2007). Este é um processo complexo que depende de alguns factores no local

como: o pH, a concentração de CO2 e a presença de glutationa. Após estudos in vitro

realizados para testar a nitração de tirosina, deBoer et. al (2014) demonstrou que, na

presença de glutationa, a produção de nitrotirosina aumenta ligeiramente. Para explicar

este aumento, propôs-se a hipótese de ocorrer uma nitrosilação da glutationa pelo óxido

nítrico, formando-se S-nitrosoglutationa (GSNO) que serve de armazém de NO no local

(45)

Desenvolvimento

37

tirosina. Também na presença de concentrações de CO2 elevadas, a produção de

nitrotirosina é aumentada. O CO2 reage com o peroxinitrito para formar

nitrosoperoxicarbonato (ONOOCO2-). Parte deste ONOOCO2- sofre uma decomposição

por enzimas homolíticas e dá origem ao radical carbonato (CO3-) e ao dióxido de

nitrogénio (NO2), que participam na produção da nitrotirosina ao reagir com o resíduo

de tirosina, em condições fisiológicas. No entanto, quando há diminuição de pH, como

em situações de inflamação, existe predominância da forma protonada do peroxinitrito,

o ácido peroxinitroso (ONOOH), em detrimento do ONOOCO2-, e passa a ser este ácido

o precursor da nitrotirosina através da sua decomposição em radical hidroxilo (OH•) e

dióxido de nitrogénio (NO2) (Pacher et al., 2007; deBoer, Palomino, Idiga, Millhauser

& Mascharak 2014). As modificações oxidativas causadas pelo peroxinitrito que dão

origem a nitrotirosina fazem com que esta seja um indicador de oxidações indesejadas

nas proteínas do organismo e um marcador biológico da presença de ONOO- (Ahmad et

al., 2009). Ao sofrer nitração, a proteína sofre uma modificação na sua estrutura e

consequentemente, da sua função. Isto pode originar, directamente, uma desintegração

do ligamento periodontal, bem como a formação de antigénios no tecido periodontal, o

que induz a formação de auto-anticorpos contra o periodonto. Para além disso, ao

ocorrer nitração do resíduo tirosina presente na enzima superóxido dismutase, esta

enzima, que tem como função inactivar o O2-, fica automaticamente modificada e

inactiva, permitindo uma maior disponibilidade do superóxido para reagir com o óxido

nítrico, formar peroxinitrito e, deste modo, levar a um ciclo inflamatório (Lohinail et al.,

2001; Pacher et al., 2007).

3.4. Peroxidação lipídica

O peroxinitrito é responsável pela peroxidação de lípidos, o que origina radicais

lipídicos que, por sua vez, levam à destruição da membrana lipídica (Pacher et al.,

2007).

O peroxinitrito pode ser apresentado na sua forma protonada, e assim,

decompor-se nos radicais altamente reactivos OH• e NO2, os quais iniciam a peroxidação lipídica

ao reagir com a membrana dos ácidos gordos polinsaturados. O ácido gordo contém na

sua fórmula um carbono alílico cujo hidrogénio é, inicialmente, capturado por um

(46)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

38

de propagação, o L• reage com o oxigénio molecular e forma um radical peroxil lipídico

(LOO•). Este radical reage, novamente, com o hidrogénio de outro lípido e gera um ciclo de peroxidação lipídica. Ao reagirem, H+ e LOO• formam um hidroperóxido

lipídico (LOOH). Este ciclo chega ao fim quando deixa de existir substrato disponível,

ou quando existe emparelhamento de radicais lipídicos com formação de produtos mais

estáveis (Hall, Wang, Bosken & Singh, 2016).

O malondealdeído (MDA) é um produto final do processo de peroxidação dos

lípidos e tem sido detectado, em vários estudos, na presença de doença periodontal.

Uma vez que nos estudos realizados se encontra sempre MDA na saliva, fluido gengival

crevicular (FGC) e sangue de indivíduos com periodontite, tal facto permite concluir

que a peroxidação lipídica está associada à doença periodontal e que este composto

pode vir a ser futuramente considerado um dos biomarcadores desta (Fentoğlu et al.,

2015).

3.5. Produção de metaloproteinases da matriz

As metaloproteinases da matriz (MMPs) são uma família de endopeptídases com

características estruturais e catalíticas bem definidas; representam um dos factores mais

importantes no desenvolvimento da doença periodontal porque têm um desempenho

activo na destruição dos constituintes da matriz extracelular. No ser humano, são

conhecidas 23 formas que são divididas em seis grupos: colagenases, gelatinases,

estromelisinas, matrilisinas, metaloproteinases tipo membrana e outras

metaloproteinases (Sapna, Gokul & Bagri-Manjrekar, 2014).

Apesar do mecanismo não ter sido, ainda, profundamente estudado, reconhece-se

que o peroxinitrito é capaz de induzir a produção de MMPs ao interagir com a

glutationa (Pacher et al., 2007). O colagénio tipo-I é um dos principais componentes do

tecido conjuntivo gengival e da matriz extracelular dos tecidos periodontais e a sua

degradação representa uma forte actividade da doença periodontal. Mesmo nas

primeiras fases da doença, onde apenas existe inflamação gengival, o colagénio já sofre

degradação para dar lugar ao infiltrado inflamatório. As colagenases 8 e a

MMP-13 têm os principais papéis na doença periodontal, e contam com o contributo das

MMP-9 e MMP-14 (Sapna et al., 2014; Cavalla, Hernández-Ríos, Sorsa, Biguetti &

(47)

Desenvolvimento

39

Na doença periodontal existe um grande afluxo de neutrófilos e leucócitos, que

são a maior fonte de MMP-8. A MMP-8 é responsável por degradar colagénio tipo-I e

tipo-III e está associada à severidade da doença periodontal, sendo maior a sua presença

quando se verificam bolsas periodontais com maior profundidade, o que significa maior

perda de tecido e inserção periodontal (Gupta, Gupta, Gupta, Khan & Bansal, 2015). É

nesta fase que se percebe que a resposta exagerada do hospedeiro aos microrganismos

bacterianos leva à destruição tecidular, já que há uma produção exacerbada de

neutrófilos polimorfonucleares, cujo aumento implica uma maior presença de MMP-8

no fluido gengival crevicular (Sapna et al., 2014; Cavalla et al., 2017). Esta MMP-8 não

está presente em locais saudáveis mas, quando existe periodontite, induz o

processamento de algumas citocinas, agravando a inflamação já existente, e degrada o

colagénio da gengiva e do ligamento periodontal, no decorrer na doença (Gupta et al.,

2015). A forte presença da MMP-8 na doença periodontal pode fazer com que, no

futuro, esta possa vir a ser considerada como um biomarcador da doença, uma vez que é

a enzima com maior capacidade catalítica de degradar do colagénio. Também a

MMP-13 actua numa fase mais avançada da doença periodontal: causa reabsorção óssea e

activa a produção de pró-MMP-9. Por conseguinte, estas duas enzimas (MMP-13 e

MMP-9) estão associadas à destruição do osso alveolar (Sapna et al., 2014; Cavalla et

al., 2017).

3.6. Danos no ADN

O peroxinitrito proveniente do NO é responsável pela morte celular através de

modificações provocadas nas moléculas de ADN (Lohinai et al., 2003; Pacher & Szabo,

2008; Ahmad et al., 2009; Islam et al., 2015).

O ADN tem na sua base purinas, que são bastante reactivas com oxidantes, e as

desoxirriboses, que sofrem clivagem (Islam, Habib, Ali, Moinudinn & Ali, 2016). O

peroxinitrito, principalmente formado através de macrófagos, tem a capacidade de se

difundir por membranas celulares e atingir o núcleo, onde causa dano. Reage com uma

purina presente na base do ADN, nomeadamente a guanina (G), para formar

nitroguanina. Esta transformação leva a guanina a abandonar a base do ADN a qual fica,

(48)

O Óxido Nítrico e a Doença Periodontal

40

que não seja a guanina, como a adenina, citosina ou timina. Estas modificações podem

levar a mutações ou mesmo à ruptura da molécula de ADN (Islam et al., 2015).

No contexto da doença periodontal, a acção do peroxinitrito sobre os processos

fisiológicos do ADN culmina na activação da polimerase poli(ADP-ribose) (PARP). A

PARP é uma enzima envolvida em vários processos fisiológicos, como a reparação do

ADN, diferenciação celular, transcrição genética, estabilidade genómica e morte celular.

Por danificar o ADN, o peroxinitrito é considerado um impulsionador fisiopatológico

desta enzima, que é, então, hiperactivada e actua na patologia de duas maneiras: por um

lado, promove a extensão da inflamação através de mecanismos pró-inflamatórios e, por

outro lado, provoca a morte celular, ao retirar do sistema energia que é necessária à vida

das células (Lohinai et al., 2003; Pacher & Szabo, 2008). Com efeito, para tentar reparar

os danos causados no ADN, a PARP liga-se aos locais de ruptura da cadeia de

nucleótidos e divide a NAD+ em nicotinamida e ADP-ribose, que depois é adicionada a

proteínas nucleares, como a histona, e à própria PARP (Virág et al., 2003; Lohinai et al.,

2003; Pacher & Szabo, 2008; Islam et al., 2016). Ou seja, a hiperactivação da PARP

causa o consumo exagerado de NAD+ intercelular, o que inibe os processos de glicólise

e transporte de electrões, daí que se considere que a reparação dos danos de ADN seja

um mecanismo energeticamente exaustivo. Como é conhecido, a glicólise é um

processo que representa uma grande fonte de energia para o organismo. Com a inibição

da glicólise, a quantidade de adenosina trifosfato (ATP) é drasticamente reduzida e

consequentemente, as células tornam-se disfuncionais e, posteriormente, necróticas.

Quando existe apoptose, a célula programa a sua morte e esse processo dá-se de

maneira controlada. Na necrose celular, que ocorre quando existe falta de ATP, as

membranas celulares perdem a sua integridade e a célula fica incapacitada de remover

os seus produtos indesejados, libertando-os descontroladamente, o que pode afectar as

células vizinhas (Islam et al., 2016).

Diversos estudos mostraram que quando se bloqueia a PARP, reduz-se a morte

celular consequente da falta de ATP. Para além disso, o bloqueio da PARP resulta numa

menor concentração de células inflamatórias e numa menor extensão de células

necróticas, por diminuição da resposta das células imunitárias. Isto significa uma

redução da actividade da iNOS, o que se traduz numa produção de óxido nítrico

diminuída e, consequentemente, numa diminuição do dano de ADN (Islam et. al, 2016;

Adachi et al., 2017). Os mesmos trabalhos permitiram concluir que, na presença de um

(49)

Desenvolvimento

41

macrófagos e ligeira queda da concentração de células gengivais com presença de

nitrotirosina, sendo todos eles indicadores da periodontite. Desta maneira, com a

inibição da PARP prevê-se uma melhoria na doença periodontal (Adachi et al., 2017).

Os níveis de PARP não são os únicos a ser utilizados para medir o dano oxidativo

do ADN na doença periodontal. Também a 8-hidroxidesoxiguanosina (8-oxo-dG), que é

considerada o melhor marcador de danos no ADN, apresenta níveis elevados em

estudos que comparam indivíduos saudáveis com pacientes periodontais (Fentoğlu et

al., 2015). A 8-oxo-dG é formada através da mutação do ADN por associação com

hidroperóxidos, que têm origem na reacção entre peroxinitrito e proteínas nos núcleos

celulares (Ahmad et al., 2009).

3.7. Reabsorção Óssea

A reabsorção do osso alveolar, característica da periodontite, tem sido fortemente

relacionada com a presença de iNOS e com a actividade do óxido nítrico. No entanto, tal opinião é controversa já que alguns estudos apontam para o facto de o óxido nítrico

ser um potencial inibidor da reabsorção óssea, quando em grandes concentrações,

enquanto que, em baixas concentrações, regula a actividade dos osteoclastos. A

controvérsia deve-se também ao facto de se associar o óxido nítrico a uma regulação do

ciclo de formação e destruição óssea mas, ao mesmo tempo, este ser estimulado pelas

citocinas que estão associadas à reabsorção óssea (Ralston et al., 1995; van’t Hof et al.,

2000).

A IL-1 é uma citocina característica da doença periodontal conhecida por ser uma

grande fonte de óxido nítrico e está bastante associada à perda óssea através da

activação de uma cascata de eventos que culmina na activação de NFкB, um complexo

proteico que desencadeia a diferenciação dos osteoclastos. Van’t Hof et al. (2002)

mostraram que, na ausência de IL-1, o óxido nítrico não tem capacidade de reabsorção

óssea, mas que para existir reabsorção óssea induzida pela IL-1 é necessário que a iNOS

não seja inibida, ou seja, é necessária a presença de óxido nítrico. Isto indica que o

óxido nítrico produzido pela iNOS tem uma função moduladora na IL-1 quando se trata

Imagem

Figura 2. Medição com sonda periodontal de sulco gengival em gengiva saudável (Adaptado de Lindhe  et al., 2003)
Figura 3. Orientação das fibras do ligamento  periodontal (Adaptado de Lindhe et al., 2003)
Figura  4.  Corte  seccional  do  osso  alveolar  da  maxila  que  suporta  as  raízes  dentárias  (indicadas  pelas  setas) (Adaptado de Lindhe et al., 2003)
Figura 5. Medição de bolsa periodontal com sonda periodontal graduada (Adaptado de Nyman & Lindhe,  2003)
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Referências

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