CONTABILIDADE NACIONAL
1) Conceitos Básicos
O que é a CN?
A contabilidade nacional é uma técnica que tem por objectivo medir a atividade económica de um país nas suas diversas vertentes. Funciona como um instrumento de análise da situação económica, de quantificação dos objectivos de política económica e de controlo do modo como as metas económicas vão sendo cumpridas.
Variáveis fluxo e variáveis stock
As variáveis fluxo medem-se ao longo de um período de tempo (ex: rendimento, deficit) e distinguem-se das variáveis stock que se medem num determinado momento do tempo (riqueza, dívida). A CN mede essencialmente fluxos.
Deflator
O deflator é um índice agregado de preços (do tipo índice de Paasche) que permite obter a variação do nível de preços entre o ano base e o ano corrente.
Preços correntes e preços constantes
Os valores podem exprimir-se a preços correntes ou a preços constantes. A valorização diz-se a preços correntes quando toma por referência os preços desse mesmo ano. Quando a valorização é efectuada com base em preços de um outro ano, diz-se a preços constantes desse outro ano. Uma série de valores a preços constantes procura refletir variações nas quantidades (reais). Uma série de valores a preços correntes (nominal) reflete variações de preços e de quantidades.
2) Critérios de valorização do produto
2.1) agregados líquidos e brutos:
Ib = Il + Am PB = PL + Am
Amortizações correspondem ao consumo de capital fixo, isto é, a depreciação sofrida no decurso do período considerado pelos bens de equipamento cuja utilização se reparte por vários períodos.
Atenção: Às vezes, usa-se o termo “líquido” para referir uma diferença, como por exemplo: exportações líquidas (X-M); impostos diretos líquidos de subsídios; Salários líquidos (de impostos).
2.2) delimitação da atividade económica:
Interno – produto gerado dentro de fronteiras geográficas.
Nacional – produto gerado pelos residentes do país.
Residente – é o individuo que habita no país há mais de um ano.
PN = PI + REX
REX = Rend. Recebidos Exterior - Rend. Pagos Exterior (corresponde ao saldo da balança de rendimentos, componente da balança de pagamentos)
Ex:
i) o Sr. Carlos, que é residente em Portugal, e vai fazer vindimas em França durante o mês de Setembro, contribui com o seu salário para o produto interno francês e para o produto nacional português;
ii) o Sr. Klaus, que é residente na Alemanha, é titular de certificados de aforro portugueses, contribui com os juros para o produto interno português, mas não
2.3) Preços de mercado versus custo de factores:
PIBpm = PIBcf + (Ti – Z)
3) Ópticas de medição do produto
A medição do produto pode ser feita por 3 ópticas diferentes: óptica do produto, a óptica do rendimento e a óptica da despesa.
3.1) Óptica do Valor Acrescentado
Σ VABcf = PIBcf
Valor acrescentado é a diferença entre o valor dos bens e serviços produzidos num dado período (produção) e o valor dos bens e serviços correntes consumidos no mesmo período (consumo intermédio) por uma unidade, ramo ou sector.
3.2) Óptica da despesa
DI = PIBpm = C + G + Ib + X – M (Quadro II.3.1 do B.Portugal) em que,
Ib = FBCF + ΔE
FBCF = FBCFp + FBCFg Conceitos:
Procura interna (Absorção): A= C + G + Ib Procura externa: X
Consumo Público: G = Vencimentos maos consumos intermédios
FBCF – é o valor dos bens duradouros adquiridos para serem utilizados por um período superior a um ano.
ΔE – é a diferença entre as entradas e saídas de existências, no decurso de um ano.
3.3) Óptica do rendimento
Rendimento Nacional (RN) RI = PILcf = Wb +SSe +Jb +Rb +Lb
Em que Wb + SSe são as remunerações do trabalho e Jb +Rb +Lb representam as remunerações do capital a que também se chama Excedente Bruto de Exploração (EBE).
RN = PNLcf = RI+REX
O RN é uma medida de atividade económica. Traduz o nível de utilização da capacidade produtiva do país. É calculado pela soma das remunerações pagas pelos empregadores dos factores produtivos (e não das auferidas pelos detentores), por forma a captar a produtividade. Por isso, usam-se as remunerações antes de impostos. Aos salários brutos soma-se a segurança social paga pelas empresas, porque o que se pretende é avaliar as despesas efectuadas com o pessoal.
Por vezes, nas estatísticas oficiais aparece o Excedente Bruto de Exploração (EBE):
EBE= Jb + Rb + Lb +Am
Quando assim é, o quadro do RN toma a forma:
RN (bruto) = Wb + SSe + EBE + REX
Outro conceito relevante é o de Rendimento da Propriedade e da Empresa (REP):
REP = EBE +REX
RN (bruto) = Wb + SSe + REP
4) Rendimento disponível
4.1) Do Sector privado
Rendimento disponível do sector privado obtém-se da seguinte forma:
RDp = RN – Td – SS + Jdp + Trgf + Trxf – REPg,
= Wb +SSe +Jb +Rb +Lb + REX – Td – SS + Jdp + Trgf + Trxf – REPg = Wb - SSf +Jb +Rb +Lb+ REX – Td + Jdp + Trgf + Trxf – REPg
= Wl + Jl + Rl +Ll + REX + Jdp + Trgf + Trxf - REPg
em que REPg é o rendimento da empresa e da propriedade do governo, SS = SSe
+ SSf e Trxf são correntes e líquidas (saldo).
O rendimento disponível do sector privado tem os seguintes usos:
RDp = C + Sp
As transferências correspondem a um movimento monetário que não é contrapartida de bem ou serviço (ex: as pensões de reforma). São rendimento, mas como não remuneram factores fazem parte do rendimento nacional.
Os Jdp são uma fonte de rendimento mas não são considerados no cálculo do rendimento nacional pois a dívida pública não é considerada produtiva. Por isso, os JdP são tratados como transferência.
4.2) Dos Particulares
Rendimento disponível dos particulares:
RDf = RDp – Se = Wb +SSe+ REP – Td - SS+ Jdp + Trgf + Tr xf – REPg - Se
= Wl + Jl + Rl + Ll + Jdp + Trgf + Trxf + Jdp +REX –REPg-Se
= Wl + Jl + Rl +Div + Jdp + Trgf + Trxf + REX – REPg Sf = RDf – C = Sp - Se
Ll = Se + Div Div = Ll - Se
Repare-se que o lucro bruto pode ser decomposto em Lb = Ll + Tde = Se + Div + Tde.
Tde=Impostos directos sobre as empresas (IRC) Se= Poupança das empresas (lucros retidos)
4.3) Do Sector Público
RDg= G+ Sg
Em que
Poupança do Sector Público = Receitas correntes – Despesas correntes Sg = Td + Ti + SS + Trxg + REPg - G – Z – Jdp – Trgf
RDg = G+ Td + Ti + SS + Trxg + REPg - G – Z – Jdp – Trgf = Td + Ti + SS + Trxg + REPg – Z – Jdp – Trgf
4.4) Da Nação
RDn = RDp + RDg
= Wb +SSe+ REP – Td - SS+ Jdp + Trgf + Tr xf – REPg+ + Td + Ti + SS + Trxg + REPg – Z – Jdp – Trgf
= PNLcf + Ti – Z + Trxf + Trxg = PNLpm + Trxf + Trxg
= PNLpm + Trx
Outra forma de olhar para o rendimento disponível da nação é partir da óptica da despesa:
PIBpm = C + G + Ib + X – M = A + X-M A= C + G + Ib (procura interna)
O PIBpm mede a produção dentro das fronteiras geográficas e é igual à soma da procura interna com a balança de bens e serviços
Se ao PIBpm acrescentarmos o REX, ficamos com uma medida da produção nacional (critério da residência):
PNBpm= A + X-M + REX
Para chegarmos ao rendimento disponível (aquilo que temos disponível para gastar), temos que acrescentar as transferências do exterior e retirar as amortizações, que representam as perdas pela erosão do capital. Assim:
RDn =PNBpm+ Trx –Am=
= A + (X-M + REX + Trx )–Am =A+BCC-Am
4.5) Do exterior
balança corrente e de capital =simétrico da poupança externa) BCC= - Sx = X – M + REX + Trxg + Trxf
Balança de bens e serviços = X – M.
REX= Balança de rendimentos
Trxg + Trxf= Balança de transferências unilaterais BBC = Balança corrente + balança de capital
5) Identidade fundamental :
Considerando as poupanças de cada sector vem Sg = Td + Ti + SS + Trxg - G– Z – Jdp - Trgf + REPg
Sp = Wb+SSe +Jb + Rb + Lb + Trgf + Trxf + Jdp + REX – REPg – C– Td -SS Sx = M – X – REX - Trx
Somando as poupanças tem-se,
Sg + Sp + Sx = Ti – Z – G + PILcf +(Ti – Z + REX) – C + M – X – (Ti - Z + REX) = PNLpm – G– C + M – X – REX
= PILpm – ( C + G + X – M + Ib - Ib) = PILpm – (PIBpm – Ib)
= Am + Ib
Sg + Sp + Sx +Am=Ib
O somatório das poupanças é igual ao investimento bruto.