• Nenhum resultado encontrado

POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO CRITÉRIO DE DESEMPATE PREVISTO NO §2º DO ART. 1.010 (CÓDIGO CIVIL) NAS DELIBERAÇÕES SOCIAIS EM SOCIEDADES LIMITADAS

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO CRITÉRIO DE DESEMPATE PREVISTO NO §2º DO ART. 1.010 (CÓDIGO CIVIL) NAS DELIBERAÇÕES SOCIAIS EM SOCIEDADES LIMITADAS"

Copied!
58
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

IVAN SAMPAIO TAVARES FEITOSA

POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO CRITÉRIO DE DESEMPATE PREVISTO NO §2º DO ART. 1.010 (CÓDIGO CIVIL) NAS DELIBERAÇÕES SOCIAIS EM

SOCIEDADES LIMITADAS

(2)

IVAN SAMPAIO TAVARES FEITOSA

POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO CRITÉRIO DE DESEMPATE PREVISTO NO §2º DO ART. 1.010 (CÓDIGO CIVIL) NAS DELIBERAÇÕES SOCIAIS EM

SOCIEDADES LIMITADAS

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Graduação Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção de grau de Bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Civil. Direito Empresarial.

Orientador: Prof. William Marques Paiva Junior.

(3)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Universitária

Gerada automaticamente pelo módulo Catalog, mediante os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

F1p FEITOSA, IVAN SAMPAIO TAVARES.

POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO CRITÉRIO DE DESEMPATE PREVISTO NO §2º DO ART. 1.010 (CÓDIGO CIVIL) NAS DELIBERAÇÕES SOCIAIS EM SOCIEDADES LIMITADAS / IVAN SAMPAIO TAVARES FEITOSA. – 2018. 58 f. : il.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Direito, Curso de Direito, Fortaleza, 2018.

Orientação: Prof. Dr. William Marques Paiva Junior.

1. Empate na deliberação de sócios. 2. Sociedade limitada. 3. Direito Societário. 4. Critério de desempate. 5. Art. 1.010 §2º do Código Civil. I. Título.

CDD 340

(4)

IVAN SAMPAIO TAVARES FEITOSA

POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO CRITÉRIO DE DESEMPATE PREVISTO NO §2º DO ART. 1.010 (CÓDIGO CIVIL) NAS DELIBERAÇÕES SOCIAIS EM

SOCIEDADES LIMITADAS

Monografia apresentada ao Programa de Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do título de bacharel em Direito. Área de concentração: Direito Societário.

Aprovada em: ___/___/_____.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________ Prof. Dr. William Marques Paiva Junior. (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

__________________________________________________________ Prof. Dr. Sidney Guerra Reginaldo

Universidade Federal do Ceará (UFC)

__________________________________________________________ Marcus Vinicius de Souza e Souza

(5)

AGRADECIMENTOS

O contexto em que este projeto se desenvolve, inevitavelmente, me impulsiona a pensar nos múltiplos fatores que me possibilitaram estar aqui hoje. Qualquer dedicatória ou lista será insuficiente para trazer à tona tudo o que se pode falar sobre este momento.

Deixo primeiramente, então, meu registro dedicatório aos inominados, que tanto fizeram parte na construção do hoje.

Ao meu orientador William Marques Paiva Junior, pelo exímio cuidado, paciência e dedicação à elaboração e conclusão deste projeto.

Aos meus pais, Serge Couto e Grete Sampaio, que tiveram que acompanhar o desenvolvimento do filho de longe, em outra cidade, eu dedico integralmente este momento! Aos meus irmãos, Mateus e Marina, igualmente agradeço! Aonde estes 4 estiverem, é lá que está minha casa. Graças a eles eu pude construir tudo que sou hoje e isso, quanto mais se tenta mensurar em palavras menos se consegue.

Á toda minha família, que se mostrou como uma grande extensão do afeto dos meus pais, sempre presentes e me ajudando naquilo que fosse possível para chegar até aqui, em especial, minha avó, Ainda Sampaio.

Agradeço especialmente à Sarah Monteiro que tanto me ensina através da verdade, do cuidado, da coragem e do amor! Aquela com quem eu tenho a sorte de dividir meus dias, meu afeto, meu ideais, minhas dúvidas e minhas incongruências.

Divido o dia de hoje, igualmente, com aqueles que cotidianamente estão comigo e eu com eles, André Neves, Pedro Phillippe, Hélio Junior, Heitor Lima e Tiago Carvalho. Com quem muito dividi episódios dessa saga e a quem eu devo tantos agradecimentos por se tornarem parte da minha família e eu da deles.

Agradeço aos que fizeram, das suas, a minha casa: minha tia Irandê Couto e Valéria Amorim; meus tios Marciano Sampaio, Tereza Sampaio e meu primo Marcel Sampaio; meu tio Paulo Costa, Juliana, e meu priminhos Duda e Guga;

Aos incomparáveis companheiros que consegui conhecer graças a este curso e por quem eu carrego um carinho imenso: Monique Maciel, Sami Arruda, Marina Faust, Taina Façanha, Carlos Alencar, Mateus Pinho, Pedro Augusto, Gabriellen Melo, Beatriz Carvalho. As lembranças que carregarei da faculdade serão sempre vocês. #TBT.

(6)

Da mesma forma, agraço profundamente aqueles que dedicaram notável atenção e zelo durante a minha caminhada profissional, sem os quais eu não seria quem sou e a quem eu dedico a ambição com que olho para o horizonte hoje: Marcus Vinicius de Souza, Ilo Igo Marques, Victor Gonçalves, Natan Bastos, Hismael Barros, Ricardo Bastos, Bernardo Fernandes e Tiago Felipe.

(7)

“A incerteza dos acontecimentos, sempre mais difícil de suportar do que o próprio acontecimento. ”

(8)

RESUMO

Investigam-se as possibilidades legais de aplicação do §2º do Art. 1.010 do Código Civil de 2002, no âmbito das Sociedades Empresárias de Responsabilidade Limitadas (Ltda), como critério resolutivo para as deliberações de sócios que restarem empatadas. Para a consecução deste fim, examina os conceitos elementares das sociedades limitadas, como a noção de personalidade jurídica associada aos entes coletivos; as principais características deste tipo societário; e sucessivamente os pressupostos fáticos-legais necessários para a caracterização do empate em uma deliberação de sócios. Ato contínuo, estabelecido o empate deliberativo, esmiúça as opções legislativas sobre o tema, direcionando o estudo à legalidade do voto “por cabeça”, previsto no §2º do art. 1.010, como fator resolutivo do impasse societário. Para a persecução deste fim, realiza a análise do regramento legal aplicável às sociedades limitadas, bem como do sistema majoritário das deliberações baseando-se na investigação sistemática das normas que regem este tipo societário, sempre dialogando com os títulos legais das sociedades simples e sociedades anônimas, de aplicabilidade suplementar. Como corolário da referida análise, verifica o afastamento do caráter subsidiário atribuído à norma por força do art. 1.072 que, traz o dispositivo para o âmbito das normas das sociedades limitadas e, por consequência, dá legalidade à sua incidência direta nas deliberações de sócios que restarem empatadas. Desta feita, conclui-se pela legalidade da aplicação imediata do §2º do art. 1.010 às deliberações de sócios que restarem empatadas, ressalvadas as que exijam quórum de maioria qualificada, independentemente do regramento supletivo adotado para a sociedade limitada, restando suficientemente regulamentado a questão acerca do impasse deliberativo e seu respectivo critério de desempate.

(9)

ABSTRACT

Investigation about the legal possibilities of application of §2º of Art. 1.010 of the Civil Code of 2002, within the scope of Private Limited Companies (Ltda.), as a resolution criterion for the deliberations of partners that remain tied. For the achievement of this aim, examines the elementary concepts of private limited societies, such as the notion of legal personality associated with collective entities; the main characteristics of this type of company; and successively the legal-factual assumptions necessary for the characterization of the tie in a resolution of members. Once the deliberative tie has been established, the legislative options on the topic will be decided, directing the study to the legality of the vote "per head", provided for in §2 of art. 1,010, as a decisive factor of the corporate deadlock. For the purpose of this purpose, it carries out the analysis of the legal regulation applicable to limited companies, as well as of the majority system of deliberations based on the systematic investigation of the norms that govern this type of company, always dialoguing with the legal titles of simple companies and corporations, of additional applicability. As a corollary of this analysis, it verifies the departure from the subsidiary nature attributed to the norm by virtue of art. 1.072, which brings the device within the scope of limited company rules and, consequently, gives legality to its direct impact on the resolutions of partners that remain tied. This time, it is concluded by the legality of the immediate application of §2 of art. 1,010 to the resolutions of members that remain tied, except those requiring a qualified majority quorum, regardless of the supplementary rule adopted for the limited company, with the question of the deliberative impasse and its respective tie-breaking criterion remaining sufficiently regulated.

(10)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11

2 A PERSONALIDADE JURÍDICA DA SOCIEDADE LIMITADA: CONSTRUÇÃO HISTÓRICA E CARACTERES GERAIS... 13

2.1 Personalidade jurídica... 13

2.2 Pessoa jurídica... 14

2.3 Análise comparativa entre a atividade civil e a atividade empresária... 17

2.4 Construção histórica da sociedade limitada... 22

2.5 Principais características e peculiaridade das sociedade empresarias limitadas... 23

3 DELIBERAÇÕES DE SÓCIOS NA SOCIEDADE LIMITADA... 28

3.1 Matérias que exigem deliberação formal dos sócios... 31

3.2 Formação da "vontade" através da assembleia/reunião de sócios... 32

3.3 Quóruns de deliberação na sociedade limitada... 34

4 CRITÉRIOS RESOLUTIVOS EM CASO DE EMPATE NAS DELIBERAÇÕES SOCIAIS... 39

4.1 Normatização aplicável em casos de empate... 39

4.2 O sistema majoritário, a maioria eficaz e a possibilidade de empate... 41

4.3 Vertentes teóricas para solução do empate... 43

4.4 Critério de desempate: orientação jurisprudencial.... 46

4.5 Análise propositiva na construção de um critério de solução para deliberações sociais que empatadas...... 50

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 54

(11)

11

1 - INTRODUÇÃO

No âmbito das sociedades limitadas, recai a todos os sócios o direito de deliberar sobre os negócios sociais. Além da possibilidade de outras serem enumeradas no contrato social, o Código Civil 2002 tratou de pré-estabelecer as matérias cuja competência decisória recai exclusivamente ao colegiado dos sócios. Isto é, quando se tratar de determinados assuntos, somente a assembleia ou reunião de sócios tem poderes para decidir e fazer valer esta decisão para toda a sociedade empresária.

As matérias de competência privativa das deliberações sociais estabelecidas pelo Código Civil, via de regra, são de grande importância para a determinação das diretrizes da sociedade, tanto no aspecto econômico quanto no próprio contrato social, em virtude disso, instituiu-se regras específicas para que os sócios possam deliberar sobre os destinos da sociedade.

As normas de seu capítulo próprio estabelecem que as deliberações dos sócios serão tomadas em reunião ou em assembleia, conforme previsto no contrato social, bem como que as referidas deliberações, a depender da matéria, deverão ser aprovadas por um quórum mínio necessário.

Contudo, diversamente dos títulos legais das sociedades simples e das sociedades anônimas, a legislação própria das sociedades limitadas não tratou com a devida clareza e objetividade o procedimento pertinente às situações em que se observar a formação de um quadro de empate deliberativo, as situações onde haja a paridade do poder de voto da sociedade polarizado entre aprovação e rejeição da matéria.

O tema é de acentuada relevância uma vez que, além de não encontrar consenso teórico na doutrina, tão pouco o faz na jurisprudência, causando verdadeira imprevisibilidade para as sociedades.

Igualmente, são vastos os efeitos práticos decorrentes. Uma vez que não há harmonia interpretativa quanto a regulamentação legal do empate nas sociedades limitadas, os casos reais de empate tornam-se episódios de incerteza para as sociedades, que por vezes tem o curso natural de suas atividades prejudicada em virtude do impasse irresoluto.

(12)

12

O trabalho que se pretende desenvolver adotará referenciais teóricos, o que será feito sem prejuízo da coerência entre eles. Ainda quando tidos, como fonte, autores de visões opostas, será importante que o emprego de fragmentos das respectivas propostas teóricas seja feito em consonância com as demais premissas adotadas o longo do trabalho.

Para atingir os objetivos do presente estudo, utilizar-se-á de análise bibliográfica, aproveitando conceitos e construções teóricas de diversos autores para o alcance de conclusões sólidas, enriquecendo o tema com novos problemas, novas perspectivas, mas, especialmente, com novas propostas para sua resolução.

Além da revisão da bibliografia, serão analisados igualmente precedentes jurisprudenciais do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e das Cortes Colegiadas dos demais Tribunais Estaduais.

(13)

13

2 – A PERSONALIDADE JURÍDICA DA SOCIEDADE LIMITADA: CONSTRUÇÃO HISTÓRICA E CARACTERES GERAIS

A Sociedade Limitada é pessoa jurídica de direito privado à qual o código civil confere personalidade jurídica própria para o exercício da atividade empresarial.

Este tipo societário é vastamente utilizado no cenário econômico brasileiro. Formada por dois ou mais membros, as sociedades limitadas garantem aos seus sócios limitação da responsabilidade patrimonial quanto as obrigações contraídas pela sociedade, que tem a sua constituição formal através do registro de seu contrato social na Junta Comercial em que se localize sua sede.

2.1 - Personalidade jurídica

O instituto da personalidade jurídica trata-se de qualidade atribuída a um ente para que este possa atuar material e processualmente no plano jurídico, titularizando direitos e deveres derivados de relações diversas.

Mamede (2010 p. 59) entende que, não se confundem ser humano com pessoa, uma vez que aquele é um “... conceito biológico, ao passo que o conceito de pessoa, para o Direito, indica o sujeito com capacidade de titularizar direitos e deveres”.

Personalidade Jurídica, portanto, é um conceito que expressa o reconhecimento de um ente, ou indivíduo, como “pessoa” para determinado ordenamento jurídico. A acepção jurídica do termo “pessoa” pode ser definida como sendo um sujeito suscetível de direitos e obrigações, conforme se extrai do art. 1º do vigente Código Civil1.

Sobre o tema, ULHOA (2012 p. 58) afirma que, sujeito de direito é gênero e pessoa é espécie; isso quer dizer que, nem todo sujeito de direito é pessoa, embora toda

pessoa seja sujeito de direitos. Sujeito de direitos é o titular dos interesses em sua forma jurídica, é o centro de imputação de direitos e obrigações, se referindo as normas jurídicas com a finalidade de orientar a superação de conflitos de interesses.

Segundo Pontes de Miranda (1999, p.210), é o próprio sistema jurídico que determina a quem recai este atributo jurídico da “personalidade”. Em outras palavras, o autor afirma que quem que irá definir o que se tem por “pessoa” é o ordenamento jurídico.

(14)

14

Por exemplo, nem sempre todos os homens foram pessoas, no sentido jurídico: os escravos não eram pessoas; eram tratados como se mercadoria fossem, não lhe imputando qualquer direito ou dever que não fosse o de sujeição à propriedade daquele que o comprasse. Foi a evolução social que impôs o princípio da personalidade de todos os entes humanos.

Com o desenvolvimento econômico e o avanço da complexibilidade das relações sociais exigiu-se, do direito, a construção de conceitos abstratos destinados a dar forma jurídica para a titularidade dos interesses. Surge, então, o que hoje se denomina de “Pessoa Jurídica”. (Pontes de Miranda, 1999, p.344)

Em relação às pessoas jurídicas, argumenta Mamede (2010, p. 61) que, o Direito cunhou, a partir de previsão legal, “o artifício de se permitir que o traje ou véu da personalidade jurídica fosse atribuído a entes não humanos”.

Neste contexto, a personalidade (ter capacidade de direitos, poder ser sujeito de direitos) passa a não ser mais um atributo exclusivo dos seres humanos. Assim, nem todo sujeito de direitos é necessariamente uma pessoa e nem todas as pessoas, para o direito, são necessariamente seres humanos.

O Código Civil Brasileiro, lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002, prescreve em seu artigo primeiro “Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.”.

2.2 - Pessoa Jurídica

A complexidade organizacional da sociedade impulsionou o sistema jurídico a conceber a entes não humanos o atributo da personalidade jurídica. Houve, portanto, no universo jurídico, a criação de um novo tipo de pessoa (sujeito de direitos), as pessoas jurídicas.

Diversas são as teorias que buscam analisar a real natureza deste ente denominado “pessoa jurídica”. Um dos precursores no estudo do tema surge no séc. XIX, o jurista Savigny,

segundo o qual, a pessoa jurídica seria uma “ficção”, uma criação artificial para que determinadas entidades possam exercer direitos patrimoniais.

Sobre a referida teoria, Fabio Konder Comparato e Calixto Salomão Filho (2008, p. 329) afirmam que “...a ficção é para ele [Savigny] um meio de afirmar o caráter artificial de tal atribuição, sem negar a realidade própria dos agrupamentos humanos aos quais é atribuída a personalidade jurídica”.

(15)

15

[...] a personalidade jurídica é uma ficção jurídica, cuja existência decorre da lei. É evidente que às pessoas jurídicas falta existência biológica, característica própria das pessoas naturais. Entretanto, para efeitos jurídicos e, leia-se, para facilitar a vida em sociedade, concede-se a capacidade para uma entidade puramente legal subsistir e desenvolver-se no mundo jurídico. Sua realidade, dessa forma, é social, concedendo-lhe direitos e obrigações.

Conforme Plácido e Silva (2008, p. 1038), personalidade jurídica é a:

[...] denominação propriamente dada à personalidade que se atribui ou se assegura às pessoas jurídicas, em virtude do que se investem de uma qualidade de pessoa, que as tornam suscetíveis de direitos e obrigações e com direito a uma existência própria, protegida pela lei. É, assim, uma especialização terminológica da personalidade civil para designar as pessoas constituídas por força da lei, em distinção à personalidade física, próprias às pessoas naturais.

Apesar de o Código Civil de 2002 não trazer em seu texto expressamente o conceito de pessoa jurídica, ele parece, de alguma forma, aderir à conceituação do autor do Código Civil anterior, Clovis Beviláqua, o qual preconizava que as pessoas jurídicas seriam todos os agrupamentos de indivíduos que, reunidos com uma finalidade, mostram possuir “vida própria”, distinta da dos indivíduos que os compõem, e na qual recai uma proteção particular do direito. (Clóvis Beviláqua, 1929, p.129).

A ideia de as coletividades serem reconhecidas como um ente social distinto de seus membros particulares, como dito, é uma percepção que há muito se debate no âmbito do direito. Foi esta percepção que permitiu a construção do conceito de as pessoas jurídicas serem dotadas de personalidade própria.

A análise histórica revela que a exploração de determinada atividade econômica sempre impulsionou a combinação organizada de esforços e/ou recursos coletivos, a fim de viabilizar o seu exercício. Assim sendo, deduz-se que, à esta coletividade organizada é possível conferir uma personalidade jurídica própria, diferente da de seus membros.

Esta é uma concepção deveras importante para o presente estudo, visto que, cotidianamente, no uso da linguagem informal, muito se confunde os sujeitos de direito envolvidos na constituição de uma pessoa jurídica.

Há uma grande diferença entra a pessoa natural, em sua particularidade, e a pessoa jurídica da qual aquela é membro. São seres distintos para o direito, apesar da reconhecida correlação entre os dois.

(16)

16

entes no plano jurídico.

Reforçando o que já foi dito, é necessário se estabelecer que, apesar de não se tratar de um ser biológico, a pessoa jurídica é ente completamente autônomo e independente, até mesmo dos próprios membros que a compõe. Ainda quando uma pessoa física atua sob “o manto da pessoa jurídica”, ou seja, como um representante ou um agente daquele ente coletivo, os atos praticados por ela estão em um “mundo jurídico” distinto dos seus enquanto indivíduo particular.

No que se refere ao surgimento das pessoas jurídicas no plano legal, uma vez que, diferentemente dos seres humanos, elas não são concebidas em um momento fático específico, como o nascimento biológico, o Código Civil tratou de estabelecer um marco temporal que fosse capaz de determinar o início da existência legal deste ente.

Em seu art. 45, caput2, o Código Civil precisamente define que: “a existência

legal das pessoas jurídicas de direito privado inicia-se somente a partir da inscrição do respectivo ato constitutivo no competente órgão de registro”.

Por exemplo, a pessoa jurídica a que se refere o presente estudo, a sociedade empresária limitada, tem a sua existência formalmente iniciada como sujeito autônomo, de plena capacidade civil, por ocasião do registro do seu Contrato Social na Junta Comercial3 do

Estado em que se estabelecerá.

No direito brasileiro, as pessoas jurídicas são divididas em dois grandes grupos. Pessoas jurídicas de direito público, tais como a União, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal, os Territórios, as autarquias; e pessoas jurídicas de direito privado, compreendendo todas as demais.

O Código Civil, em seu Art. 40 (primeiro artigo do Título II “Das Pessoas Jurídicas”) determina: “Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado”. E, virtude da forma e função que assumem, um grupo

diferencia-se do outro, alterando o regime jurídico a que se submetem.

Sobre o tema, Fabio Ulhôa (2016 p. 67) posiciona-se no sentido de que, as

2 Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro,[...].

(17)

17

pessoas jurídicas de direito público interno se revestem de uma posição jurídica diferenciada em razão da supremacia dos interesses que o direito as encarregou de tutelar, sendo sua criação ou extinção decorrente de lei; enquanto as de direito privado estão sujeitas a um regime jurídico caracterizado pela igualdade, e liberdade, inexistindo valoração diferenciada dos interesses defendidos por ela, bem como sendo sua instituição dada por simples iniciativa de particulares.

As pessoas jurídicas de direito privado, as quais o presente estudo volta-se mais diretamente, são assim denominadas, pois, a sua instituição, como dito, parte da iniciativa de particulares interessados, além de a sua previsão legal repousar no Art. 44 do Código Civil, que assim prevê:

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado: I - as associações;

II - as sociedades; III - as fundações.

IV - as organizações religiosas; V - os partidos políticos;

VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada.

No universo das pessoas jurídicas de direito privado, o tipo jurídico mais comum é o das Sociedades, gênero das quais a Sociedade Limitada é espécie que avulta em importância no Direito Empresarial brasileiro.

2.3 – Análise comparativa entre a atividade civil e a atividade empresária

O atual Código Civil, ao se referir à atividade exercida pelas pessoas jurídicas ou naturais, separou-as em dois grupos: as atividades empresariais e as civis, sendo estas últimas conceituadas por exclusão, como sendo as atividades “não-empresariais”.

Isso decorre de uma separação histórica que remete à Idade Média, onde as relações mercantis, buscando superar os obstáculos da descentralização política da época feudal, impulsionaram o surgimento de “regras comerciais”, oriundas da própria atividade negocial.

Nesse período de formação do Direito Comercial, surgem seus primeiros institutos jurídicos, como os contratos mercantis, as letras de câmbio, as sociedades (comendas), bem

como o que se pode chamar de uma jurisdição especial, que derroga o sistema jurídico tradicional.

(18)

18

que uma das partes de determinada relação fosse comerciante para que essa relação fosse disciplinada pelo direito comercial em detrimento dos demais “direitos” aplicáveis.

A partir daí diversas foram as fases pelas quais o Direito Comercial passou. Por exemplo, no início do séc. XIX, quando, na França napoleônica, foram editados o Código Civil e o Código Comercial. Era ali inaugurado um sistema jurídico estatal destinado a disciplinar as relações jurídico-comerciais.

Novamente concretizava-se a separação entre a atividade civil comum e a comercial. A codificação civil francesa era, fundamentalmente, um corpo de leis que atendia os interesses da nobreza fundiária, pois estava centrado no direito de propriedade. Enquanto o Código Comercial encarnava o espírito da burguesia mercantil e industrial, valorizando a riqueza mobiliária.

Diferentemente dos seus antecessores, o critério utilizado pelo Código Comercial de 1850 para delimitar sua incidência não se vinculava a quem praticava o ato, como no período feudal, mas sim ao tipo de ato praticado. Este critério foi denominado como “teoria dos atos de comércio”.

O Direito Comercial regularia, portanto, as relações jurídicas que envolvessem a prática de alguns atos definidos em lei como atos de comércio. Não envolvendo os aludidos atos, as relações jurídicas seriam regidas pelas normas do Código Civil. Durante a vigência do antigo Código Comercial Brasileiro, a competência da sua jurisdição era determinada em razão dos atos de comércio. O Código, entretanto, não definia o que seria a mercancia que

atrairia sua aplicação.

Muitos foram, entretanto, os problemas enfrentados pela teoria dos atos de comércio4 na tentativa de unificar um entendimento acerca de quais seriam os atos de

comercio. O mercado efervescendo, principalmente após a Revolução Industrial, provocava a estabilização da teoria ao apresentar diversas novas atividades econômicas relevantes todos os dias que não se encaixavam no conceito de “ato de comércio”.

Na contemporaneidade, verifica-se após a desconstrução da teoria dos atos de comércio, que firmou-se em muitos países, inclusive no Brasil, a partir da promulgação do Código Civil de 2002, a teoria da empresa, segundo a qual, as regras jurídicas do ora direito

4 Sobre o assunto SANTA CRUZ (2017): Pode-se concluir que, a exemplo do que ocorreu na Europa, a doutrina brasileira também não conseguiu atribuir um conceito unitário aos atos de comércio. Uma frase do professor Brasílio Machado, muito citada em várias obras nacionais sobre o direito comercial, resume bem o que se

pensava sobre a teoria dos atos de comércio em nosso país: “problema insolúvel para a doutrina, martírio para o

(19)

19

empresarial5 passam a incidir não mais para a figura do comerciante, ou para o ato comercial,

mas sim em função do empresário, definido na lei como sendo aquele que “exerce

profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços” (art. 966 do CC/2002).

O Código não tratou de esmiuçar devidamente alguns conceitos importantes para a definição de quem, exatamente, se enquadraria no conceito de empresário, cabendo a doutrina e a jurisprudência lapidar esta definição.

Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça, em 2004:

2. O novo Código Civil Brasileiro, em que pese não ter definido expressamente a

figura da empresa, conceituou no art. 966 o empresário como “quem exerce

profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação

de bens ou de serviços” e, ao assim proceder, propiciou ao intérprete inferir o conceito jurídico de empresa como sendo “o exercício organizado ou profissional de atividade econômica para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. 3. Por

exercício profissional da atividade econômica, elemento que integra o núcleo do conceito de empresa, há que se entender a exploração de atividade com finalidade

lucrativa. (…) (STJ, REsp 623.367/RJ, 2.ª Turma, Rel. Min. João Otávio de

Noronha, DJ 09.08.2004, p. 245).

Para melhor análise do referido conceito, destaca-se do art. 966 as noções de “profissionalismo”, “atividade econômica”, “organização” e “produção e circulação de bens ou serviços”, que serão analisados sob a ótica da aplicação do direito empresarial

Profissionalismo. Entende-se como sendo uma noção que se fragmenta em três

elementos: (1) habitualidade, ou seja, algo que não pode ser feito de modo esporádico, episódico; a (2) Impessoalidade, que se entende como o dever de contratar de mão-de-obra para a materialização da produção ou circulação de bens ou serviços; e o terceiro elemento que se desdobra dos dois iniciais, o (3) monopólio das informações, que seria o amplo conhecimento das informações acerca do produto ou serviço que oferece ao mercado.

Atividade Econômica. Extrai-se deste elemento que a empresa, portanto é uma

atividade, qual seja a produção ou circulação de bens ou serviços. A empresa, enquanto atividade, não se confunde com o sujeito de direitos que a explora, o empresário. Somente se

emprega de modo técnico o conceito de empresa quando for sinônimo de empreendimento.

Soma-se a isto a necessidade desta atividade visar o lucro para quem a explora. Portanto o empresário explora a atividade empresa com o intuito de lucratividade, sendo o lucro um

(20)

20

objetivo primordial a ser perseguido pelos empresários.

Organização. Entende-se que a atividade é organizada quando articulados, pelo

empresário, os quatro fatores de produção: capital, mão de obra, insumos e tecnologia6. São

fatores mínimos necessários para a caracterização da atividade explorada ser de natureza empresarial.

Produção ou circulação de bens ou serviços. Produção de bens trata-se da

fabricação de produtos ou mercadorias. Produção de serviços, portanto, é a prestação de serviços. A circulação, por sua vez refere-se à atividade de intermediação na cadeia de escoamento de mercadorias ou de prestação de serviços, como em agências de frete, de turismo, respectivamente.

Assim, é possível concluir que a atividade empresa, para o direito brasileiro, é entendida como aquela exercida de forma profissional, impessoal e constante, com animus lucrandi, mediante organização dos fatores de produção direcionados à circulação de bens ou

serviços.7

Empresa seria, portanto, o organismo que, através de alguns elementos ou fatores, exercita um comportamento caracterizado como atividade empresarial. Empresa é a atividade enquanto empresário é o agente que objetiva o atendimento do mercado e a obtenção de lucro. O conceito de atividade civil, por sua vez, é um conceito construído, na realidade, por exclusão. A atividade que não for de natureza empresarial, tem-se como cívica. Nesse ponto de vista, a partir da adoção da teoria da empresa, houve um significativo aumento das relações jurídicas contempladas pelas normas do direito empresarial, visto que o conceito de empresa é um conceito abstrato que comporta interpretação dinâmica quando da sua aplicação.

Entretanto, frisa-se, que a observância dos elementos anteriormente citados é obrigatória. Não se enquadram no conceito de empresário aquele que, mesmo praticando atividade econômica, a faça sem organizar uma unidade impessoal de desenvolvimento de sua atividade, por força do Art. 966, do Código.

A título de exemplo, o próprio parágrafo único do Art. 966, supracitado, traz que “não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradoressalvo se o exercício

(21)

21

da profissão constituir elemento de empresa.

Percebe-se que o parágrafo único exemplifica atividades que, mesmo quando feitas de forma profissional e organizada, não caracterizam como empresário quem as exerce, principalmente pelo fato de seres atividades personalíssimas, ou intuitu personae. São

profissões que giram em torno não do bem ou serviço oferecido, mas sim da pessoa que a exerce.

Ocorre, entretanto, que o citado dispositivo contém em sua parte final uma exceção: “salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa”.

Há muito equívoco na interpretação deste dispositivo, pois, ao contrário do que se pode pensar, o legislador não estava, neste parágrafo único, abrindo uma exceção aos profissionais cívicos para exercerem atividade empresaria, mas sim dando uma exceção aos empresários, para que estes não tenham sua atividade descaracterizada unicamente por explorarem uma destas atividades.

Nesse contexto, entende-se por elemento de empresa a profissão que, mesmo possuindo o caráter civil (pessoalidade), podem ser exploradas pelo empresário quando exercida dentro de um contexto empresarial, se forma secundária.

A profissão continua tendo sua natureza civil, mas não por isso descaracteriza aquele que a explora como sendo empresário. Isso se dá porque, enquanto elemento de empresa, quem explora aquela profissão buscando o lucro, é o empresário, e não o profissional que diretamente a exerce, sendo este, geralmente, um empregado do empresário.

Isto posto, quando se trata dos tipos de pessoas jurídicas que exercem atividade empresarial, o estudo volta-se às sociedades EIRELI8, uma vez que são únicas espécies de

pessoa jurídica de direito privado que possuem como característica o escopo negocial, a finalidade lucrativa.

Lembrando que o Empresário individual atua em nome da pessoa física natural. Não há uma personalidade jurídica nova após sua inscrição, apenas é gerado um número de CNPJ que serve para fins fiscais ou tributários.

Assim, dentre as sociedades, existem os tipos: (i) Sociedade em nome coletivo; (ii) Sociedade em comandita simples; (iii) sociedade limitada; (iv) Sociedade em comandita

(22)

22

por ações; e (v) sociedade anônima ou companhia. Das quais irá se direcionar o presente estudo às Sociedades Limitadas.

2.4– Construção histórica da sociedade limitada

A sociedade limitada tem seu antecedente histórico nas private companies,

vigentes no direito inglês à época das expansões comercias proporcionada pela Revolução Industrial e da política colonialista.9(Modesto Carvalhosa ,2005 p.36).

Para o mesmo autor Modesto Carvalhosa (2005, p. 37), o surgimento das private companies estaria associado a expansão comercial gerada com a Revolução Industrial e a

política colonialista inglesa, que encontrou, dentro da liberdade permitida pela common law,

este modelo como possibilidade de conceder aos médios e pequenos mercadores as prerrogativas da limitação de responsabilidade, sem lhes imputar o ônus burocrático das Sociedades Anônimas.

Somente no final do século XIX, na Alemanha, inspirada no sucesso das privates companies inglesas, que surgiu a primeira iniciativa legislativa no sentido de criar uma nova

espécie de sociedade comercial que harmonizasse a contratualidade das sociedades de pessoas com a limitação de responsabilidade das sociedades anônimas.

Sobre tema, André Santa Cruz (2017, p 227 e 338), evidencia que, à época, os pequenos e médios empreendedores careciam de um novo modelo de sociedade que lhes concedesse a flexibilidade contratual, própria das sociedades de pessoas, e a limitação da responsabilidade patrimonial, particularidade restrita às sociedades anônimas.

Nenhum dos modelos societários supracitados atendiam às demandas destes médios e pequenos comerciantes dado que o regime das companhias impunha rigores formais que as tornava custosas e burocráticas, enquanto as sociedades de pessoas colocavam em risco o patrimônio pessoal e familiar dos investidores.

Percebe-se que, ao contrário do que ocorreu com os demais tipos societários, que tiveram seu surgimento em decorrência da evolução de práticas comerciais precedentes as disciplinas normativas, as sociedades limitadas foram criadas pela inventividade, ou inovação, legislativa, que, por meio de um novo tipo societário, buscou viabilizar e incentivar tendências econômicas da época.

(23)

23

No Brasil, o primeiro arrojo de regulação desta nova espécie societária se deu no projeto de Código Comercial de 1912. Entretanto, pela demasiada demora de tramitação deste projeto, por uma iniciativa legislativa paralela, destacou-se a parte específica do código em trâmite que tratava das denominadas “sociedades por quotas de responsabilidade limitada”, para a promulgação do Decreto nº 3.70810 de 1919, que ficou posteriormente conhecido como

“Lei das Limitadas”, contendo apenas 18 artigos.

O tipo societário conjugava exatamente as características essenciais das atuais sociedades limitadas, a contratualidade e a limitação de responsabilidade patrimonial dos sócios. Em seu último dispositivo, o título legal determinava a aplicação subsidiária da lei de sociedades anônimas.

Esse modelo híbrido adotado pelo legislador brasileiro ainda foi alvo de muitas críticas da doutrina da época por sua suposta falta de profundidade doutrinaria e de técnica legislativa11, visto a concisão da lei.

Conforme aduz Rubens Requião (2005. p.404 e 405), entretanto, foi juntamente este laconismo legal que que permitiu a proliferação deste modelo societário, permitindo, aos sócios, flexibilidade para moldar a sociedade segundo seus interesses, através do contrato social.

O formato jurídico das sociedades por quotas de responsabilidade limitada foi muito bem recepcionado pelas economias de vários países, incluindo a do Brasil. Hoje, em nossa pátria, este formato jurídico já representa mais de 90% (noventa por cento) das sociedades empresarias registradas nas juntas comerciais e, mesmo após uma série de evoluções legislativas e mudanças jurisdicionais, a essência das Sociedades Limitadas sofreu poucas alterações, preservando seus principais elementos, que serão melhor abordadas no tópico subsequente.

2.5 – Principais características e peculiaridades das sociedades empresárias limitadas

O atual Código Civil deu nova roupagem às sociedades limitadas, outrora denominadas “sociedades por quotas de responsabilidade limitada”12. Trouxe em seus

10 ONLINE. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/antigos/d3708.htm> acessado em 17/05/2018.

11 Sobre o tema: TEIXEIRA, Egberto Lacerda . Sociedades limitadas e anônimas no direito brasileiro: estudo

comparativo. São Paulo. Editora Saraiva. 1987. p. 8 e 9.

12 Sobre o tema, Modesto Carvalhosa (2005, qual a p. 38) “Com a expressão sociedade por quotas de

(24)

24

dispositivos diversas adaptações para atender a exigências que se fizeram sentir na vigência do Decreto nº. 3.708/19, pelo seu criticado laconismo, procurando, dar à sociedade limitada autonomia e estrutura própria, como tipo societário único, disciplinando com maior minúcia a sua criação e funcionamento, em prol de maior segurança jurídica para os que com ela lidam (Sylvio Marcondes, p. 22).

Regulada pelos arts. 1052 ao 1.087 do Código Civil de 2002, as sociedades limitadas apresentam como características:

Legislação aplicável. As Sociedades limitadas são reguladas primordialmente

pelo Código Civil, possuindo um capítulo próprio destinado ao seu tipo societário, (arts 1052 a 1.087). Ainda assim, este intervalo de 35 (trinta e cinco) artigos não disciplina suficientemente a imensa gama de questões jurídicas relativas ao tipo societário, optando o legislador por expressamente indicar a aplicabilidade subsidiária de outras disposições legais complementares.

Logo no início do capítulo “da Sociedade Limitada”, estabelece o Art 1.053 que, nas omissões daquele capítulo aplicam-se as disposições pertinentes às sociedades simples, naquilo em que forem compatíveis. A Sociedade simples tem sua previsão igualmente expressa no CC/02, entre os Arts. 997 a 1.038.

Nada obstante, tendo em vista a ampla utilização do tipo societário, não mais apenas no cenário do pequeno e médio empreendedor, conforme disposto no parágrafo único do mesmo Art. 1.053, entendeu o legislador que, caso assim dispusessem expressamente os sócios no contrato social, se poderia estipular a aplicação subsidiária da lei das sociedades anônimas (lei nº 6.404/76), em detrimento das normas da sociedade simples.

Portanto, as sociedades limitadas possuem regulamentação própria, repousante no Código Civil de 2002, sendo esta regulamentação subsidiariamente complementada, naquilo em que for omissa, pelas disposições relativas às sociedades simples, como regra, ou pela lei das sociedades anônimas, quando assim expressamente facultar os sócios no contrato social.

Contratualidade O Código Civil Brasileiro, em seu art. 981, estabelece que

“celebram o contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, sociedade, pois, sendo ela pessoa jurídica e titular de direitos e obrigações, respondia sempre ilimitadamente,

com todo o seu patrimônio, pelas dívidas e pelas perdas sociais. Na verdade, a expressão sociedade por quotas de responsabilidade limitada era usada para designar aquelas sociedades em que existia a limitação da

responsabilidade dos sócios a um determinado valor, em razão da adoção do tipo societário especificamente

(25)

25

com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados”.

As Sociedades contratuais surgem a partir da inscrição de um contrato de sociedade no órgão de registro competente, a partir de quando os contratantes passam a adquirir a condição de sócios uns dos outros, assumindo obrigações e faculdades entre si.

Sobre o tema, Gladston Mamede (2013 p. 30) leciona que o contrato social regula a constituição de uma sociedade, devendo trazer em suas disposições os requisitos gerais para a constituição de uma pessoa jurídica de direito privado (Art. 46), cominado com os requisitos específicos das sociedades contratuais (Art. 997), e os demais dispositivos aplicáveis a espécie. Suas normas devem estabelecer a forma com que será regida a sociedade, obedecidos o estabelecido em lei.

Uma das principais características das sociedades contratuais está justamente na liberdade dada pela lei a estes entes para que se concentre na vontade dos sócios a forma com que serão regidas as relações entre eles. O Código Civil se reserva a traçar elementos essenciais à natureza de cada tipo societário, dando flexibilidade aos contratos sociais para que se adequem caso a caso para a peculiaridade de cada nova sociedade que surja.

As Sociedades limitadas são consideradas sociedades contratuais em virtude de sua constituição e regramento se dar justamente por meio de um contrato social.

Para alguns doutrinadores, este tipo de contrato seria uma espécie do gênero “contrato plurilateral” (Santa Cruz 2017 p 340) No contrato plurilateral todas as partes são titulares de direitos e obrigações para com todos os seus componentes, devendo as prestações dos contratantes serem direcionadas a um beneficiário comum, o qual seja no presente caso, a sociedade. É característico dos contratos plurilaterais a existência de uma finalidade comum.

Limite da responsabilidade. Estipula o Art. 1.052 do CCB/2002: “Na sociedade

limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social ”.

De início, é importante deixar claro que a sociedade limitada, enquanto pessoa jurídica dotada de personalidade própria, responde pelas obrigações por si contraídas

ilimitadamente. O benefício da limitação da responsabilidade, em verdade, recai sobre os seus

sócios, que somente respondem pelas obrigações da sociedade, até determinado limite, uma

vez arquivada sua constituição na Junta Comercial competente.

(26)

26

montante. Este compromisso assumido pelo sócio em contribuir para formação do capital social se denomina de subscrição das quotas13.

As quotas são como peças de um mosaico. Cada uma representa parte do valor total do capital social (como se o seu valor cheio fosse divido em porções menores). Ao somar o valor de cada quota, se obtém o valor do próprio capital social.

Mesmo que determinado sócio se comprometa a contribuir com apenas 1% (um por cento) daquele valor total, conforme se extrai do artigo acima mencionado, os sócios, na limitada, têm responsabilidade solidáriapela integralização do capital social.

A integralização, nada mais é do que o cumprimento do compromisso assumido na subscrição, qual seja: contribuir para a formação do capital da sociedade.

Portanto, independentemente do valor que o empresário se comprometa a integralizar, ele ainda assim é responsável por garantir a integralização de seus sócios em caso de descumprimento por parte destes.

Isso quer dizer que, a responsabilidade patrimonial de um sócio, na sociedade limitada, inicialmente, corresponde ao valor de suas quotas representativas do capital social, sendo, o limite desta responsabilidade, o montante correspondente ao valor integral do capital social, uma vez que recai solidariamente a todos os sócios a obrigação de integraliza-lo.

Dessa forma, a personalização da sociedade limitada implica a separação patrimonial entre a pessoa jurídica e seus membros. Se o capital social está totalmente integralizado, os sócios não têm nenhuma responsabilidade pelas obrigações sociais, uma vez que já cumpriram com a obrigação que lhes era incumbida. Vindo a falir a sociedade, e sendo insuficiente o patrimônio social para liquidação do passivo, a perda será suportada pelos credores.

Vale lembrar que, a lei, buscando evitar o abuso da personalidade jurídica, excepcionalmente permite que esta limitação da responsabilidade patrimonial seja desconsiderada para efeitos de cumprimento de certas e determinadas obrigações, caso em que responderão os sócios e/ou administradores da pessoa jurídica com seus bens particulares (vide art. 50 CC/02).

Formação do capital social. O Código Civil Brasileiro, em seu art. 1.055,

estabelece que: “Art. 1.055. O capital social divide-se em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio”.

(27)

27

O capital social é o valor exato do montante de recursos que os sócios destinam,

de seu patrimônio pessoal, para formação do patrimônio da sociedade, sendo vedada a contribuição que consista em prestação de serviços.

Ressalta-se que a sociedade se torna credora do valor que o sócio se comprometeu

a destinar a formação deste capital social, caso não o integralize, seja por ocasião de sua

constituição, seja por futuro aumento deste capital social.

As quotas são as unidades em que se divide o capital social, podendo estas serem iguais ou desiguais. Elas são compreendidas pela doutrina como um direito que possui duas perspectivas: uma perspectiva patrimonial e outra pessoal. Na primeira perspectiva as quotas são entendidas como um crédito em benefício do sócio que a detém relativo à percepção de lucros da sociedade ou na eventual partilha de massa falida. Na segunda perspectiva são elas entendidas como uma série de direitos inerentes à qualidade de sócio. (Modesto Carvalhosa, 2005 p. 74)

A atribuição de uma ou mais quotas à titularidade de um sócio ocorre à medida em que este subscreve e as integraliza, seja na constituição da sociedade, seja em operação de aumento de capital social.

O somatório das quotas de um sócio irá espelhar a porcentagem de participação deste na formação do capital social da sociedade, sendo esta proporção equivalente ao poder de voto deste sócio nas deliberações sociais.

Uma das características nas sociedades limitadas é a relação direta entre a

(28)

28

3. DELIBERAÇÕES DE SÓCIOS NA SOCIEDADE LIMITADA

Deliberar significa refletir, ponderar, decidir-se, resolver-se, refletir14. É o ato de

tomar uma decisão após pensar, analisar ou refletir. Uma vez que possuem personalidade jurídica própria, as decisões tomadas pela sociedade, e sua subsequente realização, gera efeitos (direitos e deveres) que são exclusivamente a ela imputados.

Porém, diferentemente das pessoas naturais, a pessoa jurídica não é um ser biológico dotado de um sistema sináptico ou algo semelhante a consciência humana. O seu processo de formação da “vontade”; a sua “tomada de decisão”, segue um procedimento próprio, formal e legalmente estabelecido.

Não se busca aqui tratar das decisões habituais ao desenvolvimento da atividade empresária, as quais são, geralmente, tomadas sem maiores formalidades pelos administradores. Via de regra, o contrato social concede aos administradores poderes para que, em nome da sociedade15, tomem decisões relacionadas ao exercício das atividades de

gerencia, de matriz meramente organizacional ou executiva; enfim, atos que possuem menor envergadura, e que não acarretariam substanciais impactos à sociedade ou aos sócios.

A análise a que se volta o presente estudo diz respeito àquelas decisões que são tomadas em sede se assembleia/reunião de sócios; decisões geralmente carregadas de grande relevância e imprescindibilidade, essenciais às finalidades da sociedade empresária.

A existência de um órgão deliberativo, na sociedade limitada, próprio para o exercício do direito de voz e voto pelos sócios é uma inovação trazia pelo Código Civil de 2002, visto que o Decreto nº 3.708/19 era omisso a respeito desta disciplina. Esta inovação veio justamente pela proporção que as limitadas haviam ocupado no cenário econômico, sendo contemporaneamente usual a existência de sociedades limitadas de grande porte, e com vasto número de sócios.

Segundo Gladston Mamede (2013 p. 107), as deliberações que sejam tomadas em conformidade com a lei e o contrato social, em reunião ou em assembleia, vinculam todos os sócios, ainda que ausentes, desde que não tenha havido falha na convocação. Vinculam, até, os sócios que se abstiveram de votar e aqueles que votaram em sentido diverso (artigo 1.072, § 5º). Interpretam-se, portanto, como deliberação da coletividade social e, como tal, da sociedade.

14Disponível em: ‹https://dicionariodoaurelio.com/deliberar›. Acesso em: 19 abril. 2018

(29)

29

O Código Civil regulamenta as diretrizes procedimentais para a validade da decisão tomada pelos sócios em uma sociedade limitada, regulamentando o mecanismo decisório desde a competência para convocação de uma assembleia, como as formalidades de publicação desta convocação, até o desenrolar desta; prevendo sua forma e os quóruns necessários.

O funcionamento da assembleia deve observar rituais específicos destinados a garantir o exercício do direito de voz e voto a todos os sócios presentes. Ao término dos trabalhos, é redigida ata, que reproduz com fidelidade o ocorrido, com as votações manifestadas e deliberações decorrentes.

Importante ressaltar que, em respeito ao princípio da contratualidade, que rege as sociedades limitadas, apesar de todo o esforço no sentido de estabelecer formalidades necessárias para as deliberações, em seu Art. 1.072 e 1.079, faculta aos sócios a adoção de procedimento distinto, conforme se observa:

Art. 1.072. As deliberações dos sócios, obedecido o disposto no art. 1.01016, serão tomadas em reunião ou em assembleia, conforme previsto no contrato social, (...).

§ 1o A deliberação em assembléia será obrigatória se o número dos sócios for superior a dez.

§ 2o Dispensam-se as formalidades de convocação previstas no § 3o do art. 1.152, quando todos os sócios comparecerem ou se declararem, por escrito, cientes do local, data, hora e ordem do dia.

§ 3o A reunião ou a assembleia tornam-se dispensáveis quando todos os sócios decidirem, por escrito, sobre a matéria que seria objeto delas. (...)

Art. 1.079. Aplica-se às reuniões dos sócios, nos casos omissos no contrato, o estabelecido nesta Seção sobre a assembléia, obedecido o disposto no § 1o do art. 1.072.

Percebe-se que, tendo a sociedade dez ou menos sócios, permite o Código que o processo decisório sobre as matérias indicadas se dê em reunião de sócios ao invés de assembleia, conceitos que não são sinônimos para o direito.

Sobre o tema André Santa Cruz (2017 p.362) afirma que o órgão específico responsável pela tomada das deliberações sociais é a assembleia dos sócios. Todavia, o Código Civil trouxe, nessa matéria, uma interessante regra: nas sociedades limitadas menores,

16Art. 1.010. Quando, por lei ou pelo contrato social, competir aos sócios decidir sobre os negócios da sociedade, as

deliberações serão tomadas por maioria de votos, contados segundo o valor das quotas de cada um. § 1o Para formação da maioria absoluta são necessários votos correspondentes a mais de metade do capital.

§ 2o Prevalece a decisão sufragada por maior número de sócios no caso de empate, e, se este persistir, decidirá o juiz.

§ 3o Responde por perdas e danos o sócio que, tendo em alguma operação interesse contrário ao da sociedade, participar da

(30)

30

de até 10 sócios, o regime de assembleia pode ser substituído pelo de reunião de sócios. A diferença entre as duas modalidades de conclave decisório não está só na designação. Enquanto o rito das assembleias tem o seu procedimento pré-estabelecido em lei,

as reuniões de sócios podem ser mais livremente regulamentadas pelo Contrato Social. O art.

1.079 diz que as normas sobre a assembleia somente se aplicam às reuniões, nas omissões do contrato social, entendendo-se que o Contrato Social é livre para dispor sobre quesitos como modalidade de convocação, por exemplo.

O mesmo Santa Cruz (2017 p.362) informa que:

A grande diferença entre a assembleia e a reunião está no procedimento. Aquela segue rito mais solene, com o próprio Código ditando suas regras procedimentais. Esta, por sua vez, tem rito mais simplificado, cabendo aos sócios, no contrato social, estabelecer os detalhes de seu procedimento.

Isso quer dizer que, caso seja a vontade dos sócios tecer disposições diversas acerca do procedimento deliberativo na sociedade em que sejam membro, sua vontade pode preponderar desde que esta seja composta por até dez sócios.

A título de exemplo, pode o contrato social estipular que a convocação das reuniões será feita por meio de mensagem eletrônica com confirmação de recebimento, como pelo aplicativo “whatsapp”, ou e-mail, não sendo necessário proceder com publicações em jornais ou notificações extrajudiciais.

Independentemente da forma deliberativo, assembleia ou reunião, o Código Civil permite que ambas sejam substituídas por documento escrito onde se explicite a deliberação adotada, desde que assinado pela unanimidade dos sócios17 (art. 1.072 §3º). Isto é, não será

necessário que se registre uma ata sobre a assembleia ou reunião que tenha aprovado determinada matéria, como uma alteração no contrato social, por exemplo; bastará que todos os sócios assinem documento escrito que formalize o consenso.

Buscou-se, dessa forma, não impor um procedimento custoso ou burocrático para a sociedade quando se constate haver consenso entre todos os sócios relativamente à uma matéria.

(31)

31

A ata da assembleia, ou da reunião de sócios, assim como o documento assinado pela unanimidade destes, deve ser levado a registro na Junta Comercial competente para que gere todos os seus efeitos legais.18

3.1 Matérias que exigem deliberação formal dos sócios

O legislador, visualizando matérias que seriam significativas em uma sociedade limitada, impôs que lhes fosse direcionada especial atenção, tornando obrigatório um posicionamento formal dos sócios a respeito do referido tema.

O Art. 1.071 do atual Código Civil, primeiro dos dispositivos que tratam sobre a deliberação dos sócios na sociedade limitadas, de imediato, já estabelece uma lista de matérias cuja competência decisória é privativa aos sócios.

Quando, por força de lei ou do contrato social, compete aos sócios deliberarem em assembleia ou reunião acerca de determinada matéria, apenas estes poderão decidir o posicionamento da sociedade acerca do tema. São matérias envoltas de uma competência não pode ser delegada a outro órgão da sociedade.

Importante destacar que, segundo Modesto Carvalhosa (2005 p. 136) a medida em que a comunhão dos sócios não pode delegar sua competência à administração, não pode ela praticar atos de competência exclusiva desta última, assim, adota o Código Civil de 2002, no tocante às sociedades limitadas, o regime de distribuição e separação de competências.

A título de exemplo, o Art. 1.071 elenca algumas destas matérias:

Art. 1.071. Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no contrato:

I - a aprovação das contas da administração;

II - a designação dos administradores, quando feita em ato separado; III - a destituição dos administradores;

IV - o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato; V - a modificação do contrato social;

VI - a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação;

VII - a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas; VIII - o pedido de concordata.

André Santa Cruz (2017 p.363) traz, em sua obra, didático quadro sobre as deliberações dos sócios na LTDA:

18Sobre Mircro e Pequenas Empresas, Fabio Ulhôa (2016 p.94): Quando a sociedade limitada é Microempresária ou

(32)

32

Ressalta-se, o Art. 1.071 enumera as matérias de competência exclusiva da deliberação dos sócios de forma exemplificativa, ou seja, não exaustiva. O próprio caput do

artigo expressamente prevê a possibilidade de o contrato social estipular outras matérias de competência privativa.

O Código Civil de 2002 permite que cada sociedade, dentro de sua peculiaridade e singularidade, restrinja ao seu órgão deliberativo máximo, a assembleia/reunião de sócios, as matérias que julgue necessária (outra consequência da contratualidade das sociedades

limitadas).

3.2Formação da "vontade" através da assembleia ou reunião de sócios

A sociedade limitada regular é uma pessoa jurídica e como tal é dotada de uma vontade própria, corolário da sua personalidade jurídica. A formação desta vontade própria ocorre através de seus órgãos deliberativos (administração, conselho fiscal, assembleia/reunião de sócios, etc.).

São designadas à assembleia ou reunião de sócios, objeto do presente estudo, aquelas matérias dotadas de maior relevância para a sociedadepor exemplo, a aprovação de contas, modificações do contrato, fusões, nomeação de administradores e fixação de sua remuneração, dentre outras.

Nestes casos, como é habitual dos entes coletivos, nem sempre existirá o consenso unânime dos sócios acerca de todas as matérias; divergências de opinião quotidianamente se fazem presentes nas deliberações sociais19 e é justamente por este motivo, a exteriorização da

(33)

33

vontade da sociedade, via de regra, não exige a concordância universal.

O Código Civil de 2002 não tratou apenas de elencar as matérias de competência privativa à assembleia de sócios, de igual forma, foram pré-estabelecidos quóruns necessário à instalação da assembleia, aprovação ou rejeição da matéria posta à deliberação.

Destaca-se que, antes de adentrar no mérito das deliberações, para que sejam considerados válidos os trabalhos assembleares, um número mínimo de sócios deve fazer-se presente ou estar representado no conclave. De acordo com o art. 1.074 do CC/02, a assembleia dos sócios somente se estabelecerá com a presença, em primeira convocação, de titulares de no mínimo três quartos do capital social, e, em segunda, com qualquer número.

Mesmo sob a forma de reunião de sócios, caso não seja estipulado diferente

disposição acerca do tema, por força do Art. 1.079, o presente quórum para instalação deverá ser observado. É o que se denomina por quórum de instalação, requisito de observância

preliminar às deliberações para a validade destas.

Uma vez observadas as formalidades de instalação, nas deliberações sociais ou “dos sócios”, todos aqueles titulares de quotas representativas do capital social têm poder de voto. É um direito inerente à titularidade de uma quota, e consequentemente à condição de sócio. Não existe, na sociedade limitada, sócio que não seja detentor do direito de voto.

O exercício deste poder de voto poderá ser efetivado pessoalmente ou por meio de procuração, desde que outorgada a outro sócio ou a um advogado. Uma vez feito, o voto do sócio é contabilizado de acordo com o número de suas quotas representativas do capital social.

Modesto Carvalhosa (2005, p.177) leciona que, estabelecida a maioria eficaz, esta traduz, nos limites da lei e do contrato social, a vontade da comunhão dos sócios e, consequentemente, a vontade social. Segundo o doutrinador, é por meio das deliberações majoritariamente válidas, tomadas na reunião ou assembleia, que a sociedade encontra a forma de expressar a sua vontade.

Modesto Carvalhosa (2005, p.177) ainda elucida que o Código Civil de 2002 dá uma contribuição relevante ao regime de relações entre os sócios e a definição da vontade social, que passa a ser regida, agora, por (1) força de lei, (2) pelo regime da comunhão, no qual prevalece a vontade majoritária.

(34)

34

3.3 - Quóruns de deliberação na sociedade limitada

Segundo Fabio Ulhôa (2012 p.539), “o estabelecimento de quórum deliberativo

não é incompatível com o direito de participar das decisões sociais titularizado pelos sócios. Esse é um direito relativo, dependente da extensão da sua contribuição dada à sociedade”.

O poder de voto de um sócio é considerado sob a perspectiva da sua contribuição dada na formação do capital social, a qual é expressada em quotas. Quanto mais o sócio contribuiu para o capital social, maior é o seu poder de influir nos negócios da sociedade.

O número de quotas que determinado sócio possui, isoladamente, não lhe concede mais ou menos poder, mas sim a porcentagem que estas quotas representam do valor absoluto do capital social da sociedade.

O mesmo Fabio Ulhôa (2012 p.532) afirma:

A extensão do direito de participar das deliberações sociais é proporcional à quota do sócio no capital social. Desse modo, embora os sócios devam ser consultados nas decisões mais importantes da sociedade, nem todos têm condições de influir, com sua vontade ou entendimento, no conteúdo destas.

O estabelecimento de um quórum de deliberação baseado nas quotas, busca

estabelecer uma condição de aprovação vinculada ao investimento aportado na sociedade. Quem aportou mais recursos no capital social corre risco empresarial maior que o minoritário, e consequentemente detém mais poder de voto.

Dessa forma, o Código Civil de 2002 estabeleceu quóruns para qualquer matéria

que venha a ser objeto de assembleia ou reunião de sócios. Salvo as previsões legais especificas e as estipulações porventura elencados no contrato social, a regra geral é a da prevalência da vontade da maioria, computada segundo a participação de cada sócio.

Combinado com o Art. 1.071, que estabelece as matérias de competência privativa às deliberações dos sócios, o art. 1.076 elenca a maioria dos quóruns aplicados às sociedades

limitadas, conforme segue:

Art. 1.076. Ressalvado o disposto no art. 1.061 e no § 1o do art. 1.063, as deliberações dos sócios serão tomadas:

I - pelos votos correspondentes, no mínimo, a três quartos do capital social, nos casos previstos nos incisos V e VI do art. 1.071;

(35)

35

III - pela maioria de votos dos presentes, nos demais casos previstos na lei ou no contrato, se este não exigir maioria mais elevada. (grifou-se)

Conforme se observa, o próprio artigo faz referência a dois artigos que variam estes quóruns estabelecidos, o Art. 1.061 e o Art. 1.063, §1º, que trazem:

Art. 1.061. A designação de administradores não sócios dependerá de aprovação da

unanimidade dos sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, e de 2/3 (dois terços), no mínimo, após a integralização. (Grifou-se)

Art. 1.063. (...).

§1o Tratando-se de sócio nomeado administrador no contrato, sua destituição somente se opera pela aprovação de titulares de quotas correspondentes, no mínimo, a dois terços do capital social, salvo disposição contratual diversa. (Grifou-se)

Além dos expressamente previsto no capítulo das sociedades limitadas, há o artigo geral das deliberações sociais, previsto por remissão no art. 1.072, considerado como sendo aquele que consagra o sistema majoritário nas sociedades limitadas, o caput do art. 1.010,

transcrito abaixo:

Art. 1.010. Quando, por lei ou pelo contrato social, competir aos sócios decidir sobre os negócios da sociedade, as deliberações serão tomadas por maioria de votos, contados segundo o valor das quotas de cada um.

Resumidamente, existem 5(cinco) quóruns legalmente definidos, sendo, do total, 4 específicos e 1 geral. Em uma listagem escalonada dos quóruns, tem-se: (1) unanimidade dos sócios; (2) três quartos do capital social; (3) dois terços do capital social; (4) mais de metade do capital social; e (5) maioria de votos dos presentes.

Unanimidade dos sócios. Exige-se a concordância unanime dos sócios nas

hipóteses de nomeação de administrador não sócio, caso o capital não esteja integralizado. Esta situação única de unanimidade faz sentido posto que até a integralização do capital social, respondem os sócios com seu patrimônio pessoal até aquele limite.

Três quartos do capital social. O quórum de 3/4 é aplicado em matérias sensíveis,

como alteração do contrato social, incorporação, fusão, dissolução da sociedade ou cessação da liquidação. Trata-se de um dos quóruns mais importantes para as sociedades limitadas, haja vista tratar das alterações das cláusulas do contrato social que irão reger toda a sociedade, hipoteticamente, impondo à minoria de 1/4 (ou 25%) do capital social as alterações aprovadas.

Dois terços do capital social. Este quórum tem sua aplicação em casos específicos

Referências

Documentos relacionados

Porém, a partir dos meados do século XIV, e até antes para algumas regiões como o Baixo-Alentejo ou o concelho de Santarém, medidas defensivas, procurando conservar as matas para

No Estado do Pará as seguintes potencialidades são observadas a partir do processo de descentralização da gestão florestal: i desenvolvimento da política florestal estadual; ii

No primeiro, destacam-se as percepções que as cuidadoras possuem sobre o hospital psiquiátrico e os cuidados com seus familiares durante o internamento; no segundo, evidencia-se

The presence of cellulose acetate contributed considerably to the increase of specific surface area in carbonized samples comparing with HPC derived samples.

Afastamento da sala de audiências: reflete a sensibilidade dos juízes quanto ao impacto das condições físicas, sobretudo das características austeras da sala da audiência de

O desafio apresentado para o componente de Comunicação e Percepção Pública do projeto LAC-Biosafety foi estruturar uma comunicação estratégica que fortalecesse a percep- ção

Médias seguidas da mesma letra minúscula, em cada agrupamento de colunas, não diferem entre si pelo teste de Tukey 5% de probabilidade.. Médias mm do teste de comprimento das

Bom, eu penso que no contexto do livro ele traz muito do que é viver essa vida no sertão, e ele traz isso com muitos detalhes, que tanto as pessoas se juntam ao grupo para