INTERESSADO MANTENEDORA UF
Universidade de Sao Paulo
ASSUNTO
Autorização de funcionamento e reconhecimento de Cursos nos ter
mos do art. 104, da Lei nº 4.024/61.
RELATOR: SR CONS Jorge Nagle
CÂMARA OU COMISSÃO PARECER nº 143-94
CESu
APROVADO EM 22/02/94
I - Relatório PROCESSO 23001.000311/93-64 0 Magnífico Reitor da Universidade de Sao Paulo
encaminha a este Conselho pedido de "autorização de funcionamento e reconhecimento" dos Cursos Cooperativos de Engenharia de Produção, Engenharia Química e Engenharia de Computação, organizados com base no art. 104, da Lei nº 4.024/61, e ministrados pela Escola Politécnica da referida Universidade, no m u n i c í p i o de Cubatão/SP.
Assim se manifesta o Magnífico Reitor: "A criação desses cursos cooperativos foi aprovada pelo Conselho Universitário, em sessão de 28 de Junho de 1988, nos termos do artigo 11, Inciso V, do Regimento Geral da Universidade. Cumpre- me esclarecer a V. Exa. que a Universidade deixou de solicitar
autorização de funcionamento dos cursos na época oportuna, porque a equipe que então assessorava a Reitoria entendeu que os cursos não se enquadravam no artigo 104 da Lei 4024/61, já que a USP ministrava no campus de São Paulo cursos equivalentes, devidamente reconhecidos. Na atual gestão, no entanto, entendeu- se que as diferenças de currículo e estrutura didática dos cursos cooperativos não permitem seu enquadramento na jurisprudência firmada pelo CFE, sobre a dispensa de reconhecimento de cursos que funcionam fora de sede quando são semelhantes ao curso matriz."
E acrescenta: "Os cursos cooperativos vêm funcionando desde 1989, em instalações providenciadas pela Prefeitura do Município de Cubatão. Pelas suas características
inovadoras, constituem-se em experiência educacional de grande alcance, sobretudo no que respeita às novas propostas de entrosamento entre o ensino de engenharia e a atividade produtiva."
M
INISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURACONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO
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Deste Conselho, o pedido foi encaminhado para a Secretaria de Ensino Superior do MEC, para que fosse providenciada a Comissão Verificadora de praxe, atendendo sugestão da CAE/CFE. Por sua vez, a Chefia da DÜES/SESu/MEC devolve o processo para este Colegiado, para que se pronuncie sobre o enquadramento da solicitação no art. 104, da Lei nº 4.024/61.
11 - Parecer
Nesta altura da vida educacional brasileira, não é o caso de se considerar cessados os efeitos da norma constante do art. 104 da Lei nº 4.024/61, que permite organizar cursos ou escolas experimentais desde que se trate de currículos, métodos e períodos escolares próprios?
A v i d a educacional brasileira mudou muito nesses mais de trinta anos. Embora, talvez se possa aceitar a solução chamada experimental na hipótese de existir determinadas alterações curriculares no ensino superior, fica d i f í c i l aceitá-la quando se trata de período escolar próprio - soa ridículo, hoje em dia, atribuir caráter "experimental" a mudanças metodológicas. De qualquer modo, a menção do art. 104 não deve impedir uma destacada referência ao art. 12 da mesma Lei nº 4.024/61, pois determina que "Os sistemas de ensino atenderão à variedade dos cursos, à f l e x i b i l i d a d e dos currículos (...)".
Ocorre, por sua vez, que a legislação educacional, de ensino superior, também mudou muito. Assim, a Lei nº 5.540/68 estabeleceu que uma das características da organização universitária consiste na f l e x i b i l i d a d e de métodos e de critérios, para ajustamento a variados contextos (art. 11, letra f); consigna a organização de cursos para profissões ainda não reguladas em lei, tanto para Universidades como para estabelecimentos isolados, igualmente com o objetivo de ajustamento a contextos especiais (art. 18); na mesma direção, e quanto aos cursos profissionais, propõe nova abertura quando prescreve que tais cursos poderão apresentar modalidades diferentes, seja em relação ao número, seja em relação à duração (art. 23). Acrescente-se, a tudo isso, o caput do art. 2º e seu § 1º, do Decreto-lei nº 464/69, em que o legislador continua a reforçar a necessidade de ajustamento da escola superior a situações de mercado de trabalho e às necessidades do desenvolvimento nacional e regional, além de prestigiar iniciativas de alto padrão, para as quais não cabem os requisitos até então especificados para a criação de cursos.
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Análise dos próprios Cursos Cooperativos da Escola Politécnica/USP, por sua vez, mostra que tais cursos apresentam características inovadoras importantes, particularmente pelas propostas de entrosamento do curso com a atividade produtiva, porém, diferentemente do que vem ocorrendo com os cursos de Engenharia do país. Esse entrosamento é programado de acordo com os quadros da realidade brasileira, sem prejuízo de uma tomada de posição em relação ao contexto mundial - trata-se, afi nal, de promover a evolução do ensino da Engenharia no país, afastando-se dos cursos convencionais. Com os Cursos Cooperativos, a Escola Politécnica procura formar engenheiros com ampla vivência profissional, já durante o curso. Daí o papel dos Estágios Cooperativos: os módulos acadêmicos alternam-se com os estágios durante todo o curso. Cabe notar que os Cursos Cooperativos são seriados; cabe notar, ainda, que os módulos de Estágios Cooperativos são feitos em empresas conveniadas com a Escola, realizados em tempo integral e avaliados tanto pelo aluno como por responsável da empresa e pelo professor orientador.
A proposta dos Cursos Cooperativos, ministrados pela Escola Politécnica em Cubatão, com 60 vagas para
cada um dos três cursos - Engenharia de Produção, Engenharia Q u í m i c a e Engenharia de Computação - constitui uma proposta bastante inovadora, em vários de seus aspectos; merece, por isso mesmo, ser louvada, especialmente porque explora aberturas proporcionadas pela legislação em vigor, lamentavelmente tão pouco aproveitadas pelas instituições de ensino superior do país.
Por oportuno, é de se observar que o currículo m í n i m o e a duração m í n i m a de tais cursos (art. 26, Lei nº 5.340/68) foram atendidos.
Como se trata de Parecer mais de ordem doutrinária, não é necessário analisar os diversos itens que compõem o processo (ensino de Engenharia no país, dados gerais sobre a Escola Politécnica e sobre a Universidade de São Paulo, normas acadêmicas e de estágios, estrutura curricular dos cursos, perfis profissionais e mercado de trabalho, corpo docente, vestibular e matrículas, etc.).
É preciso, no entanto, ressaltar os seguintes pontos centrais da questão mais geral que vem sendo examinada.
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Em primeiro lugar, dos três cursos ministrados em Cubatão, Um deles, o de Engenharia de Computação, não consta dos cursos existentes na Escola Politécnica, campus de São Paulo, o que pode, perfeitamente, enquadrar-se no Já mencionado art. 18 da Lei n° 5.540/68. Em segundo lugar, quanto a julgar que se trata de curso fora de sede e que, conseqüentemente, só pode ser enquadrado como curso experimental, o argumento em si mesmo não prospera, isso sem considerar o que prescreve a Portaria MEC nº 838/93. Com efeito, baseada no Parecer CFE nº 47/93, a mencionada Portaria atribui ao Conselho de Educação competente a implantação de curso superior de graduação em localidade distinta da sede (art. 1Q), ao mesmo tempo que dá competência aos Conselhos de Educação dos Estados para decidirem quanto ao procedimento a ser adotado, para as Universidades sob sua jurisdição, conforme o que prevê o art. 15 da Lei nº 4.024/61 (art. 4Q). Acrescentem-se, a essas normas, os dispositivos dos §§ 1º, 2º e 3º, ainda do art.
1Q, uma vez que, respectivamente, tornam possível o pleito somente para Universidade reconhecidas, seja para atender situações excepcionais, emergenciais e temporárias, seja até para cursos com caráter permanente, quando se trata de cursos que respondem a necessidade social. Como se pode notar, os Cursos Cooperativos da Escola Politécnica/USP estão, também, amparados pelas normas da Portaria MEC nº 838/93. Tais normas, por sua vez, deixam suficientemente claro que o presente pedido deve ser encaminhado ao Conselho Estadual de Educação de São Paulo, lembrando, ao mesmo tempo,que a referida Portaria, em particular, repõe o que já estava inscrito no art. 15, da Lei nº 4.024/61.
Uma vez encaminhado o processo da Universidade de São Paulo para o Conselho Federal de Educação, e bem assim, a remessa do mesmo para a SESu/MEC, como fez o Conselho Federal de Educação, em ambos os casos ficaram feridas as prerrogativas tanto do Conselho Universitário da USP como as do Conselho Estadual de Educação/SP. Para demonstrar tais agravos, bastam os
elementos já fornecidos no Parecer ,aos quais se somam disposi- tivos do Decreto nº 359/91, uma vez que regulamentam o art. 47 , da Lei nº 5.540/68. Elementos esses que seriam fortalecidos se fos sem relacionados às novas determinações presentes na Constituição Federal e na Constituição Estadual de São Paulo, quando defi -nem os principais marcos da democracia, do regime federativo, da descentralização da autonomia dos Estados membros, da autonomia da Universidade...
Ainda um último ponto doutrinário.
É importante começar a ficar claro que, na real idade, há três Conselhos de Educação, no caso: o Conselho
Universitário da Universidade de São Paulo, o Conselho Estadual de Educação de São Paulo e o Conselho Federal de Educação. São instâncias politico- administrativas que gozam de suficiente auto nomia,bevm semelhante às relações recíprocas que devem existir entre a União, os Estados-membros e os Municípios.Tanto numa situação como em outra, apontam para uma "descentralização articulada", que supoê mais o intercâmbio que o conflito, o respeito mútuo que a subordinação.
Nem é desimportante reafirmar que a legislação federal, incluindo as normas do Conselho Federal de Educação. só adquire supremacia quando conserva seu caráter de generalidade.
Nesse contexto, não se pode omitir o fato de que, a constítucionalmente, atuação federal na educação é de natureza supletiva, em conseqüência, nem deve ser permanente nem, muito menos, de orientação estrutural; não se trata de "supersistema", considerado o nível federal. Ora, se assim é, às legislações estaduais cabe a primazia - não a soberania - na organização de seus sistemas de educação, da mesma forma que à Universidade estadual cabe a primazia - não a soberania - em estabelecer o modelo de sua própria organização.
Retornando para o mais imediato, cabia ao Conselho Universitário da Universidade de São Paulo, de pleno direito, ter criado, em Cubatão, os Cursos Cooperativos da Escola Politécnica.
A decisão tem amparo nas competências gerais do Conselho Universitário, de acordo com o seu Estatuto, também aprovado pelo Conselho Estadual de Educação de São Paulo,- mais especificamente, encontra apoio no inciso V, do art. 11 do Regimento Geral (Observação: não consta, como ocorreu com o Estatuto, que tal Regimento tenha sido aprovado pelo mesmo Conselho Estadual, conforme determina o art. 5º da Lei nº 5.540/68).
Conclusões parceladas: a) os Cursos Cooperativos propostos não se enquadram no art. 104, da Lei nº 4.024/61; b) o qualificativo "experimental" não está na dependência de curso ser ministrado fora de sede; c) os Cursos Cooperativos contêm mensagens inovadoras que interessam ao desenvolvimento da Engenharia no Brasil, mensagens essas igualmente associadas ao mercado de trabalho e desenvolvimento nacionais. Tais inovações estão agasalhadas pela legislação posterior à Lei nº 4.024/61.
Conclusão geral: o presente processo deve ser devolvido à Reitoria da Universidade de São Paulo para que o mesmo seja encaminhado para o devido pronunciamento do Conselho Estadual de educação de São Paulo.
. Em atenção ao despacho da Chefia do DOES/SESu/MEC (fls. 132) deve a mesma ser informada do inteiro teor deste Parecer.
III - Voto do Relator
0 Relator vota no sentido de que o presente processo seja devolvido à Reitoria da Universidade de Sao Paulo, para posterior encaminhamento ao Conselho Estadual de Educação de São Paulo.
IV - DECISÃO DO PLENÁRIO
0 plenário do Conselho Federal de Educação aprovou, por unanimidade,a conclusão da Câmara.
Sala Barreto Filho, e 22 de 02 de 1994