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DANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL REFLEXÕES A PARTIR DOS ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA – LICENCIATURA

DANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL – REFLEXÕES A PARTIR DOS ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS EM

EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

LUANA PERSÍLIA GOMES RÊGO

NATAL - RN

2020

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LUANA PERSÍLIA GOMES RÊGO

DANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL – REFLEXÕES A PARTIR DOS ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao Curso de Licenciatura em Educação Física, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do título de Licenciado em Educação Física.

Orientadora: Profª. Dra. Rosie Marie Nascimento de Medeiros.

NATAL – RN

2020

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências da Saúde – CCS

Rêgo, Luana Persília Gomes.

Dança na educação infantil - reflexões a partir dos estágios supervisionados em educação física escolar / Luana Persília Gomes Rêgo. - 2020.

50f.: il.

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC (Graduação em Educação Física) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências da Saúde, Departamento de Educação Física. Natal, RN, 2020.

Orientadora: Rose Marie Nascimento de Medeiros.

1. Educação Física - Ensino - TCC. 2. Dança - TCC. 3. Educação infantil - TCC. 4. Educação física escola - TCC. I. Medeiros, Rose Marie Nascimento de. II. Título.

RN/UF/BS-CCS CDU 796:37

Elaborado por ANA CRISTINA DA SILVA LOPES - CRB-15/263

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LUANA PERSÍLIA GOMES RÊGO

DANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL – REFLEXÕES A PARTIR DOS ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Trabalho de Conclusão de Curso submetido ao Curso de Licenciatura em Educação Física, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN, em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do título de Licenciado em Educação Física.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Profª. Dra. Rosie Marie Nascimento de Medeiros.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte _______________________________________

Profª. Ms. Isabel Batista Freire

Universidade Federal do Rio Grande do Norte _____________________________________

Profª. Ms. Olênia Aidê Leal de Mesquita Prefeitura Municipal de Natal Prefeitura Municipal de Parnamirim

Aprovada em: ____/____/_____

NATAL/RN

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AGRADECIMENTOS

À Deus pelo dom da vida e por nunca me abandonar quando mais precisei dele.

Aos meus pais Ana e Antônio pelo constante apoio, pela paciência eterna e confiança nos propósitos de minha vida. À minha irmã Lorena, por juntas termos tido a coragem de mudar de profissão, começar uma segunda graduação, superar os obstáculos e seguir em frente. Você sempre será parte da minha vida. Ao meu irmão Anderson pelo apoio.

À Pedro, meu amor, por me apoiar sempre, mesmo quando eu quase desisti. À Pedro Cauã, por seu amor puro e na sua inocência de criança fazer meus dias mais felizes.

Aos professores do Curso de Educação Física pela aprendizagem e humanidade.

Especialmente a minha orientadora, Rose Marie pela paciência e confiança depositadas.

Aos meus colegas de curso, apesar de serem tão jovens, me mostraram a leveza de se realizar fazendo o que gostamos e pelo apoio nos bons e maus momentos.

Aos profissionais que convivi durante os estágios e a todas as crianças das escolas que conheci ao longo da graduação, foram muito importantes na construção do meu Eu professor.

A todos que me ajudaram no decorrer desta caminhada e acreditaram.

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DANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL – REFLEXÕES A PARTIR DOS ESTÁGIOS SUPERVISIONADOS EM EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

Luana Persília Gomes Rêgo RESUMO

A Educação Infantil é o início e a base do processo educacional. A Educação Física é componente obrigatório da educação básica e está inserida pela BNCC no ensino infantil nos campos de conhecimento com o nome de “movimento”. A dança, nesse contexto, se torna uma importante ferramenta para promover o movimento, o conhecimento do corpo e a inserção no mundo da arte e da cultura. O trabalho tem como objetivos refletir sobre o ensino da dança e compreendê-la como um conteúdo importante para Educação Infantil, tendo como base os estágios supervisionados obrigatórios I e II no curso de Educação Física Licenciatura da UFRN. O estudo foi uma pesquisa qualitativa descritiva observacional ao analisar as aulas de Educação Física dos estágios supervisionados obrigatórios I e II, realizados em duas escolas municipais localizadas na cidade do Natal-RN. A população do estudo consistiu em 149 crianças de faixa etária dos 2 aos 5 anos de idade que frequentam o ensino Infantil de duas escolas municipais. Ao longo da pesquisa, mostrou-se que a dança está inserida na Educação Física nessas escolas a partir de músicas próprias para a idade, em cantigas infantis e movimentos. Concluiu-se que se faz necessária a elaboração de mais estudos aprofundados no que se refere a dança na educação de crianças dentro da Educação Física, a fim de conscientizar e demonstrar as potencialidades que a dança tem no contexto escolar.

Palavras-chave: Educação Física, Dança, Ensino Infantil.

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DANCE IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION – REFLETIONS FROM THE SUPERVISED INTERNSHIPS IN SCHOOL PHYSICAL EDUCATION

Luana Persília Gomes Rêgo

ABSTRACT

Early childhood education is the beginning and the basis of the educational process.

Physical Education is a required component of basic education and it is inserted by the BNCC in early childhood education in the fields of knowledge with the name

"movement". Dance, in this context, becomes an important tool to promote movement, body knowledge and the insertion in the world of art and culture. The work aims to reflect on the teaching of dance and understand it as an important content for Early Childhood Education, based on the mandatory supervised internships I and II in the Physical Education Degree course at UFRN. The study was a descriptive observational qualitative research when analyzing the Physical Education classes of the mandatory supervised internships I and II, carried out in two municipal schools located in the city of Natal-RN. The study population consisted of 149 children aged 2 to 5 years old who attend kindergarten in two municipal schools. Throughout the research, it was shown that dance is inserted in Physical Education in these schools based on songs appropriate for the age, in children's songs and movements. It was concluded that it is necessary to elaborate more in-depth studies regarding dance in the education of children within Physical Education, in order to raise awareness and demonstrate the potential that dance has in the school context.

Keywords: Physical Education, Dance, Early childhood Education.

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LISTA DE IMAGENS

Imagem 1 - Recursos pedagógicos utilizados na aula aplicada no CMEI ... 17

Imagem 2 – Avaliação pelos alunos da aula aplicada no CMEI ... 29

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 8

2. CAPÍTULO 1 – CENÁRIOS REFLEXIVOS SOBRE A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL ... 17

2.1. O ENSINO INFANTIL E OS DOCUMENTOS NORTEADORES ... 18

2.2. A DANÇA ENQUANTO CONTEÚDO NO ENSINO INFANTIL ... 23

3. CAPÍTULO 2 - CENÁRIOS DO ENSINO DA DANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL29 3.1. ESTÁGIO I - ESCOLA MUNICIPAL JUVENAL LAMARTINE ... 32

3.2. ESTÁGIO II – CMEI KÁTIA GARCIA FAGUNDES ... 36

4. CENÁRIOS FINAIS ... 48

REFERÊNCIAS ... 46

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1. INTRODUÇÃO

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio), de forma que tenham assegurados seus direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em acordo com o que orienta o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL, 2017).

Como primeira etapa da Educação Básica, a Educação Infantil é o início e a base do processo educacional. A entrada na creche ou na pré-escola significa, na maioria das vezes, a primeira separação das crianças dos seus vínculos afetivos familiares para se inserirem em uma situação de socialização num ambiente diferente com crianças, além dos adultos (BRASIL, 2017).

Na educação Infantil, considerando os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, a BNCC estabelece cinco campos de experiências, nos quais as crianças podem aprender e se desenvolver: O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação;

Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações (BRASIL, 2017).

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) a Educação Física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica (BRASIL, 2018). A Educação Física inserida na Educação Infantil entra nos campos de experiências “corpo, gestos e movimentos” e

“Traços, sons, cores e formas” em que a criança vai, através do seu corpo, por meio

dos sentidos, gestos e movimentos explorar o mundo, o espaço e os objetos do seu

entorno, estabelecem relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos

sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se, aos poucos,

conscientes dessa corporeidade. Pode ser por meio das diferentes linguagens, como

a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, que elas se comunicam

e se expressam na junção entre corpo, sons, cores, formas, emoção e linguagem

(BRASIL, 2017).

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Nesse campo de linguagens possíveis a serem vivenciadas na educação infantil, voltamos o nosso olhar para a dança, a arte do movimento, tão rica em sentidos e significados expressos pelos corpos.

Segundo Barreto (2008) o conceito de Dançar é uma forma de conhecer a si mesmo, que envolve o ser em toda sua plenitude, sensibilidade e racionalidade. O corpo é o próprio conhecimento, que é revelado nas experiências sentidas, imaginadas e vividas. Dançar também é estar presente em momento e movimento, refletindo imagens e criando formas. O corpo que dança é o próprio ato da expressão e seu tempo-espaço só pode ser o hoje, o presente. Dançar é imaginar, fazer e acordar em outros interiores e exteriores.

Nesse sentido, acredita-se que a presença da dança na escola não é justificada apenas para proporcionar a vivência do corpo e diminuir tensões decorrentes de esforços intelectuais excessivos. No decorrer do tempo em que favorece a criatividade, pode trazer muitas contribuições ao processo de aprendizagem ao se integrar com outras disciplinas do currículo escolar. O trabalho com o corpo gera a consciência corporal, ou seja, a percepção de si, gera saber onde o “EU” se encontra.

O aluno questiona-se e começa a compreender o que passa consigo e ao seu redor, torna-se mais espontâneo e expressa seus desejos de modo mais natural, o que pode criar dificuldades para a prática pedagógica arcaica, em que a autoridade do professor prevalece, em que ainda acredita que o aluno só aprende se estiver sentado na carteira (SCARPATO, 2001).

Entende-se que para aprender não é necessário estar estático, apenas observando sem se expressar ou interagir com o que está sendo exposto. A dança como não é apenas a repetição de movimentos, mas também a capacidade de se expressar, de passar sentimentos para o público. Dessa forma, aprender com o corpo, com a dança permite desenvolver nos alunos a autonomia, uma das capacidades que a BNCC orienta trabalhar com os alunos.

Segundo Anjos (2018), por vezes, a prática da dança em idade escolar é

apenas visualizada de duas formas: o balé clássico, em que a técnica de dança não

abrange todos os alunos, por ser extracurricular e normalmente pago e por existir

grande e negativo fator cultural sobre o fato dos meninos estarem inseridos

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especificamente nessa dança; e as coreografias de danças tradicionais, feitas especialmente para festas juninas, Dia das Mães/Pais e festa de encerramento e/ou formatura, nas quais a aprendizagem de passos coreográficos são mais valorizadas, em detrimento da capacidade de criação e reflexão e também da apropriação cultural.

Necessitando assim de um olhar mais aguçado para as crianças em idade escolar.

Nesse sentido, evidenciamos a importância do trabalho com a dança na escola, também como aprendizagem da cultura, por amplificar os sentidos daqueles que por elas são tomados, pois, de acordo com Medeiros (2010), é também papel da educação a inserção dos indivíduos no mundo da arte e da cultura. Segundo Zumthor (1993, apud MEDEIROS, 2008, p.19) “a cultura é um conjunto complexo e heterogêneo de condutas e de modalidades discursivas comuns que determinam uma certa faculdade de todos os membros do corpo social produzirem certos signos, de identifica-los e interpretá-los da mesma forma”. Ou seja, cultura é uma rede de significados que dão sentido ao mundo que um indivíduo está inserido, assim a dança na escola pode proporcionar para os alunos diversos conhecimentos culturais.

Nesse contexto, pensamos na importância de lançarmos o olhar investigativo, para o ensino da dança nos estágios obrigatórios I e II, no sentido de ampliar as reflexões acerca da importância da dança na educação infantil, acreditando que esse ensino deve ocorrer de modo sistematizado, em todos os níveis da educação básica, iniciando, portanto, na educação infantil.

O Estágio Supervisionado Obrigatório do Curso de Educação Física – Licenciatura da UFRN segue as disposições da Lei Nº 11.788, de 25 de setembro de 2008. Esse Estágio é uma atividade acadêmica específica de caráter formativo para fins de integralização curricular, visando à aplicação de conhecimentos e a vivência de competências para o ensino da Educação Física no âmbito da Educação Básica, sob a orientação, supervisão e coordenação de professores habilitados e qualificados na área.

O Estágio obrigatório I permite ao graduando sair do convívio universitário e

estabelecer contato inicial com o ensino da Educação Física em instituições da

Educação Básica (públicas ou privadas) através da observação das aulas,

considerando os principais aspectos da realidade educacional, cultural e social em

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que se insere. Já o Estágio Obrigatório II vai além da observação, vai permitir ao graduando ministrar aulas para os alunos da Educação Infantil e/ou Ensino Fundamental anos iniciais. É através dos estágios que o universitário consegue enxergar a realidade prática por trás dos livros e trabalhos acadêmicos e mudar concepções pré-existentes. Quando o aluno planeja suas aulas e tem a oportunidade de aplicá-las, de vivenciá-las no âmbito escolar, o ganho é imensurável, pois essa realidade poderá ser seu futuro local de trabalho. Além disso, essas experiências advindas dos estágios supervisionados obrigatórios permitem experenciar inúmeras situações que não são vistas na realidade acadêmica e que mudam de local para local de estágio, pois quando se trabalha com pessoas, tudo que você planejou pode mudar em instantes e precisar de uma nova percepção.

Os inúmeros conhecimentos advindos dos campos de estágios por vezes acabam se perdendo e assim, várias oportunidades de pesquisas acadêmicas são deixadas de lado. Ao utilizar minhas experiências oriundas dos estágios I, observação da educação física na educação infantil; e II, observação e aplicação de aulas da educação física na educação infantil, permitiu pensar em várias possiblidades, entre elas, como a dança está inserida nesses momentos. Estudar a educação infantil é um ambiente muito rico de conhecimento, perceber como cada criança reage a um estímulo, descobrir a si mesmo, interagir com os outros e com o ambiente ao seu redor, é muito gratificante. E também estudar como a dança pode contribuir para esse desenvolvimento.

Diante disso indagamos: Quais sentidos podemos visualizar a partir da dança no contexto do ensino infantil vivenciado nos estágios obrigatórios I e II? Como tais sentidos podem ampliar reflexões sobre a Educação Física no contexto escolar?

O presente trabalho tem como objetivos refletir sobre o ensino da dança na Educação Infantil tendo como base os estágios supervisionados obrigatórios I, no 2º semestre de 2018, e II, no 1º semestre de 2019, no curso de Educação Física Licenciatura da UFRN. Além disso, compreender a Educação Física como importante componente curricular nesse contexto.

O presente estudo é justificado a nível pessoal, pelo fato da dança,

especificamente o Ballet clássico, ter estado sempre presente na minha formação. Na

época, havia a dificuldade de ter contato com a dança e só consegui experimentar

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essa e outras formas de expressão porque fui em busca de uma escola de Ballet clássico, já que na escola regular que estudava não era ofertado dança para os alunos.

Aos 9 anos de idade no ano de 1995 a escola regular a qual estudava era de bairro e naquela época a educação física era muito diferente da concepção atual, se concentrava apenas em brincadeiras e no “rola bola” que eram atividades com bola, sendo o vôlei para as meninas e o futsal para os meninos. Minha mãe conta que sempre quis fazer Ballet clássico, mas nesse período em Natal só existiam 3 escolas de Ballet: o “Municipal”, hoje conhecida como Escola Municipal de Ballet Roosevelt Pimenta; o “TAM”, hoje Escola de Dança do Teatro Alberto Maranhão; e o Ballet do Serviço Social do Comércio (SESC). E todas as três se localizavam nos bairros Ribeira e Cidade Alta.

A cidade do Natal da década de 1990 era diferente, com escassez de ônibus e somente aos 9 anos de idade tive a possibilidade de frequentar o Ballet no SESC, indo e voltando com minha mãe. O porquê dessa escola? Por justamente ser perto de uma parada de ônibus e de um centro comercial, a “cidade”, como o bairro Cidade Alta é conhecido até hoje. O porquê de adentrar no Ballet só com essa idade? Porque as escolas só recebiam crianças a partir dos 6 ou 7 anos.

Segundo Sena (2016) a cidade do Natal apresenta um vasto mercado de dança, iniciado na década de 1980 com a criação de mais espaços de dança que eram mais para aprimorar as experiências dos seus bailarinos e prepará-los para o mercado de trabalho. Nos anos da década de 1990 mais escolas de dança foram criadas, como o TAM e a escola de Dança do SESC/RN, dando mais oportunidade para os praticantes e amantes da dança no RN.

Dancei Ballet clássico dos 9 aos 16 anos (1995 a 2002) no SESC, conseguindo

um diploma de conclusão do curso. Entre 2003 e 2009 não consegui conciliar as aulas

de Ballet com o curso de Nutrição na UFRN, por ter aulas pela manhã e tarde. Em

2010 houve a oportunidade e voltei a fazer Ballet Clássico e mais uma vez no SESC

e com uma professora que já tinha feito aulas anos atrás. Foi como aprender tudo de

novo, pois as metodologias empregadas eram diferentes e o aprendizado foi enorme.

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Nesse segundo momento pude fazer aulas com minha irmã mais nova, que herdou o dom da dança da família e eu herdei o amor pela dança.

No decorrer dos anos, a partir do Ballet clássico por meio de cursos e aulas avulsas com professores convidados abriram-se portas para se conhecer outros estilos de dança, tais como populares, contemporânea, moderna, flamenca, sapateado, jazz e danças urbanas. No ano de 2012 entrei no grupo Parafolclórico da UFRN, para ter experiência em outro tipo de dança, outra forma de expressão, visto que esse grupo é um projeto de extensão do departamento de educação física da UFRN e trabalha com a ressignificação, divulgação e valorização das danças da tradição ou populares. Porém, após três meses tive que sair do grupo, por motivos pessoais.

O que eu aprendi nesse pouco tempo? Percebi a importância de estar aberta para novas vivências e experiências, ampliando meus sentidos artísticos. No ano de 2014 surgiu uma inesperada chance de dar aulas de Ballet clássico para crianças da educação infantil numa escola regular e isso me levou a buscar o curso de Educação Física Licenciatura. A dança me traz memórias boas e doces e trouxe muitos colegas e alguns verdadeiros amigos. É algo para acalentar o coração nos momentos de agitação e foi algo importantíssimo num momento de depressão.

Também houve uma inquietação do porquê se observar a dança em si, presente em tão pouco espaço na Educação Infantil, estando na forma de músicas de cantigas no dia-a-dia escolar e quando se aproxima do mês de junho a tradicional quadrilha junina. A educação infantil é um ambiente muito rico de saberes, de oportunidades de intervir e fazer a diferença na vida das crianças, pois muitos não olham essa parte da educação com olhos de aprendizado, em que o somente brincar não traga significados futuros para os adultos. Perceber as crianças aprendendo, desenvolvendo, interagindo é uma experiência sem tamanho. Trabalhar com essa idade é ter todos os dias sorrisos e histórias engraçadas para contar, é terminar o dia com uma sensação boa no coração.

Enquanto justificativa social, acreditamos que é importante conhecer

detalhadamente como é o dia-a-dia das crianças na escola e no tocante a dança,

como esta se realiza como componente da disciplina de Educação Física. Como

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poderá contribuir para uma desmistificação de que dança é só para meninas, que só pode ter corpo magro e determinada altura. A dança é para ser vivida, independentemente de cor, gênero e corpos, pois, como dito anteriormente, o aprendizado cultural e artístico é fundamental também para pensarmos em educação.

Como importância para a comunidade científica, demonstrar como a Educação Física e a dança está inserida numa realidade numa Escola Municipal e num Centro Municipal de Educação Infantil (CMEI) da cidade do Natal-RN. O Trabalho de Conclusão de Curso da UFRN encontrado a respeito dessa temática na Educação Física é relatado por Pereira (2016) “O conteúdo dança na educação física infantil:

experimentando uma proposta de sistematização”. O que mais se encontram são trabalhos que relacionam a dança inserida na disciplina de artes como Lima (2018) “A importância do ensino da dança na educação infantil”; Silva (2016) “Dança e infância:

contribuições para o conhecimento do corpo”; Nascimento (2013) “Dança e interdisciplinaridade: experiências no Núcleo de Educação da Infância (NEI/CAp/UFRN)”. Há poucos trabalhos relacionando a dança na educação física no tocante ao Ensino Infantil e, por isso, é importante ampliar os estudos sobre essa temática também no sentido da Educação Física ocupar cada vez mais espaço na educação infantil, pois ainda é tímida essa presença.

O presente trabalho será uma pesquisa qualitativa descritiva observacional ao analisar as aulas de Educação Física dos estágios supervisionados obrigatórios I, observação das aulas de educação física na educação infantil no 2º semestre de 2018, no 4º período da graduação; e II, observação e aplicação de aulas de educação física na educação infantil no 1º semestre de 2019 no 5º período, no curso de Educação Física Licenciatura da UFRN realizados em duas escolas municipais localizadas na cidade do Natal- RN.

Entende-se por pesquisa qualitativa um método que, na maioria das vezes,

envolve a observação intensiva e prolongada em um ambiente natural, o registro

preciso e detalhado do que acontece nesse ambiente, a interpretação e a análise dos

dados, utilizando descrições, narrativas, citações, gráficos e tabelas. Segue o método

científico de solução de problemas, empregam-se questões mais gerais para guiar o

estudo e não hipóteses estabelecidas no início. Esse tipo de pesquisa progride em um

processo indutivo de desenvolvimento de hipóteses e teoria à medida que os dados

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são revelados e caracteriza-se pela presença intensiva do pesquisador (THOMAS;

NELSON; SILVERMAN, 2012).

Já a pesquisa descritiva é um tipo de pesquisa que tenta descrever o status do foco do estudo, utiliza como técnicas questionários, entrevistas, estudos de caso, análise de emprego, pesquisa observacional, estudos desenvolvimentais e estudos correlacionais; e a pesquisa observacional em Educação Física é uma técnica descritiva, em que se observa o comportamento dos sujeitos no ambiente natural, como na sala de aula ou no local do jogo. As observações são guardadas e analisadas a posteriori (THOMAS; NELSON; SILVERMAN, 2012).

Num total de 144 escolas municipais e CMEIS da cidade do Natal-RN, a amostra consistiu em crianças de faixa etária dos 2 aos 5 anos de idade que frequentam a Educação Infantil nas Escola Municipal Juvenal Lamartine (estágio I) localizada no bairro do Alecrim e CMEI Kátia Garcia Fagundes (estágio II) localizada no bairro Candelária na cidade do Natal- RN. As escolas foram escolhidas por estarem em bairros de fácil acesso para serem campo dos estágios supervisionados obrigatórios I e II do curso de Educação Física Licenciatura UFRN no período de 12 de setembro a 31 de outubro do ano de 2018 referente ao semestre 2018.2 em que estava no 4º período e 02 de abril a 07 de junho de 2019 referente ao semestre 2019.1 em que estava no 5º período.

A escola Municipal Juvenal Lamartine funciona no período matutino atendendo a demanda do Ensino Infantil (Níveis III e IV) e Fundamental anos iniciais (1° ao 5°

ano) e no turno vespertino a demanda refere-se ao Ensino Fundamental anos finais (turmas do 6° ao 9° ano), mas também há duas turminhas do Ensino Infantil. No total, existem 482 alunos matriculados na escola, dos quais 201 são do turno matutino e 281 no turno vespertino. Eu era a estagiária e observei cinco aulas da professora de Educação Física na turma do nível III da tarde com crianças de faixa etária de 4 anos, totalizando 16 alunos, sendo 10 meninos e 6 meninas.

O CMEI Kátia Garcia Fagundes funciona no período matutino com as turmas

dos Níveis II A (3 anos), II B (3 anos), III (4 anos) e IV (5 anos) com 45 alunos

matriculados e no turno vespertino com as turmas dos Níveis I (2 anos), III B (4 anos),

IIIC (4 anos) e IV B (5 anos) com 44 alunos matriculados, totalizando 89 crianças. Há

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um aluno com necessidades especiais, com diagnóstico de Autismo na turma do nível III vespertino. No CMEI foram observados tanto a rotina das crianças como as aulas de Movimento e música nos níveis I, II, III e IV, aulas essas dadas pelas próprias pedagogas de cada sala. Eu era a estagiária, observei 19 aulas e apliquei de 9 aulas nas turmas da manhã do Nível II A com 8 crianças com idade de 3 anos; nível II B 12 crianças com idade de 3 anos; nível III A com 11 crianças com idade de 4 anos; nível IV com 11 crianças com idade de 5 anos; na tarde nível I com 12 crianças com idade de 2 anos; nível III B com 9 crianças com idade de 4 anos; nível III C com 11 crianças, sendo uma especial com idade de 4 anos; nível IV B com 11 crianças com idade de 5 anos. Das aulas aplicadas, apenas uma foi inteiramente de Dança, mas as outras tinham sempre algum elemento que direcionava a dança. Devido a um combinado com a diretora pedagógica, em todas as turmas foi possível aplicar a aula 01, já na turma do Nível III B com 11 crianças os quais eram 6 meninas e 5 meninos, foi possível aplicar mais 4 aulas. O total de alunos presentes nas aulas observadas da Escola Municipal Juvenal Lamartine e do CMEI Kátia Garcia Fagundes foi de 149.

Os dados, as experiências e vivências foram coletados durante e após a observação das aulas referidas acima. Foram analisados e comparados com a literatura existente referente ao Ensino Infantil, a Educação Física e ao ensino de Dança na Educação Física escolar.

Essa pesquisa foi dividida em dois capítulos. No primeiro apresentamos os

cenários reflexivos sobre a educação física na educação infantil e a inserção da dança

na educação física. No segundo capítulo, apresentamos os cenários do ensino da

dança na educação infantil nos estágios obrigatórios I e II e as experiências

adquiridas. Após os capítulos, trazemos as considerações finais, onde respondemos

os nossos objetivos de pesquisa.

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2. CAPÍTULO 1 – CENÁRIOS REFLEXIVOS SOBRE A EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Imagem 1: Recursos pedagógicos utilizados na aula aplicada no CMEI.

Fonte: acervo pessoal.

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2.1. O ENSINO INFANTIL E OS DOCUMENTOS NORTEADORES

Segundo a LDB nº 9394/1996 no artigo 22, a Educação Básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio) tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores (BRASIL, 2018).

Nos artigos 29 e 30 relata que a educação infantil como primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até os cinco anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. Deverá ser oferecida em creches para crianças de até três anos de idade e pré-escolas para as crianças de quatro a cinco anos de idade (BRASIL, 2018).

Em ordem cronológica, os documentos que estruturam o currículo da Educação Infantil são o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) em 1998, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) em 2009 e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) em 2017.

No RCNEI (1998) o foco está no desenvolvimento da criança como um ser integral, que responde aos estímulos dados pelos professores na escola. O documento relata que a estrutura da Educação Infantil é organizada para crianças na idade de zero a três anos e de quatro a seis anos nos dois âmbitos de experiências, Formação Pessoal e Social e Conhecimento de Mundo. Elas são constituídas pelos eixos de maneira integrada: Identidade e autonomia, Movimento, Artes visuais, Música, Linguagem oral e escrita, Natureza e sociedade; e Matemática.

Pode-se supor que a Educação Física está inserida no eixo “Movimento”, sendo

uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. As crianças se

movimentam desde que nascem, engatinham, caminham, manuseiam objetos,

correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos,

experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento

(BRASIL, 1998).

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Ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar resultam das interações sociais e da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido construídos em função das diferentes necessidades, interesses e possibilidades corporais humanas presentes nas diferentes culturas em diversas épocas da história (BRASIL, 1998).

Nas DCNEI (2010) amplia o foco sobre a criança, considera as interações como essenciais com o outro, o meio para o aprendizado. A criança é o centro do processo de aprendizagem, como sujeito das diferentes práticas cotidianas. Essas práticas buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de zero a cinco anos de idade (BRASIL, 2010).

As DCNEI têm como eixo estruturante a interação e a brincadeira, mas articuladas com outras linguagens. Outra suposição da Educação Física nesse documento ainda utilizando o termo “movimento”: promover o conhecimento de si e do mundo por meio da ampliação de experiências sensoriais, expressivas, corporais que possibilitem movimentação ampla, expressão da individualidade e respeito pelos ritmos e desejos da criança; propiciar a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações e tradições culturais brasileiras (BRASIL, 2010).

A BNCC foi um documento criado para unir os conceitos da RCNEI e DCNEI, mas está mais próximo desse último, com similaridade no direcionamento. A intenção da criação da BNCC é criar um documento único na educação básica, ser a base curricular para uma aprendizagem de qualidade no Brasil como um todo, assim evitar as desigualdades presentes, já que o conteúdo visto na região Nordeste será equivalente ao visto na região Sul do país.

Segundo Brasil (2017) a entrada da criança na Educação Infantil, numa creche

ou pré-escola significa a primeira separação dos seus vínculos afetivos familiares para

se incorporarem numa sociedade. Nesse momento o educar e o cuidar são

inseparáveis no processo de aprendizagem. É importante enfatizar o brincar, essa

(22)

interação demonstra o cotidiano da infância, trazendo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento da criança como um todo. Através da brincadeira a criança trabalha com uma infinidade de emoções como afeição, frustrações, conflitos.

Segundo Vieira et al (2010), é através da brincadeira que a criança se apropria de elementos da realidade imediata e dá novos significados, através da imitação e imaginação. Um objeto deixa de ter seu significado imediato devido a sua forma e passa a ser outra coisa no imaginário infantil. Por exemplo, um pedaço de pau que não teria função pode se transformar numa espada ou num arco e flecha.

Já a BNCC reforça a concepção da criança como protagonista em todos os contextos em que está inserida: ela interage, cria e modifica seu entorno, a sua cultura e sociedade. Como eixos estruturantes a interação e a brincadeira, o documento diz que há seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento: Conviver, Brincar, Participar, Explorar, Expressar e Conhecer-se. (BRASIL, 2017). Ao pensar na Educação Física, está dentro de:

Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia (BRASIL, 2017, p. 38).

A organização do currículo na Educação Infantil na BNCC está estruturada em cincos campos de experiência onde são definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, a saber: O eu, o outro e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.

O campo O eu, o outro e o nós: as crianças interagem com outras crianças e

com adultos, construindo sua própria maneira de agir, sentir, pensar. Participando de

outros grupos sociais, aprendem diferentes atitudes, rituais de cuidados pessoais,

costumes, celebrações, entre outros, assim percebem que são diferentes; Escuta,

fala, pensamento e imaginação: através das experiências de escutar, ouvir nas

historinhas, a criança melhora sua participação em conversas em grupos. A

construção de narrativas faz com que ela pertença a um grupo social; Espaços,

tempos, quantidades, relações e transformações: a criança participa de

(23)

experiências que geram observações, manipular objetos, investigar e explorar ao seu redor, levantar questões e consultar fontes de informações para buscar respostas às suas curiosidades e perguntas (BRASIL, 2017).

Foi relatado acima resumidamente três campos de experiências e ao pensar na Educação Física, também pode ser referenciada com o nome “movimento” e pode se encaixar em dois campos de experiência: o Corpo, gestos e movimentos: é através dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou emocionais, coordenados ou espontâneos do corpo, que a criança consegue explorar o espaço que está inserida, estabelece relações com o outro, com a sociedade, com a cultura. Ela consegue através das linguagens da música, dança, teatro e as brincadeiras de faz de conta se comunicar e se expressar. Com o lúdico, elas podem explorar as diferentes formas que seu corpo pode ocupar o espaço como sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se, entre outros (BRASIL, 2017).

E Traços, sons, cores e formas: ao oferecer as crianças a possibilidade de experimentar diversas manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais, possibilita vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais na forma de pintura, modelagem, colagem, fotografia; a música, o teatro, a dança e o audiovisual, entre outras. Assim, será possível se expressarem por múltiplas linguagens, não copiando, mas criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando sua autoria (coletiva e individual) com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, desenhos, modelagens, manipulação de diversos materiais e de recursos tecnológicos (BRASIL, 2017).

É importante que a educação física na educação infantil não abarque somente

os dois campos de experiência “corpo, gestos e movimentos” e “traços, sons, cores e

formas” e sim promova nas crianças experiências também presentes nos outros

campos, como exemplo, “o eu, o outro e o nós” e “espaços, tempos, quantidades,

relações e transformações”; ao ofertar uma atividade que precisem ocupar um espaço

pequeno e poder ficar junto de outros nesse lugar; “escuta, fala, pensamento e

imaginação” com atividades que utilizem a imaginação como os movimentos nas

histórias contadas. Esses campos de experiência têm que estar juntos, não podendo

serem pensados separados.

(24)

O termo Educação Física em nenhum momento foi usado nas RCNEI, DCNEI e BNCC no que diz respeito a Educação Infantil. Segundo a LDB no artigo 26, a disciplina como integrada à proposta pedagógica da escola é um componente curricular obrigatório da educação básica (BRASIL, 2018). É consenso que se observa professores de Educação Física atuantes em escolas nos níveis fundamental e médio, ora na disciplina, ora como componente extra-curricular nas chamadas escolinhas em escolas particulares. Mas por que na Educação Infantil é raridade observar o profissional atuante? Lendo de maneira mais aprofundada a LDB, em relação a formação dos docentes para atuação na educação infantil, é exigido formação superior em curso de licenciatura plena. O que pode inferir que o professor formado em pedagogia atue na educação infantil em todas as “disciplinas”, o chamado professor polivalente, que poderá ministrar aulas de movimento, música, entre outros.

Dessa forma, a lei deixa uma “brecha” e não há a necessidade da contratação de profissionais especializados nas diferentes áreas na Educação Infantil.

Fica a indagação: Sendo a Educação Física ofertada para a Educação Infantil pelo pedagogo, será que a “disciplina” “Movimento” é realmente oferecida para as crianças? Na rotina cansativa do professor, que muitas vezes não tem um auxiliar para ajudá-lo nas inúmeras atividades propostas, dá tempo de parar e ter o “Movimento”

diferente daquele no momento das músicas de cantigas ou nas músicas que estão fazendo sucesso na atualidade? A dança no contexto da Educação Física, como

“movimento” e não pensando no contexto das Artes, tem seu espaço?

2.2. A DANÇA ENQUANTO CONTEÚDO NO ENSIO INFANTIL

Existem poucas escolas públicas que o professor de Educação Física está

atuante na Educação Infantil, como exemplo, o local onde aconteceu o estágio I, na

Escola Municipal Juvenal Lamartine, a dança como conteúdo da educação física é

sim contemplada pelo professor atuante. Numa visita da disciplina de Educação Física

na Educação Infantil ofertada no 5º período à escola Núcleo de educação da Infância

(NEI) ligada a UFRN em 2019, a atual professora de educação física tinha assumido

o cargo recentemente, e estava apenas com as aulas do ensino fundamental nos anos

iniciais, deixando a educação infantil descoberta de profissional, ficando as aulas a

(25)

cargo das pedagogas. Nas escolas particulares é mais fácil encontrar professor de

“recreação” na educação infantil, mas não são em todas que esse profissional atua. E também, muitas vezes, os professores de educação física têm relutância e não querem trabalhar com esse público.

Segundo Medeiros (2011) A dança como arte transmite diversos sentidos, sejam culturais, simbólicos, históricos, técnicos. Em muitos lugares remetem a celebrações, festas, a morte, entre vários outros que se possa atribuir nas inúmeras linguagens dançantes. É muito comum observar a dança tradicional ou folclórica nas escolas e cabe ao professor se capacitar e oferecer várias formas de vivenciá-la, mostrando os diversos estilos e ritmos que possui.

A dança é um dos conhecimentos da Educação Física e da Arte pouco explorado nas escolas, pois a maioria dos trabalhos em dança nas escolas se remete a simples composições coreográficas com fins em si mesmo (VIEIRA, 2014). Há certa relutância dos professores em trabalhar com a unidade temática Dança, muitas vezes passando para os alunos somente aquilo que vivenciou. Lima (2010) mostra que os professores pedagogos trabalharam bem com estagiários de educação física quanto ao assunto dança, somente um relatou que houve resistência por parte de um estagiário para usar a dança nas aulas da educação infantil.

Buogo; Lara (2011) também relataram que grande número de professores apresenta dificuldades em trabalhar a dança como conteúdo estruturante da Educação Física em suas aulas. Apesar da dança fazer parte do cotidiano dos alunos fora do contexto escolar, na escola, os professores encontram inúmeras barreiras que desvirtuam as propostas pedagógicas pensadas para atender às finalidades do projeto de escolarização. Necessitando assim, de estratégias para que diminua a resistência dos professores ao proporcionar a dança na educação.

Lima (2010) relata que a dança tem sido proposta como veículo para ensinar

conhecimento de outras áreas, para animar festas de final de ano, para ilustrar

atividade folclórica, como brincadeira para ocupar o tempo dos alunos no início ou

final da aula na roda inicial, como atividade de livre expressão, entre outras. Isso

demonstra falta de conhecimento, despreparo e desvalorização da dança no âmbito

escolar.

(26)

Barreto (2005), em suas reflexões, evidencia que a dança está sim na escola, mesmo que seu ensino seja pequeno, limitado apenas ao ballet clássico e as danças tradicionais, mesmo assim está lá. É necessário que esse conhecimento a respeito da dança seja ampliado pelos alunos.

Porpino (2018) já no nome da sua obra “Dança é educação”, amplia o conceito de educação e considera que a dança é sim uma forma de educar. Uma possibilidade de educar que não se limite à instrução ou aquisição de conhecimentos já prontos, mas que permita a vivência da criação de sentidos personalizados, próprios de cada ser.

É necessário compreender a corporeidade do ser humano como sendo uno e ao mesmo tempo como vários, como essência, porém existencial e plena de sentido, que encontra a sua forma de expressão na coexistência de antagonismos. O ser é ao mesmo tempo, cultura e natureza, corpo e espírito, razão e emoção, numa simbiose que não pode ser desfeita (PORPINO, 2018). Essa corporeidade na dança na educação infantil permite que as crianças compreendam que precisam do outro para estar na comunidade, para uma coreografia poder funcionar.

Rudolf Laban, um dos mais conhecidos estudiosos do movimento, contribuiu com a Coreologia, ciência da dança que engloba o estudo dos elementos que integram essa arte: o dançarino, o movimento, o espaço e o som. Laban estudou o movimento humano e além dos aspectos mecânicos, pontuou que existia a expressividade, pois os movimentos não podiam ser reproduzidos por robôs, mas deveriam demonstrar o sentimento através do corpo dançante. A coreologia não trata apenas das formas externas do movimento, mas também do seu conteúdo mental e emocional.

(MEDEIROS, 2011).

Para que aconteça a dança é imprescindível ter um corpo dançante, que com seu movimento possa se comunicar com a plateia, mostrando cultura, formas, sentimentos e gestos de determinada dança. Laban explicava que as movimentações relacionadas ao espaço se dividem em níveis alto, baixo e alto, sendo a forma como o corpo está no espaço, mais próximo do chão ou mais distante; direções para frente, trás, direita, esquerda e diagonal; progressões em linhas ou curvas; projeções;

suspensão do corpo por meio de saltos; distância, estando perto ou longe;

(27)

movimentos sucessivos e figuras geométricas como círculos e linhas. Além disso, há os fatores do movimento, como o peso forte de movimentos pesados ou leves; tempo lento com movimentos longos ou de curta duração; espaço, em linha reta ou ocupar todo o espaço; e fluência com movimentos fluidos ou com pausas (MEDEIROS, 2011).

É por meio dos elementos relacionados ao espaço juntamente com os fatores do movimento, representados pelo esforço do bailarino, que é possível criar uma coreografia e ser representada no espaço, ora Teatro, ora quadra poliesportiva, pensando na escola.

Diante desse cenário de possibilidades para se pensar a dança e a importância de sua presença na escola, podemos indagar, como podemos trabalhar a dança nas escolas?

Segundo Scarpato (2001) a dança na escola vem associada a estilos que exigem uma técnica corporal com movimentos codificados, em que o professor impõe movimentos e padrões técnicos, os quais requerem um ensino pautado em movimentos certos ou errados, como o balé clássico, o sapateado e outros. O aluno na sala reprime seus sentimentos e experiências corporais descobertas no cotidiano, desvinculando a emoção da ação. Retorna-se à educação fracionária, que visa formar partes do ser. O que vai de encontro ao que foi dito sobre a dança na escola e a corporeidade por Barreto (2008) e Porpino (2018).

A dança na escola não deve priorizar a execução de movimentos corretos e perfeitos dentro de um padrão técnico imposto, pois pode gerar a competitividade entre os alunos. O movimento é uma forma de expressão e comunicação do aluno, objetivando torná-lo um cidadão crítico, participativo e responsável, capaz de expressar-se em variadas linguagens, desenvolvendo a auto-expressão e aprendendo a pensar em termos de movimento (SCARPATO, 2001).

Delors (2000, apud SCARPATO, 2001) infere que Laban propõe que a criança

tem o impulso inato de realizar movimentos similares aos da dança. Cabe à escola

levá-la a adquirir consciência dos princípios do movimento, preservando sua

espontaneidade e desenvolvendo sua expressão criativa.

(28)

Scarpato (2001) utilizou o termo Dança educativa ou criativa utilizando os preceitos de Laban, o que integra o conhecimento intelectual e a habilidade corporal e criativa do aluno. A alfabetização é um processo pelo qual a criança codifica e decodifica o mundo que a cerca, processo que não atinge somente o aspecto cognitivo do aluno, mas o aluno como um todo: emocional, social, corporal entre outros.

A RCNEI (1998) principalmente no volume 3 mostra diversas oportunidades do professor trabalhar a dança no dia-a-dia da educação infantil. Infere que acolher as diferentes culturas não pode se limitar às comemorações festivas, a eventuais apresentações de danças típicas ou à experimentação de pratos regionais. São boas iniciativas, mas não são suficientes para lidar com a diversidade de valores e crenças.

Os jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas esportivas revelam, por seu lado, a cultura corporal de cada grupo social, constituindo-se em atividades privilegiadas nas quais o movimento é aprendido e significado.

Na RCNEI a dimensão expressiva do movimento engloba tanto as expressões e comunicação de ideias, sensações e sentimentos pessoais como as manifestações corporais que estão relacionadas com a cultura. A dança é uma das manifestações da cultura corporal dos diferentes grupos sociais que está fortemente associada ao desenvolvimento das capacidades expressivas das crianças. Como dito anteriormente, a aprendizagem da dança pelas crianças não pode estar determinada pela marcação e definição de coreografias pelos adultos, para isso é necessária a valorização e ampliação das possibilidades estéticas do movimento pelo conhecimento e utilização de diferentes modalidades de dança (BRASIL, 1998).

Quando a RCNEI retrata a participação em “brincadeiras e jogos que envolvam correr, subir, descer, escorregar, pendurar-se, movimentar-se, dançar para ampliar gradualmente o conhecimento e controle sobre o corpo e o movimento”, percebe-se que o movimento, ou seja a educação física, está presente junto à dança (BRASIL, 1998).

A DCNEI (2010), em relação a dança, infere “promovam o relacionamento e a

interação das crianças com diversificadas manifestações de música, artes plásticas e

gráficas, cinema, fotografia, dança, teatro, poesia e literatura” (BRASIL, 2010).

(29)

Analisando a BNCC (2017), a dança está presente no campo de experiência Corpo, gestos e movimentos “Por meio das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de conta, elas se comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem”. E no campo de experiência Traços, sons, cores e formas “vivenciar diversas formas de expressão e linguagens, como as artes visuais, a música, o teatro, a dança, entre outros” Devido a essas experiências, elas “podem se expressar por várias linguagens, criando suas próprias produções artísticas ou culturais, exercitando a autoria com sons, traços, gestos, danças, mímicas, encenações, canções, entre outros” (BRASIL, 2017).

Os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento são divididos para bebês de zero a 1 ano e 6 meses, crianças bem pequenas de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses e crianças pequenas de 4 a 5 anos e 11 meses. Para bebês, orienta vivenciar diferentes ritmos, velocidades e fluxos nas interações e brincadeiras em danças, balanços, escorregadores, entre outros. Para crianças bem pequenas, explorar formas de deslocamento no espaço como pular, saltar e dançar, combinando movimentos e seguindo orientações. Para crianças pequenas, criar com o corpo formas diversificadas de expressão de sentimentos, sensações e emoções, tanto nas situações do cotidiano quanto em brincadeiras, dança, teatro, música; e criar movimentos, gestos, olhares e mímicas em brincadeiras, jogos e atividades artísticas como dança, teatro e música (BRASIL, 2017). Esses objetivos de aprendizagem e desenvolvimento da BNCC permitem ao professor ofertar aos alunos inúmeras experiências e assim possam vivenciar os diversos tipos de dança.

No artigo 26 da LDB no parágrafo 2, orienta-se que “o ensino da arte que abrange artes visuais, dança, música e teatro, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório da educação básica” (BRASIL, 2018). Na lei a dança é componente curricular obrigatório e deve ser ofertada desde a educação infantil, passando pelo ensino fundamental e chegando no ensino médio.

O mesmo artigo 26 também relata que a educação física é componente obrigatório da

educação básica e a dança também faz parte da unidade temática da Educação Física

para o ensino fundamental e médio de acordo com a BNCC (2017). E como na BNCC

não relata especificamente na educação infantil o componente Educação Física e sim

movimento, infere-se que a educação física e a dança estão de “mãos dadas” no

ensino infantil, podendo a dança ser abraçada pelo licenciado em dança e pelo

(30)

licenciado em educação física, cada um trabalhando no seu planejamento e oferecendo várias vivências para os alunos. O que não pode é a dança ser deixada de ser vivenciada por não se saber qual profissional deve ficar encarregado.

Assim, Vieira (2014) infere que é fundamental acreditar que é possível por meio da dança promover uma prática pedagógica que provoque a ação e a reflexão do sujeito sobre a realidade em que vive, viabilizando o desenvolvimento cultural, fundamento da Arte, da Educação Física e da Educação. A dança no espaço escolar busca o desenvolvimento não apenas das capacidades motoras das crianças e adolescentes, como de suas capacidades imaginativas e criativas.

Os documentos oficiais oferecem orientação para a aplicação da dança na

educação infantil, principalmente a RCNEI no volume 3 quando cita algumas

atividades e brincadeiras usualmente utilizadas no dia-a-dia que podem ser mais

exploradas pelos professores. Nessas atividades, vários campos de aprendizagem da

BNCC podem ser utilizados, pois como relatado, esse documento foi criado para unir

os preceitos das RCNEI e DCNEI.

(31)

3. CAPÍTULO 2 - CENÁRIOS DO ENSINO DA DANÇA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Imagem 2 – Avaliação pelos alunos da aula aplicada no CMEI.

Fonte: acervo pessoal.

(32)

O Estágio Supervisionado Obrigatório do Curso de Educação Física – Licenciatura da UFRN segue as disposições da Lei Nº 11.788, de 25 de setembro de 2008. Esse Estágio é uma atividade acadêmica específica de caráter formativo para fins de integralização curricular, visando à aplicação de conhecimentos e a vivência de competências para o ensino da Educação Física no âmbito da Educação Básica, sob a orientação, supervisão e coordenação de professores habilitados e qualificados na área.

O Estágio Supervisionado refere-se à aplicação dos fundamentos teórico- metodológicos, assimilados até o quarto semestre do Curso, através do contato inicial com a realidade das escolas e do ensino de Educação Física nos diferentes níveis da Educação Básica (educação infantil, ensino fundamental anos iniciais e anos finais e médio), que envolve as atividades de observação e leitura da(s) realidade(s) de campo e apresentação de relatório-diagnóstico de natureza crítico-discursivo, com as devidas fundamentações teóricas.

O Estágio obrigatório I permite ao graduando sair do convívio universitário e estabelecer contato inicial com o ensino da Educação Física em instituições da Educação Básica (públicas ou privadas) através da observação das aulas, considerando os principais aspectos da realidade educacional, cultural e social em que se insere. Já o Estágio Obrigatório II vai além da observação, vai permitir ao graduando ministrar aulas para os alunos da Educação Infantil e/ou Ensino Fundamental anos iniciais. É através dos estágios que o universitário consegue enxergar a realidade prática por trás dos livros e trabalhos acadêmicos e mudar concepções pré-existentes.

No estágio I, na Escola Juvenal Lamartine, eu apenas observei as aulas da professora de Educação física numa turma da educação infantil; já o estágio II, eu observei e co-participei, podendo ministrar 5 aulas de Educação Física, tendo como orientadora uma professora pedagoga da educação infantil. Os locais de estágio foram escolhidos por serem em bairros movimentados e de fácil acesso.

Foram observadas duas escolas, a Escola Municipal Juvenal Lamartine e o

CMEI Kátia Garcia Fagundes e apesar de serem públicas, são ambientes diferentes,

pois enquanto que a primeira possui um espaço físico amplo; a segunda estava

(33)

situada provisoriamente numa casa que tinha pouquíssimo espaço, tanto que as turmas tinham no máximo 12 alunos, porque não comportavam mais. Ambas as escolas eram bastante procuradas, na Juvenal Lamartine foi necessário ter duas turmas na manhã e duas a tarde para a educação infantil, normalmente direcionado para CMEI ou creche, popularmente falando; no CMEI Kátia Fagundes, por ser pequena, não consegue suprir a demanda dos moradores do bairro, possuindo uma lista de espera grande, principalmente na turma do Nível I (2 anos).

3.1. ESTÁGIO I – ESCOLA MUNICIPAL JUVENAL LAMARTINE

A vivência na Escola Juvenal Lamartine aconteceu de 12 de setembro a 31 de outubro do ano de 2018 referente ao semestre 2018.2 no 4º período do curso. Eu observei cinco aulas da professora de Educação Física na turma do nível III da tarde com crianças de faixa etária de 4 anos, totalizando 16 alunos, sendo 10 meninos e 6 meninas. Essa professora além de ser responsável pelas turmas de Educação Física do Infantil, também dá aula nas turmas do Ensino Fundamental anos finais.

Nas aulas da tarde, o turno começava das 13h às 17h30, com dois horários antes do intervalo e dois após com o lanche dos menores um pouco antecipado dos maiores, por volta das 14h45. A professora de Educação Física da turma era formada em Educação Física Licenciatura plena há uns 10 anos. As aulas de Educação Física dessa turma eram nos dois primeiros horários toda quarta-feira.

Nas aulas observadas eram aplicadas a metodologia Analítica, em que era

explicado como a atividade seria feita e as crianças reproduziam. Percebeu-se que

algumas crianças não conseguiam realizar a atividade ou faziam de outra forma,

diferente de como a professora queria, então ela parava e explicava da forma que a

criança deveria fazer. Adotando a vertente que a criança não pode fazer como

entendeu ou criar naquele momento e sim quando era dito e possível. A professora

era muito querida pelos alunos, tem uma didática adequada para a faixa etária em que

dá aulas, mas em alguns momentos poderia adotar a metodologia Global e deixar as

crianças fazerem a atividade como entendem, até pela faixa etária das crianças (4 e

5 anos). Normalmente as aulas de Educação Física eram na salinha de aula deles,

eram divididas no primeiro momento com os alunos sentados numa rodinha na

(34)

demarcação no chão enquanto a professora fazia a chamada (ela não lembrava do nome de todos, justificando que eram muitos alunos para aprender o nome de cada um), uma atividade com música, a atividade principal e no final uma avaliação, ou em forma de conversa ou em forma de expressão artística de desenho no papel. Apenas uma aula os alunos foram para a quadra e segundo a professora, por ser um espaço muito amplo, eles se dispersavam facilmente.

As aulas da professora eram bem diversificadas, normalmente o início era com atividades rítmicas com músicas já conhecidas pelas crianças. Na aula 01 começou com músicas como “Escravos de Jó”, a professora variava batendo palmas em ritmos diferentes, rápido, lento, baixo e alto. Depois as crianças levantavam, continuavam batendo palmas e faziam os movimentos que a música orientava, depois saltos mais palmas, saltos mais deslocamentos laterais. Nesse momento, já se observa a inserção da música e os tempos musicais trabalhados nos ritmos diferentes junto com movimentos, assim já vão se acostumando a ser um corpo dançante.

Nesse momento, a professora utilizou os estudos de Laban, os fatores do movimento, para as crianças terem conhecimento do tempo lento ou rápido; da exploração do espaço disponível da sala de aula e as movimentações nas direções laterais. Percebendo assim, um conhecimento dos elementos do movimento e da dança.

Em seguida a atividade principal foi pular corda ao som e ritmo da música “O homem bateu em minha porta”, depois pular a cobrinha sem encostar na corda. Os alunos ficavam na fila e iam um de cada vez participar. Como são crianças pequenas, ainda não compreendem a questão de ficar organizados na fila e de ir para o final depois de participar da atividade, pois querem sempre ser as primeiras. Novamente, a música, o ritmo e o corpo juntos numa atividade.

Nessa atividade, a professora utilizou a corda, brincadeira muito popular no

Brasil, segundo a RCNEI (1998), a corda propõe às crianças uma pesquisa corporal

intensa, tanto em relação às diferentes qualidades de movimento que sugere nos

tempos rápidos ou lentos; nos pesos pesados ou leves como também em relação à

percepção espaço-temporal, já que, para “entrar” na corda, as crianças devem sentir

o ritmo de suas batidas no chão para perceber o momento certo. Nesse fragmento da

(35)

RCNEI, é possível também ver os estudos de Laban, nos fatores do movimento do peso e do tempo.

Na aula 02, a professora trouxe bexigas e com o auxílio da música os alunos jogam as bolas para cima, primeiro apenas com uma mão, depois só com a outra, depois alternadas, mais lento e mais rápido; após foi apenas com um pé, depois o outro, depois alternados, com a cabeça, com a coxa, com qualquer parte do corpo, mais lento e mais rápido. Algumas bolas estouraram, então a professora teve que mudar a estratégia e fazer duplas, jogando a bola para o colega até terminar o tempo estipulado.

Após, utilizou fitas de papel crepom também com músicas antigas que as crianças conhecem como a “Galinha Pintadinha” e na voz do grupo “Palavra Cantada”.

Esse foi o momento em que os alunos dançaram livremente, só escutando a música e mexendo o corpo sem orientação da professora do que fazer. Mas foi por pouco tempo, pois logo veio o comando de dançar com a fita de papel crepom só mexendo as mãos e depois só os pés. Mais uma vez a professora utilizando a música, agora com objetos como a bexiga e as fitas de papel crepom para inserir a dança nas suas aulas.

Com esses objetos utilizados, pode-se inferir a sensação de movimentos lentos, havendo pausas quando a música parava e tinham que executar um comando.

Acreditamos que quando a criança desfruta o dançar livremente, segue o preceito de Laban (1990 apud MEDEIROS, 2011) em que “o movimento da dança deve ser significante e não uma mera repetição de passos”. Assim, o professor dará ao seu aluno oportunidades da criatividade fluir, sem amarras.

A professora colocou a música da “Estátua” cantada por Xuxa, oriundo do projeto “Xuxa Só Para Baixinhos” e quando a música parasse a professora dizia qual parte do corpo os alunos deveriam encostar no colega, como pé com pé, cabeça com cabeça, barriga com barriga. Nessa atividade foi preciso parar um pouco para chamar a atenção, pois estavam se dispersando e brigando e ganharam mais uma chance de continuar na brincadeira. O que também é normal para a idade.

Tanto nessa atividade da música “Estátua” como na utilização das bexigas, a

professora trabalhou o conhecimento do corpo por parte das crianças. Laban também

(36)

aponta para a importância de se conhecer o corpo dançante, pois para que exista a dança é necessário explorar todas as possibilidades do corpo, como também trabalhar a parte mental e emocional, para que não seja mecânico e sim transmita sentimentos através do movimento.

Na aula 03 como atividade inicial, os alunos sentados na rodinha, a professora trabalhou músicas como “Sítio do Seu Lobato”, “Borboletinha”, “Meu pintinho amarelinho” e “Vaca leiteira” combinando os ritmos das músicas com movimentos.

Com a música “Vaca leiteira” foi possível cantar e gesticular no ritmo normal, mais lento e mais rápido, depois baixinho e alto. Novamente os ritmos e os gestos com a música, permitindo que as crianças consigam fazer várias coisas ao mesmo tempo.

A RCNEI (1998), apesar de ser um dos primeiros documentos base para a educação infantil, relata no volume 3 atividades utilizando brincadeiras de roda ou danças circulares que favorecem o desenvolvimento da noção de ritmo individual e coletivo, introduzindo as crianças em movimentos inerentes à dança. Cita exemplo de uma música tradicional a “A Linda Rosa Juvenil”, que pode virar uma brincadeira, na qual a cada verso corresponde um gesto e proporcionam também a oportunidade de descobrir e explorar movimentos ajustados a um ritmo, conservando fortemente a possibilidade de expressar emoções. Aqui a dança está inserida no contexto da educação infantil, atividades parecidas com a que a professora fez na turma.

No momento seguinte utilizou tapetes de EVA e quando a música parasse elas tinham que ir para cima do tapete, os que ficavam de fora tinham que imitar um bicho.

A medida que a brincadeira avançava, os tapetes iam diminuindo de número e os alunos tinham que arranjar um jeito de ficar em cima sem machucar os outros. A percepção e a agilidade de raciocínio foram bem trabalhados pela professora.

Nessa atividade, a professora trabalhou com alguns dos seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento da BNCC: Conviver, Brincar, Participar, Explorar.

No campo de aprendizagem e desenvolvimento, “O eu, o outro e o nós”: as crianças

interagem com outras crianças ao estarem dentro dos tapetes, construindo sua própria

maneira de agir, sentir, pensar. A medida que a atividade progredia e os tapetes

diminuíram, as crianças tinham que se adequar ao pequeno espaço do tapete e

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