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“A desconsideração da pessoa jurídica não pode ter incidência com mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente

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Academic year: 2022

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(1)

Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios

Órgão 5ª Turma Cível

Processo N. Agravo de Instrumento 20080020082262AGI

Agravante(s) COMUNIDADE EVANGÉLICA DO DISTRITO FEDERAL Agravado(s) EDEVALDO ALVES DA SILVA E OUTROS

Relator Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA Acórdão Nº 319.431

E M E N T A

AGRAVO DE INSTRUMENTO – EXECUÇÃO DE SENTENÇA – ASSOCIAÇÃO CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS – IGREJA - DECISÃO QUE ACOLHE PEDIDO DE DESCONSIDERAÇÃO DE PERSONALIDADE JURÍDICA – REQUISITOS NÃO COMPROVADOS – ACOLHIMENTO DA INSURGÊNCIA.

1. “A desconsideração da pessoa jurídica não pode ter incidência com mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente. Necessária prova contundente do desvio de finalidade ou a demonstração de confusão patrimonial, ainda mais se tratando de pessoa jurídica sem fins lucrativos.”

2. A desconsideração da personalidade jurídica é medida extrema e cabível tão- somente quando comprovado, de modo inequívoco, “o abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial”

(CC/50).

3. Recurso provido. Unânime.

A C Ó R D Ã O

Acordam os Senhores Desembargadores da 5ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios, ROMEU GONZAGA NEIVA - Relator, LUCIANO VASCONCELLOS - Vogal, LECIR MANOEL DA LUZ - Vogal, sob a Presidência do Senhor Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA em proferir a seguinte decisão: CONHECER. DAR PROVIMENTO UNÂNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 27 de agosto de 2008

Certificado nº: 19EBF08900010000079E 29/08/2008 - 19:37

Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA Relator

(2)

R E L A T Ó R I O

Trata-se de agravo de instrumento interposto em face da decisão do MM. Juiz da 13ª Vara Cível de Brasília, nos autos da execução de sentença, ajuizada pelo Agravante, cuja parte dispositiva tem o seguinte teor (fl. 68):

“(...)

Assim sendo, entendo que é caso de desconsideração da personalidade jurídica da ré para que sejam alcançados os patrimônios pessoais do seu Presidente à época do fato, Sr. ROBSON LEMOS RODOVALHO e atual presidente SERAPIÃO RIBEIRO GOMES JÚNIOR, na conformidade do que prescreve o art. 50 do Código de Defesa do Consumidor. Venha aos autos o CPF do derradeiro presidente para fins de penhora on-line.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.”

A Agravante alega que o Código de Defesa do Consumidor não tem qualquer aplicação ao caso, tampouco há similitude acerca do assunto e, ainda que a decisão impugnada padeça de erro material (que deve ser o caso), mesmo assim não deve prevalecer, pois os Agravados sequer equiparam-se à condição de consumidores para obter tal proteção.

Argumenta que a desconstituição da personalidade jurídica é medida excepcional prevista no art. 50 do C. Civil, que estabelece a presença de dois requisitos para sua aplicação: o desvio de finalidade ou a confusão patrimonial, sendo que nenhuma das hipóteses resta configurada nos autos, bem como não pode ter incidência por mera demonstração de estar a pessoa jurídica em estado de insolvência.

Ressalta que “para quitar a dívida, mister buscar os próprios fiéis, uma vez que são estes os verdadeiros devedores quando se trata de Igreja, a exemplo dos associados quando se trata de associação”.

Cita precedentes jurisprudenciais que, no seu entender, lhe socorrem e indica a presença do fumus boni iuris e o periculum in mora, para requerer o recebimento do recurso com efeito suspensivo.

No mérito, postula o provimento do recurso para reformar a decisão guerreada.

Deferi o pedido de efeito suspensivo ao recurso.

As informações solicitadas foram prestadas.

O primeiro Agravado apresenta resposta pugnando pelo desprovimento do recurso.

Preparo regular.

É o relatório.

(3)

V O T O S

O Senhor Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA - Relator

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Para melhor compreensão da matéria, transcrevo a íntegra da decisão hostilizada (fl. 68):

“O exeqüente requer a desconsideração da personalidade jurídica da ré a fim de possibilitar que a execução atinja bens dos seus sócios, ao argumento de que não tem sido localizados bens da executada para satisfação do crédito e levando-se em consideração, ainda, que ao ser intimada para indicar bens passíveis de penhora o seu representante legal informou que a ré "sofreu um racha", pelo que vários pastores teriam pedido desligamento da matriz e cada um ficou com seu próprio ministério, razão pela qual não dispunha de bens passíveis de penhora.

É o relatório. Passo a decidir.

A desconsideração da personalidade é medida extrema que somente deve ser adotada em derradeira instância. Todavia, na presente espécie, ao proceder à intimação da devedora na pessoa de sua representante legal, Sr.

Serapião Ribeiro Gomes Júnior, este apontou a impossibilidade de indicar bens passíveis de penhora, ao argumento de que a ré teria "sofrido um racha".

A presente relação jurídica foi travada entre partes iguais, razão pela qual aplica-se à demanda o Código Civil. Este Diploma prevê a possibilidade de desconsideração da pessoa jurídica quando a sua personalidade é utilizada de forma abusiva, caracterizada pelo desvio de finalidade.

A ré é uma associação civil e se presume esteja em estado de insolvência conforme se depreende das declarações do seu atual representante, haja vista ter afirmado que ela "sofreu um racha" e não estaria em condições de solver os seus débitos. Enquanto associação civil, a ré já deveria estar dissolvida, a teor do que preconizam os artigos 61 do Código Civil, porém não consta tenha isto ocorrido. Desta forma, vislumbra-se o uso abusivo da personalidade jurídica da ré.

Assim sendo, entendo que é caso de desconsideração da personalidade jurídica da ré para que sejam alcançados os patrimônios pessoais do seu Presidente à época do fato, Sr. ROBSON LEMOS RODOVALHO e atual presidente SERAPIÃO RIBEIRO GOMES JÚNIOR, na conformidade do que prescreve o art. 50 do Código de Defesa do Consumidor. Venha aos autos o CPF do derradeiro presidente para fins de penhora on-line.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se”

(4)

Cumpre registrar inicialmente que não se cuida mesmo de hipótese de relação de consumo, sendo certo que a indicação legal constante da decisão acima transcrita refere-se, sem dúvida, ao Código Civil e não ao CDC; trata-se de erro material passível de ser corrigido a qualquer tempo, sem interferência na conclusão do decisum.

No mérito, a insurgência recursal merece acolhida, na medida em que destoa da lei e jurisprudência que regem a matéria.

Com efeito, a desconsideração da personalidade jurídica é medida extrema e cabível tão-somente quando comprovado, de modo inequívoco, “(...) o abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial” (CC/50).

Caso análogo a este restou decidido em julgamento relatado pelo eminente Des. Silvânio Barbosa dos Santos, em acórdão assim ementado:

“PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL.

DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. ASSOCIAÇÃO SEM FINS LUCRATIVOS. DESVIO DE FINALIDADE. INEXISTÊNCIA.

A desconsideração da personalidade da pessoa jurídica não terá incidência com a mera demonstração da insolvência da pessoa jurídica.

É necessário prova de que houve efetivamente desvio de finalidade, ainda mais se tratando de pessoa jurídica sem fins lucrativos.

Neste caso, não se vislumbra a oportunidade para agredir o patrimônio dos diretores da Associação.

4. Recurso desprovido.” (20040020036396AGI, Relator SILVANIO BARBOSA DOS SANTOS, 3ª Turma Cível, julgado em 14/06/2004, DJ 28/09/2004 p.

110)

Para melhor fundamentar meu posicionamento, transcrevo parte das razões contidas no precedente citado:

“(...) Resulta daí que a desconsideração da pessoa jurídica não pode ter incidência com mera demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente.

Necessária prova contundente do desvio de finalidade ou a demonstração de confusão patrimonial, ainda mais se tratando de pessoa jurídica sem fins lucrativos.

Com efeito, a defesa intransigente em juízo, por parte da associação, ou tomada de empréstimo perante ente financeiro para cobrir as despesas, ante deficiência da receita, não constitui abuso de direito ou desvio de finalidade, e não há nos autos a mínima prova de que os diretores desviaram para seus patrimônios pessoais bens da referida associação.

(5)

A inatividade da pessoa jurídica, em virtude da inexistência de receitas, não conduz também a diretiva para encerramento irregular, pois, aqui, como alertado pela ilustre autoridade judiciária de primeiro grau, trata-se de pessoa jurídica sem fins lucrativos.

Realmente, não se vislumbra, pelos documentos anexados com a minuta, oportunidade para agredir o patrimônio dos diretores da referida Associação.

Iniludivelmente, não se exige ação para o único fim de se declarar que não mais será considerada a personalidade jurídica da pessoa, podendo ser declarada em processo de conhecimento ou de execução, incidentemente, todavia, ante prova robusta. Se essa inexiste, realmente, o melhor caminho, querendo a parte, buscar o crédito, em ação de conhecimento, quando então a dilação probatória será ampla.”

Em face destas considerações, dou provimento ao recurso para cassar a decisão hostilizada, porque ausentes os requisitos que autorizam a medida extrema de desconsideração da personalidade jurídica da Agravante.

É como voto.

O Senhor Desembargador LUCIANO VASCONCELLOS - Vogal Com o Relator

O Senhor Desembargador LECIR MANOEL DA LUZ - Vogal Com o Relator

D E C I S Ã O

CONHECER. DAR PROVIMENTO UNÂNIME.

Referências

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