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AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE TENSÕES ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA.

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Academic year: 2021

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AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE – TENSÕES ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA.

Pedro Wilson Fonseca Junior*, CNPq, UNESP, Assis - SP, Brasil;

Prof. Dr. Sílvio Yasui, CNPq, UNESP, Assis – SP, Brasil.

Contato: pedrowfonsecajr@gmail.com Palavras-chave: Atenção básica. Sistema único de saúde. PNAB.

Para refletirmos acerca do trabalho dos agentes comunitário de Saúde (ACS), é necessário retomamos o surgimento da estratégia dos agentes comunitários de Saúde no Brasil dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) e contextualizamos as transformações das políticas de saúde no Brasil. Embora desde o fim da década de 1970 existam propostas semelhantes ao da implementação de agentes comunitários para as demandas em saúde (ROSA et al, 2012), a primeira experiência de implementação do Programa aconteceu em 1987 no Ceará – NO e impactou positivamente aquela realidade em comparação com o restante do Brasil. (BRASIL, 2001). Frente o sucesso da estratégia dos ACS no Ceará, em 1991, o Ministério da Saúde (MS) em parceria com secretários estaduais e municipais criaram o Programa Nacional de Agente Comunitário da Saúde (PNACS) e posteriormente o Programa de Agentes comunitário de saúde (PACS) com o objetivo de reduzir os indicadores de morbimortalidade infantil e materna em função da seca no Nordeste Brasileiro (BARROS, 2010) e concomitantemente, como destaca Nogueira (2000), fomentar o mercado de trabalho daquela região.

Em 1994 foi criado o Programa de Saúde da Família (PSF), onde integrado ao PACS (TOMAZ, 2002), possuíam o objetivo de dar continuidade à produção de saúde em caráter universal, contrastando com modelo de saúde que vinha sendo utilizada na saúde anterior ao SUS. Com a função de fomentar a saúde como um direito social e universal, o PSF possui como sua principal tecnologia a Atenção Básica (Atenção Primária de Saúde). De acordo com a Secretária de Políticas de Saúde (2000), a prioridade a Atenção Básica não ocorre apenas em função do custo ou da simplicidade da tecnologia, mas em consideração ao entendimento dos profissionais da saúde acerca do caráter fundamental da ferramenta para o SUS, caráter este pautado na prevenção e na promoção de saúde. Nesse sentido, segundo Levcovitz et al (1996), a PSF promove um modelo de atenção que objetiva reconhecer a saúde como um direito de cidadania.

Em 1996, com a Norma Operacional Básica do SUS (NOB/96), a PSF se transforma em

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Estratégia da Saúde da Família (ESF) e em conjunto com o PACS são instituídos como eixos estruturantes do SUS.

A partir dessa contextualização, conclui-se que o PACS e a ESF possuem como objetivo reorganizar a atenção básica e não apenas aumentar a extensão de cobertura do SUS. (TOMAZ, 2002), e que as normas e diretrizes da PNAB devem ser norteadoras para o trabalho do ACS. Entretanto, questionamos alguns paradoxos existentes entre as diretrizes e funções deste trabalhador presentes na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) de 2011 e a realidade de sua profissão.

O presente trabalho é uma pesquisa documental de natureza qualitativa, utilizando-se de referencial bibliográfico e documental sobre a ESF e os ACS no período de 1994 a 2017. Serão consultadas obras disponíveis nas bases de dados de revistas cientificas (Scielo, BIREME, MedLine e outras) tendo como critério os seguintes termos: ESF e agentes comunitários de saúde; ACS e território; ACS e contexto cultural; ACS e politica de saúde; ACS e ambiente

A partir de uma primeira leitura dos resumos, serão escolhidos artigos ou trabalhos científicos que relatem experiências de trabalhadores ou gestores no enfrentamento aos desafios para consolidação da ESF em consonância com o programa de ACS. Escolhidos os artigos e trabalhos científicos (teses e dissertações) os mesmos serão analisados buscando identificar as estratégias utilizadas pelos trabalhadores e gestores para a consolidação da ESF em consonância com o programa de ACS.

Atualmente no Brasil existem 260,7 mil ACS espalhados por todos os estados brasileiros, segundos dados de 2017 do Ministério da Saúde. O ACS compõe uma equipe interdisciplinar da ESF composta por um médico, um enfermeiro, um auxiliar ou técnico de enfermagem e cinco ou seis ACS. Onde estes são responsáveis, cada um, por uma micro-área em que a população não deve ser superior a 750 pessoas (BRASIL, 2011). Segundo Silva e Dalmaso (2006) as motivações que levam um indivíduo a se tornar um ACS são a possibilidade de um trabalho remunerado; poder ajudar a população tida como “carente”; e por fim, a possibilidade do aprendizado e da profissionalização no campo de trabalho da enfermagem.

A lei 10.507 de 2002 deu início à regulamentação da profissão dos ACS, porém em 2006 esta lei foi revogada e substituída pela lei 11.350 que trazia novas diretrizes e regras para a contratação e manutenção do trabalho do ACS no Brasil. O Art. 6º desta lei estabelece que o ACS deva residir no território em que trabalhará. Tal regra tem por finalidade, segundo Nunes et al (2002), o aumento da eficácia das ações de educação em

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saúde, em função do ACS compartilhar o mesmo contexto social, cultural e linguístico, além de facilitar o desenvolvimento de estratégias mais eficazes no âmbito da adesão às recomendações médicas (NUNES et al, 2002). Porém, salienta Marzari et al (2011) que, embora o ACS resida na mesma comunidade que a população atendida, isso não garante facilidade na criação de vínculos necessários a produção de saúde, pois há muitos moradores que não compreendem qual o papel daquele profissional na comunidade. As resistências podem manifestar-se desde o não acolhimento dos comportamentos ensinados, como a recusa de receber o ACS em casa. Esta resistência revela que, nesses casos, não existe um diálogo entre o saber popular e o saber médico que permita refletir como ambos podem contribuir para o bem-estar das pessoas, ou seja, por um lado, é fato que algumas práticas populares fazem mal a saúde do ponto de vista biomédico, mas por outro, é necessária a compreensão de que tais práticas estão inscritas no contexto cultural daquela comunidade (NUNES et al, 2002), e devem ser levadas em consideração na relação entre ACS e comunidade.

Nesse sentido, consideramos indispensável à produção de vínculos entre profissional e usuário, para que sejam possíveis processos de saúde baseados no ato do cuidado. Além disso, estes trabalhadores devem desenvolver habilidades específicas para a construção e manutenção da qualidade da assistência prestada como: uma boa comunicação com a população; bom relacionamento interpessoal com a equipe; senso de organização e constante vigilância em saúde (FRAGA, 2011). Somado a isso, segundo Marzari (2007), o ACS deve ter um perfil que englobe as perspectivas relacionadas à percepção e sensibilidade acerca do território, ou seja, o agente precisa possuir uma visão macro de sua comunidade.

Portanto, a Educação Permanente (EP) é uma proposta ético-político-pedagógica que visa instigar a aprendizagem no próprio processo de trabalho e diminuir a alienação, bem como a burocratização dos serviços de saúde, além de buscar ampliação da autoestima e a capacidade de reflexão dos trabalhadores. (BRASIL, 2014). Sua principal estratégia é a problematização das situações enfrentadas no cotidiano em coletivos através de espaços de diálogos, rodas de conversa e mapeamento de fluxos de processos, para na potência desses encontros, desenvolverem em conjunto um novo saber. Tal processo gera um movimento instituínte de novas práticas (BRASIL, 2014), e possibilita o desenvolvimento de outras metodologias que favoreçam o protagonismo da relação trabalhador em saúde e usuários do serviço. A educação permanente produz trabalho vivo em ato, ou seja, estimula o processo de aprendizagem no ato do trabalho

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rompendo com a educação bancária criticada por Paulo Freire (1987) e fazendo do professor, não mais um depositário, mas um catalisador do processo de reflexão.

(BRASIL, 2014).

Acreditamos que o fortalecimento constante e o cumprimento por parte do MS e dos gestores de saúde da agenda de Educação Permanente (EP) dentro do contexto dos ACS é de fundamental importância para a transformação das relações de trabalho em saúde segundo os dois eixos aqui apontado: a relação dos ACS com outros profissionais e a relação dos ACS com a comunidade. A educação permanente é uma estratégia com o objetivo de instigar a reflexão do trabalhador da saúde a partir do encontro com o outro trabalhador, com outras metodologias e outras formas de fazer saúde. Ou seja, a EP aposta na micropolítica do trabalho vivo em ato que permite ao profissional poder ouvir, cuidar e criar vínculos, pois “a extrema objetivação e a focalização do olhar e da ação sobre o corpo biológico deixam de lado muitos outros elementos que são constitutivos da produção de vida e que não incluídos, trabalhados, tanto na tentativa de compreender a situação, como nas intervenções para enfrentá-la” (MERHY, et al, 2009).

Referências

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http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/pacs01.pdf>

_______. Lei n. 11.350 de 05 de outubro de 2006. Dispõe sobre o exercício das atividades de Agente Comunitário de Saúde e de Agente de Combate às Endemias. B.

Ministério Da Saúde. 2006. Disponível em <

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11350.htm>

_______. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção – Brasília : Ministério da Saúde, 2012. 110 Disponível em <

http://dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.php?conteudo=publicacoes/pnab> Acesso em 10/03/2018.

_______. Ministério da Saúde. Educação Permanente em Saúde: um movimento instituinte de novas práticas no Ministério da Saúde – 1. ed., 1. reimpr. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014. 120 p. Disponível em <

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http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/educacao_permanente_saude_movimento_in stituinte.pdf> Acesso em 24/08/2018.

FRAGA, O.S. Agente comunitário de saúde: elo entre a comunidade e a equipe da esf?.

Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Medicina. Núcleo de Educação em Saúde Coletiva . Governador Valadares, 2011.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

MARZARI, CK; et al. Agentes comunitários de saúde: perfil e formação. Ciênc. saúde coletiva. 2011, vol.16.

MERHY, E.E.; et al. Novo olhar sobre as tecnologias de saúde: uma necessidade contemporânea. In: MANDARINO, A.C.S.; GOMBERG, E. (Orgs.). Leituras de novas tecnologias e saúde. São Cristóvão: Editora UFS, 2009. p.29-74.

NUNES, M. O; et al. O agente comunitário de saúde: construção da identidade desse personagem híbrido e polifônico. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, n.

6, p. 1639-46, nov./dez. 2002

PEDUZZI, M. Equipe multiprofissional de saúde: conceito e tipologia. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 35, p. 103-109, 2001.

ROSA, A.J; et al. O sofrimento psíquico de agentes comunitários de saúde e suas relações com o trabalho. Saude soc vol.21, n.1, pp.141-152. 2012

SILVA, J.A; DALMASO, A.S.W. Agente comunitário de saúde: o ser, o saber, o fazer.

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TOMAZ, J.B.C. O agente comunitário de saúde não pode ser um “super-herói”.

Interface – Comunic, Saúde, Educ [periódico na Internet]. 2002

BARROS, D. F. et al. O contexto da formação dos Agentes Comunitários de Saúde no Brasil. Texto Contexto Enfermagem, 19 (1), 78-84. 2010

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