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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM PERNAMBUCO

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PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVONº. 1.26.000.000250/2012-20 REPRESENTANTE: ANA KARINA MAGALHÃES CARDOSO

REPRESENTADO: MINISTÉRIODA EDUCAÇÃO

PROMOÇÃODE ARQUIVAMENTO

1. Cuida-se de procedimento administrativo instaurado nesta Procuradoria da República a partir de representação on-line, formulada por Ana Karina Magalhães Cardoso, a qual noticiou eventual irregularidade no procedimento de inscrição e contratação do financiamento estudantil concedido pelo Fundo de Financiamento ao Estudante de Ensino Superior – FIES.

2. Em resumo, a representante alega que o FIES, para o fim de calcular a margem passível de financiamento, não poderia aferir a condição financeira dos estudantes com base na renda bruta do grupo familiar, em razão de o valor nominal de tal renda ser determinado anteriormente aos recolhimentos tributários e descontos outros de natureza diversa que sobre ela ocorrem.

3. Sustenta a representante que o método de cálculo da renda familiar adotado pelo Ministério da Educação, pautado na renda bruta, inviabiliza o acesso de centenas de estudantes ao FIES.

4. É o que se põe em análise.

5. Em primeiro lugar, impõe-se dizer que é antigo o costume contábil da Administração de eleger a renda “bruta” como parâmetro de averiguação da capacidade econômica dos administrados.

6. Essa opção se justifica pelo fato de que a renda denominada “líquida” não leva em consideração certas consignações realizadas em folha de pagamento, as

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quais, por si sós, são capazes de exprimir poder aquisitivo, tais como ocorrem com os descontos resultantes de contratos de empréstimo e de plano de saúde suplementar, bem como com as contribuições sindicais e as prestações alimentícias. 6. Assim, lançando mão da renda bruta, a verificação da capacidade econômica se afigura, em geral, mais adequada para esse fim, na medida em que é possível se estimar, por presunção, qual o montante que o cidadão vem regularmente recolhendo ao Fisco. Por isso, a bem da verdade, é de se pressupor que o exame baseado na renda líquida é que poderia gerar discrepâncias, e não o respaldado na renda bruta, como sustenta a representante.

7. Em segundo lugar, como se sabe, o FIES foi instituído pela Lei nº. 10.260/2001, tendo por objeto a concessão de financiamento a estudantes regularmente matriculados em cursos superiores não gratuitos e com avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação.

9. De sua vez, o procedimento de inscrição e contratação de financiamento junto ao fundo foi regulamentado pela Portaria Normativa nº. 10/2010, publicada pelo MEC.

10. Nesse ponto, necessário salientar que a Portaria Normativa nº. 10/2010, devido à sua natureza infralegal, foi editada pelo Poder Executivo sob o uso de critérios eminentemente administrativos, à vista de ponderações políticas de conveniência e oportunidade.

11. Com efeito, em que pese não possa o Ministério da Educação – por delegação do Chefe do Poder Executivo – se furtar de efetivamente viabilizar a execução da Lei n. 10.260/2001, é certo que a sua tarefa regulamentar se cumpre mediante uma deliberação de mérito administrativo, cuja revisão e apreciação é, a princípio, vedada ao parquet e ao Poder Judiciário. Apenas na excepcional hipótese de exercício abusivo do poder discricionário, verificável por meio das noções de razoabilidade e proporcionalidade em sentido estrito, é que as intervenções ministerial e judicial se fazem legítimas.

13. Em terceiro lugar, quanto à alegação de que os critérios de cálculo escolhidos pelo MEC, assentados na renda bruta, tolhem o acesso dos estudantes ao FIES, vejamos o que dispõe a Portaria Normativa n. 10/2010, no que interessa ao objeto específico destas peças de informação:

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I - até 100% (cem por cento) dos encargos educacionais cobrados do estudante por parte da IES quando o percentual de comprometimento da renda familiar mensal bruta per capita com estes encargos, calculado na forma prevista no art. 7°, for igual ou superior a 60% (sessenta por cento);

II - até 75% (setenta e cinco por cento) dos encargos educacionais cobrados do estudante por parte da IES quando o percentual de comprometimento da renda familiar mensal bruta per capita com estes encargos, calculado na forma prevista no art. 7°, for igual ou superior a 40% (quarenta por cento) e inferior a 60% (sessenta por cento);

III - de 50% (cinquenta por cento) dos encargos educacionais cobrados do estudante por parte da IES quando o percentual de comprometimento da renda familiar mensal bruta per capita com estes encargos, calculado na forma prevista no art. 7°, for igual ou superior a 20% (vinte por cento) e inferior a 40% (quarenta por cento).

(…)

Art. 7º O percentual de comprometimento da renda familiar mensal bruta per capita será calculado aplicando-se a seguinte fórmula:

[ ( VS / 6 ) ÷ RF ] x 100 onde:

VS = valor da semestralidade do estudante, considerando todos os descontos regulares e de caráter coletivo oferecidos pela IES, inclusive aqueles concedidos em virtude de pagamento pontual, independentemente da periodicidade do curso;

RF = renda familiar mensal bruta per capita do grupo familiar do estudante, obtida mediante a divisão da renda familiar mensal bruta referida no §1º do art. 8º pelo número de membros do grupo familiar, dentre aqueles enumerados no inciso I do caput do art. 8º.

(…)

§ 1º Entende-se como renda familiar mensal bruta a soma de todos os rendimentos auferidos por todos os membros do grupo familiar, que compreende:

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do patrimônio e quaisquer outros, bem como benefícios sociais, salvo seguro desemprego, de todos os membros do grupo familiar, incluindo o estudante; e

II - qualquer auxílio financeiro regular prestado por pessoa que não faça parte do grupo familiar.

(…)

Art. 9º É vedada a inscrição no FIES a estudante: (…)

IV - cujo percentual de comprometimento da renda familiar mensal bruta per capita calculado na forma prevista no art. 7°, seja inferior a 20% (vinte por cento).”

14. Se é verdade, de um lado, que o Poder Executivo elegeu a renda bruta do grupo familiar como fator basilar para a mensuração da capacidade financeira do estudante; também o é, de outro, que o MEC estabeleceu, como requisitos do benefício, percentuais relativamente módicos de comprometimento da renda mensal bruta per capita da família.

15. Noutras palavras, muito embora o Ministério da Educação tenha admitido como critério a renda bruta do grupo familiar – e não pela renda líquida –, essa escolha parece ter sido financeiramente equilibrada pela previsão de um comprometimento pouco expressivo do orçamento familiar bruto como suficiente para que o estudante venha a ser contemplado pelo FIES.

16. Basta, então, que os encargos educacionais cobrados ao estudante pela instituição de ensino superior comprometam 20% (vinte por cento) da renda familiar mensal bruta per capita, para que o fundo execute o financiamento de 50% (cinquenta por cento) desses encargos (art. 6º, III, da Portaria Normativa n. 10/2010).

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18. De outro giro, ainda mantendo o suposto valor de mensalidade de R$ 900 (novecentos reais), poderão os estudantes se favorecer do financiamento de até 100% (cem por cento) do valor dos encargos educacionais se porventura a renda mensal bruta per capita de sua família for igual ou inferior a R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais)1.

19. De tais exemplos, pode-se inferir que os critérios insculpidos na Portaria Normativa n. 10/2010 – no que concerne ao estabelecimento da renda bruta como fator de cálculo do montante a ser financiado – não maculam a legalidade, tampouco a razoabilidade ou a proporcionalidade. De igual modo, não obstam o acesso da população economicamente desfavorecida ao FIES, visto que fixam limites de renda socialmente aceitáveis.

20. Em face do exposto, conclui-se pela inexistência de fundamento para o prosseguimento deste feito, razão pela qual promovo o seu arquivamento.

21. Comunique-se a presente decisão ao(s) noticiante(s), nos termos do art. 17 da Resolução CSMPF nº. 87, de 2006, cientificando-o(s), inclusive, da previsão inserta no § 3º desse dispositivo.

22. Em seguida, encaminhem-se os autos à revisão (PFDC), no prazo estipulado no § 2º do art. 17 da Resolução CSMPF nº. 87, de 2006

Recife, 11 de junho de 2012.

CAROLINADE GUSMÃO FURTADO PROCURADORADA REPÚBLICA (4º OTC, EMSUBSTITUIÇÃOAO 3º OTC)

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