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CONVERSAÇÃO EM REDE OU CENTRADA NO PROFESSOR? 1

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Academic year: 2021

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CONVERSAÇÃO EM REDE OU CENTRADA NO PROFESSOR?1 Mariano Pimentel2, Valleska Cristina Martins da Silva3, Vânia Maria Félix Dias4,

Ricardo Rodriguez5

Na pesquisa aqui resumida, baseada na dissertação de Silva (2016), investigamos o uso e o desenvolvimento de sistemas de bate-papo no contexto educacional. A presente pesquisa foi concebida no paradigma epistemológico-metodológico Design Science Research, em que se produz conhecimento por meio do desenvolvimento de artefatos com base em conjecturas teóricas (WIERINGA, 2014).

Compreendemos que a conversação pelo bate-papo, como a que o ocorre pelo Facebook e WhatsApp, é uma prática cibercultural, o que nos inspira e nos convida a (re)pensar nossas práticas educacionais, principalmente no contexto de Educação a Distância (EAD) que vem se expandindo muito no Brasil (INEP/MEC, 2014). Entendemos que vivemos um momento de transição: embora as práticas da EAD ainda estejam predominantemente fundadas numa concepção massiva de educação (BELLONI, 2008), esperamos que essas práticas sejam reconfiguradas pela cibercultura, constituindo o que Santos (2015) denomina educação online: “Assumimos que a educação online não é apenas uma evolução das gerações da EAD, mas um fenômeno da cibercultura” (idem, p.47).

Compreendemos que nosso papel de pesquisadores, professores e informatas é produzir conhecimento, práticas e tecnologias que apoiem nossa sociedade a reconfigurar a EAD, saindo de um modelo de educação massiva para uma educação mais interativa (SILVA, 2000). Especificamente nesta pesquisa visamos promover a conversação em rede por meio do bate-papo no contexto da educação online.

1. Artigo apresentado ao Eixo Temático 11 – Educação a distância / Educação online / Métodos e processos pedagógicos do IX Simpósio Nacional da ABCiber.

2. Professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). É Doutor em Informática (PUC-Rio) e participa do Grupo de Pesquisa ComunicaTEC (UNIRIO). E-mail: pimentel@uniriotec.br

3. Mestra em Informática (UNIRIO) e participa do Grupo de Pesquisa ComunicaTEC (UNIRIO). E-mail: valleska.dasilva@uniriotec.br

4. Professora da UNIRIO. É Doutora em Engenharia de Sistemas e Computação (UFRJ) e participa do Grupo de Pesquisa ComunicaTEC (UNIRIO). E-mail: vania@uniriotec.br

5. Mestrando em Informática (UNIRIO) e participa do Grupo de Pesquisa ComunicaTEC (UNIRIO). E-mail: ricardo.rodriguez@uniriotec.br

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Apesar do potencial para promover a interatividade, o bate-papo acaba frequentemente sendo utilizado para efetivar uma tutoria reativa: o tutor fica disponível durante um horário e os alunos podem tirar dúvidas pelo papo, o que representa uma subutilização do bate-papo por não efetivar a relação comunicacional todos-todos que é típica desse meio de conversação (RECUERO, 2012; CALVÃO et al., 2014). Mesmo quando o professor usa o bate-papo para promover uma dinâmica colaborativa, ainda pode acabar efetivando uma prática que se caracteriza mais pelo modelo comunicacional um-todos, como exemplificado na Figura 1, em que a conversação fica centrada no professor em vez de se efetivar a conversação em rede (todos-todos, sem um centro).

Figura 1. Conversação centrada no professor

O objetivo da presente pesquisa foi desenvolver um método para caracterizar se a conversação no bate-papo foi em rede ou centrada no professor. O primeiro passo é identificar o encadeamento da conversação no log do bate-papo, isto é, identificar para qual mensagem anterior cada mensagem dá continuidade discursiva. Com essas inferências, é possível identificar quem falou para quem a cada mensagem, sendo possível contabilizar o total de mensagens emitidas e recebidas (endereçadas a cada participante). A Tabela 1 exemplifica o resultado da análise de um log de bate-papo realizada no contexto educacional.

Professor Aluno

Aluno Aluno

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Tabela 1. Quantidade de mensagens enviadas e recebidas (endereçadas ao participante)

Participante Mensagens Enviadas (endereçadas ao participante)Mensagens recebidas

Simone (professora-tutora) 24 139 Rachel 78 30 Tati 14 16 Patricia 11 15 Gleice 22 10 Josiane 18 10 Rejane 11 8 Eliane 8 8 Tatiane 26 6 Renata 18 6 Rosilane 18 6 Glaucia 12 6 Márcia 1 1 Liliane 0 0

Para analisar se a conversação foi centrada em alguém, utilizamos também um método para identificar “ponto fora da curva” (WIKIPEDIA, 2016), que é um valor anormal comparado com os demais valores do conjunto. Na Tabela 1, a aluna Rachel produziu três vezes mais mensagens que a própria professora – Rachel é identificada como um ponto fora da curva em termos de produção de mensagens, ou seja, é uma “tagarela”. Contudo, essa aluna não se tornou o centro das atenções. A maioria das mensagens foram direcionaram para a professora-tutora (recebeu 139 mensagens), sendo Simone identificada como um ponto fora da curva em termos de mensagens endereçadas ao participante, o que nos leva a concluir que a conversação foi centrada na professora-tutora (Figura 2).

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Figura 2. Grafo de quem falou para quem. O tamanho do círculo é proporcional à

quantidade de mensagens endereçadas ao participante. Simone foi quem teve mais mensagens a ela endereçadas, quantidade identificada como um ponto fora da curva, o que nos leva a concluir que a conversação foi centrada na professora-tutora.

Seguindo este método, analisamos outras quatro sessões de bate-papo no contexto da disciplina “Informática em Educação” do curso de Licenciatura em Pedagogia a distância da UNIRIO/CEDERJ/UAB, que constituíram as unidades de análise dos casos investigados na presente pesquisa (YIN, 2010). Supreendentemente, em todas as cinco sessões analisadas foi identificado que o(a) professor(a)-tutor(a) se tornou o centro da atenção da sessão de bate-papo. Produzimos um relatório com as análises de cada sessão (artefato desenvolvido nesta pesquisa), o que foi apresentado a cada professor(a)-tutor(a) no momento em que fomos entrevistá-lo(a). Ao perguntarmos sobre o que achou da conversação ter sido centrada no(a) professor(a)-tutor(a):

Ronaldo: Por mais que eu tenha tentado promover uma discussão entre elas [as

alunas], eu acho que talvez não tenha sido tão bem sucedido e elas meio que se dirigiram a mim mesmo, durante a conversa. (...) não há um letramento digital neste sentido né (...) Se você for olhar as últimas colocações, você vai ver coisas assim: "eu tava muito nervosa, mas achei bacana", "não sabia que dava pra fazer isso" coisas assim... Declarações que foi a primeira vez que fez isso, que não sabia que dava pra conversar com várias pessoas ao mesmo tempo, então eu acho que isso é fruto de uma insegurança e uma falta de prática de conversa em grupo.

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Gracy: Não, não, mas poderia ter equilibrado isso.

Simone: Não vejo como um problema não, eu não tenho porque ver isso não, é

igual eu falei, pode ser isso "professora eu concordo com você" mas eu não vejo isso como um grave erro.

Viviane: Eu acho que depende muito da dinâmica, acho que tem que avaliar sobre o

que é proposto, no bate-papo é difícil você não ter um bate-papo centrado, se não vira bagunça, ninguém vai entender quem ta falando com quem (...) acho que ele foi centralizado sim, mas no sentido de ser mediado, não no sentido de ser pergunta e resposta.

Vivian: Eu sou a tutora e to ali pra isso (...)a gente ta ali pra isso, pra tirar duvidas,

o que acontece, nesse bate-papo além da gente ta tirando duvidas, a gente também ta motivando alunos né, mediando esse bate-papo, então as vezes a gente também pergunta, instiga, faz bem, entendeu?

Ronaldo reconheceu que se tornou o centro das atenções, embora tenha realizado um esforço para promover a conversação em rede entre todos-todos; e considera que acaba se tornando o centro das atenções talvez por uma questão cultural, pelo fato das alunas não estarem acostumadas a discutir sincronamente em rede. Gracy admitiu que “poderia ter equilibrado” para não se tornar o centro da conversação. Simone não reconheceu a centralidade como um problema, mas ficou com uma certa inquietação ou dúvida, pois reconheceu como sendo um “erro” ainda que não o julgue como “grave”. Já Viviane considera que a centralidade é necessária para a conversação não virar uma bagunça, e que a conversação fica centrada no professor em decorrência da mediação docente. Já Vivian assume que o bate-papo é um lugar para o professor tirar dúvidas e por isso seria natural a conversação estar centrada no professor.

Entendemos que caracterizar o resultado da mediação do(a) professor(a)-tutor(a), explicitando se ele(a) se tornou o centro da conversação do bate-papo (e também de outros meios de conversação como o fórum de discussão [SANTOS et al., 2016]) é um primeiro passo para levá-lo(a) a repensar sua prática docente no contexto da educação online. Contudo, é preciso trabalhar a formação desses professores-tutores para que seja discutida em mais profundidade a questão da centralidade da conversação, a importância da conversação em rede e a finalidade da mediação docente. Em pesquisas futuras, desejamos trabalhar com oficinas da análise da conversação em rede e discutir a questão da interatividade na educação online para apoiar a formação desses professores-tutores.

Palavras-chave: bate-papo; Análise de Redes Sociais; Educação online; mediação docente;

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Referências bibliográficas

BELLONI, Maria Luiza. Educação a distância. 5ª ed. Campinas, SP: Autores Associados, 2008. CALVÃO, Leandro Dantas, PIMENTEL, Mariano, FUKS, Hugo. Do email ao Facebook: uma perspectiva evolucionista sobre os meios de conversação da internet [eBook]. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2014.

INEP/MEC. Censo da Educação Superior 2014 – Notas Estatísticas. Documento online: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/censo_superior/documentos/2015/notas_sobre_o_cen so_da_educacao_superior_2014.pdf>. Acessado em 31 out 2016.

RECUERO, R. A conversação em rede: comunicação mediada pelo computador e redes sociais na

Internet. Porto Alegre: Sulina, 2012.

SANTOS, Edméa Oliveira, CARVALHO, Felipe da Silva Ponte, PIMENTEL, Mariano. Mediação docente online para colaboração: notas de uma pesquisaformação na cibercultura. Revista ETD

-Educação Temática Digital, Campinas, v.18, n.2, p. 23-42, 2016

SANTOS, Edméa Oliveria. Pesquisa-Formação na Cibercultura [ebook]. Whitebooks, 2015. SILVA, Marco. Sala de Aula Interativa. Rio de Janeiro: Quartet, 2000.

SILVA, Valleska Cristina Martins. Análise da Conversação no Bate-papo: em rede ou centrada no

professor? Dissertação, Mestrado em Informática. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2016.

WIERINGA, Roel J. Design Science Methodology for Information Systems and Software

Engineering. New York: Springer-Verlag Berlin Heidelberg, 2014.

WIKIPEDIA. Outlier. Disponível online: <https://en.wikipedia.org/wiki/Outlier> Acessado em 31 out 2016

YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 4. ed. Porto Alegre: Bookman, 2010. ABCiber, 2009.

Referências

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