PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
.ST a - TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÂO PAULO 2 f i A C Ó R D Ã O ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA C U REGISTRADO(A) SOB N°
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^ ' Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n? 569.867-4/0-00, da Comarca de
SÃO PAULO, em que são apelantes FALIDA de CERINTER S/A INDUSTRIA E COMÉRCIO, BANCO DO ESTADO DE SÃO PAULO S/A - BANESPA sendo apelados BANCO 'DO ESTADO DE SÃO PAULO S/A - BANESPA, MASSA FALIDA de CERINTER S/A INDUSTRIA E COMÉRCIO.:
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ACORDAM, em Terceira Câmara- de Direito Privado do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão': "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO DO AUTOR E DERAM PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO DO RÉU, V.U.", de conformidade com1o voto do Relator, que integra este acórdão.
O , julgamento teve a participação dos
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Desembargadores ADILSON DE ANDRADE e EGIDIO GIACOIA.
São Paulo, 12 de agosto de 2008.
BERETTA DA SILVEIRA
J Presidente e Relator
APELAÇÃO N°: 569.867.4/0-00 COMARCA: SÃO PAULO - 4VC
APELANTE: CERINTER S/A INDÚSTRIA E COMÉRCIO (MASSA FALIDA) E OUTRO
APELADO: BANCO DO ESTADO DE SÃO PAULO S/A BANESPA E OUTRO
* Depósito judicial - Expurgos inflacionários dos Planos Verão, Collor I e Co/lor II - Juros moratórios contados a partir do evento danoso, conforme Súmula 54 do STJ - Inaplicabilidade do instituto da compensação em relação ao débito da massa falida - Legitimidade do banco depositário para integrar o pólo passivo da lide - Juros remuneratórios integram o principal, tendo, portanto, o prazo prescricional de 20 anos - Aplicação do índice do IPC, que reflete a inflação real do período - Juros de mora de 0,5% até o início da vigência do CC/2002, passando a 1% - Recurso do autor provido e recurso do réu provido em parte somente em relação aos juros de mora. *
Trata-se de ação ordinária de cobrança, referente aos expurgos inflacionários em razão dos planos econômicos de 1989, 1990 e
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1991, julgada procedente pela r. sentença de fls. 362/365, cujo relatório se adota.
Apela a autora alegando, em resumo, que os juros moratórios devem ser contados a partir do momento do ato lesivo, e não da citação.
Aduz, ainda, a impossibilidade de compensação de crédito do banco, por ser anterior à quebra, sob pena de se incorrer em tratamento desigual dos credores da mesma categoria. Pede a reforma em parte da sentença.
Apela também o réu alegando, em suma, sua ilegitimidade passiva no período entre março e maio de 1990, a legalidade de seus procedimentos por ocasião dos planos econômicos vigentes à época, e a correção devida de juros de mora conforme os índices constantes na Tabela Prática do Tribunal de Justiça. Pede a reforma integral da sentença para se declarar a improcedência da demanda.
Recursos recebidos e respondidos. Preparo anotado.
Manifestou-se a Procuradoria Geral de Justiça pelo improvimento do recurso do réu e pelo provimento do da autora.
Distribuído o feito, inicialmente, à 11a Câmara de Direito Privado, Relator Desembargador Renato Rangel Desinano, o v. acórdão de fls. 506/512 declinou da competência recursal, sendo redistribuído para
esta 3a Câmara de Direito Privado, a esta Relatoria. ^^^^^^^
APELAÇÃO A'"- 569.867.4/0-00 SÃO RMfíO-4VC- VOTO ,V: 15.174
É o relatório.
Da apelação do autor
Equivocada a r. sentença no tocante à fixação dos juros moratórios a partir da citação, porquanto se trata de depósito judicial, instituto regido por normas de direito público, de natureza administrativa e não contratual. Deste modo, o termo inicial de incidência dos juros moratórios em caso de responsabilidade extracontratual é a da data do evento danoso, nos termos da Súmula 54 do STJ.
Quanto ao instituto da compensação, modo indireto de extinção de créditos, depreende-se da lei que esse instituto, embora seguindo a regra de que a diferença de causa dos débitos não impede a compensação, está ela excluída em certos casos (artigo 373, incisos I, II e III do Código Civil). No entanto, não há que se falar que ao caso cabe a exceção da exclusão por se tratar de depósito, porque a lei se refere ao contrato de depósito, disposto nos artigos 627 e ss. do Código Civil.
Por outro lado, a previsão no artigo 122 da Nova Lei de Falências dispõe que:
"Art 122 Compensam-se, com preferência sobre todos osjjer^is credores, as dívidas do devedor vencidas até o dia da decretação da üá^ma^ provenha o vencimento da sentença de falência ou não, obedecido^ofj^uisitos da legislação
civil ^ ^ ^ ^
APELAÇÃO N°: 569.867.4/0-00 SÃO PAULO-4VC - VOTO V ; 15.174
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Parágrafo único Não se compensam
I - os créditos transferidos após a decretação da falência, salvo em caso de sucessão por fusão, incorporação, cisão ou morte, ou
II - os créditos, ainda que vencidos anteriormente, transferidos quando já conhecido o estado de crise econômico-financeira do devedor ou cuja transferência se operou com fraude ou dolo
Na hipótese do caso em tela, não obstante o crédito da ora apelada ter sido vencido antes da decretação da falência, observa-se, no parágrafo único do dispositivo que há duas ressalvas, sendo que a esta lide cabe a incidência do inciso II, primeira parte, pois já se conhecia o estado de crise econômico-financeira do devedor quando da apresentação do pedido de restituição. Ademais, deve-se atentar para o fato de que "a preferência sobre todos os demais credores1' prevista no caput do artigo deve ser interpretada com cautela, para que não se afronte a classificação de créditos e o princípio dãpar conditio creditorum.
Nesse sentido, as palavras do professor Paulo Salvador Frontini, na obra coordenada por Francisco Sátiro de Souza Júnior e Antônio Sérgio A. de Moraes Pitombo (2005, pág. 449): "Não parece ser uma boa solução (...) A ressalva do preceito, no teor de que a compensação se processa - com preferência sobre todos os demais credores, sugere inconstitucionalidade, por franco tratamento desigual imprimido à mesma classe de credores, ou mesmo aos credorgs^pSe^gozam de preferência geral, preferência especial ou p r i v i l é g k £ Í:^
APELAÇÃO \°: 569 867 4/0-00 SÃO PAULO-4VC- VOTON°; 15.174
Há, além de tudo, o artigo 186 do Código Tributário Nacional, dispondo sobre a preferência do crédito tributário a qualquer outro crédito, que, por ter sido objeto de lei complementar, não pode ser derrogado por simples lei ordinária.
Ainda, em referência à possível aplicação da Súmula 307 do STJ, notável o conflito desta com o artigo 83 da Nova Lei de Falências, sendo, portanto, afastada sua aplicação.
O recurso merece, portanto, prosperar.
Da apelação do réu
Quanto à argüição de ilegitimidade passiva pelo réu não há como prosperar, em período algum. Prestigiando a d. Procuradoria Geral de Justiça, vale transcrição de ementa em julgamento de REsp. prolatado pelo Colendo STJ:
"Direitos processual civil e econômico Cobrança de expurgo inflacionário verificado nos meses de março ajulho/90 ejaneiro/91 Depósito judicial Ação dirigida contra o banco depositário das contas judiciais Legitimidade passiva do banco em função de não ter havido indispombüidade dos respectivos recursos Recurso provido " - REsp. n°90.443/SP, rei Min.
Também não há que se falai do ora apelante, porquanto já está pacific
APELAÇÃO i\°: 569.867.4/0-00 SÃO PAULO-4VC'- VOTO /V* 15.174
j de Figueiredo Teixeira
* em legajidaâe^ao procedimento i-nos tribunais a obrieacào oor
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parte do banco depositário de ressarcimento das diferenças inflacionárias não aplicadas aos depósitos judiciais, os quais submetem-se às regras referentes à caderneta de poupança. Aliás, por esse motivo, tem-se que os juros remuneratórios, diferentemente do aludido pelo apelante, não
prescreveram, uma vez que integram o crédito principal. Nesse sentido, ementa de acórdão prolatado por este tribunal:
''PRESCRIÇÃO - PRA ZO - A legação de prescrição dos j uros remuneratórios - Caracterização da poupança como contrato de mútuo com renovação automática - Prazo prescncional é de 20 anos, como previsto no artigo 177 do Código Civil de 1916 - Obrigação de direito pessoal - Entendimento do artigo 2 028, do amai Código Civil Brasileiro - Recurso improvido" - Apel, n° 7.247.583-5, Des. Rei.
Carlos Alberto Lopes.
Correta a aplicação do índice do IPC/IBGE, em todos os períodos, pelo d. magistrado já que é o indicador que melhor reflete a real inflação naquela época. Não resta dúvida de que a Lei 8.024, de 12 de abril de 1990 é norma de direito econômico, de ordem pública e sua incidência é imediata, mas ela não dá ao apelante o direito de não depositar real inflação na conta do depositário. A não incidência do IPC acarretaria um desequilíbrio econômico-financeiro em detrimento da apelada.
Finalmente, em relação aos juros de mora, devem estes incidir pelo percentual de 0,5% ao mês até a data do início da vigênciadí^tíal Código Civil, quando passarão a ser de 1 % ao mês. ^ ^ ^ ^ ^
APELAÇÃO V : 569.867.4/0-00 SÃO PAULO -4VC- VOTO i\e- 15. 1 74
provimento em parte ao recurso do réu apenas no que concerne à incidência dos juros moratórios.
BERETTA DA SILVEIRA Relator
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