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DO PLANO DA REGIÃO AOS PLANOS DAS CIDADES: Os conceitos urbanísticos utilizados nos planos das cidades relocadas no rio São Francisco

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ANTONIO WILLAMYS FERNANDES DA SILVA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

awfsilva@gmail.com

DO PLANO DA REGIÃO AOS PLANOS DAS CIDADES: Os conceitos urbanísticos

utilizados nos planos das cidades relocadas no rio São Francisco

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CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO,

REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018)

Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios

Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

DO PLANO DA REGIÃO AOS PLANOS DAS CIDADES: OS CONCEITOS URBANÍSTICOS UTILIZADOS NOS PLANOS DAS CIDADES RELOCADAS NO

RIO SÃO FRANCISCO

Antonio Willamys Fernandes da Silva

RESUMO

O objetivo deste estudo é identificar os conceitos urbanísticos utilizados nos planos urbanísticos para as cidades relocadas nas construções das hidrelétricas de Sobradinho, Itaparica e Xingó na bacia do rio São Francisco. São oito exemplos que agrupados, conforme suas referências, evidenciam suas características formais e ideológicas. A análise se utiliza do diálogo para apreender as contradições tanto na escala global com todos os planos juntos, como na escala interna de cada plano, no micro urbanismo de cada plano, identificando as influências. Fez-se uso da técnica da sintaxe espacial. Com o mapa axial, obteve-se algumas variáveis, como a medida de integração, a forma do núcleo integrador e a medida de conectividade. O artigo constitui-se de cinco partes: Estruturas urbanas; Estrutura viária; Estruturas arquitetônicas; Relação entre os elementos urbanos e a estrutura espacial e Representação dos setores pela teoria dos grafos.

1 INTRODUÇÃO

Ao todo, são oito (08) planos urbanísticos: quatro cidades localizadas na barragem de Sobradinho, no Estado da Bahia, na região do Médio SF (Pilão Arcado, Remanso, Casa Nova e Sento Sé), três (03) na de Itaparica, entre os Estado da Bahia e Pernambuco (Rodelas/BA, Petrolândia e Itacuruba/PE), também no Médio SF e apenas uma localizada no Baixo SF, no reservatório de Xingó (Canindé do São Francisco/SE), entre os Estados de Sergipe e Alagoas. No conjunto dos planos para as cidades relocadas é possível perceber a influência de posturas, princípios e práticas urbanísticas associadas às linhas de pensamento desenvolvidas no exterior, como também de influências nacionais, em que a capital federal, Brasília, aparece em maior destaque. Pode-se dizer que houve um dualismo, quando se juntou o moderno e o arcaico, o estrangeiro e o nacional, como também entre o moderno nacional e arcaico representado pelos ribeirinhos das cidades tradicionais inundadas.

Para analisar os projetos, se levou em consideração vários aspectos, como as soluções urbanísticas, a configuração espacial, o contexto histórico. A visão sobre o conjunto das cidades é importante porque ajuda compreender, tanto o passado, como o futuro, ajuda a identificar referências estrangeiras e nacionais, no sentido de contribuir para a própria construção do perfil da cultura brasileira. Sendo assim, para facilitar o estudo, se fez um agrupamento de alguns dados de cada plano urbanístico comparando-os, tentando demonstrar como o diálogo aparece através de seus percursos a partir de cada partido utilizado, procurando evidenciar os conceitos urbanísticos utilizados. O estudo não parte

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do objeto em si, ou seja, de cada projeto individualmente, entretanto, de seus elementos (as características estruturais das soluções propostas). Os oito planos urbanísticos, objeto de estudo desta pesquisa, são contemporâneos, foram projetados no mesmo período cronológico, entre as décadas de 1970 e 1980. Esses planos estão inseridos em uma conjuntura, quando estava sendo colocado em prática o processo de interiorização do país, a exemplo da construção de Brasília e a evidência do planejamento regional. A partir da realidade brasileira, bastante influenciado pelo urbanismo estrangeiro, defendemos que esses planos colaboram para formação do ideário urbanístico nacional.

Embora apresente divergências evidentemente nas formas e soluções, os planos urbanísticos são passíveis de uma visão de conjunto. Isso também é favorecido, devido ao pequeno espaço de tempo entre as propostas urbanísticas, refletindo o mesmo contexto histórico em que estão envolvidas. Assim, a totalidade dos planos urbanísticos seguiram praticamente as mesmas definições fazendo convergir soluções de traçados e partidos urbanísticos para um mesmo propósito. A visão de conjunto homogêneo, na nossa opinião, além de ser facilitada pela questão temporal, concentrando-se em um período restrito (entre 1973 e 1985) é favorecida também pela participação do Estado como principal responsável pelos empreendimentos, dialogando com a cultura urbanística nacional. A cultura urbanística nacional estava em evidência naquele momento (a partir da década de 50) e sua influência é notada em alguns conhecimentos presentes nos planos urbanísticos das cidades relocadas. Inicialmente se pode ressaltar a participação de arquitetos, urbanistas e engenheiros coordenando os planos, favorecendo e certificando a disciplina nos domínios de técnicos especializados, conferindo aos planos uma linearidade, uma homogeneidade. As ideias e soluções projetuais, portanto, tornou-se comum no meio profissional que, naquele momento, apresentava um nível de organização considerável, mantendo algumas referências em comum e contribuindo para a formação de um repertório. A elaboração dos planos foi de responsabilidade da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - Chesf, mas também foram desenvolvidos por órgãos ou entidades governamentais, seja através de convênios, por contrato de prestação de serviços com firmas de consultoria, como a HIDROSERVICE e a ACQUA-PLAN ou diretamente pela Chesf.

2 ESTRUTURAS URBANAS

Uma vez escolhidos os sítios para as cidades novas relocadas, as peculiaridades de cada região, podem-se abordar os elementos que compõem o planejamento local, chamados nesta pesquisa, de estruturas urbanas. Estas significam os segmentos importantes e essenciais, onde se fixaram as outras funções e partes dos projetos urbanísticos. A ideia não é esgotar todos os elementos urbanos das cidades, entretanto, tentar analisar as principais maneiras de articulação espacial, mostrando também as novas articulações com outros componentes que daí se originam. Estes elementos estruturais constitutivos do tecido urbano se ligam entre si, caracterizando a morfologia dos projetos. A análise será feita utilizando-se alguns dos componentes estruturais que predominam nos planos urbanísticos na seguinte ordem: Implantação; Zoneamento; Centro cívico; Praça, áreas

verdes e parques.

2.1 Implantação

O tipo de implantação proposto para cada cidade nova, estabelecia alguns critérios, mas, dos que mais foram presentes na grande maioria das escolhas, preponderaram os seguintes: Próximo da cidade antiga e do lago, devido às preferências da população relocada;

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Condições de integração funcional com as demais cidades, notadamente com o polo de desenvolvimento regional, utilizando a infraestrutura existente (rodovias); Condições topográficas e de solo favoráveis ao sistema de abastecimento d’água, de esgotamento sanitário e de drenagem e a possibilidade de aproveitamento agrícola do entorno da cidade. Distribuída ao longo das margens do rio São Francisco, a população sanfraciscana, chamada também de beiradeira, exercia no local sua organização social, suas atividades produtivas, como pesca, plantio nas várzeas e ilhas, não havendo uma separação rígida, de acordo com os planos de reassentamento da Chesf (1985), entre as práticas da cidade e as consideradas rurais. Por isso, considerou-se nos estudos de escolha dos sítios a proximidade da cidade antiga e consequentemente do lago, visto que as cidades existiam em função do rio. Daí essa condição não poderia deixar de constar, devido aos apelos da população. Entretanto, o aspecto referente às condições de integração funcional com as demais cidades, notadamente com o polo de desenvolvimento regional, utilizando a infraestrutura existente (rodovias), na quase totalidade das relocações, ofuscou os outros aspectos, ou seja, estar próximo às rodovias era uma espécie de imposição e as demais condições vinham para compor na medida do possível. Segundo os estudos realizados pela HIDROSERVICE (1973), a atitude da população diante dos problemas enfrentados e suas intenções de mudança, verificou-se que, a grande maioria resistiu à mudança. Então, a Chesf decidiu, diante da resistência, tentar conciliar a proximidade das cidades ao lago. Sendo que, mesmo as que ficaram mais próximas, a relação com lago não foi restabelecida de acordo com as necessidades dos moradores, deixando de existir as organizações sociais, as produções agrícolas nas várzeas, as pescarias, ou seja, houve uma quebra brutal nas relações sociais e climáticas (várzea para a caatinga).

2.2 Zoneamento

Adotou-se o princípio do zoneamento por funções para a concepção das cidades novas relocadas da bacia do rio São Francisco e determinou-se as concepções urbanas por sistemas relativamente independentes – o sistema de circulações, o sistema habitacional, o sistema de equipamentos, o sistema de trabalho, o sistema de recreio etc.. Sistemas esses que se localizam nos territórios autonomamente, mas, associados, de certa forma, em função dessas lógicas próprias e dos problemas específicos. O zoneamento, presente em todos os planos das cidades, de uma maneira geral, baseou-se na definição das funções das cidades, utilizando-se, a maioria, do modelo propagado pela Carta de Atenas, em que as principais funções das cidades: habitar, trabalhar, lazer e os deslocamentos necessários ao desempenho destas funções constituem-se em um vetor fundamental do planejamento. Em todas as cidades preservou-se uma relativa rigidez das separações funcionais afastando-as como forma de controle urbano, mas, devido ao tamanho reduzido das cidades, onde as distâncias não são muito representativas, essa separação terminou não sendo tão grande, minimizando um pouco a separação funcional dos projetos. A setorização foi quebrada em alguns planos urbanísticos, como os de Itaparica: Rodelas/BA, Petrolândia/PE e Itacuruba/PE, onde se tentou aplicar uma espécie de modelo de Unidades de Vizinhanças como forma de favorecer as pequenas distâncias entre moradia e escola, por exemplo. A ideia era evitar o distanciamento maior entre as áreas habitacionais e os respectivos serviços [figura 1]. Vale salientar que, em todos os casos, na aplicação do zoneamento ou na mescla entre setores, há um pensamento preponderante de que o projeto seria rigorosamente seguido, condição necessária para o bom funcionamento da cidade, revelando o pensamento dominante da época, a crença cega no planejamento e no zoneamento como forma autoritária e eficiente de organização do espaço urbano. A

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consequência deste processo seria uma certa autonomização e independência física dos vários sistemas entre si, isto é, os vários elementos que estruturam as cidades se relacionariam espacialmente e formalmente, mas diferente do que ocorria nas cidades inundadas, onde a estruturação era mais flexível.

Pilão Arcado/BA Casa Nova/BA

Itacuruba/PE Canindé do SF/SE Rodelas/BA

Remanso/BA

Sento Sé/BA

Petrolândia/PE Figura 1 Predominância do zoneamento funcional – planos urbanísticos 2.3 Centro cívico

Conforme dito anteriormente, as chaves para o planejamento urbano das cidades relocadas estão nas quatro funções, as quais derivam das propostas dos CIAM’s: moradia, trabalho, lazer, circulação, baseado em Le Corbusier (1957), mas, a última função, circulação, estabelece uma comunicação proveitosa entre as outras três. Em um encontro posterior, conforme Holston (1993), o CIAM aumentou o número dessas funções, incluindo um

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“centro público” de atividades administrativas e cívicas. Predominante na paisagem, o centro cívico na cidade moderna substituía a igreja das cidades barrocas e a indústria dos centros conformados a partir do século XIX, impondo-se ao cotidiano do cidadão. Elemento caracterizador de uma sede municipal, o centro cívico foi objeto de destaque em todos os planos urbanísticos. O centro cívico espacializa a principal função das cidades novas relocadas (prédios públicos, igreja, praça), onde a monumentalização não chega acontecer como em Brasília, capital federal do país, devido às dimensões das cidades, mas mesmo assim pode-se dizer que houve a utilização de recursos de perspectivas de avenidas com pontos-de-fuga para os edifícios importantes, gozando de condições paisagísticas privilegiadas. Em todas as propostas é fácil identificá-lo, seja através do desenho, seja pela geometria do traçado urbano das cidades, como também pela localização dos principais edifícios, como prefeitura municipal, câmara de vereadores, igreja etc [Figuras 1 e 2]. A localização é a principal característica que garante, sem dúvida, o aspecto de monumentalidade e de integração com os demais setores. Normalmente, estes espaços são encontrados nas cidades relocadas separando os setores residenciais, localizados em áreas demarcadas por elementos urbanisticamente construídos. Em todos os casos, os centros cívicos foram localizados no centro dos principais cruzamentos, sintetizaram a busca pelo ordenamento e enalteceram também a solução viária. Os centros das cidades propriamente ditos, local de compras, lazer passeios não foram, em todas as cidades, separados totalmente dos centros cívicos, ficando próximos e mesclados de variedades e atividades em um mesmo centro. A não separação radical do centro, converge um pouco sobre as críticas feitas a monofuncionalização dos espaços modernos. Sendo assim, o centro de uma cidade relocada é considerado o seu coração, lugar da diversidade, unindo-se ao centro administrativo ou se aproximando.

2.4 Praças, áreas verdes e parques

Estes elementos geralmente foram localizados em áreas de destaque ou por se espalharem por toda a cidade, compondo os espaços públicos. As áreas verdes e parques demonstram a concepção dos espaços públicos daquele período, quando estes recursos serviram à cidade para melhorar o cenário urbano. Suas localizações, em todas as cidades, não seguiram uma mesma ordem, diversificando-se as concepções e suas disposições físicas. As propostas das áreas verdes propostas classificam-se em 3 categorias distintas: Vias arborizadas com linhas e refúgios ao longo do eixo principal da cidade; Praças, onde se distingue a praça principal no centro da cidade; Praças residenciais que se localizam nos centros das macroquadras; e os Parques. Embora tenha-se listado estas quatro soluções, elas não são excludentes, podendo estar presentes numa mesma solução, sem um rigor formal.

3 ESTRUTURA VIÁRIA

Dentre os elementos que fazem parte dos planos urbanísticos das cidades novas relocadas da bacia do rio São Francisco, a estrutura viária, pela sua importância, merece bastante atenção. Presente em todos os planos, como uma espécie de espinha dorsal, igualmente ao centro cívico, o sistema viário tornou-se o elemento definidor do desenho das cidades, atuando conjuntamente com o zoneamento nas formas de distribuição das principais funções e acumulando em alguns casos, a função do planejamento através dos seus desenhos e elementos correlacionados. Todos os planos urbanísticos das cidades relocadas, indistintamente, fizeram uso da hierarquização do sistema viário de alguma maneira, começando pela distinção entre espaço para automóveis e pedestres. A hierarquia propiciou a separação funcional, mas também outras soluções, como centro cívico, vias

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principais, vias secundárias, vias locais e passeios para pedestres, articulando-se no sentido de permitir a conexão com todas as partes dos planos e direcionando suas formas para atribuir aos projetos determinadas características físicas que conceituassem as propostas, isto é, o sistema viário configurou a morfologia urbana e lhe caracterizou a plasticidade. As áreas habitacionais foram atendidas por sistemas de circulação com passeios para pedestres, vias para automóveis.

Os grandes equipamentos, as indústrias, se localizaram um pouco afastadas das cidades como forma de prevenção aos males por elas provocados, distanciando-se da poluição atmosférica e sonora causados por esse tipo de atividade. As zonas previstas para o setor industrial ficam geralmente próximas às rodovias, tendo-se em vista a facilidade de circulação de matéria-prima e produtos acabados. Vias lacustres às margens do lago não foram comuns nas propostas, porque a maioria das cidades foi localizada distante da borda, excetuando-se a cidade nova de Petrolândia, Rodelas, onde existia nas propostas um tratamento paisagístico. Sento Sé e Remanso, nas quais, apesar da distância, as vias fazem a conexão entre estas e o lago, tirando partido do bucolismo do entorno. Foi adotado para o traçado urbano das novas sedes municipais o sistema de hierarquização das vias, em que é possível se definir a importância de cada uma delas no contexto da cidade, devido as suas características de uso, de dimensão e também de implantação [figuras 1 e 2]. O sistema básico é composto de três tipos de vias: Via tipo I – Via principal; Via tipo II – via secundaria; Via tipo III – via local.

4 ESTRUTURAS ARQUITETÔNICAS

As estruturas, em todas as sedes municipais, conformaram-se em planos horizontais, atrelando-se à horizontalidade, dois fatores se distinguem basicamente: edifícios administrativos e as edificações habitacionais. As edificações habitacionais ocupam a maior área dos planos, do tecido urbano através do lote edificado, quer dizer, a edificação ancorada no chão, incluindo espaços abertos, como pátios, jardins, quintais etc., caracterizado por uma relação especifica com os espaços urbanos: ruas, praças etc. O alinhamento das habitações ao longo das vias de comunicação não foi permitido, obedecendo a Carta de Atenas, dando autonomia à edificação em relação ao sistema viário. O agrupamento de lotes, por sua vez, revela a organização elementar do tecido e sua localização na cidade, caracterizado pelo papel estruturante dos espaços públicos, a posição dos monumentos. Os edifícios públicos e administrativos caracterizam-se por ocuparem os espaços públicos, os centros cívicos das cidades, tendo outra forma de ocupação, contrapondo-se ao lote edificado. Com efeito, dada a ausência de propriedade do solo e, consequentemente, de parcelamento fundiário e de alinhamentos que estabeleçam o limite do domínio público, é a composição arquitetônica sozinha que define a relação do edificado com a via, obedecida às normas locais, os termos de referências.

O tecido resultante apresenta todas as características de uma monumentalidade para os centros cívicos. As edificações residenciais representam a maior ocupação no todo da área dos planos urbanísticos, impactando mais na composição das cidades. De uma maneira geral, todas as propostas adotaram posturas semelhantes nas proposições habitacionais, utilizando-se do recurso da unidade de vizinhança para facilitar o convívio entre os moradores e encurtar as distâncias principalmente à escola e aos serviços e comércio locais. Contudo, houve uma preocupação de não configurar o espaço urbano, através do tipo de tecido habitacional e traçado viário, de a exprimir rigidamente o conceito de unidade de vizinhança, evitando-se qualquer correspondência rígida e setorial. A paisagem

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urbana das edificações residenciais dos planos era composta basicamente de casas térreas, garantindo assim a horizontalidade das cidades. A maior parte (90%) das habitações era do tipo mais simples, comumente encontradas no sertão sanfranciscano.

5 RELAÇÃO ENTRE OS ELEMENTOS URBANOS E A ESTRUTURA ESPACIAL A metodologia utilizada para análise das estruturas espaciais é a sintaxe espacial (SE), que investiga as propriedades da configuração da estrutura urbana, estudando a relação entre cada um componente do sistema urbano e todos os outros componentes. Enquanto isso, tenta associar as estruturas espaciais às características sociais e comportamentais da arquitetura ou sistemas urbanos. A análise axial está entre as técnicas analíticas que ganharam uma grande credibilidade no estudo sintático dos sistemas urbanos (KARIMI, 1997, p.3). Esta técnica modela os sistemas arquitetônicos ou urbanos, conduzindo uma rede de linhas axiais através de todos os espaços do sistema [figura 2]. Esses eixos são as linhas de visão representativas – ou visibilidade - e movimento - ou permeabilidade. Uma análise baseada em computador determina o valor de profundidade relativa de cada linha em relação a todas as outras linhas do sistema e cria um mapa analisado que mostra o valor de integração de cada elemento no sistema urbano. Conforme Holanda (2002), a medida de integração, carro-chefe da teoria da SE, indica o menor ou o maior nível de integração entre várias partes de um sistema. A integração é a profundidade relativa de cada componente do espaço - definido por uma linha axial - de todo o sistema. Como esse tipo do relacionamento corresponde a todas as partes do sistema, é chamado de integração global (Rn). A análise axial também é capaz de fornecer valores de integração em níveis mais locais (R3), o que pode ser calculado com o mesmo método, mas desta vez a profundidade relativa de cada linha é calculada de um sub-sistema de linhas situado em um número limitado de etapas a partir dessa linha [tabela 1].

A comparação no leiaute dos planos urbanísticos para as cidades relocadas no rio São Francisco em termos configuracionais foi feita, ponderando a forma do núcleo de integração (NI) e a identificação de unidades urbanas, segundo as seguintes categorias: centro cívico, zonas residenciais e comerciais. Igualmente, enfatizamos a correlação entre edificações relevantes para a estrutura urbana e a sua localização configuracional. Para demonstrar a relação entre os resultados da análise espacial e a ocupação dos elementos urbanos, sobrepomos estes elementos nos mapas axiais dos planos, mapas da integração global e conectividade de cada plano. O resultado é uma série de mapas que pode produzir uma série de implicações e interpretações [Figura 2].

Para criar uma ordem de classificação a partir das medidas de integração, a seguinte regra é seguida: para cada elemento, a linha mais integrada do mapa de integração global - Rn (linha vermelha) e do núcleo integrador - NI (mais escura), que passa através dos elementos ou do elemento tem acesso direto a ele. Segundo Holanda (2002), o NI é considerado como as linhas determinantes, significa o conjunto de linhas mais integradas do sistema. Sem exceção, em todos as propostas dos planos urbanísticos, as linhas mais integradas da cidade passam pelo centro cívico, como também passam pela zona comercial. As ruas mais integradas geralmente são as principais, como também são as mais conectadas, conforme a hierarquização do sistema viário. Apoiado em Holanda (2002), pode-se afirmar que essas ruas são mais inteligíveis, por isso têm mais “força” para atrair pessoas, em função de sua maior acessibilidade ao todo (a rua é mais “forte” na medida do menor número de dobras a partir de qualquer ponto, em média, para chegar nela). A força máxima da rua mais importante de cada plano é próxima de 2,77, chegando a 3,18 em

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Sento Sé, sendo que a integração global média global é de 1,46 e a integração média local é de 1,87 [figura 2 e tabela 1]. Os elementos urbanos (edifícios) principais dos planos encontram-se localizados no centro cívico, compondo um complexo urbano no coração da cidade, virtualmente pode-se chamar de a coluna da cidade. As edificações que compõem o centro cívico geralmente são: prefeitura; fórum; câmara; igreja; praça. Outros elementos importantes encontram-se adjacentes às zonas residenciais, como o comércio e serviços, que se localizam nas vias principais e próximo ao centro cívico ou em alguns casos incorporado a esse [figuras 1 e 2].

Tabela 1: análise axial em oito planos. Fonte: autor/aplicativo Mindwalk

Cidade Qde de Linhas Axiais Axial com maior Conectiv . Axial com maior Integraçã o Axial com menor Integração Integração Média Local (R3) Integraçã o Média Global (Rn) Conectiv. Média Petrolândia 217 26 3,12 0,87 2,05 1,38 3,96 Itacuruba 47 11 3,26 0,89 1,84 1,60 3,74 Rodelas 62 12 2,66 1,14 1,84 1,55 3,93 Casa Nova 38 10 2,92 1,11 2,00 1,65 5,42 Remanso 64 17 2,93 1,19 2,02 1,69 4,93 Pilão Arcado 63 9 1,94 0,97 1,73 1,28 4,06 Sento Sé 66 11 3,18 0,97 1,45 1,31 2,81 Canindé SF 70 17 2,17 0,75 2,09 1,26 4,22 Média 78,37 14,12 2,77 0,98 1,87 1,46 4,13 Petrolândia/PE Itacuruba/PE Rodelas/BA

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Casa Nova/BA

Remanso/BA

Pilão Arcado/BA

Sento Sé/BA

Canindé do SF/SE

Figura 2 Principais elementos dos planos urbanísticos – Integração (NI e Rn) A estrutura central das cidades (centro cívico), em todos os casos, está conectada a outras partes das cidades através das vias principais que se estendem das entradas das cidades ao centro cívico. Essas rotas favorecem a interação entre as zonas residenciais e o resto da cidade, mas, mais importante, essas vias principais acomodam os locais principais para as zonas comerciais. Os atributos quantitativos da análise de SE nos permitem entender essas afirmações, esses argumentos de forma mais precisa. Ao usar essa propriedade, o grau de importância de cada elemento urbano pode ser medido, formando-se um ranking, que mostra a hierarquia dos elementos dentro do tecido urbano. Pode-se observar nos mapas axiais [figuras 2] que as linhas axiais mais integradas estão passando pelos centros cívicos e vias principais. O centro de integração - ou o "centro sintático" da cidade – geralmente corresponde ao centro geográfico. A forma física do núcleo pode variar de cidade para cidade, mas apenas uma forma é mais comum: extensões lineares. Independentemente de sua forma, o núcleo, que é sempre o destino final de todas as principais rotas, corresponde

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à localização do centro cívico. A forma do NI das cidades é, predominantemente, linear e é muitas vezes dominado por uma linha relativamente longa. As principais rotas da cidade sempre coincidem com o NI. Foi demonstrado que existe uma ligação poderosa entre o sistema sócio-funcional, papel dos elementos urbanos e a posição que obtêm na estrutura urbana, maximizando a eficiência de cada elemento, coincidindo o seu significado não espacial e sua integração na hierarquia viária.

Segundo Karimi (1997), na teoria da SE, a interação, ou seja, a correspondência entre a configuração do espaço nas diferentes escalas, é bastante significativo. Esse significado decorre da definição de "estrutura" e se estende a outros aspectos dos sistemas espaciais, como a otimização do movimento através da conectividade. Uma imagem quantitativa do argumento pode ser representada pelas medidas dos valores sintáticos de integração e conectividade [tabela 1, figura 2]. A investigação de padrões espaciais pode ser iniciada usando as medidas obtidas a partir da análise axial. A este respeito, dois tipos de medidas são usados [tabela 1]: os valores das quantidades de linhas axiais, as linhas mais e menos integradas e conectadas (as primeiras quatro colunas) os valores médios das variáveis sintáticas (as duas últimas colunas). Os valores sintáticos das categorias analisadas não variam muito. Um exemplo disso, são os valores médios de integração obtidos para os sistemas [figura 2]. Uma noção pode ser mencionada aqui: as diferenças entre os valores sintáticos diminuem dos fatores mais locais (como a conectividade e a integração) para mais valores globais (como a integração do Rn e a conectividade média).

A análise comparativa é facilitada pela similaridade dos sistemas quanto ao tamanho, visto que os mapas dos eixos urbanos dos planos urbanísticos apresentam uma quantidade de linhas axiais aproximadas, destoando apenas o plano para a cidade de Petrolândia com 217 unidades [tabela 1 e a figura 2]. O resultado contribui para a ideia que diferentes tipos de cidades detêm graus semelhantes de estrutura sintática e compartilham características espaciais comuns. O resultado revela esse aspecto que as cidades do mesmo genótipo urbano compartilham características mais comuns nos níveis locais e globais, sem mostrar variações consideráveis, como pode ser visto nas medidas de integração média global e local, nas de integração das linhas axiais de menores e maiores valores. Os planos urbanísticos para as cidades relocadas são estruturas não muito rasas e razoavelmente conectadas, mas há consistências na produção de valores sintáticos similares (por exemplo, mantenham uma conectividade máxima próxima de 14,12 e uma integração máxima próxima de 2,77). Isto propõe que os planos do mesmo genótipo tendem para criar diferentes propriedades espaciais, mas também preservam um grau de consistência entre eles [figura 2].

De acordo com os mapas axiais, pode-se observar que a maior parte dos planos apresentam eixos estruturadores, os quais é fácil identificá-los por causa da hierarquia do sistema viário, embora a forma do mapa axial da macromalha seja um pouco irregular. Há uma predominância da ortogonalidade e os números confirmam isso, ou seja, devido à macromalha, as medidas de integração global tendem a aumentar, formando o NI exatamente na macromalha, devido à maior integração. De acordo ainda com os números de integração e conectividade, é possível dizer que os planos propostos não são muito inteligíveis. Embora possuam uma macromalha, possuam eixos estruturadores, linhas que passam ao largo dos setores residenciais ou vizinhanças, vias principais de passagem em todos os planos, isto é, se considerarmos apenas os eixos estruturadores, dos esqueletos, das ruas principais, os planos seriam inteligíveis. Mas nas suas vias locais (internas), devido ao deslocamento que obriga a frequentes dobras, o tamanho e o número de

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cruzamentos dos eixos, confinando a uma ordem puramente local (R3), não há quase percursos mais longos que facultem melhor intuir a estrutura do todo e encontrar o caminho, diminuindo os valores tanto de integração global, como local (R3). Segundo Holanda (2002), há uma significativa evidência empírica que sugere que, quanto mais profundo o sistema (baixa integração, portanto), mais difícil a apropriação por parte do pedestre, particularmente pelos estranhos ao lugar que, em geral, são a maioria das pessoas nos espaços públicos. Os estudos de Hillier quanto ao “efeito gueto” dos conjuntos habitacionais em Londres são particularmente eloquentes nesse sentido (HOLANDA, 2002, p.313).

6 REPRESENTAÇÃO DOS SETORES PELA TEORIA DOS GRAFOS

Com os sistemas espaciais dos planos urbanísticos descritos através do zoneamento de setores nas figuras anteriores, o recurso de justificação por grafos oferece a possibilidade de se interpretar propriedades que interessam especificamente a este estudo. A profundidade dos espaços do sistema e as relações de isolamento e conexões entre os setores que compõem os planos. Segundo Nascimento (2013), a leitura de grafos justificados pode ser útil para se verificar aspectos relacionados à conformação das configurações espaciais. O autor afirma que um grafo pode assumir visualmente um aspecto mais simétrico ou assimétrico; por exemplo, pode apresentar uma configuração em forma de árvore, de um arbusto ou de um diamante. Os planos urbanísticos apresentam aspecto assimétrico e com forma de árvore. A representação abaixo foi obtida a partir do Centro Cívico escolhido para ser a raiz na análise [figura 3]. Os planos, de uma maneira geral, apresentam basicamente três setores representativos: o Centro Cívico (CC); a Zona Residencial (ZR) e a Zona Comercial (ZC).

Figura 3 - Representação dos setores urbanos pela teoria dos grafos

Ao analisar o diagrama dos setores dos planos urbanísticos, percebe-se que para compor o sistema urbano foram zoneados e articulados segundo uma única forma. O diagrama foi elaborado fundamentado nos zoneamentos dos setores urbanos expostos acima. O Centro Cívico foi utilizado como a raiz do grafo. A partir deste, foram distribuídas as Zona Residencial e Zona Comercial. A zona comercial não se constitui como uma zona propriamente, porque se encontra inserida nas zonas residenciais e no centro cívico. Observa-se, portanto, que independentemente da sua implantação, da topografia e o número de habitantes, seguem a mesma lógica de estruturação da vida urbana, por meio da separação de setores e sua articulação. Conforme Steadman (1983), o grafo é uma forma simplificada para uma descrição setorial. A partir da representação da estrutura espacial dos sistemas como um todo. No caso dos planos urbanísticos em questão, pode-se afirmar que o conjunto apresenta topologicamente a mesma profundidade e pertence a um mesmo grafo.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Pesquisar sobre as propostas dos planos urbanísticos das cidades novas relocadas na bacia do rio São Francisco significa se deter a respeito de um assunto, de ideias de um cenário pouco conhecido pela cultura urbanística nacional, cujas lacunas precisam ser preenchidas. A contribuição é dada quando existe um esforço em fazer uma análise da totalidade dos conjuntos dos planos, procurando compreender as soluções utilizadas, soluções que transcendem à simples colagem de referências, incorporando experiências de outras épocas sob uma nova perspectiva. O objetivo principal deste artigo é a identificação dos conceitos urbanísticos que influenciaram as propostas dos planos. Essas referências não estão explicitadas nos memoriais dos projetos e muito menos citadas na pouca bibliografia sobre o tema. Compreender as discussões e soluções dessas propostas em um meio diversificado, torna-se importante porque dá uma contribuição para a conformação da história do urbanismo no Brasil. Através da análise das propostas, percebe-se que algumas experiências serviram de influência, podendo-se citar os métodos de organização espacial das cidades novas divulgados pelo urbanismo moderno, especialmente pelos CIAM’s: como o uso do zoneamento, a influência do conceito de unidade de vizinhança, a arquitetura moderna. Baseado em Hillier (1984), pode-se argumentar que os planos não representam o que de essencial caracteriza o espaço modernista. Estão mais próximos da versão “dura” deste, onde existe uma segmentação da cidade via enclausuramento e proliferação de barreiras, predominando o tipo de interseção em “T” e “L”. Enquanto a segunda versão: “suave”, caracteriza-se pela separação por intermédio do esgarçamento do tecido urbano e de proliferação de distâncias (Plano piloto de Brasília).

8 REFERÊNCIAS

Chesf. (1985) Plano de Reassentamento da População Atingida pelo Lago de Itaparica. Recife.

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