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FATORES MACROECONÔMICOS QUE AFETARAM O SPREAD BANCÁRIO NO BRASIL APÓS O PLANO REAL. Resumo

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FATORES MACROECONÔMICOS QUE AFETARAM O SPREAD

BANCÁRIO NO BRASIL APÓS O PLANO REAL

Luciano Rodrigues Lara*

Resumo

No Brasil, a partir da implantação do Plano Real, houve uma acentuada queda no spread bancário, que é a diferença entre a taxa de juros cobrada aos tomadores de crédito e a taxa de juros paga aos depositantes pelos bancos. Um dos motivos foi o fim da cobrança de compulsórios em algumas operações ativas dos bancos. Porém, atualmente, apesar da queda o spread tem um valor elevado. Por exemplo, em 2000 o spread nos Estados Unidos era de 2,77%, enquanto no Brasil o valor era de 38,72%, dificultando o desenvolvimento econômico do país. É utilizado referencial teórico pós-keynesiano. Conceito fundamental, deste referencial, para a elaboração da pesquisa foram a preferência pela liquidez adaptada a firma bancária, na qual os bancos preferem ativos com maior liquidez em momentos de instabilidade. Este trabalho tem por objetivo mostrar como fatores macroeconômicos afetaram o spread bancário no Brasil, após o Plano Real. Mostrando que o spread cobrado pelos bancos é influenciado pela taxa básica de juros e como o custo de oportunidade e a assimetria de informações pode reduzir a oferta de crédito.

Palavras-chave: spread bancário, taxa de juros básica, Plano Real

*

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1 INTRODUÇÃO

No Brasil, a partir da implantação do Plano Real, houve uma acentuada

queda no spread bancário, que é a diferença entre a taxa de juros cobrada aos

tomadores de crédito e a taxa de juros paga aos depositantes pelos bancos. Um dos

motivos foi o fim da cobrança de compulsórios em algumas operações ativas dos

bancos. Porém, atualmente, apesar da queda o spread tem um valor elevado. Por

exemplo, em 2000 o spread nos Estados Unidos era de 2,77% a.a., enquanto no Brasil

o valor era de 38,72% a.a. Este é um dos motivos para a baixa relação crédito/PIB no

Brasil, como exemplo o Brasil em 2000 tinha 24,82% a.a. do PIB em empréstimos,

enquanto os Estados Unidos tinha 45,3% a.a.

A literatura existente, que estuda o caso brasileiro, em sua maioria

concentra-se em fatores microeconômicos, estruturas e poder de mercado como os

causadores do elevado spread brasileiro. Porém, um trabalho de AFANASSIEF

(2002), mostra evidências que fatores macroeconômicos são as principais fontes de

nosso elevado spread.

Utilizando referencial teórico pós-keynesiano, este trabalho tem por objetivo

analisar de que forma fatores macroeconômicos, nesta 1ª etapa a taxa básica de juros,

influenciaram o spread bancário brasileiro após a implantação do Plano Real. Também

será analisado como a taxa básica de juros e o spread podem reduzir a oferta de

crédito, devido ao custo de oportunidade e à assimetria de informações.

(3)

2 CONTEXTUALIZAÇÃO

Spread bancário é a diferença entre a taxa de juros cobrada dos tomadores de

empréstimo e a taxa de juros paga aos depositantes pelos bancos. No Brasil, como

pode ser visto no gráfico 1, o spread teve uma elevada redução do início do Plano Real

até julho de 2004.

GRÁFICO 1 – SPREAD NO BRASIL EM %, NO PERÍODO DE JULHO DE 1994 A JULHO DE 2004

0 20 40 60 80 100 120 140 160 ju l/9 4 ju l/9 5 ju l/9 6 ju l/9 7 ju l/9 8 ju l/9 9 ju l/0 0 ju l/0 1 ju l/0 2 ju l/0 3 ju l/0 4 Spread

FONTE: BANCO CENTRAL DO BRASIL

Um dos motivos da expressiva redução que aconteceu até julho de 1996, foi

o fim da cobrança de compulsórios de algumas operações ativas dos bancos. Porém

apesar da queda, 126,07% em julho de 1994 para 37,78% em julho de 2004, o spread

bancário brasileiro continua elevado em comparação com outros países, o que pode ser

visto na tabela 1.

(4)

TABELA 1 – TAXA DE SPREAD BANCÁRIO EM %, POR PAÍSES 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Países Desenvolvidos USA 2,91 2,88 2,82 2,88 2,66 2,77 Canadá 1,50 1,73 1,37 1,57 1,53 1,57 Austrália 3,79 4,14 4,19 3,37 - 4,66 Japão 2,50 2,36 2,15 2,05 2,04 2,00 Reino Unido 2,58 2,91 2,95 2,73 - - Área do EURO - 4,80 4,18 3,53 3,20 3,15 América Latina Argentina 5,95 3,15 2,27 3,08 2,99 2,75 Bolívia 32,15 36,81 35,32 26,59 23,11 23,62 Brasil 130,45 67,79 54,62 60,71 57,50 38,72 Chile 4,43 3,91 3,65 5,26 4,07 5,64 Colômbia 10,38 10,84 10,09 9,66 9,08 14,21 México 20,47 12,19 9,89 14,95 16,26 11,96 Peru 11,46 11,17 14,95 15,69 14,52 14,62 Uruguai 60,86 63,39 51,94 42,84 39,03 36,94 Venezuela 15,02 11,83 8,99 11,51 10,85 8,90

FONTE: Adaptado de AFANASIEFF, T. S.; LHACER, P. M. V.; NAKANE, M. I. The determinants of bank

interest spread in Brazil. Brasília, DF: Banco Central do Brasil, 2002. Disponível em

<http://www.bcb.gov.br/pec/wps/ingl/wps46.pdf> Acesso em 26 set. 2004.

Por exemplo, no ano de 2000, na América Latina o único spread que se

assemelha ao brasileiro (38,72%) é o do Uruguai (36,94) e para os países

desenvolvidos os valores não ultrapassam 4,66% (Austrália).

3 ESTABILIDADE MACROECONÔMICA

Neste item pretende-se mostrar que a autoridade monetária brasileira utiliza a

taxa básica de juros como um importante instrumento para estabilizar a economia. Isto

pode ser visto no gráfico 2.

(5)

GRÁFICO 2 – TAXA DE JUROS BÁSICA EM %, NO PERÍODO DE JULHO DE 1994 A JULHO DE 2004

FONTE: BANCO CENTRAL DO BRASIL 0 20 40 60 80 100 120 140 ju l/ 9 4 ju l/ 9 5 ju l/ 9 6 ju l/ 9 7 ju l/ 9 8 ju l/ 9 9 ju l/ 0 0 ju l/ 0 1 ju l/ 0 2 ju l/ 0 3 ju l/ 0 4 Selic Efeito Lula Desvalorização Real (Jan/99) Crise Asiática

No gráfico 2, podemos ver que em momentos de instabilidade, externa ou

interna, a autoridade monetária eleva a taxa básica de juros. Foi assim com a crise

asiática e com o “efeito Lula”, período anterior às eleições em que os agentes tinham

incerteza quanto ao futuro das políticas. Portanto, é importante que se verifique de que

forma a taxa básica de juros afeta o spread bancário e a oferta de crédito.

4 TAXA BÁSICA DE JUROS E SPREAD BANCÁRIO

Neste item será apresentado como o spread bancário é influenciado pela taxa

básica de juros. Através do gráfico 3, que tem a taxa SELIC como variável explicativa

do spread bancário, podemos ver que existe uma relação positiva entre estas duas

variáveis.

(6)

GRÁFICO 3 – DISPERSÃO QUE TEM A TAXA SELIC COMO VARIÁVEL EXPLICATIVA DO SPREAD

FONTE: BANCO CENTRAL DO BRASIL 0 20 40 60 80 100 120 140 160 0 20 40 60 80 100 120 140

Selic acumulada no mês anualizada % ao ano

S p re ad m é d io d a s o p e raç õ e s d e c réd it o c/ r e cu rs o s l iv re s (p re fi xa d o ) T o ta l G e ra l % a o a n o

Utilizando as séries temporais do Banco Central do Brasil

1

, foi feita uma

regressão linear simples em que a taxa básica de juros é uma variável explicativa do

spread bancário. Usando o método dos mínimos quadrados obteve-se uma regressão

com um R

2

=0,177196 o que mostra que a taxa SELIC é uma das variáveis que

explicam o spread, mas não é a única. As séries utilizadas estavam em primeira

diferença por não serem estacionárias em nível, de acordo com teste da raiz unitária.

1

As séries utilizadas foram: Cód. 4189 – Taxa de juros – Selic acumulada no mês anualizada e Cód. 3955 – Spread médio das operações de crédito com recursos livres (prefixado) – Total Geral. Disponível em <http://www4.bcb.gv.br/pec/series/port/> Acesso em 23 ago. 2004.

(7)

5 A TEORIA DA PREFERÊNCIA PELA LIQUIDEZ ADAPTADA A FIRMA

BANCÁRIA E O CUSTO DE OPORTUNIDADE

Na teoria convencional (neoclássica) os bancos são apenas intermediadores

de poupança que não têm possibilidades de alterar as condições de financiamento da

economia. Eles dividem seu portfolio entre reservas em dinheiro, que nada rendem, e

empréstimos. O que distorce a realidade dos bancos que tem inúmeros ativos para

escolher.

Segundo PAULA (1999) os teóricos pós-keynesianos como: Hyman Minsky,

Paul Davidson, Victoria Chick e Fernando Carvalho mostram, ao contrário da teoria

neoclássica, que os bancos podem alterar as condições de financiamento da economia

e com isso alterar as variáveis reais da economia como: produto e emprego. Por este

motivo, apontado pela teoria pós-keynesiana, é necessária uma análise do

comportamento dos bancos e como estes definem seu portfolio, para que se conheça

porque no Brasil existe uma baixa oferta de crédito.

Na abordagem pós-keynesiana a firma bancária é um agente que tem

expectativas e está em um contexto de futuro incerto, e por este motivo tem

preferência pela liquidez. A incerteza que a firma bancária enfrenta é a incerteza

não-probabilística, isto é, aquela em que não existe qualquer possibilidade de cálculo

probabilístico para sua determinação. Em razão disso a firma bancária baseará a

escolha de seus ativos de acordo com suas expectativas sobre o futuro.

Em A treatise on money KEYNES

2

(1971), citado por PAULA (1999, p. 18)

mostra que o problema dos bancos é como alocar seus recursos: “O que bancos estão

ordinariamente decidindo não é quanto eles emprestarão no agregado – isto é

determinado por eles pelo estado de suas reservas – mas quais formas eles emprestarão

– em que proporção eles dividirão seus recursos entre os diferentes tipos de

investimento que estão abertos para eles.”

2

(8)

Neste mesmo trabalho Keynes exemplifica esta abordagem com três tipos de

ativos: empréstimos de curto prazo, compra de títulos públicos e federais e

empréstimos de longo prazo. O primeiro ativo apresenta alta liquidez e baixa

rentabilidade, o segundo tem uma rentabilidade maior e sua liquidez é menor porque

depende de um mercado secundário demandando o ativo no momento da venda, e o

terceiro tem a maior rentabilidade e não apresenta liquidez, pois só pode ser resgatado

no final do contrato. Keynes mostra que esta relação não é invariável, e isto pode ser

percebido no Brasil. Os títulos públicos têm grande liquidez e uma alta rentabilidade

devido à elevada taxa de juros básica que serve como referência para a média de

rentabilidade dos títulos públicos.

É isto que gera um elevado custo de oportunidade no Brasil. Os bancos

preferem investir em títulos públicos que são rentáveis e líquidos, ao invés de

emprestar. Isto porque emprestar acarreta algumas preocupações como inadimplência

dos tomadores de empréstimos, esta faz com que os bancos procurem a justiça que no

caso brasileiro é morosa, além disso o país tem uma lei de falências ineficiente.

6 ASSIMETRIA DE INFORMAÇÕES

O artigo de STIGLITZ e WEISS (1981) mostra que o mercado de crédito

estando em equilíbrio pode ser caracterizado pelo racionamento de crédito. Isto é

possível porque o mercado de crédito apresenta assimetria de informações. Um

exemplo de assimetria de informações, no mercado de crédito, ocorre quando um

tomador de empréstimo pede um empréstimo para o financiamento de um

investimento, a um banco. Neste caso o tomador de empréstimos tem mais

informações sobre o projeto do que o banco. O racionamento de crédito acontece entre

tomadores de empréstimos que aparentam serem iguais. Alguns recebem o empréstimo

e outros não. Os rejeitados não irão receber o empréstimo mesmo estando dispostos a

pagar uma taxa de juros mais alta que a cobrada pelo banco.

(9)

Um dos efeitos da assimetria de informações no mercado de crédito é a

seleção adversa. Os bancos não recebendo os empréstimos aumentam suas taxas de

juros, no intuito de que esta maior taxa cobrada possa “cobrir” os prejuízos que vêm

do não pagamento de alguns empréstimos.

Como apresentado o Brasil tem um elevado spread bancário, o que gera uma

elevada taxa de empréstimo. Segundo STIGLITZ e WEISS (1981) o aumento da taxa

de juros faz com que o mix de emprestadores seja pior. Isto porque apenas os agentes

que têm projetos com maior risco, e em caso de sucesso maior rentabilidade, estarão

dispostos a pagar uma taxa de juros elevada. Este maior risco faz com que poucos

tomadores de empréstimo venham a pagar seus empréstimos.

Desta forma o que teria o intuito de melhorar o retorno dos bancos faz com

que estes tenham retornos decrescentes, porque são selecionados os agentes com os

projetos com maior probabilidade de insucesso.

7 CONCLUSÃO

Esta pesquisa mostrou que a taxa básica de juros é um determinante do elevado

spread bancário brasileiro. Isto foi feito através de métodos econométricos. Também

foi apresentado que a elevada taxa básica de juros gera uma disfunção no mercado de

crédito, na forma de custo de oportunidade, isto é, os bancos preferem investir em

títulos públicos, ao invés de emprestar para o público. Devido à assimetria de

informações o elevado spread bancário gera um decréscimo nos retornos dos bancos,

porque apenas os tomadores de empréstimo que têm projetos com maior risco estão

dispostos a pagar uma taxa de empréstimo elevada. O custo de oportunidade e a

assimetria de informações reduzem a oferta de crédito no caso brasileiro.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

AFANASIEFF, T. S.; LHACER, P. M. V.; NAKANE, M. I. The determinants of bank

interest spread in Brazil. Brasília, DF: Banco Central do Brasil, 2002. Disponível

em <http://www.bcb.gov.br/pec/wps/ingl/wps46.pdf> Acesso em 26 set. 2004.

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STIGLITZ, J. & Weiss, A. Credit rationing in markets with imperfect information.

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