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A responsabilidade civil das agências de turismo

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Trabalho de Conclusão de Curso

RAIANNY BALZARINI DOS SANTOS

A RESPONSABILIDADE CIVIL DAS AGÊNCIAS DE TURISMO

Niterói

(2)

RAIANNY BALZARINI DOS SANTOS

A RESPONSABILIDADE CIVIL DAS AGÊNCIAS DE TURISMO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao

Curso de Graduação em Direito do Instituto de

Ciências Humanas e Sociais da Universidade

Federal Fluminense, como requisito parcial para a

obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador:

Prof.

Dr.

PLÍNIO

LACERDA

MARTINS.

Niterói

(3)

Universidade Federal Fluminense Superintendência de Documentação

Biblioteca da Faculdade de Direto S237 Santos, Raianny Balzarini dos.

Responsabilidade civil das agências de turismo / Raianny Balzarini dos Santos. – Niterói, 2017.

104 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) – Universidade Federal Fluminense, 2017.

1. Responsabilidade civil. 2. Agência de turismo. 3. Consumidor. 4. Proteção e defesa do consumidor. I. Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Direito, Instituição responsável. II. Título.

(4)

DEDICATÓRIA

À minha família, especialmente ao meu pai, que sempre me deu todo o

suporte, seja financeiro ou psicológico, para perseguir meus sonhos. Este trabalho é

tão dele quanto meu.

Aos meus amigos, especialmente à minha melhor amiga, Lara Lobo, por

sempre acreditar em mim e me socorrer; à Lucy Gomes, minha amiga quase irmã,

por me receber tão bem na UFF, e me acolher ao grupo de amigos dela, e por me

apoiar quando preciso; à Julia Goromar e à Amanda Colchete, por me abrigarem e

por estarem sempre disponíveis para conversar ou comer; à Carolina Seixas, por me

apresentar minha turma e me fazer sentir membro desta; ao Daniel Soares, por ter

cursado a maioria das matérias comigo e me manter atenta a todos os detalhes; à

Jessica Cavalcanti, por ser companheira nos desesperos pré-provas e sempre

compartilhar seu vasto conhecimento comigo, me ajudando com explicações que me

garantiram notas muito melhores do que eu alcançaria sozinha.

Foi uma bela e longa caminhada até aqui, e certamente muito melhor e mais

tranquila por contar com pessoas tão admiráveis e carinhosas por todo percurso.

(5)

AGRADECIMENTO

Primeiramente, a todos os professores que tive, pois, independentemente da

matéria, ou da minha afinidade especifica com o assunto, sempre aprendemos algo

importante, em qualquer disciplina que seja.

Em segundo lugar, à todos servidores da 11ª Vara Federal Cível do Rio de

Janeiro, por serem profissionais exemplares, carinhosos e por me ensinarem que o

direito não é sempre o que aprendemos em sala. Sou imensamente grata por tudo

que aprendi com eles e, com certeza, levarei o que vi na minha vida pessoal e

profissional, sempre almejando ser tão competente e atenciosa como cada um

deles.

Agradeço aqui, novamente, à minha família e amigos, por suportarem minha

ausência e reclamações, me apoiarem quando preciso e por sempre acreditarem na

minha competência e capacidade. Muito obrigada, sem vocês não teria chegado ao

fim.

Sou grata, também, a todos aqueles que de alguma forma me ensinaram

que as dificuldades, nos tornam mais fortes e decididos, que contribuíram para

minha evolução pessoal frente as adversidades da vida!

Por último, mas igualmente importante, agradeço ao meu orientador Plinio

Lacerda, por ser um professor tão dedicado, que sempre busca trazer informações

atualizadas e nos incentiva a investir-nos no mundo acadêmico, seja pela presença

em suas palestras ou pela redação de artigos e resenhas. Em um círculo que não

valoriza tanto o direito do consumidor, é reconfortante encontrar um discente tão

dedicado e apaixonado por esta área.

(6)

“Não há homem completo que não tenha

viajado muito, que não tenha mudado vinte

vezes de vida e de maneira de pensar.”

Alphonse de Lamartine

(7)

“Um homem precisa viajar. Por sua conta,

não por meio de histórias, imagens, livros

ou TV. Precisa viajar por si, com seus

olhos e pés, para entender o que é seu.

Para um dia plantar as suas próprias

árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio

para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir

a distância e o desabrigo para estar bem

sob o próprio teto. Um homem precisa viajar

para lugares que não conhece para quebrar

essa arrogância que nos faz ver o mundo

como o imaginamos, e não simplesmente como

é ou pode ser. Que nos faz professores e

doutores

do

que

não

vimos,

quando

deveríamos ser alunos, e simplesmente ir

ver.”

(8)

RESUMO

Este trabalho tem como finalidade abordar a responsabilidade civil das

agências de turismo enquanto fornecedoras de produtos e serviços turísticos.

Dessa forma, são analisados os serviços, contratos turísticos e

jurisprudência acerca do tema, à luz da legislação vigente, esclarecendo de que

forma aplica-se a responsabilidade em cada caso.

Ressalte-se que é um campo pouco estudado por ambas as áreas, quais

sejam a do Direito e do Turismo, tendo pouco acervo bibliográfico atualizado.

Portanto, o trabalho tem como escopo trazer ao consumidor e estudiosos,

de forma simples e clara, os conceitos turísticos e também legais, bem como

interpretar a legislação, para melhor compreensão do tema na atualidade.

(9)

ABSTRACT

This paper aims the study of the liability of tourism agencies as sellers of tourism

services and tours.

Consequently, we will analise services, turistic contracts and juririsprudence about

the liability of the agencies, based on actual law, illustrating how it applies in each

case.

It is highlighted that this field is not intensive studied by both areas, nor Law our

Tourism, so it there is not lots of bibliography about it.

Therefore, this paper wants to bring to consumers and anyone who has interest in

this subject, actual information and analysis of how the legislation is being applied , in

a simple and easy language.

(10)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

a.C

Antes de Cristo

Aiest

Associação Internacional de Especialistas na Ciência do Turismo.

ANAC

Agência Nacional de Aviação Civil

C.

Colendo

C.C.

Código Civil

CF

Constituição Federal

CRFB

Constituição da República Federativa do Brasil

C.P.

Código Penal

C/C

Cumulado com

CDC

Código de Defesa do Consumidor

CNDC

Código Nacional de Defesa do Consumidor

CNTur

Confederação Nacional do Turismo

D.N.

Deliberação Normativa

Dec.

Decreto

Des.

Desembargador

Embratur

Empresa Brasileira de Turismo

LGT

Lei Geral do Turismo

OMT

Organização Mundial de Turismo

P.U.

Parágrafo Único

STF

Supremo Tribunal Federal

STJ

Superior Tribunal de Justiça

TJ

Tribunal de Justiça

(11)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO

2 TURISMO

2.1 CONCEITO

2.2 TIPOS

2.2.1 De férias

2.2.1.1 Balneário

2.2.1.2 Montanhês

2.2.1.3 Repouso

2.2.2 Cultural

2.2.3 Científico

2.2.4 De congresso

2.2.5 De negócios e eventos

2.2.6 Desportivo

2.2.7 De saúde

2.2.8 Religioso

2.2.9 Ecoturismo

2.2.10 Náutico

2.3 TRATAMENTO CONSTITUCIONAL DO TURISMO

2.3.1 Direito ao Lazer

2.3.2 Princípios constitucionais específicos

2.3.2.1 Do desenvolvimento do turismo

2.3.2.2 Da promoção do turismo

2.3.2.3 Do incentivo ao turismo

2.3.2.4 Da proteção ao patrimônio turístico

2.3.2.5 Da responsabilidade por danos a bens e direitos de valor turístico

2.4 CONTRATO DE TURISMO

2.4.1 Princípios

(12)

2.4.1.2 Da confiança

2.4.1.3 Da transparência

2.4.1.4 Da vulnerabilidade

2.4.1.5 Da hipossuficiência

2.4.2 Classificação

2.4.2.1 Atípicos

2.4.2.2 De forma livre

2.4.2.3 Bilaterais

2.4.2.4 Onerosos

2.4.2.5 Comutativos

2.4.3 Sujeitos

2.4.4 Objeto

2.4.5 Momento da Celebração

3 RESPONSABILIDADE CIVIL

3.1 ASPECTOS GERAIS

3.1.1 Conceito

3.1.2 Distinção entre obrigação e responsabilidade

3.1.3 Espécies de Responsabilidade

3.1.3.1 Civil e penal

3.1.3.2 Contratual e extracontratual

3.1.3.3 Subjetiva e objetiva

3.1.3.4 Nas relações de consumo

3.2 RESPONSABILIDADE CIVIL NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

3.2.1 Modificações introduzidas pelo CDC

3.2.2 Sujeitos da relação de consumo

3.2.3 Conceito de produto e serviço

3.2.4 Princípios

3.2.4.1 Da reparação integral

3.2.4.2 Da prevenção

3.2.4.3 Da informação

3.2.4.4 Da segurança

3.3 FATO DO PRODUTO

(13)

3.4 FATO DO SERVIÇO

3.5 OS RESPONSÁVEIS

3.5.1 A responsabilidade solidária dos fabricantes

3.5.2 Responsabilidade solidária/subsidiária dos comerciantes

3.5.5 Responsabilidade dos profissionais liberais

3.6 EXCLUDENTES DE RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR

3.7 PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

3.7.1 Prescrição

3.7.2 Suspensão e interrupção da prescrição

3.7.3 Decadência

3.7.4 Suspensão da decadência

4 A RESPONSABILIDADE CIVIL DAS AGÊNCIAS DE TURISMO NA

LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

4.1 RESPONSABILIDADE DAS AGÊNCIAS DE TURISMO

4.1.1 Condições gerais

4.1.2 Responsabilidade solidária

4.1.2.1 Pelos fornecedores contratados

4.1.2.2 Por atos de seus prepostos

4.2 ALTERAÇÃO E CANCELAMENTO POR INICIATIVA DA AGÊNCIA

4.2.1 Antes do início da viagem

4.2.2 Durante a realização da viagem

4.3 AGÊNCIAS VIRTUAIS DE TURISMO

4.4 LEGISLAÇÕES APLICÁVEIS

5 ANÁLISE JURISPRUDÊNCIAL SOBRE O TEMA

5.1 TRANSPORTE

5.1.1 Aéreo

5.1.2 Marítimo

5.1.3 Terrestre

5.2 HOSPEDAGEM

5.3 PASSAPORTE E VISTOS

5.4 OUTROS

(14)

6 CONCLUSÃO

REFERÊNCIAS

(15)

1 INTRODUÇÃO

Com o advento da globalização, intensificou-se cada vez mais o turismo

em todo o mundo. O aumento da demanda gerou um boom no setor, fazendo surgir

um número imenso de agências de turismo

No Brasil, país costeiro, com imenso potencial na área, especialmente

devido aos recentes eventos de grande escala aqui ocorridos, como o

Panamericano, a Copa do Mundo e as Olímpiadas, a explosão de vendas se deu

mais recentemente, especialmente pelo investimento governamental no setor.

No entanto, não foi apenas na área econômica que ocorreram alterações.

Diversas leis foram criadas ou alteradas em período recente. Podemos citar, como

exemplos de maior influência, a promulgação da Lei Geral do Turismo e a decisão

do Supremo Tribunal Federal, acerca da aplicação das Convenções Internacionais

quanto à condenação de danos materiais no transporta aéreo internacional.

Diante do panorama acima exposto, esta monografia tem como escopo

analisar a responsabilidade das agências de turismo na comercialização de produtos

e serviços, de acordo com a legislação atual.

Tem por objetivo institucional a obtenção do título de Bacharel em Direito,

pela Universidade Federal Fluminense.

Para tanto, inicia-se explicando conceitos do turismo, como os tipos,

princípios, bem como sobre a previsão constitucional desde, além de dissertar sobre

as diversas características do contrato de turismo.

Já no capítulo seguinte, o tema abordado é responsabilidade, com foco

na civil em sentido abstrato, para ilustrar as diversas possibilidades jurídicas, e sob a

ótica do direito do consumidor, introduzindo-se as noções de responsabilidade dos

fornecedores e comerciantes, a aplicação da teoria objetiva nas relações de

consumo, os vícios dos produtos ou dos serviços, as excludentes de

responsabilidade, ou seja, uma visão geral do instituto intitulado responsabilidade

civil.

Em seguida, é estudada a responsabilidade aplicada diretamente ao

turismo. Analisa-se, sob a ótica da legislação brasileira, os tipos de

responsabilização que podem incorrer a agência de turismo, seja na modalidade de

(16)

prestadora de serviços ou na modalidade de preposta de outra empresa, como no

caso em que é intermediária na venda de passagens.

Passa-se então a análise jurisprudencial sobre o tema, divida em

transporte, aéreo, marítimo ou terrestre; hospedagem; passaporte e vistos e outros

casos, que não se enquadram na categoria anterior ou que abranjam mais de uma

delas.

O presente trabalho encerra com a conclusão, nas quais são destacados

os principais causas de responsabilidade das agências e por uma análise como a

legislação atual vem evoluindo, se mais benéfica ou maléfica ao consumidor.

(17)

2 TURISMO

2.1 Conceito

A origem da palavra turismo vem do vocábulo tour que é de origem

francesa e significa “volta” (BARRETO, 1995). Andrade complementa afirmando que

“a matriz do radical tour é do latim, através do seu substantivo tourns, do verbo

tornare, cujo significado

é “giro, volta, viagem ou movimento de sair e retornar ao

local de partida” (ANDRADE, 1992).

O termo também origina-se do francês tourisme e do inglês tourism,

significando gosto por viagens ou excursões recreativas.

Um dos mais recentes conceitos de turismo foi escrito por Oscar de la

Torre (1992, p.):

O turismo é um fenômeno social que consiste no deslocamento voluntário e temporário de indivíduos ou grupos de pessoas que, fundamentalmente por motivos de recreação, descanso, cultura ou saúde, saem do seu local de residência habitual para outro, no qual não exercem nenhuma atividade lucrativa nem remunerada, gerando múltiplas interrelações de importância social, econômica e cultural.

Já a Associação Internacional de Especialistas na Ciência do Turismo

(Aiest) adota a definição de Walter Hunziker e Kurt Krapf (LICKORISH, Leonard J;

JENKINS, Carlson L., 2000, p. 50):

Soma de fenômenos e relacionamentos que surgem das viagens e de estadas de indivíduos não-residentes, na medida em que não visam a uma residência permanente e não são ligadas a atividades remuneradas.

(18)

Conforme definido pelo dicionário

1

, “turismo” é:

(1) Conjunto de serviços públicos ou privados voltados para a promoção e organização da atividade turística que incluem, entre outros, a seleção e a classificação de locais e áreas de interesse turístico, a criação e implantação de roteiros e rotas turísticas, o planejamento, a organização e o controle de estabelecimentos, instituições e prestadores de serviços ligados a essa atividade:O turismo bem estruturado pode ser uma excelente fonte de renda para várias cidades brasileiras; ou (2) Ação ou efeito de viajar, de visitar outras localidades, que não a de moradia habitual, por determinado período de tempo, para fins de lazer, entretenimento, cultura etc.; ou (3) O movimento de turistas em determinado local; ou ainda (4) Conjunto de atividades econômicas dependentes dos turistas e relacionadas ao turismo.

Embora não haja uma definição única do que seja Turismo, a mais

difundida atualmente, do ponto de vista formal, é a da Organização Mundial de

Turismo (OMT)

2

, que define turismo como "as atividades que as pessoas realizam

durante suas viagens e permanência em lugares distintos dos que vivem, por um

período de tempo inferior a um ano consecutivo, com fins de lazer, negócios e

outros”.

Como podemos ver, dos diversos conceitos de turismo, alguns não

consideram as viagens a trabalho como turismo, como é o caso da definição de

Walter Hunziker e Kurt Krapf. Como nem o código do consumidor, nem a

jurisprudência não conceituam profundamente o que é turismo, para esse estudo

consideraremos o conceito mais amplo. Citando-se Wander Marotta, em paletra

proferida no V Congresso Brasileiro de Direito do Consumidor/ BH/ MG

3

:

Mesmo o turismo de negócio, assim considerado isoladamente, contudo, não está afastado do âmbito da tutela ao consumidor, visto que há um consumo final do serviço prestado ou do produto adquirido, ainda que possa concordar que a finalidade é mais profissional, isto é, estará certamente integrada ao preço final do produto fornecido pela empresa que pertence o executivo em trânsito ou em viagem.

1DICIONÁRIO online de Português. Signigicado de Turismo. Disponível em: <https://www.dicio.com.br/turismo/>. Acesso em 10 de junho de 2017.

2 Disponível em : <http://www2.unwto.org/>. Acesso em: 20 de junho de 2017.

3 MAROTTA, Wander. Indenização por dano moral em turismo. In: Congresso Brasileiro de Direito do Consumidor, 5 ed., Belo Horizonte, maio/2000, apud, ATHENIENSE, Luciana Rodrigues. A Responsabilidade Jurídica das Agências de Viagem. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 38.

(19)

Assim, consideraremos o termo visitante como gênero, e os termos turista

e excursionista como espécies, sendo excursionista a designação dada àqueles que

permanecem menos de 24 (vinte e quatro) horas em localidade diversa de seu

domicílio, com as mesmas finalidades que caracterizam o turista, mas sem pernoitar

no local visitado.

Para fins legais, temos, portanto, dois pontos intocáveis para a

delimitação do termo turista: deslocamento pessoal, ou seja, possuir domicílio

diverso da localidade da viagem e a permanência temporária superior a 24 (vinte e

quatro) horas.

2.2 Tipos de Turismo

2.2.1 De férias

Tipo de turismo praticado em épocas posteriores aos dias de trabalhos

e/ou estudos habituais, com a finalidade de descanso, ocorrendo a cada ciclo anual

de atividades, sendo sua necessidade decorrente de desgastes causados por stress

oriundo das jornadas rotineiras. Se subdivide em turismo de férias balneário,

montanhês e de repouso. (ATHENIENSE, 2002, p. 47)

2.2.1.1 Balneário

É uma das mais antigas segmentações do mercado

turístico.

Um dos

tipos turísticos mais aderidos pela sociedade, iniciado no período clássico com

as

Termas romanas

, é procurado por pessoas que buscam relaxar por meio de

contato com a água.

2.2.1.2 Montanhês

Tipo de turismo escolhido por pessoas que procuram um contato mais

próximo com a natureza e seus benefícios.

(20)

2.2.1.3 Repouso

Nas palavras de Luciana Atheniense (2002, p. 48):

Este repouso significa “fazer nada” e pode ocorrer tanto nas férias como em épocas de feriados prolongados ou em finais de semana. Legalmente, todo indivíduo tem, semanalmente, direito a este “repouso”.

2.2.2 Cultural

Construída a partir das contribuições do Grupo Técnico Temático de

Turismo Cultural

4

, definiu-se que o turismo cultural é aquele relacionado a vivência

do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos

eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da

cultura.

5

2.2.3 Científico

Turismo motivado pelo interesse ou pela necessidade de realização de

estudos e/ou pesquisas. (ATHENIENSE, 2002, p. 48)

Desenvolveu-se com maior intensidade a partir da Revolução Industrial na

Europa. Atualmente, ocorrem em praticamente todos os países, pois independem de

características geográficas ou climáticas especificas.

No Brasil, mais de 150 instituições públicas e privadas trabalham neste

setor, seja para recepção ou envio de turistas intercambistas.

O Ministério do turismo define o turismo científico como aquele gerado por

atividades e programas de aprendizagem e vivência para fins de qualificação,

ampliação de conhecimento e de desenvolvimento pessoal e profissional.

4 3a reunião do Grupo Técnico Temático – GTT de Turismo Cultural, no Âmbito da Câmara Temática de Segmentação do Conselho Nacional do Turismo em 03 de Fevereiro de 2005.

5 BRASIL, Ministério do Turismo. Segmentação do Turismo: Marcos conceituais. Brasília: Ministério do Turismo, 2006.

(21)

2.2.4 De congresso

Conjunto de atividades exercidas por pessoas que viajam com o objetivo

de participa de congressos, convenções, seminários, reuniões, dentre outros tipos

de eventos que tem por escopo o estudo de alternativas de aprendizagem e

aperfeiçoamento

de

interesse

de

determinadas

categorias

profissionais.

(ATHENIENSE, 2002, p. 48)

2.2.5 De negócios e eventos

Conjunto de atividades turísticas decorrentes dos encontros de interesse

profissional, associativo, institucional, de caráter comercial, promocional, técnico,

científico e social.

6

Embora usufruam da hospedagem, alimentação e lazer local, sua

finalidade é a execução de serviços de caráter comercial ou industrial, buscando

conhecer mercados, estabelecer contatos, firmar convênios, treinar novas

tecnologias, vender ou comprar bens ou serviços (ATHENIENSE, 2002, p. 48).

O Brasil vem se posicionado como destino de negócios, com destaque

para as áreas da moda, finanças, comunicações, biotecnologia.

2.2.6 Desportivo

Compreende as atividades decorrentes da prática, envolvimento ou

observação de modalidades esportivas.

7

Ganhou relevo no Brasil com o Panamericano de 2007, sediado no Rio de

Janeiro, a Copa do mundo de Futebol de 2014, e as Olimpíadas do Rio em 2016.

2.2.7 De saúde

8

6 BRASIL, Ministério do Turismo. Op. Cit., p. 46. 7 Ibidem, p. 23.

(22)

Constitui-se das atividades turísticas decorrentes da utilização de meios e

serviços para fins médicos, terapêuticos e estéticos.

Os turismos hidrotermal, hidromineral, hidroterápico, termal, termalismo,

de bem estar, de águas e vários outros podem ser compreendidos como turismo de

saúde.

2.2.8 Religioso

É o conjunto de deslocações desenvolvidas por pessoas que se

movimentam por motivos religiosos ou para participar de eventos de significado

religioso.

Tem por escopo a visitação de lugares que expressam sentimentos

místicos ou que suscitam a fé, a esperança e a caridade de pessoas ligadas aos

mais diversos tipos de religião. Ocorre de forma individual ou organizada e seus

integrantes são comumente denominados “romeiros” ou “peregrinos”.

No Brasil, o lugar mais associado a este tipo de turismo é a cidade de

Aparecida, em São Paulo. Outros exemplos são Santiago de Compostela, na

Espanha; Vaticano, na Itália; Terra Santa, área dividida entre Israel, Jordânia e

Cisjordânia; etc.

2.2.9 Ecoturismo

9

É um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o

patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma

consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem

estar das populações.

Caracteriza-se pelo contato com ambientes naturais e pela realização de

atividades que possam proporcionar a vivência e o conhecimento da natureza, e

pela proteção das áreas onde ocorre.

9 Ibidem, p. 9.

(23)

Alguns dos lugares em destaque nesta seara em nosso país são Bonito,

no Mato Grosso do Sul e Fernando de Noronha, em Pernambuco.

10

No mundo, são

relevantes o arquipélago de Palau, Groelândia, Costa Rica, Maldivas e Cuba.

11

2.2.10 Náutico

Caracteriza-se pela utilização de embarcações náuticas para

movimentação turística. Entende-se como náutica toda atividade desenvolvida por

embarcações sob ou sobre águas, paradas ou com correntes, sejam fluviais,

lacustres, marítimas ou oceânicas.

12

Abrange, também, atividades de cruzeiro de longo curso e cabotagem,

passeios, excursões e outras viagens que utilizem embarcações náuticas para fins

turísticos.

Apesar do Brasil ser um país litorâneo, e ter um grande potencial nesta

área, o turismo náutico não é tão expressivo aqui quanto

na Europa e Estados

Unidos.

Os locais na costa brasileira que mais se destacam nesse segmento de

turismo são: Morro de São Paulo, na Bahia; Fortaleza, no Ceará; João Pessoa, na

Paraíba; Fernando de Noronha e Recife, em Pernambuco; Ilha Grande, Paraty e Rio

de Janeiro, no Rio de Janeiro; Natal, no Rio Grande do Norte; Florianópolis, em

Santa Catarina; Ilha Bela e Ubatuba, em São Paulo. Já nos cursos dos rios os

destinos que mais prevalecem, são, de forma geral, o Pantanal e a região

Amazônica.

13

2.3 Tratamento Constitucional do turismo

10 Os 50 melhores destinos de ecoturismo no Brasil. Disponível em: <https://viagemeturismo.abril.com.br/materias/os-50-melhores-destinos-de-ecoturismo-do-brasil/>. Acesso em: 10 de Junho de 2017.

11 MACEDO, André. 10 Destinos obrigatórios para quem ama ecoturismo. Disponível em: <https://www.viajali.com.br/10-destinos-obrigatorios-para-quem-ama-ecoturismo/>. Acesso em: 10 de Junho de 2017.

12 BRASIL, Ministério do Turismo. Turismo náutico: orientações básicas. Brasilia: Ministério do Turismo, 2006.

13 TURISMO náutico no Brasil. Disponível em: <

(24)

2.3.1 Direito ao Lazer

Dita o artigo 6º de nossa Carta Magna:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (grifos nossos)

Ao elencar o lazer no rol dos direitos sociais, consequentemente entre os

direitos fundamentais, entende-se por incluído o turismo, pois, como estudado,

apesar de existir turismo dissociado do lazer, na maioria dos casos, há uma conexão

entre os dois.

Normalmente, quando pensamos em lazer, uma das primeiras ideias que

vem a mente é descanso, férias, viagens. Assim, o direito constitucional ao lazer

importa ao analisarmos o âmbito do turismo, pois algumas de suas modalidades

estão contidas naquele.

2.3.2 Princípios constitucionais específicos

2.3.2.1 Do desenvolvimento do turismo

Ao redigir o artigo 180

14

de nossa Lei Maior, o constituinte classificou o

turismo como fator de desenvolvimento social e econômico.

Dessa forma, foi dado destaque ao investimento no setor turístico, cujo

incentivo deve ser dado pelos Municípios, Estados e União, para que o turismo seja

um fator de desenvolvimento econômico, como já é, não só no Brasil, mas em todo

mundo, sendo um dos setores com maior geração de empregos, como social,

investindo-se na cultura local, incentivando os habitantes a conhecer melhor os

atrativos do lugar onde habitam, além de buscar diminuir a desigualdade social.

O ideal, é que com um plano governamental para este setor, não só

vislumbrando seu viés econômico, mas também o lado social do turismo,

14Art. 180. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios promoverão e incentivarão o turismo como fator de desenvolvimento social e econômico.

(25)

consigamos diminuir as disparidades regionais, que também são visíveis olhos dos

turistas. Sobre o tema, cita-se Júlio Serson (1997, apud, SILVA, 2005, p. 31)

15

:

(...) No Brasil, a distribuição da oferta hoteleira é muito heterogênea. Cada região tem uma demanda específica que precisa ainda ser atendida. No norte, onde o atrativo é o ecossistema amazônico, a necessidade se volta para maior oferta de resorts.

2.3.2.2 Da promoção do turismo

A Constituição Federal, ao determinar que as atividades turísticas devem

estar dentre as formas de desenvolvimento social e econômico do país, criou dois

caminhos para cumprimento da determinação: o incentivo e a promoção.

Promover, lato senso, não significa necessariamente executar. A Lei

Maior do Estado brasileiro não privilegia o digismo econômico onde se admite livre

iniciativa. Assim, deve-se entender esta promoção como a criação de condições

para que as atividades turísticas cresçam e prosperem, e também com ações

fiscalizadoras.

Com esta finalidade, o Estado deu ao Ministério do Turismo a função

fiscalizatória, para que se cumpra a determinação constitucional.

Excepcionalmente, consoante o artigo 173, da CRFB, o Estado possui

autorização para explorar atividade turística:

Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei.

2.3.2.3 Do incentivo ao turismo

O artigo 180 de nossa Constituição enuncia: “A União, os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios promoverão e incentivarão o turismo como fator de

desenvolvimento social e econômico.”.

(26)

Incentivar é agir com empenho para que algo seja criado, desenvolvido ou

intensificado. Dessa forma, o Estado deve garantir ensino técnico e superior

adequado para a execução do turismo, garantir que a exploração da atividade

agregue valor as empresas exploradoras sem, entretanto, afetar o meio ambiente ou

o patrimônio sociocultural, como podemos citar como exemplo a Lei nº 6.513/77.

Ademais, não se pode dissociar do incentivo o investimento financeiro na

área. Por tratar-se de uma atividade de larga escala, o capital a ser empregado é

alto e considera-se um empreendimento arriscado, assim, deve-se facilitar o

investimento.

2.3.2.4 Da proteção ao patrimônio turístico

O patrimônio turístico, por ser de domínio público e de fruição da

coletividade, goza de proteção constitucional.

Ao se promover as atividades turísticas não se pode olvidar que o fluxo de

turistas, a infraestrutura e construções afetam o meio ambiente e a vida dos

habitantes locais.

Assim, para proteger o patrimônio turístico, histórico e artístico local, a

constituição assegura a competência aos três níveis do poder executivo, para

preservar e promover a cultura, o meio ambiente, combater a poluição, preservar as

florestas, faunas e a flora.

2.3.2.5 Da responsabilidade por danos a bens e direitos de valor turístico

O fluxo de pessoas de culturas e hábitos diferentes em um determinado

local, com intensidade maior que a habitual, altera a dinâmica deste.

Como variação do princípio doa proteção do patrimônio turístico, a

responsabilização por danos causados a este vem para reforçar e garantir a

restituição do status quo anterior, por meio de indenização.

A competência para legislar sobre a responsabilidade por dano ao meio

ambiente é da União, Estados e Municípios, concorrentemente, na forma do artigo

24, da CF.

(27)

Sobre a interação do turista com o meio local, disserta José Vicente de

Andrade:

A simples presença física e o despreparo intelectual de visitantes inaptos podem tornar-se motivos de ameaças ao próprio sentido cultural do núcleo que os recebe, principalmente se este não for muito conhecido em sua importância, pois a afluência de visitantes despreparados e incultos pode transformar as oportunidades de conhecimento em ocasiões de destituições ou, pelo menos, de risco ao patrimônio.16

2.4 Contratos de turismo

Ao longo da história, observou-se a necessidade de proteger-se o

consumidor frente a força econômica do fornecedor. Trata-se de tema mencionado

desde o Código de Hamurabi (2300 a.C.), cujo posicionamento já era contrário ao

enriquecimento em detrimento de outrem (Lei n

o

48

– Modificação Unilateral dos

ajustes por desequilíbrio das prestações em razão de forças da natureza) ou mesmo

a Lei n

o

235, que determinava que o construtor de barcos estaria obrigado a

refazê-lo no caso de dano estrutural dentro do prazo de um ano, sendo esta uma noção de

vício rebiditório.

Já na Mesopotâmia, Egito Antigo e Índia do século XVIII a.C., o Código

Massú previa a pena de punição e multa, além de ressarcimento de danos, aos que

adulterassem gênero (Lei n

o

967) ou entregassem coisa de espécie inferior ao

combinado, ou ainda, vendessem bens de igual natureza por preços distintos (Lei n

o

968).

Na Grécia Antiga, a Constituição de Atenas também já demonstrava

preocupação com a proteção do consumidor, estabelecendo a fiscalização nos

mercados a fim de evitar adulteração.

Apesar de muito antigo, a inclusão de um Lei consumerista no

ordenamento brasileiro pode ser considerada recente. Apesar de já existir normas

espaças na legislação, como por exemplo, a lei da usura (Dec. n

o

22.626/1933) e os

artigos 115 e 117 da Constituição de 1934, que possuíam cunho protetivo da

economia popular, somente em 1985, por meio do Decreto n

o

91.469, alterado pelo

16ANDRADE, Jos

(28)

Dec. n

o

94.508/87, foi criado o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor

(CNDC).

Como podemos ver, por muitos anos, o consumidor brasileiro esteve em

posição inequânime para reivindicação de seus direitos. Com a promulgação da

Constituição de 1988, que estabeleceu, em seu artigo 170, V, a defesa do

consumidor como direito e garantia fundamental do cidadão, determinou-se que o

CNDC apresentasse um projeto lei de proteção consumerista.

Assim, em 1990, é aprovada a Lei 8.078, conhecida como Código de

Defesa do Consumidor (CDC), base normativa específica para a relação entre

consumidores e fornecedores.

Tal norma jurídica estabeleceu nos artigos 1

o

ao 7

o

seus princípios gerais,

que regem toda relação de consumo entre as partes contratantes.

Sendo o contrato de turismo uma relação jurídica de obrigação de fazer

entre o denominado turista, consumidor, e a agência de turismo e os prestadores de

serviços turísticos, tal contrato deve ser analisado à luz do CDC.

2.4.1 Princípios

2.3.1.1 Da boa-fé objetiva

Acompanhando a moderna concepção da “boa-fé”, o CDC redirecionou-a

do plano subjetivo da formação do consentimento para o plano objetivo, que busca

equilibrar prestação e contraprestação.

Introduzido como pilar dos contratos de consumo no ordenamento jurídico

brasileiro, o princípio da boa-fé objetiva amplia o objeto do contrato. Os artigos 4

o

,

inciso III

17

e 51, inciso VI

18

, deste diploma legal, consagram o princípio.

17 Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das

necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

[…]

III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;

(29)

Nas palavras de Rizzato Nunes (2000, p. 53, apud, ATHENIENSE, 2002,

p. 25):

A boa-fé subjetiva diz respeito à ignorância de uma pessoa acerca de um fato modificador, impeditivo ou violador de seu direito. É, pois, a falsa crença acerca de uma situação pela qual o detentor do direito acredita em sua legitimidade, porque desconhece a verdadeira situação. [...] Já a boa-fé objetiva, que é a presente no CDC, pode ser definida, grosso modo, como sendo uma regra de conduta, isto é, o dever das partes de agir conforme certos parâmetros de honestidade e lealdade a fim de se estabelecer o equilíbrio nas relações de consumo.”

Tal princípio tem duas funções principais, a criadora, seja como fonte de

novos deveres ou como fonte de responsabilidade por ato ilícito e a limitadora da

liberdade de atuação dos sujeitos da relação, ao definir algumas condutas e

cláusulas como abusivas.

Claudia Lima Marques (2000, p. 79/122) brilhantemente elucida:

“Esta “expansão” de direitos e deveres podemos denominar aqui de relação jurídica “qualificada” pelos princípios orientadores do CDC, especialmente o da boa-fé. O fato da relação jurídica de consumo envolvendo serviços ser qualificada via ter reflexos importantes no plano da validade, como a exigência de maior autonomia da vontade do consumidor, autonomia com direito de reflexão, autonomia com acesso prévio às condições do contrato e do serviço.”

2.4.1.2 Da confiança

O princípio da confiança decorre diretamente do princípio da boa-fé, pois

visa proteger a relação entre consumidor e fornecedor, tutelando a expectativa

gerada no consumidor ante as informações prestadas em relação ao produto a ser

adquirido.

Um exemplo da aplicação deste princípio no CDC encontra-se em seu

artigo 30 c/c art. 35, veja:

18 Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

[…]

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

(30)

Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado. Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:

I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;

II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;

III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

(Grifos nossos)

Assim, diante da expectativa gerada ao vincular a oferta, a legislação,

para garantir a confiança do consumidor, tutela seu direito de forçar o fornecedor a

cumprir a oferta vinculada.

Sobre este princípio discorre Cláudia Lima Marques (2016, p. 1344 -

1346):

Note-se que a ciência do direito, para proteger convenientemente a confiança despertada pela atuação dos fornecedores no mercado, terá de superar a summa divisio entre a responsabilidade contratual e extracontratual, e o fará revigorando a figura dos deveres anexos (Nebempflichten). Estes são os deveres de conduta, deveres de boa-fé presente nas relações sociais mesmo antes da conclusão dos contratos, presentes mesmo depois de exauridas as obrigações principais ou em caso de contratos nulos ou inexistentes. Em verdade, os deveres anexos de cuidado, de informação, de segurança e de cooperação estão presentes em todas as relações, mesmo as extracontratuais, pois são deveres de conduta humana (Verkerhspflichten), só indiretamente (ou eventualmente) dirigidos à prestação contratual.

[...]

É o princípio básico da confiança, instituído pelo CDC para garantir ao consumidor a adequação do produto e do serviço, para evitar riscos e prejuízos oriundos dos produtos e serviços, para assegurar o ressarcimento do consumidor, em caso de insolvência, de abuso, desvio da pessoa jurídica- fornecedora, para regular também alguns aspectos da inexecução contratual do próprio consumidor e sua continuação no tempo.”

2.4.1.3 Da transparência

(31)

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios: (Grifo nosso)

Como podemos ver, o princípio da transparência está elucidado de forma

clara e expressa na legislação, visando o reequilíbrio de forças e a justiça contratual

entre as partes contratantes.

Afirma Luciana Rodrigues Atheniense (2002, p. 29): “O direito à

informação não restringe a fase contratual, mas também o conteúdo das relações

contratuais, já que as informações veiculadas ou requeridas integram o conteúdo do

contrato.”.

No mesmo sentido, MARQUES (apud ATHENIENSE, 2002, p. 29):

Eis porque institui o CDC um novo e amplo dever para o fornecedor, o dever de informar ao consumidor não só sobre as características do produto ou serviço, como também sobre o conteúdo do contrato. Pretendeu, assim, o legislador evitar qualquer tipo de lesão ao consumidor, sem ter o conhecimento do conteúdo do contrato, das obrigações que estará assumindo, e que poderia vinculá-lo à obrigação que não pode suportar ou que simplesmente não deseja.

2.4.1.4 Da vulnerabilidade

Derivado do princípio constitucional da isonomia

19

, o CDC reconhece em

seu art. 4

o

, I, que todo consumidor é vulnerável, pois representa a parte mais fraca

da relação jurídica.

Segundo Hans Kelsen (1998, p. 209):

A igualdade dos sujeitos na ordenação jurídica, garantida pela Constituição, não significa que estes devam ter tratados de maneira idêntica nas normas e em particular nas leis expedidas com base na Constituição. A igualdade assim entendida não é concebível, seria absurdo impor a todos os

19 A Constituição Federal, no caput do seu art. 5º, traz a seguinte redação:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. (grifo nosso).

(32)

indivíduos exatamente as mesmas obrigações ou lhes conferir exatamente as mesmas obrigações ou lhes conferir exatamente os mesmos direitos sem fazer distinção entre eles, como, por exemplo; entre crianças e adultos, indivíduos mentalmente sadios e alienados, homens e mulheres.

Dessa forma, para equiparar o consumidor, parte mais fraca da relação,

ao fornecedor utiliza-se da igualdade material, tratando-se os desiguais na exata

medida de suas desigualdades, para que se alcance a isonomia real.

Cláudia Lima Marques (2016, p. 326/328) considera que existem quatro

tipos de vulnerabilidade: a técnica, a jurídica, a fática e a informacional, e explica:

Na vulnerabilidade técnica, o comprador não possui conhecimentos específicos sobre o objeto que está adquirindo e, portanto, é mais facilmente enganado quanto às características do bem ou quanto à sua utilidade, o mesmo ocorrendo em matérias de serviço. A vulnerabilidade técnica, no sistema CDC, é presumida para o consumidor não profissional, destinatário final fático do bem (...)

[...]

Já a vulnerabilidade jurídica ou científica é a falta de conhecimentos jurídicos específicos, conhecimentos de contabilidade ou economia. Esta vulnerabilidade, no sistema do CDC, é presumida para o consumidor não profissional e para o consumidor pessoa física. Quanto aos profissionais e às pessoas jurídicas vale a presunção em contrário, isto é, devem possuir conhecimentos jurídicos mínimos e sobre a economia para poderem exercer a profissão, ou devem poder consultar advogados e profissionais especializados antes de obrigar-se.

[...]

Existe, pois, outro tipo de vulnerabilidade. Sim, há ainda a vulnerabilidade fática ou socioeconômica, em que o ponto de concentração é o outro parceiro contratual, o fornecedor que, por sua posição de monopólio, fático ou jurídico, por seu grande poder econômico ou em razão da essencialidade do serviço, impõe sua superioridade a todos que com ele contratam (...) [...]

O que caracteriza o consumidor é justamente o seu déficit informacional, pelo que não seria aqui necessário frisar este minus como uma nova espécie de vulnerabilidade, uma vez que já estaria englobada como espécie de vulnerabilidade técnica. (...)

Esta vulnerabilidade informativa não deixa, porém, de representar hoje o maior fator de desequilíbrio da relação vis-à-vis dos fornecedores, os quais, mais do que experts, são os únicos verdadeiramente detentores da informação. Presumir a vulnerabilidade informacional (art. 4o, I, do CDC) significa impor ao fornecedor o dever de compensar este novo fator de risco na sociedade. (...)

(33)

Aqui, mais do que jurídica, técnica ou fática, esta vulnerabilidade é essencial à dignidade do consumidor, principalmente como pessoa física.

2.4.1.5 Da hipossuficiência

Vizinho a noção de vulnerabilidade fática, está o princípio da

hipossuficiência. Por ausência de condições econômicas ou mesmo técnicas para

demonstrar a responsabilidade do fornecedor, o CDC estabelece como direito básico

do consumidor, em seu artigo 6

o

, inciso VIII, “a facilitação de seus direitos, inclusive

com a inversão da prova ao seu favor, quando ele for hipossuficiente.”.

Portanto, como podemos ver, a hipossuficiência, não é presumida, é

concedida pelo magistrado diante de comprovação.

Sobre o tema, novamente discorre Cláudia Lima Marques (2016, p. 336):

A doutrina brasileira defende, igualmente, que os consumidores desfavorecidos (ou pobres) podem ser chamados de hipossuficientes, criando assim uma graduação (econômica) da vulnerabilidade em direito material. Efetivamente, como ensina a doutrina francesa, a "fraqueza" ou fragilidade pode ser inerente as pessoas individualmente consideradas; pode ser relativa, quando o outro e muito forte, ou quando o bem ou serviço desejado e essencial e urgente, comportando assim graduações subjetivas comparáveis as graduações subjetivas da menoridade, que iriam dos consumidores mais desfavorecidos ou vulneráveis (idosos, crianças, superendividados, doentes, mutuários do SFH etc.) aos profissionais somente eventualmente vulneráveis ante, por exemplo, a complexidade do bem ou serviço.

2.4.2 Classificação

2.4.2.1 Atípicos

Flavio Tartuce (TARTUCE, 2016, p. 600) classifica os contratos atípicos

como aqueles em que:

não há uma previsão legal mínima, como ocorre com o contrato de garagem ou estacionamento. O art. 425 do C.C. dispõe que é lícita a criação de contratos atípicos, desde que observados os preceitos gerais da codificação privada, caso dos princípios da função social do contrato (art. 421 do C.C.) e da boa-fé objetiva.

(34)

apud, ATHENIENSE, 2002, p. 39):

No que concerne ao contrato de turismo, a advertência assume relevo na medida em que a doutrina dos contratos atípicos tende a traduzir os

contratos inominados sob a ótica dos contratos típicos, enquadrando as

novas experiências contratuais nos regulamentos negociais já conhecidos, mesmo quando se trata de scheme scarsamente appropriatti.

2.4.2.2 De forma livre

Nas palavras de Carlos Roberto Gonçalves (2013, p. 39):

“É a

predominante no direito brasileiro (C.C., art. 107). É qualquer meio de manifestação

da vontade, não imposto obrigatoriamente pela lei (palavra escrita ou falada, escrito

público ou particular, gestos, mímicas etc.)”.

Acrescenta ainda (GONÇALVES, 2013, p. 109):

Contratos não solenes são os de forma livre. Basta o consentimento para sua formação. Como a lei não reclama nenhuma formalidade para seu aperfeiçoamento, podem ser celebrados por qualquer forma, ou seja, por escrito particular ou verbalmente.

2.4.2.3 Bilaterais

Novamente utilizando o conceito de Tartuce (2016, p. 597):

os contratantes são simultânea e reciprocamente credores e devedores uns dos outros, produzindo o negócio direitos e deveres para ambos os envolvidos, de forma proporcional. O contrato bilateral é também denominado contrato sinalagmático, pela presença do sinalagma, que é a proporcionalidade das prestações, eis que as partes têm direitos e deveres entre si (relação obrigacional complexa).

2.4.2.4 Onerosos

Nessa modalidade contratual, ambos os contratantes visam obter

benefícios, impondo-se encargos reciprocamente.

Discorre sobre o assunto Gonçalves (2013, p. 95):

(35)

porém, corresponde um sacrifício. São dessa espécie quando impõem ônus e, ao mesmo tempo, acarretam vantagens a ambas as partes, ou seja, sacrifícios e benefícios recíprocos. É o que se passa com a compra e venda, a locação e a empreitada, por exemplo. Na primeira, a vantagem do comprador é representada pelo recebimento da coisa, e o sacrifício, pelo pagamento do preço. Para o vendedor, o benefício reside no recebimento deste, e o sacrifício, na entrega da coisa. Ambos buscam um proveito, ao qual corresponde um sacrifício.

2.4.2.5 Comutativos

As prestações e contraprestações de ambas as partes são previamente

conhecidas. Consoante a doutrina de Flávio Tartuce (TARTUCE, 2016, p. 599):

aquele em que as partes já sabem quais são as prestações, ou seja, essas são conhecidas ou pré-estimadas. A compra e venda, por exemplo, é, em regra, um contrato comutativo, pois o vendedor sabe qual o preço a ser pago e o comprador qual é a coisa a ser entregue.

2.4.3 Sujeitos

Como visto anteriormente, o contrato de turismo é bilateral, ou seja,

composto por duas partes, sendo elas o consumidor e a agência de turismo.

Sobre as agências turísticas, vale destacar algumas de suas

peculiaridades.

Primeiramente, insta destacar que as agências de turismo são

sociedades comerciais coma finalidade de promover viagens, na forma do Decreto

84.934/80:

Art. 2º. Constitui atividade privativa das Agências de Turismo a prestação

de serviços consistentes em:

I - venda comissionada ou intermediação remunerada de passagens individuais ou coletivas, passeios, viagens e excursões;

II - intermediação remunerada na reserva de acomodações;

III - recepção, transferência e assistência e especializadas ao turista ou viajante;

IV - operação de viagens e excursões, individuais ou coletivas, compreendendo a organização, contratação e execução de programas, roteiros e itinerários;

V - representação de empresas transportadoras, empresas de hospedagem e outras prestadoras de serviços turísticos;

VI - divulgação pelos meios adequados, inclusive propaganda e publicidade, dos serviços mencionados nos incisos anteriores. (Grifo nosso)

(36)

[...]

Art. 3º. Observada a legislação específica, as Agências de Turismo poderão

prestar, ainda, sem caráter privativo, os seguintes serviços: I - obtenção e legalização de documentos para viajantes; II - reserva e venda, mediante comissionamento, de ingressos para espetáculos públicos, artistícos, esportivos, culturais e outros;

III - transporte turistíco de superfície;

IV - desembaraço de bagagens, nas viagens e excursões de seus clientes; V - agenciamento de carga;

VI - prestação de serviços para congressos, convenções, feiras e eventos similares;

VII - operações de câmbio manual, observadas as instruções baixadas a esse respeito pelo Banco Central do Brasil;

VIII - outros serviços, que venham a ser especificados pelo Conselho Nacional de Turismo - CNTur. (Grifos Nossos)

Como podemos observar pela redação dos artigos supracitados, as

agências de turismo são prestadoras de serviços. Ainda segundo a legislação, são

dividas em duas espécies: as agências de viagem e as agências de viagem e

turismo.

Internacionalmente conhecidas como tour operator, as agências de

viagem e turismo são também denominadas operadoras de turismo. São

responsáveis por elaborar o pacote turístico, que abrange a hospedagem,

transporte, passeios, de acordo com a vontade do consumidor-turista.

Já as agências de viagem são responsáveis pelo assessoramento ao

turista, organização da viagem e a promoção de seus serviços. Cabe destacar que

tais funções são aplicáveis as agências de viagem e viagem e turismo, uma vez que

a segunda engloba as funções da primeira.

Sendo assim, a agência de turismo se obriga a prestação dos serviços

agindo como intermediaria entre o consumidor e os demais fornecedores de serviços

do contrato.

2.4.4 Objeto

Conforme explicitado anteriormente, o contrato de turismo é aquele

realizado entre o consumidor-turista e agência de turismo para a prestação do

(37)

serviço denominado pacote turístico. Assim, conclui-se que o objeto deste contrato é

a organização da viagem turística.

Nesse sentido, dispõe Luciana da Silva: “O objeto do contrato de turismo

não é coisa corporal, mas sim as prestações de serviços, o prometido e esperado. O

contrato de turismo tem como objeto o conjunto dos serviços correspondentes à

organização de uma viagem turística.”.

Sobre o objeto do contrato de turismo cabe uma importante consideração:

a causa do contrato. A doutrina brasileira, em geral, ao classificar os contratos, não

examina o elemento causal dos negócios jurídicos, uma vez que ausente no Código

Civil Brasileiro, entretanto, essencial para nosso estudo.

Como visto, o objeto do contrato é a prestação dos serviços

correspondente à organização da viagem turística, ou seja, a transferência do

encargo do preparo da viagem a empresa contratada. Assim, a causa do contrato

impõe a obrigação de resultado.

Ensina Gustavo Tepedino:

No caso do contrato de turismo, cuida-se de contrato atípico, bilateral, oneroso, comutativo, caracterizado pela prestação de serviços especializados concernentes à organização de viagem para fins turísticos celebrado entre o operador de turismo ou agência de viagens, de um lado, e, de outro, o turista. O que caracteriza, do ponto de vista da finalidade, a viagem de turismo não é a motivação psíquica do agente, normalmente com escopo cultural ou de entretenimento, mas sim o fato de que tal escopo implica uma transferência de responsabilidade para com a organização dos eventos que compõem o programa de viagem pretendido. Em outras palavras, a finalidade turística serve aqui de premissa - há que a despreocupação é um estado de espírito típico da viagem de turismo -, modo de caracterizar a obrigação de resultado essencial ao contrato, para cuja consecução depende o viajante de uma exoneração de preocupações organizacionais, transferindo-as, por isso mesmo, ao agente, operador de turismo ou agência de viagens.

2.4.5 Momento da Celebração

Considera-se celebrado o contrato de turismo quando há a convergência

de vontade entre as partes em relação ao conteúdo do contrato, ou seja, do pacote

de viagens.

(38)

Insta destacar, portanto, que para fins de celebração do contrato não se

considera o momento do pagamento, seja ele parcial ou integral, nem a efetivação

de reservas.

(39)

3 RESPONSABILIDADE CIVIL

3.1 Aspectos gerais

3.1.1 Conceito

Consagrada no artigo 1.382 do Código Civil Napoleônico

20

, definiu-se,

neste, a responsabilidade civil como “qualquer fato oriundo daquele que provoca um

dano a outrem obriga aquele do que foi a causa do que ocorreu a reparar este dano”

(Stoco, 2007, p.)

Define, de forma bem elucidativa, De Plácido e Silva (1989, p. 125):

Dever jurídico, em que se coloca a pessoa, seja em virtude de contrato, seja em face de fato ou omissão, que lhe seja imputado, para satisfazer a prestação convencionada ou para suportar as sanções legais, que lhe são impostas.

Onde quer, portanto, que haja obrigação de fazer, dar ou não fazer alguma coisa, de ressarcir danos, de suportar sanções legais ou penalidades, há a responsabilidade, em virtude da qual se exige a satisfação ou o cumprimento da obrigação ou da sanção.

3.1.2 Distinção entre obrigação e responsabilidade

Explica Cavalieri Filho (2015, p. 16), em sua doutrina, a distinção de

obrigação e responsabilidade: “Obrigação é sempre um dever jurídico originário;

responsabilidade é um dever jurídico sucessivo, consequente à violação do

primeiro.”.

Assim, não há responsabilidade sem obrigação. Na feliz imagem

vislumbrada por Larenz “a responsabilidade é à sombra da obrigação” (CAVALIERI

FILHO, 2015, p. 17).

3.1.3 Espécies de Responsabilidade

20 Tout fait quelconque de l'homme, qui cause à autrui um dommage, oblige celui par la faute duquel il

est arrivé, à le réparer (Qualquer fato oriundo daquele que provoca um dano a outrem obriga aquele

(40)

3.1.3.1 Civil e penal

Como podemos extrair de seu conceito, a responsabilidade decorre de

uma violação a uma obrigação. De Plácido e Silva (2006, p. 698), em seu livro

Vocabulário Jurídico, afirma:

“Ilícito, pois, vem qualificar, em matéria jurídica, todo

fato ou ato que importe numa violação ao direito ou em dano causado a outrem,

provenha do dolo ou se funde na culpa.”

Sendo ilicitude a contrariedade entre a conduta e a norma jurídica, apesar

de ter amplitude no direito penal, é cabível em todos os ramos do direito, inclusive o

cível.

Dessa forma, a ilicitude civil decorre de uma violação a uma norma de

direito Privado e a ilicitude penal decorre da violação da norma Penal.

Ressalte-se que um mesmo fato pode gerar ambas responsabilidades,

não havendo bis in idem entre elas, já que os bens jurídicos tutelados são distintos.

21

Nesse sentido, Carlos Alberto Bittar (1990, p. 03):

A reparação representa meio indireto de devolver-se o equilíbrio às relações privadas, obrigando-se o responsável a agir, ou a dispor de seu patrimônio para a satisfação dos direitos do prejudicado. Já a pena corresponde à submissão pessoal e física do agente, para restauração da normalidade social violada com o delito”

3.1.3.2 Contratual e extracontratual

Explica, sucintamente, Cavalieri Filho (2015, p. 33):

Se a transgressão se refere a um dever gerado em negócio jurídico, há um ilícito negocial comumente chamado de ilícito contratual, por isso que mais frequentemente os deveres jurídicos têm como fonte os contratos,

Se a transgressão pertine a um dever jurídico imposto pela lei, o ilícito é extracontratual, por isso que gerado fora dos contratos, mais precisamente fora dos negócios jurídicos.

21 Por exemplo, em caso de homicídios (artigo 121, do C.P.), o agente causador da conduta lesionadora poderá ser condenado à pena de reclusão prevista no artigo citado, na esfera penal; e na esfera cível também poderá ser condenado, na forma do artigo 1537 do Código Civil: "a indenização, no caso de homicídio, consiste no pagamento das despesas com o tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; e na prestação de alimentos às pessoas a quem o defunto os devia".

(41)

Logo, há responsabilidade extracontratual, que também é chamada de

aquiliana, se o dever violado estiver na lei ou no ordenamento jurídico. Se a

obrigação violada for decorrente de um contrato, a responsabilidade é contratual.

3.1.3.3 Subjetiva e objetiva

“A responsabilidade subjetiva é a decorrente de dano causado em função

de ato doloso ou culposo.” (GAGLIANO, 2015, p. 57). Portanto, dentro da doutrina

subjetiva o agente responde proporcionalmente a sua culpa, na forma do princípio

unuscuique sua culpa nocet.

Já no caso da responsabilidade objetiva, é juridicamente irrelevante

avaliar-se se o agente agiu com dolo ou culpa, pois o dever de indenizar decorre do

nexo causal da conduta do agente e o dano. As teorias objetivistas encaram a

responsabilidade como mera reparação de dano, fundada no risco da atividade.

A responsabilidade objetiva ganhou força devido aos doutrinadores

franceses Raymond Saleilles e Louis Josserand que concentraram suas análises na

palavra “faute”, do art. 1.384 do Código Napoleônico, equivalendo à causa de

qualquer dano. A partir da análise destes que surgiu o dever de ressarcir

independendemente de culpa.

Ensina Caio Mario (2001, p. 269):

A doutrina objetiva, ao invés de exigir que a responsabilidade civil seja a resultante dos elementos tradicionais (culpa, dano, vínculo de causalidade entre uma e outro) assenta na equação binária cujos polos são o dano e a autoria do evento danoso. Sem cogitar da imputabilidade ou investigar a antijuridicidade do fato danoso, o que importa para assegurar o ressarcimento é a verificação se ocorreu o evento e se dele emanou o prejuízo.

3.1.3.4 Nas relações de consumo

Afirma Cavalieri Filho (2015, p. 35):

“Responsabilidade objetiva, fundada

no dever de segurança do fornecedor em relação aos produtos e serviços lançados

no mercado de consumo”

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