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Academic year: 2021

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A metáfora na comunicação visual

Marlene Silva Sardinha Gurpilhares

UNIFATEA - marlenesardinha@yahoo.com.br

Resumo

Considerando o mundo globalizado em que vivemos, bombardeado por múltiplas informações, a comunicação visual emerge como um mecanismo, não só de divulgação de informação, mas também de manipulação do receptor dessa mensagem. Nesse contexto, esta pesquisa tem como objetivo examinar a função da metáfora como mecanismo argumentativo na comunicação visual. Como referencial teórico foram utilizadas obras sobre a imagem, o signo, a metáfora, entre outras. A metodologia é de abordagem qualitativa, prescindindo de dados numéricos para atingir suas conclusões. Os resultados obtidos nas análises comprovaram os objetivos propostos.

Palavras-chave: Comunicação visual; Metáfora;

Argumentação.

Abstract

Taking the globalised world we live, which is bombarded with much information, into consideration, visual communication emerges as a tool not only to promote information, but also to manipulate the message’s receiver. Based on this context, this paper aims to analyse the metaphor’s function as an argumentative tool in visual communication. As theoretical base, masterpieces about the image, the sign, the metaphor and others have been used. The methodology has a qualitative approach, taking the numerical data apart when getting to conclusion. The results from the analysis support the proposed goals.

Keywords: Visual communication; Metaphor; Argumentation.

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INTRODUÇÃO

No mundo globalizado em que vivemos, dominado por uma economia capitalista, voltada para o “consumo”, a comunicação visual emerge como um veículo, não só de transmissão de informação, mas também de manipulação de um leitor que desconhece os mecanismos de argumentação impostos pela mídia.

Nesse contexto, esta pesquisa tem como objetivo examinar a função da metáfora como mecanismo de persuasão, na comunicação visual.

A pesquisa analisa a metáfora numa pintura de um artista italiano, sobre o aquecimento global, enfatizando a relação imagem / metáfora e a função argumentativa dessa figura. A seguir, examina uma metáfora verbal, extraída de uma entrevista da presidente Dilma Rousseff, sob o enfoque da metáfora conceptual.

A pesquisa tem como objetivo fornecer subsídios para uma leitura crítica da linguagem visual, enfatizando a argumentação, através da metáfora.

REFERENCIAIS TEÓRICOS

Como referencial teórico utilizamos, entre outras, as obras de:

a) Santaella e Nöth (1997), sobre a imagem;

b) Dretske (1988, apud SANTAELLA; NÖTH, 1997), sobre representação;

c) Eco (1973), sobre signo;

d) Peirce (1974, apud EPSTEIN, 1985), sobre signo;

e) Niemeyer (2013), sobre signo; f) Sardinha (2007), sobre metáfora.

Seguem-se as exposições das teorias que servirão de subsídio para as análises e conclusões do tema proposto.

Uma pesquisa sobre comunicação visual exige, necessariamente, uma abordagem sobre a imagem, tendo em vista sua importância nesse processo de comunicação.

Nesse contexto, iniciamos este trabalho, tecendo considerações a respeito da imagem como objeto da comunicação visual.

Tomamos como ponto de apoio Santaella e Nöth (1997).

Como ponto de partida podemos afirmar que desde que o homem existe na face da Terra, ele se comunica por imagens, haja vista as pinturas pré-históricas, das cavernas, milênios antes do aparecimento do registro da palavra escrita. Curiosamente, a propagação da palavra

escrita se deu já no século XV de Gutenberg, enquanto a da imagem teve de esperar até o século XX para se desenvolver. Do mesmo modo as pesquisas sobre a palavra se desenvolveram a partir de estudos dos acadêmicos das artes da gramática, retórica e filologia, enquanto os estudos da imagem não criaram uma tradição similar e continuam, até hoje, sem um suporte institucional de pesquisa própria. Não existe ainda uma ciência da imagem. Ela busca apoio em outras disciplinas, como história da arte, psicologia da arte, crítica da arte, teorias da cognição, e outras. O estudo da imagem é, portanto, interdisciplinar. Enquanto ela é um sistema semiótico, sem uma metassemiótica, a língua possui uma metalinguagem, sendo o discurso verbal necessário ao desenvolvimento de uma teoria da imagem.

Segundo os mesmos autores (1997), o mundo das imagens se divide em dois domínios: o primeiro é o das imagens como representações visuais: desenho, pinturas, imagens cinematográficas, televisivas, etc. Nesse caso as imagens são objetos materiais.

O segundo é o domínio imaterial das imagens da nossa mente: visões, fantasias, imaginações, etc. Esses domínios não existem separados: não há imagens como representações visuais que não tenham surgido de imagens na mente e vice-versa.

O signo e a representação são os conceitos unificadores dos dois domínios.

O estudo das representações visuais e mentais é o tema da semiótica e da ciência cognitiva, respectivamente.

O conceito de representação

A partir do exposto, cumpre examinar a teoria da representação e sua relevância para um melhor entendimento da “imagem”.

O conceito de representação, desde a sua origem, está ligado ao conceito de signo.

Já na escolástica medieval, representação é definida, de maneira geral, como o processo de apresentação de algo por meio de signos. São Tomás escreve, por exemplo, “cada representação acontece por meio de signos”. A amplitude desse conceito permite perceber a diferenciação de quatro tipos de representação: a) por imagem; b) por vestígio; c) por espelho; d) por livro.

O conceito de representação encontra-se principalmente no conceito inglês “representation(s)” como sinônimo de signo. Também em Locke já se encontram “representação e signo” como sinônimos.

Sperber (1985, apud SANTAELLA; NÖTH, 1997) utiliza o conceito de representação, de uma maneira geral, como um sinônimo de

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signo.

O substantivo abstrato “representação” caracteriza também uma função sígnica ou um processo de utilização sígnica.

Dretske (1998, p. 51, apud SANTAELLA; NÖTH, 1997) define, de maneira geral, o conceito de representação também como função sígnica. Para ele, tanto signos naturais como convencionais podem representar.

Ratificando essa posição, é lícito afirmar que: determinações conceituais, de acordo com as quais uma representação é um signo, baseado numa relação de semelhança, existem desde a escolástica.

Bunge (1969, p. 22, apud SANTAELLA; NÖTH, 1997) define representação no sentido de um signo icônico e considera o critério da analogia como central.

Concluindo, é possível afirmar que, salvo raras exceções, é quase consensual entre os estudiosos a existência de uma relação: representação / signo.

Conforme já exposto a imagem se divide num campo semântico determinado por dois polos opostos: imagem direta perceptível e imagem mental simples que, na ausência de estímulos visuais, pode ser evocada.

Detalhando essa concepção Mitchell (1986, apud SANTAELLA; NÖTH, 1997) estabelece uma tipologia da imagem: 1) imagens gráficas (imagens desenhadas ou pintadas, esculturas); 2) imagens góticas (espelhos, projeções); 3) imagens perceptíveis (dados de ideias, fenômenos); 4) imagens mentais (sonhos, lembranças, ideias, fantasias) e 5) imagens verbais (metáforas, descrições).

Quaisquer que sejam os tipos de imagem, como os elencados acima, eles assumem a função de signos, já que são representações, ou seja, representam alguma coisa para alguém, em determinado contexto. É inerente à constituição do signo o seu caráter de representação, de se fazer presente, de estar em lugar de algo, de não ser o próprio algo.

Aprofundando mais essa relação, parece lícito afirmar que a imagem, com especificidade para a “imagem gráfica” (MITCHELL, 1986), apresenta uma similaridade com o signo icônico.

Semelhança (similaridade) e imitação (mimesis) existem, principalmente desde Santo Agostinho, como as características clássicas da imagem. As imagens como semelhança de signos retratados pertencem à classe dos ícones.

A fim de aprofundarmos a discussão sobre a relação imagem / signo, faz-se necessário tecer algumas considerações sobre o conceito, característica e classificação dos signos.

Prosseguindo, damos uma visão geral sobre a figura da metáfora, para, finalmente, relacionarmos: imagem / signo / metáfora.

O signo: - conceito, características e classificação

Os estudos sobre o signo, no âmbito da Linguística, remontam à Antiguidade, passando pela Idade Média, por Port Royal e chegando ao enfoque semiótico de Peirce, sendo esse último pertinente para esta pesquisa.

Eco (1973), ao discorrer sobre a função do signo, aborda dois aspectos:

a) O signo como elemento do processo de comunicação.

Nessa acepção o signo é usado para transmitir uma informação, para indicar a alguém alguma coisa que um outro conhece e quer que outros também conheçam. Ele insere-se pois, num processo de comunicação desse tipo:

fonte – emissor – canal – mensagem – destinatário.

b) O signo como elemento do processo de significação.

Esta segunda maneira de classificar o signo é menos óbvia que a precedente, inclusive porque há certos contextos culturais em que as palavras se identificam com as coisas.

Apesar de esta distinção já se apresentar no pensamento grego dos séculos áureos, em Platão e Aristóteles, ela só é esclarecida de modo sistemático pelos estoicos.

No século I a.C., os estoicos elaboraram uma teoria acerca da linguagem relativamente bem acabada, na qual afirmavam: “No processo de significação, há três elementos: o significado, o signo e a coisa, que pode ser uma entidade física, uma ação, um acontecimento. O signo é, por exemplo, a palavra ‘Dion’ (nome de uma pessoa); o significado é o que vem expresso por aquela palavra e que nós compreendemos quando é dado ao pensamento; a coisa é o que subsiste externamente, neste caso, o próprio Dion. Portanto, os estoicos já distinguiam entre expressão, conteúdo e referente” (ARAÚJO, 1950, p. 20).

Após um longo hiato, há que se ressaltar a contribuição de Santo Agostinho (354-430) para uma teoria do signo. Na sua obra “De Magistro”, ele considera que “falar é exteriorizar o sinal de sua vontade por meio da articulação do som”. Ele distingue entre a coisa e seu sinal, valorizando a referência. Para Santo Agostinho, os três elementos responsáveis pela significação são: “verbum, dicibile, res”.

Passemos para o século XVII, com os gramáticos de Port Royal, para quem o signo se constituía de: nom, idée, chose.

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Essa concepção triádica, cuja proposta remonta aos estoicos, conforme exposto, está explicitada no famoso triangulo de Ogden e Richards (1923, apud ECO, 1973), que se segue:

Muitas objeções tem sido feitas a essa classificações. Não as mencionaremos, por não serem pertinentes para esse trabalho.

Vale a pena assinalar, no entanto a diversidade terminológica dada por diferentes estudiosos.

Resumindo, é possível afirmar que duma classificação do signo como elemento do processo de significação emerge a ideia de que ele é sempre entendido como alguma coisa que está no lugar de outra.

A seguir, apresentamos, resumidamente, as contribuições de Peirce, para os estudos do signo.

A filosofia da linguagem, a lógica e a semiótica experimentaram com esse filósofo, um impulso inovador.

Para Peirce, a lógica é a ciência dos signos, e essa lógica é a Semiótica, doutrina geral dos signos.

O filósofo conceitua signo como “algo que, sob certo aspecto ou de algum modo, representa alguma coisa para alguém. Dirige-se a alguém, isto é, cria na mente dessa pessoa um signo equivalente ou talvez um signo melhor desenvolvido” (PEIRCE, 1974, apud EPSTEIN, 1985, p. 18).

O autor criou três famosas distinções do signo, as quais ele denominou: índice, ícone e

símbolo.

Os índices são aqueles signos nos quais a relação signo – objeto é uma relação direta, causal e real, como: a fumaça (indica presença de fogo), nuvem escura (chuva).

Ícone, segundo Peirce, é aquele signo que, na relação signo – objeto, indica uma qualidade ou propriedade de um objeto por possuir certos traços (pelo menos um) em comum com o referido objeto. Exemplo: quadros, desenhos, retratos.

O uso dos ícones teve grande influência na popularização dos computadores pessoais, uma vez que não há necessidade de o usuário memorizar os nomes dos comandos. Para salvar, imprimir ou abrir um documento basta dar um clique com o mouse no ícone correspondente. Há ainda os ícones criados pelos usuários para exprimir conceitos.

Os ícones podem ter uma constituição mais vinculada a um caráter do vínculo material em que se manifesta a semelhança – a imagem.

A imagem é um nível primeiro do Ícone. Um segundo nível do ícone é o diagrama.

Os gráficos, os mapas são diagramas. A metáfora é o nível terceiro do ícone. É um nível mais abstrato (NIEMEYER, 2013, p. 40-41).

Para o filósofo americano o símbolo é aquele signo em que a relação signo – objeto designa seu objeto independentemente da semelhança (o caso do ícone) ou das relações causais com o objeto (caso do índice). É um signo arbitrário cuja ligação com o objeto é definida por uma lei convencionada.

Exemplo: - a cruz: símbolo do Cristianismo; a balança: símbolo da justiça.

A metáfora: origem, conceituação e classificação.

Sardinha (2007) apresenta quatro abordagens no estudo da metáfora. Apresentamos aqui três, que são pertinentes para essa pesquisa.

Visão tradicional: segundo Sardinha (2007) nas visões tradicionais as vertentes do estudo de metáforas são aquelas associadas ao tratamento da metáfora como uma figura de linguagem apenas ou como um artifício para embelezar a linguagem. Reconhecemos que “tradicional” é um rótulo vago, no qual se encaixam muitos estudiosos, de várias épocas, afirma Sardinha.

No ocidente a noção mais antiga é a de Aristóteles, séc. IV a.C.; para ele a metáfora é o uso do nome de uma coisa para designar outra.

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Na Arte Poética são apresentados quatro tipos de metáforas: do gênero para espécie, da espécie para o gênero, da espécie para espécie e de analogia. Esses tipos incluem casos que hoje seriam chamados de hipérbole e de sinédoque, além da metáfora. O quarto tipo é o que mais se encaixa nas definições contemporâneas de metáfora.

O filósofo considera a comparação direta como metáfora: “Entre uma e outra a diferença é pequena”. (RETÓRICA, XXI, 13, p. 274, apud SARDINHA, 2007, p. 20). “Aquiles se atirou como um leão” e “O leão atirou-se” (em que “leão” se refere a Aquiles) seriam ambas metáforas, já que, nas duas, a propriedade de coragem foi transferida para Aquiles.

A metáfora permite expressar uma ideia nova. Sendo nova, ela exige do ouvinte ou leitor um trabalho mental para encontrar um ponto comum entre as entidades presentes na metáfora, o que pode sinalizar que “Aristóteles reconhecera o papel cognitivo da metáfora, na medida em que ela propicia aprendizado, não sendo a sua visão a de que a metáfora seria apenas um artifício vazio” (RAPP 2002, apud SARDINHA, 2007, p. 21). Na Renascença a classificação das figuras de linguagem aumentou.

No âmbito dessas classificações, a metáfora é, geralmente vista como apenas uma entre muitas outras:

Alegoria, antífrase, antonomásia, aforismo, apóstrofe, arcaísmo, catacrese, circunlocução, enálage, eufemismo, hipálage, hipérbole, hipófora, ironia, metonímia, oxímoro, parábola, paradoxo, paronomásia, perífrase, prosopopéia, silepse, sinédoque e zeugma (SARDINHA, 2007, p. 21).

Aristóteles considerava a metáfora a figura mestra.

Geralmente, tem-se aí uma visão ateórica da metáfora, que se confunde com o senso comum. Nela, uma metáfora é definida como uma figura que faz uma comparação implícita entre duas coisas, entidades ou assuntos não relacionados.

Metáfora vem do grego “metapherein”, que significa “transferência” ou “transporte”. Etimologicamente, é formada por “meta”, que quer dizer “mudança” e por “pherein” que significa “carregar”, ou seja, a metáfora é a transferência de sentido de uma coisa para outra. Durante muito tempo, desde a Antiguidade, ela foi incluída entre as figuras de linguagem. Era considerada um recurso figurativo. Do seu relacionamento com as figuras de linguagem, apenas um permaneceu:

metáfora e metonímia. Ambas são parecidas, havendo sugestão de critérios para diferenciá-las.

Na primeira metade do séc. XX, o interesse pela metáfora diminui devido ao surgimento do lógico-positivismo, que se preocupa com questões como: verdade, falsidade e objetividade.

Nessa linha temos Searle (1993, apud SARDINHA, 2007), para quem a metáfora seria um tipo de discurso indireto, cujo conteúdo, poderia ser parafraseado diretamente, ou seja, seria um desvio de sentido literal; ele propõe que o ouvinte primeiramente tente interpretá-la literalmente e quando essa interpretação falha, esse ouvinte passa a procurar outro sentido, não literal, partindo das intenções que o falante poderia ter ao empregar a metáfora.

A visão de Searle foi atacada de muitas maneiras. Uma das críticas é a de que muitas metáforas não são literalmente inverdades, como “nenhum homem é uma ilha”, que é uma metáfora e possui um sentido literal verdadeiro (nem que seja trivial). Assim um ouvinte não sentiria necessidade de interpretar a frase metaforicamente, pois a interpretação literal seria suficiente. Muitas críticas surgiram para essa proposta. Passada essa fase, outras teorias surgiram, mas não serão tratadas aqui por não serem pertinentes para esse trabalho.

A metáfora conceptual: é uma maneira convencional de conceitualizar um domínio de experiência em termos de outro, normalmente de modo inconsciente. A teoria da metáfora conceptual foi formulada por George Lakoff e Mark L. Johnson (2009), um linguista e um filosofo, americanos, respectivamente, no final da década de 70. Metáforas conceptuais são convencionais, quer dizer, são inconscientes (no sentido de que não nos damos conta de que as usamos e não no sentido freudiano, de reprimidas). Elas não parecem metáforas, no sentido tradicional (de uma figura de linguagem deliberada, usada para enfeitar, para fazer um truque de linguagem). Assim elas se confundem com o senso comum. Essas metáforas “licenciam” ou “motivam” as expressões metafóricas. Nessa teoria, denomina-se “expressão metafórica” a expressão linguísta que expressa a metáfora conceptual. Por exemplo, “nosso casamento está indo muito bem” é uma expressão que advém da metáfora conceptual “o amor é uma viagem”. Sem esse licenciamento ou motivação, as expressões não teriam sentido imediato, aparente. Caso as expressões não estejam licenciadas pela metáfora conceptual, a expressão perde o sentido desejado, sendo provavelmente interpretada somente no

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sentido literal. Exemplo: Ele está subindo na árvore (só literal). Contraria a metáfora – bom é para cima. Percebemos a contrariedade no exemplo: Ele subiu na vida. Nesse exemplo, sim, podemos identificar a metáfora conceptual – BOM É PARA CIMA.

As metáforas conceptuais são culturais. Elas refletem a ideologia e o modo de ver o mundo de um grupo de pessoas, construídos em determinada cultura, ou seja, uns dos focos nessa pesquisa. Interessante relatar que essa metáfora pode ser encontrada no próprio corpo humano, ou seja, quando abraçamos alguém que gostamos ou quando pegamos uma criança no colo para demonstrar carinho, exercemos a metáfora conceptual AFEIÇÃO É CALOR.

Ex. Lobo em pele de cordeiro – animais Biruta de aeroporto – máquinas e ferramentas

Quartel-general do petismo – guerras Entrar em campo – jogos e esportes

De acordo com Kovecses (2002, apud SARDINHA, 2007) podemos citar, dentro da metáfora conceptual, alguns domínios fonte: o corpo humano, saúde e doença, animais, máquinas e ferramentas.

Concluindo, sintetizamos alguns pontos básicos: a metáfora conceptual é cognitiva, logo, abstrata, embora tome forma na fala e na escrita, por meio das expressões metafóricas. Seu acesso é automático. São 5 os principais tipos de metáforas conceptuais: Estruturais, orientacionais, ontológicas, personificação e primarias.

A metáfora sistemática: às vezes chamada de abordagem discursiva ou metáfora em uso, é estudada por uma corrente de pesquisa que teve início com Cameron (2000, apud SARDINHA, 2007). Não se trata de uma teoria, como a metáfora conceptual, pois seus pressupostos não foram ainda coligidos em uma proposta teórica, mas sim uma abordagem que reúne:

a) uma série de pressupostos teóricos, aportados de outros teóricos e alguns nascidos de pesquisas próprias;

b) uma linha metodológica que estabelece procedimentos para a pesquisa com metáforas. O principal ponto dessa abordagem é a primazia dada à metáfora em uso. Quaisquer suposições sobre o processamento mental das pessoas que fizeram uso das metáforas é secundário e só pode ser feito se houver dados para isso. Essa abordagem é o oposto da teoria cognitiva conceptual da metáfora, em que a representação mental precede a realização linguística.

Essa abordagem surgiu, em parte, como

contraponto à teoria conceptual da metáfora e, em parte, devido à maior disponibilidade de dados sobre uso da linguagem, principalmente em formato digital, o que permite, com o uso de programas de computadores adequados, a percepção da sistematicidade do uso da metáfora em sua plenitude.

A abordagem da metáfora sistemática é essencialmente empírica.

Ao mesmo tempo que os dados empíricos em abundância impulsionam os estudos da metáfora em uso, eles também impõem desafios metodológicos.

Metáfora Gramatical: Não trataremos dessa abordagem por não ser pertinente para essa pesquisa.

Concluindo, reproduzimos três figuras, das páginas 57/58, de Sardinha (2007), que reúnem as abordagens: tradicional, conceptual e discursiva.

A Figura 1 mostra que a metáfora seria um ornamento, que se sobrepõe ao sentido literal. Também indica que a metáfora seria um fenômeno linguístico apenas (da fala ou da escrita), um recurso retórico, podendo ser empregado para atingir determinados fins em certos tipos de texto. É um fenômeno individual.

Já na visão cognitivo-conceptual, a

metáfora deve ser representada de outro modo, como mostra a Figura 2.

Nessa visão o corpo humano é a base ou fonte de muitas metáforas cognitivas, e portanto aparece representada no corpo do falante também (em letras maiores, para indicar a supremacia do conceito metafórico sobre o uso metafórico).

Por sua vez, a representação da metáfora na visão discursiva ou sistemática é consideravelmente diferente das anteriores, segundo mostra a Figura 3.

Nessa visão, a metáfora é entendida como

Figura 1 - Representação esquemática da visão tradicional da metáfora. Fonte: Sardinha (2007)

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um processo social (daí a presença de mais de um falante), enquanto nas outras concepções ela é um fenômeno individual.

Além disso, a metáfora se faz sentir pela

recorrência do uso linguístico (por isso mais de um balão para cada falante e o fato de o rótulo de metáfora estar cruzando as falas). A visão discursiva não descarta a existência de metáfora na mente nem no corpo, mas dá mais peso ao uso, sendo por isso que o nome grafado em letras maiores perpassa os balões.

Como dissemos no início, diagramas podem ser pouco satisfatórios como meio de representar toda a riqueza de conceitos e sutilezas de uma teoria ou abordagem de metáfora (ou de qualquer outro tema). Porém, eles possuem uma vantagem, que é deixar claro, quando observamos o conjunto completo, que nenhuma das visões de metáfora consegue dar conta individualmente de toda a riqueza de significações que as metáforas possuem. Cada linha de estudo de metáfora salienta certos

Figura 2 - Representação esquemática da visão conceptual da metáfora. Fonte: Sardinha (2007)

Figura 3 - Representação esquemática da visão discursiva ou sistemática da metáfora.

Fonte: Sardinha (2007)

aspectos, ao mesmo tempo em que esconde outros.

Proposta de nicho metafórico: Vereza (2007) relata que a teoria de argumentação não segue os mesmos princípios que uma abordagem baseada na lógica, em que a argumentação é tratada como um produto do processo racional, mas como parte de um processo de comunicação e interação inserida em um dado contexto. Esse processo sempre leva “uma diferença de opinião”, mesmo que, como no caso de muitos gêneros escritos, não haja um interlocutor presente que mostre, explicitamente, essa diferença de opinião. Nesse caso, o argumentador anteciparia essas diferenças, desenvolvendo suas argumentações, tendo-as como parâmetro para desenvolver sua “constelação”.

Essas argumentações antecipadas podem ser vistas como “nicho metafórico”, a “linha forte”, ou seja, tipo de discurso focado na persuasão, consistindo de estratégias verbais que se objetivam na “resolução” das diferenças de opiniões, ou mudança de comportamentos.

O “nicho” é um grupo de expressões metafóricas inter-relacionadas, que podem ser vistas como desdobramentos cognitivos e discursivos de uma proposição metafórica superordenada normalmente presente, ou inferida, no próprio co-texto. É visto como uma articulação entre dimensão cognitiva e a pragmática da metáfora e entre seu lugar tanto no sistema, quanto no seu uso (linguagem e pensamento).

“Isso nos leva a aceitar que” a metáfora, mesmo como figura do pensamento, manifesta-se no âmbito da linguagem em uso, e é a partir do contexto discursivo que ela pode ser melhor compreendida, afirma Vereza (2007, p. 490). Vemos assim que os estudos da metáfora tem se voltado, mais recentemente, para a linguagem, a partir de uma perspectiva discursiva, a qual pressupõe a metáfora conceptual, como importante ferramenta na construção do sentido em determinadas áreas do discurso. A mesma autora considera a importância de ressaltar o aspecto social nos estudos cognitivos, o que confere legitimidade ao conceito de sócio-cognição, que não dicotomiza as noções de mente, sociedade e linguagem.

Um aspecto importante a ser enfatizado, na esteira do exposto, é que no paradigma cognitivista, tanto a metáfora nova quanto a convencional seriam licenciadas por metáforas conceptuais subjacentes.

Nessa perspectiva, juntamente com Turner (2001) e Van Dijk (1990), apud Vereza (2007), adotamos, nesta pesquisa, uma visão que

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rejeita qualquer hierarquização ou até mesmo dicotomização entre a dimensão social e a cognitiva do significado: qualquer atividade discursiva emerge a partir de uma estrutura sócio e discursivamente inserida.

A relação: imagem / signo/ metáfora

a) A relação: imagem / signo.

Em razão de sua função comum: “representação”, é possível afirmar que existe uma relação íntima entre: imagem / signo, pois quaisquer que sejam os tipos de imagem, elas assumem o papel de signos: representam alguma coisa para alguém, em determinado contexto.

Mais especificamente, para esta pesquisa consideramos a imagem como signo icônico, embora a semiótica da imagem faça distinção entre signo icônico e signo plástico. Nesse tipo de signo (icônico) ocorre uma relação necessária entre a imagem e o conceito que ela representa, em consonância com a proposta de Peirce, segundo a qual há sempre uma relação de similaridade entre o(s) traço(s) do objeto e o signo.

b) A relação imagem / metáfora.

Aristóteles (2013, p. 222) já afirmava: “A imagem é também uma metáfora”.

Segundo Sardinha (2007) a metáfora é a transferência de sentido de uma coisa para outra. Nessa transferência, há uma intersecção sêmica entre os dois termos. Para Fiorin (2011, p. 32-33): “A metáfora é uma concentração semântica”. No eixo da extensão, ela despreza uma série de traços e leva em conta apenas alguns traços comuns a dois significados que coexistem. De modo análogo, na imagem, o “leitor” seleciona traços comuns à imagem e ao objeto, selecionando algun(s) para a construção do sentido, segundo a sua visão.

Desse modo, levando em conta, também, a ideia de similaridade e semelhança, comuns, tanto em uma, como na outra, podemos afirmar que existe uma relação íntima entre imagem e metáfora.

Exemplo: homem – monstro. Traços comuns: violento – cruel

Análise do “corpus”

O corpus selecionado para essa pesquisa consta:

- De uma pintura do artista de rua italiano Blu, realizada em Berlim (Figura 4). Esta imagem está publicada na Revista Língua portuguesa – IV. 63 jan. 2011. p. 33.

– De um texto contendo uma metáfora, extraído de uma entrevista da presidente Dilma Rousseff, em Hannover (Alemanha), em 6 de março de 2012: “[...] a presidente Dilma

Rousseff voltou a criticar o tsunami monetário na Europa, ...”.

A análise, tanto a da pintura como a do texto, tem por objetivo, conforme já proposto no texto, mostrar a presença da metáfora na comunicação visual, bem como sua função argumentativa.

Para a consecução dos objetivos propostos, a análise segue as seguintes etapas:

a) Mostrar a presença da metáfora na imagem (pintura), através da relação de similaridade, comum a ambas;

b) mostrar o valor argumentativo da metáfora, na comunicação;

c) analisar a mesma imagem, sob a ótica da metáfora conceptual.

Segue-se a análise da pintura. a) Relação imagem / metáfora.

De modo análogo à metáfora, a imagem seleciona traços comuns aos do objeto, a

que se refere, construindo assim o sentido da comunicação.

Sendo assim, partimos da mensagem que o texto quer transmitir:

“O planeta Terra em destruição, pelo aquecimento global”.

A partir desse pressuposto, emergem, dentre muitas, as seguintes metáforas (traços comuns):

– o bloco de gelo transformando-se em água;

– cidade sendo submergida.

Portanto, a imagem é uma metáfora. b) Valor argumentativo da metáfora. A seleção de alguns traços sêmicos entre os muitos do objeto representado, implica

Figura 4 - Desenho do italiano Blu em Berlim, Alemanha: metáfora do aquecimento

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um juízo de valor, o que caracteriza a função argumentativa da metáfora. Dá maior intensidade ao sentido.

Assim, na pintura analisada, “o bloco de gelo, transformando-se em água” e “a cidade submergindo”, são apenas duas das inúmeras consequências do aquecimento global, para a Terra.

c) Análise da mesma imagem, sob a ótica da metáfora conceptual.

Considerando que a metáfora conceptual é um conceito de um domínio de experiências em termos de outro.

Sendo assim, da pintura apresentada é possível deduzir o seguinte conceito: “O aquecimento global é um agente destruidor do planeta Terra”.

Segundo o exposto nesse trabalho, a metáfora conceptual (subjacente) licencia expressões metafóricas.

Na imagem analisada temos duas expressões metafóricas:

c1 – Os blocos de gelo se transformam em água, com o aquecimento global;

c2 – As cidades são destruídas, com o aquecimento global.

As duas expressões metaforizam a destruição da civilização.

Análise de uma metáfora verbal

“... a presidente Dilma Rousseff voltou a criticar o tsunami monetário na Europa, ...”.

Conforme já expusemos, a metáfora é uma imagem verbal.

Por não se tratar de uma imagem, a análise será feita sob a ótica da metáfora conceptual.

Do texto podemos extrair:

– expressão metafórica: “tsunami monetário”;

– metáfora conceptual subjacente: maior é pior;

– força argumentativa: esse excesso de liquidez no mercado global é tão grave que causou um desastre econômico tão impactante quanto um tsunami.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A análise da linguagem visual, através da pintura, considerando-se a relação imagem / metáfora, nos permitiu mostrar, conforme propusemos como objetivo, que a imagem é metafórica. Por outro lado, concluímos também que a metáfora tem uma função persuasiva muito consistente. A análise da metáfora conceptual ratificou também a proposta desta pesquisa, ao mostrar a importância de se conhecer os recursos argumentativos da

língua.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concentrar significados, a figura de linguagem adquire um valor argumentativo intenso. É o que ocorre com a metáfora: ao desprezar uma série de traços de um dos elementos da comparação e selecionar outros, emite um juízo de valor, o que a torna essencialmente argumentativa. Esta pesquisa abre perspectivas para um trabalho com outros gêneros textuais, sejam eles expressos por imagens ou por textos escritos. O que importa é munir o “leitor” de subsídios para não se deixar manipular.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAUJO, Inês Lacerda. Do signo ao discurso. São Paulo: Parábola, 2004.

ARISTÓTELES. Retórica. São Paulo: Edipro, 2013. ECO, Umberto. O signo. Lisboa: Editorial Presença, 1973. EPSTEIN, Isaac. O signo. São Paulo: Ática, 1985. FIORIN, José Luiz. A força da metáfora. São Paulo: Língua Portuguesa. ano 5, n. 63, jan. 2011.

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SANTAELLA, Lucia; NÖTH, Winfried. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras, 1997.

SARDINHA, Tony Berber. Metáfora. São Paulo: Parábola, 2007.

VEREZA, Solange Coelho. Metáfora e argumentação: uma abordagem cognitivo – discursiva. Linguagem em Discurso – LemD, v. 7, nº 3, p. 487-506, set/dez 2007.

COMO ESTE ARTIGO DEVE SER CITADO: GURPILHARES, Marlene Silva Sardinha. A Metáfora na Comunicação Visual. DI Factum, Lorena, v. 1, n. 1, p. 7-15, 2016.

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