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As novas configurações familiares na contemporaneidade

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Academic year: 2021

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SUL - UNIJUI

DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA

LAURA LUIZA LORENSET

AS NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES NA CONTEMPORANEIDADE

SANTA ROSA 2012

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LAURA LUIZA LORENSET

AS NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES NA CONTEMPORANEIDADE

Trabalho de Conclusão de Curso de graduação apresentado ao curso de Psicologia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial a obtenção do titulo de Psicólogo.

ORIENTADORA: PROFª.Dra. LALA CATARINA LENZI NODARI

SANTA ROSA 2012

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LAURA LUIZA LORENSET

A comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o trabalho de conclusão de curso

AS NOVAS CONFIGURAÇÕES FAMILIARES NA CONTEMPORANEIDADE

como requisito parcial para obtenção do título de Psicólogo da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ.

Trabalho de conclusão de curso definido e aprovado em: _____/_____/_____

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________ PROFa. DRA. LALA CATARINA LENZI NODARI

Psicóloga; Doutora,

Professora do Departamento de Humanidades e Educação

____________________________________________ PROFa. KENIA SPOLTI FREIRE

Psicóloga; Mestre;

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Meu agradecimento em especial aos meus pais, Elemar Lorenset e Adelira Wenning Lorenset, que me deram a vida e a oportunidade do estudo, acreditaram em mim e tornaram seus, os meus sonhos. A vocês dedico essa conquista. Obrigada por estarem sempre ao meu lado, apoiando-me e incentivando-me, obrigada por nunca me deixarem só e por serem o meu porto mais seguro.

Aos meus irmãos, Diogo e Nádia, que cada um da sua maneira, perto ou longe, fizeram parte dessa trajetória, que me ouviram sempre que necessitei. Vocês completam a minha história.

Ao meu companheiro de todas as horas, Fábio J. Müller, que nunca me deixou só e sempre soube compreender as horas em que o dever me impedia de estar ao seu lado. Você faz parte da minha vida. Obrigada!

E finalmente aos meus mestres, peças fundamentais nessa conquista, obrigada por toda sabedoria e conhecimento que dedicaram a nós durante esses cinco anos. Em especial meus supervisores de estágio, Professoras Silvia e Tânia e Professor Gustavo. Também a orientadora desse trabalho, professora Lala Catarina Nodari, que dedicou muito de seu tempo a ouvir-me. Obrigada por toda atenção dedicada.

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O presente trabalho de pesquisa diz respeito às novas configurações familiares. Este tem por objetivo descrever alguns dos novos arranjos familiares que estão compondo a sociedade contemporânea. Para tanto, apresentamos questões importantes quanto ao desenvolvimento psíquico do sujeito e a constituição dos vínculos, elementos essenciais que se colocam no enlace familiar. Elaboramos também um breve resgate histórico sobre a família. As discussões acerca da família se dão a partir da família nuclear burguesa, que teve sua ascensão a partir do século XIX. Temos esse modelo como referência, pois a mesma guiou as constituições familiares por muito tempo. A questão que se apresenta e que tentamos elucidar ao longo da pesquisa diz respeito a dois pontos fundamentais: de que forma a sociedade está lidando com as novas configurações, e ainda, qual é o lugar da família na contemporaneidade. Nesse sentido, pesquisamos, refletimos e descrevemos alguns elementos que ao longo do tempo foram mudando na sociedade, os quais lançaram novas formas de pensar e agir em todo o enlace familiar, fatores que contribuíram com veemência para chegarmos à sociedade contemporânea.

Palavras-chave: constituição psíquica, família, vínculos, novas configurações familiares, sociedade contemporânea.

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SUMÁRIO ... 5

INTRODUÇÃO ... 6

1 CONSTITUIÇÃO DO PSIQUISMO NO DESENVOLVIMENTO HUMANO ... 8

1.1 A CONSTITUIÇÃO DOS VÍNCULOS ... 13

2 A FAMÍLIA ... 18

2.1 BREVE HISTÓRICO ... 18

2.2 CONFIGURAÇÕES FAMILIARES... 22

3 ANÁLISES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 32

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INTRODUÇÃO

Sabemos que o homem para entrar na sociedade, como sujeito de direitos e deveres, necessita de uma estrutura que o prepare para o convívio social; esta estrutura é definida como família.

Quando pensamos em família, é inevitável pensarmos em um pequeno grupo social composto por um casal e seus filhos. Essa forma é predominante no imaginário e encontra-se presente nos mais diversos lugares do mundo.

Se observarmos a sociedade em que estamos inseridos, não será difícil

perceber as novas configurações familiares que estão postas na

contemporaneidade. A organização familiar transformou-se no decorrer da história do homem; a família está inserida na base da sociedade sendo que as condições históricas e as mudanças sociais determinam a forma como essa se organizará para cumprir a sua função social. Entretanto, em virtude de muitas mudanças que ocorreram nos últimos anos em nossa sociedade, a estrutura familiar começa a constituir-se de maneira diferente.

A sociedade contemporânea caracteriza-se por grandes mudanças nos campos da economia, da política e da cultura, afetando dessa forma, todos os aspectos da existência pessoal e social. Essas mudanças repercutem fortemente na vida familiar, desde o modelo de formação até o provedor do sustento.

Nesse sentido, com o surgimento de novas formas de família, ou seja, novas famílias compostas de forma que a sociedade não estava habituada a observar, colocam-se alguns interrogantes. De que forma a sociedade está lidando com as novas configurações familiares? Considerando as inúmeras mudanças sociais que

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ocorreram nos últimos tempos, de que forma podemos pensar ou repensar o lugar e a importância da família na contemporaneidade?

Dessa forma, apresento o objetivo desse trabalho de pesquisa que vai à procura da compreensão das novas configurações familiares, abrindo espaço para a constituição dos vínculos, pois estes são os primeiros laços de afeto criados pelo sujeito e determinaram as suas relações por toda a vida. Também faremos um apanhado histórico sobre o início da vida privada, o qual nos possibilita compreender os primeiros movimentos realizados que culminaram na sociedade contemporânea; e por último, alguns modelos das novas configurações familiares. Considerando que ao mesmo passo em que as famílias estão se transformando, o social também precisa movimentar-se no sentido de criar recursos para lidar com os novos arranjos familiares.

Assim sendo, o trabalho de pesquisa descrito abaixo é de fundo teórico. Os conceitos são destacados em negrito e sublinhados. Aqueles que são fundamentais ao desenvolvimento estão explicitados e aprofundados ao longo do trabalho. Outros, necessários para a organização da estrutura conceitual, terão suas explicações em notas de rodapé.

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1 CONSTITUIÇÃO DO PSIQUISMO NO DESENVOLVIMENTO HUMANO

O bebê humano é entre os seres vivos o que vem ao mundo mais despreparado, mais pré-maturo. Ele não existe somente a partir de sua concepção ou de seu nascimento, passa a existir muito antes, como significante na linguagem, ou seja, é a partir do desejo dos pais em ter esse filho e o discurso que estes proferem em relação a isso, que começa a consolidar a preexistência de um bebê e desta forma a criança já passa a ser incluída numa cadeia de significantes.

Ao nascer, o bebê encontra-se desprovido de manejos para garantir a sua própria sobrevivência, pois diferentemente dos animais, a espécie humana não vem dotada de instintos de sobrevivência. Estes instintos referem-se a algumas necessidades que dizem respeito a: alimentação, necessidades físicas e biológicas

e também de calor e conforto. É necessário que aprenda como fazer, e isso se

constrói somente a partir da relação com o outro1. Diante desse “desamparo dos

seres humanos” como nomeou Freud (1950) a reação da criança é motora, ou seja, ela chora, esperneia e grita; sendo que essas manifestações vêm em busca do alívio do que está sentindo.

Inicialmente o bebê humano necessita inevitavelmente da presença do Outro para poder sobreviver, pois essa condição de desamparo coloca a criança numa posição total de dependência, e ela necessita que o outro, além de dar conta das suas necessidades físicas, possa também dar conta de suas necessidades de constituição psíquica.

Na constituição do psiquismo o Outro2 responsável pelas primeiras marcas

fundantes da constituição psíquica do bebê e também por inserir o bebê numa rede simbólica é o Outro primordial. Este é um lugar discursivo, no qual a criança encontra referência, ou seja, é aquele que exerce a função materna, encarregado de

1 Segundo Chemama (1993, p. 156), a respeito do outro: “Lugar onde a psicanálise situa, além do parceiro imaginário, aquilo que, interior e exterior ao sujeito, não obstante o determina.” Ou seja, este diz respeito ao semelhante, ao igual, aquele que se relaciona com o bebê, porém não exerce função sobre ele.

2 Lacan (1964) diz que o conceito de “Outro” não se refere a uma pessoa física e sim a uma instância que dá conta de uma dimensão simbólica. Tomando como referência a história do sujeito, o Outro pode ser compreendido como linguagem, equivale à cultura, ao conjunto de marcas que preexistem e constituem a história de um sujeito. O “outro” diz respeito à relação com o semelhante, designa o sujeito, o ‘eu’ em sua singularidade.

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atender a esse organismo em suas necessidades, passando assim, a dar significado às suas manifestações.

O pequeno infans, isto é, a cria humana ainda não dotada de uma posição discursiva de fala, não possui a estrutura psíquica constituída, e esta vai fundar-se somente a partir da relação com o outro. Seu corpo (corpo aqui na ordem do Real) se tornará o receptor do discurso parental, sendo esse o veículo de transmissão de laços identificatórios, o que é fundamental para a sua constituição psíquica.

Nos primeiros momentos, os movimentos do bebê são resultados de reflexos espontâneos e biológicos, mas estes aos poucos vão se colocando de forma

diferente no imaginário3 da mãe, que passa a querer significá-los. O choro da

criança que ao nascer é natural (físico), com o passar dos dias torna-se expressão de dor e desconforto e depois transforma-se em um elemento de comunicação entre a mãe e o seu bebê. Da mesma forma, podemos colocar as reações corporais que são ligadas ao tônus muscular. Inicialmente estas são relacionadas a um momento de descontração, de relaxamento, porém, com o tempo a função materna será a responsável por imprimir significações afetivas a essas reações.

Este é um momento em que o bebê precisa ser falado, tocado e olhado pelo Outro. Necessita de um Outro que signifique seu choro, seu grito e seu corpo. Não prescinde de um Outro primordial que projete nesse corpo a sua própria demanda. A mãe, a partir disso, permite que o bebê inicie a sua constituição humana um sujeito dotado de psiquismo em desenvolvimento.

De acordo com Lacan (1999), a mãe desde o início comunica-se com o seu bebê, a relação destes se dá a partir de desejo e demanda, estes fazem parte de um universo composto de palavras e sons que vão sendo ouvidos pela criança e pouco a pouco, esta vai os internalizando até que se torne capaz de produzir as suas primeiras manifestações sonoras. O olhar da mãe também se coloca como

3

Imaginário, a partir de Lacan, Chemama refere que, o imaginário só pode ser pensado em suas relações com o real e o simbólico. Este deve ser entendido como a imagem, sendo esse o registro do engodo, da identificação, (CHEMAMA 1993, p.104). O imaginário, portanto remete-se a imagem, ao que é fantasioso. Essa é a dimensão da comunicação, do entendimento do que é possível nomear. Real, de acordo com Chemama (1993, p.182) é “definido como o impossível, real é aquilo que não pode ser simbolizado totalmente na palavra ou na escrita e, por conseqüência, não cessa de não se escrever” Simbólico, diz respeito a uma “Função complexa e latente que envolve toda a atividade humana, comportando uma parte consciente e outra inconsciente, ligadas à função da linguagem e, mais especialmente, à do significante.” (CHEMAMA, 1993, p.199).

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primordial, pois é o seu olhar juntamente com a sua voz que nomeiam o filho, concedendo a ele um lugar na família, consequentemente na sociedade e finalmente no campo simbólico.

O corpo físico e psíquico do bebê, diante das suas mais diversas manifestações, torna-se receptáculo do discurso materno. As manifestações apresentadas por ele são interpretadas pela mãe, de acordo com desejo e saber, que supõe ter sobre seu filho. Por conseguinte, a mãe presume uma posição subjetiva antecipada sobre o seu bebê. Aqui, pode-se compreender a importância do discurso materno como estruturante da imagem, pois é através desse que o pequeno infans, (pré-sujeito) identifica-se e cria recursos para construir uma compreensão sobre a sua imagem através da identificação especular.

A função materna não precisa necessariamente ser exercida pela mãe real.

Segundo Ramalho (1988, p. 67), “A Função Materna, como o próprio nome diz,

trata-se de uma função, que não necessariamente é exercida pela mãe real. Trata-se de “marcar para a vida” este pequenino corpo que é gerado para vir a Trata-se constituir num sujeito.”

Esta função diz respeito ao ato de suprir as necessidades vitais do bebê e consequentemente fornecer a ele um contato satisfatório com o mundo. É a partir da função materna que a criança encontra referências para a sua constituição psíquica. Essa relação entre mãe e bebê constrói-se a cada olhar, a cada sorriso, a cada passo, enfim, nas ações de trocas frequentes que ocorrem na relação. Para o bebê é importante estar sob os cuidados e proteção de uma mãe suficientemente boa, ou seja, uma mãe capaz de aceitar que não sabe tudo sobre o seu filho, capaz de reconhecer sua ambivalência, e ao mesmo tempo, ser completamente terna, ter prazer nos cuidados que direciona ao filho e consequentemente às outras atividades. Por conseguinte, tornar-se capaz de abrir um espaço na relação para a entrada de outra figura, aquela que também irá exercer uma função importante na constituição psíquica da criança.

Portanto, é através da relação com os pais, do investimento que estes fazem no filho e a maneira como o sustentam, que o bebê encontrará um lugar, assegurando assim, a possibilidade de existência como sujeito.

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Jacques Lacan, psicanalista francês, desenvolveu à guisa de compreensão teórica sobre a constituição psíquica, a teoria do estádio do espelho.

Esse processo ocorre aproximadamente dos seis aos dezoito meses de idade. É um momento em que se torna possível ao corpo do bebê, que era até então, despedaçado; integrar-se. Isso ocorre pela identificação com a imagem do Outro, a qual é sua imagem antecipada. Esse momento coloca-se como uma experiência de identificação fundamental, pois é nesse período que a criança conquista a imagem do próprio corpo e isso lhe possibilitará promover a estruturação do “Eu”.

A criança quando colocada na frente do espelho, vivencia uma reação lúdica, e desta forma poderá vir a conseguir estabelecer uma relação com a própria imagem.

A experiência da criança nesse momento de sua vida organiza-se em três tempos; os quais marcam a conquista progressiva da imagem de seu corpo. Inicialmente, ela é percebida como sendo de outro real, do qual a criança procura se

aproximar. Coloca-se então, uma confusão entre o “eu” e o “outro”, na medida em

que, é a partir do outro4 que ela faz suas vivências5 e se orienta inicialmente. Nesse

período, a criança ao ser colocada em frente do espelho, faz movimentos no sentido de pegar o que vê, percebendo a imagem como se fosse real.

Em seguida, no segundo momento do estádio do espelho, a criança já possui condições para perceber que o “outro do espelho” é uma imagem e não “outro real”. E então, ela terá atribuições suficientes para saber distinguir a imagem do outro, da realidade do outro do espelho.

E por último, a criança passa a reconhecer que a imagem que se apresenta no espelho é a sua própria imagem. Isso é tão importante quanto reconhecer-se diante do espelho e ter a convicção de que tudo é apenas uma imagem. A imagem dela própria.

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O Outro especular é quem se ocupa dos cuidados da criança e assume o papel de espelho, pois é na alienação do bebê à imagem do Outro que este lhe apresenta uma imagem antecipada de seu corpo e o corpo inteiro se dá pelo toque, pelo manuseio, pela forma como o adulto vai inscrevendo uma imagem pela via significante, pela via discursiva. O adulto inscreve pelos significantes uma imagem que a criança vai assumindo pela via da identificação. Essa imagem especular antecipa à integridade, a totalidade, a imagem adequada no contraponto da fantasmática do corpo desintegrado. O outro especular faz o contorno da imagem que se dá pela via discursiva.

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É observável que as crianças ao baterem em outrem, dizem ser batidas e ao verem outras chorarem, choram também.

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Esse momento é de um enorme significado para o sujeito. A criança passa a ter uma condição global de representação do próprio corpo, substituindo a noção de corpo esfacelado e desintegrado.

Essa imagem do corpo é estruturante para a identidade do sujeito. Através dela, ele poderá realizar a sua identificação primordial, sendo que todo esse processo constitui-se a partir da via imaginária do sujeito.

O sujeito, em sua constituição psíquica, necessita ainda, (segundo aquilo que

nos mostra a Psicanálise) de uma forma de ‘organização’ relativa à resolução de

“conflitos” que distinguem o processo identificatório; já em processo desde o nascimento e cuja ‘figura’ primordial vem sendo a mãe. Desse modo, o Complexo de Édipo, que se define em três tempos, nos ensina que, inicialmente, a criança vê-se colocada como desejo da mãe, como o único objeto que pode satisfazê-la. Ele, de fato, busca satisfazer esse desejo. A mãe está aqui para o filho como absoluta e plena, a única que sabe sobre este. Nesse período, a função paterna ainda não está colocada na relação mãe e filho, ela circula com significante no discurso materno, mas sua função (como terceiro), como interditor, ainda não está posta.

Ressaltando essa ideia, Lacan (1957-1958) nos diz que:

A primeira relação de realidade desenha-se entre a mãe e o filho, e é aí que a criança experimenta as primeiras realidades de seu contato com o meio vivo. É para desenhar objetivamente essa situação que fazemos o pai entrar no triângulo, embora, para a criança, ela ainda não tenha entrado. (LACAN, 1957-1958, p. 186).

O segundo tempo do Édipo caracteriza-se pelo interdito, pela inscrição da lei paterna. A função paterna serve para fazer com que a mãe perceba que ela não é suficiente para realizar o desejo todo do bebê e então seja capaz de abrir espaço para a entrada do pai na relação. É o período em que o pai se coloca como instância mediadora da relação mãe-filho. Ao assim proceder, priva a mãe de seu objeto de desejo. Ele a castra. Desse modo, possibilita à criança defrontar-se com a falta e esta pode questionar-se: - Sou ou não-sou o falo de mamãe? E assim, o pai passa a ocupar um lugar de significante, conceitualizado: o Nome do Pai.

Estabelece-se a mediação paterna, que irá desempenhar um papel preponderante na configuração da relação “mãe-criança-falo” como forma de privação. Isso nos mostra que o pai, considerado aquele que priva a mãe desse

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objeto, (o objeto fálico de seu desejo), desempenha um papel essencial em todo o transcurso do complexo de Édipo.

A partir desse período inicia-se um deslocamento, no qual a criança acredita que o falo da mãe é o pai, e não mais ela (a criança).

No último tempo do Édipo, a questão da criança passa ligeiramente de “ser ou não ser o falo”, para “ter ou não ter o falo”. Nesse período ocorre a fixação da função simbólica paterna em que o pai é investido como Ideal do eu. Desse modo, vemos que:

No terceiro tempo, portanto, o pai intervém como real e potente. Esse tempo se sucede à privação ou à castração que incide sobre a mãe, a mãe imaginada, no nível do sujeito, em sua própria posição imaginária, a dela, de dependência. É por intervir como aquele que tem o falo que o pai é internalizado no sujeito como Ideal do eu, e que, a partir daí, não nos esqueçamos, o complexo de Édipo declina. (LACAN,1957-1958, p. 201).

Segundo o autor, é a função paterna que permite à criança colocar-se numa posição ativa, ou seja, ter condições de passar de uma posição de “assujeito” para a de um sujeito desejante. O pai deve suportar a sua função, ou seja, deve presentificar-se perante o filho e assim garantir a saída da totalidade materna diante deste.

Desta forma, além dele poder inserir o filho na cultura, reestabelece para a mãe a sua posição de mulher, pois o filho não é capaz de completar essa falta da mãe. É somente a partir da ruptura com a mãe que o filho percebe-se como um ser não completo, um ser faltante. Unicamente a partir do encontro com a falta, é que o sujeito passa a desejar. Portanto, é necessário que a criança saia da posição de simbiose com a mãe, o que acontece e se desvela pelo interdito paterno, pois só desse modo a criança será capaz de desejar e bancar seus próprios desejos, constituindo-se então; como sujeito.

1.1 A CONSTITUIÇÃO DOS VÍNCULOS

Quando estamos tratando de sujeitos, falar de vínculos torna-se fundamental. Na verdade, essencial, porque este trabalho tem como objetivo central discutir e compreender a questão vincular: sua origem, importância para a constituição do

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sujeito e particularmente, na reflexão acerca da formação dos vínculos na família. A literatura sobre o tema, mostra-nos o quanto a relação de uma mãe com seu filho durante a infância é importante. Sabemos por esses estudos, que essa relação deve ser preferencialmente estável, pois as experiências vividas pela criança, nesse período, poderão marcar de modos diversos, o seu desenvolvimento.

É condição vital para a sobrevivência do bebê, a existência de alguém que possa cuidar e responder a ele. Essa pessoa geralmente é a mãe. O bebê responde a essa atenção recebida por seu cuidador com grande interesse. A partir dessa troca criam-se os vínculos.

Aproximadamente, do sexto ao oitavo mês, o bebê consegue perceber o quanto é dependente deste outro que o sustenta. Sente o quanto a sua presença o tranquiliza, da mesma forma que a sua ausência deixa-o extremamente angustiado. Ocorre algo como que uma passagem de relação utilitária para afetiva, o que constitui o primeiro vínculo afetivo do bebê.

Resumindo ideias de John Bowlby; Lima colabora, com o que segue:

Já nos primeiros dias de vida do bebê, é possível observar a capacidade de discriminação que este desenvolve para orientar-se em direção a mãe através de diferir seu cheiro e sua voz dos demais. Além disso, afirma que por volta da quinta semana de vida do bebê, este é capaz de eliciar sorrisos mais afetivos ao ouvir a vós da mãe, do que quando ouve a vós do pai ou de outras figuras estranhas. (LIMA, 2010, p. 26).

A figura de apego pode ser entendida como aquela que transmite segurança e conforto para a criança. É aquela que a criança pode usar como apoio e que propiciará segurança nas relações e explorações do resto do mundo.

Segundo Bowlby:

Quanto mais experiência de interação social um bebê tiver com uma pessoa, maiores são as probabilidades de que ele se ligue a essa pessoa. Por essa razão, torna-se a principal figura de apego de um bebê aquela pessoa que lhe dispensar a maior parte dos cuidados maternos. (BOWLBY, 1997, p. 172)

A mãe geralmente é a principal figura de apego do bebê, pois além de suprir as necessidades vitais e servir como suporte para esse bebê relacionar-se com o mundo, também emana amor e carinho em todas as suas ações em relação a esse.

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É a ela que o bebê recorre quando necessita, fazendo isso através do choro, do sorrir, do balbuciar, da sucção não nutritiva, do agarrar-se, do chamar e da locomoção. Esses comportamentos colocam-se sempre como mediadores entre o bebê e sua figura de apego. Com a idade, a frequência e a intensidade dessas manifestações para chamar a atenção, (em especial da figura de apego), tendem a diminuir, dando espaço à linguagem.

Sendo assim, a principal fonte de vínculo, de ligação entre a mãe e o bebê é o conforto do contato. A criação dos vínculos é algo que se dá muito além da supressão das necessidades orgânicas. Tão importante quanto amamentar, é cuidar e transmitir carinho, conforto e segurança à criança.

É durante a amamentação ou alimentação, o momento mais propício para se

estabelecer vínculos; no entanto, “o alimento não pode ser considerado como

reforçador do comportamento de apego para a pessoa que alimenta e supre as necessidades corporais do bebê”, LIMA (apud, BOWLBY 2002, p. 29). A alimentação não se mantém apenas como uma necessidade biológica, mas como um momento privilegiado de manter contato com o filho, sendo este, construído durante a infância e terá influência fundamental na vida adulta do sujeito. É nesse período que no processo de constituição psíquica, muitas questões de desenvolvimento, se produzem.

Nesse sentido, Bowlby (1997, p. 171) contribui dizendo que: “Os padrões de

comportamento de ligação manifestados por um indivíduo dependem, em parte, de sua idade atual, sexo e circunstâncias, e, em parte, das experiências que teve com figuras de ligação nos primeiros anos de sua vida”.

É possível compreender ainda que o comportamento de apego da criança pode ser dirigido a mais de uma figura logo após o seu nascimento. Estas, pelo modo como se estabelecem as trocas, podem vir a ser tratadas pelo bebê de maneira especial. O papel da figura de apego da criança, geralmente representado pela mãe, pode ser ocupado por outra pessoa. Observamos, portanto, que se uma segunda figura, agir de forma maternal para com o bebê, é bem possível que este a trate da mesma maneira que trataria sua mãe biológica.

Sendo assim, as primeiras relações e vínculos criados pela criança são de extrema importância para o seu desenvolvimento. É a mãe, ou a primeira figura de

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apego da criança, que irá lhe apresentar as outras pessoas significativas; como o pai, os irmãos, avós. Enfim, todo o enlace familiar e social que serão norteadores e determinantes para o seu desenvolvimento.

Quando a criança atinge certo grau de maturidade e torna-se capaz de suportar a ausência da mãe; essa deixa de apresentar o comportamento de apego e dedica-se a explorar o mundo exterior, o seu meio ambiente. A mãe então torna-se a base de segurança da criança, e esta sabe que pode procurá-la quando cansar ou sentir medo.

Podemos perceber esse mesmo comportamento no decorrer da vida do sujeito, a partir dos escritos e observações de Bowlby, que nos diz:

No restante de sua vida, a pessoa é suscetível de manifestar o mesmo padrão de comportamento, afastando-se cada vez mais e por períodos cada vez maiores daqueles a quem a ama, ainda que mantendo sempre o contato e regressando, mais cedo ou mais tarde. A base a partir de onde um adulto opera será a sua família de origem, ou então uma nova base que ele criou para si mesmo. Qualquer indivíduo que não possua tal base é um ser sem raízes e intensamente solitário. (BOWLBY, 1997, p. 175).

Portanto, é a partir dos vínculos afetivos e relações positivas criadas no âmbito familiar; assim como, a segurança e confiança da mãe passadas ao bebê, que permitirão para que este seja capaz de inserir-se, no decorrer da vida, nos mais diversos grupos. Desse modo, estará podendo estabelecer relação de confiança com os demais sujeitos de seu meio social e cultura e criar então, a sua própria maneira de se relacionar. Durante toda a vida, o sujeito irá remeter-se inconscientemente às relações vividas na infância, são estas, as relações primárias que determinam as relações futuras. A sensação de ter sido bem acolhido na família, primordialmente, será determinante para estar e sentir-se seguro diante de novas e complexas situações.

No capítulo que segue, nesse trabalho, serão desenvolvidas as questões históricas da família. Esse resgate histórico faz-se necessário para termos subsídios para a compreensão da evolução e mudanças que ocorreram na sociedade nos últimos anos, e que culminaram nessa sociedade moderna e imediata composta pelos mais diversos arranjos familiares.

Compreendemos que as famílias constituem-se de forma singular, isso dá-se a partir das relações estabelecidas entre cada membro que compõem o grupo

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familiar e principalmente pelos “tipos” de vínculos que são (ou foram) possíveis de ser constituídos, durante os anos essenciais de desenvolvimento de cada sujeito e a forma como esses conseguem estabelecer laços transferênciais e criar vínculos de apego com cada novo “integrante” da família. Esses foram os objetos de estudo apresentados nesse primeiro capítulo.

Portanto, a história da família inicia-se com o investimento dos pais no filho e a forma de vínculo que conseguem estabelecer com esse. A partir dessas relações a criança passará a criar recursos para ser como tal, integrante dessa família e consequentemente, compor a sociedade a qual ela terá que inserir-se.

Nesse sentido, no capítulo que segue, traremos um apanhado histórico sobre as transformações sociais e particulares da família, até chegarmos aos dias atuais; contemplando ainda, a forma como a sociedade está lidando com as novas configurações, ou seja, de que modo estão criando-se os vínculos na contemporaneidade.

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2 A FAMÍLIA

Este capítulo é uma construção da concepção de família ao longo dos tempos. Ele será construído com base em textos e livros de história; com destaque para os textos da História da vida privada e da História social da criança e da

família.6

Iniciamos trazendo elementos importantes sobre a configuração da família burguesa e a instituição da vida privada. Temos como base esse modelo de família; por ser constituído por pai, mãe e filhos; modelo este, que se mantém em nossa sociedade até hoje. De outro lado, abordaremos questões sobre as novas configurações familiares, para posteriormente podermos analisar de que modo a sociedade atual, aparentemente forjada nos vínculos burgueses, está lidando com essas novas formas de família que compõem a sociedade contemporânea.

2.1 BREVE HISTÓRICO

Quando pensamos em família, é inevitável pensarmos em um pequeno grupo social tradicional, no caso, a família nuclear burguesa; a qual predominou por muitos anos em nossa sociedade. Para entendermos um pouco mais sobre essa configuração, vamos à busca da origem, do surgimento e das suas características. Esse processo se dará por um apanhado inicial, sobre a constituição dos espaços privados, após a primeira guerra mundial.

No início do século XX, até o começo dos anos de 1950, havia uma diferença notória entre os lares burgueses e os populares. Os primeiros eram amplos e dispunham de todos os espaços e estruturas necessárias para manter a privacidade de seus moradores, em contraste, os lares populares possuíam apenas um, ou no máximo dois cômodos, onde os camponeses e operários aglomeravam-se. No campo, por vezes a casa era de apenas um cômodo, onde a família cozinhava e dormia.

6

Nosso estudo histórico sobre a família, está baseado nos textos da Coleção História da Vida Privada (vide referencias bibliográficas ao final) Nota da autora.

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Nessas condições, além dos burgueses, era impossível ter uma vida privada. Pais e filhos viviam todos os atos da vida cotidiana às claras, nada era recoberto. Da mesma forma era difícil possuir objetos pessoais. Aqueles que possuíam era porque os recebiam como presente: como uma faca, um cachimbo, um relógio ou uma joia. Esses objetos possuíam um enorme valor simbólico para o sujeito. Eram eles, os únicos que a pessoa podia reivindicar como propriedade sua.

Os burgueses, nessa época, já dispunham de uma vida e um espaço privado muito mais amplo. Nesse período, os segredos pessoais ou segredos de família, que por vezes eram silenciados até mesmo para os filhos; necessitavam de uma pessoa externa à família, para serem confidenciados. A vida privada resumia-se a isso; em segredos confidenciados a outros sujeitos.

No caso dos camponeses, esses segredos geralmente eram confiados às enfermeiras, assistentes sociais e ao padre. Os burgueses por sua vez, possuíam um número maior de confidentes, além do padre. Estes possivelmente confiavam seus segredos aos tabeliães, aos criados ou ao médico da família.

Em meados do século XX, surge a habitação moderna. Composta por vários aposentos, geralmente independentes. Também passou ser mais fácil o acesso à água encanada. Por esta razão, cada membro da família pode se apropriar de um espaço pessoal. Nos últimos anos, houve mudanças na sociedade, como a redução da jornada de trabalho e o direito a férias remuneradas, proporcionaram o tempo para os sujeitos poderem desfrutar desse espaço conquistado. A vida familiar passou a se concentrar nas refeições, nos domingos e em locais definidos como a cozinha ou outro ambiente familiar.

A ampliação da vida privada nesse período não se limitou ao âmbito familiar e doméstico, mas também à forma de como sair dele. O automóvel tornou-se algo acessível a muitos, e então, o tempo livre adquirido como direito de trabalho, assim como a maior facilidade de locomoção proporcionou aos sujeitos a ampliação das suas relações. Se generaliza para toda a população o acesso a lugares e momentos de vida privada, que antes só eram reservados à burguesia. A vida privada sai do âmbito doméstico e invade os locais públicos.

Nesse período a família ainda exercia um rigoroso controle sobre os seus membros. Inicialmente tudo passava pela autorização do pai, o chefe, pois era

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quem exercia o pátrio poder. Na França7, com as leis de 1965, sobre os regimes

matrimoniais e o pátrio poder; a inferioridade jurídica da mulher desaparece e esta passa a ter os mesmos direitos de decisões legais que o homem. Porém, o poder dos pais sobre os filhos é inquestionável, estes não tinham direito a vida privada, o tempo livre deles pertencia aos pais que lhe encarregavam das mais diversas tarefas e as suas relações eram minuciosamente vigiadas.

Os pais, portanto, possuíam o poder de decidir sobre o futuro de seus filhos. Inicialmente decidiam sobre seu futuro profissional. Os burgueses decidiam sobre os estudos que seriam realizados por seus filhos. Entre o povo, eram os pais que escolhiam o ofício a ser ensinado aos seus filhos, colocando-os como aprendizes. Posteriormente passava pela decisão dos pais o casamento, pois este era um assunto de família, em especial se havia algum patrimônio em questão; tradição seguida com veemência pela burguesia.

Na segunda metade do século XX, com o surgimento da instituição escolar, uma das principais características da revolução social; a vida das pessoas passa a configurar-se de uma maneira diferente. Os filhos já não podem aprender o ofício dos pais, pois estes já não trabalham mais em casa, portanto, necessitam aprender uma profissão fora. Os ensinamentos sobre a sociedade, que antes eram aprendidos em casa, agora passam a ser função da escola. Podemos então, observar que:

Essa rápida evolução --- ela se dá no prazo de uma geração --- traduz o fechamento da família sobre a vida privada. Se a família é substituída pela escola, e com seu próprio consentimento, é porque ela tem consciência de sua incapacidade estatutária: como toda educação é educação para a vida pública, a família ao se tornar puramente privada, deixa de ser plenamente educativa. (PROST, 2009, p. 71).

A partir do momento em que os filhos têm suas próprias relações, passa-se a formar grupos de amigos ou colegas. Essas relações que se criam a partir das convivências escolares e que ampliam para outras situações sociais, caracterizam-se como momentos da vida privada de cada um. Essas novas formas de relacionamento, inevitavelmente passam a concorrer com a família. Essa

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A constituição Brasileira de 1988 colocou-se como um marco jurídico frente a uma nova concepção de igualdade entre homens e mulheres. A partir de então, desaparece a figura da chefia da sociedade conjugal e também as preferencias e privilégios que sustentavam juridicamente a dominação masculina. (LOPES, 2005, p. 407).

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socialização dos filhos fez com que estes abandonassem a esfera doméstica; e a família deixa de ser uma instituição para se tornar um simples ponto de encontro de vidas privadas.

Essas constantes mudanças da realidade familiar contribuíram para novas formas de relacionamento, o que parece estar permitindo uma evolução das ideias acerca do casamento.

Segundo Prost (1999, p. 74), ainda na primeira metade do século XX, casar era formar um lar, lançar as bases de uma realidade social nitidamente definida e claramente visível dentro da coletividade. Nesse período, as pessoas casavam-se para poderem dar sustento e auxílio mútuo ao longo da vida, que poderia ser penosa. Casava-se também com o intuito de terem filhos, aumentar o patrimônio e deixar-lhes a herança, pois acreditavam que dessa forma os seus filhos iriam realizar-se e consequentemente, seus pais também. Nessa sociedade os valores familiares eram centrais, era o êxito que cada indivíduo tinha em sua família, assim como o papel que desempenhava, onde o os demais membros da sociedade avaliavam e julgavam.

A sociedade não tinha como norma o amor para que se realizasse o casamento e nem era isso que poderia definir o seu sucesso. De acordo com Prost:

Para se casar um homem e uma mulher deviam sentir certa atração, ter a sensação que poderiam se entender, se apreciar, se estimar, em suma, que poderiam combinar. Isso de forma nenhuma excluía que já se amassem, nem garantia que viessem a se amar mais tarde: a valorização dos aspectos institucionais do casamento mascarava as realidades afetivas. (PROST, 1999, p. 75).

As opiniões começam a mudar a partir de 1930. Nesse período, com a revolução dos jovens e com o casamento entre os estudantes; a união, lentamente deixa de ser algo predestinado pelos pais com interesses financeiros, ou então, como uma garantia de segurança para ambos, com o intuito de terem filhos para consequentemente destinar sua herança e sentirem-se realizados. Passa-se a entender o casamento como um momento de amadurecer as relações, que se consuma com o desejo de ter filhos, e estes para serem bem criados, não necessitam apenas do amor dos pais, mas também do amor entre eles. Então, o amor passa a ocupar um lugar central no casamento.

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A partir disso, a sociedade passa a ter uma posição mais aberta frente às relações sexuais antes do casamento, desde que os noivos se amassem e quisessem viver juntos. Porém, continuava-se a reprovar intensamente as mães solteiras. No entanto, com o surgimento do feminismo, os costumes mudam novamente, pois a contracepção feminina ganha espaço, permitindo que a sexualidade se dissocie da procriação.

Para Prost (1999, p. 78) “o casamento então deixa gradativamente de ser uma instituição para se converter numa formalidade”. Os filhos, a partir da evolução educacional, conseguiram conquistar sua independência na família; já não precisam

mais se casar para poderem “escapar” dos pais para exercer sua sexualidade, pois

as relações sexuais passaram a ser aceitas sem o casamento.

Surge então a chamada “coabitação juvenil”; os jovens passam a morar juntos sem o casamento, o que entre 1968 e 1969 já era algo bem comum. Os pais com receio de romper com seus filhos acabavam aceitando a situação e por vezes até contribuindo financeiramente com o sustento do jovem casal. E aos poucos a sociedade passa a aceitar essa nova forma de viver instituída pelos jovens.

A partir de então a sociedade passa a configurar-se de uma nova maneira. Os jovens que moram juntos já não desejam se casar, e a vida a dois diz respeito somente a eles. O casamento por sua vez, torna-se constantemente mais frágil e raro, o número de divórcios aumenta com rapidez. Porém, em contrapartida os números de coabitações se mantêm fortemente.

Diante de todas essas transformações Prost (1999, p. 80) nos diz que “Além do casamento a própria família é abalada, o lar formado por um casal e filhos já não é norma exclusiva: as famílias com apenas um dos genitores são cada vez mais frequentes”.

2.2 CONFIGURAÇÕES FAMILIARES

Vimos anteriormente que as mudanças sofridas na sociedade desde o século XX contribuíram de forma significativa para chegarmos à sociedade contemporânea, na qual estamos inseridos atualmente.

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Inicialmente, temos referência à família nuclear burguesa, composta por pai,

mãe e filhos. Ela começa a delinear-se, no surgimento da escola, pela busca de privacidade, com a preocupação de igualdade entre os filhos e a manutenção das crianças junto aos pais. Há ainda o sentimento de família, valorizado pelas instituições, das quais se pode citar como principal: a Igreja.

Atualmente, este modelo de família parece estar sofrendo uma grande crise de identidade. Muitos fatores tem sido responsáveis por esta realidade. Dentre eles: a Revolução Industrial, o Movimento Feminista, o Movimento da Juventude, a entrada da mulher no mercado de trabalho, o aumento do número de divórcios, assim como o surgimento da pílula anticoncepcional; a qual separou a sexualidade da reprodução, interferindo diretamente na sexualidade feminina. Ainda, a prática das inseminações artificiais, como também, de vários outros métodos e possibilidades que surgiram no decorrer dos anos, contribuíram para essa chamada crise da família nuclear. Portanto, todos estes fatores em simultâneo, vêm abalando este grupo social (família). Esta por sua vez, encontra-se numa fase de transição, pois deixa de corresponder às ideias estabelecidas no passado; um grupo social imutável e com uma estrutura fortemente enraizada. Precisando adequar-se à sociedade contemporânea, cuja vida é mais dinâmica, pois tudo se processa de modo mais rápido e complexo.

Segundo Gomes (1988, apud SZYMANSKI, 2003, p. 26) a família é definida como, “Um grupo de pessoas, vivendo numa estrutura hierarquizada, que convive com a proposta de uma ligação afetiva duradoura, incluindo uma relação de cuidado entre os adultos e deles para com as crianças e idosos que aparecerem nesse contexto”. No entanto, a família passou por muitas transformações no decorrer dos anos, até chegar aos moldes atuais. A família nuclear burguesa que surgiu no início do século XVIII e até hoje predominou em nossa sociedade, entra em crise.

As expectativas em relação à família estão, no imaginário coletivo, ainda impregnadas de idealizações, das quais a chamada família nuclear é um dos símbolos. A maior expectativa é de que ela produza cuidados, proteção, aprendizado dos afetos, construção de identidades e vínculos relacionais de pertencimento, capazes de promover melhor qualidade de vida a seus membros e efetiva inclusão social na comunidade e sociedade em que vivem. No entanto, estas expectativas são possibilidades, e não garantias. A família vive num dado contexto que pode ser fortalecedor ou esfalecedor de suas possibilidades e potencialidades. (CARVALHO, 2003, p. 15).

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Sendo assim, é preciso olhar a família no seu movimento, pois a mesma está passando por momentos de organização e reorganização e torna-se visível a conversão de novos arranjos familiares. É necessário enxergar a família contemporânea, não apenas em seus pontos de fragilidade, mas compreendê-la como um grupo social, cujo movimento é realizado no sentido de reorganizar-se, o que vai de encontro ao contexto sociocultural inerente a contemporaneidade.

Nesse sentido, podemos pensar, nos diversos arranjos familiares existentes em nossa sociedade, sendo que sentimento que une os seus membros é o afeto. As pessoas podem conviver em uma determinada relação afetiva, independente do gênero, sexo, ou grau de parentesco, pois a relação de cuidado e afeto de um para com o outro, passa a significar um compromisso em que todos estão envolvidos. É nessa relação que se estabelece o lugar onde cada um constitui-se e consequentemente desenvolve-se enquanto sujeito.

Dentre os vários modelos de famílias que surgiram na contemporaneidade, citamos alguns:

Famílias Reconstituídas: Quando ocorre o divórcio, os sujeitos vão à busca da construção de uma nova família. Nesse caso, unem-se marido e mulher e também os filhos provenientes de relações anteriores e estes vivem todos sob o mesmo teto. Essa nova família pode se dar a partir de um novo casamento ou de uma união estável. Os filhos possuem origens distintas quanto à paternidade biológica. Diante da realidade atual, este modelo tende a aumentar sua incidência.

Essa nova configuração familiar, por vezes pode enfrentar problemas, pois essa família necessitará passar por um período de adaptação frente à nova configuração, o que nem sempre é vivido de forma tranquila, principalmente pelos

filhos. Estes terão que aprender a conviver com os seus “novos irmãos” e também

aprender a ter uma relação sadia com a madrasta ou padrasto. Já o novo casal, frequentemente traz algum tipo de perda do relacionamento anterior, assim como uma de forma de viver, hábitos que ele carrega junto que foram construídos em outra relação. Esses pontos também terão que passar por uma readaptação, para que essa nova família se consolide.

Famílias Monoparentais: São famílias decorrentes de divórcios ou separações, também famílias em que um dos pais é viúvo ou solteiro. Nessa

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configuração um dos pais assume os cuidados com o filho e o outro não é ativo na parentalidade. A monoparentalidade também é considerada para aquelas mulheres que decidem ser mãe solteira desde o início da gestação e ainda para aquele que decide adotar uma criança, mesmo sem ter um companheiro.

Antigamente a monoparentalidade ocorria como um fenômeno involuntário, pois era fruto de uma situação imposta, como por exemplo, a viuvez. Atualmente esse fenômeno caracteriza-se cada vez mais como voluntário. Ele parte de uma opção do sujeito, demonstrado por exemplo, como podemos observar no crescente número de divórcios.

Uma das dificuldades da monoparentalidade é que o genitor guardião deve suprir tanto as necessidades econômicas, quanto as afetivas. Os filhos por sua vez, são obrigados a conviver sem a presença contínua de um dos pais; estes por vez podem enfrentar problemas sociais que geralmente ocorrem nas escolas ou em rodas de amigos.

Família Extensa ou Ampliada: Entende-se por família extensa, aquela que se estende para além da unidade do casal ou unidade de pais e filhos. Ela é formada por parentes próximos, como tios, avós, enteados, primos, enfim, pessoas as quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.

Família Homoparental: Família em que existe uma união conjugal entre duas pessoas do mesmo sexo. Nessas famílias, não é algo comum haver laços sanguíneos, isso de certa forma parece facilitar uma maior cumplicidade no compartilhamento das responsabilidades comuns. Nessa configuração, também não há os papéis de gêneros definidos, ou seja, a mãe que cuida dos filhos e da casa e o pai que provê o sustento de todos, pelo contrário, ambos desempenham o papel de pai e mãe, responsáveis pelo bem estar físico-emocional dos filhos.

A homoparentalidade, aos poucos, começa a ganhar legitimidade social, uma vez que, as relações e as instituições sociais estão constantemente em processos de mudança. Isso se dá, a partir da reestruturação dos papéis na sociedade como um todo.

Uniões Consensuais: É definida como aquela formada por um homem e uma mulher livre de formalidades legais do casamento, dispostos a conviverem e

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constituir família. Essa forma de união está tendo um significativo aumento em nossa sociedade.

Famílias Com Filhos Advindos Das Novas Tecnologias De Reprodução e/ou Fertilização: Essa técnica tem por objetivo possibilitar que pessoas com problemas de infertilidade e esterilidade possam satisfazer o desejo de alcançar a maternidade ou a paternidade, constituindo assim a sua própria família.

Diante dessas técnicas, citaremos brevemente duas, sendo essas as mais conhecidas e recorridas pelas pessoas que desejam formar uma família com filhos, mas que por algum empecilho não estão aptos para a concepção natural e então necessitam recorrer às novas tecnologias para poderem alcançar o seu desejo.

Citamos então:

Inseminação Artificial: essa técnica consiste em depositar espermatozoides,

previamente capacitados em laboratório no interior do útero usando meios artificiais.

Fecundação In Vitro: Aqui a técnica consiste em unir em laboratório o óvulo

com o espermatozoide, com a finalidade de obter um número adequado de embriões para realizar o tratamento e transferi-lo para o útero materno. Essa técnica é uma alternativa válida apenas depois do casal ter recorrido a outros tratamentos como a inseminação artificial e essa por sua vez tenham falhado.

As mais diversas formas de fecundação ou fertilização podem ser entendidas como mais uma maneira de constituir uma família. Podemos pensá-la como uma alternativa para aqueles que desejam ter seus filhos legítimos. Cabe a cada casal analisar o que de fato deseja.

Família Dissolvida Com Guarda Compartilhada: Essa forma de família ocorre a partir do momento em que o casal decide não viver mais junto, no entanto, estes possuem filhos e continuam sendo os responsáveis por eles.

A guarda compartilhada implica no exercício conjunto e pleno da família, aqui não ocorre o mesmo que na guarda exclusiva, onde um dos pais possui apenas o direito de visita aos filhos, pelo contrário, os filhos têm a opção de escolherem com quem querem morar. No entanto, a outra parte não perde as atribuições que lhe são conferidas, e que deve continuar cumprindo intensamente o poder familiar, ou seja, deve continuar participando veementemente das questões fundamentais da vida dos

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filhos, como os estudos, esporte, lazer, enfim, todas as atividades que são necessárias a presença das figuras parentais.

A separação dos pais com certeza traz algum tipo de perda para os filhos e a família, no entanto, é fundamental que os pais possam ter o discernimento de que seus filhos necessitam dos dois para constituir-se de forma saudável. Quando a separação é inevitável, fato que tem aumentado em nosso país, é importante que os pais coloquem seus filhos em primeiro lugar. Dessa forma, podemos afirmar que a guarda compartilhada, sem restrições de visitas e de certa forma como uma responsabilidade maior de cada um para com seus filhos; seria a forma menos danosa de se conseguir lidar com essa situação, que causa tanto sofrimento nas figuras envolvidas.

Família adotiva: Diz respeito a um casal ou então a uma única pessoa que assume um indivíduo como seu filho. A partir da adoção, a responsabilidade e os direitos dos pais biológicos são transferidos aos pais adotantes. Dizendo de outra forma, a adoção é o processo onde cria-se um lugar de filho a um sujeito que não possui a mesma história que o casal. Este por sua vez, irá integrar essa família e a partir do acolhimento passará a reconhecer-se e também a ser reconhecido como filho.

Família Projetada Sem Filhos: Essa é uma forma de família na qual o casal planeja sua vida sem filhos, visando afins econômicos. Nessa lógica, o homem e a mulher contribuem financeiramente a fim de construírem um patrimônio e consequentemente poderem aproveitar férias sem preocupações e com gastos para a educação dos filhos.

Diante das mais variadas formas de configurações familiares, citamos apenas algumas, sendo que essas já são suficientes para podermos observar as grandes mudanças nos enlaces que se constituíram no mundo contemporâneo. A família nuclear já não se coloca mais como norma a ser seguida sem que as pessoas

possam se contrapor a ela. De acordo com Szymanski “Pode-se supor que ao

aceitar o modelo de família burguesa como norma e não como um modelo construído historicamente, se aceita implicitamente seus valores, regras, crenças e padrões emocionais” (2000, p. 24).

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Certamente que muitas dessas novas formas de arranjos familiares já existiam, entretanto, estes eram ignorados pelo restante da sociedade, como se nada estivesse ocorrendo. Porém, a partir do momento em que os protagonistas desses arranjos passaram a exigir seus direitos de cidadãos, sendo esses; o respeito, direito a conviver em sociedade sem discriminação, direito de ter uma vida “normal” como os demais membros da sociedade; direito a poder constituir uma família com filhos, entre outros. Estes, desta forma, provocaram a sua visibilidade perante toda a sociedade e assim começaram a surgir questões que interpelam até hoje todo o tecido social.

A sociedade por sua vez, mostrou e ainda mostra certa resistência diante das

configurações que se “desviam” do modelo da família burguesa. Principalmente se

existirem crianças que compõem esse núcleo familiar. Nesse sentido, podemos nos referir a Szymanski (2000, p. 23) que nos fala um pouco sobre as relações entre os membros da família, a sua importância e a sua consequência. De acordo com a autora, as interpretações das inter-relações eram feitas a partir do modelo da família nuclear burguesa, e se por ventura alguma família se afastava da estrutura do modelo, esta era chamada de “desestruturada” ou “incompleta”, também consideravam que dessa família poderiam surgir problemas emocionais, ou seja, era considerada a estrutura da família e não a qualidade das relações.

A partir de todas essas mudanças, tanto na sociedade quanto na família, podemos observar alguns pontos em comum que as famílias contemporâneas vêm apresentando; a notável diminuição do número de membros nas novas configurações; a diminuição dos casamentos religiosos; o aumento das uniões consensuais; o evidente aumento da inserção feminina no mercado de trabalho e a participação de vários membros da família em sua economia, sendo que, quanto mais pobre for a família, mais os filhos contribuem na renda familiar independente da idade.

Dessa forma, podemos dizer que dentre todas as mudanças ocorridas na estrutura familiar nesses últimos anos, o fato de ela não ocorrer mais a partir do casamento típico e religioso, pode ser considerada uma das mais marcantes, sendo que até o Código Civil já fez mudanças em relação às uniões dos casais.

Diante de tantas perspectivas diferentes frente às configurações familiares, conceituar a família e diferenciá-la de outros grupos sociais, torna-se cada vez mais

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um desafio do mundo contemporâneo, pois estamos inseridos em uma sociedade na qual a célula base para o seu funcionamento são as configurações familiares e as formações dos vínculos. Afinal, é a partir de como o homem constitui-se enquanto sujeito que este irá contribuir com o andamento, ordem e funcionamento da sociedade. Tudo inicia no âmbito familiar. Devemos ainda considerar que o homem para ingressar na sociedade, como sujeito de direitos e deveres, necessita de uma estrutura que o prepare para uma convivência social. Essa estrutura é a família. Ela é a referência de sua existência; a instituição familiar será seu rumo norteador até o final da mesma.

O que podemos afirmar em relação aos mais diversos arranjos familiares, é que o essencial é o afeto que une os membros, independente da sua configuração. A família por ser a base da constituição do sujeito, dos vínculos e consequentemente da sociedade, deve ser reconhecida e protegida sem quaisquer tipos de discriminação. Afinal, a sociedade está movimentando-se cada vez mais para novas formas de uniões, as quais irão mais cedo ou mais tarde se tornar tão frequentes e reconhecidas como o casamento religioso e as famílias nucleares que predominaram por tanto tempo em nosso cenário social.

Bock, em relação às configurações familiares, nos diz que:

Vamos percebendo, então, que a família, como a conhecemos hoje, não é uma organização natural nem uma determinação divina. A organização familiar transforma-se no decorrer da história do homem. A família está inserida na base material da sociedade, ou dito de outro modo, as condições históricas e as mudanças sociais determinam a forma como a família irá se organizar para cumprir sua função social. (BOCK, 2002, p. 248).

Com esse fragmento do texto de Bock, podemos reafirmar que a influência e as mudanças sociais e culturais ocorridas desde o século XVIII contribuíram plenamente com o surgimento das novas configurações familiares que cada vez mais se presentificam em nossa sociedade.

Dessa forma, coloca-se com grande relevância trazermos a luz algumas considerações de Vitale(2000) sobre a socialização da família. As informações referidas são retiradas do texto Socialização e Família: Uma análise intergeracional.

Como sabemos, a subjetividade constitui-se lentamente e continuamente e se dá a partir das relações e investimentos que o sujeito estabelece com o mundo

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que o rodeia, ou seja, as experiências vividas, a cultura e sociedade que está inserido. Esse processo de integração da subjetividade, de acordo com a autora, é entendido como socialização.

A socialização se coloca inicialmente como primária sendo entendida como interiorização da realidade, a partir da relação entre a criança e os outros significativos, e dizem respeito aos aspectos da vida social que devem ser transmitidos. Diante disso, a criança inicialmente interioriza objetos e situações que pouco a pouco irão contribuir para a construção da identidade, traços esses que ela levará por toda sua vida.

Esse mundo interiorizado na primeira infância através da socialização primária irá no decorrer da vida receber novas interiorizações, essa será a socialização secundária que é a responsável por facilitar a adaptação do indivíduo em novos papeis.

Assim, podemos salientar mais um ponto fundamental da família na vida do sujeito, pois esta torna-se referência para esse que ali se constituiu e remonta novamente a essencialidade desta que o acompanhará por muitos momentos da vida, até que seja capaz de criar sua própria família e repassar por gerações a função que essa carrega.

A família, além de se colocar como um espaço onde se criam condições favoráveis para a constituição de um sujeito, o que os torna consequentemente criadores e mantenedores da sociedade, ainda se apresentada como a base sólida em que se desenvolvem condições de socialização, função necessária para todo o desenvolvimento e qualidade de relacionamentos favoráveis que irão se colocar necessariamente no decorrer da vida.

Vitale, em relação à família e a socialização nos diz que:

A família não é o único canal pelo qual se pode tratar a questão da socialização, mas é, sem dúvida, um âmbito privilegiado, uma vez que este tende a ser o primeiro grupo responsável pela tarefa socializadora. A família constitui uma das mediações entre o homem e a sociedade. Sob este prisma, a família não só interioriza aspectos ideológicos dominantes na sociedade, como projeta, ainda, em outros grupos os modelos de relação criados e recriados dentro do próprio grupo. (VITALE, 2000, p. 90).

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É no interior da família que se começa a elaborar o comportamento social dos indivíduos. A família representa para a criança um grupo cultural, sendo portanto, a responsável por imprimir valores e crenças naqueles que a compõem, Esses valores que são transmitidos foram um dia ensinados e passados pelos pais desses que hoje ensinam. É algo que ocorre entre gerações. Os valores vão mudando a cada época; logo a cada nova geração, configura-se uma nova sociedade e cultura, pois estas estão sempre recebendo informações e novas formas de viver as quais, necessitam adaptar-se, implicando na adaptação de todo o tecido social para que a sociedade tenha condições de continuar se desenvolvendo.

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3 ANÁLISES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo desse trabalho, percebemos que a família contemporânea já não tem mais a mesma estrutura rígida de antigamente. Hoje as configurações se dão das mais variadas maneiras, e a sociedade por sua vez, pelo que podemos observar; mesmo demonstrando certa resistência frente aos novos arranjos constituídos na sociedade contemporânea: parece estar processando de forma mais rápida e consciente as novas configurações.

Percebe-se também que a família nuclear burguesa não é mais hegemônica, embora tenha deixado na sociedade resquícios de sua organização. No entanto, esta não é mais o único modelo institucional que pode ser considerado para caracterizar as famílias no contexto atual.

Várias mudanças ocorreram nas sociedades ocidentais que contribuíram para o surgimento de novas formas de família, desde a entrada da mulher no mercado de trabalho até o progresso cientifico (técnicas de fertilidade). Muitos fatores exerceram forte influência sobre a sociedade o que passou a influenciar os grupos familiares. Considerando que a família não é um grupo homogêneo e sim um universo de relações diferenciadas, essas mudanças que ocorreram externas a família, acabaram atingindo-a como estrutura e também de forma diversa cada uma das relações e cada parte das relações. Portanto, as mudanças que ocorrem na sociedade tem fortes implicações na família como um todo.

Apesar das diversas transformações ocorridas, sabemos que a estrutura familiar é essencial para o desenvolvimento psíquico e físico saudável de qualquer sujeito que se encontre em estruturação.

A família nuclear burguesa que por muito tempo predominou em nossa sociedade, mesmo hoje, não sendo mais a única configuração, transmitiu e deixou marcada na sociedade a função de uma família. Consideramos que a família é a primeira e principal instituição da vida de cada sujeito. Ela é a responsável por criar condições favoráveis para a constituição dos vínculos, fator essencial para o desenvolvimento do sujeito, pois é através deste que o mesmo será capaz de relacionar-se com diferentes grupos no decorrer de toda a sua vida.

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É no enlace familiar que o indivíduo irá constituir-se e tornar-se sujeito, é a partir do acolhimento, da antecipação, do investimento, enfim, dos mais variados fatores constitutivos que ocorrem no âmbito familiar, que o pequeno infans irá ascender para a vida social. Para que isso ocorra, é necessário que este tenha tido a possibilidade de constituir vínculos, estes primeiramente com os entes familiares. É a partir da qualidade dos vínculos estabelecidos no âmbito familiar, com as figuras parentais, ou seja, a figura de apego que o sujeito será capaz de criar seus próprios recursos psíquicos para relacionar-se com o restante do mundo. É a família também, a responsável pelo primeiro contato social da criança, é ela que apresenta o mundo para a criança e a “forma de como viver nele”.

Portanto, a família desempenha as funções mais primordiais e essenciais na vida do sujeito. Faz-se mister dizer que a família é condição para a sobrevivência e desenvolvimento de todos os sujeitos.

Nesse sentido, a partir de todas as mudanças ocorridas em relação às famílias, observando ainda as novas formas de união entre casais e a maneira como estes constituem sua família e planejam suas vidas, podemos dizer que independente destes seguirem ou não um padrão familiar pré-estabelecido pela sociedade, unem-se pelo amor, pelo afeto, pela importância que um tem para o outro, sem considerar as condições históricas e tradicionais da família. No entanto, não parecem ter deixado de lado a importância, os valores e o compromisso que essa instituição carrega dentro da sua função de formadora de sujeitos e consequentemente da sociedade, independente da sua configuração. É a partir dessas mudanças que a cultura e a sociedade começam a movimentar-se de maneira diferente.

Para que uma família se constitua e seja plenamente saudável para todos que a compõem, o elemento principal é o afeto, o amor de uns para com os outros. Não podemos mais dizer qual é a melhor configuração familiar diante de tantas, mas podemos afirmar que todas são boas, ou melhor, que cada uma à sua maneira, independente de sua configuração, são essenciais e possuem a mais bela função: a de constituir um sujeito.

A realização deste trabalho, permite-nos afirmar que a hipótese de que a instituição familiar evoluiu ao longo dos tempos, passando por algumas fases e

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