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Ingestão de álcool e a direção veicular

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - UNIJUÍ

DHE – DEPARTAMENTO DE HUMANIDADES E EDUCAÇÃO CURSO DE PSICOLOGIA

LUIZA ESPINDOLA DA COSTA

INGESTÃO DE ÁLCOOL E A DIREÇÃO VEICULAR

Ijuí, 2015

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LUIZA ESPINDOLA DA COSTA

INGESTÃO DE ÁLCOOL E A DIREÇÃO VEICULAR

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Psicologia, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Orientador: Nilson Heidemann

Ijuí, 2015

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LUIZA ESPINDOLA DA COSTA

INGESTÃO DE ÁLCOOL E A DIREÇÃO VEICULAR

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de Psicologia, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Aprovado em ___ / ___ / _____

BANCA EXAMINADORA Daniel Ruver

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Ao meu pai e minha mãe, que sempre se envaidecem com as minhas vitórias, dedico este trabalho a vocês.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Melissa e a Patrice, supervisoras de estágio curricular e voluntário, as quais agregaram conhecimento prático a minha formação, foram sempre muito atenciosas, solícitas e receptivas com minhas dúvidas e anseios, e tornaram-se meus exemplos profissionais, pela maneira ética e competente com que desempenham seus papéis em seus distintos locais de trabalho.

Agradeço ainda aos amigos com quem dividi os longos anos de formação, alguns por infelicidade seguiram caminhos distantes, outros conheci no decorrer da vida acadêmica, e alguns que se fizeram presente do início até o fim dessa “longa jornada”. Obrigada pelas conversas, pelas bagunças, pelo chimarrão, pelos almoços, jantas, pelo ombro amigo, pelos abraços e incentivo de não desistir, apesar dos problemas, das dificuldades e do cansaço. Em especial agradeço a Rafaela Lorenzoni, Pâmela Prates, Janine Furtado, Claudia Tassoti, Mariana Miron, Claudia Scaramussa, Mauricio Soares, Patrícia Winck, Ana Paula Ely, Luana Seger.

Agradeço também aos amigos, que viraram praticamente família, com quem durante certo tempo convivi quase que diariamente e pude contar de todas as formas, Natiele Fogaça e Carlos Soares, Tanise Dalla Rosa, Juliardo Oliveira, Jéssica Limberger, Simone e Daniela Broch, Gabriela Steinhorst, Julian Elias e Tonimar Frada, sei que estão vibrando com minha formação.

Ao Mauricio Correa, que foi o mais atingido pela ansiedade e nervosismo, mas resistiu bravamente, muito obrigada.

Aos meus irmãos Lucas e Luciana, que de forma singela, mas sincera, demonstram todo o seu orgulho.

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RESUMO

INGESTÃO DE ALCOOL E A DIREÇÃO VEICULAR

Autor: Luiza Espindola da Costa Orientador: Nilson Heidemann

O presente trabalho tem como objetivo expor questões relacionadas a um problema social que está em crescimento e traz consigo resultados alarmantes, a ingestão de álcool por condutores de veículos automotores. Este trabalho é um pesquisa bibliográfica, na qual são apontados alguns possíveis aspectos para a efetivação desse ato, como o mal-estar gerado pela civilização que está ligado a uma insatisfação fundamental em que o ser falante encontra-se, e utiliza-se da bebida como uma válvula de escape que inutiliza a capacidade de sentir o sofrimento momentaneamente, fazendo-se ainda uma rústica relação com o suicídio/homicídio. A partir dessas questões, foi inicialmente abordado sobre a história da bebida alcoólica ao longo dos anos, seus efeitos no organismo, o álcool como uma droga licita e de fácil aquisição. Em seguida foi associado o conceito de trânsito, a função da Psicologia do Trânsito, e os riscos do ato de bebe e dirigir, findando o estudo com o olhar da Psicologia frente a essa prática ilegal e que põe em risco não apenas o condutor e os passageiros do veículo, mas todos os sujeitos que fazem parte desse sistema complexo denominado Trânsito.

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ABSTRACT

THE ALCOHOL CONSUME AND DRIVING

Author: Luiza Espindola da Costa Supervisor: Nilson Heidemann

The objective of this research is to present questions related with a social problem that is growing and it brings alarming results, the alcohols consume by vehicle drivers. This study is a bibliographic research; certain possible aspects are pointed as the discomfort caused trough the constant dissatisfaction that modern people are in, in this context, the alcohol is used as a safety valve,and itshortlydisables the capacity of suffering, also is madden a relation with suicide/ homicide.

Based in these questionssome topics were discussed: the history of alcohol drinks, it effects on the organism and the ease of access because alcohol is a licit drug. Therefore, the concept of traffic was associated with other questions like the traffic’s psychology function, the threats involved in drink and drive. The research ends with the psychology vision about this illegal practice that exposes to the risk, not just the drivers but also the passengers and people who are involved in this complex system called traffic.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...08

1. Álcool através da história ...09

1.1 Álcool: uma droga lícita ...10

1.2 Efeitos do álcool ...12

2. Trânsito ...14

2.1 Psicologia do trânsito ...16

2.2 Relação entre acidente de trânsito e o álcool ...18

3. Um olhar da Psicologia sobre beber e dirigir ...23

4. CONCLUSÃO ...28

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INTRODUÇÃO

O tema ingestão de álcool e direção veicular surgiu a partir de momentos presentes em minha vida pessoal decorrente da área em que atuo como instrutora prática em um Centro de Formação de Condutores, motivada pela curiosidade, busquei respostas no âmbito da Psicologia para perguntas que em minha prática, não as obtive, sendo assim foi desenvolvido uma pesquisa bibliográfica inicialmente para a obtenção parcial do título de bacharel em Psicologia, bem como a fim de contribuir com a área pouco estudada da Psicologia do Trânsito a qual tenho tido grande interesse.

Sabe-se que o trânsito está em constante movimento e crescimento, a frota nacional tem se ampliado consideravelmente devido a inúmeros motivos, dentre eles a fácil aquisição de veículos automotores e a grande abrangência do Centro de Formações de Condutores, disponibilizando mais da metade do processo para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação em locais onde não há o serviço.

O trânsito como sistema complexo no qual estão contidos diariamente todos os sujeitos, estejam eles a pé, conduzindo um veiculo ou na forma de passageiro, faz com que se envolvam na via, o homem e o veículo, que devem conviver entre si de forma harmoniosa, mas sabemos que na prática nem sempre isso é possível.

Há registros de que a ingestão de bebidas alcoólicas acompanha o homem desde a Pré-história e se faz presente em praticamente todas as comemorações e festividades do ser humano desde então. Mesmo o álcool sendo prejudicial à saúde, é uma droga lícita, socialmente aceita e de fácil acesso e consumo. Sua ingestão acompanhada ao ato de conduzir um veículo automotor pode causar acidentes com danos materiais e fatais.

O presente trabalho irá apresentar questões pertinentes aos problemas decorrentes do uso de álcool de forma excessiva habitual, relacionados ao consumo do mesmo por parte de condutores de veículos automotores.

Mas por que, sabendo de todos riscos o sujeito ingere bebidas alcoólicas e pratica a ação de dirigir embriagado? Essa é a questão que buscamos responder em nosso trabalho, bem como outras questões que envolvem o tema.

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CONCLUSÃO

A bebida alcoólica se faze presente no cotidiano do ser humano, há milhares de anos e atravessa gerações e é consumida em praticamente todos os momentos de festividades, entre amigos e até mesmo familiares. É uma droga lícita, socialmente aceita, de fácil acesso e baixo custo. Mesmo o sujeito tendo consciência do mal que seu consumo faz e das consequências da prática do beber e dirigir, inúmeras vezes assume-se o risco de um acidente e não havendo um grave motivo, sua ingestão não será suspensa e essa prática se repete por várias vezes.

Sabemos que o consumo de álcool por si só já é nocivo ao sujeito e associado à direção veicular gera um problema de saúde pública, o qual não tem recebido a atenção e o olhar necessários por parte das autoridades responsáveis, causando um número absurdo de mortes todos os anos.

Ao longo dessa pesquisa bibliográfica, pôde-se perceber a pouca literatura referente ao assunto em questão, em especial estudos na área da Psicologia. Foram levantadas questões e suposições pertinentes ao tema, buscado esclarecimentos de dúvidas para com a real função do Psicólogo no âmbito do Trânsito, concluindo que o trabalho do Psicólogo vai além da aplicação da testagem nos Centros de Formação de Condutores, porém não é muito vislumbrado.

Ao findar-se o presente trabalho, compreende-se a complexidade do sistema trânsito bem como o comportamento humano no referido sistema. A causa que está envolvida de forma direta com a atitude que o motorista toma frente a ingestão de bebidas alcoólicas e seguidamente conduz o carro, não apresenta uma resposta padrão para a nossa questão, pois assim como na clínica cada caso é um caso, cada sujeito é um sujeito e deve-se levar em conta a subjetividade de cada um e as circunstâncias antecessoras que geraram essa atitude e que, muitas vezes, acarretam o acidente.

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1. O álcool através da história

Historicamente acredita-se que as bebidas alcoólicas tiveram início na Pré-história, no período Neolítico, a partir de um processo de fermentação natural, mesma época em que há o surgimento da agricultura. A partir daí, o ser humano atribuiu inúmeros significados ao álcool, tornando-o parte de celebrações sociais e religiosas e fazendo com que ele venha acompanhando a humanidade há milhares de anos e possuindo lugar de destaque em todas as culturas, estando presente até os dias atuais em comemorações e confraternizações

Desde os primórdios, o álcool, cientificamente conhecido como etanol, tem tido múltiplas funções, fazendo parte de poções mágicas, remédios, perfumes e em especial, sendo o componente fundamental de bebidas presentes nos ritos de alimentação da humanidade.

Estudos apontam que a primeira poção alcoólica foi originária da China, por volta de 8.000 a. C. e era composta por arroz, mel, uva e uma espécie de cerveja, sendo todos os componentes fermentados.

Na Grécia e Roma devido ao solo e ao clima serem propícios para o cultivo de uva, a produção de vinho teve papel de destaque, sendo a bebida mais consumida em ambos os Impérios, e possuindo grande importância em âmbito social, religioso e até mesmo farmacológico, porém o consumo abusivo da bebida era recriminado.

Já no Egito, foram documentados em papiros, detalhes sobre a fabricação, produção e até mesmo sobre a comercialização do vinho e da cerveja. Para os egípcios, as bebidas fermentadas também tinham valor farmacológico e eram utilizadas contra parasitas derivados das águas do rio Nilo.

Na Idade Média, surgem os primeiros processos de destilação, dando origem ao uísque, conhaque e rum, os quais continham maior concentração alcoólica. A comercialização de bebidas alcoólicas tem significativo crescimento; e é a partir daí que se dá a regulamentação do álcool, e a “bebedeira” passa a ser considerada pecado pela igreja.

Durante o período da Renascença, na Idade Moderna, há uma maior fiscalização de tabernas e cabarés, locais onde a ingestão de álcool era livre, resultando em debates políticos que estipularam horários de funcionamento, a

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regulamentação do comércio de vinho começou a existir de forma mais sólida durante esse período.

Com o fim do século XVII e o inicio da Revolução Industrial, a Idade Contemporânea traz consigo uma mudança na fabricação e comercialização de bebidas alcoólicas. Elas passaram a ser mais acessíveis economicamente e sua fabricação se dá em grande quantidade, pois passaram a ser produzidas não mais de forma artesanal, mas industrialmente.

A Revolução Industrial veio para contribuir com o aumento da produção, a divisão do trabalho e a consolidação do capitalismo, estabelecendo uma nova forma de trabalho, assalariado. Favoreceu ainda o processo de industrialização na agricultura, porém houve um enorme crescimento populacional e o surgimento das cidades, as quais não dispunham de infraestrutura adequada para tanto, causando assim novos problemas de saúde, de habitação e moradia, que, por conseguinte devido às precárias condições de vida e de trabalho da classe trabalhadora, torna o alcoolismo, um grave problema urbano e social.

No ano de 1967, a partir da 8ª Conferência Mundial da Saúde, o alcoolismo passa a ser considero uma doença, e é incluído pela Organização Mundial da Saúde à Classificação Internacional das Doenças (CID-8). Os problemas relacionados ao uso de álcool foram divididos em três categorias: dependência, episódios de beber excessivo (abuso) e beber excessivo habitual. A dependência de álcool foi caracterizada pelo uso compulsivo de bebidas alcoólicas e pela manifestação de sintomas de abstinência após a interrupção do uso de álcool.

Mesmo o álcool sendo prejudicial à saúde, sendo uma droga lícita, é socialmente aceito e de fácil acesso e consumo. Sua ingestão acompanhada do ato de conduzir um veículo automotor pode causar acidentes com danos materiais e fatais.

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Drogas lícitas são substâncias aceitas pela sociedade, que podem ser produzidas, comercializadas e consumidas legalmente. São consideradas drogas lícitas quaisquer substâncias que contenham álcool, nicotina, cafeína, medicamentos sem prescrição médica, anabolizantes entre outros. Assim:

Tecnicamente, as bebidas alcoólicas são consideradas “Drogas de Abuso”, pois alteram o comportamento do homem e criam dependência psíquica e química. Legalmente são consideradas “Drogas Lícitas”, pois a lei brasileira ainda permite a sua venda, sem qualquer limite, e a sociedade considera o ato de beber uma coisa aceitável, sem o menos pudor. (PANITZ, 2007, p. 21)

O fácil acesso a bebidas alcoólicas, o baixo custo benefício, e a aceitação social, fazem com que o álcool seja uma droga lícita, comercializada livremente e em grande escala, não apenas em nível nacional e sim mundial. Mesmo causando conseqüências na saúde física, mental e social dos usuários, sua comercialização e consumo são permitidos, com uma “suposta” fiscalização dos órgãos competentes.

Mesmo com o acesso a bebidas alcoólicas proibido a menores de 18 anos, pela lei 13.106, que alterou o estatuto da Criança e do Adolescente sancionada em 17 de março de 2015, que torna crime a venda, fornecimento e até mesmo servir bebida a menores, o consumo começa cada vez mais cedo, por volta dos 10 anos de idade.

Conforme Panitz (2007, p. 21): “Beber é hoje um costume fundamentalmente social, pois, via de regra, se pratica em companhia de outros, com os quais se tem amizade ou alguma afinidade [...]”

Assim, podemos observar que com o passar dos anos, a ingestão de bebidas alcoólicas adquiriu símbolos e significados socias em diferentes contextos, se fazendo presente e estando diretamente associada a festividades e datas comemorativas, sendo consumida entre familiares e amigos, e estando intimamente ligada a comemorações, sejam elas quais forem.

Panitz (2007) faz ainda um importante apontamento:

“A droga lícita é a principal causa de acidentes de trânsito, a maior geradora de crimes violentos e hediondos e das agressões sexuais, sendo também considerada a terceira causa mortis, perdendo somente para as doenças cardiovasculares e o câncer, não obstante a elas estar sempre associada, direta ou indiretamente.” (PANITZ, 2007, p.26)

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Percebe-se que a bebida alcoólica, apesar de ser um produto legalmente permitido e socialmente aceito, não é um produto qualquer, seu consumo tem como consequência diversos problemas sociais como: violência doméstica, suicídios, homicídios, infrações e graves acidentes de trânsito, para além, em decorrência do abuso de álcool, há ainda inúmeras vitimas com graves conseqüências psíquicas e traumas.

O marketing de bebidas alcoólicas, por parte de seus fabricantes, não poupa em áudios visuais, e atinge todos os meios de comunicação, está sempre vinculado a poder, riqueza, mulheres bonitas, sucesso, sexo e traz consigo uma fantasiosa ilusão de felicidade suprema. A indústria do álcool investe, ainda que em total contradição, em patrocínios relacionados a práticas esportivas e até mesmo em práticas automobilísticas. Os jovens têm consumido, cada vez mais precocemente, bebidas alcoólicas, devido ao acesso fácil, uma falsa ideia criada pela publicidade envolvida e sem terem uma opinião formada sobre suas conseqências, acabam fazendo parte desse mundo ilusório.

1.2 Efeitos do álcool

O álcool é considerado uma droga psicotrópica que produz alterações no Sistema Nervoso Central, provocando mudanças no comportamento humano e pode causar dependência. Seu consumo acarreta diferentes efeitos, principalmente a desinibição que pode causar uma aceitação de um nível de risco muito elevado, como no caso da questão norteadora do presente trabalho, onde o condutor de veículo automotor, ao ingerir bebida alcoólica, mesmo ciente da proibição e de possível punição, realiza o ato e de certa forma, assume o risco. Em geral, os efeitos decorrentes do consumo de álcool são divididos em duas fases: fase estimulante (quando ingerido em quantidades pequenas) e fase depressora (quando ingerido em quantidades maiores). Minutos após o álcool ser ingerido, podem-se observar os efeitos estimulantes, sensação de bem-estar, como euforia, extroversão e aumento na facilidade para falar. Conforme o nível de álcool no sangue aumenta, surgem efeitos depressores, tais como a dificuldade na coordenação motora, descontrole e sono. Quando o consumo é muito exagerado, o efeito depressor se agrava, podendo

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até mesmo provocar o estado de coma alcoólico. Os efeitos decorrentes do consumo de álcool podem variar de acordo com as características de cada pessoa.

As conseqüências psíquicas do usuário de álcool vão de depressão, alterações de memória, atenção e percepção da realidade, e ainda, como citado anteriormente, há um alto índice de envolvimento em brigas, acidentes de trânsito, violência doméstica, e até mesmo alterações mais graves, como tentativas de homicídio e suicídio.

Dualibi, Laranjeiras e Pinsky (2010), fazem um importante apontamento situando o saber do senso comum, que relaciona os problemas relacionados ao consumo de álcool rotulado como alcoolismo, porém estudos mostram que certas complicações decorrentes do abuso de bebidas alcoólicas nem sempre são em nível do alcoolismo, mas em uma determinada situação.

Com frequência, os abusos agudos da bebida, os “porres”, como são chamados, é que aparecem na origem dos problemas relacionados ao álcool na população em geral. Portanto, é importante salientar que um único episódio de consumo já pode acarretar efeitos, mesmo que o individuo não beba com frequência. Isso é particularmente importante na população que bebe preferencialmente nos fins de semana, como os adolescentes e jovens adultos, que costumam também ser as maiores vítimas de acidentes de trânsito. (Dualibi, Laranjeiras e Pinsky, 2010, p.16)

O presente trabalho busca apresentar questões pertinentes aos problemas decorrentes do abuso de álcool de forma excessiva habitual e não de forma crônica, relacionando ao consumo do mesmo por parte de condutores de veículos automotores.

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2. Trânsito

É difícil utilizar-se apenas de um único conceito para a palavra Trânsito, portanto, dentre os diversos conceitos desse complexo sistema, o qual todos fazemos parte, seja como condutores, passageiros e até mesmo pedestres, listamos alguns, os quais foram julgados mais importantes para a construção deste trabalho. O primeiro conceito, retirado do Código de Trânsito Brasileiro, que é um documento legal e norteador sobre o assunto, é composto de 341 artigos, os quais são divididos em 20 capítulos e dois anexos, que por sua vez, definem atribuições das diversas autoridades e órgãos ligados ao trânsito, fornecem diretrizes para a Engenharia de Tráfego e estabelecem normas de conduta, infrações e penalidades, fundamentando seu conteúdo na segurança do trânsito, no respeito pela vida e na defesa e preservação do meio ambiente.

O Código de Trânsito Brasileiro apresenta, em seu primeiro anexo, alguns conceitos e definições, sendo definido o conceito de trânsito como:

Art. 1º § 1º Considera-se trânsito a utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga. (CTB, 2013, p. 823)

De forma simples, o dicionário Aurélio (2010, p. 751) define Trânsito: “1. Ato ou efeito de caminhar; marcha. 2. Movimento, circulação, afluência de pessoas e/ou veículos; tráfego, tráfico [...]”..

Rozestraten (2012, p. 4), em seu livro Psicologia do Trânsito, nos apresenta o conceito de trânsito como um sistema formado por três subsistemas, o homem, a via e o veículo, agindo entre si, sendo o homem o mais complexo por envolver tantos processos subjetivos.

A partir dos conceitos acima citados, podemos pensar o trânsito como uma questão social e política, sendo um sistema complexo, porém organizado, que visa à segurança e fluidez na circulação de veículos e pedestres, além da preservação do meio ambiente e boa convivência entre seus usuários.

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Em tese, os conceitos de trânsito parecem muito funcionais, porém, desde o ano de 1886, quando Karls Benz patenteou o primeiro veículo propulsado por um motor à explosão, em contrapartida, surgiram os problemas de circulação, os quais só aumentam e se agravam com o passar do tempo. Entre todas as invenções do século XX, incontestavelmente o automóvel ocupou um lugar de destaque e se tornou um objeto de desejo de muitos sujeitos/consumidores, por ser um objeto erotizado que traz consigo vários significantes sexuais, de poder e sedução.

O automóvel nasceu da vontade de criar um meio de transporte que facilitasse o deslocamento de forma fácil, rápida e cômoda e, ao longo dos anos o veículo foi visto como um símbolo de status e estilo de vida. Atualmente, com incentivos fiscais do governo, que propiciam a facilidade de aquisição, há uma explosão no número de vendas e a consolidação do clichê de que, assim como o futebol, o carro também é uma paixão nacional. Porém, a popularização dos automóveis, acarretou mudança de valores e comportamentos sociais, tomando papel importante nos avanços tecnológicos e científicos, tornando o deslocamento humano mais ágil e fácil. Entretanto, associado aos inúmeros e indiscutiveis benefícios, os veículos trouxeram consigo uma série de problemas relacionados ao meio ambiente, bem como problemas de circulação e mobilidade.

Cruz, Hoffmann e Silva (2003) fazem uma significativa contribuição:

Ao se definir o trânsito como um fenômeno social complexo, pela diversidade de variáveis agindo ao mesmo tempo, a avaliação e a busca de soluções para os problemas dele decorrentes passam necessariamente pela construção de uma de trabalho multiprofissional. (CRUZ, HOFFMANN e SILVA, 2003, p. 175)

Assim podemos pensar o trânsito como um campo de trabalho multiprofissional, incluindo a Psicologia, pois de modo geral, a Psicologia como ciência estuda o comportamento humano; portanto, em todo e qualquer espaço que exista comportamento humano, há lugar para a produção do conhecimento e da intervenção dos psicólogos. Estão contidos no trânsito as relações entre homens por meio de componentes e tecnologias arquitetadas pelas suas necessidades de deslocamento e de sobrevivência. (CRUZ , HOFFMANN e SILVA, 2003)

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2.1 Psicologia do Trânsito

A relação da Psicologia com os transportes terrestres data da década de 1920; inicialmente os estudos estavam ligados às ferrovias e em seguida passaram a relacionar-se à circulação de veículos automotores. A Psicologia do Trânsito nasce do estudo de acidentes, avançando na direção da avaliação dos fatores que levam ao acidente e dos conflitos associados ao mesmo.

Cruz e Hoffmann (2003) discorrem sobre a evolução da Psicologia passando por quatro etapas:

A primeira compreende o período das primeiras aplicações de técnicas de exame psicológico até a regulamentação da Psicologia como profissão; a segunda corresponde à consolidação da Psicologia do Trânsito como disciplina cientifica; a terceira pode ser caracterizada como aquela em que foi verificado um notável desenvolvimento da psicologia do Trânsito em vários âmbitos e sua presença marcante no meio interdisciplinar; a quarta etapa é marcada pela aprovação do Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503, de 23/09/97) [...] (CRUZ e HOFFMANN, 2003, p 17)

Nas décadas de 1940 e 1950, as autoridades brasileiras desenvolveram e implementaram medidas preventivas em relação aos sérios problemas de segurança e saúde pública, em decorrência dos acidentes de trânsito que começaram a se intensificar, dentre elas, surge a seleção médica e psicotécnica, com finalidade de restringir o acesso ao volante de pessoas consideradas predispostas a se envolverem em acidentes de trânsito.

Em geral, a Psicologia do Trânsito no Brasil é reconhecida a partir de 1953, quando o exame psicológico para candidatos a motoristas tornou-se obrigatório, sendo a contribuição mais visível desse segmento da psicologia. Desde então, pouco se percebe para além da testagem, há inclusive uma desatualização desses materiais, programas para atualização e capacitação de profissionais na área são raros, bem como a participação de psicólogos brasileiros em congressos internacionais sobre trânsito. (ROZESTRATEN, 2012)

O autor traz a definição de Psicologia do Trânsito como:

[...] uma área da psicologia que estuda, através de métodos científicos válidos, os comportamentos humanos no trânsito e os fatores e processos

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externos e internos, conscientes e inconscientes que os provocam ou os alteram. Em síntese: é o estudo dos comportamentos-deslocamentos no trânsito e de suas causas. (ROZESTRATEN, 2012, p. 9)

Rozestraten (2012) ainda complementa sobre a importância da Psicologia do Trânsito:

Mesmo que esta psicologia possa ser vista principalmente como uma psicologia aplicada, ela possibilita, no entanto, contribuições valiosas para o estudo fundamental e teórico do comportamento humano e dos processos psíquicos aí implicados. (ROZESTRATEN, 2012, p. 9)

Pensando em nível de formação acadêmica, em geral os cursos de graduação em psicologia, não oferecem disciplinas específicas sobre psicologia do trânsito, o que resulta em uma menor visibilidade à área, mas não diminui tamanha importância e complexidade de estudos. Partindo desse pressuposto de carência de produção científica da área e das limitações na formação dos psicólogos na graduação, o CONTRAN (Conselho Nacional de Trânsito) publicou a Resolução 267/2008, a qual estabelece que apenas psicólogos com 2 anos de exercício da profissão, com título de especialista no trânsito reconhecido pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) poderão atuar na área.

Para além da usual aplicação de testagem, o Psicólogo do Trânsito pode desenvolver outras ações, como nos mostra Rozestraten (2012):

- trabalhar questões relacionadas a fobias de pessoas habilitadas, que possuem veículo, porém não conseguem trafegar nas vias publicas;

- propor intervenções com motoristas que ingerem bebidas alcoólicas, tendo em vista que 50% dos acidentes fatais de trânsito em rodovias decorrem do consumo de álcool;

- promover atividades e estudos com dependentes químicos, levando em conta poucas pesquisas desenvolvidas sobre os efeitos das drogas sobre o comportamento no trânsito;

- desenvolver atividades em comunidades de baixa renda localizadas em áreas mais afastadas do centro da cidade, buscando informações sobre as dificuldades enfrentadas em relação ao trânsito e ao transporte público;

- trabalhar em conjunto com as empresas que realizam transporte público, focando a direção defensiva;

- promover a educação para o trânsito nas escolas, associado a motivação dos professores em falar com os alunos sobre trânsito;

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- desenvolver um trabalho de terapia e apoio às vítimas de acidentes de trânsito em conjunto com a Psicologia Hospitalar;

- formar núcleos interdisciplinares de estudo nas universidades, visando temas como os problemas no trânsito, prevenção de acidentes.

A partir do exposto, na obra Comportamento Humano no Trânsito Rozestraten ainda afirma

Esse conjunto de contribuições certamente auxiliará no aperfeiçoamento do diagnóstico e da intervenção sobre a complexidade dos aspectos comportamentais do trânsito e, desta forma, poder colaborar no aumento da segurança para o trânsito. (ROZESTRATEN, 2003, p. 45)

Partindo desse combo de ações, dentre outras, podem contribuir de forma significativa para a atuação do Psicólogo do Trânsito, que por muito tempo se manteve voltado para os campos clássicos da Psicologia, como a clínica, as escolas e as organizações. Cruz, Hoffmann e Silva (2003) fazem um parênteses:

[...] o trânsito apresenta demandas próprias que exigem intervenções especificas, o que faz com que os profissionais que trabalham neste campo tenham de desenvolver estudos próprios para ele, não sendo suficiente uma simples transposição de saberes já existentes. (SILVA, HOFFMANN e CRUZ, 2003, p. 177)

Assim o trânsito abre um leque de oportunidades para aplicação dos conhecimentos do profissional da psicologia não só técnicos/científicos, mas também políticos/sociais. Cruz, Hoffmann e Silva (2003).

2.2 Relação entre acidentes de Trânsito e o Álcool

É evidente a participação de bebidas alcoólicas em uma considerável parte dos acidentes de trânsito com vítimas fatais no Brasil. Em decorrência dos vários efeitos físicos e psíquicos e das alterações que podem ocorrer ao motorista alcoolizado, nota-se total incompatibilidade entre bebida e direção. Infelizmente, mesmo tendo consciência das consequências a que estão expostos e que estão expondo outras pessoas, muitos motoristas fazem uso do álcool se colocando em

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risco, e por quê? Panitz (2007) transcreve um alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS):

Confirma-se o alerta da Organização mundial da Saude - O.M.S., de alguns anos atrás, de que estávamos nos encaminhando para uma nova Epidemia Mundial. A referencia era sobre os acidentes de trânsito, que são hoje responsáveis por mais de 300 mil mortes no mundo inteiro [...] (PANITZ, 2007, p. 32)

O abuso do álcool tem causado preocupações mundiais não apenas em países desenvolvidos, mas em países em desenvolvimento, onde já se pensa em políticas públicas que visam diminuir os problemas econômicos, emocionais e de saúde, decorrentes do consumo desenfreado do álcool.

Em maio de 2014, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou o Relatório Global sobre álcool e saúde, no qual contém informações sobre o consumo do álcool no mundo e avaliações sobre as estratégias globais para a redução do consumo nocivo do álcool. Ainda segundo a OMS, nesse mesmo ano, aponta que o consumo abusivo do álcool é um dos maiores fatores de risco mundial para a morbidade, mortalidade e incapacidades, estando relacionado a 3,3 milhões de mortes por ano e sendo responsável por uma média de 6% do total de mortes no mundo. No ano de 2012, o consumo nocivo de álcool entre homens e mulheres esteve associado a 18% e 5% dos acidentes de trânsito.

Como relatado acima, são inúmeros os efeitos físicos e psíquicos do consumo de bebida alcoólica. Voltando o olhar para o uso do álcool e suas consequências no trânsito, é possível pensar no impacto significativo e no crescente aumento do número de acidentes, pois a bebida proporciona ao motorista um falso senso de confiança, alterando noções de perigo, diminuindo a capacidade de avaliação crítica (como calcular a distância adequada para realizar ultrapassagens), prejudicando habilidades como atenção, coordenação e tempo de reação, redução das habilidades sensório-motoras e de respostas rápidas a determinadas situações, gerando comprometimento visual e nos reflexos. Mesmo ingerido em quantidades pequenas, existem chances de ocorrerem alterações no sujeito, podendo provocar uma falha humana e por consequência graves acidentes de trânsito. (Pinsky, Dualibi e Laranjeiras 2010)

A ingestão de bebidas alcoólicas causa problemas sociais, de forma direta e indireta, suscitando em altos custos financeiros hospitalares, bem como para os

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sistemas judiciários e previdenciários, sendo a faixa etária entre 20 a 49 anos a mais afetada, o que origina concomitante perda de pessoas economicamente ativas.

Um estudo no ano de 2013, realizado pelo Ministério da Saúde Brasileiro em hospitais públicos atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), aponta que o consumo do álcool tem forte impacto nos atendimentos de urgência e emergência, havendo uma média de uma para cada cinco vítimas de trânsito atendidas nos prontos-socorros brasileiros ingeriram bebida alcoólica.

Pinsky, Dualibi e Laranjeiras (2010) pontuam os problemas causados pelo consumo de álcool entre condutores de veículos automotores, como assunto prioritário de saúde publica, por gerarem custos exorbitantes socioeconômicos pela soma dos prejuízos materiais, gastos médicos e referente à perda de produtividade.

[...] as evidências cientificas nacionais indicam alta incidência de morbidade e mortalidade relacionadas ao beber e dirigir, associadas a uma excessiva oferta de bebidas alcoólicas a baixos preços e à alta disponibilidade de álcool em diferentes ambientes. O resultado dessa equação é um dos motivos do país ser um dos recordistas mundiais de acidentes de trânsito. (DUALIBI, LARANJEIRAS e PINSKY, 2010, p. 37)

Como um problema de saúde pública a questão de beber e dirigir, atualmente tomou grande proporção em nível nacional, recebendo intervenção do Estado e dos órgãos competentes, criando-se a Lei Seca (Lei nº 11.705/08), a qual prevê penalidades mais severas ao condutor que dirigir sob a influencia do álcool, estabelecendo ainda alcoolemia 0 (zero), ou seja, o motorista que estiver conduzindo qualquer tipo de veículo não poderá ter nenhum nível de álcool por decigramas de litro de sangue. A lei obriga ainda os estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas a expor, no seu ambiente de atendimento, aviso de que constitui crime dirigir sob a influência de álcool.

A aplicação da pena depende, no entanto, que existam provas testemunhais ou materiais da ocorrência do fato, dando-se maior importância para a última, estando previsto no artigo 277 do Código de Trânsito Brasileiro, que qualquer motorista que estiver conduzindo veículo automotor e se envolver em acidente de transito, for abordado pela fiscalização, ou ainda estiver sob suspeita de exceder o limite (que nesse caso é 0 (zero) de álcool por decigramas de litro de sangue), deverá ser submetido a teste de alcoolemia, para comprovar seu estado. Caso o

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motorista se negue a fazer o “teste do bafômetro”, ele é obrigado a ir até a delegacia e terá de responder processo por infração ao artigo 267 do Código de Trânsito, portanto:

[...] a caracterização do dirigir embriagado oferecendo risco como crime, apontou na direção de um endurecimento da Lei, na tentativa de reduzir a frequência de motoristas dirigindo alcoolizados e, consequentemente, o número de acidentes causados por estes. Todavia, entre os anos 1998 e 2005, o uso de álcool continuou associado às principais causas de acidentes de trânsito, o que tem levado os órgãos legisladores a determinar novas resoluções cada vez menos tolerantes em relação ao uso de álcool por condutores de veículos. (DUALIBI, LARANJEIRAS e PINSKY, 2010, p. 37)

Diferente de alguns anos atrás, o condutor que dirigir alcoolizado, hoje, é julgado por crime de trânsito, não sendo mais apenas uma infração, e será julgado de acordo com as normas gerais do Código Penal e do Código do Processo Penal, podendo ser detido de 6 meses por até 4 anos. Para além da possível penalidade jurídica, a nova lei continua classificando a infração de trânsito como falta “gravíssima” e determina a manutenção da multa como pena, bem como a suspensão do direito de dirigir e o cancelamento da habilitação pelo prazo de 12 meses.

Pensando em tudo que já foi conquistado ao longo do século XXI, em relação a direitos do sujeito, tanto em questões envolvendo gênero, como questões que envolvem a orientação sexual, política e até mesmo liberdade de expressão e de imprensa, uma intervenção tão severa do Estado para com seus cidadãos chega a parecer um certo retrocesso, mas aí permanece a pergunta sem resposta: por que condutores de veículos automotores assumem o risco, consumindo bebida alcoólica e dirigindo? Mesmo sabendo das consequências que envolvem esse ato, consequências essas financeiras, jurídicas e até mesmo emocionais?

Contudo, se intensificou a fiscalização por parte da Policia Militar e dos órgãos municipais, por meio de programas como a Balada Segura, realizada durante a madrugada, período em que ocorre maior número de acidentes envolvendo motoristas embriagados. Pode-se perceber uma redução no número de acidentes de trânsito, longe de findá-los, com tal prática inibitória, os governos por meio da fiscalização efetiva, há notória mudança de comportamento dos condutores, que, por exemplo, elegem um membro do grupo para ser o chamado “motorista da rodada”.

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Porém, o brasileiro tem certa resistência com a lei, e o trânsito por sua vez, não possibilita o meio termo, caso não haja cumprimento da lei, será concebida uma penalização. Com a implementação da Lei Seca, observa-se o surgimento, por meio da tecnologia, da prática do “jeitinho brasileiro”, grupos trocam informações dos locais onde essas fiscalizações estão sendo realizadas; assim, quem consumiu considerável quantia de álcool e está dirigindo, pode “burlar a lei” desviando das ruas onde o policiamento está sendo desempenhado.

A criação da Balada Segura traz consigo um resultado interessante, que causa efeito na população, gerando inibição nos motoristas, diante da presença do olhar do outro, além de fazer presente de forma simbólica, a morte, pois a atuação da fiscalização na “Balada Segura”, nada mais é do que uma ação preventiva, que tem como objetivo fundamental evitar a mortalidade, que em nossa sociedade é vista como tabu como complemento, nos fala Netto (2013):

As pessoas não gostam e não querem ouvir falar, ou tampouco falar sobre a morte. [...] Outra questão é que, por não gostar e não querer saber da morte, busca-se também a manutenção da vida, a qualquer custo. Busca-se fazer o possível e o impossível para se manter as pessoas vivas, independentemente das consequências que isso possa trazer para as próprias pessoas. (Netto, 2013, p. 16)

Rozestraten (2012), faz algumas críticas em relação à falta de educação para o trânsito, esta deve começar com crianças e adolescentes no sentido de conscientização para que assim possa gerar uma prevenção e consequentemente uma redução no número de acidentes de trânsito.

Já na maioridade, Rozestraten (2012) recrimina os instrutores de trânsito, que saem com pouca preparação dos cursos de formação para ministrarem aulas com foco na aprovação do candidato e não em formar um bom condutor consciente da responsabilidade que é conduzir um veículo.

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3. Um Olhar da Psicologia sobre beber e dirigir

Ao psicólogo não cabe o fato do acidente em si, mas sim os motivos, as causas o comportamento errôneo, o mau funcionamento de algum processo psicológico que, por conseqüência, acarretaram em um acidente de trânsito.

Ao levar em consideração um acidente tendo como causa fatores psicológicos, chamados de “erro humano”, através de Rozestraten (2012), façamos uma comparação entre o ato de beber e em seguida dirigir e o envolvimento em um acidente e um carro que derrapa em uma estrada com chuva, com pneus carecas. Ambas as situações envolvem fator humano, os culpados não são os fabricantes de bebida alcoólica, nem o engenheiro que construiu a estrada, mas o condutor que ingeriu bebida alcoólica e o condutor que continuou andando com o pneu careca.

Através da avaliação Psicológica, é concedido ao cidadão o direito de dirigir com a finalidade de contribuir para promover a segurança dos motoristas, sendo uma das etapas para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação.

Pensando a ação de dirigir, podemos concluir que é um ato que exige muito domínio, atenção, habilidade, concentração, cuidado, talento e até mesmo, um certo grau de agressividade.

Discorrendo sobre a agressividade, Freud não nega sua existência, muito pelo contrário, assegura a presença da agressividade no sujeito, a partir de uma ordem libidinal e ainda afirma ser constitutiva do eu, sustentando a constituição do eu e sua relação com seus objetos. É inegável a existência da agressividade no ser humano, porém ela pode ser sublimada, recalcada e não necessariamente praticada, pois o sujeito tem o recurso da mediação simbólica da palavra.

Mesmo a agressividade como constitutiva ao sujeito, o comportamento agressivo no trânsito não é de forma alguma “saudável” e só contribui para o aumento da violência no trânsito. O “corre-corre” diário, a falta de tempo e o estresse, são característicos da contemporaneidade; o trânsito nos grandes centros pode ser considerado caótico em horários de pico e ainda um estimulante ao estresse e a raiva, levando em conta o barulho, engarrafamentos por longos períodos de tempo, a fiscalização muitas vezes falha que permite e até incentiva o mau comportamento do motorista.

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O estudo da violência no trânsito também gera preocupações e requer atenção; sabe-se que é comum na vida do condutor cometer alguns deslizes e infrações, mas quando torna-se corriqueiro gera preocupações e cuidados. Por conseqüência da violência do trânsito, há acidentes que, a grosso modo, são rotulados como má sorte ou ainda como um ato divino. O que normalmente não é considerado, é o fato de que muitos acidentes são possivelmente evitados e suas causa são identificáveis e não a busca de quem e do que culpar.

Aisenberg e Kastenbaum (1983, p. 305) utilizam-se do conceito de acidente, de forma sucinta, como: “[...] apenas um evento desastroso que acontece subitamente, sem ser esperado, sem planejamento ou intenção (consciente).”

Rozestraten (2012, p. 29) define acidente como: “[...] consequência de um mau comportamento, de algum processo psicológico que não funcionou bem, nos casos em que o fator humano é o principal.” Relacionando com a questão norteadora desse trabalho, sabe-se que a ingestão de bebidas alcoólicas gera vários efeitos no sujeito e altera funções físicas e psicológicas.

Chegando ao fim desse trabalho, mantém-se a pergunta principal do mesmo: por que motivo o sujeito bebe e depois dirige? Panitz (2007, p.21) faz alguns apontamentos: “As origens sempre estão centradas na insegurança, nas incertezas e nas dúvidas, além das crises existenciais, que ocorrem nas várias passagens da vida, normais a todo ser humano [...]” e ainda completa:

O homem também bebe em razão de se sentir realizando uma catarse no momento em que consome a bebida alcoólica, eis que, em seguida se sente eufórico, relaxado e desinibido. Lamentavelmente e logo a seguir, também começam a ocorrer modificações no seu humor, na sua capacidade de avaliação dos problemas que o afligem e na percepção da realidade. Situações das quais ele sequer tem consciência, na maioria das vezes. (PANITZ, 2007, p. 21)

Em uma sociedade regida pela lógica capitalista, na qual todos devem ter sucesso, ser felizes, não há espaço para a tristeza nem para a dor; é proibido falhar ou errar, cria-se a ilusão de que objetos de consumo tamponam a falta estrutural, porém tamponam por um tempo determinado. Sendo assim:

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[...] as duas premências, a que se volta para a felicidade pessoal e a que se dirige para a união com os outros seres humanos, devem lutar entre si em todo indivíduo, e assim também os dois processos de desenvolvimento, o individual e o cultural, têm de colocar-se numa oposição hostil um para com o outro e disputar-se mutuamente a posse do terreno. (FREUD, 1930, p. 165 e 166)

O consumo de bebidas alcoólicas associado a condução de veículos automotores situa um campo particular, onde propõe-se algumas suposições, como a angústia, a ansiedade, a tristeza e a falta de elaboração para lidar com os problemas que se apresentam ao longo da vida do sujeito.

Este sintoma de mal-estar, a dor de existir é comum a todos os que se constituem sujeitos e foi citado por Freud em Mal-estar na Civilização; portanto, partindo desse pressuposto, são constatáveis os limites impostos pela civilização, que fazem do ser um sujeito. O mal-estar gerado pela civilização está ligado a uma insatisfação fundamental em que o ser falante encontra-se. O motorista por sua vez, que bebe e dirige, tenta nada mais nada menos, do que remediar esse mal-estar; a bebida alcoólica aparece então como um mecanismo capaz de anestesiar e alienar o indivíduo da realidade que causa o mal-estar, buscando, evidentemente, uma eliminação da existência, mesmo sendo uma eliminação transitória, momentânea que algumas vezes é uma busca inconsciente pela morte, que ignora outros envolvidos, como os familiares, os amigos e no caso do acidente de trânsito pelo consumo abusivo de álcool, pode atingir até mesmo desconhecidos, não apenas financeiramente, mas emocionalmente, impactando significativamente a vida de terceiros.

Assim como o consumo de álcool é uma tentativa de eliminar esse mal estar gerado pela civilização presente em todo sujeito, essa falsa ideia de bem-estar, de preenchimento do vazio existencial, faz parte de inúmeros relatos de pessoas que bebem para esquecer os problemas, comparando a cerveja como “felicidade engarrafada”. Quando a dor de existir está consumindo o sujeito, os problemas parecem sem solução, beber é sempre a primeira saída; fazemos, então, uma rústica relação com suicídio, que se apresenta como uma forma se supressão do sofrimento, as motivações internas de ambos (beber e dirigir e cometer suicídio) causam o ato e buscam o alívio do atual momento intolerável, a busca de aliviar esse mal estar, o qual é interminável e se faz presente por toda a vida do sujeito.

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Rigo (2013) define o suicídio como:

[...] uma manifestação humana, uma forma de lidar com o sofrimento, uma saída para livrar-se da dor de existir. Por essa razão, considero o suicídio uma carta na manga, isto é, aquilo de que o sujeito pode dispor quando a vida lhe parecer insuportável. (RIGO, 2013, p. 31)

E Aisenberg e Kastenbaum nos apresentam a dificuldade de distinção entre suicídio, homicídio e acidentes:

“Frequentemente é difícil distinguir entre suicídio, homicídio e acidentes. Em caso de morte em determinada situação, o rótulo é dado em geral conforme a sociedade e as circunstâncias, a não ser que exista clamorosa evidência de motivação individual. Atitudes encobertas para com os pobres, as minorias, o consumidor anônimo, aliadas a interesse em causa própria, nos permitem fazer vista grossa à evidência de homicídio e de suicídio. (AISENBERG e KASTENBAUM, 1983, p. 330)

A fuga através da bebida surge como uma válvula de escape que inutiliza a capacidade de sentir o sofrimento, podendo ser facilmente confundida e de difícil distinção, em caso de um acidente de trânsito, de suicídio, homicídio e apenas um acidente sem intenção de danos graves para consigo e para com terceiros.

Freud (1930) nos fala que o sujeito, perante sua incompletude fundante e na busca incessante pela felicidade, encontraria nas drogas a forma mais eficiente de evitar o sofrimento. Esse alívio decorrente do consumo de drogas, drogas aqui, referenciando a droga lícita que é o álcool, que carrega consigo a esperança de eliminar a incompletude do sujeito frente a sua falta de ser feliz, que é o motivo do desejo humano.

Rozestraten (2012) relata uma pesquisa da Universidade de Indiana, a qual faz uma distinção entre:

1) Causas humanas diretas, que são comportamentos que precedem imediatamente ao acidente e que são diretamente responsáveis por ele; 2) Causas humanas indiretas são condições e estados (como fadiga, sono e embriaguez) que deterioram o nível dos diversos processos básicos. (ROZESTRATEN, 2012, p. 99)

O autor relaciona as principais causas de erros humanos em acidentes de trânsito com processos básicos psicológicos que coincidem com três fontes

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importantes, como tomada de informação (erros de percepção), processamento de informação, previsão e decisão (erros de decisão) e erros de ação. A partir disso associamos algumas definições com a ingestão de álcool e a direção veicular relacionada a essa causa humana de acidentes e classificamos entre causas humanas diretas e indiretas.

Ao ingerir bebidas alcoólicas, há uma redução de todos as condições do organismo, órgãos do sentido, sistema nervoso e controle motor. Mesmo tais alterações sendo temporárias, essas condições afetam inteiramente os processos básicos psicológicos e o comportamento, podendo causar o acidente. Porém fica claro que o consumo álcool não causa diretamente o acidente, sendo assim classifica-se como causa humana indireta.

Outra causa indireta seriam as atitudes que estão intimamente ligadas ao estado emocional, a ansiedade, a pressa, a agressividade, etc.; no trânsito, estariam relacionadas à personalidade, porém sua influência sobre os processos psíquicos básicos podem ser permanentes ou apenas temporárias, vinculadas a componentes cognitivos, emocionais e sociais. Tais atitudes, como a agressividade, podem ser agravadas de forma negativa quando associadas à ingestão de bebidas alcoólicas.

A tentativa de suicídio/ homicídio faria parte das causas humanas diretas por ser uma colisão proposital, classificada como “não-acidente”, porém, associada a embriaguez e a alteração de estados mentais e emocionais seria relacionada a causas humanas indiretas.

Assim, podemos perceber que as causas dos acidentes de trânsito decorrentes do consumo de bebidas alcoólicas são muito subjetivas e, nesse caso há uma linha tênue entre as causas humanas diretas e as causas humanas indiretas, pois um motorista embriagado possui uma maior probabilidade de ficar distraído, de não ter a visão totalmente nítida, de exceder o limite de velocidade, podendo facilmente provocar um acidente.

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REFERÊNCIAS

AISENBERG, Ruth. KASTENBAUM Robert. Psicologia da Morte - São Paulo: EPU: Editora da Universidade de São Paulo, 1983.

ALCHIERI, João Carlos. CRUZ, Roberto Moraes. Hoffmann, Maria Helene - Comportamento Humano no trânsito – São Paulo: Casa do psicólogo, 2003.

DUAILIBI, Sérgio. LARANJEIRA, Ronaldo. PINSKY, Ilana – Álcool e Direção: Beber ou Dirigir: um Guia Prático para Educadores, Profissionais da Saúde e Gestores de Políticas Públicas. São Paulo: Editora UNIFESP, 2010.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda – Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8. ed. – Curitiba: Positivo, 2010.

FREUD, Sigmund – Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud – O Futuro de uma Ilusão, O Mal - estar na Civilização e Outros Trabalhos. Vol. XXI. Rio de Janeiro: Imago Editora, 1974.

PANITZ, Mauri Adriano. Álcool – Direção – Porto Alegre: Editora Alternativa, 2007 PSICOLOGIA, Conselho Federal de. PSICOLOGIA, Conselhos Regionais de – Suicídio e os desafios para a Psicologia. Brasília: CFP, 2013.

ROZESTRATEN, R. J. A. Psicologia do trânsito: conceitos e processos básicos. São Paulo: EPU: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.

SARAIVA, Vade Mecum. Obra coletiva de autoria da Editora Saraiva com a colaboração de Luiz Roberto Curia, Livia Céspedes e Juliana Nicoletti. – 15. ed. atual e ampl. – São Paulo: Saraiva, 2013.

<http://www.cisa.org.br/artigo/4429/relatorio-global-sobre-alcool-saude 2014.php>. Acesso em: 06 abr. 2015.

<

http://www2.planalto.gov.br/excluir-historico-nao-sera-migrado/estudo-do-ministerio-da-saude-aponta-que-o-alcool-esta-relacionado-a-21-dos-acidentes-no-transito>.

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